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arquitetura moderna
no brasil HENRIQUE E. MINDLIN
Convidado a fazer uma breve apresentação deste li-
vro — a primeira edição em português de Modern
Architeture in Brazil, de autoria de meu irmão Hen-
rique, publicado em 1956 também em francês e ale-
mão, resolvi, de início, pôr de lado o parentesco de
que me orgulho, e falar apenas da obra, que revelou,
aqui e no exterior, o extraordinário trabalho dos pio-
neiros da moderna arquitetura brasileira. O fato de o
livro ainda ser, depois de inteiramente esgotado há
tantos anos, considerado uma importante fonte de
referência para as novas gerações de arquitetos e
para os estudiosos da cultura brasileira já constitui,
por si só, um eloquente testemunho dos méritos
dessa obra, e foi apenas sobre esse -aspectô desta
edição que eu tinha pretendido falar. Mas não con-
segui. Minha ligação com Henrique foi tão forte,
que não acho possível, nem razoável, falar de seu li-
vro sem falar dele.
Foi meu melhor amigo, e juntos descobrimos quase
tudo quanto veio a formar nossa cultura. Havia, é
verdade, uma diferença em nossos interesses iniciais:
eu, desde moço, sentia atração pelo passado — histó-
rico, artístico e literário, ao passo que ele, apesar de
sua formação acadêmica, de “engenheiro-arquiteto”,
vivia envolvido por uma visão do futuro, e preocu-
pado com os meios de o presente tornar possível es-
se futuro, com uma vida melhor para o Brasil e os
brasileiros.
Essa diferença, no entanto, teve curta duração, pois
nós nos influenciamos mutuamente: tanto ele como eu
nos demos conta de que o desenvolvimento cultural é
um processo contínuo, e, portanto, não se pode cons-
truir bem o futuro sem apreciar devidamente tudo
quanto de bom nos veio do passado, nem teria cabi-
mênto, por outro lado, viver mergulhado no passado,
sem uma preocupação com o presente e o futuro.
Henrique fez parte do grupo pioneiro dos modernos
arquitetos brasileiros das décadas de 30 a 50. Nos
últimos anos de sua vida ingressou no magistério,
fascinado pela tarefa de ensinar, e venceu o concurso
de professor titular da Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Mas, na realidade, bem antes de ser pro-
fessor, todo o seu trabalho já tinha sido uma lição de
vida, mostrando que a boa arquitetura deve resultar
não somente em benefício individual, como coletivo.
Tentei ser apenas objetivo, mas acabei vencido pelo a-
feto e pela emoção. E é emocionado que cumprimento
e agradeço aos promotores desta edição pela homena-
gem que prestaram a meu irmão. Espero também que
as novas gerações de arquitetos aproveitem, com este
livro, a lição que ele deixou.
Jost MINDLIN
30 de março de 1999
COPYRIGHT O KATIA MINDLIN LEITE BARBOSA E TATIANA MINDLIN
TÍTULO DO ORIGINAL EM INGLÊS: MODERN ARCHITETURE IN BRAZIL, NEW YORK
REINHOLD PUBLISHING CORPORATION, 1956
PROJETO GRÁFICO - OSMAR CASTRO
CAPA - H. P. DOEBELE
ADAPTAÇÃO - VICTOR BURTON
PESQUISA, APRESENTAÇÃO E COORDENAÇÃO TÉCNICA - LAURO CAVALCANTI
ASSISTENTE DE PESQUISA - CRISTOVÃO FERNANDES DUARTE
PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS E REVISÃO - MAURA SARDINHA
COORDENAÇÃO EDITORIAL - LUCIA LAMBERT
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO - ELISA VENTURA
IMPRESSO NO BRASIL POR HAMBURG GRÁFICA E EDITORA
COM FOTOLITOS EXECUTADOS
POR MERGULHAR SERVIÇOS EDITORIAIS
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M616 | Mindlin, Henrique E.
Arquitetura moderna no Brasil /
Henrique E. Mindlin; tradução Paulo Pedreira;
prefácio de S. Giedion; apresentação de Lauro
Cavalcanti. — Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 1999.
288 p.: 21 x 29,7 cm.
ISBN . 85-86579-05-x
Tradução de Modern Architeture in Brazil
1.Arquitetura Moderna. Brasil. 1. Título
CDD: 724.6081
à memória de meu pai, dr. E. H. MINDLIN,
amigo das artes e dos artistas
ODESSA, RÚSSIA, 9 IX 1886 - SANTOS, BRASIL, 12 HI 1939
APRESENTAÇÃO
É com orgulho que a Servenco está patrocinando a pri-
meira edição em português do livro Arquitetura Moderna
no Brasil, do arquiteto Henrique Mindlin, como parte das
comemorações do 50º aniversário da empresa. O objetivo
é resgatar uma obra que representa um marco na história
da arquitetura.
Escrito em inglês, o livro foi editado em 1956, tam-
bém em francês e alemão, mas nunca em português. Está
esgotado há cerca de 40 anos. Como obra didática, apre-
senta as construções mais importantes, os projetos urba-
nísticos e paisagísticos mais significativos, constituindo
um documento fundamental da arquitetura moderna bra-
sileira para profissionais, estudantes, historiadores e pa-
ra todos aqueles que se interessam pela produção técni-
ca e cultural do Brasil.
Henrique Mindlin é um dos nomes mais importantes
da arquitetura brasileira. Foi professor e pesquisador, e
inaugurou no Rio de Janeiro o primeiro escritório de ar-
quitetura em moldes profissionais, encerrando a fase ro-
mântica que prevaleceu até a década de 50. Henrique
Mindlin morreu aos 60 anos, em 1971, mas ainda hoje o es-
critório Mindlin e Arquitetos Associados funciona sob a
direção da antiga equipe de sócios e colaboradores.
Pelo interesse que o livro despertou, na época do seu
lançamento, nos meios culturais dos Estados Unidos, do
Canadá e da Europa, e pela importância que teve na di-
vulgação da arquitetura brasileira no exterior, a Servenco
pretende, com esta nova edição, preservar a memória de
um dos períodos mais importantes da nossa arquitetura.
ervenco
HENRIQUE MINDLIN E A ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA
A arquitetura moderna das décadas de 40 e 50 é, provavel-
mente, o mais feliz momento das artes visuais brasileiras neste sé-
culo. A produção dessas duas décadas vai muito além da simples
adoção da vanguarda européia por artistas de um país periférico.
Uma brilhante geração de arquitetos constituiu, nos trópicos, um
significativo conjunto de obras, apontando rumos alternativos à
burocracia estética que rondava o modernismo internacional.
O primeiro livro a abordar tal produção foi Brazil Builds, de
Phillip Goodwin, acompanhando a mostra de mesmo nome efe-
tuada pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1943. O
aval daquela instituição foi central para a difusão em escala mun-
dial do modernismo brasileiro. As mais significativas revistas
internacionais dedicam, a partir daí, números especiais a essa ar-
quitetura que sugeria novos caminhos para um modernismo que
havia cessado de experimentar, com os países europeus dilacera-
dos pelos esforços de guerra. Brazil Builds teve, igualmente, a
virtude de explicitar a originalidade brasileira na ponte moder-
nista entre o antigo e o novo, assim como algumas das engenho-
sas adaptações que o estilo sofreu para se adaptar aos ares tropi-
cais. Abordava, entretanto, como uma esplêndida e sagaz repor-
tagem, apenas os highlights da arquitetura moderna brasileira no
curto período de 1938 a 1942.
O livro Arquitetura Moderna no Brasil, de Henrique Mindlin,
editado em 1956, apenas em inglês, francês e alemão, é o principal
registro e uma espécie de catalogue-raisoné da construção brasileira
de 1937 a 1955. Henrique Mindlin, um talentoso arquiteto ele
mesmo, fornece uma rica e minuciosa visão do movimento que so-
mente um protagonista poderia fazer tão bem. Situa, admiravelmen-
te, o Brasil e a época, além de não se esquecer, em momento algum,
do bendito prazer que deve propiciar uma leitura. Resulta um livro
fundamental para os especialistas e delicioso para todos aqueles
que desejarem se debruçar sobre essa produção e seus tempos.
Que tempos, afinal, eram esses? Na Introdução, nos comentá-
rios dos projetos e nas entrelinhas de Arquitetura Moderna no
Brasil emerge uma época de contradições e ambigiúidades políti-
cas: o período de Vargas a Kubistchek, do rádio à televisão, do Rio
às vésperas do concurso de Brasília, de flerte com o Eixo e entra-
da na guerra ao lado dos Aliados. A tecnologia dos prédios reflete
o início da industrialização, enquanto o movimento sindical ainda
estava atrelado ao Estado e a maioria da população carecia de mo-
radia. Tempos de ditadura e avanços democráticos, do DIP e da
constituição de uma produção modernista, da legalização do Par-
tido Comunista e seu posterior banimento. O boom construtivo no
pós-guerra, em tempos de crescimento das lades e da esperança
que o futuro finalmente chegaria, mais rico e mais justo.
Mindlin abre o seu livro dizendo que a história da arquitetura
moderna se confunde com aquela de um punhado de jovens ar-
quitetos. Poderia acrescentar que a história desses jovens arqui-
tetos estava ligada àquela de jovens intelectuais, como Carlos
Drummond de Andrade, Mário de Andrade e Gilberto Freyre, que
haviam decidido atuar nas brechas do aparelho cultural do Estado
Novo, tentando modificar o país através da colocação em prática
de idéias vanguardistas lançadas na década anterior.
O Brasil atrave: na década de 30, um momento de certa
pujança econômica, notabilizando-se um esforço governamental
no sentido de sua “modernização”. Lúcio Costa é diretor durante
um ano da Escola de Belas Artes, chamando o pioneiro Gregori
Warchavchik para ensinar projeto. Foi deposto pelos acadêmicos,
provocando a paralisação da principal avenida carioca por uma
passeata de estudantes a seu favor que teve a participa:
cial de Frank Lloyd Wright, então visitando o Rio.
Frank Lloyd
Wright, Costa
e Warchavchik
na casa da rua
Toneleiros.
Abaixo, o livro
Brazil Builds.
Prédio de
Warchavchik
em 1939, na
cidade de
São Paulo.
que Mindlin várias vezes em seu texto anunciava, com expectati-
va, O projeto do Aterro carioca. No que toca à Brasília, Mindlin
obteve, em 1957, o 5º prêmio no concurso para a nova capital, e
no ano de 1966, lhe dedica um carinhoso texto, feito sob enco-
menda da embaixada do Brasil na Itália”. As folhas de ilustrações
complementares desta edição estão divididas nos seguintes se-
tores: urbanismo e prédios públicos (Brasília e Aterro), moradias
individuais, projetos arquitetônicos de maior porte, além de uma
seleção de alguns projetos de Henrique Mindlin realizados após
a publicação do livro.
Infelizmente, os originais de Henrique Mindlin em português
não foram achados. Procedeu-se à tradução das versões inglesa e
francesa, cotejando-se ambas, pois em alguns casos os textos di-
vergiam, e procedeu-se a uma revisão técnica e tratamento do
texto para que este mantivesse, tanto quanto possível, o sabor e
espírito de seu autor. Para tanto, foi capital a leitura de todos os
textos de Henrique Mindlin disponíveis em português, assim
como as conversas com várias pessoas que conviveram com ele,
destacando-se o seu irmão José Mindlin, as suas filhas Kátia
Mindlin Leite Barbosa e Tatiana Mindlin, o seu sócio Walmyr
Amaral e sua colaboradora Teresa Miranda.
Em muitos trechos do livro é visível a preocupação de Mindlin em
informar o público estrangeiro sobre o Brasil. Embora muitas dessas
explicações fossem, talvez, dispensáveis para o público nacional, re-
solvemos mantê-las pois trazem muitas informações sobre a época e
o modo pelo qual o arquiteto representava o Brasil. Em outros casos
foram feitas previsões que não se confirmaram ou incluídos dados
que foram alterados pelo curso da História. Optamos, também nes-
sas situações, pela fidelidade ao texto original, acreditando na
carga de informação que tais desvios e esperanças irrealizadas
darão ao leitor sobre a ação do tempo no percurso do país.
Nos seus últimos anos, dirigindo no Aterro, em direção ao Cen-
tro, Henrique fala de seu prazer de encontrar gente e pergunta à
amiga Vivi Nabuco se ela já havia imaginado o quanto seria triste
a vida de ambos, caso, dali em diante, não conhecessem mais
ninguém novo. Acredito que a edição desse volume sanará a tris-
teza igual que teve o leitor brasileiro, privado por mais de 40 anos
de conhecer Henrique Mindlin, autor, em uma edição em por-
tuguês, de seu estupendo Arquitetura Moderna no Brasil.
LAURO CAVALCANTI
Fazenda Inglesa, Petrópolis, 3 de fevereiro de 1999
16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 Para maiores informacões sobre a relação entre os campos arquitetônicos
brasileiro e internacional ver As preocupações do Belo: arquitetura moderna
dos anos 30/40, Rio de Janeiro, Editora Taurus, 1995, de Lauro Cavalcanti e
Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo, Editora Perspectiva, 1981,
de Yves Bruand.
2 Para uma análise dos embates que levam os modernistas a dominar o campo
arquitetônico, ver As preocupações do Belo: arquitetura moderna dos anos
30/40 . Rio de Janeiro, Editora Taurus, 1995, de Lauro Cavalcanti.
3 Latin American Architecture since 1945. Nova York, Museu de Arte
Moderna, 1955, de Henry-Russel Hitchcock .
4 Latin American Architecture since 1945. Nova York, Museu de Arte
Moderna, 1955, de Henry-Russel Hitchcock .
5 Modem Architecture: a critical history. Nova York, Oxford University
Press. 1980, de Kenneth Frampton.
6 Para informações mais detalhadas sobre Henrique Mindlin ver o livro Hen-
rique Ephim Mindlin, o homem e o arquiteto. São Paulo, Instituto Roberto Si-
monsen, 1975, de Celia Ballario Yoshida, Maria Cristina Almeida Antunes,
Maria Izabel Perini Muniz e Venus Sahihi.
7 Calder: Autobiography with pictures. Nova York, Pantheon Books, 1966, de
Alexander Calder.
8 A Faculdade de Arquitetura da UFRJ não contou em seus quadros com ne-
nhum dos arquitetos considerados mais significativos da corrente moderna.
Sérgio Bernardes deu apenas poucas aulas e se retirou. Afonso Eduardo Reidy
perdeu concurso para catedrático da cadeira de projeto para o muito menos
expressivo Paulo Camargo de Almeida. O crítico de arte Mário Pedrosa, com
uma tese pioneira sobre arte abstrata e gestalr, depois internacionalmente re-
conhecida, foi preterido na cátedra de história da arte pelo político, dono de
estabelecimento de ensino e historiador Flexa Ribeiro. Para informações mais
detalhadas sobre o assunto ver As preocupações do Belo: arquitetura moder-
na dos anos 30/40. Rio de Janeiro, Editora Taurus, 1995, de Lauro Cavalcanti.
9 Architettura Brasiliana: Barocco d'oltramare, Architettura internazionale
nei tropici, Brasilia: sogno o realtã? Embaixada do Brasil em Roma, Oficina
Gráfica do Serpro, 1966, de Henrique Mindlin
O BRASIL E A ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA
É um bom sinal para a nossa civilização o fato de ela se estar
desenvolvendo a partir de mais de um centro. Obras criativas têm
surgido subitamente em países que em períodos anteriores teriam
permanecido provincianos, como a Finlândia ou o Brasil. Como ex-
plicar que esses países, que por tanto tempo se mantiveram na peri-
feria da civilização, tenham alcançado um nível tão alto em matéria
de arquitetura? Qual seria a razão? Seriam os próprios arquitetos?
Sem dúvida, não haveria obras criativas sem arquitetos criativos,
mas arquitetos criativos existem em muitos outros países. O que
está faltando em muitos países é apoio financeiro e clientes, gover-
nos e administrações que não entravem o verdadeiro talento. O pro-
blema da arquitetura, hoje, é que, tanto nos Estados ditatoriais quan-
to nos países democráticos, o mau gosto do cliente costuma tornar
inúteis os esforços do arquiteto. No Brasil e na Finlândia isso não
tem acontecido. Nesses dois países, a resistência mal orientada dos
clientes não está matando a criatividade. No curso dos últimos 20
anos ficou claro que, tanto nos trópicos quanto nas proximidades
do círculo polar, o ambiente está pronto para um novo florescimen-
to, a menos que seja artificialmente sufocado.
Brasil: curioso problema de uma cultura por tanto tempo ador-
mecida. A primeira cidade foi fundada há pouco mais de 400 anos,
em 1532, bem próxima da atual cidade de Santos. O Brasil consti-
tuiu uma sociedade agrária. Os grandes proprietários tinham padre
e capela dentro de suas fazendas; exploraram o país, mas também
criaram tesouros culturais, com base num sistema de agricultura
extensiva. Os índios, armados de arco e flecha, e os negros, de mos-
quetes, formavam uma espécie de corpo de guarda dos proprietários
rurais. Como classe, os latifundiários formavam uma sociedade
livre, sempre pronta a se defender das incursões da Coroa ou da
Igreja. Segundo Gilberto Freyre, os portugueses foram os pri-
meiros europeus a fazer da família, e não das companhias de co-
mércio, a base de sua obra civilizatória.
Em contraste com os anglo-saxões, a tradição portuguesa sem-
pre se mostrou favorável à mistura com outras raças. O conde
Keyserling observou que a unidade do Brasil se fez a despeito das
diferenças raciais. Contrariamente aos Estados Unidos, o Brasil re-
solveu o difícil problema racial: no belo conjunto residencial de
Pedregulho, negros e noruegueses convivem lado a lado.
Mas há um outro problema que, aos olhos de um estrangeiro,
parece constituir uma ameaça à paz interna e ao futuro do país: a
vergonhosa especulação com a terra, que é o câncer do desenvol-
vimento do Brasil. Se ela não for combatida sem trégua, o país po-
derá, decerto, nos oferecer uma excelente arquitetura, mas estará
sob a permanente ameaça dos tremores da sublevação política.
O Brasil é um país de contrastes, resultado de um período de es-
peculação febril. Barracos toscos pululam como cogumelos nas
áreas livres das grandes cidades e nos terrenos, ridiculamente ca-
ros, de sua periferia. Nenhum equilíbrio da estrutura social e nenhum
planejamento urbano em grande escala serão possíveis antes que
esse caos financeiro seja controlado.
Apesar disso, o prodígio da arquitetura brasileira floresce como
uma planta tropical. As indústrias siderúrgica e de cimento no Bra-
sil são pouco expressivas; no entanto, os arranha-céus brotam por
toda parte. Há qualquer coisa de irracional no desenvolvimento da
arquitetura brasileira. Em comparação com os Estados Unidos,
com sua segiiência de grandes precursores a partir de 1880 — Ri-
chardson, Louis Sullivan, F. L. Wright —, o Brasil está encontrando
sua expressão arquitetônica própria com uma rapidez surpreen-
dente. Sem dúvida, a vinda de Le Corbusier ao país, em 1936, aju-
dou as vocações brasileiras a encontrar seu próprio caminho. Mas
Le Corbusier tinha visitado muitos outros países sem que nada re-
sultasse, salvo manchetes hostis nos jornais, como aconteceu certa
vez em Nova York.
Arquitetura moderna no Brasil, de Henrique Mindlin — ele pró-
prio um grande arquiteto brasileiro —, é uma contribuição valiosa,
que abre os olhos do mundo exterior para a arquitetura contempo-
rânea que está sendo feita no Brasil. O trabalho foi desenvolvido
de forma muito direta, tanto na introdução como, especialmente,
nos comentários breves e objetivos que acompanham as numerosas
ilustrações.
No Brasil, a arquitetura contemporânea deitou raízes no solo tro-
pical. Embora tenha surgido no momento em que grandes obras es-
tavam sendo projetadas, jamais perdeu o contato com seu passado
regional. Mas Henrique Mindlin também destaca a enorme impor-
tância que teve, para seu desenvolvimento posterior, a estada de um
mês de Le Corbusier no Brasil em 1936, quando trabalhou com um
grupo de jovens arquitetos brasileiros. As afinidades latinas talvez
sejam um dos motivos que explicam as relações estreitas que então
se estabeleceram entre eles. Outra razão provável é que, no Brasil,
desde muito cedo se havia começado a empregar o concreto arma-
do nas estruturas de grandes obras, em contraste com a tendência
reinante nos Estados Unidos, onde a arquitetura de grande enver-
gadura era baseada no emprego de estruturas metálicas.
O livro de Henrique Mindlin deixa evidente o florescimento da
arquitetura brasileira a partir dos anos 30. Mas o que mais chama
a atenção são os desenvolvimentos mais recentes, a partir dos anos
50 — em grande parte ignorados fora do Brasil. Assim, torna-se
agora possível comparar a obra dos arquitetos brasileiros contem-
porâneos com os métodos e realizações em outras partes do mun-
do. E o que se pode concluir?
Primeiramente, deve-se reconhecer que no Brasil se alcançou
um certo nível de realização que vem sendo mantido. Se certas ca-
racterísticas são claramente visíveis nas obras de algumas indivi-
dualidades excepcionais, elas não estão ausentes no nível médio da
produção arquitetônica. Isso não ocorre na maioria dos outros paí-
ses. Por exemplo: a maior párte dos arquitetos brasileiros parece
ser capaz de resolver os diversos problemas de um programa com-
plexo com uma planta baixa simples e concisa e cortes claros e
inteligentes.
Os arquitetos brasileiros têm também a coragem de desenvolver
linhas nítidas no exterior de suas construções. Eles sabem evitar a
rigidez, um perigo do qual não se tem conseguido escapar em ou-
tros países do hemisfério sul.
Em terceiro lugar, o Brasil já tinha a tradição de realçar a super-
fície de suas fachadas, tão submetidas à pressão do clima tropical,
por meio do tratamento estrutural das superfícies planas. Os arqui-
tetos contemporâneos reelaboraram essa tradição, incluindo em
seus projetos painéis externos vazados (página 58), cobogós (edifí-
cio Bristol de Lúcio Costa, 1948), azulejos utilizados de maneira
inovadora, e o brise-soleil. Esse tipo de tratamento de fachadas es-
tá relacionado a uma tendência mais geral que nos últimos anos se
tem manifestado também em outros países.
É ainda muito interessante a maneira como os arquitetos têm re-
solvido os problemas do espaço interno. Por detrás do caos dos arra-
nha-céus do Rio e de São Paulo, podemos perceber o resultado de
um dom inerente para articular volumes (por exemplo, o projeto de
Pedregulho de Reidy, 1951, página 142, e do Centro Técnico da
Aeronáutica de Niemeyer, 1947, página 134), particularmente nas
realizações recentes, como o Pavilhão de Exposições, no Ibirapuera,
de Oscar Niemeyer e outros, destinado a abrigar exposições de
esculturas. Neste caso, o mais interessante é o vão interno que a-
travessa três planos, abaixo e acima do pavimento térreo.
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Esperamos que em um futuro próximo os arquitetos brasileiros
assumam sua parte na tarefa de fazer evoluir a abóbada da nossa
época. Atualmente, estamos no processo de descobrir a forma es-
pecífica da abóbada do nosso tempo, que é diferente daquela de
todos os períodos anteriores. Mas aqui não é o lugar apropriado pa-
ra discutir esse problema. Fiz alguns comentários sobre a direção
em que estamos nos movendo, na minha análise da obra de Eduar-
do Catalano, do Centro de Conferências de Berlim de Hugh Stub-
bins, 1957, e da capela de Ronchamp de Le Corbusier, no meu pe-
queno livro Architektur und Gemeinschaft (Hamburgo, 1956). Es-
tas são obras que dão, talvez, a mais clara indicação das linhas se-
gundo as quais, penso eu, será possível encontrar a solução.
Qual é a relação de todo esse movimento com a natureza, no
meio ambiente onde ele acontece, com a sua exuberância tropical,
que podemos sentir quase que fisicamente? O Brasil também nos
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deu Burle Marx, um dos maiores arquitetos paisagistas do nosso
tempo. Burle Marx também é pintor. O que podemos aprender com
ele? A ele devemos a aplicação de superfícies estruturais horizon-
tais. Muitas vezes ele escolhe plantas simples, como aquelas que
encontramos no nosso próprio país, o lírio amarelo, por exemplo.
Ele as reúne em canteiros sinuosos, muitas vezes em forma de rim,
criando grandes superfícies coloridas de amarelo e laranja, como
podemos ver no jardim da casa de campo projetada por Henrique
Mindlin. É uma transposição de um princípio de organização da
pintura moderna para a natureza viva.
Espero que este livro ajude o mundo a ter uma melhor percep-
ção sobre o que ocorreu no Brasil durante as duas décadas mais im-
portantes de seu desenvolvimento arquitetônico.
Zurique, Doldertal, maio de 1956
S. GIEDION
Rio de Janeiro (fronstispício), com o
edifício do Ministério da Educação ao fundo.
Henrique Mindlin e a Arquitetura Moderna Brasileira
Lauro Cavalcanti
O Brasil e a Arquitetura Contemporânea
S. Giedion
Sumário
Nota do autor
Arquitetura Moderna no Brasil
Projetos de interesse histórico e obras em execução
CASAS, EDIFÍCIO RESIDENCIAIS,
HOTÉIS E CONJUNTOS HABITACIONAIS
Lúcio Costa, Casa de Argemiro Hungria Machado, 1942
Gregori Warchavchik, Casa de praia do conde Raul
Crespi, 1943
Rino Levi, Casa de Rino Levi, 1946
Aldary Henrique Toledo, Casa de José Pacheco de
Medeiros Filho, 1946
Gregori Warchavchik, Pavilhão de praia da sra. Jorge
Prado, 1946
Italo Eugênio Mauro, Casa de Italo Eugênio Mauro, 1947
Carlos Frederico Ferreira, Casa de fim de semana de Car-
los Frederico Ferreira, 1949
J. Vilanova Artigas, Casa de Heitor Almeida, 1949
J. Vilanova Artigas, Casa de J. Vilanova Artigas, 1949
Henrique E. Mindlin, Casa de campo de George Hime, 1949
Francisco Bolonha, Casa de campo do embaixador Hilde-
brando Accioly, 1950
Lina Bo Bardi, Casa de Lina e P. M. Bardi, 1951
Sergio W. Bernardes, Casa de Jadir de Souza, 1951
Oswaldo Corrêa Gonçalves, Casa de Osmar Gonçalves,
1951
Olavo Redig de Campos, Casa do embaixador Walther
Moreira Salles, 1951
Sergio W. Bernardes, Casa de campo de Guilherme Bran-
di, 1952
Arnaldo Furquim Paoliello, Casa de Domingos Pires de
Oliveira Dias, 1952
Affonso Eduardo Reidy, Casa de Carmen Portinho, 1952
Sergio W. Bernardes, Casa de campo de Lota de Macedo
Soares, 1953
Oswaldo Artur Bratke, Casa de Oswaldo Artur Bratke,
1953
Oswaldo Artur Bratke, Atelier e casa de hóspedes, 1953
Lygia Fernandes, Casa de João Paulo de Miranda Neto,
1953
Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Casa de. Milton
Guper, 1953
Oscar Niemeyer, Casa de Oscar Niemeyer, 1953
José Bina Fonyat Filho e Tercio Fontana Pacheco, Casa de
campo de João Antero de Carvalho, 1954
Thomaz Estrella, Jorge Ferreira, Renato Mesquita dos San-
tos e Renato Soeiro, Casa de Stanislav Koslowski, 1954
Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Casa de Olívio Go-
mes, 1954
Olavo Redig de Campos, Casa de campo de Geraldo Bap-
tista, 1954
Paulo Antunes Ribeiro, Casa de Paulo Antunes Ribeiro, 1955
SUMÁRIO
19
21
23
37
so
51
s2
68
69
mn
74
76
78
so
83
86
88
91
92
94
96
Paulo Antunes Ribeiro, Casa de Ernesto Waller, 1955
Paulo Everard Nunes Pires, Paulo Ferreira dos Santos e
Paulo de Tarso Ferreira dos Santos, Casa de Martin
Holzmeister, 1955
Miguel Forte e Galiano Ciampaglia, Casa de Luiz Forte, 1955
Henrique E. Mindlin, Casa de campo de Lauro Souza
Carvalho, 1955
Alvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho, Edifício Esther,
1938
Gregori Warchavchick, Edifício residencial, 1939
Helio Uchôa, Edifício residencial Luiz Felipe, 1945
M.M.M. Roberto, Edifício residencial em Botafogo, 1947
Lúcio Costa, Edifícios residenciais Nova Cintra, Bristol e
Caledonia no Parque Guinle, 1948 — 1950 — 1954
J. Vilanova Artigas, Edifício residencial Louveira, 1950
Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Edifício residencial
Prudência, 1950
Henrique E. Mindlin, Edifício Três Leões, 1951
Jorge Machado Moreira, Edifício residencial Antonio
Ceppas, 1952
Plinio Croce e Roberto Aflalo, Edifício residencial Biaçá,
1953
Oscar Niemeyer, Grande Hotel em Ouro Preto, 1940
Lucio Costa, Park Hotel, 1944
M.M. Roberto, Colônia de Férias, 1944
Paulo Antunes Ribeiro e Diogenes Rebouças, Hotel da
Bahia, 1951
Oscar Niemeyer, Unidade habitacional tipo A do Centro
Tecnológico da Aeronáutica, 1947
Oscar Niemeyer, Unidade habitacional tipo B do Centro
Tecnológico da Aeronáutica, 1947
Oscar Niemeyer, Unidade habitacional tipo CI do Centro
Tecnológico da Aeronáutica, 1947
Oscar Niemeyer, Unidade habitacional tipo C2 do Centro
Tecnológico da Aeronáutica, 1947
Carlos Frederico Ferreira, Conjunto habitacional para
operários, 1949
Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu-
lho, plano geral, 1950
Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu-
lho, bloco A, 1950-52
Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu-
lho, blocos B-1 e B-2, 1950-52
Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu-
lho, Escola primária e Ginásio, 1950-52
Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu-
lho, Lavanderia e Mercado, 1952
Affonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu-
lho, Centro de Saúde, 1950-52
Francisco Bolonha, Conjunto residencial de Paquetá,
1952
ESCOLAS, HOSPITAIS, IGREJAS, PRÉDIOS
ESPORTIVOS E DE RECREAÇÃO, MUSEUS
E PAVILHÕES DE EXPOSIÇÕES
Carlos Frederico Ferreira, Escola primária, 1949
Francisco Bolonha, Jardim de infância em Vitória, 1952
Eduardo Corona, Colégio secundário na Penha, 1952
M. M. Roberto, Escola de aprendizado industrial, 1953
98
100
102
106
108
109
no
12
16
18
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156
158
160
162
19
Helio Queiroz Duarte e E. R. de Carvalho Mange, Escola
de aprendizado industrial Anchieta, 1934
Oscar Niemeyer, Obra do Berço, 1937
Francisco Bolonha, Hospital Maternidade, 1951
Escritório Técnico da Cidade Universitária da Universi-
dade do Brasil, Escola de Puericultura, 1953
Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Instituto Central do
Câncer (Hospital Antonio Candido de Camargo), 1954
Firmino F. Saldanha, Hospital dos Marítimos, 1955
Oscar Niemeyer, Igreja de São Francisco, 1943
Francisco Bolonha, Capela de Santa Maria na casa de
campo do embaixador Hildelbrando Acci 1954
Alcides Rocha Miranda, Elvin McKay Dubugras e Fernan-
do Cabral Pinto, Pavilhão do Altar do XXXVI Congres-
so Eucarístico, 1955
Oscar Niemeyer, Casa do Baile, 1942
Oscar Niemeyer, Cassino, 1942
Oscar Niemeyer, late Clube, 1942
Affonso Eduardo Reidy, Teatro popular Marechal Hermes,
1950
Pedro Paulo Bastos, Rafael Galvão, Antônio Dias Carneiro
e Orlando Azevedo, Estádio Municipal do Maracanã,
1950
Ícaro de Castro Mello, Piscina coberta, 1952
Olavo Redig de Campos, Pavilhão de natação da casa de
campo de Homero Souza e Silva, 1955
Wit Olaf Prochnik, Pavilhão de natação na casa de campo
de Alfredo Baumann, 1955
Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, com Paul Lester Wiener,
Pavilhão Brasileiro da Feira de Nova York, 1939
Lina Bo Bardi, Museu de Arte de São Paulo, 1947
Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchôa e Eduardo
Kneese Mello, Palácios das Nações e dos Estados no
Parque Ibirapuera, 1951
Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchôa e Eduardo
Kneese Mello, Palácio da Indústria no Parque do
Ibirapuera, 1953
Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchôa e Eduardo
Kneese Mello, Palácio das Artes no Parque do
Ibirapuera, 1954
Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchôa e Eduardo
Kneese Mello, Palácio da Agricultura no Parque do
Ibirapuera, 1955
Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchôa e Eduardo
Kneese Mello, Grande marquise no Parque do
Ibirapuera, 1951
ADMINISTRAÇÃO, COMÉRCIO E INDÚSTRIA
M. M. Roberto, Edifício da Associação Brasileira de Im-
prensa — Edifício Herbert Moses, 1938
Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Carlos Azevedo Leão, Jorge
Moreira, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcelos ,
Le Corbusier (consultor), Ministério da Educação e
Saúde, 1937-1943
Alvaro Vital Brazil, Instituto Vital Brazil, 1941
M. M. Roberto, Edifício do Instituto de Resseguros do
Brasil, 1942
164
168
170
176
180
182
184
186
188
192
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212
214
215
216
218
222
Eduardo Kneese de Mello, Edifício Leonidas Moreira,
1944
Oscar Niemeyer, Edifício do Banco Boavista, 1946
Jorge Ferreira, Restaurante do Instituto Osvaldo Cruz
(Manguinhos), 1948
Alcides Rocha Miranda, Oficinas, 1948
Aberlado de Souza, Galiano Ciampaglia, Helio Queiroz
Duarte, Jacob Ruchti, Miguel Forte, Rino Levi,
Roberto Cerqueira Cesar e Zenon Lotufo, Sede do
Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento de
São Paulo, 1948
Paulo Antunes Ribeiro, Edifício Caramuru, 1946
M.M.M. Roberto, Edifício Seguradoras, 1949
M.M.M. Roberto, Unidade industrial da SOTREQ, 1949
Oscar Niemeyer e Helio Uchôa, Fábrica da indústria de
alimentos Duchen, 1950
Alvaro Vital Brazil, Edifício do Banco da Lavoura, 1951
Lucjan Komgold, Castelo d'água (fábrica da indústria
farmacêutica Fontoura Wyeth S.A., 1953
TRANSPORTE, URBANISMO
E PAISAGISMO
ilio Corrêa Lima, Estação de Hidros (estação de hidro-
aviões), 1938
M.M. Roberto, Aeroporto Santos Dumont, 1944
J. Vilanova Artigas, Terminal Rodoviário de Londrina,
1951
Comissão do Plano do Rio de Janeiro, Plano Diretor do
Rio de Janeiro, 1938-1948
Affonso Eduardo Reidy, Plano de urbanização da área do
antigo morro de Santo Antônio, 1948
Henrique E. Mindlin, Projeto de urbanização da Praia
Pernambuco, 1953
Escritório Técnico da Cidade Universitária da Universida-
de do Brasil, Plano Geral da Cidade Universitária —
Universidade do Brasil, 1955
Carlos Perry, Jardim da casa de Og de Almeida e Silva, 1951
Jardim da casa do juiz Ranulpho Bocayuva Cunha, 1951
Jardim da casa de Alberto Lee (arquiteto Sergio Ber-
nardes), 1954
Roberto Burle Marx, Esboço do jardim da praça Arthur
Oscar, 1936
Esboço do jardim da casa de campo de Antonio Leite
Garcia, 1942
Jardim da residência do embaixador do Canadá, 1944
Roberto Burle Marx, Jardim da casa de campo da sra. Jú-
lio Monteiro, 1947
Roberto Burle Marx, Jardim da casa de campo de Carlos
Somlo, 1948
Roberto Burle Marx, Jardim da Capela da Jaqueira, 1954
PROJETOS COMPLEMENTARES
1956-1960
Lista dos arquitetos
Bibliografia
Fotógrafos
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285
286
NOTA DO AUTOR
Este trabalho foi concebido inicialmente como um suplemento ao
livro Brazil Builds, de Philip E. Goodwin, uma magnífica apresen-
tação da antiga e da nova arquitetura no Brasil, publicado pelo Mu-
seu de Arte Moderna de Nova York, e ilustrado com esplêndidas
fotografias de G. E. Kidder Smith. No entanto, como Brazil Builds
está esgotado há vários anos, decidiu-se mais tarde incluir aqui al-
guns dos exemplos mais importantes ali mostrados anteriormente.
Assim, será possível dar uma imagem mais completa do desenvol-
vimento da arquitetura moderna no Brasil, dos seus primórdios no
final dos anos 20 até os dias de hoje. Mas este livro não substitui o
belo trabalho de Goodwin, nem isso jamais esteve nas minhas
intenções.
O objetivo deste livro é antes apresentar, da forma mais condensa-
da e ordenada possível, por meio de um certo número de exemplos
selecionados, a imagem daquilo que o Brasil alcançou no campo da
arquitetura moderna, de modo a permitir um julgamento funda-
mentado, tanto por parte dos próprios arquitetos quanto dos críti-
cos daqui e do exterior.
A necessidade de cobrir uma ampla perspectiva em um número
preestabelecido de páginas impôs uma série de limitações na esco-
lha do material a ser apresentado. Não foi possível evitar a exclu-
são de um grande número de bons projetos, especialmente quando
suas características mais marcantes também estavam presentes em
outras obras que já ilustram este trabalho. O autor e os editores aco-
lherão de bom grado os comentários sobre eventuais falhas e erros
cometidos, para que possam ser corrigidos em edições futuras.
Gostaria, no entanto, de expressar aqui a minha profunda gratidão
a todos aqueles que me ajudaram, e que não são responsáveis por
tais erros: a Vera, minha mulher, que aceitou com paciência o sacri-
fício de todo o nosso tempo livre, sem o que eu nunca teria termi-
nado este trabalho; a Walmyr Lima Amaral, Samuel Levy, Anny
Sirakoff, Olga Verjovsky, Marc Demetre Foundoukas e Sérgio
Campos, do meu escritório, que me ajudaram a organizar, a classi-
ficar e a preparar o material para publicação; a Fernando Tabora,
João Távora, Herman Neves Apostolo, Jayme de Gouveia Veloso,
Jayme Leal, Wilson Azevedo Sergio, José Lopes Pires, Roberto
Radler de Aquino, também do meu escritório, que colaboraram na
preparação do livro; a Jorge Picorelli, que executou desenhos ur-
gentes quando o pessoal do escritório não estava disponível; a Zil-
da Ribeiro Bueno Ferreira, minha paciente secretária, que datilogra-
fou e redatilografou milhares de vezes estas páginas, e cuja insis-
tência junto aos arquitetos evitou atrasos inconvenientes; a meus
colegas que me ajudaram a obter o material indispensável, em es-
pecial a Renato Soeiro, Carmen Portinho, Lygia Fernandes e Gian-
carlo Palanti, assim como a J. Faria Góes, Marcos Jaimovich, José
Simeão Leal, Oscar Ciampiglia e Antonio Joaquim de Almeida; a
Lota de Macedo Soares, que me permitiu usar o magnífico estúdio
de sua casa em Samambaia; a Elisabeth Bishop, que traduziu para
o inglês o original em português da introdução e dos primeiros co-
mentários dos exemplos, sacrificando um tempo que seria melhor
empregado no seu próprio trabalho, visto que sua poesia lhe valeu
o Prêmio Pulitzer de Poesia de 1956; a John Knox, que passou por
um angustiante processo de tradução da grande parte restante; a
Adolfo Casais Monteiro e Rachel Moacyr, aos quais coube a pe-
nosa tarefa de fazer a tradução francesa em um prazo extremamen-
te curto; a Marcel Gautherot, Jean Manzon, Léon Liberman, Mary
Shand e aos demais fotógrafos, cujas belas provas enriquecem este
livro; ao sr. e sra. Finn Engersen, sr. e sra. Alan Fisher e sr. Ronald
Bottrall, pelas diversas sugestões e comentários; a Lúcio Costa,
Mário Pedrosa, Mário Barata, Hernani Tavares de Sá, Wladimir
Alves de Souza e William Atkin, pela paciente leitura do texto,
bem como pelas numerosas correções; a Claude Vincent, pelos tex-
tos sobre os jardins de Roberto Burle Marx; a Rodrigo Mello
Franco de Andrade e a Carlos Drummond de Andrade, que me for-
neceram importantes fontes; à KLM Royal Dutch Airlines, por sua
ajuda no transporte de materiais insubstituíveis; e por fim, mas cer-
tamente não por último, a Walter Geyerhahn, que me instigou a es-
crever este livro; a J. R. Meulenhoff, J. Somerwil e H.P. Doebele,
aos quais este livro deve a beleza de sua apresentação; a Osmar
Castro, pelo projeto gráfico, mesmo que tenha sido seguido apenas
em parte na fase final da impressão, e a tantos outros cujo nome não
citei, simplesmente porque seria impossível fazê-lo neste espaço.
HEM.
24
guarda, e de uma série de conferências e recitais de dança e música
realizados no imponente Teatro Municipal de São Paulo, anunciou
alto e bom som “o espírito dos novos tempos”. Mas, apesar de tudo,
a Semana era também uma importação européia. Talvez o problema
não pudesse ser definido como uma simples oposição de termos
como “passadismo” e “futurismo” — um futurismo que não era, na
realidade, o do italiano Marinetti, e sim uma mistura de tudo o que
era novo e atual. De toda forma, a Semana de Arte Moderna trouxe
consigo o germe de um autêntico renascimento que, com o tempo,
iria estabalecer uma relação com os mais altos valores da vida bra-
sileira, com as fontes do passado, com a terra e com o povo. De iní-
cio, porém, rapidamente pipocaram movimentos radicais, ansiosos
por encontrar uma expressão independente e nacional e por alcançar
uma libertação ainda maior das influências européias através da cria-
ção artística brasileira. Um deles foi o Movimento Antropofágico
de 1928, que tentava encontrar na cultura indígena, anterior ao des-
cobrimento, uma espontaneidade independente de qualquer esforço
“civilizador”, português ou europeu”.
A arquitetura logo sentiu o impacto da Semana de Arte Moder-
na. Em 1925, Gregori Warchavchik lançou em jornais de São Paulo
e do Rio” seu manifesto “Acerca da Arquitetura Moderna” citando
o famoso slogan de Le Corbusier, “a casa é uma máquina de mo-
rar”. Nesse mesmo ano, Rino Levi, ainda estudante em Roma, publi-
cou no Estado de S. Paulo (o mesmo jornal que três anos antes ha-
via anunciado que suas colunas estavam abertas a todos os que de-
fendiam o nosso patrimônio artístico combatendo a arte moderna)
um artigo em que se defendia a necessidade de se levar em conta a
realidade brasileira no indispensável e urgente planejamento urba-
no. Em 1927, com a realização do concurso para a escolha do pro-
jeto do Palácio do Governo do Estado de São Paulo, Flávio de Car-
valho escandalizou a opinião pública com seu projeto “modernis-
ta”, no qual estava prevista a construção de um abrigo antiaéreo.
Em 1928, Warchavchik expôs sua primeira casa moderna, que
atraiu milhares de visitantes e a ira dos professores.
Assim, quando Le Corbusier passou pela primeira vez por São
Paulo e pelo Rio, em 1929, na volta de uma viagem à Argentina e
ao Uruguai, encontrou o terreno mais ou menos preparado. Fez di-
versas conferências e, em São Paulo, foi recebido oficialmente na
Câmara Municipal, com discursos cerimoniosos e convite para
sentar-se à Mesa Diretora como convidado de honra, o que parece
tê-lo deixado bastante impressionado". O presidente do estado, Jú-
lio Prestes, candidato à presidência da República, bastante a par
das atividades de Le Corbusier, discutiu com ele as obras de urba-
nização que planejava executar.
No entanto, em 1930, a revolução liderada por Getúlio Vargas
impôs um novo regime e um novo estado de espírito. O movimen-
to de 30 foi desencadeado sobretudo por jovens militares e civis, e
lançou um sopro renovador em todos os setores da vida política,
social e econômica do país.
Esse período de mudança e excitação teve, naturalmente, refle-
xos na arquitetura. Lúcio Costa foi nomeado diretor da Escola Na-
cional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e empreendeu uma refor-
ma radical de seu currículo, até então baseado na École des Beaux
Arts. Gregori Warchavchik e A. Budeus foram convidados a ocu-
par as cadeiras do quarto e quinto ano de Projeto Arquitetônico.
Mas a reforma de Lúcio Costa, na verdade, não chegou a sair do
papel. Um incidente em sala de aula deu aos elementos reacioná-
rios o pretexto para demitir o jovem diretor em menos de um ano.
Seguiu-se uma greve, inicialmente sem importância, mas que rapi-
damente se transformou em um movimento estudantil em defesa
das novas idéias artísticas e se articulou na proposta de criação de
uma escola independente. A greve durou seis meses e, ao retornar
às aulas, os estudantes tinham obtido uma vitória em sua luta con-
Profeta na frente da Igreja do Nosso Senhor do Bom Jesus de Matosinho,
Congonhas do Campo, Minas Gerais, 1800-04, Antônio Francisco Lisbôa
k
EmA AD
Velhos telhados, São Luis, Maranhão, fins do século XVII e começos do XIX
tra o academicismo e em favor do progresso nas artes. Do grupo de
futuros arquitetos que viveu essa fase, certamente a fase “herói
da arquitetura brasileira, e que recebeu o apoio da maioria absoluta
dos estudantes, faziam parte Luiz Nunes (cuja morte prematura cei-
fou uma carreira promissora), Jorge Machado Moreira, Renato Vile-
la, Carlos Leão, Annibal Mello Pinto, Ernani Mendes de Vasconcel-
los, Orlando Dourado, Raul Marques de Azevedo, Mário Camargo
de Penteado, Edison Nicoll, José Carvalho de Castilhos, Regina
Reis, Galdino Duprat da Costa Cunha Lima, Antônio Osório Jordão
de Brito, José Regis dos Reis, Benedito de Barros, Alcides Rocha
Miranda, Ary Garcia - Roza, João Lourenço da Silva, Lauro Barboza
Coelho, Eugênio Proença Sigaud, Aldo Garcia - Roza, Antônio Pinto,
Ruy Costa, Francisco Saturnino de Brito e Edgard Guimarães do
Valle. O grupo foi inicialmente liderado por Luiz Nunes e em segui-
da por Jorge Moreira. Mais tarde esses homens iriam ajudar a apoiar
as reivindicações das novas gerações de estudantes que se lhes su-
cederam na Faculdade Nacional de Arquitetura.
No entanto, a reação às novas idéias naturalmente fez com que
elas fossem sendo postas em prática lentamente, e os arquitetos
mais avançados tinham poucas oportunidades de trabalho. O curso
dos acontecimentos foi interrompido pela Revolução Constitucio-
nalista de 1932, em São Paulo, e somente a partir de 1934 os gran-
des planos de construção do governo Vargas puderam ser empreen-
didos. Em 1935 foram realizados os primeiros estudos para a Ci-
dade Universitária do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, foi anun-
ciado um concurso público para o projeto do novo edifício do Mi-
nistério da Educação e Saúde. Em uma atmosfera de indecisão ar-
tística generalizada, os prêmios foram dados a projetos puramente
acadêmicos, enquanto trabalhos de real valor, dentro de um espíri-
to moderno, apresentados por um grupo de jovens artistas, foram
desclassificados. Foi então que se produziu um desses fatos inespe-
rados que muitas vezes mudam o curso da história. O ministro da
Educação, Gustavo Capanema, inspirado por uma mistura de vi-
são, audácia e bom senso que o caracterizava, tomou a decisão pes-
soal que mais contribuiu para o desenvolvimento da arquitetura
moderna no Brasil. Apoiado na opinião de vários críticos respeita-
dos, em particular Mario de Andrade, Carlos Drummond de Andra-
de, Rodrigo Mello Franco de Andrade e Manuel Bandeira, e tam-
bém na de M. Piacentini, arquiteto italiano que tinha vindo colabo-
rar no projeto da Cidade Universitária”, Capanema, depois de pre-
miar os ganhadores, pediu a Lúcio Costa, um dos desclassificados,
que apresentasse um novo projeto. A pedido deste, o convite foi
estendido aos outros arquitetos desclassificados. Formou-se então
um novo grupo, sob a liderança de Lúcio Costa, composto por Car-
los Leão, Jorge Moreira e Affonso Eduardo Reidy, ao qual logo se
juntaram Oscar Niemeyer e Ernani Vasconcellos. O novo projeto
do Ministério da Educação e Saúde foi apresentado em maio de
1936. Em junho, Lúcio Costa sugeriu que Le Corbusier fosse con-
vidado a opinar sobre ele, assim como sobre o projeto da Cidade
Universitária. O convite foi transmitido por um velho conhecido,
Alberto Monteiro de Carvalho. Le Corbusier aceitou, veio ao Rio
e durante cerca de um mês trabalhou em estreita colaboração com
a equipe de jovens arquitetos, estudando as alternativas sugeridas.
No início mostrou-se contrário à localização escolhida, na Espla-
nada do Castelo, uma área nova destinada à construção de prédios
comerciais, e sugeriu uma outra, à beira-mar, próxima do Aero-
porto Santos Dumont, para a qual fez um estudo. Mais tarde, fez
outro estudo para o local que inicialmente havia rejeitado. Prepa-
rou também, em poucos dias, uma esplêndida sugestão preliminar
para a Cidade Universitária, em uma localização posteriormente
abandonada. Ao mesmo tempo que ensinava e inspirava seu grupo
de colaboradores mais imediatos, suas idéias alcançavam maior
audiência, graças a seis conferências que fez durante as duas pri-
meiras semanas de agosto. Nas palavras de Le Corbusier, as novas
Velha rua, São Luis, Maranhão, fins do século XVII e começos do XIX
27
obras da arquitetura européia, que Alberto Monteiro de Carvalho,
A. Szilard e outros tinham pacientemente tentado expor aos seus
colegas que não tinham viajado para o exterior, ganhavam vida e
alma. Sua estada no Rio teve portanto um enorme valor instrutivo
e uma inesquecível e duradoura influência.
Após sua partida, a equipe brasileira continuou trabalhando no
projeto até sua conclusão em janeiro de 1937. A versão final do
projeto, uma variante da versão de Le Corbusier, mostrou os bene-
fícios dessa associação produtiva, assim como o grande talento dos
arquitetos brasileiros e sua capacidade de assimilação inteligente
das idéias do mestre. Era uma obra acabada, um monumento da
arquitetura contemporânea, de um grau de excelência incompará-
vel. O Ministério da Educação e Saúde se impõe, não só no Brasil,
mas no mundo ocidental, como uma contribuição definitiva à heran-
ça artística do nosso tempo.
Em 1939 Lúcio Costa deixou a direção da equipe, continuando,
no entanto, como consultor. Na ocasião, Oscar Niemeyer foi esco-
lhido pelos demais membros do grupo para substituí-lo. A extra-
ordinária carreira de Niemeyer, um caso genuíno de superação das
primeiras expectativas, teve início nessa época. Em sua obra imagi-
nativa e personalíssima o estilo internacional moderno dá lugar a um
estilo profunda e instintivamente adaptado ao meio brasileiro. Sua
crescente influência pode ser notada nos trabalhos da maioria dos
jovens. Niemeyer é reconhecido internacionalmente como nenhum
outro arquiteto brasileiro. Em 1947, participou do grupo convidado
para projetar a sede das Nações Unidas em Nova York. Seu estudo,
juntamente com o de Le Corbusier, serviu de ponto de partida para
o projeto final. Em 1955 foi convidado para participar do projeto de
uma nova área em Berlim, o distrito de Hansa, onde será realizada a
Exposição Internacional de Arquitetura de 1958, para a qual proje-
tou um prédio de apartamentos, como também o fizeram Van der
Rohe, Gropius, Le Corbusier e Aalto. Nesse mesmo ano projetou o
Museu de Arte Moderna de Caracas, na Venezuela.
Uma fachada em azulejo, Alcantara, Maranhão, começos do século XIX
Em fevereiro de 1937, ano em que começou a construção do
Ministério da Educação e Saúde, Attilio Corrêa Lima obteve o pri-
meiro lugar no concurso para a Estação de Hidros. Embora ressal-
vando a insuficiência dos desenhos apresentados, o júri teve a pers-
picácia de outorgar-lhe o primeiro prêmio, decisão plenamente jus-
tificada pelas qualidades e beleza mostradas após a conclusão das
obras. Pioneiro da nova arquitetura e urbanista avançado, Attilio
Corrêa Lima não pôde, infelizmente, desenvolver sua obra. Perdeu
a vida, junto com alguns dos mais destacados escritores e cientis-
tas brasileiros, em um acidente de aviação, junto à sua Estação de
Hidros, em 27 de agosto de 1943. Milton Roberto foi outro pionei-
ro, competente e corajoso, que morreu alguns anos depois, ainda
jovem, vítima de um ataque cardíaco em 15 de julho de 1953,
quando presidia uma sessão do Instituto de Arquitetos do Brasil.
28
Em junho de 1936, Marcelo e Milton Roberto venceram o concur-
so para a sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o pri-
meiro edifício no qual foram experimentadas as possibilidades dos
brise-soleil fixos (ver página 216). O prédio da Obra do Berço, de
Niemeyer, concluído em 1937, ofereceria mais tarde o primeiro
exemplo de integração do brise-soleil móvel na arquitetura.
A escolha de arquitetos para edifícios públicos através de con-
cursos, de acordo com regras estabelecidas pelo Instituto de Arqui-
tetos do Brasil, tornou-se uma prática cada vez mais corrente, que
resultou em boas seleções. O concurso para o Pavilhão do Brasil na
Feira Mundial de Nova York foi vencido em 1938 por Lúcio Costa,
que, no entanto, ao perceber que o projeto de Oscar Niemeyer era
excepcionalmente interessante, convidou-o para uma parceria na
elaboração do projeto definitivo, num exemplo extraordinário de
consciência profissional. Juntos, eles elaboraram um novo projeto
Grandjean de Montigny, Academia Imperial de Belas Artes, Rio de Janeiro,
1826 (Mais tarde abrigou o Ministério da Fazenda). O andar superior foi
acrescentado posteriormente
em Nova York. O Pavilhão do Brasil, concluído em 1939, tornou-
se uma das mais populares atrações da feira, sendo considerado por
muitos como um dos melhores exemplos da arquitetura moderna.
Os dois irmão Roberto tinham vencido, em 1937, o concurso para o
Aeroporto Santos Dumont, a ser construído na Ponta do Calabouço,
no Rio de Janeiro. Em 1942, H. Mindlin venceu o concurso para um
anexo do Palácio Itamaraty, e em 1944, Affonso Eduardo Reidy e
Jorge Moreira conquistaram o primeiro lugar no concurso para a
sede da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Em 1942, Philip L. Goodwin, autor, junto com Edward Stone,
do projeto do Museu de Arte Moderna de Nova York, veio ao Bra-
sil, como um novo explorador, a fim de preparar uma exposição de
arquitetura brasileira. Com ele veio G. E. Kidder Smith, hoje um
mundialmente famoso fotógrafo de arquitetura. A exposição orga-
nizada por Goodwin no Museu de Arte Moderna de Nova York em
1943, e seu fascinante livro Brazil Builds, o primeiro no gênero, re-
velaram uma nova produção, repleta de charme e novidade, a pri-
meira aplicação em larga escala dos princípios de Le Corbusier, Gro-
pius e Van der Rohe, uma arquitetura que se havia materializado
mais cedo em outras partes do mundo, na primeira fase da Arqui-
tetura Internacional, mas que no Brasil tinha agora encontrado sua
expressão artística. Houve um imediato e entusiástico reconheci-
mento externo, e o Brasil se deu conta de que a sua arquitetura moder-
na era uma das suas mais valiosas contribuições à cultura contem-
porânea. A partir daí, o homem comum, desconfiado e irônico por
natureza, começou a sentir orgulho de edifícios que a princípio tinha
considerado engraçados ou bizarros. Embora continuasse a tratá-los
por apelidos, privilégio do crítico da rua, fazia-o com secreta ad!
ração. Assim, esses edifícios se tornaram parte do profundo orgulho
e afeição que os habitantes sentiam por suas cidades.
Um número crescente de visitantes veio de outros países, em par-
ticular estudantes e arquitetos, jovens e velhos, curiosos para ver com
os próprios olhos as obras de seus colegas brasileiros. Repetindo o
que Frank Lloyd Wright fizera quinze anos antes (quando apoiou os
estudantes em greve no Rio), Richard Neutra provocou o entusiasmo
da jovem geração com conferências em que abordava com profundi-
dade os aspectos humanos e sociais da arquitetura. Paul Lester
Wiener e Jose Luis Sert foram convidados a projetar a Cidade dos
Motores para a empresa estatal Fábrica Nacional de Motores, e Sert
fez reviver o interesse nos trabalhos dos Congressos Internacionais
de Arquitetura Moderna (CIAM). Mais tarde, as bienais de São Paulo
de 1951, 1953 e 1955 passariam a apresentar, ao lado de grandes
mostras internacionais de artes plásticas, exposições de arquitetura
modema e trabalhos de estudantes. A participação de Siegfried
Giedion, Juno Sakakura e Mario Pani no júri da primeira Bienal, e de
Walter Gropius, Alvar Aalto e Emesto Rogers no da segunda (a ter-
ceira apresentou apenas trabalhos de estudantes e foi apreciada por
um júri local), estabeleceu estreito contato com o movimento inter-
nacional. As revistas estrangeiras publicaram mais e ma
sobre a arquitetura brasileira e dedicaram-lhe números espe:
A julgar pelas aparências, o movimento moderno tinha triunfado no
Brasil. Infelizmente, as aparências enganam. Ainda há muito por fazer
antes que a presença essencial do arquiteto, sua função como organi-
zador do espaço urbano possa atingir a grande massa da população.
Nos últimos quinze anos, um conjunto apreciável de obras de
valor indiscutível foi realizado, apesar das limitações impostas pela
incipiente produção industrial do país. Mas essas conquistas foram,
em certa medida, prejudicadas pelo grande número de obras de qua-
lidade duvidosa, que traem uma incompreensão dos princípios fun-
damentais da arquitetura moderna. Esse é um resultado inevitável da
elevadíssima taxa de edificação inerente ao desenvolvimento econô-
mico brasileiro. Mesmo considerando as leis das variações em tono
da média, ainda continuou-se a construir edificações de qualidade
inferior, até que decorresse tempo suficiente para que pontos de vista
mais corretos fossem aceitos e para que técnicas construtivas mais
eficientes fossem adotadas. Ainda assim, até mesmo as construções
contemporâneas de qualidade inferior mostram que os imitadores
estão procurando, à sua maneira, seguir o bom caminho.
Por outro lado, o crescimento descontrolado das cidades e a ex-
pansão industrial vieram expor uma necessidade gritante de planeja-
mento urbano. Na verdade, a despeito dos detalhados decretos reais
referentes à implantação de novas cidades trazidos pelos primeiros
colonizadores portugueses, não há nenhum registro histórico de
planejamento urbano em larga escala no Brasil. Muito embora, e tão
surpreendentemente quanto possa parecer, Recife tenha pavimentado
suas calçadas antes de Paris”, nunca houve, nos tempos da colônia ou
do Império, nenhuma tentativa consistente de planejamento urbano,
sequer um exemplo isolado de importância comparável às experiên-
cias do Renascimento e do Barroco na Europa. Somente nos nossos
dias, sob pressão dos efeitos perniciosos da ausência de planejamen-
A reação neocolonial, Solar de Monjope, projetado pelo proprietário, José
Marianno Filho, Rio de Janeiro, 1926
to, se tem sentido a necessidade de ordenar as ruas, de combater os
engarrafamentos organizando a circulação de veículos, de implantar
o zoneamento do solo urbano e de sistematizar a cidade, para que ela
possa servir à vida moderna de forma adequada e agradável. Esse tra-
balho lento e penoso é, obviamente, dificultado por um grande nú-
mero de interesses conflitantes que precisam ser reconciliados. Além
disso, a velocidade de crescimento das grandes cidades e a urgência
de solução dos seus problemas imediatos são tais que se torna quase
impossível empreender, em um futuro próximo, as modific: i
cais exigidas por um plano diretor. As novas cidades (Londrina,
Marília etc.) cresceram sob pressão dos interesses imobil
Escola de Grandjean de Montigny, Prédio situado no nº 38 da praça Servulo
Dourado, Rio de Janeiro, 1848
29
Escola de L. L. Vauthier, no nº 36 da rua Rosa e Silva, Recife, Pernambuco,
meados do século XIX
º - mM war o
ERRA
ANN
4 E a
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diatistas e estão-se expandindo a uma taxa tão elevada que não con-
seguiram fazer muito mais em termos de planejamento urbano do
que as cidades mais antigas. No entanto, algumas cidades tentaram
elaborar planos diretores sistemáticos. A primeira a fazê-lo foi São
Paulo, cujas autoridades municipais publicaram um “Plano de Ave-
nidas da Cidade de São Paulo” elaborado por Prestes Maia em
1930. Ainda no fim desse ano, o urbanista francês Alfred Agache,
que tinha sido contratado pelo prefeito Antônio Prado Jr. em 1927,
apresentou um plano para o Rio de Janeiro, cujo principal mérito
foi alertar as autoridades municipais para as vantagens de um plano
geral sobre os planos parciais até então considerados. Seu plano foi
revogado em 1934, sob o argumento de que demandaria cinquenta
anos para ser implementado, mas foi retomado em 1938 com a cria-
ção da Comissão do Plano da Cidade. O desmonte do morro do
Castelo, realizado anteriormente para propiciar uma nova área para
a expansão do centro da cidade, tinha sido um exemplo de coragem
no trato dos problemas de planejamento urbano. O mesmo se pode
dizer da abertura da avenida Presidente Vargas, de acordo com um
projeto segundo o qual os lucros trazidos pelo aumento do valor
dos terrenos foram revertidos diretamente para os cofres do municí-
pio, e não para uns poucos e felizardos proprietários. Nos dias que
correm, pode-se observar o desmonte do morro de Santo Antônio
e o aterro de uma longa faixa ao longo do Calabouço e das praias
do Flamengo e de Botafogo, para alargar avenidas e criar novas
áreas de estacionamento e jardim. Curiosamente, já em 1798, um
certo dr. Antônio Joaquim de Medeiros tinha sugerido que se
demolissem os morros do Castelo e de Santo Antônio, “ficando por
muita equidade o lugar do convento”. Aqui cabe, talvez, uma
menção ao plano de Belo Horizonte. A construção da nova capital
de Minas Gerais, uma cidade artificial, como Washington, come-
çou em 1898, e seu plano, elaborado por Aarão Reis, foi concluído
em 1903. Trata-se de uma trama quadrangular superposta a uma re-
de de diagonais que, pelo fato de não ter levado em conta a topo-
grafia da região, acabou fazendo com que vários bairros tenham
ruas com mais de 20% de inclinação.
Outros arquitetos e urbanistas cujos nomes estão associados a
planos diretores de cidades brasileiras devem ser mencionados: Atti-
lio Corrêa Lima (Goiânia e Niterói); Nestor de Figueiredo (Recife);
Edvaldo Paiva, Demétrio Ribeiro e Edgard Graef (Florianópolis);
estes últimos e mais Francisco Macedo, Nelson Souza e Francisco
Veronese (Caxias do Sul); José de Oliveira Reis (Ribeirão Preto);
Luiz Saia (Lins), e Léo Ribeiro de Moraes, autor de vários planos
para novas cidades em construção. Em 1950 a cidade de São Paulo
convidou Robert Moses, diretor do Departamento de Parques de
Nova York, para elaborar um “Programa de Melhoramentos
Públicos”, patrocinado pela International Basic Economy Corpo-
ration. Mais recentemente, a recomendação contida já na Consti-
tuição de 1891, de que a capital da República fosse transferida para
o interior do país, voltou à baila. A Comissão de Localização da
Nova Capital, presidida pelo marechal José Pessoa, escolheu o local
definitivo da futura capital no Planalto Central, no interior de Goiás,
a aproximadamente 900 quilômetros a nordeste do Rio de Janeiro, e
iniciou os estudos preliminares para o plano da cidade.
Uma outra questão da maior importância para o futuro da arqui-
tetura moderna deve ser mencionada: o problema do seu ensino.
Ligado inicialmente ao ensino de belas artes ou de engenharia ci-
vil, o ensino de arquitetura tornou-se independente em 1945 com a
criação de faculdades de arquitetura em várias universidades do
país. O principal meio de treinamento dos jovens arquitetos passou
a ser o trabalho em escritórios de arquitetura estabelecidos, em con-
tato direto com os problemas cotidianos da prática profissional, subs-
tituindo-se assim o antigo sistema de ateliers, herdado da École des
Beaux Arts. No entanto, até agora muito pouco foi feito para atua-
Gregori Warchavchik, Detalhe da casa de Antonio da Silva Prado Neto, São
Paulo, 1931
Evolução do projeto do ministério da Educação e da Saúde, Rio de Janeiro,
1936-37; a) Feito por um grupo de arquitetos brasileiros; b) Croqui de Le
Corbusier para a localização perto do aeroporto; c) Croqui de Le Corbusier
para a atual localização; d) Croqui final da feito pela equipe brasileira.
Le Corbusier, croqui da Ministério de Educação e Saúde na atual loca
Rio de Janeiro, 1936
lizar os currículos e dar vida aos métodos de ensino. As tentativas
de aplicar as teorias da Bauhaus, seja na sua forma original, seja
com as modificações sugeridas pela experiência norte-americana,
estão ainda confinadas a um ou dois casos isolados. Na verdade —
não por falta de bons professores, mas porque, por razões práticas,
os currículos ainda não estão integrados, especialmente no que se
refere aos aspectos criativos e artísticos —, o estudante de arquite-
tura de hoje ainda é, e continuará sendo, até que a situação melho-
re, exatamente o que foram seus colegas que criaram a arquitetura
moderna no Brasil: autodidatas.
Em contraste com esse estado de coisas, pode-se dizer que o pro-
blema da mão-de-obra está sendo tratado de forma mais sistemática
Luiz Nunes e Fernando Saturnino de Brito, Castelo d'água, Olinda, Pernam-
buco, 1937
e realista. A mão-de-obra (inicialmente de origem portuguesa e pos-
teriormente aprimorada, especialmente no Sul, durante o século XIX,
com a imigração italiana e alemã) sofreu bastante com a transição,
após a Primeira Guerra Mundial, de uma economia predominante-
mente agrária para uma crescente industrialização provocada pelas
dificuldades de importação impostas pela guerra. Essa transição exi-
giu igualmente a adaptação a novos métodos construtivos e a técni-
cas industriais, que no princípio era penosamente reiniciada cada vez
que se abria um novo canteiro de obras. Já na atualidade, dispõe-se de
um promissor programa de treinamento padronizado, constituído
pelas 107 escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI) espalhadas pelo país, com seus cerca de 30 mil alunos. Por
outro lado, as possibilidades e recursos da indústria local estão au-
mentando rapidamente, reduzindo assim a cada dia os problemas
técnicos de construção enfrentados pelo arquiteto. No passado, era pre-
ciso importar quase todas as ferramentas, equipamentos e materiais
Rino Levi, Interior do cinema Art Palácio
3. Livro de Posturas do Senado da Câmara da Cidade de Salvador, fl.4,
1696 (Robert Smith, “Documentos baianos”, Revista do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, Ministério
da Educação e Saúde, 1945, nº 9, p. 94). Mais tarde, em 1785, até mes-
mo as proporções dos andares, portas, janelas e balcões foram esta-
belecidas em regulamentos detalhados.
4. José Wasth Rodrigues, “A casa de moradia no Brasil Antigo”, Re-
vista do SPHAN, Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde,
1945, no 9, p. 160.
5. Robert Smith, loc. cit. Como afirmou o desembargador João Ro-
drigues de Brito a respeito das janelas com treliças da Bahia, no iní-
cio do século XVIII: “As gelosias também obstão à civilização, escon-
dendo o bello sexo ao masculino, para aparecer a furto sempre enver-
gonhado. A destruição deste esconderijo mourisco poria as senhoras
na posição de vestir-se melhor para chegarem às janelas, a sati
a natural curiosidade de verem, e serem vistas, e assim familiari:
do-se com o sexo masculino, não olharião como virtude o insocial re-
colhimento, que as faz evitar os homens, como a excomungados.”
Idem, p. 99.
6. Architecture Toscane ou Palais, Maisons et autres édifices de la
Toscane, mesurés et dessinés, par A. Grandjean de Montigny et A.
Famin, Architectes, anciens pensionnaires de |' Académie de France, à
Rome, Paris, Didot, 1815; reeditado em Nova York, em 1932, sob o
mesmo título, por The Pencil Points Press.
7. Gilberto Freyre, na introdução de “Casas de residência no Brasil”,
de L. L. Vauthier, Revista do SPHAN, Rio de Janeiro, 1943, nº 7, p.
109.
8. Essa reação também ocorreu em outros países americanos, como
consegiiência de um impulso nativista e regionalista, possivelmente
relacionado com a Doutrina Monroe (“A América para os america-
nos”). Em um plano mais estritamente arquitetônico, poder-se-ia esta-
belecer um estreito paralelo com os movimentos europeus, tais como,
na Inglaterra, o retorno de Norman Shaw ao estilo Queen Anne em
1890. Seu conteúdo mais positivo, magnificamente mostrado por
Gilberto Freyre no “Manifesto regionalista” (Recife, 1926), só tomou
sua forma definitiva na arquitetura mais tarde, com a tentativa de har-
monização entre os elementos regionais tradicionais e contemporâneos.
9. Durante a Semana de Arte Moderna de fevereiro de 1922, três apre-
sentações organizadas por Graça Aranha (1896-1931), Mario de An-
drade (1893-1945), Paulo Prado (1869-1943) e Ronald de Carvalho
(1893-1935) e realizadas nos dias 11, 15 e 17, foram dedicadas a: pin-
tura e escultura; literatura e poesia; filosofia e crítica moderna; e mú-
sica. Além dos já citados, participaram, entre outros: Villa-Lobos, Os-
wald de Andrade (1890-1945), Manuel Bandeira, Renato de Almeida,
Alvaro Moreyra, Ribeiro Couto, Rubens Borba de Moraes, Menotti del
Piccl Sérgio Milliet, Afonso Schmidt, Guiomar Novaes, René Thi-
ollier, Guilherme de Almeida e Cândido Motta Filho. Entre os artistas
que expuseram suas obras durante oito dias no foyer do Teatro Muni-
cipal estavam: o escultor Vitor Brecheret (1894-1955); os pintores
Sergio W. Bernardes, Pavilhão de Exposição da Companhia Siderúrgica
Nacional, Parque do Ibirapuera, São Paulo, 1954
Anita Malfatti, Di Cavalcanti (um dos primeiros a apoiar o movimen-
to), Oswaldo Goeldi, Regina Graz, J. F. de Almeida Prado; e os ar-
quitetos A. Moya e J. Preyrembel. No Movimento Antropofágico de
1928 os nomes de Raul Bopp, seu líder, e de Tarsila do Amaral devem
ser destacados.
10. 11 Piccolo, jornal italiano publicado em São Paulo, 14 de junho de
1925, e Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1º de novembro de 1925.
11. Na recepção na Câmara Municipal em 23 de novembro de 1929,
Le Corbusier foi proclamado por Goffredo da Silva Telles como uma
das mais preeminentes figuras dos círculos intelectuais franceses.
Depois de um breve discurso, Le Corbusier teve que sair antes do tér-
mino da sessão para sobrevoar a cidade. Correio Paulistano, São Pau-
lo, 24 de novembro, 1929, p. 12.
12. Mario de Andrade (1893-1945), grande escritor e crítico de arte e
de música, foi a figura preeminente do movimento em São Paulo. Car-
los Drummond de Andrade e Manuel Bandeira são dois dos maiores
poetas brasileiros contemporâneos. Rodrigo Mello Franco de Andrade
foi diretor do SPHAN, órgão responsável por incalculáveis realiza-
ções no estudo e proteção da nossa herança cultural.
13. L. L. Vauthier, “Casas de residência no Brasil”, série de cartas a
Cesar Daly, Revista do SPHAN, Rio de Janeiro, 1943, no 7, p. 177.
14. Adolfo Morales de los Rios Filho, Grandjean de Montigny e a
evolução da arte brasileira, Rio de Janeiro, A Noite, s. d., p. 47.
15. O aço já tinha sido usado no país no começo do século, e Belém
do Pará se orgulhava de ter um castelo d'água projetado por Gustave
Eiffel. Com o início da Primeira Guerra Mundial, sua importação se
tornou cada vez mais difícil, sendo rapidamente substituído por con-
creto armado. Atualmente, com o desenvolvimento da siderurgia no
país, estão abertas as portas para se experimentar as possibilidades
de emprego de estruturas metálicas.
16. O primeiro jardim de Roberto Burle Marx data de 1934 e pertence
à residência dos Schwartz, projetada por Lúcio Costa e Gregori
Warchavchik, que na época eram sócios. Em seguida, Burle Marx tra-
balhou em Recife de 1935 a 1937 (ver página 261). Em 1938, Attilio
Corrêa Lima já tinha projetado o jardim da Estação de Hidros (pági-
na 246) num estilo regional.
Roberto Burle Marx, Croqui de perspectiva, planta da praça da Independência,
João Pessoa, Paraíba, 1953
Oscar Niemeyer / Projeto apresentado no concurso para um estádio (stade
national) / 1941 Rio de Janeiro
Henrique Mindlin / Primeiro lugar no concurso para um novo prédio do
Ministério das Relações Exteriores / 1942 / Rio de Janeiro
Rino Levi / E A. Pestalozzi e Roberto Cerqueira Cesar / Maternidade da
Universidade de São Paulo / 1946 / São Paulo (em construção)
Giancarlo Palanti e Daniele Calabi / Orfanato da Liga das Mulheres Católicas
/ 1949 / São Paulo
Icaro de Castro Mello / Primeiro lugar no concurso do Esporte Club Sirio / São
Paulo (em construção)
Carlos Frederico Ferreira / Primeiro lugar no concurso da piscina coberta da
Sociedade Esportiva Palmeiras
Henrique Mindlin / Projeto de um hotel na Praia Vermelha / 1946 / Rio de
Janeiro
37
David Xavier Azambuja / O Palácio do Governo do Estado / 1952 / Curitiba,
Paraná
sa
Ary Garcia-Roza com Almir Gadelha, Aldo Garcia Roza e Waldir Leal da Costa
/ Primeiro lugar no concurso da nova sede do Banco do Brasil / 1951 / Rio de
Janeiro
Eduardo Kneese de Mello / edifício residencial Japurá / 1952 / São Paulo (em
construção)
Sergio W. Bernardes / Primeiro lugar no concurso da Capela de São Domingos
David Xavier Azambuja, Olavo Redig de Campos, F. A. Regis e Sergio Santos
Rodrigues / Centro Cívico / Curitiba, Paraná (em construção). No fundo e à
direita, o Palácio do Governo, à esquerda, o Palácio da Justiça; na frente, à
direita, a Assembléia Legislativa, à esquerda, os prédios que abrigam diversas
secretarias e departamentos do governo
Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar / Projeto de dois prédios para a
Companhia Nacional de Seguros de Vida São Paulo / 1952 / São Paulo
38
Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar / Alojamento dos Estudantes da
Universidade de São Paulo / 1953 / São Paulo
de “gia
!
Hi
111)
!
)
/
|
Henrique Mindlin (Holabird &Root & Burgee, associate architects) / Projeto
do Hotel Copan, Intercontinental Hotels Corporation / 1953 / São Paulo
Oscar Niemeyer / Edifício Copan em forma de S / 1953 / São Paulo (em cons-
trução)
Affonso Eduardo Reydy / Escola Experimental Brasil-Paraguai / 1953 /
Assunção, Paraguai (em construção)
José de Souza Reis e Alcides Rocha Miranda / Universidade de São Paulo /
Escola Normal / 1953 / São Paulo (em construção)
Marcos Konder Neto / Posto de Observação para corridas de lanchas / 1954 /
Rio de Janeiro
Oscar Niemeyer / Conjunto Governador Kubitschek / 1953-54 / Belo Horizonte,
Minas Gerais (em construção)
39
Flávio Marinho Rego / Projeto de conjunto habitacional para a Fundação da
Casa Popular em Deodoro / 1954 / Rio de Janeiro
Oscar Niemeyer / Colégio Estadual de Belo Horizonte / 1954 / Belo
Horizonte, Minas Gerais (em construção)
Henrique Mindlin / Primeiro lugar no concurso de projeto da sinagoga e cen-
tro comunitário e cultural da Congregação Israelita Paulista / 1954 / São Paulo
(em construção)
Oscar Niemeyer / Clube Diamantina / 1954 / Diamantina, Minas Gerais (em
construção)
Oscar Niemeyer / Edifício residencial de 12 andares / 1954 / Belo Horizonte, «a
Minas Gerais (em construção)
40
Oscar Niemeyer / Projeto de estação de rádio e de televisão para a TV-Rio /
1954 / Rio de Janeiro
Affonso Eduardo Reidy / Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro / 1954 /Rio
de Janeiro (em construção)
Jorge Wilheim / Santa Casa / 1954 / Jaú, São Paulo (em construção)
Abelardo de Souza / Projeto do Mercado do Brás / 1955 / São Paulo
(em construção)
Paulo Antunes Ribeiro / Projeto do conjunto residencial Anchieta feito para o
Banco Hipotecário Lar Brasileiro / 1954 / Rio de Janeiro
> Te, “6 NS
David Libeskind / Projeto do Conjunto Nacional, um centro comercial com
hotel e apartamentos / 1955 / São Paulo (em construção)
Oscar Niemeyer / Projeto do Museu de Arte Moderna / 1955 / Caracas,
Venezuela
GREGORI WARCHAVCHIK
Casa de praia do conde Raul Crespi/ 1943 / Guarujá, São Paulo
A exigiiidade dos terrenos, anteriormente mencionada, foi também
um problema nesta casa de férias e de fins de semana, construída
entre a rua e a praia em Guarujá. O arquiteto, um dos pioneiros do
movimento moderno no Brasil, superou o problema concentrando
O jardim em um único lado da casa e estendendo-o até ao lado da
sala de estar, através de um terraço coberto. Deste terraço que for-
ma, junto com a sala, um espaço em pilotis que suporta o bloco dos
quartos, uma escada móvel, que pode ser suspensa, conduz direta-
mente aos banheiros do andar superior, sem necessidade de passar
pela escada principal situada no hall. Todos os quartos são de fren-
te para o mar. Os banheiros são iluminados por uma clarabóia si-
tuada acima do corredor dos quartos. O tamanho e o número das
áreas de serviço e dos quartos de empregados, em torno do peque-
no pátio interior, mostram como é ainda relativamente fácil encon-
trar empregados domésticos no Brasil.
O telhado é em fibro-cimento ondulado e as persianas, em caixi-
lhos que se abrem para o exterior, são em madeira pintada com li;
tas coloridas, evocando barracas de praia.
I living
2 sala de jantar
3 bar
4 copa-cozinha
5 lavanderia
6 pátio de serviço
7 quarto de empregados
8 depósito
9 quarto
andar superior 1:400
térreo 1:400
47
RINO LEVI
Casa de Rino Levi, /1946 / São Paulo
Neste projeto que o arquiteto fez para a sua própria casa, a planta
é o resultado não só das dificuldades decorrentes das dimensões e
da forma irregular do terreno de esquina, como também de sua ori-
entação desfavorável. Como em São Paulo é necessária uma inso-
lação maior, a sala de estar dá para um pátio ensolarado o dia in-
teiro e os quartos, tanto os dos donos da casa como os dos empre-
gados, dão para pátios que recebem o sol da tarde. A área de recuo
em relação às duas ruas, exigido pela legislação municipal, recebeu
tratamento paisagístico que a integra à calçada, sem os muros ou
cercas habituais. Os jardins internos foram projetados por Burle
Marx, e a sua vista, protegida das ruas e dos vizinhos, proporciona
um alívio à paisagem monótona e plana da área circundante. Todos
os quartos têm ventilação cruzada controlada. Os banheiros e
vestiários são iluminados por uma clarabóia situada sobre o corre-
dor dos quartos. As janelas do living e da sala de jantar se abrem
para jardineiras a céu aberto, protegidas do exterior e do sol por
blocos de concreto pré-moldado vazados.
A área social (100 m?) foi concebida como um espaço contínuo, no
qual o hall de entrada é delimitado por uma estrutura de madeira
de 2,10 m de altura que se estende até o outro lado, passando por
cima da lareira. No lado do hall, ela é usada como um porta-casa-
cos; no living, como bar, estante de livros e escrivaninha.
Iiving
2 sala de jantar
3 jardineira
4 hall de entrada
5 quarto
6 suíte
7 quarto de empregada
8 copa-cozinha
9 garagem
10 depósito
planta 1:400
49
PER SAP NS E SR UR RP MM. ff 222.002.02220228020202000 a Aim e
ALDARY HENRIQUE TOLEDO
Casa de José Pacheco de Medeiros Filho / 1946 / Cataguases, Minas Gerais
Nesta casa em Cataguases, cidade onde também está o Hospital
Maternidade mostrado na p.168, o arquiteto aproveitou ao máximo
a inclinação do terreno para obter um arranjo espacial discreto e
ordenado e, ao mesmo tempo, repleto de movimentos, oferecendo
uma grande variedade de perspectivas interiores. O primeiro piso é
disposto em dois níveis, unidos por uma galeria aberta, que se
ae
FRA
e
|
so
estende até o terraço, de onde se pode descer ao jardim por uma
rampa ou por uma escada. Os detalhes da varanda, com sua ba-
laustrada contínua em madeira, passando pela frente dos esbeltos
suportes do telhado, contra um fundo de portas com venezianas,
são um exemplo característico de uso contemporâneo de elemen-
tos do passado.
andar superior: 1:500
I living
2 sala de jantar
3 copa-cozinha
4 quarto de costura
5 suíte
6 garagem
7 quarto de empregada
8 quarto
9 rouparia
10 solário
11 vazio da sala de jantar
12 quarto de vestir
GREGORI WARCHAVCHIK
Pavilhão de praia da sra. Jorge Prado/ 1946 / Guarujá, São Paulo
Em contraste com a casa de Aldary Toledo, este pequeno pavilhão,
que já é parte da vida social de São Paulo, mostra uma sofisticação
de outro tipo, parcialmente disfarçada pela extrema simplicidade
da sua construção: tijolos comuns, teto de sapê e piso feito de fatias
de toras de madeira assentadas no cimento. O teto e as venezianas
planta 1:400
Niving
2 bar
3 cozinha
4 depósito
das portas e das janelas foram feitos com trelhiça de palha e, para
simplificar a conservação, o projeto não incorporou o uso de vidro.
Atualmente ele é a sede do clube de praia Jequiti-Mar e é parte de
um grande projeto imobiliário de uma área conhecida como Praia
Pernambuco (ver p. 256).
J. VILANOVA ARTIGAS
Casa de Heitor Almeida / 1949 / Santos, São Paulo
Influenciado no início por Frank Lloyd Wright, Artigas rapida-
mente desenvolveu um ponto de vista muito pessoal, sem, contu-
do, abandonar o sentido de continuidade espacial que assimilou de
Wright. Na casa abaixo, este sentido é enfatizado não só pelo pátio
integrado ao volume da construção como um todo, mas também
pela rampa que une os dois blocos e que conduz ao escritório, situ-
ado em um nível intermediário, um pouco acima dos quartos, e ao
solário, situado entre o escritório e o quarto de empregada. A pe-
quena elevação do andar térreo e do pátio, em relação ao nível da
rua, abre espaço para a garagem e a lavanderia, localizados no ní-
vel da calçada, na parte mais baixa do pequeno bloco.
A faixa de brise-soleil, ao longo das janelas dos quartos, permite
o controle da luz do sol, mesmo com as venezianas abertas. Estas
funcionam através de um sistema de contrapeso, onde a metade
inferior sobe quando se baixa a metade superior e vice-versa.
Artigas vê o homem moderno como um dominador e organizador
do seu meio ambiente, na busca de um marco adequado a uma
sociedade integrada e harmônica. Daí sua preferência por uma
expressão clara e honesta dos métodos e técnicas contemporâneos,
em vez de submissão à paisagem e uma fusão com a natureza. Se,
por um lado, esta preferência pode parecer algo seca e doutrinária,
por outro, não deixa de ser uma manifestação de consistente per-
cepção poética.
A 7 (Si
corte 1:400
térreo 1:400
—À
andar superior 1:400
Iiving
2 sala de jantar
3 cozinha
4 garagem
5 depósito
6 quarto de empregada
7 escritório
8 quarto
9 rampa para o solário
J. VILANOVA ARTIGAS
Casa de J. Vilanova Artigas / 1949 / São Paulo
Nesta residência extremamente compacta e econômica, que cons-
truiu para si, Artigas mostra, ainda mais claramente que no exem-
plo anterior, o seu senso de interpenetração espacial.
O terraço, ao lado do living, se prolonga sob o escritório, conectan-
do-os, e se abre em três lados para um jardim que ocupa a maior
Ea
parte do terreno. Assim, toda a parte social forma um volume único
e contínuo, separado do exterior apenas por amplas paredes, total-
mente envidraçadas, detalhadas no estilo simples e direto tão ca-
racterístico de Artigas.
1 terraço
2 living-sala de jantar
3 cozinha
4 área de serviço
5 quarto de empregada
6 quarto
7 garagem
8 escritório
planta 1:400
%; =5 Y
s8
HENRIQUE E. MINDLIN
Casa de campo de George Hime/ 1949 / Bom Clima, Petrópolis, Rio de Janeiro
Esta casa de campo, que obteve o prêmio de melhor residência na
1 Bienal de São Paulo, em 1951, é um outro exemplo de organiza-
ção espacial dinâmica tridimensional. O projeto segue a inclinação
do terreno; a parte social é dividida em um grande living no nível
superior, um outro no inferior e uma sala de jogos que se estende à
área dos pilotis dos quartos. Esta última forma um grande terraço
coberto, parcialmente protegido por um quebra-vento decorado
com um mural de mosaico, em cores vivas, de Roberto Burle
Marx, que também projetou o jardim. A laje do piso da sala de jan-
tar, que cobre a parte mais baixa do living, está situada ao nível dos
olhos de uma pessoa sentada junto à lareira encravada na parede de
pedra. Um grande móbile, especialmente feito para esta casa por
Alexander Calder, funciona como ponto focal da composição.
Uma das maneiras pelas quais se dá a ligação entre o exterior e o
interior é através da parede estrutural que avança em direção ao
jardim. As diferenças de textura e de tamanho das pedras usadas
nesta parede de sustentação, e das usadas na parede da lareira,
enfatizam o seu emprego como material estrutural, em um caso, e
como revestimento, no outro.
A vista do living é a mais bonita; os quartos estão orientados para
o norte, a fim de obter a maior insolação possível durante os dias
frios de inverno. Do abrigo para carro, localizado debaixo da área de
serviço, se tem acesso tanto ao nível superior quanto ao inferior . As
janelas e as venezianas dos quartos funcionam graças ao sistema de
contrapeso. Na parte inferior das venezianas, painéis basculantes
para fora permitem a regulagem da entrada de luz, mesmo com as
venezianas fechadas, além de dar um toque pessoal à fachada.
59
N
NS
am
NK
ANS
Hiving V
2 sala de jantar /
E /
4 chapelaria e lavabo
5 cozinha-copa
corel 1
6 quarto de empregada
7 lavanderia
8 despensa
9 terraço coberto
10 abrigo para carro
dd ES
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andar superior 1:400
/
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/
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W
corte 2 1:400
andar inferior 1:400
61
SERGIO W. BERNARDES
Casa de Jadir de Souza / 1951 / Rio de Janeiro
Ao contrário da casa dos Bardi, neste projeto não houve preoc:
em minimizar a proteção, mas sim em dar uma unidade plá
mais variados materiais, empregados não apenas para efeitos esté-
ticos, mas também para um objetivo específico, relacionado à o-
tica auto-suficiente, com grande refinamento nos detalhes, que rientação de cada parte da construção.
acabou produzindo, no jardim lateral (protegido da rua) e nos jogos O trabalho de carpintaria, sutil e detalhado, acentua claramente a
de volumes interiores, uma riqueza de perspectivas quase sur- função de cada elemento da casa
preendente, dada a situação do lote. Um senso de composição O projeto do jardim é de Carlos Perry.
abstrata, muito característico deste arquiteto, disciplina o uso dos
-B
é
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“a A | 1 escritório 8 depósito
2 living 9 quarto do motorista
— — DO O 3 sala de jantar 10 área de secagem de roupa
4copa 11 lavanderia o q
térreo 1:500 andar superior 1:500 5 cozinha 12 quarto gi A yu
6 quarto de empregada 18 quarto de vestir TA ajufel |
7 garagem 14 saleta
corte 1:500
OSWALDO CORRÊA GONÇALV
Casa de Osmar Gonçalves / 1951 /
A procura da composição formal pode também ser observada nesta
casa, não somente pela correlação geométrica entre o painel de
brise-soleil e a elevação da fachada principal, formando retângulos
similares, mas também na expressão do método construtivo e no
detalhe das aberturas. A parte social, protegida pelos brise-soleil
living
3 quarto
4 copa-cozinha
5 quarto de empregada
6 lavanderia
7 abrigo para carro
2 sala de jantar
do terraço e localizada entre
abre para um pátio interior. Este arranjo permite a movimentação
dos empregados entre uma ala e outra através do pátio, quando
necessário,
à ala dos quartos e a ala de serviço, se
tando-se assim a passagem pelo living
planta 1:400
OLAVO REDIG DE CAMPOS
Casa do embaixador Walther Moreira Salles / 1951 / Rio de Janeiro
Esta casa, sem dúvida a mais luxuosa das mostradas neste livro, é
um exemplo de um programa cada vez mais raro nos dias de hoje:
o palacete, destinado só a abrigar a família, mas também a
grandes e fregiientes recepções. A formação italiana do arquiteto e
seu estilo deliberadamente exuberante integram elementos europeus
clássicos, brasileiros tradicionais e estritamente contemporâneos, em
uma composição que responde a estas exigências especiais. A plan-
ta se desenvolv
a partir do pátio, abrindo-se, através de uma
gola, para a piscina situada no jardim envolvido por uma paisagem
dominada por uma montanha rochosa
69
A área social (salões de recepção, biblioteca, sala de jantar, gale-
rias e terraço) ocupa três lados do pátio e inclui uma sala de jogos,
situada em um nível inferior, sob a ala dos quartos, que forma o
quarto lado. Os cômodos de serviço estão à esquerda, com os quar-
tos de empregados no segundo andar. Os trabalhos de acabamento
das fachadas e das aberturas, os pisos em mármore e as balaustra-
das, enfim, cada detalhe é tratado com um grau de refinamento ina-
cessível, por razões econômicas, à maioria das casas.
Os jardins foram projetados por Roberto Burle Marx. Neles, há
um mural em azulejo, também de Burle Marx, e uma escultura em
bronze de Maria Martins, representando uma jovem tocando uma
harpa cujas cordas são os seus próprios cabelos; a estátua gira len-
tamente, completando um ciclo a cada vinte e quatro horas.
andar principal 1:1000
1 chapelaria 9 rouparia
2 hall 10 copa
3 cofre-forte 1 copa-cozinha
4 biblioteca 12 garagem
5 sala íntima 13 lavanderia
6 salão 14 depósito
7 quarto 15 quarto de empregada
8 sala de jantar 16 sala de jogos
7
planta de situação 1:1000
erre
andar inferior 1:1000
andar superior 1:1000
mn
AFFONSO EDUARDO REIDY
Casa de Carmen Portinho / 1952 / Rio de Janeiro
Esta casa foi concebida para ser, ao mesmo tempo, residência per-
manente e refúgio contra as crescentes dificuldades da vida urbana
de uma jovem engenheira, ativamente interessada em arte moder-
na, que dirige atualmente a construção do Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro (p. 41) e que, como chefe do Departamento de
Habitação Popular da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, foi a
principal responsável pela construção do projeto de Pedregulho
(pp.142 a 151).
A garagem e o apartamento dos empregados foram construídos
diretamente sobre o solo e estão ligados pelos dois lados do pátio
planta 1:400
1 living-sala de jantar
2 quarto
3 escritório
4 cozinha
5 pátio rebaixado
6 quarto de empregada
7 garagem
rebaixado (que acompanha a inclinação do terreno) ao bloco prin-
cipal da casa em pilotis. A planta deste bloco, extremamente com-
pacto, compreende um escritório (que pode servir como quarto de
hóspedes). O living se estende ao terraço, o que propícia ventilação
cruzada no quarto. Neste terraço há uma rede (de uso muito
comum ainda hoje no Brasil). A estrutura em pilotis evitou movi-
mentos inúteis de terra. A grande parede de vidro do living oferece
uma vista da vegetação opulenta da floresta que o envolve, bem
como do vasto panorama à distância.
elevação do lado de entrada 1:400
corte 1:400
SERGIO W. BERNARDES
Casa de campo de Lota de Macedo Soares / 1953 / Fazenda Samambaia, Petrópolis, Rio de Janeiro
Esta casa recebeu o primeiro prêmio do concurso para arquitetos
com menos de quarenta anos da II Bienal de São Paulo.
Similarmente à casa de Reidy (p.76), ela foi projetada para uma
jovem com interesses culturais e artísticos e com gosto pela vida
no campo. Construída na parte montanhosa da serra dos Órgãos,
em Petrópolis, é usada tanto como residência permanente como
para acolher convidados fregientes, geralmente do mundo das
artes, tanto brasileiros quanto estrangeiros.
O teto, em alumínio ondulado, se apóia em longarinas de verga-
lhões de aço, expostas, em treliça. Elas são feitas soldando o ver-
galhão em zig-zag a dois outros laterais, pintados em branco e
preto, o que lhes dá um toque alegre e leve. Aqui, este uso do aço
funciona como um prenúncio de uma época que se aproxima, na
qual sua utilização se tornará mais e mais comum no país.
Os quartos dos hóspedes e os da dona da casa estão, respectiva-
mente, nas extremidades opostas de uma longa galeria que dá aces-
so, através de uma rampa, à entrada, ao living e ao escritório, todos
situados em um nível um pouco mais baixo, distantes da cozinha e
da área de serviço. Assim os ocupantes têm a máxima privacidade
e trangiilidade, ao mesmo tempo que desfrutam do imponente
panorama, que muda de um cômodo para outro. Há uma cascata
que cai justo abaixo do quarto da proprietária. Na construção,
ainda em andamento, os diferentes materiais são unificados pela
disciplina da organização plástica, que acentua o jogo de texturas
e o dos volumes e planos que definem cada parte do projeto.
1 acesso para carro
2 ponte
3 living
4 galeria
5 quarto
6 sala de jantar
7 copa-cozinha
8 despensa
planta 1:400
9 quarto de hóspedes
10 quarto de empregada
78
corte 1:400
79
OSWALDO ARTUR BRATKE
Casa de Oswaldo Artur Bratke / 1953 / São Paulo
Nesta casa que fez para si, situada no mesmo bairro da casa dos
Bardi, o arquiteto conseguiu equacionar os problemas susc
por um telhado plano no clima paulistano
variações bruscas de temperatura e de umidade.
Um arranjo regular das colunas de concreto sustenta uma laje de con-
creto armado, com revestimento asfáltico e de folhas de alumínio,
coberta por telhas onduladas de cimento-amianto, entremeada por
uma câmara de ar isolante. Este telhado cobre todo o retângulo sim-
ples do plano, com exceção da parte correspondente ao pátio.
A estrutura independente dá a maior liberdade possível na colo-
cação das paredes, tanto interiores como exteriores. Cada uma das
paredes externas tem um recuo diferente em relação ao limite
andar principal 1: 400
frontal da laje de cobertura. Este recuo é imposto pelas diferentes
necessidades de proteção determinadas pela orientação de cada
lado do plano. As divisões interiores são em tijolo aparente ou fei-
tas com armários em madeira. Os painéis exteriores de cobogós de
concreto pré-moldado corrigem o excesso de insolação e protegem
a privacidade da casa. A grande parede de vidro do living-sala de
jantar também é protegida por uma grade de correr, que desliza ao
longo da parede exterior do banheiro.
Aproveitando a inclinação natural do terreno, a entrada foi coloca-
da em um nível inferior e tem ligação com o abrigo para carro atra-
vés de uma passagem coberta.
andar inferior 1:400
Iiving
2 quarto
3 biblioteca
4 copa-cozinha
5 quarto de empregada
6 sala de jogos
7 depósito
——— > ——
RINO LEVI E ROBERTO CERQUEIRA CESAR
Casa de Milton Guper / 1953 / São Paulo
O método de proteção de paredes de vidro através de jardineiras
resguardadas por brise-soleil em concreto pré-moldado, usado
anteriormente pelo arquiteto na sua própria casa (p. 48) teve aqui
um importante desenvolvimento nas suas possibilidades plásticas e
funcionais, obtendo um resultado muito feliz. Os pátios correspon-
dentes às portas envidraçadas são inteiramente cobertos de treliças
em concreto armado, formando espécies de gaiolas de luz, sob as
quais os jardins se acham protegidos contra todo excesso de inso-
lação e de vento. A fusão do espaço interior e exterior assim obtida,
tanto no living e na sala de jantar quanto na galeria dos quartos, é
acentuada pelas sombras das treliças e nos jogos de luz e sombra
no chão. Os quartos têm seus próprios pátios, usados como play-
ground, e são separados por armários embutidos de madeira, isola-
dos acusticamente com lã de vidro. A área de serviço (cozinha,
copa, e quarto de empregada) tem também o seu pátio independen-
te, parcialmente coberto para servir de abrigo de carro. Assim, as
provisões para a casa entram diretamente pela janela da cozinha.
Todos os quartos têm ventilação cruzada regulável.
A área construída é de apenas 300 mº, ou seja, 25% da área do terreno.
Hiving
2 sala de jantar
3 cozinha
4 quarto de empregada
5 abrigo para carro
6 quarto
planta 1:400 7 quarto de costura
E
87
OSCAR NIEMEYER
Casa de Oscar Niemeyer / 1953 / Rio de Janeiro
A maneira pessoal com que Niemeyer explora as possibilidades de
novas formas e cria um vocabulário plástico original se revela na
exuberância gráfica do traçado da planta, no contorno caprichoso
da laje de cobertura, no contraste entre a parede curva do living
(inteiramente em lambris de madeira) e as grandes superfícies
envidraçadas
A inclinação do terreno foi aproveitada para localizar os quartos e
uma saleta no nível inferior, com vista para o mar. O living e as áreas
de serviço estão no nível acima e se abrem diretamente para o jardim,
andar principal 1:400
integrando a piscina e o enorme rochedo de granito, encontrado no
local, em um todo unificado.
A laje de cobertura, supo:
ada por esbeltas colunas de aço e pro-
longada para criar uma área de proteção junto à piscina, torn:
um elemento quase natural da paisagem subtropical. Esta casa re-
presenta um aspecto da personalidade do arquiteto já bem desen-
volvido na Casa do Baile da Pampulha (p.188) que culminou na
grande marquise do conjunto do Ibirapuera (p. 214).
A escultura próxima à piscina é de Alfredo Ceschiatti.
andar inferior 1:400
1 living-sala de jantar
2 copa-cozinha
3 piscina
4 quarto
5 saleta
RR Re
JOSÉ BINA FONYAT FILHO E TERCIO FONTANA PACHECO
Casa de campo de João Antero de Carvalho / 1954 / Parque da Cidade, Petrópolis, Rio de Janeiro
Um movimento periférico, oriundo de uma tendência à descentra-
lização já bastante perceptível no Rio de Janeiro e em São Paulo,
acabou resultando no fato de grande parte das casas mais interes-
santes se situar fora da cidade, justamente onde os terrenos maiores
e menos caros dão as melhores oportunidades aos arquitetos. É por
esta razão que tantas casas mostradas neste livro são casas de
campo e de férias, ou então localizadas em áreas suburbanas (como
as de Bardi, Portinho, Bratke, Niemeyer, Antunes Ribeiro, Waller
e Holzmeister). Na realidade, para conhecer o trabalho dos arquite-
tos mais jovens, mais vale hoje visitar os arredores de Petrópolis e
Teresópolis do que percorrer as ruas do Rio de Janeiro.
Na sua planta do piso e no tratamento das elevações, esta casa é re-
presentativa do vocabulário e gramática arquitetônicos incorporados
andar principal 1:500
à arquitetura brasileira, como resultado de pesquisas anteriores e de
seu contínuo desenvolvimento. A composição formal das fachadas,
nas quais os diversos elementos têm, ao mesmo tempo, um papel
co e funcional, estabelece nitidamente sua relação com a pin-
tura abstrata contemporânea, uma tendência que pode ser vista
também em outros casos.
A planta consiste em duas unidades ligadas por uma galeria. Na
primeira, de frente para a paisagem, estão o living, a sala de jantar
e os quartos. Na segunda, estão a área de serviço e os quartos dos
empregados e, também, a sala de jogos, bem distante dos quartos
Graças à topografia do terreno, foi possível localizar a garagem
abaixo do living, na área dos pilotis.
1 iving-sala de jantar
2 quarto
3 sala de jogos
4 copa-cozinha
5 despensa
6 quarto de empregada
7 lavanderia
8 piscina
THOMAZ ESTRELLA, JORGE FERREIRA, RENATO MESQUITA DOS SANTOS e RENATO SOEIRO
Casa de Stanislay Koslowski / 1954 / Rio de Janeiro
Esta casa foi projetada pelos arquitetos que colaboraram com
Atílio Corrêa Lima na Estação de Hidros (p. 246), com o mesmo
espírito de disc; e disciplina, e é uma boa ilustração das difi-
culdades que precisam ser superadas no projeto de casas particu-
lares no Rio de Janeiro. O terreno, cada dia mais valorizado por
estar próximo à praia do Leblon e por sua esplêndida vista para o
mar e a cidade, é de dimensões relativamente exíguas, e sua incli-
nação é tão acentuada que exigiu meios mecânicos para providen-
ciar o acesso à casa.
E
andar principal 1: 500
andar superior 1:500
1 escritório
2 plano inclinado
3 depósito
4living
5 sala de jantar
6 copa-cozinha
7 lavanderia
8 quarto de empregada
9 quarto
10 armário
Um plano inclinado conduz ao andar principal, onde está localiza-
da a área social. Os detalhes das portas de vidro que ligam o living
à espaçosa varanda foram cuidadosamente estudados, de modo a
eliminar as habituais colunas nos cantos. Assim, o interior e o exte-
rior se fundem inteiramente quando as portas estão abertas.
Um escritório no andar inferior, envidraçado na frente, e três quar-
tos no andar superior também desfrutam da magnífica vista que,
por si só, compensa amplamente as dificuldades encontradas na
construção.
9
—
PAULO ANTUNES RIBEIRO
Casa de Paulo Antunes Ribeiro / 1955 / Rio de Janeiro
A discreta composição e a simplicidade aparente do acabamento
desta casa, que o arquiteto projetou para si, esconde o extremo
cuidado tomado com as proporções do andar principal (pé-direito
de m) e o tratamento refinado de todas as superfícies: as pare-
des lisas e brancas, as grandes superfícies de vidro em esquadrias
de alumínio, os diferentes pisos e o teto trabalhado no living. Este
último, formado por uma engenhosa montagem de caixas alter-
nadas, como um tabuleiro de xadrez, sobre sarrafos de seção trian-
gular (escondidos), produz uma acústica ideal e confere ao cômodo
um toque decorativo muito pessoal. O terreno particularmente aci
dentado fica em um novo bairro residencial localizado em áres
densamente arborizada e montanhosa do Rio de Janeiro. Para evi
p do terreno, a casa foi totalmente construíds
tar a descaracterizaç:
em pilotis. O andar principal, bem maior que o piso superior, é par-
cialmente tomado por um grande terraço junto aos quartos e ac
escritório do arquiteto.
Uma composição de Mario Cravo, pairando sobre a escada, é uma
reminiscência da visita de Alexander Calder ao Brasil, em 1948.
andar principal 1:500
ERR
andar superior 1:500
1 pilotis
2 maquinaria
3 incinerador
4 living
5 sala de jantar
6 copa-cozinha
7 lavanderia
8 ar condicionado
9 depósito
10 quarto de empregada
11 quarto
12 escritório
PAULO ANTUNES RIBEIRO
Casa de Ernesto Waller / 1955 / Rio de Janeiro
Aqui se apresentou um problema semelhante ao da residência de
Moreira Salles (p. 69). No entanto, a topografia do terreno e a vista
sugeriram uma solução completamente diferente. A despeito da
grande complexidade do programa, a composição é extremamente
simples, estendendo-se apenas discretamente na linha ligeiramente
côncava do telhado do andar superior.
O acesso ao hall de entrada do bloco intermediário de dois andares
se dá por uma garagem aberta situada sob os quartos principa
Uma escada em caracol leva à galeria dos quartos, que também
pode ser alcançada pela escada de serviço. A área social (200 m?)
forma um espaço contínuo, no qual estantes delimitam o espaço da
térreo 1:500
biblioteca, assim como uma parede curva delimita o bar. O pé-d
reito do living e do bar tem 5 m. Toda a área social é intimamen
ligada ao jardim, através de paredes de vidro e portas de correr, to:
nando desnecessária a construção de terraços exteriores.
No andar superior, um grande escritório e um laboratório fotográ
fico, com ara escura, se comunicam diretamente com o quart
principal.
Os quartos dos empregados e os cômodos de serviço estão de acor
do com o padrão de vida para o qual a casa foi projetada, acom
panhando também as linhas imponentes da fachada principal, com
seus quase 59 m de comprimento.
1 hall de entrada
2 chapelaria
3 biblioteca
4living
5 sala de jantar
Gestufa
7 despensa
8copa
9 cozinha
10 sala de refeições dos empregados
11 lavanderia
12 garagem
13 depósito
14 ar condicionado
15 escritório
16 laboratório fotográfico
17 quarto
18 rouparia
19 quarto de empregada
planta de situação 1:2000
PIRES E SANTOS (Paulo Everard Nunes Pires, Paulo Ferreira dos Santos e Paulo de Tarso
Ferreira dos Santos)
Casa de Martin Holzmeister / 1955 / Rio de Janeiro
Esta casa foi construída para o sobrinho do famoso arquiteto
vienense Clemens Holzmeister (nascido no Brasil e de mãe bra-
sileira). Os arquitetos (dois deles também professores, um de com-
posição arquitetônica e outro de arquitetura no Brasil) tentaram
alcançar a mesma fusão de elementos tradicionais e modernos já
mostrada na casa de Lúcio Costa (p. 44). Ela reflete o tipo de
regionalismo que merece ser estudado mas ainda é negligenciado
pela maioria dos arquitetos, embora deliberadamente cultivado por
uns poucos, como por exemplo, Edgar Graef, no Rio Grande do Sul.
Uma estrutura cuidadosamente modulada em vigas e colunas de
aço (10 por 10 cm) permite a abertura total da fachada, tanto para
o térreo, totalmente envidraçado na frente, quanto para o piso supe-
rior, que se projeta sobre a grande varanda frontal.
Aqui, tudo evoca o passado: o formalismo e as generosas pro-
porções da planta, a cobertura em telhas coloniais, o desenho tradi-
cional das treliças das janelas dos quartos, as grandes placas de
granito no piso do hall de entrada. Por outro lado, o emprego de
elementos modernos é feito abertamente e não está restrito às téc-
nicas de construção: na leveza das colunas de ferro que enfatizam
o balanço do piso superior e definem o espaço do terraço, na
transparência e na abertura do térreo, no detalhe da escada princi-
pal, assim como nas placas de vidro utilizadas no parapeito superi-
or do hall de entrada.
A casa foi construída em um lado do terreno, de modo a reservar a
maior parte do terreno para o jardim, projetado por Burle Marx e
ainda em fase de execução.
planta de situação 1:1000
1 hall de entrada
2 living
3 escritório
4 chapelaria
5 sala de jantar
6 copa
7 copa-cozinha
8 material de limpeza
9 despensa
10 adega
11 depósito
12 lavanderia
13 quarto de empregada
14 sala de jogos
15 quarto
16 quarto de vestir
17 saleta
18 varanda
19 quarto de hóspedes
20 armário
21 quarto da governanta
22 rouparia
térreo 1:400
andar superior 1:400
101
O MR CE ooo
ALVARO VITAL BRAZIL E ADHEMAR MARINHO
Edifício Esther / 1938 / São Paulo
io com
estrutura independente no Brasil, causou uma enorme sensação
devido às novidades que introduziu, entre as quais se incluíam as
colunas isoladas no meio das peça
Este prédio residencial e comercial, o primeiro grande edif
s. Muitos locatários pediram per-
missão para removê-las de seus apartamentos, prometendo repô-
las nos respectivos lugares após o término do contrato de aluguel.
O prédio, em vez de se espalhar sobre todo o terreno, como era
habitual, foi construído de modo a permitir que uma nova rua pu-
desse passar paralelamente à fachada do edifício, além de ter es-
paço livre em torno dos seus quatro lados. O fundo do lote pôde
ainda ser aproveitado para uma construção menor, atrás da cons-
trução principal. A estrutura independente, com suas colunas dis-
postas regularmente (embora o espaçamento seja menor do que
seria hoje), permitiu projetar plantas diferentes para cada andar.
Assim o térreo, além de suas arcadas de circulação, inclui também
106
uma grande área para lojas; o primeiro, segundo e terceiro andares,
destinados a escritórios, tiveram seus espaços divididos como
desejado; o quarto tem apartamentos de um ou dois quartos; os
apartamentos do quinto, sexto, sétimo e oitavo têm dois ou três
quartos, com cozinha e quarto de empregada; o nono e o décimo
incluíram quatro apartamentos duplex; e, finalmente, o último andar
foi ocupado por duas coberturas rodeadas por terraços.
A garagem subterrânea do prédio se estende sob a nova rua ante-
riormente mencionada. As áreas de serviço dos apartamentos fo-
ram colocadas em volta de poços de iluminação interiores que co-
meçam no quarto andar.
Neste trabalho pioneiro, que tem o mérito da introdução de uma
organização funcional, deve-se destacar o tratamento arquitetônico
das fachadas, acentuado por faixas de vitrolite negro, que expres-
sam claramente a estrutura e a variedade dos planos.
nono andar 1:400
décimo andar 1:400
1 lojas
2 entrada de serviço e garagem
3 medidores de gás e de energia elétrica
4 porteiro
5 zelador
6 área de escritórios (dividida segundo as conveniências)
7 living-sala de jantar ”
8 quarto
9 cozinha
10 despensa
11 tanque e banheiro de empregada
12 depósito
13 vazio do living
107
GREGORI WARCHAVCHICK
Edifício residencial / 1939 / São Paulo
Este prédio, no qual a planta bem concebida, aberta e imaginativa
procurou diminuir a sensação de confinamento dos pequenos
apartamentos, é um exemplo dos problemas colocados pelos ter-
renos pequenos e estreitos, pesadelo dos arquitetos brasileiros. O
alto preço dos terrenos exige uma grande eficácia no seu uso. O ar-
quiteto, impossibilitado de influenciar um projeto já pobre de ori-
gem, tanto no aspecto humano quanto urbanístico, pode apenas
restringir a ambição dos especuladores e tentar impor o seu senso
de ordem e clareza.
A facilidade de encontrar empregadas domésticas no Brasil, já
mencionada anteriormente, introduziu elementos menos comuns
em outros países: o quarto de empregada e a entrada de serviço.
Neste prédio, no entanto, Warchavchik suprimiu estes elementos
para oferecer aos moradores, pessoas de rendas modestas, o máxi-
mo de espaço. Os apartamentos são de dois tipos: sala e dois quar-
tos, na frente, e conjugado atrás, com uma alcova para a cama.
1 living-sala de jantar
2 quarto
3 cozinha
4 alcova
HELIO UCHÔA
Edifício residencial Luiz Felipe / 1945 / Rio de Janeiro
O arquiteto teve que usar, aqui também, todos os recursos e imagi-
nação para obter, a despeito das dificuldades impostas pela excessiva
subdivisão dos terrenos, apartamentos tão iluminados e organiza-
dos quanto possível.
térreo 1:400 andar-tipo 1:400
O térreo é ocupado apenas pela entrada e o apartamento do por-
teiro, o que lhe dá um aspecto mais leve. A fachada, enquadrada em
uma moldura branca, é revestida de pastilhas cerâmicas azuis. Os
balcões têm acabamento em massa branca.
1 porteiro
2 garagem
3 living-sala de jantar
4 copa-cozinha
5 quarto de empregada
6 quarto
7 rouparia
109
M. M. M. ROBERTO
Edifício residencial em Botafogo / 1947 / Rio de Janeiro
Nesse prédio (construído para funcionários de um fundo de pensão
do sistema de previdência social) foi feito um esforço todo especial
para combinar a ventilação cruzada e a dupla exposição de cada
apartamento com uma exigência já mencionada: manter a circu-
lação de serviço separada da circulação social. Para resolver este
problema, os dois andares comuns aos apartamentos tipo duplex
(hall de entrada, living, cozinha, quarto de empregada e banheiro
social no piso inferior e três quartos e banheiro no piso superior)
foram engenhosamente alternados com os níveis dos corredores de
circulação sociais e de serviço, eles mesmos se alternando mutua-
mente. O corredor social situa-se quatro degraus abaixo do piso
inferior do duplex e dá acesso a apenas este andar. Já o corredor de
serviç s degraus abaixo do piso dos quartos e 11 acima do piso
do living, possibilita o acesso a ambos os andares. Esta diferença
de níveis faz com que o pé-direito do corredor de serviço seja
maior do que o do corredor social, permitindo que as janelas de
trás, nos dois pisos, se abram para ele. Estas janelas correspondem
aos seguintes cômodos: quarto de trás e banheiro, no piso superior,
e cozinha, quarto de empregada e banheiro social, no inferior). A
comunicação interna entre estes dois pisos é feita por uma escad:
de dois lances, um maior que o outro, com o patamar no nível dc
corredor de serviço, cujo acesso se dá por uma pequena passagem
onde há um tanque de lavar roupa. Assim, do corredor de serviçc
se pode passar ao piso dos quartos subindo apenas seis degraus, e
ao piso inferior, descendo onze degraus, sem necessidade de pas
sar pelo living.
As unidades do segundo bloco, um pouco diferentes, têm escadas
de serviço independentes, que dão acesso à cozinha e ao piso supe-
rior do duplex.
As varandas, com pé-direito equivalente a dois andares, dão vista
para a baía de Guanabara, caracterizando plasticamente a opção
duplex adotada no projeto.
A irregularidade do terreno obrigou a divisão do imóvel em dois
blocos independentes, ligados por uma galeria de circulação à torre
dos elevadores, situada na parte mais baixa do terreno.
no
planta de situação 1:2000
corte 1:1000
|
BIS
u3aaaasa
quad
Sacdagaaci=aiaa
| living-sala de jantar
2 cozinha
3 quarto de empregada
4 quarto
5 rouparia
6 serviço
duplex-tipo, nível inferior 1:400 unidade do segundo bloco, nível inferior 1:400
duplex-tipo, nível superior1:400 unidade do segundo bloco, nível superior 1:400
e,
detalhe do corte: unidade do segundo bloco 1:400 +
J. VILANOVA ARTIGAS
Edifício residencial Louveira / 1950 / São Paulo
Os dois blocos foram dispostos no lote de modo a as:
lhor insolação possível ao living e aos quartos. A distância entre
eles foi determinada em função das exigências do código de cons-
trução municipal, segundo as quais os raios solares devem tocar o
pátio durante um certo período de tempo no dia mais curto do ano
(ver p. 32). Ao evitar a disposição convencional, com as fachadas
para as duas ruas, a planta deixou as duas unidades completamente
com um grande jardim e um pátio de es
entre elas, em vez de um pátio interior fechado. A rampa de entra-
da alegre e leve que as une estabelece uma separação entre o
andar-tipo 1:500
Iliving
2 sala de jantar
3 terraço
4 quarto
5 cozinha
6 quarto de empregada
7 hall de entrada
8 entrada de serviço
9 entrada de automóveis e de serviço
10 pátio de manobras
jardim e o pátio, e contrasta agradavelmente com a simplicidade do
prédio. As entradas de serviço estão cinco degraus abaixo do nível
de cada andar, economizando, assim, um espaço para a comuni-
cação entre o elevador social e o de serviço. Esta comunica
compulsória, por razões de segurança, em todas as construções
deste tipo, reduziria a largura da sala de jantar, se não tivesse sido
tratada desta maneira. Para evitar que dos fundos do edifício se
pudessem ver os cômodos de serviço, os corredores foram cober-
tos com telas de arame. As janelas dos quartos são parecidas com
as da casa de Artigas em Santos.
corte esquemático 1:1000
corte 1:500
RINO LEVI E ROBERTO CERQUEIRA CESAR
Edifício residencial Prudência / 1950 / São Paulo
Este prédio de luxo, em um bairro residencial perto do centro da
cidade, construído para ser vendido no sistema de condomínio fe-
chado, atualmente muito comum no Brasil, incorpora vários itens e
aperfeiçoamentos desejáveis, externa e internamente, nos detalhes e
no equipamento. Isto inclui: ar condicionado central e tratamento
acústico completo, assim como elevador privativo para cada aparta
mento, além de um elevador de serviço para cada dois apartamentos.
O terreno, com cerca de 80 por 50 m, está a aproximadamente três
metros acima do nível da rua e tem uma excelente vista sobre a
cidade. O térreo, em pilotis, inclui as entradas e um playground,
ns
cobrindo parcialmente uma garagem subterrânea, dotada de ram-
pas separadas para carro e pedestres. O prédio tem nove andares,
cada um com quatro apartamentos de 400 m” e duas coberturas no
último andar. As fachadas são revestidas com pastilhas cerâmicas,
de 2 por 2 cm, em azul, marrom e amarelo.
A total flexibilidade da dis) dos cômodos da parte social e
dos quartos, resultado do tipo de estrutura adotado, é demonstrada
pelos diferentes esquemas de plantas A, B, C e D, que revelam
algumas variações poss
1 living-sala de jantar
2 quarto
3 escritório
4 copa-cozinha
5 quarto de empregada
6 banheiro
7 elevador social
8 elevador de serviço
9 hall
10 porteiro
11 rampas de acesso ao subsolo
12 rampa de pedestres
13 playground
térreo 1:1000
esquema de distribuição espacial D 1:40
metade de um andar-tipo 1:400
no
HENRIQUE E. MINDLIN
Edifício residencial Três Leões / 1951 / São Paulo
Este projeto conseguiu uma solução original para o problema de
prover acessos separados às entradas social e de serviço dos aparta-
mentos, sem aumentar inutilmente o número de elevadores e
restringir o valioso espaço disponível nos andares inferiores, desti-
nado a lojas e ao escritório da empresa proprietária do prédio. Esta
solução consistiu em alternar os corredores sociais e de serviços e
colocá-los a meia altura entre os andares, onde são servidos,
respectivamente, por dois elevadores, que partem do hall da entra-
da principal, e dois outros, do subsolo, acessíveis pela entrada de
serviço, ao lado do imóvel. Uns poucos degraus, para baixo ou para
cima, levam ao nível dos apartamentos. Os corredores sociais, de
2,5 m de pé-direito, são fechados enquanto os de serviço, com 3,5 m
Icirculação social
H circulação de serviço
corte geral 1:1000
detalhe do corte! 1:500 detalhe do corte? 1:500
120
de pé-direito, se abrem para um grande pátio interior, propiciando
iluminação às cozinhas e aos banheiros. Os nove andares inferi-
ores, cada um com 11 apartamentos, têm seis escadas indepen
dentes. Na torre de oito andares, com quatro apartamentos por
andar, as duas escadas foram deslocadas para um lado para econo-
mizar espaço. As varandas e as sacadas, alternadas de um andar
para outro de modo a receber o máximo de insolação no inverno,
estão diante do living ou diante do quarto. Este arranjo permite aos
proprietários escolher os apartamentos segundo suas preferências:
os que não têm crianças geralmente escolhem o quarto com varan-
da, obtendo assim um living mais espaçoso.
Hliving
2 quarto
3 apartamento conjugado
térreo 1:500
do décimo-primeiro ao décimo-
oitavo andar 1:500
121
OSCAR NIEMEYER
Grande Hotel / 1940 / Ouro Preto, Minas Gerais
A pequena cidade de Ouro Preto, antiga capital de Minas Gerais e
verdadeiro museu de arquitetura do século XVIII, é monumento
nacional, tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artís-
tico Nacional. Suas ruas tortuosas evocam a lembrança de Tira-
dentes, o primeiro mártir da história da independência. Suas igre-
jas abrigam grande número de esculturas de Aleijadinho, o mais
importante artista do período colonial.
Este hotel ultramoderno, com seus 20 quartos de solteiro, sete de
casal e 17 suítes duplex, se encaixou de modo surpreendente à
paisagem de tempos passados, sem que para isso precisasse depen-
der de cópias de estilos obsoletos.
O corpo do edifício, de apenas quatro pavimentos, se estende
planta de situação 1:1000
horizontalmente. A cobertura em telhas coloniais, as treliças em
madeira nos terraços, o revestimento de pedra e azulejos e o co-
lorido característico contribuem para a integração do edifício à
paisagem. Os pilotis vão até o piso do terceiro pavimento, dando
leveza à construção.
O térreo abriga a cozinha e a administração, além de uma sala de
jogos e um grande terraço coberto. Uma rampa conduz ao primeiro
andar, onde estão o restaurante e os salões. O segundo andar é divi-
dido por um corredor central, com os quartos de solteiro e de I
na parte de trás do edifício e o living dos apartamentos duplex na
parte da frente. Cada duplex tem um pequeno solário e uma esca-
da em caracol que dá acesso ao quarto.
1 sala de jogos
2 cozinha
3 lavanderia
4 quarto de empregados
5 recepção
6 salão
7 sala de correpondência
8 sala de leitura
9 sala de exposições
10 restaurante
1 copa
12 serviço
13 quarto
14 living
15 vazio do living
16 solário
térreo 1:500
id E
a
primeiro andar 1:500
CEEE EA
EEECEAEELEL
segundo andar 1:500
(Ea
terceiro andar 1:500
127
LÚCIO COSTA
Park Hotel / 1944 / Parque São Clemente, Friburgo, Rio de Janeiro
Este é um exemplo, ainda mais claro, de integração ao meio ambi-
ente, ditada por um espírito de relação afetiva com o passado, livre
de qualquer imitação ou cópia, abrindo caminho para a adoção de
soluções tipicamente contemporâneas.
Situado na encosta de uma montanha na serra dos Órg
, dentro
de um esplêndido parque, a 850 m acima do nível do mar, este ho-
tel com apenas dez quartos é uma iniciativa do mesmo grupo que
empreendeu o Parque Guinle (p.112). A construção, extremamente
rústica, na qual foram empregados materiais locais, é destacad:
pelas grandes janelas do piso inferior, pelo brise-soleil móvel en
madeira da sala de jogos para crianças, pelas portas de correr
envidraçadas e venezianas na parte superior dos quartos, que pos
suem uma pequena varanda.
A cozinha e a administração estão na ala inferior e a adega fica
abaixo do restaurante. Os banheiros são iluminados através de
janelas altas sobre o corredor.
1 varanda
2 salão
3 sala de jantar
4 cozinha
5 rouparia
6 quarto dos empregados
7 sala de estar dos empregados
8 boiler
9 sala de refeições dos empregados
10 gerência
11 sala de jogos
12 quarto
13 depósito
térreo 1:500
Edo) ste | Eres
andar superior 1:500
129
M. M. ROBERTO
Colônia de férias do Instituto de Resseguros do Brasil/ 1944 / Rio de Janeiro
Embora a influência do passado não seja tão forte quanto no caso
anterior, trata-se de uma tentativa deliberada de reconciliar ele-
mentos tradicionais com um desenho moderno de uma estrutura de
concreto armado. Esta colônia foi feita para fins de semana e férias
dos empregados do IRB (ver p. 224). Sua localização em uma flo-
resta nos arredores do Rio de Janeiro permitiu reservar uma área
considerável para a prática de esportes e recreação.
As instalações podem acolher 31 hóspedes em férias e 52 visitantes
de fins de semana em seus dormitórios coletivos e alguns quartos
particulares. A inclinação do terreno permitiu que o térreo e o pri-
meiro andar se apoiassem no chão em lados opostos. O acesso ao
U
corte 1:1000
piso inferior, onde estão todas as peças de serviço e a sala de jogc
das crianças, é feito pelo norte. O piso seguinte, o principal, cor
acesso pelo sul, compreende uma sala de estar, salas de jogos, sal
de jantar, bar e cozinha, sendo ligado ao parque, pelo lado norte
por um grande terraço saliente e por duas amplas aberturas na áre:
da sala de estar. Os dormitórios e quartos estão no andar superior
os banheiros e vestiários são iluminados por clarabóias situada
acima do corredor externo.
A natureza do projeto exigiu economias na construção e no acaba
mento dos detalhes como, por exemplo, no uso de vigas e pilare:
com estrutura aparente.
andar principal 1:1000
andar inferior 1:1000
andar superior 1:1000
1 garagem
2 hall de entrada
3 gerência
4 cabeleireiro
5 sala de recreação
6 banheiro C.
7 vestiário masculino
8 vestiário feminino
9 hall de serviço
10 lavanderia
11 quarto de empregados
12 terraço
13 sala de jogos (bilhar, tênis de mesa)
14 sala de estar
15 sala de leitura
16 administrador
17 varanda
18 bar
19 cozinha
20 sala de jantar
21 dormitório de moças
22 dormitório de rapazes
23 quartos
planta de situação 1:2000
131
OSCAR NIEMEYER
Unidade habitacional tipo B do Centro Tecnológico da Aeronáutica / 1947 / São José dos Campos, São Paulo
Os blocos tipo B, de dois andares, abrigam 18 habitações; o living, última, que pode ser usada como garagem e como terraço cobertc
com teto mais alto, é ligado à galeria dos quartos por uma escada de também serve para proteger o living contra excesso de insolação.
desenho extremamente leve comunicando-se diretamente com um Cada habitação tem três quartos na parte superior e quarto d
pequeno jardim lateral e a área dos pilotis, abaixo dos quartos. Esta empregada no térreo, próximo ao pátio de serviço.
FL
planta do bloco 1:1000
orando
asp SS
corte 1:400 térreo 1:400
136
6
ad
5 5
andar superior 1:400
| living-sala de jantar
2 cozinha
3 quarto de empregada
4 pátio de serviço
5 quarto
6 parte superior do living
OSCAR NIEMEYER
Unidade habitacional tipo C-1 do Centro Tecnológico da Aeronáutica / 1947 / São José dos Campos, São Paulo
Nos blocos tipo C-1, cada um com 12 ou 14 habitações, a dispo- projeção da cobertura e os brise-soleil, que fecham parcialmente o
sição é similar à do tipo B. O living, no entanto, dá diretamente terraço frontal, protegem contra o excesso de insolação. A garagem,
para a frente do bloco, bem como para o pequeno pátio lateral. A ao lado do quarto de empregada, comunica-se com o pátio lateral.
1 living-sala de jantar
corte 1:400 2 cozinha
3 quarto de empregada
4 garagem
5 quarto
térreo 1:400 andar superior 1:400
(8)
138
OSCAR NIEMEYER
Unidade habitacional tipo C-2 do Centro Tecnológico da Aeronáutica / 1947 / São José dos Campos, São Paulo
O tipo C-2 é uma variante do tipo C-1, para famílias menores, que habitações (A, B, C-1 e C-2) pode-se observar a riqueza de efeitos
necessitam de apenas dois quartos. Cada bloco tem 20 habitações, obtida pela diversificação dos trabalhos de carpintaria e dos brise-
sem garagem, mas contando com um abrigo no jardim, em frente soleil, bem como pelo emprego ocasional de paredes de tijolo
ao living, onde se pode guardar o carro. Em todos esses tipos de aparente e diferentes tipos de paredes vazadas.
| living-sala de jantar
2 cozinha
3 quarto de empregada
4 abrigo para carro
5 quarto
6 parte superior do living
térreo 1:400 andar superior 1:400
planta do bloco 1:1000
139
CARLOS FREDERICO FERREIRA
Conjunto habitacional para operários / 1949 / Santo André, São Paulo
Este é um conjunto habitacional para operários, extremamente para cada duas unidades. A área do térreo funciona como um play
econômico, com 594 apartamentos. Faz parte de uma grande ground, com uma caixa de areia no meio. Os tanques de lavar rou-
cidade operária, na qual está também a escola primária projetada pa ali colocados só devem ser usados em caso de emergência.
pelo mesmo arquiteto, mostrada na p. 156. Os apartamentos estão Este projeto é um exemplo típico da prevalência do uso da boa téc-
agrupados em prédios de três andares, com pilotis, e uma escada nica nas construções dos institutos de previdência social.
1 caixa de areia
2 tanques de lavar roupa
3 living-sala de jantar
4 quarto
—J
H
HEHE
térreo 1:400
andar-tipo 1:400
planta de situação 1:4000
141
AFFONSO EDUARDO REIDY
Conjunto residencial de Pedregulho. Bloco de apartamentos B-1 e B-2 / 1950-52 / Rio de Janeiro
Nos blocos tipo B, com quatro andares sobre pilotis, a planta dias e grandes. As varandas de cada unidade habitacional são pro-
engenhosa e compacta de cada unidade permite que um dos três tegidas, em um lado, por balaustradas, em outro, por cobogós em
quartos possa ser anexado à unidade vizinha, formando assim um concreto, que se alternam de um piso para o seguinte, produzindo
apartamento de dois e outro de quatro quartos. Assim, enquanto o um desenho agradável na fachada, ao mesmo tempo em que mostra
bloco A é destinado apenas a solteiros, casais sem filhos ou famí- claramente o esquema duplex dos apartamentos.
lias pequenas, os blocos B podem abrigar famílias pequenas, mé-
segundo e quarto andares 1:500 É)
ET
Ee EE
primeiro e terceiro andares 1:500 3 a
1 cozinha TE ] |
2 living-sala de jantar
3 quarto
—
Ta
3] 3 3|
andar inferior de um apartamento duplex-tipo 1:200 andar superior 1:200
146 147
AFFONSO EDUARDO REIDY
Conjunto residencial de Pedregulho. Escola primária e ginásio / 1950-52 / Rio de Janeiro
A escola, o ginásio e a piscina formam uma composição bem equi-
librada. Construída em um só bloco em pilotis, cujo acesso se dá
por uma ampla rampa coberta, ela abriga cinco salas de aula com
capacidade para 50 crianças (de sete a 11 anos) cada. As salas de
aula dão para o sul e se abrem sobre grandes terraços cobertos, que
podem ser utilizados pelos alunos, nos dias mais quentes, como um
1 hall e administração
2 terraço
3 diretor e secretárias
4 banheiro das secretárias
local para fazer dever de casa. As paredes que abrigam o corredor
do exterior são feitas de cobogós, proporcionando uma ventilação
cruzada. Há, ainda, no andar superior, uma biblioteca, uma sala de
estar, escritórios para a administração, vestiários e banheiros. Um
mosaico de Burle Marx dá um toque agradável. O impactante mu-
ral de azulejos no ginásio é de Portinari.
térreo 1:1000
5 banheiro do diretor
6 biblioteca
7 sala de aula
8 banheiro dos professores
9 banheiro das moç
10 banheiro dos rap
HI corredor
12 rampa
13 balcão
14 ginásio
15 abrigo
16 telhado dos vestiários
148
1 área coberta de recreação
2 banheiro dos rapazes
3 banheiro das moças
4 banheiro de serviço
5 despensa
6 cozinha
7 refeitório
8 rampa
9 depósito
10 ginásio
1 abrigo
12 vestiário dos rapazes
13 vestiários das moças
14 piscina
AFFONSO EDUARDO REIDY
Conjunto residencial de Pedregulho. Lavanderia e mercado / 1950 / Rio de Janeiro
O funcionamento do con-
junto, estão em um mesmo prédio, próximo a uma rua que
margeia o terreno, dotado de uma entrada de serviço e estaciona-
mento para carga e descarga. O teto tem inclinações para o centro,
sendo rebaixado ao longo de um eixo principal, de modo a pro-
porcionar ventilação cruzada a todas as peças. Um brise-soleil
horizontal móvel, situado na parte central do mercado, protege
parcialmente o lado onde está a entrada principal. O mercado é
dividido em setores de legumes, carnes, pescados e laticínios, com
os respectivos equipamentos frigoríficos. Dispõe também de uma
padaria com forno elétrico.
O mercado e a lavanderia, essenciai
A lavanderia é mecanizada e operada por trabalhadores especializa-
dos: os diferentes setores tratam da recepção, identificação, desin-
fecção, lavagem, secagem, passagem, armazenagem e entrega.
A despeito de um certo preconceito inicial motivado pela relutân-
cia dos moradores em mandar lavar roupas muito gastas, a lavan-
deria central mostrou ser um dos equipamentos mais úteis deste
conjunto. Afora o ganho com o espaço usualmente reservado ao
tanque em cada apartamento, não só as donas de casa passaram a
ter mais tempo disponível para o trabalho doméstico, como tam-
bém todos os moradores passaram a andar com roupas mais limpas
e bem passadas.
corte 1:500
1 clientes 13 depósito de farinha de trigo
2 armazém 14 galeria
3 açougue 15 entrada de serviço
4 peixaria 16 recepção
5 frutas e vegetais 17 gerência
6 leiteria 18 entrega
7 balcão de vendas da padaria 19 boilers
8 frigorífico 20 lavanderia
9 depósito do armazém
10 padaria
11 banheiro feminino
21 entrega de roupa lavada
22 banheiro feminino
23 banheiro masculino
12 banheiro masculino
==
2 1)?
planta 1:500
AFFONSO EDUARDO REIDY
Conjunto residencial de Pedregulho. Centro de saúde / 1950-52 / Rio de Janeiro
O centro de saúde, localizado em outro pavilhão independente, foi
projetado para dar cuidados preventivos, consultas médicas e den-
tárias, bem como atender casos de emergência e pequenas cirurgias.
O programa inclui: uma seção de registro e classificação dos paci-
entes; três consultórios médicos; um consultório dentário com raios
X e câmara escura; uma farmácia; uma sala para pequenas cirur-
gias, com os anexos necessários; um pequeno laboratório de aná-
corte 1:500
planta 1:500
1 hall
2 registro
3 posto da enfermeira
4 cuidados preventivos (crianças)
S cuidados preventivos (mulheres)
6 cuidados preventivos (homens)
7 dentista
8 laboratório odontológico
9 câmara escura
10 depósito
11 farmácia
12 sala de trabalho da farmácia
13 gerência
14 entrada dos empregados
15 laboratório
16 lavatório
17 sala de cirurgia
18 esterilização
19 médicos
20 banheiro dos médicos
21 enfermaria das mulheres
22 banheiro feminino
23 enfermaria das crianças
24 banheiro das crianças
25 banheiro dos enfermeiros
26 enfermaria dos homens
27 banheiro masculino
28 banheiro das enfermeiras
29 refeitório e cozinha
30 rouparia
lises; três enfermarias para homens, mulheres e crianças, com as
respectivas peças anexas necessárias. As enfermarias são usadas
para repouso e pacientes internados por curtos períodos.
A sala de espera, parcialmente ao ar livre, tem, em um lado, um
longo banco de concreto, que se encaixa bem no layout, e no outro,
um mural em azulejos projetado por Anísio Medeiros.
151
CARLOS FREDERICO FERREIRA
Escola primária / 1949 / Santo André, São Paulo
Esta escola, com capacidade para 1.200 alunos em dois turnos,
atende as crianças da região onde foi construído o conjunto habita-
cional, projetado pelo mesmo arquiteto, mostrado na p. 140. A
solução racional e direta adotada no layout foi unir os dois blocos
de salas de aula por corredores cobertos, com um castelo d'á
independente, cuja discreta monumentalidade destaca a finalidade
social e funcional da construção. As salas de aula, orientadas de
modo a receber o mínimo de insolação no verão e o máximo pos-
sível no inverno, foram construídas sobre a área dos pilotis, que
funciona como playground coberto debaixo de cada bloco. No
primeiro desses playgrounds funcionam os escritórios da adminis-
andar superior 1:1000
tração e, no segundo, um pequeno clube agrícola. No ginásio há
um pequeno refeitório. O acesso entre os andares é feito por ram-
pas. As paredes exteriores das salas de aula são inteiramente en-
vidraçadas, com a parte inferior fixa e a superior composta de bas-
culantes, de modo a estabelecer ventilação transversal com a gale-
ria de circulação.
As elevações mostram claramente a maneira econômica com que o
problema foi resolvido. As longas fachadas horizontais, reduzidas
estrutural de módulo, tiram partido original de suas
proporções e da moldura que separa, em cada módulo, a parte de
baixo daquela de cima.
térreo 1:1000
1 secretaria
2 sala dos professores
3 médicos e dentistas
4 sala de espera
5 área coberta de recreação
6 pátio
7 clube agrícola
8 ginásio
9 refeitório da escola
10 castelo d'água
11 sala de aula
12 biblioteca e sala de aula de geografia
13 sala de física e ciências naturais
14 sala de desenho e cartografia
15 trabalhos manuais
16 parte superior do ginásio
|
x SI
elevação e corte do castelo d'água 1:400
/
ARES 4
q
157
FRANCISCO BOLONHA
Jardim de infância / 1952 / Vitória, Es
Neste projeto de um jardim de infância, construído na esquina de
um terreno de aproximadamente 26.500 mº, o arquiteto reservou a
maior parte da área disponível para a construção de um parque e
de um playground. O projeto aproveitou um lago já existente e a
sua forma sinuosa, com numerosas ilhotas, dando um ar pitoresco
ao conjunto. De frente para o prédio principal, no outro lado do jar-
dim, uma concha acústica de concreto armado cobre o palco de um
pequeno teatro ao ar livre, cujos bancos, também de concreto, for-
mam arcos de círculos concêntricos.
As cinco salas de aula abrem para pequenos pátios, que podem ser
usados para trabalhos ao ar livre. O projeto inclui também uma sala
de música, uma de repouso e um refeitório. O cuidado com o as-
pecto plástico do projeto, evidenciado pelo mural em pastilhas de
vidro, de Anísio Medeiros, que cobre o lado interno da parede que
separa o pátio da rua, em nada afeta a funcionalidade do conjunto.
Na verdade, o edifício se encaixa despretensiosamente na vege-
tação do parque; o arranjo não convencional dos espaços plantados
e pavimentados evita qualquer tipo de sugestão de excessiva disci-
plina escolar que poderia inibir a alegria das crianças ao brincar à
sombra das velhas árvores.
158
planta do jardim de infância 1:500
em
1 entrada
2 galeria
3 refeitório
4 sala de repouso
5 sala de aula
6 pátio
7 sala de música
8 despensa
9 cozinha
10 banheiro do inspetor
1H inspetor
12 banheiro das meninas
13 banheiro dos professores
14 banheiro dos meninos
15 secretaria
16 pátio de serviço
17 mastro
planta geral 1:2000
A jardim de infância
B teatro ao ar livre
159
EDUARDO CORONA
Colégio Estadual da Penha / 1952 / São Paulo
A inclinação do terreno, circundado por três ruas, no qual esta es-
cola foi construída, determinou a construção do edifício em três
planos, dos quais apenas o intermediário ocupa inteiramente a área
de projeção do prédio.
Devido à inclinação, o térreo ocupa apenas dois terços do terreno;
nele, a área em pilotis (com exceção da ocupada pelos vestiários da
piscina, grêmio dos estudantes, serviço médico e alojamento do
zelador) forma um playground coberto que se estende até o jardim.
No segundo nível estão os escritórios da administração, uma pe-
quena biblioteca, salas de aula, oficinas de trabalhos manuais e o
auditório. No terceiro nível, limitado ao espaço acima das salas de
aula do nível inferior, estão outras salas de aula, os laboratórios e
um anfiteatro. Os três níveis estão ligados por escadas e rampa
Graças ao uso dos pilotis, o arquiteto conseguiu compensar par-
cialmente a inadequação do terreno e, ao mesmo tempo, dar ao
conjunto um aspecto atraente.
Vale registrar que o muro desajeitado, que separa o jardim e a
calçada da rua, foi adicionado posteriormente. Este é um exemplo,
entre tantos outros, da falta de entendimento entre o artista e a
burocracia.
nível inferior 1:1000 nível principal 1:1000
nível superior 1:1000
1 área coberta de recreação
2 enfermaria
3 médico
4 dentista
5 apartamento do zelador
6 vestiário das moças
7 vestiário dos rapazes
8 grêmio estudantil
9 sala de imprensa
10 loja da cooperativa
11 diretoria e sala de reuniões
12 entrada do auditório
13 piscina
14 sala de aula
15 sala de aula de história
16 trabalhos manuais
17 trabalhos manuais
18 ciências e história natural
19 línguas
20 professores
21 secretaria
22 sala dos professores
23 diretor
24 biblioteca
25 palco
26 auditório
27 depósito
28 cabine de projeção
29 plataforma elevada
30 sala de geografia
31 sala de desenho
32 laboratório de física
33 anfiteatro
34 laboratório de química
161
OSCAR NIEMEYER
Obra do Berço / 1937 / Rio de Janeiro
Este berçário foi o primeiro prédio completado por Oscar Nie-
meyer. Foi construído para dar assistência e orientação médica a
mães (durante e após a gestação) e filhos até os dois anos de idade,
além da distribuição gratuita de leite. Ele é composto de dois blo-
cos: um de frente, de quatro pavimentos, cujo último andar con-
siste em uma grande sala, de múltiplos usos, dividida por partições
móveis, e um de fundos, de dois andares, com uma cobertura
ajardinada.
Os brise-soleil da fachada principal têm uma história interessante.
Eles foram originalmente projetados para serem fixos e construídos
com peças vazadas de concreto, similares
sadas no pavilhão
brasileiro da Feira Mundial de Nova York (p. 202), e as placas hori-
zontais deveriam ser inclinadas de modo a dar uma melhor prote-
ção contra o sol da tarde. Sua instalação, feita na ausência do ar-
quiteto e sem obedecer os detalhes das especificações do projeto,
acabou resultando em ineficácia na proteção requerida. Para atender
às justas reclamações da instituição que havia encomendado a obra,
e ao mesmo tempo defender o nascente prestígio da arquitetura bra-
sileira, Niemeyer mandou substituir, às suas próprias custas, todo o
conjunto da fachada principal pelo atual sistema de pla
ajustáveis, inspirado no projeto do prédio da Assc
de Imprensa, onde foram usados brise-soleil fixos.
verticais
Brasileira
térreo 1:400
SS ]
1 sala de espera
2 secretaria
3 consultas
4 cozinha
5 empregados
6 banheiro
7 preparação do leite
8 distribuição do leite
primeiro andar 1:400
segundo andar 1:400
166
g 9 sala de costura
IZ 10 berçário
“Kg
A 11 diretor
G
G 12 depósito
7 13 enfermeira
14 sala de isolamento
15 sala de jantar
16 salão
3
Z
É
É)
|Z|
|
167
FRA
Hospital Maternidade / 1951 / Cataguases, Minas Gerais
ISCO BOLONHA
Esta maternidade e hospital infantil foi construída como parte de
um projeto de maior porte, nesta pequena cidade do interior de Mi-
nas. Cataguases é um caso curioso de pequena cidade, com apenas
20 mil habitantes, que pode se gabar de ter um grande número de
projetos arquitetônicos modernos: casas de Aldary Toledo (p.50),
Francisco Bolonha, Edgard Guimarães do Vale e Oscar Niemeyer,
um hotel de Aldary Toledo e Gilberto Lyra, uma escola de Oscar
Niemeyer, entre outros.
O prédio tem apenas um andar na forma de um bloco alongado. Na
extremidade direita localiza-se o serviço de obstetríci
oposto, a cozinha, os escritórios, a lavanderia e a farmácia. O hall
de entrada fica no centro-oeste e, no lado les ão a enfermaria
das crianças e um playground coberto. O tratamento severo da
planta é atenuado, nas fachadas, pelo uso de detalhes alegres e des-
pretensiosos, que dão ao edifício um aspecto quase residencial.
Com % fito de dar ao conjunto maior unidade plástica, as portas de
correr do playground coberto repetem, nas suas treliças, a escala e
o desenho do grande painel em cobogós de tijolos.
planta 1:500
1 rampa
2 hall
3 enfermeira do setor de radiografia
4 médico
5 aparelho de raios X
6 câmara escura
7 quarto de vestir
8 posto da enfermeira
9 banheiro do setor de radiografia
10 partos de emergência
11 médico
12 banheiro do médico
13 esterilização
14 lavabo
15 sala de partos
16 sala privativa
17 banheiro
18 material de limpeza
19 banheiro das meninas
20 vestiários
21 refeitório e sala de recreação
22 enfermaria das meninas
23 enfermaria dos meninos
24 banheiro dos meninos
25 banheiro das enfermeiras
26 uniformes
27 rouparia
28 banheiro
29 lavanderia
30 pátio de serviço
31 galeria
32 recepção
33 farmácia
34 depósito
35 despensa
36
37 copa
inha
38 pratos e talheres
39 pratos e talheres sujos
40 copa
41 refeitório das freiras
42 refeitório dos médicos
43 castelo d'água E
169
ESCRITÓRIO TÉCNICO DA CIDADE UNIVERSITÁRIA DA UNIVERSIDADE DO BRASIL,
Jorge Machado Moreira, Arquiteto Chefe, Aldary Henriques Toledo, Arquiteto Chefe Adjunto
Orlando Magdalena, João Henrique Rocha, Donato Mello Júnior, Giuseppina Pirro, Adele Weber, Renato Ferreira de Sá, Elias Kaufman,
Arlindo Araujo Gomes, João Corrêa Lima, Astor Read Sá Roris, Norma Cavalcanti Albuquerque, Otavio Sergio de Moraes, Carlos
Alberto Boudet Fernandes, Conceição M. Mattos Penna, Jorge Werneck Passos, Paulo Rocha Souza, Renato Sá Junior e Paulo Porciúncula
de Sá, arquitetos
Instituto de Puericultura da Universidade do Brasil / 1953 / Rio de Janeiro
O Instituto de Puericultura, prêmio na categoria de Hospitais da II
Bienal de São Paulo (1953), foi projetado e construído pelo Es-
critório Técnico da Cidade Universitária da Universidade do Bra-
sil, dirigido pelo engenheiro L. H. Horta Barbosa.
A sobriedade de sua concepção, acoplada ao engenhoso equilíbrio
que orientou o desenvolvimento do projeto, tanto no plano geral
como nos mínimos detalhes, é uma indicação do classicismo real e
profundo do conjunto da obra, a qual certamente marcará época na
evolução da arquitetura moderna no Brasil.
170
O caráter nitidamente regional deste trabalho é enfatizado pela
leveza dos grandes blocos, com seus contornos claros e nítidos,
construídos sobre pilotis, e o contraste das amplas e compridas su-
perfícies lisas, com os painéis em azulejos cerâmicos (projetados
por Roberto Burle Marx, Aylton Sá Rego e Yvanildo da Silva
Gusmão) e, ainda, os detalhes peculiares de cada parte e os amplos
jardins desenhados por Roberto Burle Marx.
O Instituto de Puericultura, o primeiro prédio a ser terminado da
Cidade Universitária, ainda em construção (p. 258), ocupa uma área
171
RINO LEVI ce ROBERTO CERQUEIRA CESAR
A crescente necessidade de pesquisas sobre o câncer vem deman-
dando que os pacientes sejam agrupados, não só para poder obser-
var o maior número possível de casos, como também para apro-
veitar ao máximo a competência dos especialistas, cujo número é
ainda bastante reduzido.
O arquiteto teve que resolver os seguintes problemas: facilitar a
pesquisa e o ensino, permitir que os casos incuráveis fossem admi-
tidos sem interferir no tratamento dos pacientes passíveis de cura, e
dar o melhor atendimento possível aos pacientes do ambulatório.
O objetivo deste hospital, obra de uma entidade sem fins lucrativos
— a Associação Paulista de Combate ao Câncer —, é o diagnóstico e
a prevenção do câncer, seu tratamento, a assistência social aos doen-
tes e suas famílias, assim como a pesquisa e o ensino em oncologia.
O hospital foi construído em um terreno inclinado, cujo desnível
entre a frente e os fundos, respectivamente sul e norte, é de aproxi-
madamente 18 m. Por isto, os três blocos foram projetados com
alturas decrescentes, de modo que a diferença assim obtida, acen-
tuada pelo desnível, favorecesse a insolação, propiciando, ao mes-
mo tempo, uma vista desobstruída do panorama.
O edifício principal, o mais alto, fica próximo à rua e abriga as
enfermarias e o centro cirúrgico e de esterilização; os andares infe-
jo ocupados pelo setor de internação, primeiros socorros,
serviços administrativos, setor de pesquisas e pelo necrotério.
O segundo edifício tem quatro andares e os seus dois andares supe-
riores são ocupados pelo ambulatório, serviços técnicos e científicos
Instituto Central do Câncer (Hospital Antonio Candido de Camargo) / 1954 / São Paulo
e pelos laboratórios do centro de patologia. Os dois andares infe-
riores abrigam a lavanderia, o depósito, acomodações para os em-
pregados subalternos, um restaurante e uma capela. O pavilhão ao
fundo é uma construção de dois andares, ocupada pelos médicos,
enfermeiras e internos. Nos fundos do terreno, foi reservado um
espaço para a construção futura de um centro de pesquisas e de um
pavilhão para os incuráveis.
Os pacientes são acomodados em sete andares do bloco principal,
dos quais quatro são ocupados por enfermarias para atendimento
público gratuito (e uns poucos quartos particulares para casos
graves), equipadas com 169 leitos. Os três andares restantes são
reservados aos pacientes pagantes, cada um com 15 quartos parti-
culares (suítes) com cama para acompanhante, se for o caso. Assim,
a capacidade total é de 214 leitos, além dos 45 acompanhantes.
A circulação de pessoas e de provisões dentro do hospital é orga-
nizada de acordo com as seguintes categorias: pacientes, médicos
e estudantes, enfermeiras e demais funcionários, visitantes, cadá-
veres, refeições, roupas, materiais diversos e lixo. Ela é facilitada
pela existência de diferentes acessos: a. entrada principal, no nível
da rua, para pacientes internados, médicos, enfermeir:
e pessoas que se dirigem ao auditório (estas últimas através de uma
escada circular existente no hall de entrada; b. entrada para casos de
emergência, no nível da rua, com um abrigo para ambulância; c.
entrada dos pacientes do ambulatório, no nível da rua, que leva aos
andares superiores do bloco do meio; d. entrada de serviço, pela
» Visitantes
rampa do lado esquerdo do edifício; e. entrada do necrotério,
pela rampa do lado direito.
Os quatro elevadores, agrupados em dois pares, para pacientes
pagantes e não-pagantes têm um dispositivo automático para servi-
ço expresso. Este dispositivo permite suprimir todas as chamadas
intermediárias feitas após o seu acionamento; terminada a viagem
direta, o serviço normal se restabelece automaticamente. Desta
forma todos os elevadores podem ser de propósito múltiplo, sem
prejudicar o funcionamento normal ou o serviço expresso, elimi-
nando, assim, a necessidade de ter elevadores reservados para
serviços especiais.
Todo o projeto é baseado em um módulo de 1,20 m, aparente na
estrutura, nas instalações e nas aberturas. Entre a laje de cada
piso e o teto subjacente há um espaço vazio contínuo que facilita
mudanças nas instalações e o uso de divisórias leves; este módulo
dá uma grande flexibilidade à construção, permitindo que ela possa
atender a qualquer nova demanda técnica sem maiores dificuldades.
A integração arquitetônica dos vários elementos do projeto expres-
sa bem a maneira direta e séria com que o arquiteto tratou os dife-
rentes problemas colocados. A fachada principal, caracterizada por
duas séries de aberturas em cada andar, recebeu um toque mais
acolhedor, graças à disposição saliente do bloco de dois andares,
onde se localizam a entrada, a biblioteca e o auditório. As outras
fachadas mostram, com bastante nitidez, o rigor das proporções,
não apenas no traçado geral, mas também em todos os detalhes.
Esta intransigente qualidade se manifesta sobretudo nos contornos
dentados das elevações do bloco intermediário, indicando ilumi-
nação em shed do telhado do quarto andar.
décimo, décimo-primeiro e décimo-segundo andares 1:500
quinto andar 1:500
rd
Urrgo
quarto andar
1:500
178
1 entrada de serviço
2 entrada de ambulâncias
3 entrada de pacientes, médicos, enfermeiras e o público
4 entrada do ambulatório
5 necrotério
6 primeiros socorros
7 secretaria
8 sala de espera dos pacientes pagantes
9 sala de espera dos pacientes não-pagantes
10 vestiários dos médicos e enfermeiras
HH internação e caixa
12 serviço social
13 vestiários e banheiros dos pacientes não-pagantes
14 sala de espera dos pacientes do ambulatório
15 farmácia;
16 banheiro dos pacientes não-pagantes
17 sala de espera dos pacientes pagantes
18 sala de espera dos pacientes do ambulatório
19 raios X
20 radioterapia
21 eletroterapia
22 radiografia
23 laboratórios
24 hall
25 biblioteca
26 auditório
27 museu de anatomia e patologia
28 sede da Associação Paulista de Combate ao Câncer
29 diretor do hospital
30 enfermeira chefe
31 arquivo técnico
32 dieteticista
33 sala de espera
34 vestiários
35 consultas gratuitas
36 centro de medicina preventiva
37 terapia de raios X
38 posto da enfermeira
39 sala privativa
40 macas
41 material de limpeza
42 copa
43 rouparia
44 enfermeira chefe
45 roupa suja
46 tratamento
47 sala de repouso dos internos
FIRMINO F. SALDANHA | 26 radioterapia
27 radioterapia profunda
Hospital dos Marítimos / 1955 / Rio de Janeiro 28 controle
| 29 raios X
' 30 câmara escura
Neste projeto de um hospital geral de 450 leitos, feito para o dos aos serviços gerais, técnicos, científicos, etc. O mezanino, que Eljpono das enfermeiras
Instituto de Assistência Social aos Marítimos, os numerosos e mui- liga o térreo aos andares superiores, abriga os serviços administra- Ran oe
to diversificados elementos do programa foram integrados em um tivos, laboratórios, etc. As enfermarias estão nos oito andares ; : Corja
volume bem proporcionado e, ao mesmo tempo, extremamente sim-
ples. O edifício tem 12 andares sobre um platô que leva à entrada
principal e, seguindo a inclinação do terreno, dois outros para bai-
xo. Estes dois últimos e o andar da entrada principal são destina-
seguintes (do segundo ao nono); no décimo há uma enfermaria
materna. O setor cirúrgico fica no 11º e inclui quatro salas de opera- |
ção, com os seus anexos; as acomodações das enfermeiras estão no
12º (cobertura), próximas ao solário e ao jardim do terraço.
35 megascopia
36 atendente do serviço de fisioterapia
37 fisioterapia
38 eletrocardiologia
mezanino 1:500
1 entrada principal
10 monta-cargas para roupas
Oº0000
“o
s.
|
e]
39 metabolismo basal
40 alergia
41 eletrodiagnóstico
42 rouparia
43 biblioteca
44 vestiários
45 sala de leitura
46 diretor
47 salão de reuniões
48 chaminé
49 laboratório central
SO bacteriologia
S1 culturas
52 lavagem da vidraria
53 sala de trabalho
54 estufa
55 sala de injeções
56 depósito
57 sala dos médicos
58 biotério
59 jardim
60 pátio
61 tratamento
62 enfermaria
63 acessórios
64 enfermaria
0/0 lts
-
do segundo ao nono andar 1:500
so |90 | q
2 hall principal 11 distribuição 19 cozinha [65 entrada da enfermaria
3 hall dos pacientes 12 copa 20 cozinha dietética 66 entrada da enfermaria geral
4 elevador dos pacientes 13 monta-cargas 21 restaurante 67 criado-mudo para receitas
5 elevador dos médicos e do público 14 refeitórios dos subalternos 22 recepção 68 subesterilização
6 elevador de serviço 15 salão 23 sala dos médicos 69 sala de operação
7 lixo 16 elevador de serviço 24 sala de espera 70 enfermeiras
8 hall de serviço 17 despensa 25 abreugrafia 71 sala de repouso
9 tubo de lançamento de roupa suja 18 frigorífico 72 anestesia
73 internos
74 oftalmologia
E E 75 otorrino
EGARRIS. 76 endoscopia
pe 77 histopatologia
78 banco de sangue
à pp décimo-primeiro andar 1:500
térreo 1:500
180
81 cirurgia ortopédica
82 material para engessamento
83 câmara escura
84 passagem de serviço
85 desinfecção
86 colchões, depósito
87 colchões, aeração
88 varanda
89 salão
90 quarto
91 sala de demonstração
92 rampa
93 central de esterilização
94 material cirúrgico
95 capela
96 solário
Euro É Te
s e
décimo-segundo andar 1:500
181
ALCIDES ROCHA MIRANDA, ELVIN MCKAY
Pavilhão do altar do XXXVI Congresso Eucaríst
Ponto focal de uma importante cerimônia religiosa, que reuniu cer-
ca de um milhão de peregrinos de todo o mundo, este altar foi eri-
gido a título provisório, e em um prazo curto, sobre um aterro, com
uma pequena elevaçã
acordo com o projeto de transform:
dade, que pode ser visto na p. 252
», avançando sobre a baía de Guanabara, de
jo da orla nesta parte da ci-
A constru
fabri-
cada, em função da natureza do terreno e do curto prazo disponível.
ão, extremamente leve, foi quase inteiramente pré
As grandes linhas horizontais do projeto, desenvolvido com a
maior simplicidade, baseado em um croqui original de Lúcio Cos-
ta, funcionam como pano de fundo para a grande cruz de madeira,
situada na frente e à esquerda; o contraste com a enorme vela infla
da, situada à direita e atrás do prédio, é especialmente impactante
Evocando as caravelas das viagens de descobertas dos navegadores
portugueses, esta vela garbosamente inflada pela brisa marinha e
inundada de luz durante a noite, quando ocorriam as cerimônias
mais importantes, se destacava sobre as águas escuras da baía, on-
de estavam ancorados barcos da frota, ornamentados com guirlan-
das de lâmpadas elétricas. Assim, toda a composição ganhou um
DUBUGRAS e FERNANDO CABRAL PINTO
'o Internacional / 1955 / Rio de Janeiro (projeto inicial de Lúcio Costa)
simbolismo e uma dignidade monumental, dispensando quaisquer
ênfases adicionais no pavilhão do altar, erigido na elevação artifi-
cial de modo a ficar visível para toda a multidão. Em dada ocasião,
quase meio milhão de comungantes, 230.000 mulheres e 250.000
homens, se reuniu nessa área de 330.000 mº, dos quais 230.000
asfaltados. O altar propriamente dito ficou no centro, protegido por
uma longa e fina cobertura e destacado por um baldaquim parcial-
mente pendurado no teto, com uma fila de cadeiras de cada lado
para os altos dignitários da Igreja e do Estado. Na parte central,
atrás do altar, o pavilhão tinha dois andares: no nível do altar
estavam a capela, a sacristia, um quarto para os cardeais e as cabi-
nes de rádio; no andar inferior, construído dentro do aterro, esta-
vam os aposentos privados, as salas de controle da sonorização e
um posto de primeiros socorros
O pavilhão foi construído em madeira, sobre uma estrutura de aço,
com telhado em cimento-amianto ondulado. Os revestimentos em
madeira foram simplesmente encerados e polidos, com exceção do
telhado, do baldaquim e das telas, que eram pintados.
1 degraus
2 pedestal do altar
3 altar
4 credência
5 Cardeal Legado
6 Núncio Apostólico
7 Patriarca do Oriente
8 cardeais
O bispos planta 1:1000
10 cruz (14 m)
1H cabine e plataforma
12 capela com altar
13 sala dos cardeais
14 sacristia
15 escadaria de serviço
16 cabines de rádio
17 fotógrafos
18 dignitários corte 1:500
187
OSCAR NIEMEYER
O conjunto de recreação e turismo da Pampulha fica a uma curta
stância do centro de Belo Horizonte. A pitoresca lagoa na qual se
situa foi feita especialmente para o projeto, através da construção
de uma barragem que fechou um vale largo e sinuoso, formando
um espelho d'água de vários quilômetros. É interessante notar que
o projeto foi promovido pelo atual Presidente da República,
Juscelino Kubitschek de Oliveira, no tempo em que era prefeito de
Belo Horizonte e antes de ser governador de Minas Gerais, porque
ele sempre foi um entusiasta da arquitetura moderna. Além dos
três prédios já terminados, o projeto final prevê a construção de
um hotel, um clube de golfe e outros melhoramentos. A Casa do
Baile é um pequeno restaurante e casa de dança popular em uma
ilha perto da barragem, com acesso através de uma passarela.
O salão é circular, mas a forma crescente das dependências de
1 passarela
2 escultura
3 restaurante
4 orquestra
5 copa-cozinha
6 refeitório dos empregados
7 palco
8 vestiário planta 1:500
Salão de dança da Casa do Baile / 1942 / Pampulha, Minas Gerais
serviços construídas em torno dele confere uma forma ovóide à
planta. O teto é uma placa de corícreto, que se prolonga em linha
sinuosa acompanhando o contorno da ilha. Na extremidade desta
marquise há um lago de plantas ornamentais com um palco ao ar
livre no lado oposto.
O contraste entre o bloco, parcialmente envidraçado e parcialmen-
te revestido com um mural em azulejos, e o contorno caprichoso da
marquise, com sua estrutura livre claramente visível (típico da ati-
tude desinibida do arquiteto com relação ao problema da forma),
expressa o objetivo de convivência do programa, com um toque
incomparavelmente leve. Construído no período de plena eferves-
cência da arquitetura brasileira, este prédio foi o marco de uma ten-
dência que teve influência decisiva no pensamento dos arquitetos
mais jovens.
OSCAR NIEMEYER
Cassino, 1942 / Pampulha, Minas Gerais
O Cassino, sobre uma elevação do terreno à beira d'água, pode se:
visto da Casa do Baile, situada no lado oposto da lagoa
como da terceira unidade do projeto, o Iate Clube. O programa
compreende os salões habituais, as s de jogos, o bar e o restau-
rante, com uma pista de dança e um palco, dispostos em três blo-
cos, amente reunidos, que expressam, pelas formas s
com contornos precisos, a função de cada elemento. A severidade
aparente do conjunto é equilibrada pelo jogo de massas em comu-
nicação, pela transparência das fachadas e dos interiores, como
também pelos pilotis e brise-soleil do bloco arredondado e o con-
TILIIIIIOO
Ft
térreo 1:500
torno gracioso das marquises sobre a entrada, perto de uma escul-
tura de Zamoiski. As colunas exteriores têm um revestimento de
mármore travertino e as paredes são cobertas com placas de pedra.
No interior, o revestimento em metal cromado das colunas, os pa-
rapeitos e rampas em Ônix argentino, a profusão de espelhos e
todos os elementos de decoração, incluindo a iluminação por bai-
xo, na pista de dança, contribuem para dar uma atmosfera caracte-
rística, sem recorrer aos recursos vulgares, comumente usados em
casos similares.
andar superior 1:500
corte 1:500
1 saguão
2 chapelaria
3 entrada para o banheiro feminino
4 terraço
5 pista de dança
6 depósito
7 camarins
8 camarim privado
9 vestiários dos empregados
10 gerente
H escadaria de serviço
12 restaurante
13 palco
14 copa-cozinha
15 refeitório dos empregados
16 depósito
17 bar
18 sala de jogos
191