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Arquitetura Moderna no Brasil - Mindlin, Notas de estudo de Urbanismo

Arquitetura Moderna no Brasil

Tipologia: Notas de estudo

2013
Em oferta
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Compartilhado em 09/08/2013

Graziela_Cardoso_dos_Santos
Graziela_Cardoso_dos_Santos 🇧🇷

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Baixe Arquitetura Moderna no Brasil - Mindlin e outras Notas de estudo em PDF para Urbanismo, somente na Docsity! AVE To arquitetura moderna no brasil HENRIQUE E. MINDLIN Convidado a fazer uma breve apresentação deste li- vro — a primeira edição em português de Modern Architeture in Brazil, de autoria de meu irmão Hen- rique, publicado em 1956 também em francês e ale- mão, resolvi, de início, pôr de lado o parentesco de que me orgulho, e falar apenas da obra, que revelou, aqui e no exterior, o extraordinário trabalho dos pio- neiros da moderna arquitetura brasileira. O fato de o livro ainda ser, depois de inteiramente esgotado há tantos anos, considerado uma importante fonte de referência para as novas gerações de arquitetos e para os estudiosos da cultura brasileira já constitui, por si só, um eloquente testemunho dos méritos dessa obra, e foi apenas sobre esse -aspectô desta edição que eu tinha pretendido falar. Mas não con- segui. Minha ligação com Henrique foi tão forte, que não acho possível, nem razoável, falar de seu li- vro sem falar dele. Foi meu melhor amigo, e juntos descobrimos quase tudo quanto veio a formar nossa cultura. Havia, é verdade, uma diferença em nossos interesses iniciais: eu, desde moço, sentia atração pelo passado — histó- rico, artístico e literário, ao passo que ele, apesar de sua formação acadêmica, de “engenheiro-arquiteto”, vivia envolvido por uma visão do futuro, e preocu- pado com os meios de o presente tornar possível es- se futuro, com uma vida melhor para o Brasil e os brasileiros. Essa diferença, no entanto, teve curta duração, pois nós nos influenciamos mutuamente: tanto ele como eu nos demos conta de que o desenvolvimento cultural é um processo contínuo, e, portanto, não se pode cons- truir bem o futuro sem apreciar devidamente tudo quanto de bom nos veio do passado, nem teria cabi- mênto, por outro lado, viver mergulhado no passado, sem uma preocupação com o presente e o futuro. Henrique fez parte do grupo pioneiro dos modernos arquitetos brasileiros das décadas de 30 a 50. Nos últimos anos de sua vida ingressou no magistério, fascinado pela tarefa de ensinar, e venceu o concurso de professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas, na realidade, bem antes de ser pro- fessor, todo o seu trabalho já tinha sido uma lição de vida, mostrando que a boa arquitetura deve resultar não somente em benefício individual, como coletivo. Tentei ser apenas objetivo, mas acabei vencido pelo a- feto e pela emoção. E é emocionado que cumprimento e agradeço aos promotores desta edição pela homena- gem que prestaram a meu irmão. Espero também que as novas gerações de arquitetos aproveitem, com este livro, a lição que ele deixou. Jost MINDLIN 30 de março de 1999 COPYRIGHT O KATIA MINDLIN LEITE BARBOSA E TATIANA MINDLIN TÍTULO DO ORIGINAL EM INGLÊS: MODERN ARCHITETURE IN BRAZIL, NEW YORK REINHOLD PUBLISHING CORPORATION, 1956 PROJETO GRÁFICO - OSMAR CASTRO CAPA - H. P. DOEBELE ADAPTAÇÃO - VICTOR BURTON PESQUISA, APRESENTAÇÃO E COORDENAÇÃO TÉCNICA - LAURO CAVALCANTI ASSISTENTE DE PESQUISA - CRISTOVÃO FERNANDES DUARTE PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS E REVISÃO - MAURA SARDINHA COORDENAÇÃO EDITORIAL - LUCIA LAMBERT COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO - ELISA VENTURA IMPRESSO NO BRASIL POR HAMBURG GRÁFICA E EDITORA COM FOTOLITOS EXECUTADOS POR MERGULHAR SERVIÇOS EDITORIAIS Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M616 | Mindlin, Henrique E. Arquitetura moderna no Brasil / Henrique E. Mindlin; tradução Paulo Pedreira; prefácio de S. Giedion; apresentação de Lauro Cavalcanti. — Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 1999. 288 p.: 21 x 29,7 cm. ISBN . 85-86579-05-x Tradução de Modern Architeture in Brazil 1.Arquitetura Moderna. Brasil. 1. Título CDD: 724.6081 à memória de meu pai, dr. E. H. MINDLIN, amigo das artes e dos artistas ODESSA, RÚSSIA, 9 IX 1886 - SANTOS, BRASIL, 12 HI 1939 APRESENTAÇÃO É com orgulho que a Servenco está patrocinando a pri- meira edição em português do livro Arquitetura Moderna no Brasil, do arquiteto Henrique Mindlin, como parte das comemorações do 50º aniversário da empresa. O objetivo é resgatar uma obra que representa um marco na história da arquitetura. Escrito em inglês, o livro foi editado em 1956, tam- bém em francês e alemão, mas nunca em português. Está esgotado há cerca de 40 anos. Como obra didática, apre- senta as construções mais importantes, os projetos urba- nísticos e paisagísticos mais significativos, constituindo um documento fundamental da arquitetura moderna bra- sileira para profissionais, estudantes, historiadores e pa- ra todos aqueles que se interessam pela produção técni- ca e cultural do Brasil. Henrique Mindlin é um dos nomes mais importantes da arquitetura brasileira. Foi professor e pesquisador, e inaugurou no Rio de Janeiro o primeiro escritório de ar- quitetura em moldes profissionais, encerrando a fase ro- mântica que prevaleceu até a década de 50. Henrique Mindlin morreu aos 60 anos, em 1971, mas ainda hoje o es- critório Mindlin e Arquitetos Associados funciona sob a direção da antiga equipe de sócios e colaboradores. Pelo interesse que o livro despertou, na época do seu lançamento, nos meios culturais dos Estados Unidos, do Canadá e da Europa, e pela importância que teve na di- vulgação da arquitetura brasileira no exterior, a Servenco pretende, com esta nova edição, preservar a memória de um dos períodos mais importantes da nossa arquitetura. ervenco HENRIQUE MINDLIN E A ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA A arquitetura moderna das décadas de 40 e 50 é, provavel- mente, o mais feliz momento das artes visuais brasileiras neste sé- culo. A produção dessas duas décadas vai muito além da simples adoção da vanguarda européia por artistas de um país periférico. Uma brilhante geração de arquitetos constituiu, nos trópicos, um significativo conjunto de obras, apontando rumos alternativos à burocracia estética que rondava o modernismo internacional. O primeiro livro a abordar tal produção foi Brazil Builds, de Phillip Goodwin, acompanhando a mostra de mesmo nome efe- tuada pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1943. O aval daquela instituição foi central para a difusão em escala mun- dial do modernismo brasileiro. As mais significativas revistas internacionais dedicam, a partir daí, números especiais a essa ar- quitetura que sugeria novos caminhos para um modernismo que havia cessado de experimentar, com os países europeus dilacera- dos pelos esforços de guerra. Brazil Builds teve, igualmente, a virtude de explicitar a originalidade brasileira na ponte moder- nista entre o antigo e o novo, assim como algumas das engenho- sas adaptações que o estilo sofreu para se adaptar aos ares tropi- cais. Abordava, entretanto, como uma esplêndida e sagaz repor- tagem, apenas os highlights da arquitetura moderna brasileira no curto período de 1938 a 1942. O livro Arquitetura Moderna no Brasil, de Henrique Mindlin, editado em 1956, apenas em inglês, francês e alemão, é o principal registro e uma espécie de catalogue-raisoné da construção brasileira de 1937 a 1955. Henrique Mindlin, um talentoso arquiteto ele mesmo, fornece uma rica e minuciosa visão do movimento que so- mente um protagonista poderia fazer tão bem. Situa, admiravelmen- te, o Brasil e a época, além de não se esquecer, em momento algum, do bendito prazer que deve propiciar uma leitura. Resulta um livro fundamental para os especialistas e delicioso para todos aqueles que desejarem se debruçar sobre essa produção e seus tempos. Que tempos, afinal, eram esses? Na Introdução, nos comentá- rios dos projetos e nas entrelinhas de Arquitetura Moderna no Brasil emerge uma época de contradições e ambigiúidades políti- cas: o período de Vargas a Kubistchek, do rádio à televisão, do Rio às vésperas do concurso de Brasília, de flerte com o Eixo e entra- da na guerra ao lado dos Aliados. A tecnologia dos prédios reflete o início da industrialização, enquanto o movimento sindical ainda estava atrelado ao Estado e a maioria da população carecia de mo- radia. Tempos de ditadura e avanços democráticos, do DIP e da constituição de uma produção modernista, da legalização do Par- tido Comunista e seu posterior banimento. O boom construtivo no pós-guerra, em tempos de crescimento das lades e da esperança que o futuro finalmente chegaria, mais rico e mais justo. Mindlin abre o seu livro dizendo que a história da arquitetura moderna se confunde com aquela de um punhado de jovens ar- quitetos. Poderia acrescentar que a história desses jovens arqui- tetos estava ligada àquela de jovens intelectuais, como Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade e Gilberto Freyre, que haviam decidido atuar nas brechas do aparelho cultural do Estado Novo, tentando modificar o país através da colocação em prática de idéias vanguardistas lançadas na década anterior. O Brasil atrave: na década de 30, um momento de certa pujança econômica, notabilizando-se um esforço governamental no sentido de sua “modernização”. Lúcio Costa é diretor durante um ano da Escola de Belas Artes, chamando o pioneiro Gregori Warchavchik para ensinar projeto. Foi deposto pelos acadêmicos, provocando a paralisação da principal avenida carioca por uma passeata de estudantes a seu favor que teve a participa: cial de Frank Lloyd Wright, então visitando o Rio. Frank Lloyd Wright, Costa e Warchavchik na casa da rua Toneleiros. Abaixo, o livro Brazil Builds. Prédio de Warchavchik em 1939, na cidade de São Paulo. que Mindlin várias vezes em seu texto anunciava, com expectati- va, O projeto do Aterro carioca. No que toca à Brasília, Mindlin obteve, em 1957, o 5º prêmio no concurso para a nova capital, e no ano de 1966, lhe dedica um carinhoso texto, feito sob enco- menda da embaixada do Brasil na Itália”. As folhas de ilustrações complementares desta edição estão divididas nos seguintes se- tores: urbanismo e prédios públicos (Brasília e Aterro), moradias individuais, projetos arquitetônicos de maior porte, além de uma seleção de alguns projetos de Henrique Mindlin realizados após a publicação do livro. Infelizmente, os originais de Henrique Mindlin em português não foram achados. Procedeu-se à tradução das versões inglesa e francesa, cotejando-se ambas, pois em alguns casos os textos di- vergiam, e procedeu-se a uma revisão técnica e tratamento do texto para que este mantivesse, tanto quanto possível, o sabor e espírito de seu autor. Para tanto, foi capital a leitura de todos os textos de Henrique Mindlin disponíveis em português, assim como as conversas com várias pessoas que conviveram com ele, destacando-se o seu irmão José Mindlin, as suas filhas Kátia Mindlin Leite Barbosa e Tatiana Mindlin, o seu sócio Walmyr Amaral e sua colaboradora Teresa Miranda. Em muitos trechos do livro é visível a preocupação de Mindlin em informar o público estrangeiro sobre o Brasil. Embora muitas dessas explicações fossem, talvez, dispensáveis para o público nacional, re- solvemos mantê-las pois trazem muitas informações sobre a época e o modo pelo qual o arquiteto representava o Brasil. Em outros casos foram feitas previsões que não se confirmaram ou incluídos dados que foram alterados pelo curso da História. Optamos, também nes- sas situações, pela fidelidade ao texto original, acreditando na carga de informação que tais desvios e esperanças irrealizadas darão ao leitor sobre a ação do tempo no percurso do país. Nos seus últimos anos, dirigindo no Aterro, em direção ao Cen- tro, Henrique fala de seu prazer de encontrar gente e pergunta à amiga Vivi Nabuco se ela já havia imaginado o quanto seria triste a vida de ambos, caso, dali em diante, não conhecessem mais ninguém novo. Acredito que a edição desse volume sanará a tris- teza igual que teve o leitor brasileiro, privado por mais de 40 anos de conhecer Henrique Mindlin, autor, em uma edição em por- tuguês, de seu estupendo Arquitetura Moderna no Brasil. LAURO CAVALCANTI Fazenda Inglesa, Petrópolis, 3 de fevereiro de 1999 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 Para maiores informacões sobre a relação entre os campos arquitetônicos brasileiro e internacional ver As preocupações do Belo: arquitetura moderna dos anos 30/40, Rio de Janeiro, Editora Taurus, 1995, de Lauro Cavalcanti e Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo, Editora Perspectiva, 1981, de Yves Bruand. 2 Para uma análise dos embates que levam os modernistas a dominar o campo arquitetônico, ver As preocupações do Belo: arquitetura moderna dos anos 30/40 . Rio de Janeiro, Editora Taurus, 1995, de Lauro Cavalcanti. 3 Latin American Architecture since 1945. Nova York, Museu de Arte Moderna, 1955, de Henry-Russel Hitchcock . 4 Latin American Architecture since 1945. Nova York, Museu de Arte Moderna, 1955, de Henry-Russel Hitchcock . 5 Modem Architecture: a critical history. Nova York, Oxford University Press. 1980, de Kenneth Frampton. 6 Para informações mais detalhadas sobre Henrique Mindlin ver o livro Hen- rique Ephim Mindlin, o homem e o arquiteto. São Paulo, Instituto Roberto Si- monsen, 1975, de Celia Ballario Yoshida, Maria Cristina Almeida Antunes, Maria Izabel Perini Muniz e Venus Sahihi. 7 Calder: Autobiography with pictures. Nova York, Pantheon Books, 1966, de Alexander Calder. 8 A Faculdade de Arquitetura da UFRJ não contou em seus quadros com ne- nhum dos arquitetos considerados mais significativos da corrente moderna. Sérgio Bernardes deu apenas poucas aulas e se retirou. Afonso Eduardo Reidy perdeu concurso para catedrático da cadeira de projeto para o muito menos expressivo Paulo Camargo de Almeida. O crítico de arte Mário Pedrosa, com uma tese pioneira sobre arte abstrata e gestalr, depois internacionalmente re- conhecida, foi preterido na cátedra de história da arte pelo político, dono de estabelecimento de ensino e historiador Flexa Ribeiro. Para informações mais detalhadas sobre o assunto ver As preocupações do Belo: arquitetura moder- na dos anos 30/40. Rio de Janeiro, Editora Taurus, 1995, de Lauro Cavalcanti. 9 Architettura Brasiliana: Barocco d'oltramare, Architettura internazionale nei tropici, Brasilia: sogno o realtã? Embaixada do Brasil em Roma, Oficina Gráfica do Serpro, 1966, de Henrique Mindlin O BRASIL E A ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA É um bom sinal para a nossa civilização o fato de ela se estar desenvolvendo a partir de mais de um centro. Obras criativas têm surgido subitamente em países que em períodos anteriores teriam permanecido provincianos, como a Finlândia ou o Brasil. Como ex- plicar que esses países, que por tanto tempo se mantiveram na peri- feria da civilização, tenham alcançado um nível tão alto em matéria de arquitetura? Qual seria a razão? Seriam os próprios arquitetos? Sem dúvida, não haveria obras criativas sem arquitetos criativos, mas arquitetos criativos existem em muitos outros países. O que está faltando em muitos países é apoio financeiro e clientes, gover- nos e administrações que não entravem o verdadeiro talento. O pro- blema da arquitetura, hoje, é que, tanto nos Estados ditatoriais quan- to nos países democráticos, o mau gosto do cliente costuma tornar inúteis os esforços do arquiteto. No Brasil e na Finlândia isso não tem acontecido. Nesses dois países, a resistência mal orientada dos clientes não está matando a criatividade. No curso dos últimos 20 anos ficou claro que, tanto nos trópicos quanto nas proximidades do círculo polar, o ambiente está pronto para um novo florescimen- to, a menos que seja artificialmente sufocado. Brasil: curioso problema de uma cultura por tanto tempo ador- mecida. A primeira cidade foi fundada há pouco mais de 400 anos, em 1532, bem próxima da atual cidade de Santos. O Brasil consti- tuiu uma sociedade agrária. Os grandes proprietários tinham padre e capela dentro de suas fazendas; exploraram o país, mas também criaram tesouros culturais, com base num sistema de agricultura extensiva. Os índios, armados de arco e flecha, e os negros, de mos- quetes, formavam uma espécie de corpo de guarda dos proprietários rurais. Como classe, os latifundiários formavam uma sociedade livre, sempre pronta a se defender das incursões da Coroa ou da Igreja. Segundo Gilberto Freyre, os portugueses foram os pri- meiros europeus a fazer da família, e não das companhias de co- mércio, a base de sua obra civilizatória. Em contraste com os anglo-saxões, a tradição portuguesa sem- pre se mostrou favorável à mistura com outras raças. O conde Keyserling observou que a unidade do Brasil se fez a despeito das diferenças raciais. Contrariamente aos Estados Unidos, o Brasil re- solveu o difícil problema racial: no belo conjunto residencial de Pedregulho, negros e noruegueses convivem lado a lado. Mas há um outro problema que, aos olhos de um estrangeiro, parece constituir uma ameaça à paz interna e ao futuro do país: a vergonhosa especulação com a terra, que é o câncer do desenvol- vimento do Brasil. Se ela não for combatida sem trégua, o país po- derá, decerto, nos oferecer uma excelente arquitetura, mas estará sob a permanente ameaça dos tremores da sublevação política. O Brasil é um país de contrastes, resultado de um período de es- peculação febril. Barracos toscos pululam como cogumelos nas áreas livres das grandes cidades e nos terrenos, ridiculamente ca- ros, de sua periferia. Nenhum equilíbrio da estrutura social e nenhum planejamento urbano em grande escala serão possíveis antes que esse caos financeiro seja controlado. Apesar disso, o prodígio da arquitetura brasileira floresce como uma planta tropical. As indústrias siderúrgica e de cimento no Bra- sil são pouco expressivas; no entanto, os arranha-céus brotam por toda parte. Há qualquer coisa de irracional no desenvolvimento da arquitetura brasileira. Em comparação com os Estados Unidos, com sua segiiência de grandes precursores a partir de 1880 — Ri- chardson, Louis Sullivan, F. L. Wright —, o Brasil está encontrando sua expressão arquitetônica própria com uma rapidez surpreen- dente. Sem dúvida, a vinda de Le Corbusier ao país, em 1936, aju- dou as vocações brasileiras a encontrar seu próprio caminho. Mas Le Corbusier tinha visitado muitos outros países sem que nada re- sultasse, salvo manchetes hostis nos jornais, como aconteceu certa vez em Nova York. Arquitetura moderna no Brasil, de Henrique Mindlin — ele pró- prio um grande arquiteto brasileiro —, é uma contribuição valiosa, que abre os olhos do mundo exterior para a arquitetura contempo- rânea que está sendo feita no Brasil. O trabalho foi desenvolvido de forma muito direta, tanto na introdução como, especialmente, nos comentários breves e objetivos que acompanham as numerosas ilustrações. No Brasil, a arquitetura contemporânea deitou raízes no solo tro- pical. Embora tenha surgido no momento em que grandes obras es- tavam sendo projetadas, jamais perdeu o contato com seu passado regional. Mas Henrique Mindlin também destaca a enorme impor- tância que teve, para seu desenvolvimento posterior, a estada de um mês de Le Corbusier no Brasil em 1936, quando trabalhou com um grupo de jovens arquitetos brasileiros. As afinidades latinas talvez sejam um dos motivos que explicam as relações estreitas que então se estabeleceram entre eles. Outra razão provável é que, no Brasil, desde muito cedo se havia começado a empregar o concreto arma- do nas estruturas de grandes obras, em contraste com a tendência reinante nos Estados Unidos, onde a arquitetura de grande enver- gadura era baseada no emprego de estruturas metálicas. O livro de Henrique Mindlin deixa evidente o florescimento da arquitetura brasileira a partir dos anos 30. Mas o que mais chama a atenção são os desenvolvimentos mais recentes, a partir dos anos 50 — em grande parte ignorados fora do Brasil. Assim, torna-se agora possível comparar a obra dos arquitetos brasileiros contem- porâneos com os métodos e realizações em outras partes do mun- do. E o que se pode concluir? Primeiramente, deve-se reconhecer que no Brasil se alcançou um certo nível de realização que vem sendo mantido. Se certas ca- racterísticas são claramente visíveis nas obras de algumas indivi- dualidades excepcionais, elas não estão ausentes no nível médio da produção arquitetônica. Isso não ocorre na maioria dos outros paí- ses. Por exemplo: a maior párte dos arquitetos brasileiros parece ser capaz de resolver os diversos problemas de um programa com- plexo com uma planta baixa simples e concisa e cortes claros e inteligentes. Os arquitetos brasileiros têm também a coragem de desenvolver linhas nítidas no exterior de suas construções. Eles sabem evitar a rigidez, um perigo do qual não se tem conseguido escapar em ou- tros países do hemisfério sul. Em terceiro lugar, o Brasil já tinha a tradição de realçar a super- fície de suas fachadas, tão submetidas à pressão do clima tropical, por meio do tratamento estrutural das superfícies planas. Os arqui- tetos contemporâneos reelaboraram essa tradição, incluindo em seus projetos painéis externos vazados (página 58), cobogós (edifí- cio Bristol de Lúcio Costa, 1948), azulejos utilizados de maneira inovadora, e o brise-soleil. Esse tipo de tratamento de fachadas es- tá relacionado a uma tendência mais geral que nos últimos anos se tem manifestado também em outros países. É ainda muito interessante a maneira como os arquitetos têm re- solvido os problemas do espaço interno. Por detrás do caos dos arra- nha-céus do Rio e de São Paulo, podemos perceber o resultado de um dom inerente para articular volumes (por exemplo, o projeto de Pedregulho de Reidy, 1951, página 142, e do Centro Técnico da Aeronáutica de Niemeyer, 1947, página 134), particularmente nas realizações recentes, como o Pavilhão de Exposições, no Ibirapuera, de Oscar Niemeyer e outros, destinado a abrigar exposições de esculturas. Neste caso, o mais interessante é o vão interno que a- travessa três planos, abaixo e acima do pavimento térreo. 17 Esperamos que em um futuro próximo os arquitetos brasileiros assumam sua parte na tarefa de fazer evoluir a abóbada da nossa época. Atualmente, estamos no processo de descobrir a forma es- pecífica da abóbada do nosso tempo, que é diferente daquela de todos os períodos anteriores. Mas aqui não é o lugar apropriado pa- ra discutir esse problema. Fiz alguns comentários sobre a direção em que estamos nos movendo, na minha análise da obra de Eduar- do Catalano, do Centro de Conferências de Berlim de Hugh Stub- bins, 1957, e da capela de Ronchamp de Le Corbusier, no meu pe- queno livro Architektur und Gemeinschaft (Hamburgo, 1956). Es- tas são obras que dão, talvez, a mais clara indicação das linhas se- gundo as quais, penso eu, será possível encontrar a solução. Qual é a relação de todo esse movimento com a natureza, no meio ambiente onde ele acontece, com a sua exuberância tropical, que podemos sentir quase que fisicamente? O Brasil também nos 18 deu Burle Marx, um dos maiores arquitetos paisagistas do nosso tempo. Burle Marx também é pintor. O que podemos aprender com ele? A ele devemos a aplicação de superfícies estruturais horizon- tais. Muitas vezes ele escolhe plantas simples, como aquelas que encontramos no nosso próprio país, o lírio amarelo, por exemplo. Ele as reúne em canteiros sinuosos, muitas vezes em forma de rim, criando grandes superfícies coloridas de amarelo e laranja, como podemos ver no jardim da casa de campo projetada por Henrique Mindlin. É uma transposição de um princípio de organização da pintura moderna para a natureza viva. Espero que este livro ajude o mundo a ter uma melhor percep- ção sobre o que ocorreu no Brasil durante as duas décadas mais im- portantes de seu desenvolvimento arquitetônico. Zurique, Doldertal, maio de 1956 S. GIEDION Rio de Janeiro (fronstispício), com o edifício do Ministério da Educação ao fundo. Henrique Mindlin e a Arquitetura Moderna Brasileira Lauro Cavalcanti O Brasil e a Arquitetura Contemporânea S. Giedion Sumário Nota do autor Arquitetura Moderna no Brasil Projetos de interesse histórico e obras em execução CASAS, EDIFÍCIO RESIDENCIAIS, HOTÉIS E CONJUNTOS HABITACIONAIS Lúcio Costa, Casa de Argemiro Hungria Machado, 1942 Gregori Warchavchik, Casa de praia do conde Raul Crespi, 1943 Rino Levi, Casa de Rino Levi, 1946 Aldary Henrique Toledo, Casa de José Pacheco de Medeiros Filho, 1946 Gregori Warchavchik, Pavilhão de praia da sra. Jorge Prado, 1946 Italo Eugênio Mauro, Casa de Italo Eugênio Mauro, 1947 Carlos Frederico Ferreira, Casa de fim de semana de Car- los Frederico Ferreira, 1949 J. Vilanova Artigas, Casa de Heitor Almeida, 1949 J. Vilanova Artigas, Casa de J. Vilanova Artigas, 1949 Henrique E. Mindlin, Casa de campo de George Hime, 1949 Francisco Bolonha, Casa de campo do embaixador Hilde- brando Accioly, 1950 Lina Bo Bardi, Casa de Lina e P. M. Bardi, 1951 Sergio W. Bernardes, Casa de Jadir de Souza, 1951 Oswaldo Corrêa Gonçalves, Casa de Osmar Gonçalves, 1951 Olavo Redig de Campos, Casa do embaixador Walther Moreira Salles, 1951 Sergio W. Bernardes, Casa de campo de Guilherme Bran- di, 1952 Arnaldo Furquim Paoliello, Casa de Domingos Pires de Oliveira Dias, 1952 Affonso Eduardo Reidy, Casa de Carmen Portinho, 1952 Sergio W. Bernardes, Casa de campo de Lota de Macedo Soares, 1953 Oswaldo Artur Bratke, Casa de Oswaldo Artur Bratke, 1953 Oswaldo Artur Bratke, Atelier e casa de hóspedes, 1953 Lygia Fernandes, Casa de João Paulo de Miranda Neto, 1953 Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Casa de. Milton Guper, 1953 Oscar Niemeyer, Casa de Oscar Niemeyer, 1953 José Bina Fonyat Filho e Tercio Fontana Pacheco, Casa de campo de João Antero de Carvalho, 1954 Thomaz Estrella, Jorge Ferreira, Renato Mesquita dos San- tos e Renato Soeiro, Casa de Stanislav Koslowski, 1954 Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Casa de Olívio Go- mes, 1954 Olavo Redig de Campos, Casa de campo de Geraldo Bap- tista, 1954 Paulo Antunes Ribeiro, Casa de Paulo Antunes Ribeiro, 1955 SUMÁRIO 19 21 23 37 so 51 s2 68 69 mn 74 76 78 so 83 86 88 91 92 94 96 Paulo Antunes Ribeiro, Casa de Ernesto Waller, 1955 Paulo Everard Nunes Pires, Paulo Ferreira dos Santos e Paulo de Tarso Ferreira dos Santos, Casa de Martin Holzmeister, 1955 Miguel Forte e Galiano Ciampaglia, Casa de Luiz Forte, 1955 Henrique E. Mindlin, Casa de campo de Lauro Souza Carvalho, 1955 Alvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho, Edifício Esther, 1938 Gregori Warchavchick, Edifício residencial, 1939 Helio Uchôa, Edifício residencial Luiz Felipe, 1945 M.M.M. Roberto, Edifício residencial em Botafogo, 1947 Lúcio Costa, Edifícios residenciais Nova Cintra, Bristol e Caledonia no Parque Guinle, 1948 — 1950 — 1954 J. Vilanova Artigas, Edifício residencial Louveira, 1950 Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Edifício residencial Prudência, 1950 Henrique E. Mindlin, Edifício Três Leões, 1951 Jorge Machado Moreira, Edifício residencial Antonio Ceppas, 1952 Plinio Croce e Roberto Aflalo, Edifício residencial Biaçá, 1953 Oscar Niemeyer, Grande Hotel em Ouro Preto, 1940 Lucio Costa, Park Hotel, 1944 M.M. Roberto, Colônia de Férias, 1944 Paulo Antunes Ribeiro e Diogenes Rebouças, Hotel da Bahia, 1951 Oscar Niemeyer, Unidade habitacional tipo A do Centro Tecnológico da Aeronáutica, 1947 Oscar Niemeyer, Unidade habitacional tipo B do Centro Tecnológico da Aeronáutica, 1947 Oscar Niemeyer, Unidade habitacional tipo CI do Centro Tecnológico da Aeronáutica, 1947 Oscar Niemeyer, Unidade habitacional tipo C2 do Centro Tecnológico da Aeronáutica, 1947 Carlos Frederico Ferreira, Conjunto habitacional para operários, 1949 Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu- lho, plano geral, 1950 Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu- lho, bloco A, 1950-52 Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu- lho, blocos B-1 e B-2, 1950-52 Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu- lho, Escola primária e Ginásio, 1950-52 Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu- lho, Lavanderia e Mercado, 1952 Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu- lho, Centro de Saúde, 1950-52 Francisco Bolonha, Conjunto residencial de Paquetá, 1952 ESCOLAS, HOSPITAIS, IGREJAS, PRÉDIOS ESPORTIVOS E DE RECREAÇÃO, MUSEUS E PAVILHÕES DE EXPOSIÇÕES Carlos Frederico Ferreira, Escola primária, 1949 Francisco Bolonha, Jardim de infância em Vitória, 1952 Eduardo Corona, Colégio secundário na Penha, 1952 M. M. Roberto, Escola de aprendizado industrial, 1953 98 100 102 106 108 109 no 12 16 18 120 122 124 126 128 130 132 137 139 140 142 148 150 151 152 155 156 158 160 162 19 Helio Queiroz Duarte e E. R. de Carvalho Mange, Escola de aprendizado industrial Anchieta, 1934 Oscar Niemeyer, Obra do Berço, 1937 Francisco Bolonha, Hospital Maternidade, 1951 Escritório Técnico da Cidade Universitária da Universi- dade do Brasil, Escola de Puericultura, 1953 Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Instituto Central do Câncer (Hospital Antonio Candido de Camargo), 1954 Firmino F. Saldanha, Hospital dos Marítimos, 1955 Oscar Niemeyer, Igreja de São Francisco, 1943 Francisco Bolonha, Capela de Santa Maria na casa de campo do embaixador Hildelbrando Acci 1954 Alcides Rocha Miranda, Elvin McKay Dubugras e Fernan- do Cabral Pinto, Pavilhão do Altar do XXXVI Congres- so Eucarístico, 1955 Oscar Niemeyer, Casa do Baile, 1942 Oscar Niemeyer, Cassino, 1942 Oscar Niemeyer, late Clube, 1942 Affonso Eduardo Reidy, Teatro popular Marechal Hermes, 1950 Pedro Paulo Bastos, Rafael Galvão, Antônio Dias Carneiro e Orlando Azevedo, Estádio Municipal do Maracanã, 1950 Ícaro de Castro Mello, Piscina coberta, 1952 Olavo Redig de Campos, Pavilhão de natação da casa de campo de Homero Souza e Silva, 1955 Wit Olaf Prochnik, Pavilhão de natação na casa de campo de Alfredo Baumann, 1955 Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, com Paul Lester Wiener, Pavilhão Brasileiro da Feira de Nova York, 1939 Lina Bo Bardi, Museu de Arte de São Paulo, 1947 Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchôa e Eduardo Kneese Mello, Palácios das Nações e dos Estados no Parque Ibirapuera, 1951 Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchôa e Eduardo Kneese Mello, Palácio da Indústria no Parque do Ibirapuera, 1953 Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchôa e Eduardo Kneese Mello, Palácio das Artes no Parque do Ibirapuera, 1954 Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchôa e Eduardo Kneese Mello, Palácio da Agricultura no Parque do Ibirapuera, 1955 Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchôa e Eduardo Kneese Mello, Grande marquise no Parque do Ibirapuera, 1951 ADMINISTRAÇÃO, COMÉRCIO E INDÚSTRIA M. M. Roberto, Edifício da Associação Brasileira de Im- prensa — Edifício Herbert Moses, 1938 Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Carlos Azevedo Leão, Jorge Moreira, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcelos , Le Corbusier (consultor), Ministério da Educação e Saúde, 1937-1943 Alvaro Vital Brazil, Instituto Vital Brazil, 1941 M. M. Roberto, Edifício do Instituto de Resseguros do Brasil, 1942 164 168 170 176 180 182 184 186 188 192 194 202 204 206 208 210 212 214 215 216 218 222 Eduardo Kneese de Mello, Edifício Leonidas Moreira, 1944 Oscar Niemeyer, Edifício do Banco Boavista, 1946 Jorge Ferreira, Restaurante do Instituto Osvaldo Cruz (Manguinhos), 1948 Alcides Rocha Miranda, Oficinas, 1948 Aberlado de Souza, Galiano Ciampaglia, Helio Queiroz Duarte, Jacob Ruchti, Miguel Forte, Rino Levi, Roberto Cerqueira Cesar e Zenon Lotufo, Sede do Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento de São Paulo, 1948 Paulo Antunes Ribeiro, Edifício Caramuru, 1946 M.M.M. Roberto, Edifício Seguradoras, 1949 M.M.M. Roberto, Unidade industrial da SOTREQ, 1949 Oscar Niemeyer e Helio Uchôa, Fábrica da indústria de alimentos Duchen, 1950 Alvaro Vital Brazil, Edifício do Banco da Lavoura, 1951 Lucjan Komgold, Castelo d'água (fábrica da indústria farmacêutica Fontoura Wyeth S.A., 1953 TRANSPORTE, URBANISMO E PAISAGISMO ilio Corrêa Lima, Estação de Hidros (estação de hidro- aviões), 1938 M.M. Roberto, Aeroporto Santos Dumont, 1944 J. Vilanova Artigas, Terminal Rodoviário de Londrina, 1951 Comissão do Plano do Rio de Janeiro, Plano Diretor do Rio de Janeiro, 1938-1948 Affonso Eduardo Reidy, Plano de urbanização da área do antigo morro de Santo Antônio, 1948 Henrique E. Mindlin, Projeto de urbanização da Praia Pernambuco, 1953 Escritório Técnico da Cidade Universitária da Universida- de do Brasil, Plano Geral da Cidade Universitária — Universidade do Brasil, 1955 Carlos Perry, Jardim da casa de Og de Almeida e Silva, 1951 Jardim da casa do juiz Ranulpho Bocayuva Cunha, 1951 Jardim da casa de Alberto Lee (arquiteto Sergio Ber- nardes), 1954 Roberto Burle Marx, Esboço do jardim da praça Arthur Oscar, 1936 Esboço do jardim da casa de campo de Antonio Leite Garcia, 1942 Jardim da residência do embaixador do Canadá, 1944 Roberto Burle Marx, Jardim da casa de campo da sra. Jú- lio Monteiro, 1947 Roberto Burle Marx, Jardim da casa de campo de Carlos Somlo, 1948 Roberto Burle Marx, Jardim da Capela da Jaqueira, 1954 PROJETOS COMPLEMENTARES 1956-1960 Lista dos arquitetos Bibliografia Fotógrafos 226 227 230 231 232 234 236 238 240 242 244 246 248 250 252 254 256 258 260 261 262 264 266 267 275 285 286 NOTA DO AUTOR Este trabalho foi concebido inicialmente como um suplemento ao livro Brazil Builds, de Philip E. Goodwin, uma magnífica apresen- tação da antiga e da nova arquitetura no Brasil, publicado pelo Mu- seu de Arte Moderna de Nova York, e ilustrado com esplêndidas fotografias de G. E. Kidder Smith. No entanto, como Brazil Builds está esgotado há vários anos, decidiu-se mais tarde incluir aqui al- guns dos exemplos mais importantes ali mostrados anteriormente. Assim, será possível dar uma imagem mais completa do desenvol- vimento da arquitetura moderna no Brasil, dos seus primórdios no final dos anos 20 até os dias de hoje. Mas este livro não substitui o belo trabalho de Goodwin, nem isso jamais esteve nas minhas intenções. O objetivo deste livro é antes apresentar, da forma mais condensa- da e ordenada possível, por meio de um certo número de exemplos selecionados, a imagem daquilo que o Brasil alcançou no campo da arquitetura moderna, de modo a permitir um julgamento funda- mentado, tanto por parte dos próprios arquitetos quanto dos críti- cos daqui e do exterior. A necessidade de cobrir uma ampla perspectiva em um número preestabelecido de páginas impôs uma série de limitações na esco- lha do material a ser apresentado. Não foi possível evitar a exclu- são de um grande número de bons projetos, especialmente quando suas características mais marcantes também estavam presentes em outras obras que já ilustram este trabalho. O autor e os editores aco- lherão de bom grado os comentários sobre eventuais falhas e erros cometidos, para que possam ser corrigidos em edições futuras. Gostaria, no entanto, de expressar aqui a minha profunda gratidão a todos aqueles que me ajudaram, e que não são responsáveis por tais erros: a Vera, minha mulher, que aceitou com paciência o sacri- fício de todo o nosso tempo livre, sem o que eu nunca teria termi- nado este trabalho; a Walmyr Lima Amaral, Samuel Levy, Anny Sirakoff, Olga Verjovsky, Marc Demetre Foundoukas e Sérgio Campos, do meu escritório, que me ajudaram a organizar, a classi- ficar e a preparar o material para publicação; a Fernando Tabora, João Távora, Herman Neves Apostolo, Jayme de Gouveia Veloso, Jayme Leal, Wilson Azevedo Sergio, José Lopes Pires, Roberto Radler de Aquino, também do meu escritório, que colaboraram na preparação do livro; a Jorge Picorelli, que executou desenhos ur- gentes quando o pessoal do escritório não estava disponível; a Zil- da Ribeiro Bueno Ferreira, minha paciente secretária, que datilogra- fou e redatilografou milhares de vezes estas páginas, e cuja insis- tência junto aos arquitetos evitou atrasos inconvenientes; a meus colegas que me ajudaram a obter o material indispensável, em es- pecial a Renato Soeiro, Carmen Portinho, Lygia Fernandes e Gian- carlo Palanti, assim como a J. Faria Góes, Marcos Jaimovich, José Simeão Leal, Oscar Ciampiglia e Antonio Joaquim de Almeida; a Lota de Macedo Soares, que me permitiu usar o magnífico estúdio de sua casa em Samambaia; a Elisabeth Bishop, que traduziu para o inglês o original em português da introdução e dos primeiros co- mentários dos exemplos, sacrificando um tempo que seria melhor empregado no seu próprio trabalho, visto que sua poesia lhe valeu o Prêmio Pulitzer de Poesia de 1956; a John Knox, que passou por um angustiante processo de tradução da grande parte restante; a Adolfo Casais Monteiro e Rachel Moacyr, aos quais coube a pe- nosa tarefa de fazer a tradução francesa em um prazo extremamen- te curto; a Marcel Gautherot, Jean Manzon, Léon Liberman, Mary Shand e aos demais fotógrafos, cujas belas provas enriquecem este livro; ao sr. e sra. Finn Engersen, sr. e sra. Alan Fisher e sr. Ronald Bottrall, pelas diversas sugestões e comentários; a Lúcio Costa, Mário Pedrosa, Mário Barata, Hernani Tavares de Sá, Wladimir Alves de Souza e William Atkin, pela paciente leitura do texto, bem como pelas numerosas correções; a Claude Vincent, pelos tex- tos sobre os jardins de Roberto Burle Marx; a Rodrigo Mello Franco de Andrade e a Carlos Drummond de Andrade, que me for- neceram importantes fontes; à KLM Royal Dutch Airlines, por sua ajuda no transporte de materiais insubstituíveis; e por fim, mas cer- tamente não por último, a Walter Geyerhahn, que me instigou a es- crever este livro; a J. R. Meulenhoff, J. Somerwil e H.P. Doebele, aos quais este livro deve a beleza de sua apresentação; a Osmar Castro, pelo projeto gráfico, mesmo que tenha sido seguido apenas em parte na fase final da impressão, e a tantos outros cujo nome não citei, simplesmente porque seria impossível fazê-lo neste espaço. HEM. 24 guarda, e de uma série de conferências e recitais de dança e música realizados no imponente Teatro Municipal de São Paulo, anunciou alto e bom som “o espírito dos novos tempos”. Mas, apesar de tudo, a Semana era também uma importação européia. Talvez o problema não pudesse ser definido como uma simples oposição de termos como “passadismo” e “futurismo” — um futurismo que não era, na realidade, o do italiano Marinetti, e sim uma mistura de tudo o que era novo e atual. De toda forma, a Semana de Arte Moderna trouxe consigo o germe de um autêntico renascimento que, com o tempo, iria estabalecer uma relação com os mais altos valores da vida bra- sileira, com as fontes do passado, com a terra e com o povo. De iní- cio, porém, rapidamente pipocaram movimentos radicais, ansiosos por encontrar uma expressão independente e nacional e por alcançar uma libertação ainda maior das influências européias através da cria- ção artística brasileira. Um deles foi o Movimento Antropofágico de 1928, que tentava encontrar na cultura indígena, anterior ao des- cobrimento, uma espontaneidade independente de qualquer esforço “civilizador”, português ou europeu”. A arquitetura logo sentiu o impacto da Semana de Arte Moder- na. Em 1925, Gregori Warchavchik lançou em jornais de São Paulo e do Rio” seu manifesto “Acerca da Arquitetura Moderna” citando o famoso slogan de Le Corbusier, “a casa é uma máquina de mo- rar”. Nesse mesmo ano, Rino Levi, ainda estudante em Roma, publi- cou no Estado de S. Paulo (o mesmo jornal que três anos antes ha- via anunciado que suas colunas estavam abertas a todos os que de- fendiam o nosso patrimônio artístico combatendo a arte moderna) um artigo em que se defendia a necessidade de se levar em conta a realidade brasileira no indispensável e urgente planejamento urba- no. Em 1927, com a realização do concurso para a escolha do pro- jeto do Palácio do Governo do Estado de São Paulo, Flávio de Car- valho escandalizou a opinião pública com seu projeto “modernis- ta”, no qual estava prevista a construção de um abrigo antiaéreo. Em 1928, Warchavchik expôs sua primeira casa moderna, que atraiu milhares de visitantes e a ira dos professores. Assim, quando Le Corbusier passou pela primeira vez por São Paulo e pelo Rio, em 1929, na volta de uma viagem à Argentina e ao Uruguai, encontrou o terreno mais ou menos preparado. Fez di- versas conferências e, em São Paulo, foi recebido oficialmente na Câmara Municipal, com discursos cerimoniosos e convite para sentar-se à Mesa Diretora como convidado de honra, o que parece tê-lo deixado bastante impressionado". O presidente do estado, Jú- lio Prestes, candidato à presidência da República, bastante a par das atividades de Le Corbusier, discutiu com ele as obras de urba- nização que planejava executar. No entanto, em 1930, a revolução liderada por Getúlio Vargas impôs um novo regime e um novo estado de espírito. O movimen- to de 30 foi desencadeado sobretudo por jovens militares e civis, e lançou um sopro renovador em todos os setores da vida política, social e econômica do país. Esse período de mudança e excitação teve, naturalmente, refle- xos na arquitetura. Lúcio Costa foi nomeado diretor da Escola Na- cional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e empreendeu uma refor- ma radical de seu currículo, até então baseado na École des Beaux Arts. Gregori Warchavchik e A. Budeus foram convidados a ocu- par as cadeiras do quarto e quinto ano de Projeto Arquitetônico. Mas a reforma de Lúcio Costa, na verdade, não chegou a sair do papel. Um incidente em sala de aula deu aos elementos reacioná- rios o pretexto para demitir o jovem diretor em menos de um ano. Seguiu-se uma greve, inicialmente sem importância, mas que rapi- damente se transformou em um movimento estudantil em defesa das novas idéias artísticas e se articulou na proposta de criação de uma escola independente. A greve durou seis meses e, ao retornar às aulas, os estudantes tinham obtido uma vitória em sua luta con- Profeta na frente da Igreja do Nosso Senhor do Bom Jesus de Matosinho, Congonhas do Campo, Minas Gerais, 1800-04, Antônio Francisco Lisbôa k EmA AD Velhos telhados, São Luis, Maranhão, fins do século XVII e começos do XIX tra o academicismo e em favor do progresso nas artes. Do grupo de futuros arquitetos que viveu essa fase, certamente a fase “herói da arquitetura brasileira, e que recebeu o apoio da maioria absoluta dos estudantes, faziam parte Luiz Nunes (cuja morte prematura cei- fou uma carreira promissora), Jorge Machado Moreira, Renato Vile- la, Carlos Leão, Annibal Mello Pinto, Ernani Mendes de Vasconcel- los, Orlando Dourado, Raul Marques de Azevedo, Mário Camargo de Penteado, Edison Nicoll, José Carvalho de Castilhos, Regina Reis, Galdino Duprat da Costa Cunha Lima, Antônio Osório Jordão de Brito, José Regis dos Reis, Benedito de Barros, Alcides Rocha Miranda, Ary Garcia - Roza, João Lourenço da Silva, Lauro Barboza Coelho, Eugênio Proença Sigaud, Aldo Garcia - Roza, Antônio Pinto, Ruy Costa, Francisco Saturnino de Brito e Edgard Guimarães do Valle. O grupo foi inicialmente liderado por Luiz Nunes e em segui- da por Jorge Moreira. Mais tarde esses homens iriam ajudar a apoiar as reivindicações das novas gerações de estudantes que se lhes su- cederam na Faculdade Nacional de Arquitetura. No entanto, a reação às novas idéias naturalmente fez com que elas fossem sendo postas em prática lentamente, e os arquitetos mais avançados tinham poucas oportunidades de trabalho. O curso dos acontecimentos foi interrompido pela Revolução Constitucio- nalista de 1932, em São Paulo, e somente a partir de 1934 os gran- des planos de construção do governo Vargas puderam ser empreen- didos. Em 1935 foram realizados os primeiros estudos para a Ci- dade Universitária do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, foi anun- ciado um concurso público para o projeto do novo edifício do Mi- nistério da Educação e Saúde. Em uma atmosfera de indecisão ar- tística generalizada, os prêmios foram dados a projetos puramente acadêmicos, enquanto trabalhos de real valor, dentro de um espíri- to moderno, apresentados por um grupo de jovens artistas, foram desclassificados. Foi então que se produziu um desses fatos inespe- rados que muitas vezes mudam o curso da história. O ministro da Educação, Gustavo Capanema, inspirado por uma mistura de vi- são, audácia e bom senso que o caracterizava, tomou a decisão pes- soal que mais contribuiu para o desenvolvimento da arquitetura moderna no Brasil. Apoiado na opinião de vários críticos respeita- dos, em particular Mario de Andrade, Carlos Drummond de Andra- de, Rodrigo Mello Franco de Andrade e Manuel Bandeira, e tam- bém na de M. Piacentini, arquiteto italiano que tinha vindo colabo- rar no projeto da Cidade Universitária”, Capanema, depois de pre- miar os ganhadores, pediu a Lúcio Costa, um dos desclassificados, que apresentasse um novo projeto. A pedido deste, o convite foi estendido aos outros arquitetos desclassificados. Formou-se então um novo grupo, sob a liderança de Lúcio Costa, composto por Car- los Leão, Jorge Moreira e Affonso Eduardo Reidy, ao qual logo se juntaram Oscar Niemeyer e Ernani Vasconcellos. O novo projeto do Ministério da Educação e Saúde foi apresentado em maio de 1936. Em junho, Lúcio Costa sugeriu que Le Corbusier fosse con- vidado a opinar sobre ele, assim como sobre o projeto da Cidade Universitária. O convite foi transmitido por um velho conhecido, Alberto Monteiro de Carvalho. Le Corbusier aceitou, veio ao Rio e durante cerca de um mês trabalhou em estreita colaboração com a equipe de jovens arquitetos, estudando as alternativas sugeridas. No início mostrou-se contrário à localização escolhida, na Espla- nada do Castelo, uma área nova destinada à construção de prédios comerciais, e sugeriu uma outra, à beira-mar, próxima do Aero- porto Santos Dumont, para a qual fez um estudo. Mais tarde, fez outro estudo para o local que inicialmente havia rejeitado. Prepa- rou também, em poucos dias, uma esplêndida sugestão preliminar para a Cidade Universitária, em uma localização posteriormente abandonada. Ao mesmo tempo que ensinava e inspirava seu grupo de colaboradores mais imediatos, suas idéias alcançavam maior audiência, graças a seis conferências que fez durante as duas pri- meiras semanas de agosto. Nas palavras de Le Corbusier, as novas Velha rua, São Luis, Maranhão, fins do século XVII e começos do XIX 27 obras da arquitetura européia, que Alberto Monteiro de Carvalho, A. Szilard e outros tinham pacientemente tentado expor aos seus colegas que não tinham viajado para o exterior, ganhavam vida e alma. Sua estada no Rio teve portanto um enorme valor instrutivo e uma inesquecível e duradoura influência. Após sua partida, a equipe brasileira continuou trabalhando no projeto até sua conclusão em janeiro de 1937. A versão final do projeto, uma variante da versão de Le Corbusier, mostrou os bene- fícios dessa associação produtiva, assim como o grande talento dos arquitetos brasileiros e sua capacidade de assimilação inteligente das idéias do mestre. Era uma obra acabada, um monumento da arquitetura contemporânea, de um grau de excelência incompará- vel. O Ministério da Educação e Saúde se impõe, não só no Brasil, mas no mundo ocidental, como uma contribuição definitiva à heran- ça artística do nosso tempo. Em 1939 Lúcio Costa deixou a direção da equipe, continuando, no entanto, como consultor. Na ocasião, Oscar Niemeyer foi esco- lhido pelos demais membros do grupo para substituí-lo. A extra- ordinária carreira de Niemeyer, um caso genuíno de superação das primeiras expectativas, teve início nessa época. Em sua obra imagi- nativa e personalíssima o estilo internacional moderno dá lugar a um estilo profunda e instintivamente adaptado ao meio brasileiro. Sua crescente influência pode ser notada nos trabalhos da maioria dos jovens. Niemeyer é reconhecido internacionalmente como nenhum outro arquiteto brasileiro. Em 1947, participou do grupo convidado para projetar a sede das Nações Unidas em Nova York. Seu estudo, juntamente com o de Le Corbusier, serviu de ponto de partida para o projeto final. Em 1955 foi convidado para participar do projeto de uma nova área em Berlim, o distrito de Hansa, onde será realizada a Exposição Internacional de Arquitetura de 1958, para a qual proje- tou um prédio de apartamentos, como também o fizeram Van der Rohe, Gropius, Le Corbusier e Aalto. Nesse mesmo ano projetou o Museu de Arte Moderna de Caracas, na Venezuela. Uma fachada em azulejo, Alcantara, Maranhão, começos do século XIX Em fevereiro de 1937, ano em que começou a construção do Ministério da Educação e Saúde, Attilio Corrêa Lima obteve o pri- meiro lugar no concurso para a Estação de Hidros. Embora ressal- vando a insuficiência dos desenhos apresentados, o júri teve a pers- picácia de outorgar-lhe o primeiro prêmio, decisão plenamente jus- tificada pelas qualidades e beleza mostradas após a conclusão das obras. Pioneiro da nova arquitetura e urbanista avançado, Attilio Corrêa Lima não pôde, infelizmente, desenvolver sua obra. Perdeu a vida, junto com alguns dos mais destacados escritores e cientis- tas brasileiros, em um acidente de aviação, junto à sua Estação de Hidros, em 27 de agosto de 1943. Milton Roberto foi outro pionei- ro, competente e corajoso, que morreu alguns anos depois, ainda jovem, vítima de um ataque cardíaco em 15 de julho de 1953, quando presidia uma sessão do Instituto de Arquitetos do Brasil. 28 Em junho de 1936, Marcelo e Milton Roberto venceram o concur- so para a sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o pri- meiro edifício no qual foram experimentadas as possibilidades dos brise-soleil fixos (ver página 216). O prédio da Obra do Berço, de Niemeyer, concluído em 1937, ofereceria mais tarde o primeiro exemplo de integração do brise-soleil móvel na arquitetura. A escolha de arquitetos para edifícios públicos através de con- cursos, de acordo com regras estabelecidas pelo Instituto de Arqui- tetos do Brasil, tornou-se uma prática cada vez mais corrente, que resultou em boas seleções. O concurso para o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York foi vencido em 1938 por Lúcio Costa, que, no entanto, ao perceber que o projeto de Oscar Niemeyer era excepcionalmente interessante, convidou-o para uma parceria na elaboração do projeto definitivo, num exemplo extraordinário de consciência profissional. Juntos, eles elaboraram um novo projeto Grandjean de Montigny, Academia Imperial de Belas Artes, Rio de Janeiro, 1826 (Mais tarde abrigou o Ministério da Fazenda). O andar superior foi acrescentado posteriormente em Nova York. O Pavilhão do Brasil, concluído em 1939, tornou- se uma das mais populares atrações da feira, sendo considerado por muitos como um dos melhores exemplos da arquitetura moderna. Os dois irmão Roberto tinham vencido, em 1937, o concurso para o Aeroporto Santos Dumont, a ser construído na Ponta do Calabouço, no Rio de Janeiro. Em 1942, H. Mindlin venceu o concurso para um anexo do Palácio Itamaraty, e em 1944, Affonso Eduardo Reidy e Jorge Moreira conquistaram o primeiro lugar no concurso para a sede da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Em 1942, Philip L. Goodwin, autor, junto com Edward Stone, do projeto do Museu de Arte Moderna de Nova York, veio ao Bra- sil, como um novo explorador, a fim de preparar uma exposição de arquitetura brasileira. Com ele veio G. E. Kidder Smith, hoje um mundialmente famoso fotógrafo de arquitetura. A exposição orga- nizada por Goodwin no Museu de Arte Moderna de Nova York em 1943, e seu fascinante livro Brazil Builds, o primeiro no gênero, re- velaram uma nova produção, repleta de charme e novidade, a pri- meira aplicação em larga escala dos princípios de Le Corbusier, Gro- pius e Van der Rohe, uma arquitetura que se havia materializado mais cedo em outras partes do mundo, na primeira fase da Arqui- tetura Internacional, mas que no Brasil tinha agora encontrado sua expressão artística. Houve um imediato e entusiástico reconheci- mento externo, e o Brasil se deu conta de que a sua arquitetura moder- na era uma das suas mais valiosas contribuições à cultura contem- porânea. A partir daí, o homem comum, desconfiado e irônico por natureza, começou a sentir orgulho de edifícios que a princípio tinha considerado engraçados ou bizarros. Embora continuasse a tratá-los por apelidos, privilégio do crítico da rua, fazia-o com secreta ad! ração. Assim, esses edifícios se tornaram parte do profundo orgulho e afeição que os habitantes sentiam por suas cidades. Um número crescente de visitantes veio de outros países, em par- ticular estudantes e arquitetos, jovens e velhos, curiosos para ver com os próprios olhos as obras de seus colegas brasileiros. Repetindo o que Frank Lloyd Wright fizera quinze anos antes (quando apoiou os estudantes em greve no Rio), Richard Neutra provocou o entusiasmo da jovem geração com conferências em que abordava com profundi- dade os aspectos humanos e sociais da arquitetura. Paul Lester Wiener e Jose Luis Sert foram convidados a projetar a Cidade dos Motores para a empresa estatal Fábrica Nacional de Motores, e Sert fez reviver o interesse nos trabalhos dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM). Mais tarde, as bienais de São Paulo de 1951, 1953 e 1955 passariam a apresentar, ao lado de grandes mostras internacionais de artes plásticas, exposições de arquitetura modema e trabalhos de estudantes. A participação de Siegfried Giedion, Juno Sakakura e Mario Pani no júri da primeira Bienal, e de Walter Gropius, Alvar Aalto e Emesto Rogers no da segunda (a ter- ceira apresentou apenas trabalhos de estudantes e foi apreciada por um júri local), estabeleceu estreito contato com o movimento inter- nacional. As revistas estrangeiras publicaram mais e ma sobre a arquitetura brasileira e dedicaram-lhe números espe: A julgar pelas aparências, o movimento moderno tinha triunfado no Brasil. Infelizmente, as aparências enganam. Ainda há muito por fazer antes que a presença essencial do arquiteto, sua função como organi- zador do espaço urbano possa atingir a grande massa da população. Nos últimos quinze anos, um conjunto apreciável de obras de valor indiscutível foi realizado, apesar das limitações impostas pela incipiente produção industrial do país. Mas essas conquistas foram, em certa medida, prejudicadas pelo grande número de obras de qua- lidade duvidosa, que traem uma incompreensão dos princípios fun- damentais da arquitetura moderna. Esse é um resultado inevitável da elevadíssima taxa de edificação inerente ao desenvolvimento econô- mico brasileiro. Mesmo considerando as leis das variações em tono da média, ainda continuou-se a construir edificações de qualidade inferior, até que decorresse tempo suficiente para que pontos de vista mais corretos fossem aceitos e para que técnicas construtivas mais eficientes fossem adotadas. Ainda assim, até mesmo as construções contemporâneas de qualidade inferior mostram que os imitadores estão procurando, à sua maneira, seguir o bom caminho. Por outro lado, o crescimento descontrolado das cidades e a ex- pansão industrial vieram expor uma necessidade gritante de planeja- mento urbano. Na verdade, a despeito dos detalhados decretos reais referentes à implantação de novas cidades trazidos pelos primeiros colonizadores portugueses, não há nenhum registro histórico de planejamento urbano em larga escala no Brasil. Muito embora, e tão surpreendentemente quanto possa parecer, Recife tenha pavimentado suas calçadas antes de Paris”, nunca houve, nos tempos da colônia ou do Império, nenhuma tentativa consistente de planejamento urbano, sequer um exemplo isolado de importância comparável às experiên- cias do Renascimento e do Barroco na Europa. Somente nos nossos dias, sob pressão dos efeitos perniciosos da ausência de planejamen- A reação neocolonial, Solar de Monjope, projetado pelo proprietário, José Marianno Filho, Rio de Janeiro, 1926 to, se tem sentido a necessidade de ordenar as ruas, de combater os engarrafamentos organizando a circulação de veículos, de implantar o zoneamento do solo urbano e de sistematizar a cidade, para que ela possa servir à vida moderna de forma adequada e agradável. Esse tra- balho lento e penoso é, obviamente, dificultado por um grande nú- mero de interesses conflitantes que precisam ser reconciliados. Além disso, a velocidade de crescimento das grandes cidades e a urgência de solução dos seus problemas imediatos são tais que se torna quase impossível empreender, em um futuro próximo, as modific: i cais exigidas por um plano diretor. As novas cidades (Londrina, Marília etc.) cresceram sob pressão dos interesses imobil Escola de Grandjean de Montigny, Prédio situado no nº 38 da praça Servulo Dourado, Rio de Janeiro, 1848 29 Escola de L. L. Vauthier, no nº 36 da rua Rosa e Silva, Recife, Pernambuco, meados do século XIX º - mM war o ERRA ANN 4 E a BR A diatistas e estão-se expandindo a uma taxa tão elevada que não con- seguiram fazer muito mais em termos de planejamento urbano do que as cidades mais antigas. No entanto, algumas cidades tentaram elaborar planos diretores sistemáticos. A primeira a fazê-lo foi São Paulo, cujas autoridades municipais publicaram um “Plano de Ave- nidas da Cidade de São Paulo” elaborado por Prestes Maia em 1930. Ainda no fim desse ano, o urbanista francês Alfred Agache, que tinha sido contratado pelo prefeito Antônio Prado Jr. em 1927, apresentou um plano para o Rio de Janeiro, cujo principal mérito foi alertar as autoridades municipais para as vantagens de um plano geral sobre os planos parciais até então considerados. Seu plano foi revogado em 1934, sob o argumento de que demandaria cinquenta anos para ser implementado, mas foi retomado em 1938 com a cria- ção da Comissão do Plano da Cidade. O desmonte do morro do Castelo, realizado anteriormente para propiciar uma nova área para a expansão do centro da cidade, tinha sido um exemplo de coragem no trato dos problemas de planejamento urbano. O mesmo se pode dizer da abertura da avenida Presidente Vargas, de acordo com um projeto segundo o qual os lucros trazidos pelo aumento do valor dos terrenos foram revertidos diretamente para os cofres do municí- pio, e não para uns poucos e felizardos proprietários. Nos dias que correm, pode-se observar o desmonte do morro de Santo Antônio e o aterro de uma longa faixa ao longo do Calabouço e das praias do Flamengo e de Botafogo, para alargar avenidas e criar novas áreas de estacionamento e jardim. Curiosamente, já em 1798, um certo dr. Antônio Joaquim de Medeiros tinha sugerido que se demolissem os morros do Castelo e de Santo Antônio, “ficando por muita equidade o lugar do convento”. Aqui cabe, talvez, uma menção ao plano de Belo Horizonte. A construção da nova capital de Minas Gerais, uma cidade artificial, como Washington, come- çou em 1898, e seu plano, elaborado por Aarão Reis, foi concluído em 1903. Trata-se de uma trama quadrangular superposta a uma re- de de diagonais que, pelo fato de não ter levado em conta a topo- grafia da região, acabou fazendo com que vários bairros tenham ruas com mais de 20% de inclinação. Outros arquitetos e urbanistas cujos nomes estão associados a planos diretores de cidades brasileiras devem ser mencionados: Atti- lio Corrêa Lima (Goiânia e Niterói); Nestor de Figueiredo (Recife); Edvaldo Paiva, Demétrio Ribeiro e Edgard Graef (Florianópolis); estes últimos e mais Francisco Macedo, Nelson Souza e Francisco Veronese (Caxias do Sul); José de Oliveira Reis (Ribeirão Preto); Luiz Saia (Lins), e Léo Ribeiro de Moraes, autor de vários planos para novas cidades em construção. Em 1950 a cidade de São Paulo convidou Robert Moses, diretor do Departamento de Parques de Nova York, para elaborar um “Programa de Melhoramentos Públicos”, patrocinado pela International Basic Economy Corpo- ration. Mais recentemente, a recomendação contida já na Consti- tuição de 1891, de que a capital da República fosse transferida para o interior do país, voltou à baila. A Comissão de Localização da Nova Capital, presidida pelo marechal José Pessoa, escolheu o local definitivo da futura capital no Planalto Central, no interior de Goiás, a aproximadamente 900 quilômetros a nordeste do Rio de Janeiro, e iniciou os estudos preliminares para o plano da cidade. Uma outra questão da maior importância para o futuro da arqui- tetura moderna deve ser mencionada: o problema do seu ensino. Ligado inicialmente ao ensino de belas artes ou de engenharia ci- vil, o ensino de arquitetura tornou-se independente em 1945 com a criação de faculdades de arquitetura em várias universidades do país. O principal meio de treinamento dos jovens arquitetos passou a ser o trabalho em escritórios de arquitetura estabelecidos, em con- tato direto com os problemas cotidianos da prática profissional, subs- tituindo-se assim o antigo sistema de ateliers, herdado da École des Beaux Arts. No entanto, até agora muito pouco foi feito para atua- Gregori Warchavchik, Detalhe da casa de Antonio da Silva Prado Neto, São Paulo, 1931 Evolução do projeto do ministério da Educação e da Saúde, Rio de Janeiro, 1936-37; a) Feito por um grupo de arquitetos brasileiros; b) Croqui de Le Corbusier para a localização perto do aeroporto; c) Croqui de Le Corbusier para a atual localização; d) Croqui final da feito pela equipe brasileira. Le Corbusier, croqui da Ministério de Educação e Saúde na atual loca Rio de Janeiro, 1936 lizar os currículos e dar vida aos métodos de ensino. As tentativas de aplicar as teorias da Bauhaus, seja na sua forma original, seja com as modificações sugeridas pela experiência norte-americana, estão ainda confinadas a um ou dois casos isolados. Na verdade — não por falta de bons professores, mas porque, por razões práticas, os currículos ainda não estão integrados, especialmente no que se refere aos aspectos criativos e artísticos —, o estudante de arquite- tura de hoje ainda é, e continuará sendo, até que a situação melho- re, exatamente o que foram seus colegas que criaram a arquitetura moderna no Brasil: autodidatas. Em contraste com esse estado de coisas, pode-se dizer que o pro- blema da mão-de-obra está sendo tratado de forma mais sistemática Luiz Nunes e Fernando Saturnino de Brito, Castelo d'água, Olinda, Pernam- buco, 1937 e realista. A mão-de-obra (inicialmente de origem portuguesa e pos- teriormente aprimorada, especialmente no Sul, durante o século XIX, com a imigração italiana e alemã) sofreu bastante com a transição, após a Primeira Guerra Mundial, de uma economia predominante- mente agrária para uma crescente industrialização provocada pelas dificuldades de importação impostas pela guerra. Essa transição exi- giu igualmente a adaptação a novos métodos construtivos e a técni- cas industriais, que no princípio era penosamente reiniciada cada vez que se abria um novo canteiro de obras. Já na atualidade, dispõe-se de um promissor programa de treinamento padronizado, constituído pelas 107 escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) espalhadas pelo país, com seus cerca de 30 mil alunos. Por outro lado, as possibilidades e recursos da indústria local estão au- mentando rapidamente, reduzindo assim a cada dia os problemas técnicos de construção enfrentados pelo arquiteto. No passado, era pre- ciso importar quase todas as ferramentas, equipamentos e materiais Rino Levi, Interior do cinema Art Palácio 3. Livro de Posturas do Senado da Câmara da Cidade de Salvador, fl.4, 1696 (Robert Smith, “Documentos baianos”, Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, 1945, nº 9, p. 94). Mais tarde, em 1785, até mes- mo as proporções dos andares, portas, janelas e balcões foram esta- belecidas em regulamentos detalhados. 4. José Wasth Rodrigues, “A casa de moradia no Brasil Antigo”, Re- vista do SPHAN, Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, 1945, no 9, p. 160. 5. Robert Smith, loc. cit. Como afirmou o desembargador João Ro- drigues de Brito a respeito das janelas com treliças da Bahia, no iní- cio do século XVIII: “As gelosias também obstão à civilização, escon- dendo o bello sexo ao masculino, para aparecer a furto sempre enver- gonhado. A destruição deste esconderijo mourisco poria as senhoras na posição de vestir-se melhor para chegarem às janelas, a sati a natural curiosidade de verem, e serem vistas, e assim familiari: do-se com o sexo masculino, não olharião como virtude o insocial re- colhimento, que as faz evitar os homens, como a excomungados.” Idem, p. 99. 6. Architecture Toscane ou Palais, Maisons et autres édifices de la Toscane, mesurés et dessinés, par A. Grandjean de Montigny et A. Famin, Architectes, anciens pensionnaires de |' Académie de France, à Rome, Paris, Didot, 1815; reeditado em Nova York, em 1932, sob o mesmo título, por The Pencil Points Press. 7. Gilberto Freyre, na introdução de “Casas de residência no Brasil”, de L. L. Vauthier, Revista do SPHAN, Rio de Janeiro, 1943, nº 7, p. 109. 8. Essa reação também ocorreu em outros países americanos, como consegiiência de um impulso nativista e regionalista, possivelmente relacionado com a Doutrina Monroe (“A América para os america- nos”). Em um plano mais estritamente arquitetônico, poder-se-ia esta- belecer um estreito paralelo com os movimentos europeus, tais como, na Inglaterra, o retorno de Norman Shaw ao estilo Queen Anne em 1890. Seu conteúdo mais positivo, magnificamente mostrado por Gilberto Freyre no “Manifesto regionalista” (Recife, 1926), só tomou sua forma definitiva na arquitetura mais tarde, com a tentativa de har- monização entre os elementos regionais tradicionais e contemporâneos. 9. Durante a Semana de Arte Moderna de fevereiro de 1922, três apre- sentações organizadas por Graça Aranha (1896-1931), Mario de An- drade (1893-1945), Paulo Prado (1869-1943) e Ronald de Carvalho (1893-1935) e realizadas nos dias 11, 15 e 17, foram dedicadas a: pin- tura e escultura; literatura e poesia; filosofia e crítica moderna; e mú- sica. Além dos já citados, participaram, entre outros: Villa-Lobos, Os- wald de Andrade (1890-1945), Manuel Bandeira, Renato de Almeida, Alvaro Moreyra, Ribeiro Couto, Rubens Borba de Moraes, Menotti del Piccl Sérgio Milliet, Afonso Schmidt, Guiomar Novaes, René Thi- ollier, Guilherme de Almeida e Cândido Motta Filho. Entre os artistas que expuseram suas obras durante oito dias no foyer do Teatro Muni- cipal estavam: o escultor Vitor Brecheret (1894-1955); os pintores Sergio W. Bernardes, Pavilhão de Exposição da Companhia Siderúrgica Nacional, Parque do Ibirapuera, São Paulo, 1954 Anita Malfatti, Di Cavalcanti (um dos primeiros a apoiar o movimen- to), Oswaldo Goeldi, Regina Graz, J. F. de Almeida Prado; e os ar- quitetos A. Moya e J. Preyrembel. No Movimento Antropofágico de 1928 os nomes de Raul Bopp, seu líder, e de Tarsila do Amaral devem ser destacados. 10. 11 Piccolo, jornal italiano publicado em São Paulo, 14 de junho de 1925, e Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1º de novembro de 1925. 11. Na recepção na Câmara Municipal em 23 de novembro de 1929, Le Corbusier foi proclamado por Goffredo da Silva Telles como uma das mais preeminentes figuras dos círculos intelectuais franceses. Depois de um breve discurso, Le Corbusier teve que sair antes do tér- mino da sessão para sobrevoar a cidade. Correio Paulistano, São Pau- lo, 24 de novembro, 1929, p. 12. 12. Mario de Andrade (1893-1945), grande escritor e crítico de arte e de música, foi a figura preeminente do movimento em São Paulo. Car- los Drummond de Andrade e Manuel Bandeira são dois dos maiores poetas brasileiros contemporâneos. Rodrigo Mello Franco de Andrade foi diretor do SPHAN, órgão responsável por incalculáveis realiza- ções no estudo e proteção da nossa herança cultural. 13. L. L. Vauthier, “Casas de residência no Brasil”, série de cartas a Cesar Daly, Revista do SPHAN, Rio de Janeiro, 1943, no 7, p. 177. 14. Adolfo Morales de los Rios Filho, Grandjean de Montigny e a evolução da arte brasileira, Rio de Janeiro, A Noite, s. d., p. 47. 15. O aço já tinha sido usado no país no começo do século, e Belém do Pará se orgulhava de ter um castelo d'água projetado por Gustave Eiffel. Com o início da Primeira Guerra Mundial, sua importação se tornou cada vez mais difícil, sendo rapidamente substituído por con- creto armado. Atualmente, com o desenvolvimento da siderurgia no país, estão abertas as portas para se experimentar as possibilidades de emprego de estruturas metálicas. 16. O primeiro jardim de Roberto Burle Marx data de 1934 e pertence à residência dos Schwartz, projetada por Lúcio Costa e Gregori Warchavchik, que na época eram sócios. Em seguida, Burle Marx tra- balhou em Recife de 1935 a 1937 (ver página 261). Em 1938, Attilio Corrêa Lima já tinha projetado o jardim da Estação de Hidros (pági- na 246) num estilo regional. Roberto Burle Marx, Croqui de perspectiva, planta da praça da Independência, João Pessoa, Paraíba, 1953 Oscar Niemeyer / Projeto apresentado no concurso para um estádio (stade national) / 1941 Rio de Janeiro Henrique Mindlin / Primeiro lugar no concurso para um novo prédio do Ministério das Relações Exteriores / 1942 / Rio de Janeiro Rino Levi / E A. Pestalozzi e Roberto Cerqueira Cesar / Maternidade da Universidade de São Paulo / 1946 / São Paulo (em construção) Giancarlo Palanti e Daniele Calabi / Orfanato da Liga das Mulheres Católicas / 1949 / São Paulo Icaro de Castro Mello / Primeiro lugar no concurso do Esporte Club Sirio / São Paulo (em construção) Carlos Frederico Ferreira / Primeiro lugar no concurso da piscina coberta da Sociedade Esportiva Palmeiras Henrique Mindlin / Projeto de um hotel na Praia Vermelha / 1946 / Rio de Janeiro 37 David Xavier Azambuja / O Palácio do Governo do Estado / 1952 / Curitiba, Paraná sa Ary Garcia-Roza com Almir Gadelha, Aldo Garcia Roza e Waldir Leal da Costa / Primeiro lugar no concurso da nova sede do Banco do Brasil / 1951 / Rio de Janeiro Eduardo Kneese de Mello / edifício residencial Japurá / 1952 / São Paulo (em construção) Sergio W. Bernardes / Primeiro lugar no concurso da Capela de São Domingos David Xavier Azambuja, Olavo Redig de Campos, F. A. Regis e Sergio Santos Rodrigues / Centro Cívico / Curitiba, Paraná (em construção). No fundo e à direita, o Palácio do Governo, à esquerda, o Palácio da Justiça; na frente, à direita, a Assembléia Legislativa, à esquerda, os prédios que abrigam diversas secretarias e departamentos do governo Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar / Projeto de dois prédios para a Companhia Nacional de Seguros de Vida São Paulo / 1952 / São Paulo 38 Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar / Alojamento dos Estudantes da Universidade de São Paulo / 1953 / São Paulo de “gia ! Hi 111) ! ) / | Henrique Mindlin (Holabird &Root & Burgee, associate architects) / Projeto do Hotel Copan, Intercontinental Hotels Corporation / 1953 / São Paulo Oscar Niemeyer / Edifício Copan em forma de S / 1953 / São Paulo (em cons- trução) Affonso Eduardo Reydy / Escola Experimental Brasil-Paraguai / 1953 / Assunção, Paraguai (em construção) José de Souza Reis e Alcides Rocha Miranda / Universidade de São Paulo / Escola Normal / 1953 / São Paulo (em construção) Marcos Konder Neto / Posto de Observação para corridas de lanchas / 1954 / Rio de Janeiro Oscar Niemeyer / Conjunto Governador Kubitschek / 1953-54 / Belo Horizonte, Minas Gerais (em construção) 39 Flávio Marinho Rego / Projeto de conjunto habitacional para a Fundação da Casa Popular em Deodoro / 1954 / Rio de Janeiro Oscar Niemeyer / Colégio Estadual de Belo Horizonte / 1954 / Belo Horizonte, Minas Gerais (em construção) Henrique Mindlin / Primeiro lugar no concurso de projeto da sinagoga e cen- tro comunitário e cultural da Congregação Israelita Paulista / 1954 / São Paulo (em construção) Oscar Niemeyer / Clube Diamantina / 1954 / Diamantina, Minas Gerais (em construção) Oscar Niemeyer / Edifício residencial de 12 andares / 1954 / Belo Horizonte, «a Minas Gerais (em construção) 40 Oscar Niemeyer / Projeto de estação de rádio e de televisão para a TV-Rio / 1954 / Rio de Janeiro Affonso Eduardo Reidy / Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro / 1954 /Rio de Janeiro (em construção) Jorge Wilheim / Santa Casa / 1954 / Jaú, São Paulo (em construção) Abelardo de Souza / Projeto do Mercado do Brás / 1955 / São Paulo (em construção) Paulo Antunes Ribeiro / Projeto do conjunto residencial Anchieta feito para o Banco Hipotecário Lar Brasileiro / 1954 / Rio de Janeiro > Te, “6 NS David Libeskind / Projeto do Conjunto Nacional, um centro comercial com hotel e apartamentos / 1955 / São Paulo (em construção) Oscar Niemeyer / Projeto do Museu de Arte Moderna / 1955 / Caracas, Venezuela GREGORI WARCHAVCHIK Casa de praia do conde Raul Crespi/ 1943 / Guarujá, São Paulo A exigiiidade dos terrenos, anteriormente mencionada, foi também um problema nesta casa de férias e de fins de semana, construída entre a rua e a praia em Guarujá. O arquiteto, um dos pioneiros do movimento moderno no Brasil, superou o problema concentrando O jardim em um único lado da casa e estendendo-o até ao lado da sala de estar, através de um terraço coberto. Deste terraço que for- ma, junto com a sala, um espaço em pilotis que suporta o bloco dos quartos, uma escada móvel, que pode ser suspensa, conduz direta- mente aos banheiros do andar superior, sem necessidade de passar pela escada principal situada no hall. Todos os quartos são de fren- te para o mar. Os banheiros são iluminados por uma clarabóia si- tuada acima do corredor dos quartos. O tamanho e o número das áreas de serviço e dos quartos de empregados, em torno do peque- no pátio interior, mostram como é ainda relativamente fácil encon- trar empregados domésticos no Brasil. O telhado é em fibro-cimento ondulado e as persianas, em caixi- lhos que se abrem para o exterior, são em madeira pintada com li; tas coloridas, evocando barracas de praia. I living 2 sala de jantar 3 bar 4 copa-cozinha 5 lavanderia 6 pátio de serviço 7 quarto de empregados 8 depósito 9 quarto andar superior 1:400 térreo 1:400 47 RINO LEVI Casa de Rino Levi, /1946 / São Paulo Neste projeto que o arquiteto fez para a sua própria casa, a planta é o resultado não só das dificuldades decorrentes das dimensões e da forma irregular do terreno de esquina, como também de sua ori- entação desfavorável. Como em São Paulo é necessária uma inso- lação maior, a sala de estar dá para um pátio ensolarado o dia in- teiro e os quartos, tanto os dos donos da casa como os dos empre- gados, dão para pátios que recebem o sol da tarde. A área de recuo em relação às duas ruas, exigido pela legislação municipal, recebeu tratamento paisagístico que a integra à calçada, sem os muros ou cercas habituais. Os jardins internos foram projetados por Burle Marx, e a sua vista, protegida das ruas e dos vizinhos, proporciona um alívio à paisagem monótona e plana da área circundante. Todos os quartos têm ventilação cruzada controlada. Os banheiros e vestiários são iluminados por uma clarabóia situada sobre o corre- dor dos quartos. As janelas do living e da sala de jantar se abrem para jardineiras a céu aberto, protegidas do exterior e do sol por blocos de concreto pré-moldado vazados. A área social (100 m?) foi concebida como um espaço contínuo, no qual o hall de entrada é delimitado por uma estrutura de madeira de 2,10 m de altura que se estende até o outro lado, passando por cima da lareira. No lado do hall, ela é usada como um porta-casa- cos; no living, como bar, estante de livros e escrivaninha. Iiving 2 sala de jantar 3 jardineira 4 hall de entrada 5 quarto 6 suíte 7 quarto de empregada 8 copa-cozinha 9 garagem 10 depósito planta 1:400 49 PER SAP NS E SR UR RP MM. ff 222.002.02220228020202000 a Aim e ALDARY HENRIQUE TOLEDO Casa de José Pacheco de Medeiros Filho / 1946 / Cataguases, Minas Gerais Nesta casa em Cataguases, cidade onde também está o Hospital Maternidade mostrado na p.168, o arquiteto aproveitou ao máximo a inclinação do terreno para obter um arranjo espacial discreto e ordenado e, ao mesmo tempo, repleto de movimentos, oferecendo uma grande variedade de perspectivas interiores. O primeiro piso é disposto em dois níveis, unidos por uma galeria aberta, que se ae FRA e | so estende até o terraço, de onde se pode descer ao jardim por uma rampa ou por uma escada. Os detalhes da varanda, com sua ba- laustrada contínua em madeira, passando pela frente dos esbeltos suportes do telhado, contra um fundo de portas com venezianas, são um exemplo característico de uso contemporâneo de elemen- tos do passado. andar superior: 1:500 I living 2 sala de jantar 3 copa-cozinha 4 quarto de costura 5 suíte 6 garagem 7 quarto de empregada 8 quarto 9 rouparia 10 solário 11 vazio da sala de jantar 12 quarto de vestir GREGORI WARCHAVCHIK Pavilhão de praia da sra. Jorge Prado/ 1946 / Guarujá, São Paulo Em contraste com a casa de Aldary Toledo, este pequeno pavilhão, que já é parte da vida social de São Paulo, mostra uma sofisticação de outro tipo, parcialmente disfarçada pela extrema simplicidade da sua construção: tijolos comuns, teto de sapê e piso feito de fatias de toras de madeira assentadas no cimento. O teto e as venezianas planta 1:400 Niving 2 bar 3 cozinha 4 depósito das portas e das janelas foram feitos com trelhiça de palha e, para simplificar a conservação, o projeto não incorporou o uso de vidro. Atualmente ele é a sede do clube de praia Jequiti-Mar e é parte de um grande projeto imobiliário de uma área conhecida como Praia Pernambuco (ver p. 256). J. VILANOVA ARTIGAS Casa de Heitor Almeida / 1949 / Santos, São Paulo Influenciado no início por Frank Lloyd Wright, Artigas rapida- mente desenvolveu um ponto de vista muito pessoal, sem, contu- do, abandonar o sentido de continuidade espacial que assimilou de Wright. Na casa abaixo, este sentido é enfatizado não só pelo pátio integrado ao volume da construção como um todo, mas também pela rampa que une os dois blocos e que conduz ao escritório, situ- ado em um nível intermediário, um pouco acima dos quartos, e ao solário, situado entre o escritório e o quarto de empregada. A pe- quena elevação do andar térreo e do pátio, em relação ao nível da rua, abre espaço para a garagem e a lavanderia, localizados no ní- vel da calçada, na parte mais baixa do pequeno bloco. A faixa de brise-soleil, ao longo das janelas dos quartos, permite o controle da luz do sol, mesmo com as venezianas abertas. Estas funcionam através de um sistema de contrapeso, onde a metade inferior sobe quando se baixa a metade superior e vice-versa. Artigas vê o homem moderno como um dominador e organizador do seu meio ambiente, na busca de um marco adequado a uma sociedade integrada e harmônica. Daí sua preferência por uma expressão clara e honesta dos métodos e técnicas contemporâneos, em vez de submissão à paisagem e uma fusão com a natureza. Se, por um lado, esta preferência pode parecer algo seca e doutrinária, por outro, não deixa de ser uma manifestação de consistente per- cepção poética. A 7 (Si corte 1:400 térreo 1:400 —À andar superior 1:400 Iiving 2 sala de jantar 3 cozinha 4 garagem 5 depósito 6 quarto de empregada 7 escritório 8 quarto 9 rampa para o solário J. VILANOVA ARTIGAS Casa de J. Vilanova Artigas / 1949 / São Paulo Nesta residência extremamente compacta e econômica, que cons- truiu para si, Artigas mostra, ainda mais claramente que no exem- plo anterior, o seu senso de interpenetração espacial. O terraço, ao lado do living, se prolonga sob o escritório, conectan- do-os, e se abre em três lados para um jardim que ocupa a maior Ea parte do terreno. Assim, toda a parte social forma um volume único e contínuo, separado do exterior apenas por amplas paredes, total- mente envidraçadas, detalhadas no estilo simples e direto tão ca- racterístico de Artigas. 1 terraço 2 living-sala de jantar 3 cozinha 4 área de serviço 5 quarto de empregada 6 quarto 7 garagem 8 escritório planta 1:400 %; =5 Y s8 HENRIQUE E. MINDLIN Casa de campo de George Hime/ 1949 / Bom Clima, Petrópolis, Rio de Janeiro Esta casa de campo, que obteve o prêmio de melhor residência na 1 Bienal de São Paulo, em 1951, é um outro exemplo de organiza- ção espacial dinâmica tridimensional. O projeto segue a inclinação do terreno; a parte social é dividida em um grande living no nível superior, um outro no inferior e uma sala de jogos que se estende à área dos pilotis dos quartos. Esta última forma um grande terraço coberto, parcialmente protegido por um quebra-vento decorado com um mural de mosaico, em cores vivas, de Roberto Burle Marx, que também projetou o jardim. A laje do piso da sala de jan- tar, que cobre a parte mais baixa do living, está situada ao nível dos olhos de uma pessoa sentada junto à lareira encravada na parede de pedra. Um grande móbile, especialmente feito para esta casa por Alexander Calder, funciona como ponto focal da composição. Uma das maneiras pelas quais se dá a ligação entre o exterior e o interior é através da parede estrutural que avança em direção ao jardim. As diferenças de textura e de tamanho das pedras usadas nesta parede de sustentação, e das usadas na parede da lareira, enfatizam o seu emprego como material estrutural, em um caso, e como revestimento, no outro. A vista do living é a mais bonita; os quartos estão orientados para o norte, a fim de obter a maior insolação possível durante os dias frios de inverno. Do abrigo para carro, localizado debaixo da área de serviço, se tem acesso tanto ao nível superior quanto ao inferior . As janelas e as venezianas dos quartos funcionam graças ao sistema de contrapeso. Na parte inferior das venezianas, painéis basculantes para fora permitem a regulagem da entrada de luz, mesmo com as venezianas fechadas, além de dar um toque pessoal à fachada. 59 N NS am NK ANS Hiving V 2 sala de jantar / E / 4 chapelaria e lavabo 5 cozinha-copa corel 1 6 quarto de empregada 7 lavanderia 8 despensa 9 terraço coberto 10 abrigo para carro dd ES EWNWW andar superior 1:400 / ; , / , 4 o j y / y W corte 2 1:400 andar inferior 1:400 61 SERGIO W. BERNARDES Casa de Jadir de Souza / 1951 / Rio de Janeiro Ao contrário da casa dos Bardi, neste projeto não houve preoc: em minimizar a proteção, mas sim em dar uma unidade plá mais variados materiais, empregados não apenas para efeitos esté- ticos, mas também para um objetivo específico, relacionado à o- tica auto-suficiente, com grande refinamento nos detalhes, que rientação de cada parte da construção. acabou produzindo, no jardim lateral (protegido da rua) e nos jogos O trabalho de carpintaria, sutil e detalhado, acentua claramente a de volumes interiores, uma riqueza de perspectivas quase sur- função de cada elemento da casa preendente, dada a situação do lote. Um senso de composição O projeto do jardim é de Carlos Perry. abstrata, muito característico deste arquiteto, disciplina o uso dos -B é Vi | 4 E E E E | ET E | “a A | 1 escritório 8 depósito 2 living 9 quarto do motorista — — DO O 3 sala de jantar 10 área de secagem de roupa 4copa 11 lavanderia o q térreo 1:500 andar superior 1:500 5 cozinha 12 quarto gi A yu 6 quarto de empregada 18 quarto de vestir TA ajufel | 7 garagem 14 saleta corte 1:500 OSWALDO CORRÊA GONÇALV Casa de Osmar Gonçalves / 1951 / A procura da composição formal pode também ser observada nesta casa, não somente pela correlação geométrica entre o painel de brise-soleil e a elevação da fachada principal, formando retângulos similares, mas também na expressão do método construtivo e no detalhe das aberturas. A parte social, protegida pelos brise-soleil living 3 quarto 4 copa-cozinha 5 quarto de empregada 6 lavanderia 7 abrigo para carro 2 sala de jantar do terraço e localizada entre abre para um pátio interior. Este arranjo permite a movimentação dos empregados entre uma ala e outra através do pátio, quando necessário, à ala dos quartos e a ala de serviço, se tando-se assim a passagem pelo living planta 1:400 OLAVO REDIG DE CAMPOS Casa do embaixador Walther Moreira Salles / 1951 / Rio de Janeiro Esta casa, sem dúvida a mais luxuosa das mostradas neste livro, é um exemplo de um programa cada vez mais raro nos dias de hoje: o palacete, destinado só a abrigar a família, mas também a grandes e fregiientes recepções. A formação italiana do arquiteto e seu estilo deliberadamente exuberante integram elementos europeus clássicos, brasileiros tradicionais e estritamente contemporâneos, em uma composição que responde a estas exigências especiais. A plan- ta se desenvolv a partir do pátio, abrindo-se, através de uma gola, para a piscina situada no jardim envolvido por uma paisagem dominada por uma montanha rochosa 69 A área social (salões de recepção, biblioteca, sala de jantar, gale- rias e terraço) ocupa três lados do pátio e inclui uma sala de jogos, situada em um nível inferior, sob a ala dos quartos, que forma o quarto lado. Os cômodos de serviço estão à esquerda, com os quar- tos de empregados no segundo andar. Os trabalhos de acabamento das fachadas e das aberturas, os pisos em mármore e as balaustra- das, enfim, cada detalhe é tratado com um grau de refinamento ina- cessível, por razões econômicas, à maioria das casas. Os jardins foram projetados por Roberto Burle Marx. Neles, há um mural em azulejo, também de Burle Marx, e uma escultura em bronze de Maria Martins, representando uma jovem tocando uma harpa cujas cordas são os seus próprios cabelos; a estátua gira len- tamente, completando um ciclo a cada vinte e quatro horas. andar principal 1:1000 1 chapelaria 9 rouparia 2 hall 10 copa 3 cofre-forte 1 copa-cozinha 4 biblioteca 12 garagem 5 sala íntima 13 lavanderia 6 salão 14 depósito 7 quarto 15 quarto de empregada 8 sala de jantar 16 sala de jogos 7 planta de situação 1:1000 erre andar inferior 1:1000 andar superior 1:1000 mn AFFONSO EDUARDO REIDY Casa de Carmen Portinho / 1952 / Rio de Janeiro Esta casa foi concebida para ser, ao mesmo tempo, residência per- manente e refúgio contra as crescentes dificuldades da vida urbana de uma jovem engenheira, ativamente interessada em arte moder- na, que dirige atualmente a construção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (p. 41) e que, como chefe do Departamento de Habitação Popular da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, foi a principal responsável pela construção do projeto de Pedregulho (pp.142 a 151). A garagem e o apartamento dos empregados foram construídos diretamente sobre o solo e estão ligados pelos dois lados do pátio planta 1:400 1 living-sala de jantar 2 quarto 3 escritório 4 cozinha 5 pátio rebaixado 6 quarto de empregada 7 garagem rebaixado (que acompanha a inclinação do terreno) ao bloco prin- cipal da casa em pilotis. A planta deste bloco, extremamente com- pacto, compreende um escritório (que pode servir como quarto de hóspedes). O living se estende ao terraço, o que propícia ventilação cruzada no quarto. Neste terraço há uma rede (de uso muito comum ainda hoje no Brasil). A estrutura em pilotis evitou movi- mentos inúteis de terra. A grande parede de vidro do living oferece uma vista da vegetação opulenta da floresta que o envolve, bem como do vasto panorama à distância. elevação do lado de entrada 1:400 corte 1:400 SERGIO W. BERNARDES Casa de campo de Lota de Macedo Soares / 1953 / Fazenda Samambaia, Petrópolis, Rio de Janeiro Esta casa recebeu o primeiro prêmio do concurso para arquitetos com menos de quarenta anos da II Bienal de São Paulo. Similarmente à casa de Reidy (p.76), ela foi projetada para uma jovem com interesses culturais e artísticos e com gosto pela vida no campo. Construída na parte montanhosa da serra dos Órgãos, em Petrópolis, é usada tanto como residência permanente como para acolher convidados fregientes, geralmente do mundo das artes, tanto brasileiros quanto estrangeiros. O teto, em alumínio ondulado, se apóia em longarinas de verga- lhões de aço, expostas, em treliça. Elas são feitas soldando o ver- galhão em zig-zag a dois outros laterais, pintados em branco e preto, o que lhes dá um toque alegre e leve. Aqui, este uso do aço funciona como um prenúncio de uma época que se aproxima, na qual sua utilização se tornará mais e mais comum no país. Os quartos dos hóspedes e os da dona da casa estão, respectiva- mente, nas extremidades opostas de uma longa galeria que dá aces- so, através de uma rampa, à entrada, ao living e ao escritório, todos situados em um nível um pouco mais baixo, distantes da cozinha e da área de serviço. Assim os ocupantes têm a máxima privacidade e trangiilidade, ao mesmo tempo que desfrutam do imponente panorama, que muda de um cômodo para outro. Há uma cascata que cai justo abaixo do quarto da proprietária. Na construção, ainda em andamento, os diferentes materiais são unificados pela disciplina da organização plástica, que acentua o jogo de texturas e o dos volumes e planos que definem cada parte do projeto. 1 acesso para carro 2 ponte 3 living 4 galeria 5 quarto 6 sala de jantar 7 copa-cozinha 8 despensa planta 1:400 9 quarto de hóspedes 10 quarto de empregada 78 corte 1:400 79 OSWALDO ARTUR BRATKE Casa de Oswaldo Artur Bratke / 1953 / São Paulo Nesta casa que fez para si, situada no mesmo bairro da casa dos Bardi, o arquiteto conseguiu equacionar os problemas susc por um telhado plano no clima paulistano variações bruscas de temperatura e de umidade. Um arranjo regular das colunas de concreto sustenta uma laje de con- creto armado, com revestimento asfáltico e de folhas de alumínio, coberta por telhas onduladas de cimento-amianto, entremeada por uma câmara de ar isolante. Este telhado cobre todo o retângulo sim- ples do plano, com exceção da parte correspondente ao pátio. A estrutura independente dá a maior liberdade possível na colo- cação das paredes, tanto interiores como exteriores. Cada uma das paredes externas tem um recuo diferente em relação ao limite andar principal 1: 400 frontal da laje de cobertura. Este recuo é imposto pelas diferentes necessidades de proteção determinadas pela orientação de cada lado do plano. As divisões interiores são em tijolo aparente ou fei- tas com armários em madeira. Os painéis exteriores de cobogós de concreto pré-moldado corrigem o excesso de insolação e protegem a privacidade da casa. A grande parede de vidro do living-sala de jantar também é protegida por uma grade de correr, que desliza ao longo da parede exterior do banheiro. Aproveitando a inclinação natural do terreno, a entrada foi coloca- da em um nível inferior e tem ligação com o abrigo para carro atra- vés de uma passagem coberta. andar inferior 1:400 Iiving 2 quarto 3 biblioteca 4 copa-cozinha 5 quarto de empregada 6 sala de jogos 7 depósito ——— > —— RINO LEVI E ROBERTO CERQUEIRA CESAR Casa de Milton Guper / 1953 / São Paulo O método de proteção de paredes de vidro através de jardineiras resguardadas por brise-soleil em concreto pré-moldado, usado anteriormente pelo arquiteto na sua própria casa (p. 48) teve aqui um importante desenvolvimento nas suas possibilidades plásticas e funcionais, obtendo um resultado muito feliz. Os pátios correspon- dentes às portas envidraçadas são inteiramente cobertos de treliças em concreto armado, formando espécies de gaiolas de luz, sob as quais os jardins se acham protegidos contra todo excesso de inso- lação e de vento. A fusão do espaço interior e exterior assim obtida, tanto no living e na sala de jantar quanto na galeria dos quartos, é acentuada pelas sombras das treliças e nos jogos de luz e sombra no chão. Os quartos têm seus próprios pátios, usados como play- ground, e são separados por armários embutidos de madeira, isola- dos acusticamente com lã de vidro. A área de serviço (cozinha, copa, e quarto de empregada) tem também o seu pátio independen- te, parcialmente coberto para servir de abrigo de carro. Assim, as provisões para a casa entram diretamente pela janela da cozinha. Todos os quartos têm ventilação cruzada regulável. A área construída é de apenas 300 mº, ou seja, 25% da área do terreno. Hiving 2 sala de jantar 3 cozinha 4 quarto de empregada 5 abrigo para carro 6 quarto planta 1:400 7 quarto de costura E 87 OSCAR NIEMEYER Casa de Oscar Niemeyer / 1953 / Rio de Janeiro A maneira pessoal com que Niemeyer explora as possibilidades de novas formas e cria um vocabulário plástico original se revela na exuberância gráfica do traçado da planta, no contorno caprichoso da laje de cobertura, no contraste entre a parede curva do living (inteiramente em lambris de madeira) e as grandes superfícies envidraçadas A inclinação do terreno foi aproveitada para localizar os quartos e uma saleta no nível inferior, com vista para o mar. O living e as áreas de serviço estão no nível acima e se abrem diretamente para o jardim, andar principal 1:400 integrando a piscina e o enorme rochedo de granito, encontrado no local, em um todo unificado. A laje de cobertura, supo: ada por esbeltas colunas de aço e pro- longada para criar uma área de proteção junto à piscina, torn: um elemento quase natural da paisagem subtropical. Esta casa re- presenta um aspecto da personalidade do arquiteto já bem desen- volvido na Casa do Baile da Pampulha (p.188) que culminou na grande marquise do conjunto do Ibirapuera (p. 214). A escultura próxima à piscina é de Alfredo Ceschiatti. andar inferior 1:400 1 living-sala de jantar 2 copa-cozinha 3 piscina 4 quarto 5 saleta RR Re JOSÉ BINA FONYAT FILHO E TERCIO FONTANA PACHECO Casa de campo de João Antero de Carvalho / 1954 / Parque da Cidade, Petrópolis, Rio de Janeiro Um movimento periférico, oriundo de uma tendência à descentra- lização já bastante perceptível no Rio de Janeiro e em São Paulo, acabou resultando no fato de grande parte das casas mais interes- santes se situar fora da cidade, justamente onde os terrenos maiores e menos caros dão as melhores oportunidades aos arquitetos. É por esta razão que tantas casas mostradas neste livro são casas de campo e de férias, ou então localizadas em áreas suburbanas (como as de Bardi, Portinho, Bratke, Niemeyer, Antunes Ribeiro, Waller e Holzmeister). Na realidade, para conhecer o trabalho dos arquite- tos mais jovens, mais vale hoje visitar os arredores de Petrópolis e Teresópolis do que percorrer as ruas do Rio de Janeiro. Na sua planta do piso e no tratamento das elevações, esta casa é re- presentativa do vocabulário e gramática arquitetônicos incorporados andar principal 1:500 à arquitetura brasileira, como resultado de pesquisas anteriores e de seu contínuo desenvolvimento. A composição formal das fachadas, nas quais os diversos elementos têm, ao mesmo tempo, um papel co e funcional, estabelece nitidamente sua relação com a pin- tura abstrata contemporânea, uma tendência que pode ser vista também em outros casos. A planta consiste em duas unidades ligadas por uma galeria. Na primeira, de frente para a paisagem, estão o living, a sala de jantar e os quartos. Na segunda, estão a área de serviço e os quartos dos empregados e, também, a sala de jogos, bem distante dos quartos Graças à topografia do terreno, foi possível localizar a garagem abaixo do living, na área dos pilotis. 1 iving-sala de jantar 2 quarto 3 sala de jogos 4 copa-cozinha 5 despensa 6 quarto de empregada 7 lavanderia 8 piscina THOMAZ ESTRELLA, JORGE FERREIRA, RENATO MESQUITA DOS SANTOS e RENATO SOEIRO Casa de Stanislay Koslowski / 1954 / Rio de Janeiro Esta casa foi projetada pelos arquitetos que colaboraram com Atílio Corrêa Lima na Estação de Hidros (p. 246), com o mesmo espírito de disc; e disciplina, e é uma boa ilustração das difi- culdades que precisam ser superadas no projeto de casas particu- lares no Rio de Janeiro. O terreno, cada dia mais valorizado por estar próximo à praia do Leblon e por sua esplêndida vista para o mar e a cidade, é de dimensões relativamente exíguas, e sua incli- nação é tão acentuada que exigiu meios mecânicos para providen- ciar o acesso à casa. E andar principal 1: 500 andar superior 1:500 1 escritório 2 plano inclinado 3 depósito 4living 5 sala de jantar 6 copa-cozinha 7 lavanderia 8 quarto de empregada 9 quarto 10 armário Um plano inclinado conduz ao andar principal, onde está localiza- da a área social. Os detalhes das portas de vidro que ligam o living à espaçosa varanda foram cuidadosamente estudados, de modo a eliminar as habituais colunas nos cantos. Assim, o interior e o exte- rior se fundem inteiramente quando as portas estão abertas. Um escritório no andar inferior, envidraçado na frente, e três quar- tos no andar superior também desfrutam da magnífica vista que, por si só, compensa amplamente as dificuldades encontradas na construção. 9 — PAULO ANTUNES RIBEIRO Casa de Paulo Antunes Ribeiro / 1955 / Rio de Janeiro A discreta composição e a simplicidade aparente do acabamento desta casa, que o arquiteto projetou para si, esconde o extremo cuidado tomado com as proporções do andar principal (pé-direito de m) e o tratamento refinado de todas as superfícies: as pare- des lisas e brancas, as grandes superfícies de vidro em esquadrias de alumínio, os diferentes pisos e o teto trabalhado no living. Este último, formado por uma engenhosa montagem de caixas alter- nadas, como um tabuleiro de xadrez, sobre sarrafos de seção trian- gular (escondidos), produz uma acústica ideal e confere ao cômodo um toque decorativo muito pessoal. O terreno particularmente aci dentado fica em um novo bairro residencial localizado em áres densamente arborizada e montanhosa do Rio de Janeiro. Para evi p do terreno, a casa foi totalmente construíds tar a descaracterizaç: em pilotis. O andar principal, bem maior que o piso superior, é par- cialmente tomado por um grande terraço junto aos quartos e ac escritório do arquiteto. Uma composição de Mario Cravo, pairando sobre a escada, é uma reminiscência da visita de Alexander Calder ao Brasil, em 1948. andar principal 1:500 ERR andar superior 1:500 1 pilotis 2 maquinaria 3 incinerador 4 living 5 sala de jantar 6 copa-cozinha 7 lavanderia 8 ar condicionado 9 depósito 10 quarto de empregada 11 quarto 12 escritório PAULO ANTUNES RIBEIRO Casa de Ernesto Waller / 1955 / Rio de Janeiro Aqui se apresentou um problema semelhante ao da residência de Moreira Salles (p. 69). No entanto, a topografia do terreno e a vista sugeriram uma solução completamente diferente. A despeito da grande complexidade do programa, a composição é extremamente simples, estendendo-se apenas discretamente na linha ligeiramente côncava do telhado do andar superior. O acesso ao hall de entrada do bloco intermediário de dois andares se dá por uma garagem aberta situada sob os quartos principa Uma escada em caracol leva à galeria dos quartos, que também pode ser alcançada pela escada de serviço. A área social (200 m?) forma um espaço contínuo, no qual estantes delimitam o espaço da térreo 1:500 biblioteca, assim como uma parede curva delimita o bar. O pé-d reito do living e do bar tem 5 m. Toda a área social é intimamen ligada ao jardim, através de paredes de vidro e portas de correr, to: nando desnecessária a construção de terraços exteriores. No andar superior, um grande escritório e um laboratório fotográ fico, com ara escura, se comunicam diretamente com o quart principal. Os quartos dos empregados e os cômodos de serviço estão de acor do com o padrão de vida para o qual a casa foi projetada, acom panhando também as linhas imponentes da fachada principal, com seus quase 59 m de comprimento. 1 hall de entrada 2 chapelaria 3 biblioteca 4living 5 sala de jantar Gestufa 7 despensa 8copa 9 cozinha 10 sala de refeições dos empregados 11 lavanderia 12 garagem 13 depósito 14 ar condicionado 15 escritório 16 laboratório fotográfico 17 quarto 18 rouparia 19 quarto de empregada planta de situação 1:2000 PIRES E SANTOS (Paulo Everard Nunes Pires, Paulo Ferreira dos Santos e Paulo de Tarso Ferreira dos Santos) Casa de Martin Holzmeister / 1955 / Rio de Janeiro Esta casa foi construída para o sobrinho do famoso arquiteto vienense Clemens Holzmeister (nascido no Brasil e de mãe bra- sileira). Os arquitetos (dois deles também professores, um de com- posição arquitetônica e outro de arquitetura no Brasil) tentaram alcançar a mesma fusão de elementos tradicionais e modernos já mostrada na casa de Lúcio Costa (p. 44). Ela reflete o tipo de regionalismo que merece ser estudado mas ainda é negligenciado pela maioria dos arquitetos, embora deliberadamente cultivado por uns poucos, como por exemplo, Edgar Graef, no Rio Grande do Sul. Uma estrutura cuidadosamente modulada em vigas e colunas de aço (10 por 10 cm) permite a abertura total da fachada, tanto para o térreo, totalmente envidraçado na frente, quanto para o piso supe- rior, que se projeta sobre a grande varanda frontal. Aqui, tudo evoca o passado: o formalismo e as generosas pro- porções da planta, a cobertura em telhas coloniais, o desenho tradi- cional das treliças das janelas dos quartos, as grandes placas de granito no piso do hall de entrada. Por outro lado, o emprego de elementos modernos é feito abertamente e não está restrito às téc- nicas de construção: na leveza das colunas de ferro que enfatizam o balanço do piso superior e definem o espaço do terraço, na transparência e na abertura do térreo, no detalhe da escada princi- pal, assim como nas placas de vidro utilizadas no parapeito superi- or do hall de entrada. A casa foi construída em um lado do terreno, de modo a reservar a maior parte do terreno para o jardim, projetado por Burle Marx e ainda em fase de execução. planta de situação 1:1000 1 hall de entrada 2 living 3 escritório 4 chapelaria 5 sala de jantar 6 copa 7 copa-cozinha 8 material de limpeza 9 despensa 10 adega 11 depósito 12 lavanderia 13 quarto de empregada 14 sala de jogos 15 quarto 16 quarto de vestir 17 saleta 18 varanda 19 quarto de hóspedes 20 armário 21 quarto da governanta 22 rouparia térreo 1:400 andar superior 1:400 101 O MR CE ooo ALVARO VITAL BRAZIL E ADHEMAR MARINHO Edifício Esther / 1938 / São Paulo io com estrutura independente no Brasil, causou uma enorme sensação devido às novidades que introduziu, entre as quais se incluíam as colunas isoladas no meio das peça Este prédio residencial e comercial, o primeiro grande edif s. Muitos locatários pediram per- missão para removê-las de seus apartamentos, prometendo repô- las nos respectivos lugares após o término do contrato de aluguel. O prédio, em vez de se espalhar sobre todo o terreno, como era habitual, foi construído de modo a permitir que uma nova rua pu- desse passar paralelamente à fachada do edifício, além de ter es- paço livre em torno dos seus quatro lados. O fundo do lote pôde ainda ser aproveitado para uma construção menor, atrás da cons- trução principal. A estrutura independente, com suas colunas dis- postas regularmente (embora o espaçamento seja menor do que seria hoje), permitiu projetar plantas diferentes para cada andar. Assim o térreo, além de suas arcadas de circulação, inclui também 106 uma grande área para lojas; o primeiro, segundo e terceiro andares, destinados a escritórios, tiveram seus espaços divididos como desejado; o quarto tem apartamentos de um ou dois quartos; os apartamentos do quinto, sexto, sétimo e oitavo têm dois ou três quartos, com cozinha e quarto de empregada; o nono e o décimo incluíram quatro apartamentos duplex; e, finalmente, o último andar foi ocupado por duas coberturas rodeadas por terraços. A garagem subterrânea do prédio se estende sob a nova rua ante- riormente mencionada. As áreas de serviço dos apartamentos fo- ram colocadas em volta de poços de iluminação interiores que co- meçam no quarto andar. Neste trabalho pioneiro, que tem o mérito da introdução de uma organização funcional, deve-se destacar o tratamento arquitetônico das fachadas, acentuado por faixas de vitrolite negro, que expres- sam claramente a estrutura e a variedade dos planos. nono andar 1:400 décimo andar 1:400 1 lojas 2 entrada de serviço e garagem 3 medidores de gás e de energia elétrica 4 porteiro 5 zelador 6 área de escritórios (dividida segundo as conveniências) 7 living-sala de jantar ” 8 quarto 9 cozinha 10 despensa 11 tanque e banheiro de empregada 12 depósito 13 vazio do living 107 GREGORI WARCHAVCHICK Edifício residencial / 1939 / São Paulo Este prédio, no qual a planta bem concebida, aberta e imaginativa procurou diminuir a sensação de confinamento dos pequenos apartamentos, é um exemplo dos problemas colocados pelos ter- renos pequenos e estreitos, pesadelo dos arquitetos brasileiros. O alto preço dos terrenos exige uma grande eficácia no seu uso. O ar- quiteto, impossibilitado de influenciar um projeto já pobre de ori- gem, tanto no aspecto humano quanto urbanístico, pode apenas restringir a ambição dos especuladores e tentar impor o seu senso de ordem e clareza. A facilidade de encontrar empregadas domésticas no Brasil, já mencionada anteriormente, introduziu elementos menos comuns em outros países: o quarto de empregada e a entrada de serviço. Neste prédio, no entanto, Warchavchik suprimiu estes elementos para oferecer aos moradores, pessoas de rendas modestas, o máxi- mo de espaço. Os apartamentos são de dois tipos: sala e dois quar- tos, na frente, e conjugado atrás, com uma alcova para a cama. 1 living-sala de jantar 2 quarto 3 cozinha 4 alcova HELIO UCHÔA Edifício residencial Luiz Felipe / 1945 / Rio de Janeiro O arquiteto teve que usar, aqui também, todos os recursos e imagi- nação para obter, a despeito das dificuldades impostas pela excessiva subdivisão dos terrenos, apartamentos tão iluminados e organiza- dos quanto possível. térreo 1:400 andar-tipo 1:400 O térreo é ocupado apenas pela entrada e o apartamento do por- teiro, o que lhe dá um aspecto mais leve. A fachada, enquadrada em uma moldura branca, é revestida de pastilhas cerâmicas azuis. Os balcões têm acabamento em massa branca. 1 porteiro 2 garagem 3 living-sala de jantar 4 copa-cozinha 5 quarto de empregada 6 quarto 7 rouparia 109 M. M. M. ROBERTO Edifício residencial em Botafogo / 1947 / Rio de Janeiro Nesse prédio (construído para funcionários de um fundo de pensão do sistema de previdência social) foi feito um esforço todo especial para combinar a ventilação cruzada e a dupla exposição de cada apartamento com uma exigência já mencionada: manter a circu- lação de serviço separada da circulação social. Para resolver este problema, os dois andares comuns aos apartamentos tipo duplex (hall de entrada, living, cozinha, quarto de empregada e banheiro social no piso inferior e três quartos e banheiro no piso superior) foram engenhosamente alternados com os níveis dos corredores de circulação sociais e de serviço, eles mesmos se alternando mutua- mente. O corredor social situa-se quatro degraus abaixo do piso inferior do duplex e dá acesso a apenas este andar. Já o corredor de serviç s degraus abaixo do piso dos quartos e 11 acima do piso do living, possibilita o acesso a ambos os andares. Esta diferença de níveis faz com que o pé-direito do corredor de serviço seja maior do que o do corredor social, permitindo que as janelas de trás, nos dois pisos, se abram para ele. Estas janelas correspondem aos seguintes cômodos: quarto de trás e banheiro, no piso superior, e cozinha, quarto de empregada e banheiro social, no inferior). A comunicação interna entre estes dois pisos é feita por uma escad: de dois lances, um maior que o outro, com o patamar no nível dc corredor de serviço, cujo acesso se dá por uma pequena passagem onde há um tanque de lavar roupa. Assim, do corredor de serviçc se pode passar ao piso dos quartos subindo apenas seis degraus, e ao piso inferior, descendo onze degraus, sem necessidade de pas sar pelo living. As unidades do segundo bloco, um pouco diferentes, têm escadas de serviço independentes, que dão acesso à cozinha e ao piso supe- rior do duplex. As varandas, com pé-direito equivalente a dois andares, dão vista para a baía de Guanabara, caracterizando plasticamente a opção duplex adotada no projeto. A irregularidade do terreno obrigou a divisão do imóvel em dois blocos independentes, ligados por uma galeria de circulação à torre dos elevadores, situada na parte mais baixa do terreno. no planta de situação 1:2000 corte 1:1000 | BIS u3aaaasa quad Sacdagaaci=aiaa | living-sala de jantar 2 cozinha 3 quarto de empregada 4 quarto 5 rouparia 6 serviço duplex-tipo, nível inferior 1:400 unidade do segundo bloco, nível inferior 1:400 duplex-tipo, nível superior1:400 unidade do segundo bloco, nível superior 1:400 e, detalhe do corte: unidade do segundo bloco 1:400 + J. VILANOVA ARTIGAS Edifício residencial Louveira / 1950 / São Paulo Os dois blocos foram dispostos no lote de modo a as: lhor insolação possível ao living e aos quartos. A distância entre eles foi determinada em função das exigências do código de cons- trução municipal, segundo as quais os raios solares devem tocar o pátio durante um certo período de tempo no dia mais curto do ano (ver p. 32). Ao evitar a disposição convencional, com as fachadas para as duas ruas, a planta deixou as duas unidades completamente com um grande jardim e um pátio de es entre elas, em vez de um pátio interior fechado. A rampa de entra- da alegre e leve que as une estabelece uma separação entre o andar-tipo 1:500 Iliving 2 sala de jantar 3 terraço 4 quarto 5 cozinha 6 quarto de empregada 7 hall de entrada 8 entrada de serviço 9 entrada de automóveis e de serviço 10 pátio de manobras jardim e o pátio, e contrasta agradavelmente com a simplicidade do prédio. As entradas de serviço estão cinco degraus abaixo do nível de cada andar, economizando, assim, um espaço para a comuni- cação entre o elevador social e o de serviço. Esta comunica compulsória, por razões de segurança, em todas as construções deste tipo, reduziria a largura da sala de jantar, se não tivesse sido tratada desta maneira. Para evitar que dos fundos do edifício se pudessem ver os cômodos de serviço, os corredores foram cober- tos com telas de arame. As janelas dos quartos são parecidas com as da casa de Artigas em Santos. corte esquemático 1:1000 corte 1:500 RINO LEVI E ROBERTO CERQUEIRA CESAR Edifício residencial Prudência / 1950 / São Paulo Este prédio de luxo, em um bairro residencial perto do centro da cidade, construído para ser vendido no sistema de condomínio fe- chado, atualmente muito comum no Brasil, incorpora vários itens e aperfeiçoamentos desejáveis, externa e internamente, nos detalhes e no equipamento. Isto inclui: ar condicionado central e tratamento acústico completo, assim como elevador privativo para cada aparta mento, além de um elevador de serviço para cada dois apartamentos. O terreno, com cerca de 80 por 50 m, está a aproximadamente três metros acima do nível da rua e tem uma excelente vista sobre a cidade. O térreo, em pilotis, inclui as entradas e um playground, ns cobrindo parcialmente uma garagem subterrânea, dotada de ram- pas separadas para carro e pedestres. O prédio tem nove andares, cada um com quatro apartamentos de 400 m” e duas coberturas no último andar. As fachadas são revestidas com pastilhas cerâmicas, de 2 por 2 cm, em azul, marrom e amarelo. A total flexibilidade da dis) dos cômodos da parte social e dos quartos, resultado do tipo de estrutura adotado, é demonstrada pelos diferentes esquemas de plantas A, B, C e D, que revelam algumas variações poss 1 living-sala de jantar 2 quarto 3 escritório 4 copa-cozinha 5 quarto de empregada 6 banheiro 7 elevador social 8 elevador de serviço 9 hall 10 porteiro 11 rampas de acesso ao subsolo 12 rampa de pedestres 13 playground térreo 1:1000 esquema de distribuição espacial D 1:40 metade de um andar-tipo 1:400 no HENRIQUE E. MINDLIN Edifício residencial Três Leões / 1951 / São Paulo Este projeto conseguiu uma solução original para o problema de prover acessos separados às entradas social e de serviço dos aparta- mentos, sem aumentar inutilmente o número de elevadores e restringir o valioso espaço disponível nos andares inferiores, desti- nado a lojas e ao escritório da empresa proprietária do prédio. Esta solução consistiu em alternar os corredores sociais e de serviços e colocá-los a meia altura entre os andares, onde são servidos, respectivamente, por dois elevadores, que partem do hall da entra- da principal, e dois outros, do subsolo, acessíveis pela entrada de serviço, ao lado do imóvel. Uns poucos degraus, para baixo ou para cima, levam ao nível dos apartamentos. Os corredores sociais, de 2,5 m de pé-direito, são fechados enquanto os de serviço, com 3,5 m Icirculação social H circulação de serviço corte geral 1:1000 detalhe do corte! 1:500 detalhe do corte? 1:500 120 de pé-direito, se abrem para um grande pátio interior, propiciando iluminação às cozinhas e aos banheiros. Os nove andares inferi- ores, cada um com 11 apartamentos, têm seis escadas indepen dentes. Na torre de oito andares, com quatro apartamentos por andar, as duas escadas foram deslocadas para um lado para econo- mizar espaço. As varandas e as sacadas, alternadas de um andar para outro de modo a receber o máximo de insolação no inverno, estão diante do living ou diante do quarto. Este arranjo permite aos proprietários escolher os apartamentos segundo suas preferências: os que não têm crianças geralmente escolhem o quarto com varan- da, obtendo assim um living mais espaçoso. Hliving 2 quarto 3 apartamento conjugado térreo 1:500 do décimo-primeiro ao décimo- oitavo andar 1:500 121 OSCAR NIEMEYER Grande Hotel / 1940 / Ouro Preto, Minas Gerais A pequena cidade de Ouro Preto, antiga capital de Minas Gerais e verdadeiro museu de arquitetura do século XVIII, é monumento nacional, tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artís- tico Nacional. Suas ruas tortuosas evocam a lembrança de Tira- dentes, o primeiro mártir da história da independência. Suas igre- jas abrigam grande número de esculturas de Aleijadinho, o mais importante artista do período colonial. Este hotel ultramoderno, com seus 20 quartos de solteiro, sete de casal e 17 suítes duplex, se encaixou de modo surpreendente à paisagem de tempos passados, sem que para isso precisasse depen- der de cópias de estilos obsoletos. O corpo do edifício, de apenas quatro pavimentos, se estende planta de situação 1:1000 horizontalmente. A cobertura em telhas coloniais, as treliças em madeira nos terraços, o revestimento de pedra e azulejos e o co- lorido característico contribuem para a integração do edifício à paisagem. Os pilotis vão até o piso do terceiro pavimento, dando leveza à construção. O térreo abriga a cozinha e a administração, além de uma sala de jogos e um grande terraço coberto. Uma rampa conduz ao primeiro andar, onde estão o restaurante e os salões. O segundo andar é divi- dido por um corredor central, com os quartos de solteiro e de I na parte de trás do edifício e o living dos apartamentos duplex na parte da frente. Cada duplex tem um pequeno solário e uma esca- da em caracol que dá acesso ao quarto. 1 sala de jogos 2 cozinha 3 lavanderia 4 quarto de empregados 5 recepção 6 salão 7 sala de correpondência 8 sala de leitura 9 sala de exposições 10 restaurante 1 copa 12 serviço 13 quarto 14 living 15 vazio do living 16 solário térreo 1:500 id E a primeiro andar 1:500 CEEE EA EEECEAEELEL segundo andar 1:500 (Ea terceiro andar 1:500 127 LÚCIO COSTA Park Hotel / 1944 / Parque São Clemente, Friburgo, Rio de Janeiro Este é um exemplo, ainda mais claro, de integração ao meio ambi- ente, ditada por um espírito de relação afetiva com o passado, livre de qualquer imitação ou cópia, abrindo caminho para a adoção de soluções tipicamente contemporâneas. Situado na encosta de uma montanha na serra dos Órg , dentro de um esplêndido parque, a 850 m acima do nível do mar, este ho- tel com apenas dez quartos é uma iniciativa do mesmo grupo que empreendeu o Parque Guinle (p.112). A construção, extremamente rústica, na qual foram empregados materiais locais, é destacad: pelas grandes janelas do piso inferior, pelo brise-soleil móvel en madeira da sala de jogos para crianças, pelas portas de correr envidraçadas e venezianas na parte superior dos quartos, que pos suem uma pequena varanda. A cozinha e a administração estão na ala inferior e a adega fica abaixo do restaurante. Os banheiros são iluminados através de janelas altas sobre o corredor. 1 varanda 2 salão 3 sala de jantar 4 cozinha 5 rouparia 6 quarto dos empregados 7 sala de estar dos empregados 8 boiler 9 sala de refeições dos empregados 10 gerência 11 sala de jogos 12 quarto 13 depósito térreo 1:500 Edo) ste | Eres andar superior 1:500 129 M. M. ROBERTO Colônia de férias do Instituto de Resseguros do Brasil/ 1944 / Rio de Janeiro Embora a influência do passado não seja tão forte quanto no caso anterior, trata-se de uma tentativa deliberada de reconciliar ele- mentos tradicionais com um desenho moderno de uma estrutura de concreto armado. Esta colônia foi feita para fins de semana e férias dos empregados do IRB (ver p. 224). Sua localização em uma flo- resta nos arredores do Rio de Janeiro permitiu reservar uma área considerável para a prática de esportes e recreação. As instalações podem acolher 31 hóspedes em férias e 52 visitantes de fins de semana em seus dormitórios coletivos e alguns quartos particulares. A inclinação do terreno permitiu que o térreo e o pri- meiro andar se apoiassem no chão em lados opostos. O acesso ao U corte 1:1000 piso inferior, onde estão todas as peças de serviço e a sala de jogc das crianças, é feito pelo norte. O piso seguinte, o principal, cor acesso pelo sul, compreende uma sala de estar, salas de jogos, sal de jantar, bar e cozinha, sendo ligado ao parque, pelo lado norte por um grande terraço saliente e por duas amplas aberturas na áre: da sala de estar. Os dormitórios e quartos estão no andar superior os banheiros e vestiários são iluminados por clarabóias situada acima do corredor externo. A natureza do projeto exigiu economias na construção e no acaba mento dos detalhes como, por exemplo, no uso de vigas e pilare: com estrutura aparente. andar principal 1:1000 andar inferior 1:1000 andar superior 1:1000 1 garagem 2 hall de entrada 3 gerência 4 cabeleireiro 5 sala de recreação 6 banheiro C. 7 vestiário masculino 8 vestiário feminino 9 hall de serviço 10 lavanderia 11 quarto de empregados 12 terraço 13 sala de jogos (bilhar, tênis de mesa) 14 sala de estar 15 sala de leitura 16 administrador 17 varanda 18 bar 19 cozinha 20 sala de jantar 21 dormitório de moças 22 dormitório de rapazes 23 quartos planta de situação 1:2000 131 OSCAR NIEMEYER Unidade habitacional tipo B do Centro Tecnológico da Aeronáutica / 1947 / São José dos Campos, São Paulo Os blocos tipo B, de dois andares, abrigam 18 habitações; o living, última, que pode ser usada como garagem e como terraço cobertc com teto mais alto, é ligado à galeria dos quartos por uma escada de também serve para proteger o living contra excesso de insolação. desenho extremamente leve comunicando-se diretamente com um Cada habitação tem três quartos na parte superior e quarto d pequeno jardim lateral e a área dos pilotis, abaixo dos quartos. Esta empregada no térreo, próximo ao pátio de serviço. FL planta do bloco 1:1000 orando asp SS corte 1:400 térreo 1:400 136 6 ad 5 5 andar superior 1:400 | living-sala de jantar 2 cozinha 3 quarto de empregada 4 pátio de serviço 5 quarto 6 parte superior do living OSCAR NIEMEYER Unidade habitacional tipo C-1 do Centro Tecnológico da Aeronáutica / 1947 / São José dos Campos, São Paulo Nos blocos tipo C-1, cada um com 12 ou 14 habitações, a dispo- projeção da cobertura e os brise-soleil, que fecham parcialmente o sição é similar à do tipo B. O living, no entanto, dá diretamente terraço frontal, protegem contra o excesso de insolação. A garagem, para a frente do bloco, bem como para o pequeno pátio lateral. A ao lado do quarto de empregada, comunica-se com o pátio lateral. 1 living-sala de jantar corte 1:400 2 cozinha 3 quarto de empregada 4 garagem 5 quarto térreo 1:400 andar superior 1:400 (8) 138 OSCAR NIEMEYER Unidade habitacional tipo C-2 do Centro Tecnológico da Aeronáutica / 1947 / São José dos Campos, São Paulo O tipo C-2 é uma variante do tipo C-1, para famílias menores, que habitações (A, B, C-1 e C-2) pode-se observar a riqueza de efeitos necessitam de apenas dois quartos. Cada bloco tem 20 habitações, obtida pela diversificação dos trabalhos de carpintaria e dos brise- sem garagem, mas contando com um abrigo no jardim, em frente soleil, bem como pelo emprego ocasional de paredes de tijolo ao living, onde se pode guardar o carro. Em todos esses tipos de aparente e diferentes tipos de paredes vazadas. | living-sala de jantar 2 cozinha 3 quarto de empregada 4 abrigo para carro 5 quarto 6 parte superior do living térreo 1:400 andar superior 1:400 planta do bloco 1:1000 139 CARLOS FREDERICO FERREIRA Conjunto habitacional para operários / 1949 / Santo André, São Paulo Este é um conjunto habitacional para operários, extremamente para cada duas unidades. A área do térreo funciona como um play econômico, com 594 apartamentos. Faz parte de uma grande ground, com uma caixa de areia no meio. Os tanques de lavar rou- cidade operária, na qual está também a escola primária projetada pa ali colocados só devem ser usados em caso de emergência. pelo mesmo arquiteto, mostrada na p. 156. Os apartamentos estão Este projeto é um exemplo típico da prevalência do uso da boa téc- agrupados em prédios de três andares, com pilotis, e uma escada nica nas construções dos institutos de previdência social. 1 caixa de areia 2 tanques de lavar roupa 3 living-sala de jantar 4 quarto —J H HEHE térreo 1:400 andar-tipo 1:400 planta de situação 1:4000 141 AFFONSO EDUARDO REIDY Conjunto residencial de Pedregulho. Bloco de apartamentos B-1 e B-2 / 1950-52 / Rio de Janeiro Nos blocos tipo B, com quatro andares sobre pilotis, a planta dias e grandes. As varandas de cada unidade habitacional são pro- engenhosa e compacta de cada unidade permite que um dos três tegidas, em um lado, por balaustradas, em outro, por cobogós em quartos possa ser anexado à unidade vizinha, formando assim um concreto, que se alternam de um piso para o seguinte, produzindo apartamento de dois e outro de quatro quartos. Assim, enquanto o um desenho agradável na fachada, ao mesmo tempo em que mostra bloco A é destinado apenas a solteiros, casais sem filhos ou famí- claramente o esquema duplex dos apartamentos. lias pequenas, os blocos B podem abrigar famílias pequenas, mé- segundo e quarto andares 1:500 É) ET Ee EE primeiro e terceiro andares 1:500 3 a 1 cozinha TE ] | 2 living-sala de jantar 3 quarto — Ta 3] 3 3| andar inferior de um apartamento duplex-tipo 1:200 andar superior 1:200 146 147 AFFONSO EDUARDO REIDY Conjunto residencial de Pedregulho. Escola primária e ginásio / 1950-52 / Rio de Janeiro A escola, o ginásio e a piscina formam uma composição bem equi- librada. Construída em um só bloco em pilotis, cujo acesso se dá por uma ampla rampa coberta, ela abriga cinco salas de aula com capacidade para 50 crianças (de sete a 11 anos) cada. As salas de aula dão para o sul e se abrem sobre grandes terraços cobertos, que podem ser utilizados pelos alunos, nos dias mais quentes, como um 1 hall e administração 2 terraço 3 diretor e secretárias 4 banheiro das secretárias local para fazer dever de casa. As paredes que abrigam o corredor do exterior são feitas de cobogós, proporcionando uma ventilação cruzada. Há, ainda, no andar superior, uma biblioteca, uma sala de estar, escritórios para a administração, vestiários e banheiros. Um mosaico de Burle Marx dá um toque agradável. O impactante mu- ral de azulejos no ginásio é de Portinari. térreo 1:1000 5 banheiro do diretor 6 biblioteca 7 sala de aula 8 banheiro dos professores 9 banheiro das moç 10 banheiro dos rap HI corredor 12 rampa 13 balcão 14 ginásio 15 abrigo 16 telhado dos vestiários 148 1 área coberta de recreação 2 banheiro dos rapazes 3 banheiro das moças 4 banheiro de serviço 5 despensa 6 cozinha 7 refeitório 8 rampa 9 depósito 10 ginásio 1 abrigo 12 vestiário dos rapazes 13 vestiários das moças 14 piscina AFFONSO EDUARDO REIDY Conjunto residencial de Pedregulho. Lavanderia e mercado / 1950 / Rio de Janeiro O funcionamento do con- junto, estão em um mesmo prédio, próximo a uma rua que margeia o terreno, dotado de uma entrada de serviço e estaciona- mento para carga e descarga. O teto tem inclinações para o centro, sendo rebaixado ao longo de um eixo principal, de modo a pro- porcionar ventilação cruzada a todas as peças. Um brise-soleil horizontal móvel, situado na parte central do mercado, protege parcialmente o lado onde está a entrada principal. O mercado é dividido em setores de legumes, carnes, pescados e laticínios, com os respectivos equipamentos frigoríficos. Dispõe também de uma padaria com forno elétrico. O mercado e a lavanderia, essenciai A lavanderia é mecanizada e operada por trabalhadores especializa- dos: os diferentes setores tratam da recepção, identificação, desin- fecção, lavagem, secagem, passagem, armazenagem e entrega. A despeito de um certo preconceito inicial motivado pela relutân- cia dos moradores em mandar lavar roupas muito gastas, a lavan- deria central mostrou ser um dos equipamentos mais úteis deste conjunto. Afora o ganho com o espaço usualmente reservado ao tanque em cada apartamento, não só as donas de casa passaram a ter mais tempo disponível para o trabalho doméstico, como tam- bém todos os moradores passaram a andar com roupas mais limpas e bem passadas. corte 1:500 1 clientes 13 depósito de farinha de trigo 2 armazém 14 galeria 3 açougue 15 entrada de serviço 4 peixaria 16 recepção 5 frutas e vegetais 17 gerência 6 leiteria 18 entrega 7 balcão de vendas da padaria 19 boilers 8 frigorífico 20 lavanderia 9 depósito do armazém 10 padaria 11 banheiro feminino 21 entrega de roupa lavada 22 banheiro feminino 23 banheiro masculino 12 banheiro masculino == 2 1)? planta 1:500 AFFONSO EDUARDO REIDY Conjunto residencial de Pedregulho. Centro de saúde / 1950-52 / Rio de Janeiro O centro de saúde, localizado em outro pavilhão independente, foi projetado para dar cuidados preventivos, consultas médicas e den- tárias, bem como atender casos de emergência e pequenas cirurgias. O programa inclui: uma seção de registro e classificação dos paci- entes; três consultórios médicos; um consultório dentário com raios X e câmara escura; uma farmácia; uma sala para pequenas cirur- gias, com os anexos necessários; um pequeno laboratório de aná- corte 1:500 planta 1:500 1 hall 2 registro 3 posto da enfermeira 4 cuidados preventivos (crianças) S cuidados preventivos (mulheres) 6 cuidados preventivos (homens) 7 dentista 8 laboratório odontológico 9 câmara escura 10 depósito 11 farmácia 12 sala de trabalho da farmácia 13 gerência 14 entrada dos empregados 15 laboratório 16 lavatório 17 sala de cirurgia 18 esterilização 19 médicos 20 banheiro dos médicos 21 enfermaria das mulheres 22 banheiro feminino 23 enfermaria das crianças 24 banheiro das crianças 25 banheiro dos enfermeiros 26 enfermaria dos homens 27 banheiro masculino 28 banheiro das enfermeiras 29 refeitório e cozinha 30 rouparia lises; três enfermarias para homens, mulheres e crianças, com as respectivas peças anexas necessárias. As enfermarias são usadas para repouso e pacientes internados por curtos períodos. A sala de espera, parcialmente ao ar livre, tem, em um lado, um longo banco de concreto, que se encaixa bem no layout, e no outro, um mural em azulejos projetado por Anísio Medeiros. 151 CARLOS FREDERICO FERREIRA Escola primária / 1949 / Santo André, São Paulo Esta escola, com capacidade para 1.200 alunos em dois turnos, atende as crianças da região onde foi construído o conjunto habita- cional, projetado pelo mesmo arquiteto, mostrado na p. 140. A solução racional e direta adotada no layout foi unir os dois blocos de salas de aula por corredores cobertos, com um castelo d'á independente, cuja discreta monumentalidade destaca a finalidade social e funcional da construção. As salas de aula, orientadas de modo a receber o mínimo de insolação no verão e o máximo pos- sível no inverno, foram construídas sobre a área dos pilotis, que funciona como playground coberto debaixo de cada bloco. No primeiro desses playgrounds funcionam os escritórios da adminis- andar superior 1:1000 tração e, no segundo, um pequeno clube agrícola. No ginásio há um pequeno refeitório. O acesso entre os andares é feito por ram- pas. As paredes exteriores das salas de aula são inteiramente en- vidraçadas, com a parte inferior fixa e a superior composta de bas- culantes, de modo a estabelecer ventilação transversal com a gale- ria de circulação. As elevações mostram claramente a maneira econômica com que o problema foi resolvido. As longas fachadas horizontais, reduzidas estrutural de módulo, tiram partido original de suas proporções e da moldura que separa, em cada módulo, a parte de baixo daquela de cima. térreo 1:1000 1 secretaria 2 sala dos professores 3 médicos e dentistas 4 sala de espera 5 área coberta de recreação 6 pátio 7 clube agrícola 8 ginásio 9 refeitório da escola 10 castelo d'água 11 sala de aula 12 biblioteca e sala de aula de geografia 13 sala de física e ciências naturais 14 sala de desenho e cartografia 15 trabalhos manuais 16 parte superior do ginásio | x SI elevação e corte do castelo d'água 1:400 / ARES 4 q 157 FRANCISCO BOLONHA Jardim de infância / 1952 / Vitória, Es Neste projeto de um jardim de infância, construído na esquina de um terreno de aproximadamente 26.500 mº, o arquiteto reservou a maior parte da área disponível para a construção de um parque e de um playground. O projeto aproveitou um lago já existente e a sua forma sinuosa, com numerosas ilhotas, dando um ar pitoresco ao conjunto. De frente para o prédio principal, no outro lado do jar- dim, uma concha acústica de concreto armado cobre o palco de um pequeno teatro ao ar livre, cujos bancos, também de concreto, for- mam arcos de círculos concêntricos. As cinco salas de aula abrem para pequenos pátios, que podem ser usados para trabalhos ao ar livre. O projeto inclui também uma sala de música, uma de repouso e um refeitório. O cuidado com o as- pecto plástico do projeto, evidenciado pelo mural em pastilhas de vidro, de Anísio Medeiros, que cobre o lado interno da parede que separa o pátio da rua, em nada afeta a funcionalidade do conjunto. Na verdade, o edifício se encaixa despretensiosamente na vege- tação do parque; o arranjo não convencional dos espaços plantados e pavimentados evita qualquer tipo de sugestão de excessiva disci- plina escolar que poderia inibir a alegria das crianças ao brincar à sombra das velhas árvores. 158 planta do jardim de infância 1:500 em 1 entrada 2 galeria 3 refeitório 4 sala de repouso 5 sala de aula 6 pátio 7 sala de música 8 despensa 9 cozinha 10 banheiro do inspetor 1H inspetor 12 banheiro das meninas 13 banheiro dos professores 14 banheiro dos meninos 15 secretaria 16 pátio de serviço 17 mastro planta geral 1:2000 A jardim de infância B teatro ao ar livre 159 EDUARDO CORONA Colégio Estadual da Penha / 1952 / São Paulo A inclinação do terreno, circundado por três ruas, no qual esta es- cola foi construída, determinou a construção do edifício em três planos, dos quais apenas o intermediário ocupa inteiramente a área de projeção do prédio. Devido à inclinação, o térreo ocupa apenas dois terços do terreno; nele, a área em pilotis (com exceção da ocupada pelos vestiários da piscina, grêmio dos estudantes, serviço médico e alojamento do zelador) forma um playground coberto que se estende até o jardim. No segundo nível estão os escritórios da administração, uma pe- quena biblioteca, salas de aula, oficinas de trabalhos manuais e o auditório. No terceiro nível, limitado ao espaço acima das salas de aula do nível inferior, estão outras salas de aula, os laboratórios e um anfiteatro. Os três níveis estão ligados por escadas e rampa Graças ao uso dos pilotis, o arquiteto conseguiu compensar par- cialmente a inadequação do terreno e, ao mesmo tempo, dar ao conjunto um aspecto atraente. Vale registrar que o muro desajeitado, que separa o jardim e a calçada da rua, foi adicionado posteriormente. Este é um exemplo, entre tantos outros, da falta de entendimento entre o artista e a burocracia. nível inferior 1:1000 nível principal 1:1000 nível superior 1:1000 1 área coberta de recreação 2 enfermaria 3 médico 4 dentista 5 apartamento do zelador 6 vestiário das moças 7 vestiário dos rapazes 8 grêmio estudantil 9 sala de imprensa 10 loja da cooperativa 11 diretoria e sala de reuniões 12 entrada do auditório 13 piscina 14 sala de aula 15 sala de aula de história 16 trabalhos manuais 17 trabalhos manuais 18 ciências e história natural 19 línguas 20 professores 21 secretaria 22 sala dos professores 23 diretor 24 biblioteca 25 palco 26 auditório 27 depósito 28 cabine de projeção 29 plataforma elevada 30 sala de geografia 31 sala de desenho 32 laboratório de física 33 anfiteatro 34 laboratório de química 161 OSCAR NIEMEYER Obra do Berço / 1937 / Rio de Janeiro Este berçário foi o primeiro prédio completado por Oscar Nie- meyer. Foi construído para dar assistência e orientação médica a mães (durante e após a gestação) e filhos até os dois anos de idade, além da distribuição gratuita de leite. Ele é composto de dois blo- cos: um de frente, de quatro pavimentos, cujo último andar con- siste em uma grande sala, de múltiplos usos, dividida por partições móveis, e um de fundos, de dois andares, com uma cobertura ajardinada. Os brise-soleil da fachada principal têm uma história interessante. Eles foram originalmente projetados para serem fixos e construídos com peças vazadas de concreto, similares sadas no pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York (p. 202), e as placas hori- zontais deveriam ser inclinadas de modo a dar uma melhor prote- ção contra o sol da tarde. Sua instalação, feita na ausência do ar- quiteto e sem obedecer os detalhes das especificações do projeto, acabou resultando em ineficácia na proteção requerida. Para atender às justas reclamações da instituição que havia encomendado a obra, e ao mesmo tempo defender o nascente prestígio da arquitetura bra- sileira, Niemeyer mandou substituir, às suas próprias custas, todo o conjunto da fachada principal pelo atual sistema de pla ajustáveis, inspirado no projeto do prédio da Assc de Imprensa, onde foram usados brise-soleil fixos. verticais Brasileira térreo 1:400 SS ] 1 sala de espera 2 secretaria 3 consultas 4 cozinha 5 empregados 6 banheiro 7 preparação do leite 8 distribuição do leite primeiro andar 1:400 segundo andar 1:400 166 g 9 sala de costura IZ 10 berçário “Kg A 11 diretor G G 12 depósito 7 13 enfermeira 14 sala de isolamento 15 sala de jantar 16 salão 3 Z É É) |Z| | 167 FRA Hospital Maternidade / 1951 / Cataguases, Minas Gerais ISCO BOLONHA Esta maternidade e hospital infantil foi construída como parte de um projeto de maior porte, nesta pequena cidade do interior de Mi- nas. Cataguases é um caso curioso de pequena cidade, com apenas 20 mil habitantes, que pode se gabar de ter um grande número de projetos arquitetônicos modernos: casas de Aldary Toledo (p.50), Francisco Bolonha, Edgard Guimarães do Vale e Oscar Niemeyer, um hotel de Aldary Toledo e Gilberto Lyra, uma escola de Oscar Niemeyer, entre outros. O prédio tem apenas um andar na forma de um bloco alongado. Na extremidade direita localiza-se o serviço de obstetríci oposto, a cozinha, os escritórios, a lavanderia e a farmácia. O hall de entrada fica no centro-oeste e, no lado les ão a enfermaria das crianças e um playground coberto. O tratamento severo da planta é atenuado, nas fachadas, pelo uso de detalhes alegres e des- pretensiosos, que dão ao edifício um aspecto quase residencial. Com % fito de dar ao conjunto maior unidade plástica, as portas de correr do playground coberto repetem, nas suas treliças, a escala e o desenho do grande painel em cobogós de tijolos. planta 1:500 1 rampa 2 hall 3 enfermeira do setor de radiografia 4 médico 5 aparelho de raios X 6 câmara escura 7 quarto de vestir 8 posto da enfermeira 9 banheiro do setor de radiografia 10 partos de emergência 11 médico 12 banheiro do médico 13 esterilização 14 lavabo 15 sala de partos 16 sala privativa 17 banheiro 18 material de limpeza 19 banheiro das meninas 20 vestiários 21 refeitório e sala de recreação 22 enfermaria das meninas 23 enfermaria dos meninos 24 banheiro dos meninos 25 banheiro das enfermeiras 26 uniformes 27 rouparia 28 banheiro 29 lavanderia 30 pátio de serviço 31 galeria 32 recepção 33 farmácia 34 depósito 35 despensa 36 37 copa inha 38 pratos e talheres 39 pratos e talheres sujos 40 copa 41 refeitório das freiras 42 refeitório dos médicos 43 castelo d'água E 169 ESCRITÓRIO TÉCNICO DA CIDADE UNIVERSITÁRIA DA UNIVERSIDADE DO BRASIL, Jorge Machado Moreira, Arquiteto Chefe, Aldary Henriques Toledo, Arquiteto Chefe Adjunto Orlando Magdalena, João Henrique Rocha, Donato Mello Júnior, Giuseppina Pirro, Adele Weber, Renato Ferreira de Sá, Elias Kaufman, Arlindo Araujo Gomes, João Corrêa Lima, Astor Read Sá Roris, Norma Cavalcanti Albuquerque, Otavio Sergio de Moraes, Carlos Alberto Boudet Fernandes, Conceição M. Mattos Penna, Jorge Werneck Passos, Paulo Rocha Souza, Renato Sá Junior e Paulo Porciúncula de Sá, arquitetos Instituto de Puericultura da Universidade do Brasil / 1953 / Rio de Janeiro O Instituto de Puericultura, prêmio na categoria de Hospitais da II Bienal de São Paulo (1953), foi projetado e construído pelo Es- critório Técnico da Cidade Universitária da Universidade do Bra- sil, dirigido pelo engenheiro L. H. Horta Barbosa. A sobriedade de sua concepção, acoplada ao engenhoso equilíbrio que orientou o desenvolvimento do projeto, tanto no plano geral como nos mínimos detalhes, é uma indicação do classicismo real e profundo do conjunto da obra, a qual certamente marcará época na evolução da arquitetura moderna no Brasil. 170 O caráter nitidamente regional deste trabalho é enfatizado pela leveza dos grandes blocos, com seus contornos claros e nítidos, construídos sobre pilotis, e o contraste das amplas e compridas su- perfícies lisas, com os painéis em azulejos cerâmicos (projetados por Roberto Burle Marx, Aylton Sá Rego e Yvanildo da Silva Gusmão) e, ainda, os detalhes peculiares de cada parte e os amplos jardins desenhados por Roberto Burle Marx. O Instituto de Puericultura, o primeiro prédio a ser terminado da Cidade Universitária, ainda em construção (p. 258), ocupa uma área 171 RINO LEVI ce ROBERTO CERQUEIRA CESAR A crescente necessidade de pesquisas sobre o câncer vem deman- dando que os pacientes sejam agrupados, não só para poder obser- var o maior número possível de casos, como também para apro- veitar ao máximo a competência dos especialistas, cujo número é ainda bastante reduzido. O arquiteto teve que resolver os seguintes problemas: facilitar a pesquisa e o ensino, permitir que os casos incuráveis fossem admi- tidos sem interferir no tratamento dos pacientes passíveis de cura, e dar o melhor atendimento possível aos pacientes do ambulatório. O objetivo deste hospital, obra de uma entidade sem fins lucrativos — a Associação Paulista de Combate ao Câncer —, é o diagnóstico e a prevenção do câncer, seu tratamento, a assistência social aos doen- tes e suas famílias, assim como a pesquisa e o ensino em oncologia. O hospital foi construído em um terreno inclinado, cujo desnível entre a frente e os fundos, respectivamente sul e norte, é de aproxi- madamente 18 m. Por isto, os três blocos foram projetados com alturas decrescentes, de modo que a diferença assim obtida, acen- tuada pelo desnível, favorecesse a insolação, propiciando, ao mes- mo tempo, uma vista desobstruída do panorama. O edifício principal, o mais alto, fica próximo à rua e abriga as enfermarias e o centro cirúrgico e de esterilização; os andares infe- jo ocupados pelo setor de internação, primeiros socorros, serviços administrativos, setor de pesquisas e pelo necrotério. O segundo edifício tem quatro andares e os seus dois andares supe- riores são ocupados pelo ambulatório, serviços técnicos e científicos Instituto Central do Câncer (Hospital Antonio Candido de Camargo) / 1954 / São Paulo e pelos laboratórios do centro de patologia. Os dois andares infe- riores abrigam a lavanderia, o depósito, acomodações para os em- pregados subalternos, um restaurante e uma capela. O pavilhão ao fundo é uma construção de dois andares, ocupada pelos médicos, enfermeiras e internos. Nos fundos do terreno, foi reservado um espaço para a construção futura de um centro de pesquisas e de um pavilhão para os incuráveis. Os pacientes são acomodados em sete andares do bloco principal, dos quais quatro são ocupados por enfermarias para atendimento público gratuito (e uns poucos quartos particulares para casos graves), equipadas com 169 leitos. Os três andares restantes são reservados aos pacientes pagantes, cada um com 15 quartos parti- culares (suítes) com cama para acompanhante, se for o caso. Assim, a capacidade total é de 214 leitos, além dos 45 acompanhantes. A circulação de pessoas e de provisões dentro do hospital é orga- nizada de acordo com as seguintes categorias: pacientes, médicos e estudantes, enfermeiras e demais funcionários, visitantes, cadá- veres, refeições, roupas, materiais diversos e lixo. Ela é facilitada pela existência de diferentes acessos: a. entrada principal, no nível da rua, para pacientes internados, médicos, enfermeir: e pessoas que se dirigem ao auditório (estas últimas através de uma escada circular existente no hall de entrada; b. entrada para casos de emergência, no nível da rua, com um abrigo para ambulância; c. entrada dos pacientes do ambulatório, no nível da rua, que leva aos andares superiores do bloco do meio; d. entrada de serviço, pela » Visitantes rampa do lado esquerdo do edifício; e. entrada do necrotério, pela rampa do lado direito. Os quatro elevadores, agrupados em dois pares, para pacientes pagantes e não-pagantes têm um dispositivo automático para servi- ço expresso. Este dispositivo permite suprimir todas as chamadas intermediárias feitas após o seu acionamento; terminada a viagem direta, o serviço normal se restabelece automaticamente. Desta forma todos os elevadores podem ser de propósito múltiplo, sem prejudicar o funcionamento normal ou o serviço expresso, elimi- nando, assim, a necessidade de ter elevadores reservados para serviços especiais. Todo o projeto é baseado em um módulo de 1,20 m, aparente na estrutura, nas instalações e nas aberturas. Entre a laje de cada piso e o teto subjacente há um espaço vazio contínuo que facilita mudanças nas instalações e o uso de divisórias leves; este módulo dá uma grande flexibilidade à construção, permitindo que ela possa atender a qualquer nova demanda técnica sem maiores dificuldades. A integração arquitetônica dos vários elementos do projeto expres- sa bem a maneira direta e séria com que o arquiteto tratou os dife- rentes problemas colocados. A fachada principal, caracterizada por duas séries de aberturas em cada andar, recebeu um toque mais acolhedor, graças à disposição saliente do bloco de dois andares, onde se localizam a entrada, a biblioteca e o auditório. As outras fachadas mostram, com bastante nitidez, o rigor das proporções, não apenas no traçado geral, mas também em todos os detalhes. Esta intransigente qualidade se manifesta sobretudo nos contornos dentados das elevações do bloco intermediário, indicando ilumi- nação em shed do telhado do quarto andar. décimo, décimo-primeiro e décimo-segundo andares 1:500 quinto andar 1:500 rd Urrgo quarto andar 1:500 178 1 entrada de serviço 2 entrada de ambulâncias 3 entrada de pacientes, médicos, enfermeiras e o público 4 entrada do ambulatório 5 necrotério 6 primeiros socorros 7 secretaria 8 sala de espera dos pacientes pagantes 9 sala de espera dos pacientes não-pagantes 10 vestiários dos médicos e enfermeiras HH internação e caixa 12 serviço social 13 vestiários e banheiros dos pacientes não-pagantes 14 sala de espera dos pacientes do ambulatório 15 farmácia; 16 banheiro dos pacientes não-pagantes 17 sala de espera dos pacientes pagantes 18 sala de espera dos pacientes do ambulatório 19 raios X 20 radioterapia 21 eletroterapia 22 radiografia 23 laboratórios 24 hall 25 biblioteca 26 auditório 27 museu de anatomia e patologia 28 sede da Associação Paulista de Combate ao Câncer 29 diretor do hospital 30 enfermeira chefe 31 arquivo técnico 32 dieteticista 33 sala de espera 34 vestiários 35 consultas gratuitas 36 centro de medicina preventiva 37 terapia de raios X 38 posto da enfermeira 39 sala privativa 40 macas 41 material de limpeza 42 copa 43 rouparia 44 enfermeira chefe 45 roupa suja 46 tratamento 47 sala de repouso dos internos FIRMINO F. SALDANHA | 26 radioterapia 27 radioterapia profunda Hospital dos Marítimos / 1955 / Rio de Janeiro 28 controle | 29 raios X ' 30 câmara escura Neste projeto de um hospital geral de 450 leitos, feito para o dos aos serviços gerais, técnicos, científicos, etc. O mezanino, que Eljpono das enfermeiras Instituto de Assistência Social aos Marítimos, os numerosos e mui- liga o térreo aos andares superiores, abriga os serviços administra- Ran oe to diversificados elementos do programa foram integrados em um tivos, laboratórios, etc. As enfermarias estão nos oito andares ; : Corja volume bem proporcionado e, ao mesmo tempo, extremamente sim- ples. O edifício tem 12 andares sobre um platô que leva à entrada principal e, seguindo a inclinação do terreno, dois outros para bai- xo. Estes dois últimos e o andar da entrada principal são destina- seguintes (do segundo ao nono); no décimo há uma enfermaria materna. O setor cirúrgico fica no 11º e inclui quatro salas de opera- | ção, com os seus anexos; as acomodações das enfermeiras estão no 12º (cobertura), próximas ao solário e ao jardim do terraço. 35 megascopia 36 atendente do serviço de fisioterapia 37 fisioterapia 38 eletrocardiologia mezanino 1:500 1 entrada principal 10 monta-cargas para roupas Oº0000 “o s. | e] 39 metabolismo basal 40 alergia 41 eletrodiagnóstico 42 rouparia 43 biblioteca 44 vestiários 45 sala de leitura 46 diretor 47 salão de reuniões 48 chaminé 49 laboratório central SO bacteriologia S1 culturas 52 lavagem da vidraria 53 sala de trabalho 54 estufa 55 sala de injeções 56 depósito 57 sala dos médicos 58 biotério 59 jardim 60 pátio 61 tratamento 62 enfermaria 63 acessórios 64 enfermaria 0/0 lts - do segundo ao nono andar 1:500 so |90 | q 2 hall principal 11 distribuição 19 cozinha [65 entrada da enfermaria 3 hall dos pacientes 12 copa 20 cozinha dietética 66 entrada da enfermaria geral 4 elevador dos pacientes 13 monta-cargas 21 restaurante 67 criado-mudo para receitas 5 elevador dos médicos e do público 14 refeitórios dos subalternos 22 recepção 68 subesterilização 6 elevador de serviço 15 salão 23 sala dos médicos 69 sala de operação 7 lixo 16 elevador de serviço 24 sala de espera 70 enfermeiras 8 hall de serviço 17 despensa 25 abreugrafia 71 sala de repouso 9 tubo de lançamento de roupa suja 18 frigorífico 72 anestesia 73 internos 74 oftalmologia E E 75 otorrino EGARRIS. 76 endoscopia pe 77 histopatologia 78 banco de sangue à pp décimo-primeiro andar 1:500 térreo 1:500 180 81 cirurgia ortopédica 82 material para engessamento 83 câmara escura 84 passagem de serviço 85 desinfecção 86 colchões, depósito 87 colchões, aeração 88 varanda 89 salão 90 quarto 91 sala de demonstração 92 rampa 93 central de esterilização 94 material cirúrgico 95 capela 96 solário Euro É Te s e décimo-segundo andar 1:500 181 ALCIDES ROCHA MIRANDA, ELVIN MCKAY Pavilhão do altar do XXXVI Congresso Eucaríst Ponto focal de uma importante cerimônia religiosa, que reuniu cer- ca de um milhão de peregrinos de todo o mundo, este altar foi eri- gido a título provisório, e em um prazo curto, sobre um aterro, com uma pequena elevaçã acordo com o projeto de transform: dade, que pode ser visto na p. 252 », avançando sobre a baía de Guanabara, de jo da orla nesta parte da ci- A constru fabri- cada, em função da natureza do terreno e do curto prazo disponível. ão, extremamente leve, foi quase inteiramente pré As grandes linhas horizontais do projeto, desenvolvido com a maior simplicidade, baseado em um croqui original de Lúcio Cos- ta, funcionam como pano de fundo para a grande cruz de madeira, situada na frente e à esquerda; o contraste com a enorme vela infla da, situada à direita e atrás do prédio, é especialmente impactante Evocando as caravelas das viagens de descobertas dos navegadores portugueses, esta vela garbosamente inflada pela brisa marinha e inundada de luz durante a noite, quando ocorriam as cerimônias mais importantes, se destacava sobre as águas escuras da baía, on- de estavam ancorados barcos da frota, ornamentados com guirlan- das de lâmpadas elétricas. Assim, toda a composição ganhou um DUBUGRAS e FERNANDO CABRAL PINTO 'o Internacional / 1955 / Rio de Janeiro (projeto inicial de Lúcio Costa) simbolismo e uma dignidade monumental, dispensando quaisquer ênfases adicionais no pavilhão do altar, erigido na elevação artifi- cial de modo a ficar visível para toda a multidão. Em dada ocasião, quase meio milhão de comungantes, 230.000 mulheres e 250.000 homens, se reuniu nessa área de 330.000 mº, dos quais 230.000 asfaltados. O altar propriamente dito ficou no centro, protegido por uma longa e fina cobertura e destacado por um baldaquim parcial- mente pendurado no teto, com uma fila de cadeiras de cada lado para os altos dignitários da Igreja e do Estado. Na parte central, atrás do altar, o pavilhão tinha dois andares: no nível do altar estavam a capela, a sacristia, um quarto para os cardeais e as cabi- nes de rádio; no andar inferior, construído dentro do aterro, esta- vam os aposentos privados, as salas de controle da sonorização e um posto de primeiros socorros O pavilhão foi construído em madeira, sobre uma estrutura de aço, com telhado em cimento-amianto ondulado. Os revestimentos em madeira foram simplesmente encerados e polidos, com exceção do telhado, do baldaquim e das telas, que eram pintados. 1 degraus 2 pedestal do altar 3 altar 4 credência 5 Cardeal Legado 6 Núncio Apostólico 7 Patriarca do Oriente 8 cardeais O bispos planta 1:1000 10 cruz (14 m) 1H cabine e plataforma 12 capela com altar 13 sala dos cardeais 14 sacristia 15 escadaria de serviço 16 cabines de rádio 17 fotógrafos 18 dignitários corte 1:500 187 OSCAR NIEMEYER O conjunto de recreação e turismo da Pampulha fica a uma curta stância do centro de Belo Horizonte. A pitoresca lagoa na qual se situa foi feita especialmente para o projeto, através da construção de uma barragem que fechou um vale largo e sinuoso, formando um espelho d'água de vários quilômetros. É interessante notar que o projeto foi promovido pelo atual Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, no tempo em que era prefeito de Belo Horizonte e antes de ser governador de Minas Gerais, porque ele sempre foi um entusiasta da arquitetura moderna. Além dos três prédios já terminados, o projeto final prevê a construção de um hotel, um clube de golfe e outros melhoramentos. A Casa do Baile é um pequeno restaurante e casa de dança popular em uma ilha perto da barragem, com acesso através de uma passarela. O salão é circular, mas a forma crescente das dependências de 1 passarela 2 escultura 3 restaurante 4 orquestra 5 copa-cozinha 6 refeitório dos empregados 7 palco 8 vestiário planta 1:500 Salão de dança da Casa do Baile / 1942 / Pampulha, Minas Gerais serviços construídas em torno dele confere uma forma ovóide à planta. O teto é uma placa de corícreto, que se prolonga em linha sinuosa acompanhando o contorno da ilha. Na extremidade desta marquise há um lago de plantas ornamentais com um palco ao ar livre no lado oposto. O contraste entre o bloco, parcialmente envidraçado e parcialmen- te revestido com um mural em azulejos, e o contorno caprichoso da marquise, com sua estrutura livre claramente visível (típico da ati- tude desinibida do arquiteto com relação ao problema da forma), expressa o objetivo de convivência do programa, com um toque incomparavelmente leve. Construído no período de plena eferves- cência da arquitetura brasileira, este prédio foi o marco de uma ten- dência que teve influência decisiva no pensamento dos arquitetos mais jovens. OSCAR NIEMEYER Cassino, 1942 / Pampulha, Minas Gerais O Cassino, sobre uma elevação do terreno à beira d'água, pode se: visto da Casa do Baile, situada no lado oposto da lagoa como da terceira unidade do projeto, o Iate Clube. O programa compreende os salões habituais, as s de jogos, o bar e o restau- rante, com uma pista de dança e um palco, dispostos em três blo- cos, amente reunidos, que expressam, pelas formas s com contornos precisos, a função de cada elemento. A severidade aparente do conjunto é equilibrada pelo jogo de massas em comu- nicação, pela transparência das fachadas e dos interiores, como também pelos pilotis e brise-soleil do bloco arredondado e o con- TILIIIIIOO Ft térreo 1:500 torno gracioso das marquises sobre a entrada, perto de uma escul- tura de Zamoiski. As colunas exteriores têm um revestimento de mármore travertino e as paredes são cobertas com placas de pedra. No interior, o revestimento em metal cromado das colunas, os pa- rapeitos e rampas em Ônix argentino, a profusão de espelhos e todos os elementos de decoração, incluindo a iluminação por bai- xo, na pista de dança, contribuem para dar uma atmosfera caracte- rística, sem recorrer aos recursos vulgares, comumente usados em casos similares. andar superior 1:500 corte 1:500 1 saguão 2 chapelaria 3 entrada para o banheiro feminino 4 terraço 5 pista de dança 6 depósito 7 camarins 8 camarim privado 9 vestiários dos empregados 10 gerente H escadaria de serviço 12 restaurante 13 palco 14 copa-cozinha 15 refeitório dos empregados 16 depósito 17 bar 18 sala de jogos 191
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