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15-09-28 - apostilaculturadocafe, Notas de estudo de Engenharia Agronômica

Apostila sobre a o café

Tipologia: Notas de estudo

2017

Compartilhado em 18/09/2017

ithana-salvino-12
ithana-salvino-12 🇧🇷

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Baixe 15-09-28 - apostilaculturadocafe e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Agronômica, somente na Docsity! CULTURA DO CAFÉ es ITR TO INSTITUTO FORMAÇÃO Cursos Técnicos Profissionalizantes 2 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz A ORIGEM DO CAFÉ A história do café começou no século IX. O café é originário das terras altas da Etiópia (possivelmente com culturas no Sudão e Quênia) e difundiu-se para o mundo através do Egito e da Europa. Mas, ao contrário do que se acredita, a palavra "café" não é originária de Kaffa — local de origem da planta —, e sim da palavra árabe qahwa, que significa "vinho"(هوة devido à importância que a planta passou a ,(ق ter para o mundo árabe. Uma lenda conta que um pastor chamado Kaldi observou que suas ovelhas ficavam mais espertas ao comer as folhas e frutos do cafeeiro. Ele experimentou os frutos e sentiu maior vivacidade. Um monge da região, informado sobre o fato, começou a utilizar uma infusão de frutos para resistir ao sono enquanto orava. Parece que as tribos africanas, que conheciam o café desde a Antiguidade, moíam seus grãos e faziam uma pasta utilizada para alimentar os animais e aumentar as forças dos guerreiros. Seu cultivo se estendeu primeiro na Arábia, introduzido provavelmente por prisioneiros de guerra, onde se popularizou aproveitando a lei seca por parte do Islã. O Iêmen foi um centro de cultivo importante, de onde se propagou pelo resto do Mundo Árabe. O conhecimento dos efeitos da bebida disseminou-se e no século XVI o café era utilizado no oriente, sendo torrado pela primeira vez na Pérsia. Na Arábia, a infusão do café recebeu o nome de kahwah ou cahue (ou ainda qah'wa, do original em árabe هوة Enquanto na língua .(ق turco otomana era conhecido como kahve, cujo significado original também era "vinho". A classificação Coffea arabica foi dada pelo naturalista Lineu. O café no entanto teve inimigos mesmo entre os árabes, que consideravam suas propriedades contrárias às leis do profeta Maomé. No entanto, logo o café venceu essas resistências e até os doutores maometanos aderiram à bebida para favorecer a digestão, alegrar o espírito e afastar o sono, segundo os escritores da época. Em 1475 surge em Constantinopla a primeira loja de café, produto que para se espalhar pelo mundo se beneficiou, primeiro, da expansão do Islamismo e, em uma segunda fase, do desenvolvimento dos negócios proporcionado pelos descobrimentos. Café na Palestina em 1900 - cartão estereoscópico da Keystone View Company. Por volta de 1570, o café foi introduzido em Veneza, Itália, mas a bebida, considerada maometana, era proibida aos cristãos e somente foi liberada após o papa Clemente VIII provar o café. Na Inglaterra, em 1652, foi aberta a primeira casa de café da Europa ocidental, seguindo-se a Itália dois anos depois. Em 1672 cabe a Paris inaugurar a sua primeira casa de café. Foi precisamente na França que, pela primeira vez, se adicionou açúcar ao café, o que aconteceu durante o reinado de Luís XIV, a quem haviam oferecido um cafeeiro em 1713. Na sua peregrinação pelo mundo o café chegou a Java, alcançando posteriormente os Países Baixos e, graças ao dinamismo do comércio marítimo holandês executado pela Companhia das Índias Ocidentais, o café foi introduzido no Novo Mundo, espalhando-se nas Guianas, Martinica, São Domingos, Porto Rico e Cuba. Gabriel Mathien de Clieu, oficial francês, foi quem trouxe para a América os primeiros grãos. Ingleses e portugueses tentaram a sua sorte nas zonas tropicais da Ásia e da África. Em 1727, o sargento-mor Francisco de Melo Palheta, a pedido do governador do Estado do Grão-Pará, lançou-se numa missão para conseguir mudas de café, produto que já tinha grande valor comercial. Para isso, fez uma viagem à Guiana Francesa e lá se aproximou da esposa do governador da capital Caiena. Conquistada sua confiança, conseguiu dela uma muda de café-arábico, que foi trazida clandestinamente para o Brasil. Das primeiras plantações na Região Norte, mais especificamente em Belém, as mudas foram usadas para plantios no Maranhão e na Bahia, na Região Nordeste. As condições climáticas não eram as melhores nessa primeira escolha e, entre 1800 e 1850, tentou- se o cultivo noutras regiões: o desembargador João Alberto Castelo Branco trouxe mudas do Pará para a Região Sudeste e as cultivou no Rio de Janeiro, depois São Paulo e Minas Gerais, locais onde o sucesso foi total. O negócio do café começou, assim, a desenvolver-se de tal forma que se tornou a mais importante 5 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz O conilon pertence ao grupo Guineano, e apresenta grande variabilidade em relação ao porte, caules ramificados, folhas maduras com comprimento e largura menores que às das demais variedades da espécie, folhas novas de coloração bronze, frutos vermelhos ou amarelos quando maduros e sementes de tamanhos variados (Fazuoli, 1986). Sozinha, a variedade conilon responde por aproximadamente 30% da produção nacional e 70% da produção capixaba de café. Seu principal destino é o mercado interno, seja para industrialização como café solúvel ou para compor os blends com o arábica, na indústria do torrado e moído. Grãos de café Arábica Grãos de café Conilon Distribuição Geográfica Geografia do Café • O café cresce melhor numa área conhecida como o cinturão do Grão - faixa ao redor do meio do mundo limitado pelos trópicos de Câncer. • Solo, clima e altitude têm influência sobre o sabor dos grãos. • O pé de café prefere solo rico e temperaturas amenas, com bastante chuva e protegido do sol. • As temperaturas ambiente devem estar entre os 18º e os 27º C. • A altitude pode variar entre os 400 e os 2000 metros 6 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz O café produzido nestes locais é depois comercializado em sacas de grão crú, o chamado café verde, o qual é vendido para diversos países e neste transformado. Importância da cafeicultura no desenvolvimento econômico do Brasil Atrelada ao contexto histórico do Brasil, a atividade cafeeira pode ser considerada "a primeira atividade mercantil não colonial" , implantada no seio de um Estado nacional recém-criado. Essa atividade assistiu o processo de diversificação da estrutura social, acompanhada do surgimento da vida urbana em razão do desenvolvimento, bem como as transições nas relações de trabalho e impetração de leis. Foi com a mão- de-obra livre, oriunda principalmente da imigração européia, é que a atividade tomou maior fôlego, mesmo que inicialmente esta estivesse calcada no uso de mão-de-obra cativa que se estendeu até 1888, ano de assinatura da Lei Áurea. Essa mudança coincide com a "transição capitalista" que definiu a nova divisão do trabalho, "base das relações imperialistas" , com a conseqüente expansão do movimento internacional de capitais, que ao entrarem no contexto econômico de nosso país, impulsionaram a rápida disseminação da cultura. A transposição da mão-de-obra negra que até então representava um custo nulo para o latifúndio, para a mão-de-obra imigrante que exigiu grande volume de capital de giro para a sua sustentação, colaborou para a consolidação do Sistema Financeiro Nacional, implantado pela Família Real Portuguesa em 1808. A necessidade de um sistema que financiasse a produção e toda a sua infra-estrutura, passou a ser ainda mais importante quando a figura do comissário perdeu sua importância e a do exportador, geralmente agente de grandes empresas estrangeiras, passou a ter nas mãos, o poder de comprimir os preços do produto. Os recursos, em sua maioria oriundos de empréstimos realizados junto à bancos estrangeiros, foram fundamentais para a instalação de ferrovias, modernização dos portos brasileiros, abertura de estradas, pontos de beneficiamento. Entretanto, trouxe consigo, a ilusão do "dinheiro fácil" , que culminou em problemas que vão desde a desorganização do sistema bancário - que permitia a emissão de moeda em cada casa bancária sem a existência de lastro, aliada aos déficits orçamentários, deflagrando assim a endemia chamada inflação, até o abandono das lavouras de subsistência e aumento da importação de alimentos, já que os agricultores visando os lucros atrativos do café, deixaram de lado as demais culturas. Graças aos recursos das exportações, que no final do século XIX respondia por cerca de 80% das receitas de nossa balança comercial, importância essa que manteve seu auge até o final da Segunda Guerra Mundial (1938-1945), o café proporcionou a sustentação do aparelho político e administrativo do Regime Republicano, além de ter sido o fornecedor de recursos para a instalação do parque industrial nacional. O café sem dúvidas atuou "como elemento dinamizador da economia na medida em que gerou um capital excedente investido em outros setores que não o agrícola, e na medida, ainda, em que criou um mercado consumidor para novos produtos" , mesmo que nesse caso alguns estudiosos considerem que essa transferência de recursos tenha ocorrido em razão da necessidade de frear a sua expansão, evitando-se assim o risco da superprodução. Dada sua importância na pauta de exportações do Brasil, foram introduzidas alterações de política econômica, que redefiniram as relações financeiras com o exterior, em razão dos muitos investimentos estrangeiros que aqui estavam sendo realizados. A política cambial passou a ser melhor elaborada, assim como as preocupações com a padronização dos produtos comercializados, mesmo de forma simplificada, passaram a fazer parte do dia-a-dia do exportador. O café, planta nobre que deixou as montanhas etíopes, em solo brasileiro, gerou riquezas e com elas os primeiros passos de uma nação. 7 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz BOTÂNICA E GENÉTICA - Origem das principais espécies e morfologia do cafeeiro. 1. Classificação taxonômica do cafeeiro: O cafeeiro pertence à família Rubiaceae que abrange mais de 10 mil espécies agrupadas em 630 gêneros. De acordo com classificação recente de Bridson e Verdcourt (1988) e Bridson (1994), os cafeeiros foram reunidos em dois gêneros: o Psilanthus Hook e Coffea L., os quais diferem, basicamente, por particularidades apresentadas nas estruturas florais. O gênero Coffea é subdividido nos subgêneros Coffea, representado por mais de 80 espécies e Baracoffea, constituído por sete espécies. A maioria das espécies do subgênero Coffea é oriunda da Ilha de Madagascar e Ilhas vizinhas, enquanto uma quantidade menor de espécies é nativa da África Continental, com destaque para as duas principais espécies de cafeeiro: Coffea arabica L. e Coffea canephora Pierre (Slide 1 – Classificação taxonômica das espécies). 1.2 Origem das principais espécies de cafeeiro 1.2.1 Espécie Coffea arabica L. A espécie C. arabica L. é nativa de uma região restrita, localizada entre o Sudoeste da Etiópia, Sudeste do Sudão e Norte do Quênia que ocorre entre 8 a 12º LN, e cuja altitude varia de 1.0 a 3.0 m (Carvalho, 1946). As variedades Typica e Bourbon são responsáveis pela maioria das cultivares de Coffea arabica L. (Anthony et al., 2000). Há grande variabilidade morfológica nas cultivares arábicas, ainda que a base genética seja pouco diversificada (Berthaud e Charrier, 1988), devido às mutações e cruzamentos naturais (Krug et al., 1939), apesar da baixa taxa de fecundação cruzada (5 a 10 %). As plantas da espécie C. arabica L. desenvolvem-se no ambiente de origem, em sub-bosque, com temperaturas amenas, média anual entre 18,5 e 21,5o. Precipitação varia entre 1.200 a 2.0 m, com período seco de 3 a 4 meses; presença de orvalho, devido a elevada umidade relativa (Narasimhaswamy, 1968). Os cafeeiros desta espécie, quando cultivados a pleno sol e sob elevado déficit de pressão de vapor, tem dificuldade para atender a demanda de água pela transpiração, possivelmente em razão da baixa condutividade hidráulica, que pode ser uma característica de plantas de sub-bosque. Como conseqüência, as plantas dessa espécie se adaptaram ao cultivo a pleno sol por meio de um mecanismo eficiente de regulação estomática, com a finalidade de diminuir a perda de água durante o período mais quente do dia. A espécie Coffea arabica L. é a única do gênero Coffea que além de ser tetraplóide (2n = 4 cromossomos somáticos) é autógama, propaga-se por autofecundação em até 90 a 9 % das flores (Carvalho e Mônaco, 1965). Não há registros de efeitos prejudiciais ao vigor e a produtividade do cafeeiro, proporcionado pelas sucessivas autofecundações, razão porque são utilizadas sementes na propagação e formação de cafeeiros dessa espécie. Apesar da pequena taxa de cruzamento entre as espécies e entre cultivares da mesma espécie, a mesma contribuiu para o surgimento de cultivares e híbridos como, por exemplos, Mundo Novo e Híbrido do Timor (Slide 2 – Característica do ambiente e de C. arabica). 1.2.2. Espécie Coffea canephora Pierre : A espécie C. canhephora Pierre está distribuída por uma ampla área geográfica, na faixa ocidental, centro tropical e subtropical do Continente africano, especificamente da Guiné até a República Democrática do Congo. Nessa região, o ambiente é quente, com alta umidade relativa e baixa altitude, embora sejam encontrados cafeeiros até 1.300 m de altitude. O cafeeiro conilon (C. canephora Pierre), cultivado no Estado do Espírito Santo, Sul da Bahia e Rondônia, é originário de regiões equatoriais de baixa altitude e úmida da bacia do Rio Congo (Paulino et al., 1984). No Brasil são plantados a cultivar conilon e robusta, em que a primeira “tolera” mais a seca, do que a cultivar robusta, plantada principalmente no exterior; enquanto no Brasil é cultivado nos Estados de Rondônia e Mato Grosso. A espécie C. canephora cv. Apoatã IAC 2258, é uma seleção derivada de material introduzido da Costa Rica, que apresenta tolerância a algumas espécies de nematóides, por isso tem sido utilizada como 10 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz degradada e mobilizada para os locais de demanda de carbono (Slide 6 – Amido nos ramos e caule). Em geral os carboidratos se acumulam nos ramos e caule no final da estação de crescimento, para ser consumido no início da estação chuvosa (Kozlowski, 1992). A recuperação das reservas tanto no caule quanto nos ramos em dezembro pode estar relacionado com elevadas taxas fotossintéticas, como fora observadas por Reis (2007), em pesquisa feita com as mesmas plantas de janeiro a junho (Slide 8 – Fotossíntese em função da dose de N). O crescimento vegetativo (caule, ramos, folhas e raízes) ocorre simultaneamente ao período reprodutivo, embora a taxa média de crescimento das folhas e ramos seja menor em janeiro do que em outubro, no início da estação chuvosa (Rena & Maestri, 1987). Isto acontece em razão da produção e alocação diferencial de carboidratos nos diferentes períodos. Entre o período seco e o início das chuvas (julho a setembro) foi observado muito amido nos tecidos da medula, raios xilemáticos e também no floema dos ramos laterais (Chaves Filho, 2008). Nos meses chuvosos de novembro e dezembro foi observado um novo preenchimento dos tecidos de armazenamento dos ramos laterais, que pode estar relacionado com o rápido desenvolvimento vegetativo do cafeeiro nesses meses, por ser dreno de carboidratos, em particular, no ano de safra baixa. 1.3.4 Folhas As folhas do cafeeiro possuem pecíolo curto, lâmina elíptica ou elípticolanceolada, glabra, verde- luzidia na página superior ou adaxial e verde clara na página inferior ou abaxial (Dedecca, 1957). As margens foliares são ligeiramente onduladas, medindo 90 a 180 m de comprimento e 30 a 70 m de largura; nervação reticulada, nervura mediana desenvolvida, com 9 a 12 nervuras secundárias de ambos os lados, recurvadas, salientes na página inferior; bordas inteiras, levemente onduladas. As folhas são opostas e cruzadas no caule (ramo ortotrópico e ladrão), enquanto nos ramos plagiotrópicos são opostas e no mesmo plano, as quais quando novas apresentam coloração bronzeada ou verde clara. A coloração das folhas novas é um importante descritor para a identificação de cultivares e de linhagens dentro das cultivares (Aguiar, 2001). Cultivares Durante quase 70 anos de ininterruptas pesquisas com genética e melhoramento do cafeeiro, Instituto Agronômico desenvolveu dezenas de cultivares e linhagens de café e acumulou extenso conhecimento sobre suas características e comportamento nas diversas regiões brasileiras. Avalia-se, hoje, que mais de 90% dos estimados 4 bilhões de cafeeiros, cultivados no Brasil, sejam provenientes desses trabalhos. Alguns cultivares fazem parte da história da cafeicultura nacional tendo-se constituído nos alicerces da nossa produção durante décadas. Da mesma forma, outros são a base da cafeicultura de países, especialmente da América Central, como os cultivares Bourbon Vermelho, Caturra Vermelho, Caturra Amarelo e Catuaí Vermelho. Houve sempre destaque especial para o desenvolvimento de material de alta produtividade e rusticidade, que fosse adaptado às mais diversas condições edafoclimáticas e se destacasse pelas características específicas, resultando em múltiplas opções para as variadas situações da cafeicultura nacional. Os cultivares de porte baixo como Catuaí Amarelo e Catuaí Vermelho modificaram sistemas de produção, permitiram a utilização de novas áreas para a cafeicultura, aumentando a lucratividade e mesmo viabilizando seu cultivo em regiões outrora improdutivas, como extensas áreas dos cerrados em São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Mesmo cultivares de porte alto como linhagens de Mundo Novo e Acaiá também têm tido bastante êxito nessas regiões. O cultivo de material com resistência à ferrugem - Icatu Vermelho, Icatu Amarelo, Icatu Precoce, Obatã e Tupi - representa considerável economia para o produtor, diminui a poluição ambiental, bem como os riscos para a saúde dos agricultores e consumidores. Obatã e Tupi, de 11 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz porte baixo, são especialmente indicados para plantios adensados ou em renque, atendendo às mais modernas tendências da cafeicultura brasileira. O porta-enxerto Apoatã é um tipo de café robusta (Coffea canephora), selecionado para resistência aos nematóides, sobretudo para viabilizar o retorno da cafeicultura às regiões da Alta Paulista, Noroeste e Alta Araraquarense. Sua importância socioeconômica é evidente, considerando-se que Apoatã pode também ser cultivado no oeste do Estado de São Paulo e no Vale do Ribeira, como pé franco, produzindo assim matéria-prima para atender diretamente à indústria de café solúvel. Bourbon Amarelo: Por ser mais precoce que Mundo Novo, Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo, o cultivar Bourbon Amarelo, apesar de menos produtivo que os anteriores, poderá ser indicado para plantio quando se deseja: a) Uma colheita precoce, em parte da lavoura, o que possibilita melhor utilização de mão-de-obra e máquinas agrícolas. b) Produzir café em regiões de maior altitude ou mais frias, onde a maturação do Mundo Novo e principalmente do Catuaí se torna muito tardia, coincidindo com novo florescimento, o que prejudica a produção do ano seguinte. c) Obter café de qualidade de bebida superior, sobretudo visando ao mercado de "cafés gourmet" ou atender a demandas especiais. Mundo Novo: As diversas linhagens do cultivar Mundo Novo possuem elevada capacidade de adaptação, produzindo bem em quase todas as regiões cafeeiras do Brasil. É preferencialmente indicado para plantios largos (3,80-4,00m x 0,80-1,00m). Em razão de seu grande vigor vegetativo, o espaçamento para o sistema adensado com esse cultivar deverá ser maior que o normalmente utilizado com cultivares de porte baixo. Por ter ótima capacidade de rebrota, são especialmente indicados para os sistemas em que se utiliza a recepa ou o decote para reduzir a altura das plantas. Dentre as linhagens de Mundo Novo, IAC 376-4, IAC 379-19, IAC 464-12 e IAC 515-20 são as que melhor se adaptam ao plantio adensado, caso o cafeicultor faça opção a este sistema de cultivo. Acaiá: As linhagens do cultivar Acaiá também têm boa capacidade de adaptáção às diversas regiões cafeeiras do Brasil e podem ser especialmente indicadas para o plantio adensado, pois apresentam ramos laterais curtos e maturação uniforme. O espaçamento 2,00 x 0,50m tem sido muito utilizado em plantios adensados e 4,00 x 0,50m nos que permitem mecanização. Outra característica que o diferencia são as sementes, maiores que as do Mundo Novo e suas linhagens. É um cultivar especialmente indicado quando se pretende utilizar colheita mecânica. Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo: As linhagens dos cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo têm ampla capacidade de adaptação, apresentando produtividade elevada na maioria das nossas regiões cafeeiras ou mesmo em outros países. De baixa estatura, permitem maior densidade de plantio, tornam mais fácil a colheita e mais eficientes os tratamentos fitossanitários. Esses cultivares já produzem abundantemente logo nos dois primeiros anos de colheita. Por isso, necessitam de cuidadoso programa de adubação. lcatu Vermelho e lcatu Amarelo: Esses cultivares têm sido plantados em quase todas as regiões cafeeiras do Brasil. Trata-se de material de porte alto, muito vigoroso e de excelente capacidade de rebrota quando submetido à poda. O espaçamento para o plantio é semelhante ao indicado para o 'Mundo Novo', cujas linhagens não admitem plantios muito adensados (não deve ser inferior a 3,00m entre linhas e de 0,80 a 12 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz 1,00m entre plantas), dependendo da região. Embora algumas linhagens se mostrem bem adaptadas a regiões de altitude, outras constituem-se em boa opção para regiões mais baixas e quentes que, no geral, são marginais para o plantio de outros cultivares. Tem resistência variável à ferrugem. lcatu Precoce: Por apresentar maturação precoce, lcatu Precoce (IAC 3282) é indicado para o plantio em regiões de maior altitude, desde que observadas condições especiais de manejo. Poderá ser utilizado também em espaçamentos adensados. Trata-se de um cultivar de grande uniformidade, frutos amarelos e excelente qualidade de bebida. Tem resistência variável à ferrugem. Obatã e Tupi: São cultivares de porte baixo, resistentes à ferrugem e preferencialmente indicados para plantios adensados ou em renque (2,00-3,00m x 0,50-0,80m). Suas sementes são maiores que as dos cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo e há vários anos vêm sendo distribuídas experimentalmente pelo IAC a muitos cafeicultores e instituições de pesquisa. Têm apresentado excelentes produções e grande rusticidade, razão pela qual seu plantio tem-se expandido rapidamente. Apoatã: Trata-se de material pertencente à Coffea canephora e indicado como porta-enxerto para qualquer um dos cultivares de café arábica recomendados para o plantio. As mudas enxertadas são indicadas para áreas infestadas com os nematóides Meloidogyne exigua, M. incognita e M. paranaensis. Cafeeiros enxertados poderão também ser plantados em áreas isentas de nematóides, muitas vezes com significativo ganho de produtividade e rusticidade em relação aos mesmos cultivares não enxertados. Por ser um cultivar vigoroso, produtivo, rústico, de sementes graúdas, pouca porcentagem de moca, além da resistência aos nematóides das raízes e à ferrugem das folhas, o Apoatá está sendo empregado como um cultivar de café robusta para o oeste do Estado de São Paulo (Alta Paulista, Noroeste e Alta Araraquarense) e Vale do Ribeira, em regiões com altitudes inferiores a 500m e temperaturas médias superiores a 220C, com perspectivas bastante promissoras. Características de cultivares e algumas linhagens de café desenvolvidas e lançadas pelo Instituto Agronômico (IAC). Novas cultivares do café desenvolvidas pela EPAMIG serão lançadas até 2014 Pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) em parceira com a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Universidade Federal de Viçosa (UFV) estão desenvolvendo novas cultivares com características inovadoras para serem lançadas até 2014. Este programa é um dos que estão inseridos na primeira grande meta do INCT Café (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Café) “ Aprimorar e Integrar o Melhoramento Clássico e Molecular do Cafeeiro”, onde o Instituto contribui com a realização de trabalhos de campo, tratos culturais e financiamento de parte das pesquisas. Entre as progênies a serem lançadas destaca-se a H-189-12-52-12-4 esse material encontra na 6ª geração, visando a seleção das melhores características para o café sob a coordenação do Engenheiro Agrônomo da EPAMIG Dr. César Elias Botelho. Esta nova cultivar apresenta características demandadas atualmente no mercado cafeeiro como grãos de peneira alta e com boa produtividade. Outros estudos apresentam progênises com grande potencial de também serem lançadas como cultivares para atender às necessidades dos produtores. A integração entre o melhoramento clássico e molecular consiste em realizar a seleção das melhores características (Melhoramento Clássico), aliado ao desenvolvimento de ferramentas que acelerem o processo de melhoramento dentro dos diferenciais genéticos (Melhoramento Molecular), produzindo resultados inovadores para o setor cafeeiro. O objetivo desta meta consiste em encontrar e desenvolver características especiais que produzam cafés mais produtivos, resistentes à pragas e doenças e apresentem uma bebida superior, através do estudo tanto de novas cultivares quanto do ambiente em que o café é cultivado, conseguindo atender às exigências do mercado. O grande foco desses estudos está na resistência à ferrugem, principal doença do café, onde se estuda as possibilidades de materiais 15 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz Fenologia do cafeeiro A natureza fisiológica da bienalidade da produção do cafeeiro pode ser explicada pela concorrência entre as funções vegetativas e reprodutivas. Nos anos de grande produção, o crescimento dos frutos absorve a maior parte da atividade metabólica da planta, reduzindo o desenvolvimento vegetativo. Como, no cafeeiro arábica, o fruto se desenvolve nas partes novas dos ramos do ano anterior, há, conseqüentemente, produção menor. O crescimento dos ramos novos depende da quantidade de frutos em desenvolvimento, e o volume de produção é proporcional ao vigor vegetativo, ao número de nós e gemas florais formadas na estação vegetativa anterior (Camargo & Fahl, 2001). Um esquema detalhado da fenologia do cafeeiro é apresentado conforme Camargo et al. (2001). São seis fases fenológicas distintas, sendo duas vegetativas e quatro reprodutivas que ocorrem em dois anos consecutivos. 1a. fase – Vegetação e formação de gemas foliares: é uma condição fotoperiódica, ocorrendo de setembro a março, em dias longos. 2a. fase – Indução, desenvolvimento, maturação e dormência das gemas florais: ocorre em dias curtos, de abril a agosto, também uma condição fotoperiódica. As gemas maduras entram em dormência no final e ficam aptas para se transformarem em botões florais e florescer após um choque hídrico na 3a. fase (Gouveia, 1984). Essa fase se completa quando o somatório de evapotranspiração potencial (EP) acumula cerca de 350 m a partir do início de abril. Nos dois meses finais, julho a agosto, as gemas entram em dormência e produzem um par de folhas pequenas, que separam o primeiro ano fenológico do segundo. 3a. fase – Florada e expansão dos frutos: segundo ano fenológico, de setembro a dezembro. Após um choque hídrico, por chuva ou irrigação, as gemas maduras intumescem, transformam-se em botões florais e florescem após cerca de uma semana. Em seguida, vêm as fases de frutos chumbinhos e expansão rápida. Um estresse hídrico nessa fase pode prejudicar o crescimento dos frutos, resultando em peneira baixa. 16 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz 4a. fase – Granação dos frutos: de janeiro a março do ano seguinte, quando há formação dos grãos. Um estresse hídrico pode prejudicar a granação, produzindo frutos mal granados que causam os defeitos preto, verde e ardido, como também causar chochamento de grãos. 5a. fase – Maturação dos frutos: de abril a junho, depende da precocidade da cultivar e da acumulação de energia solar, ou seja, do somatório de EP, em torno de 700 m, após a florada. 6a. fase – Senescência: em julho-agosto. Muitos ramos produtivos, geralmente terciários e quaternários, secam e morrem, limitando o crescimento do cafeeiro, é a chamada autopoda. Escala de desenvolvimento A fim de detalhar o período reprodutivo, apresentamos uma escala de avaliação de desenvolvimento dos estágios fenológicos do cafeeiro arábica, conforme proposto por Pezzopane et al. (2003). Esta escala de avaliação se baseia em fotografias de cada fase, desde o estádio de gemas dormentes até o estádio de grão seco, onde foram atribuídas notas variando de 0 a 1. Esses autores observaram que após o período de repouso das gemas dormentes nos nós dos ramos plagiotrópicos (0) ocorre um aumento substancial do potencial hídrico nas gemas florais maduras, devido principalmente à ocorrência de um “choque” hídrico provocado por chuva ou irrigação. Neste estádio, as gemas entumecem (1) e os botões florais crescem devido a grande mobilização de água e nutrientes (2) se estendendo até a abertura das flores (3) e posterior queda das pétalas (4). Após a fecundação principia a formação dos frutos, fase essa denominada de “chumbinho” onde os frutos não apresentam crescimento visível (5). Posteriormente, os frutos se expandem rapidamente. (6) Atingindo seu crescimento máximo, ocorre a formação do endosperma, quando segue a fase de grão verde (7), onde ocorre a granação dos frutos. Para a diferenciação do final da fase 6 e início da fase 7 é necessário realizar um corte transversal em alguns frutos para se verificar o início do endurecimento do endosperma.A partir da fase “verde cana” (8) se caracteriza o início da maturação, quando os frutos começam a mudar de cor (verde para amarelo) evoluindo até o estádio “cereja” (9), já podendo diferenciar a cultivar de fruto amarelo ou vermelho. A seguir, os frutos começam a secar (10) até atingir o estádio “seco” (1). 17 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz Implantação e condução da cultura do café Local da implantação: Altitude entre 400 e 1200 m. Solo : Profundidade mínima de um metro, Boa drenagem.Nem pedregoso, nem excessivamente arenoso. Topografia não muito íngreme. Terreno com faces voltadas para ventos frios devem ser evitados. Local que tenha tido cafezal a menos de dois anos. Evitar baixadas úmidas. Variedades e cultivares A espécie Coffea arabica possui muitas variedades mas poucas tem valor econômico: Coffea arabica L. var. arábica(Cramer) é a mais cultivada. Coffea arabica L. var. angustifolia (Roxb) Miq Coffea arabica L. var. bourbon (B.Rodr.) Choussy Coffea arabica L. var. caturra, etc As linhagens são agrupadas em cultivares: Amarelo de Botucatu, Sumatra, Maragogipe, Bourbon Vermelho, Bourbon Amarelo, Caturra Amarelo, Caturra Vermelho, sendo a Mundo Novo, Catuaí Amarelo, Catuaí Vermelho, Icatu e Acaiá as mais cultivadas atualmente. Os principais cultivares de Coffea arabica indicados são: Novo Mundo: com as linhagens IAC 376-4, IAC 464, IAC 515, IAC 388-17, IAC 388-6, IAC 501; Acaiá: IAC 474-4, IAC 474-7, IAC 474-19 Catuaí Vermelho: IAC 24, IAC 4, IAC 81, IAC 9 Catuaí Amarelo: IAC 62, IAC 86 Icatu Amarelo: IAC 3282, IAC 2944, IAC 2907, IAC 3686 Icatu Vermelho:IAC 2945, IAC 4040, IAC 4045 e IAC 4782 O Catuaí tem a vantagem de apresentar porte menor que a novo mundo. Os cultivares Icatu apresentam resistência à ferrugem dispensando pulverizações para o controle da doença.Principais cultivares de café robusta: espécie Coffea canephora Pierre ex Froehner. Conilon ou Kouillou, Guarini, Robusta, Apoatã e Laurenti.A cultivar IAC-Apoatã é indicada como porta –enxerto da coffea arabica em locais de ocorrência do nematóide Meloidogyne incognita. Formação de Mudas As mudas são feitas em viveiros com cobertura(sombrite) que de 40-50% de sombra. Para mudas de seis meses se usa saquinhos plásticos com 11x20x0,006 cm e para mudas de ano 14x26x0,008 cm. São cheios com mistura de solo, matéria orgânica e adubos químicos. O substrato deve ser tratado com brometo de metila para combater principalmente nematóides. A semeadura pode ser feita de três modos: Direta nos saquinhos. 20 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz mistura e faz-se a cobertura da mesma com a lona plástica. Depois de 10 a 15 dias, retira-se a lona e faz-se um ótimo revolvimento da mistura para o completo escape dos gases. Dois a três dias após o revolvimento, deve ser feito o teste de germinação (utiliza-se sementes de alface, chicória, cenoura, fumo, etc.). Se ocorrer a germinação normal pode-se fazer a semeadura ou o transplante das mudas. Após a desinfeccão do substrato, procede-se o enchimento dos saquinhos, o qual deve ser realizado com o substrato seco. A operação é realizada com auxílio de um funil feito com lata. Cada metro cúbico de substrato é suficiente para se encher aproximadamente 1.200 saquinhos. Sementes As sementes destinadas à produção de mudas devem ser adquiridas de produtores idôneos registrados na Secretaria Estadual de Agricultura. Para a produção de sementes à nível de propriedade (as quais só devem ser usadas em viveiros não comerciais), deve-se colher os frutos de café no estágio de cereja, de lavouras de boa origem e de características genéticas comprovadas (variedade definida). Os frutos devem ser despolpados (retirada da casca) e degomados (retirada da mucilagem), sendo esta última operação realizada através da fermentação natural da mucilagem, o que ocorre em tanques com água. A seguir, seca- se as sementes à sombra, ficando as mesmas (após a secagem) com uma película superficial chamada de "pergaminho". As sementes devem ser armazenadas e semeadas sem a retirada do pergaminho, o que poderia danificar a semente. Somente deve-se plantar sementes com idade inferior a 6 meses, pois após este período a germinação cai acentuadamente, a não ser que as mesmas sejam armazenadas em câmara fria. Também não se deve tratar as sementes com brometo de metila. Cada Kg de sementes produz em média 3.000 mudas. Semeadura indireta o Germinadores Germinadores são estruturas contendo areia, sendo destinados à germinação e emergência das sementes de café. Podem ser feitos de diversos materiais, como madeira, tijolos ou mesmo bambu. Suas dimensões são: 1,1 m de largura, 30 cm de profundidade e comprimento variável, de acordo com a quantidade de mudas a serem produzidas. Para semeadura, distribui-se uniformemente 1,5 Kg de sementes por metro quadrado de canteiro, cobrindo-se com 1 cm de areia grossa. Para evitar o impacto das gotas de chuva e auxiliar na manutenção da umidade, sugere-se colocar sacos de estopa sobre a areia. Quando as sementes começarem a emergir, retira-se os sacos e coloca-se uma cobertura para evitar a ação direta do sol. Recomenda-se efetuar o tratamento da areia para reduzir a possibilidade de doenças. Pode ser realizado o expurgo químico, rega com produtos a base de PCNB e/ou processo físicos, como a "solarização", rega com água quente, vapor, etc. Não reutilizar a areia do germinador. o Transplante É uma operação que deve ser feita com máximo cuidado por trabalhadores qualificados, dada a possibilidade de problemas no sistema radicular, cujos efeitos só surgirão futuramente a campo. O transplante é feito quando as plântulas atingem os estágios de "palito-defósforo" ou "orelha de onça". O primeiro estágio ocorre quando a semente emerge, ficando suspensa pelo caule. O segundo é caracterizado pela "transformação" da semente (cotilédones) em duas folhas de formato arredondado. Antes do transplante deve-se cortar a raiz a uma distância de 5 a 7 cm do colo (divisa raiz/caule). Este corte tem a finalidade de retirar a extremidade da raiz, que, por ser mole, pode dobrar durante o transplante, 21 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz gerando um dos principais defeitos da muda, que é o "pião torto". Não se deve cortar muito, pois pode ocorrer o bifurcamento da raiz. Deve-se também eliminar as plântula deficientes e imergir as selecionadas em solução contendo fungicidas para prevenção de doenças (benomyl a 0,1 %). A operação do transplante é realizada com auxilio de um "chucho", que é um pequeno cilindro de madeira com a extremidade afilada. Perfura-se a terra dos saquinhos com o chucho e coloca-se a plântula no orifício. A seguir, com uma das mãos deixa-se o colo da plântula no mesmo nível da terra, e com a outra chega-se terra na raiz utilizando o próprio chucho. o Semeadura direta Para a semeadura direta perfura-se a terra dos saquinhos a uma profundidade de 2 cm. Para conseguir maior uniformidade utiliza-se um chucho com um disco de madeira, limitando assim a profundidade do buraco. Deposita-se uma ou duas sementes por saquinho. Utilizando-se somente uma semente, deve-se plantar uma parte em um germinador para posterior replantio das falhas. No caso de utilizar duas sementes, posteriormente elimina-se a planta mais fraca. Para evitar a formação de crosta superficial (comum em solos argilosos), recomenda-se fechar os buracos com areia. Após o plantio, cobrem-se os saquinhos com capim seco ou sacos de estopa para manutenção da umidade e proteção contra o impacto das gotas de chuva ou irrigação, os quais devem ser retirados após o início da germinação. Mudas provenientes de semeadura direta geralmente apresentam desuniformidade de tamanho. Devido a isto, algum tempo após a germinação, deve-se classificar as mudas pelo desenvolvimento, formando lotes homogêneos. Isto impede que as mudas maiores prejudiquem o desenvolvimento das menores. Tratos culturais A irrigação deve ser em quantidade suficiente para permitir o bom desenvolvimento das mudas. Após o a semeadura ou transplante a irrigação deve ser diária. Posteriormente aumenta-se o intervalo de rega até que, próximo à retirada das mudas para plantio, seja só o suficiente para as mesmas não murcharem. Para a prevenção de doenças, como ferrugem, cercosporiose e bacterioses, recomenda-se pulverizar as mudas periodicamente com fungicidas a base de cobre. Caso aparecem doenças ou pragas efetuar o tratamento químico curativo (ver o item 9 - Doenças ). Deve-se evitar o excesso de adubações nitrogenadas, pois podem ocasionar crescimento desproporcional da parte aérea em relação às raízes. Aclimatação Aclimatação é a adaptação das mudas ao sol. Como as mesmas são produzidas sob cobertura, podem não suportar o plantio no campo a pleno sol. A aclimatação deve ser realizada a partir do segundo par de folhas, através da retirada gradual da cobertura. Quando a cobertura é feita de bambu ou outros materiais equivalentes, raleia-se a mesma gradativamente, até deixar as mudas a pleno sol. Se a cobertura não permitir esta regulagem, como é o caso das telas sintéticas ("sombrite"), faz-se a aclimatação deixando as mudas tomarem sol somente durante um período do dia. Com o tempo, aumenta-se o número de horas de sol diárias, até que as mudas fiquem a pleno sol. A aclimatação dura em média 30 dias. Plantio Antes de ir a campo, as mudas devem ser classificadas, separando e reecanteirando as menos desenvolvidas para tratamento e posterior aproveitamento.O estágio ideal para o plantio a campo são quando as mudas estiverem com 4 a 6 pares de folhas. Estágios mais avançados poderão provocar maior 22 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz dificuldade de pegamento e desenvolvimento, já que a maior quantidade de folhas não é compensada pelas raízes, as quais estão limitadas pelo saquinho. Técnica simples para produção de mudas de café enxertadas As mudas de café enxertadas são importantes para plantios em áreas com problemas denematóides, especialmente nas áreas com infestação por Meloidogyne incognita, que apresenta danos muito graves, podendo ser útil, também, no controle de M. exígua, pela sua ampla distribuição nas regiões cafeeiras. O método usual de enxertia em mudas de café é por garfagem em cunha, com mudas no estágio de palito-de- fósforo, exigindo muito trabalho e habilidade do enxertador, com cuidados especiais de manter as mudas em ambiente úmido, para um bom pegamento. O novo sistema de enxertia desenvolvido, bastante simples, usa a encostia de mudas (Matiello et alli, Anais do 28º CBPC, 2002, p.23). Nas sacolinhas usuais, com substrato, são semeadas 2 sementes próximas, uma da variedade que será o enxerto e outra do porta enxerto, por exemplo, uma de Catuai e outra do robusta (Apoatã ou outros). Quando as mudinhas atingirem o estágio do 1º - 2º par de folhas, com o caule já lenhoso, faz-se a encostia das 2 mudinhas. Faz-se um corte longitudinal no tronco de cada mudinha, cortando a casca e pouco do lenho, visando expor a região do cambio das mudas. O corte deve tirar uma porção de cerca de 1,5 cm de comprimento em cada uma das mudas e em posição semelhante. Em seguida as 2 mudas são encostadas e faz-se o amarrio usando fita própria, tipo degradável , a qual vai, com o tempo, afrouxando naturalmente, sem necessidade de desamarrar. Pode-se borrifar o enxerto com um desinfetante, como hipoclorito de sódio (água sanitária diluida) para evitar alguma infecção oportunista, porem não obrigatoriamente. Com 20-30 dias após a enxertia pode-se fazer a desmama, ou seja, cortar a parte baixa da mudinha do enxerto e a parte alta do porta enxerto. Pode-se, também, cortar apenas a parte alta do porta enxerto, assim deixando a muda com 2 sistemas radiculares, um de arábica e outro de robusta. Atingindo o porte normal, no viveiro comum, com 4-6 pares de folhas, as mudas vão a campo. A nova técnica não exige cuidados especiais com ambiente umido, já que as 2 mudas continuam se desenvolvendo, sem qualquer stress, pois contam com suprimento de água e mutrientes através dos seus sistemas radiculares, durante o processo de encostia e de ligação dos tecidos ente elas. Exemplo Para o preparo de 1 m3 de substrato pode-se utilizar a seguinte composição: 800l de terra de mata ou barranco; 200l de esterco de curral curtido; 5kg de superfosfato simples; 1kg de cloreto de potássio; 2kg de calcário dolomítico. A semeadura mais recomendável é aquela realizada de forma direta na sacola. Antes de se realizar a semeadura, deve-se deixar as sementes umedecidas, acondicionadas num saco de estopa dentro da água por 2 dias para prévia embebição. A semeadura deve ser direta consistindo da colocação de 2 sementes no centro de cada sacola a uma profundidade de 1 cm. Em seguida devem ser cobertas por uma fina camada de palha seca. Para cálculo da mão-de-obra, um homem pode fazer a semeadura direta em 2.200 sacolas por dia. 25 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz Arruação: Ou coroação, é feita antes da colheita e consiste em limpar o chão embaixo da “saia” e próximo aos cafeeiros para evitar perder o café que cair no chão.Pode ser feita manualmente com rastelos ou mecanicamente com arruadores. : Esparramação: É a operação inversa à arruação. É realizada após a colheita e consiste em esparramar uniformemente no terreno os cordões (leiras) ou montes. Fechamento e poda: O fechamento das lavouras de café, devido a uma série de fatores, tem como agravantes a diminuição da produção dos cafeeiros e a criação de um ambiente favorável ao ataque da broca-do-café e da ferrugem. Sua correção pode ser através de três tipos de podas: Decote, Recepa e esqueletamento Decote: Consiste no corte da planta a uma altura de mais ou menos 1,50 m do solo e é recomendado para plantas em início de fechamento, quando ainda não perderam a “saia”. Deve ser realizado logo após a colheita, sendo conveniente, posteriormente efetuar-se uma seleção dos brotos. Recepa: Consiste no corte da planta a uma altura de mais ou menos 40 cm do solo, sendo recomendada para plantas em estádio adiantado de fechamento, já com intensa perda de “saia”. O corte deve ser em bisel ou inclinado. A época mais indicada é também logo após a colheita, devendo-se posteriormente, ser feita uma seleção e condução da brotação. Esqueletamento: Consiste no desgalhamento lateral da planta, deixando-se o tronco ou haste principal com os ramos laterais apenas com 30 a 40 cm de comprimento. Quando a planta estiver muito alta corta-se a parte apical (decote) a mais ou menos 1,70 m. É recomendado para cafeeiros em início de fechamento e que possuam bastantes ramos laterais, a fim de que haja uma grande brotação a partir dos mesmos. 26 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz Pragas e doenças do cafeeiro A praga mais importante no país é o Bicho Mineiro (Perileucoptera coffeella), seguindo-se a Broca (Hipothenemus hampei) e os nematóides (Meloidogyne incognita, M. exigua e M. paranaensis). Em segundo plano situam-se pragas mais ocasionais, como os ácaros, as cochonilhas, a mosca das raízes, as cigarras e as lagartas. As condições mais comuns associadas à gravidade de pragas na cafeicultura brasileira são: Clima seco – baixa umidade, alta insolação e altas temperaturas – problemas com bicho mineiro e ácaros; Lavouras adensadas, sombreadas ou em faces sombrias – problemas com a broca; Lavouras de café conillon (robusta), em áreas quentes – problemas com a broca; Lavouras novas ou em espaçamento abertos – problemas com bicho mineiro e ácaros; Lavouras implantadas em áreas de solos de arenito, principalmente em área antes com café – problemas com nematóides e cochonilhas de raízes; Lavouras em áreas com matéria orgânica e zonas frias –problemas com mosca das raízes; Áreas próximas a matas – problemas com cigarras. BICHO MINEIROPerileucoptera coffeella Na fase adulta é uma pequena mariposa de coloração branco- prateada. No final da tarde, coloca os ovos na parte superior das folhas. Com a eclosão dos ovos as larvas passam a alimentar-se do tecido existente entre as duas epidermes da folha,formando áreas vazias (“minas”), o que caracteriza o nome de praga. Temperaturas médias elevadas e grandes períodos de estiagem são condições climáticas que favorecem a evolução dessa praga. Os danos causados ao cafeeiro se referem à redução da área foliar fotossintética e queda de folhas, com reflexos no pegamento da florada e portanto na produção do ano seguinte e na longevidade da planta. A desfolha sempre se dá do topo para a base da planta. CONTROLE: O controle pode ser cultural, biológico ou químico. Controle cultural: É feito através de capinas oportunas, adubação racional,conservação do solo, espaçamentos adequados e uso racional de fungicidas cúpricos. Controle biológico: Feito através de inimigos naturais do bicho mineiro: parasitas e predadores. Os parasitas proporcionam um controle do bicho mineiro entre 18 e 35%. Os predadores são vespas e controlam o bicho mineiro entre 3 e 69%. Controle químico: Pode ser realizado através de dois sistemas básicos:pulverização foliar e aplicação via solo. a) Pulverização foliar: Uso de produtos inseticidas organo-fosforados, carbamatos,derivados de uréia, piretróides ou suas misturas. b) Aplicação via solo: Uso de produtos organofosforados ou carbamatos,formulados em grânulos e incorporados ao solo. 27 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz BROCA DO CAFÉ Hypothenemus hampei O inseto na fase adulta é um pequenino besouro de cor escura e brilhante. A fêmea fecundada perfura o fruto na região da coroa até atingir a semente onde faz uma pequena galeria onde realiza a postura. As lavras nascidas, ao se alimentarem, vão destruir parcial ou totalmente a semente. A broca ataca o grão do café em vários estádios de desenvolvimento: preferencialmente o verde (chumbão), o maduro e o seco. Algumas condições favorecem a evolução da praga como: a antecipação do período chuvoso, floradas precoces, colheita anterior mal feita, lavouras com problemas de fechamento, espaçamentos reduzidos, fundos de grotas, terrenos mais úmidos, lavouras sombreadas, terrenos de exposição voltada para leste ou sul e também lavouras próximas a terreiro ou cafezais abandonados. Os prejuízos causados pela broca podem ser assim relacionados: Derrubada de frutos verdes (chumbinhos ou chumbões); Perda de peso; Depreciação do tipo do café. É proibida exportação de café com mais de 10% de broca; Depreciação da bebida; Redução do preço do produto; Redução na colheita. Controle: Uma colheita bem feita sem deixar frutos no chão e na árvore ajuda no controle. O controle químico é feito através de duas ou três pulverizações, com intervalos de vinte dias. Os inseticidas devem ser aplicados no período de “trânsito” da broca, ou seja, na época em que as fêmeas abandonam os frutos remanescentes da safra anterior para atacar os frutos da nova safra. Isto ocorre geralmente entre novembro e janeiro. São pragas que aparecem devido a desequilíbrio na população de inimigos naturais provocados por fatores climáticos, mau uso dos defensivos agrícolas ou proximidade do cafezal de culturas suscetíveis ao ataque. Esses fatores promovem um aumento substancial na população de lagartas que por sua voracidade causam grandes prejuízos ao cafeeiro. Elas se alimentam de folhas, pontas de ramos e casca de plantas jovens, provocando desfolha e até morte de plantas. O controle das lagartas pode ser feito através de inseticidas químicos ou inseticidas biológicos como o Bacillus thuringiencis (Dipel PM: 250- 500 g/ha) e mais comumente através de inseticidas piretróides usados nas mesmas dosagens recomendadas para o controle do bicho mineiro. O controle deve ser praticado somente nos casos de ataque significativo ou em focos, pois em ataques leves o controle natural é suficiente para manter a praga em equilíbrio. COCHONILHAS DA PARTE AÉREA Elas atacam esporadicamente o cafeeiro sob condições climáticas favoráveis. As mais comumente encontradas são: • Cochonilha verde - Coccus viridis • Cochonilha parda - Saissetia coffeae 30 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz Lavouras novas, muito abertas, em solos pobres ou com adubação insuficiente e em regiões mais quentes – problemas mais graves com cercosporiose. Áreas frias e úmidas, batidas por ventos frios – problemas com Phoma, Ascochyta e Pseudomonas. Lavouras com alta carga pendente – problemas com ferrugem e cercosporiose. FERRUGEM ALARANJADA Hemileia vastatrix Causa a debilidade do cafeeiro tornando-o mais suscetível a outras pragas e doenças, superbrotamento no caule e acinturamento, o que exige desbrotas constantes. Há prejuízo na longevidade da planta. Resumo de danos: Queda precoce das folhas -redução da produção da próxima safra. Seca de ramos ponteiros e laterais - redução da vida útil da planta. Quebra da produção - correlação negativa entre a intensidade de ataque e a produção do ano seguinte. Acentua o ciclo bienal de produção do cafeeiro. CONTROLE: O controle pode ser químico ou através de variedades resistentes. CERCOSPORA OU MANCHA DO OLHO PARDO Cercospora coffeicola Ela ataca folhas e frutos, causando prejuízos em viveiros e cafezais já instalados, principalmente lavouras jovens plantadas no final do período chuvoso (início da seca) e que produziram muito na primeira safra. Diversas condições favorecem o ataque dessa doença como: baixas temperaturas, alta umidade, ventos frios, excesso de insolação, nutrição desequilibrada ou deficiente (principalmente nitrogênio), sistema radicular pouco desenvolvido (causado por adensamento de solo ou “pião torto”), deficiências hídricas severas, etc. Controle: Manter o cafezal em boas condições nutricionais (equilíbrio) .Controle químico com produtos específicos. MANCHA AUREOLADA Pseudomonas garçae Bacteriose que pode afetar, principalmente, folhas e ramos. A penetração ocorre normalmente por ferimentos. (ventos frios e constantes causando atrito entre folhas e ramos) Controle: Evitar o plantio em faces assoladas por ventos, ou usar quebra ventos. Pulverizações com fungicidas cúpricos associadas a adubos fosfatados (MAF 1%), ajudam em um melhor controle. Anomalia que tem ocorrido com certa freqüência em cafezais, sendo sua incidência atribuída a uma série de fatores que pode agir isolada ou conjuntamente: Inverno chuvoso, Variações de temperatura, Insolação excessiva, Estiagens, Desequilíbrio nutricional (solo pobre ou falta de adubo). Ataques de fungos como o Colletotrichum e Phoma, ou bactérias, podem ocasionar também a seca-dos-ponteiros. A granação dos frutos é prejudicada, há desfolha ocasionando maior número de grãos pretos e chochos, afetando inclusive, a produção do ano seguinte. Normalmente o ataque aparece em reboleiras, afetando plantas com três a quatro anos de idade. Como medidas preventivas, devem-se: instalar lavouras em áreas não sujeitas a ventos frios, 31 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz evitar plantio em solos rasos ou excessivamente argilosos, manter equilíbrio nas adubações e controlar pragas e doenças. O controle químico pode ser tentado fazendo-se pulverizações dos focos com produtos específicos. Colheita do Café O início e o fim são bastante variáveis e dependem: Altitude; Condições climáticas locais; Número de floradas; Etc. Tipos de colheita: Existem inúmeros tipos de colheitas, os mais usuais são: Derriça no chão; Derriça no pano; Colheita a dedo ; Colheita mecânica Derriça no chão: É a mais comum. Os frutos são derrubados diretamente no chão. O processo de colheita: Arruação: Varrição: recolher o café caído antes da colheita. Derriça: derrubar os frutos ao chão. Rastelação: levantar os frutos com rastel ou vassoura. Abanação: separar com peneiras os detritos rastelados junto com o café. Só iniciar a colheita com baixa percentagem de grãos verdes (desde que não haja acentuada queda de frutos secos). Rastelas e abanar no mesmo dia da derriça.(evitar grãos ardidos e pretos) . Transportar para as instalações de preparo no mesmo dia (não pernoitar ensacado ou amontoado para evitar fermentações). Derriça no pano: É feita a arruação e a varrição antes da colheita.Derruba-se os frutos em panos ou plásticos colocados embaixo do cafeeiro. Proporciona produto de melhor qualidade. Colheita a dedo: Colhe-se apenas os frutos maduros, recolhendo-se em peneiras ou cestos. É uma operação cara, pois necessita de inúmeros repasses. No Brasil, praticamente só é utilizada pelos produtores de sementes. Colheita mecânica: Existem três tipos de colhedoras: Uma anda a “cavaleiro” sobre a linha e realiza todas as operações, da derriça até abanação e ensaque. Outra acoplada ao trator, anda a “cavaleiro” sobre a linha mas só derriça o café no chão. A terceira acoplada ao trator só derriça metade da linha. O preparo do café após a colheita: Pode ser feito por: via úmida ou via seca. Via úmida: O café é colocado nos lavadores para eliminar as impurezas e é feita a separação do café seco ou bóia do verde ou cereja. O café bóia é então seco em terreiros ou em secadores. O verde e cereja podem sofrer uma seca em terreiros ou serem encaminhados para o despolpamento. Neste momento o verde é eliminado do processo e levado para secar separadamente. Despolpamento: Retirada da polpa ou mucilagem do café cereja (despolpadores mecânicos). Após, já em pergaminho, o café é colocado a fermentar em tanques apropriados e a seguir lavado em água corrente e levado para secar. Depois de despolpado em vez de ir para o tanque de fermentação, poderá ser levado a secar diretamente no terreiro, inicialmente em camadas bem finas, quando teremos o café denominado “cereja descascada”. Via seca: O café também pode ser lavado, sendo os cafés bóia, verde e cereja secados depois, separadamente, em terreiros. Podem ser também encaminhados direto da lavoura para seletores especiais que fazem a limpeza e separação do café. 32 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz Secagem do café A secagem correta é fator de importância na obtenção de um produto de boa qualidade. Separar os lotes em produtos homogêneos. O terreiro deve possuir declive de 1 a 1,5% Piso de tijolo, concreto ou asfalto.(sistema de drenagem). Nos primeiros dias esparramar em camadas de 3 a 5 cm de espessura. Revolver várias vezes ao dia. À tarde enleirar em camadas de 20 a 30 cm de altura no sentido do declive do terreno. A medida que vai secando se esparrama em camadas mais espessas. No final da tarde cobrir com lona.Deve-se evitar que tome chuva. Secar até 1 a 12% de umidade (quando 1 litro de café coco pesar 420 gramas). Com a utilização de secadores mecânicos se reduz a área do terreiro em 60% e o tempo de secagem em 40 a 60%. Também deve-se pré-secar no terreiro por 3 a 4 dias. Não ultrapassar 45º C na massa de café. Armazenamento do café O café em coco pode ser armazenado em tulhas com paredes revestidas de madeira (má condutor de calor). Teor de umidade em torno de 1%. A capacidade de armazenamento geralmente para guardar 1/3 da safra. Beneficiamento do café É a operação que separa a polpa seca do grão de café. Ceve ser feita quando o café estiver para ser vendido (o café em coco ou pergaminho conserva a qualidade do grão durante meses, em temp. máximas de 20º C e umidade relativa perto de 65%, mantendo-se com 1 a 12% de umidade por tempo indefinido). Operações do beneficiamento: Limpeza-bica-de-jogo Catador de pedras Descascamento-descascador Classificação-classificador Para se obter 1 kg de café beneficiado são necessários 2kg ou 4 litros de café em coco. No café despolpado a relação é de 20% de palha e 80% de café beneficiado. Classificação do CaféÉ assunto muito especializado e extenso. Em linhas gerais o café beneficiado brasileiro tem sua qualidade determinada por duas fases distintas: Classificação por tipos ou defeitos Classificação pela qualidade São sete tipos decrescentes de 2 a 8, onde são avaliados os seguintes defeitos: Grãos imperfeitos ou as impurezas, como pretos, verdes, ardidos, chochos, malgranados, quebrados, brocados, cascas, paus, pedras, coco, marinheiro. O grão preto é o padrão dos defeitos ou “defeito capital”. O tipo 4 é chamado de “tipo base” e apresenta 26 defeitos. 35 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz O fósforo é um nutriente importante para o desenvolvimento do cafeeiro que, no entanto, é uma cultura eficiente no uso de fosfato de fontes naturais. Para correção do nível de fósforo são recomendados: termofosfatos, fosfato de rocha natural, ou mesmo a farinha de osso. Deve-se atentar para a possibilidade de contaminação por metais pesados quando do uso de escórias ou mesmo pó de rocha, preferindo sempre fontes comprovadamente isentas de contaminações indesejáveis. O potássio é o nutriente mais importante para o cafeeiro por estar relacionado com os processos de frutificação e de defesa natural das plantas (Guimarães et al., 2002). As fontes de potássio recomendadas na agricultura orgânica são as cinzas vegetais, a casca de café, a vinhaça, o sulfato de potássio e o sulfato duplo de potássio e magnésio. Nos solos brasileiros é comum haver deficiência de alguns micronutrientes. Esses elementos são importantes não só pelo seu papel no metabolismo das plantas como também por suas relações com os mecanismos de defesa das plantas. De acordo com Guimarães et al. (2002), nas condições brasileiras, zinco, boro e cobre estão entre os micronutrientes mais importantes para o cafeeiro e as fontes recomendadas incluem o pó de basalto, os sulfatos, algas marinhas e os biofertilizantes, onde estes nutrientes estão na forma complexada com a matéria orgânica. A monitorização constante do estado nutricional do cafeeiro é a chave para o desenvolvimento de plantas saudáveis e produtivas. Estercos Encontram-se nessa categoria os estercos provenientes de bovinos, eqüinos, caprinos, suínos, ovinos, aves e coelhos, cuja composição química varia com o sistema de criação, a idade do animal, a raça e a alimentação. É recomendável que a cafeicultura orgânica seja integrada à atividade animal, a fim de reduzir os custos de produção. Neste caso, a atividade animal deve ser realizada conforme as regras estabelecidas pela agricultura orgânica de acordo com a regulamentação da Lei 10.831/2003. No caso de esterco obtido de fora da propriededade, o produtor deve estar atento à origem do mesmo, especialmente quanto à presença de aditivos químicos e/ou estimulantes, hormônios, medicamentos, sanitizantes e resíduos de alimentos não permitidos. É recomendável que o produtor antes de utilizar o esterco, discuta com a certificadora as restrições específicas do mercado comprador. O esterco deve ser preferencialmente compostado, ou então, deve ser estabilizado ou curtido (envelhecido naturalmente por um período de pelo menos 6 meses). As Boas Práticas Agrícolas recomendam o uso do esterco compostado ou estabilizado por um período longo de tempo com adição de calcário (Neves et al., 2004b). Essas recomendações objetivam o uso seguro do esterco na produção por possibilitarem a eliminação de microrganismos patogênicos que porventura existam. Além disso, reduzem a presença de sementes de plantas espontâneas e a fitotoxicidade. Composto Chamamos de composto o adubo orgânico proveniente da compostagem, uma prática milenar de estabilização de estercos e outros resíduos orgânicos. Para produzir um composto seguro em relação aos microrganismos potencialmente patogênicos é preciso que sejam observados os seguintes aspectos: As pilhas devem ser reviradas e misturadas a cada 7-8 dias, no mínimo 5 vezes durante o processo. A temperatura deve se manter entre 55 e 70ºC durante pelo menos nos primeiros 15 dias (Kiehl, 1985). 36 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz Durante a compostagem, escorre um líquido escuro das pilhas, denominado chorume. Este material, se possível, deve ser recolhido e retornado à pilha, pois representa excelente fonte de nutrientes. Após cerca de 50 dias, normalmente, o composto está pronto para ser usado. Bokashi Bokashi significa composto orgânico em japonês. É obtido da fermentação de farelos com o auxílio de microrganismos. O Bokashi pode ser preparado na propriedade de acordo os ingredientes utilizados podem variar de acordo com a disponibilidade de cada região. O produto pode ser aplicado nas covas, sob a saia do cafeeiro ou nas ruas. No caso de aplicação manual, deve-se tomar cuidado de destorroar para quebrar os torrões grandes antes de aplicar no solo. A quantidade de Bokashi a ser aplicada varia em função do histórico e da análise do solo. O Bokashi possibilita a melhoria do solo em diversos aspectos e, com o decorrer do tempo, pode-se diminuir gradativamente a dosagem. Biofertilizantes Basicamente, o biofertilizante é o resíduo do biodigestor, obtido da fermentação de materiais orgânicos como a vinhaça, as águas de lavagem de estábulos, baias e pocilgas. O biofertilizante de esterco bovino, por exemplo, é o material pastoso resultante de sua fermentação (digestão anaeróbica) em mistura com água. Na digestão anaeróbia há maior retenção de nitrogênio do que na decomposição aeróbia, pela compostagem. Isto ocorre pelo fato de as bactérias anaeróbias utilizarem pequena quantidade de nitrogênio dos resíduos vegetais e animais para sintetizarem proteínas. Os biofertilizantes, além de serem importantes fontes de macro e micronutrientes, contêm substâncias com potencial de funcionar como defensivos naturais quando regularmente aplicados via foliar. Vários tipos de biofertilizantes são utilizados, podendo ser obtidos da mistura de diversos materiais orgânicos com água, enriquecidos ou não com minerais. Podem ser aplicados sobre a planta via pulverizações e sobre o solo. Os efluentes de biodigestor, em geral de pocilgas e estábulos, contém somente esterco e água. Outros biofertilizantes como o Supermagro e o Agrobio, têm na sua formulação fontes variadas de matéria orgânica, incluindo vegetais e minerais como pós de rocha e micronutrientes. Os biofertilizantes funcionam como fonte suplementar de micronutrientes e de componentes não específicos e embora seus efeitos sobre as plantas não estejam totalmente estudados, estimulam, ao que tudo indica, a resistência das plantas ao ataque de pragas e agentes de doenças. Têm papel direto no controle de alguns fitoparasitas através de substâncias com ação fungicida, bactericida e/ou inseticida presentes em sua composição e há estudos mostrando também seus efeitos na promoção de florescimento e de enraizamento em algumas plantas cultivadas, possivelmente pelos hormônios vegetais nela presentes. O Supermagro é proveniente da fermentação anaeróbia da matéria orgânica de origem animal e vegetal que resulta num líquido escuro utilizado em pulverização foliar complementar à adubação de solo, como fonte de micronutrientes. Atua também como defensivo natural por meio de bactérias benéficas, 37 Cultura do Café www.ifcursos.com.br Álvaro Ferraz principalmente Bacillus subtilis (Pedini, 2000), que inibe o crescimento de fungos e bactérias causadores de doenças nas plantas, além de aumentar a resistência contra insetos e ácaros. Os ingredientes básicos do biofertilizante Supermagro são água, esterco bovino, mistura de sais minerais (micronutrientes), resíduos animais, melaço e leite. Sua forma de preparo encontra-se no Anexo 6. Em qualquer das formulações citadas, as pulverizações devem ser feitas nas concentrações de 2 a 5%, sendo que para as espécies perenes poderão ser suficientes quatro pulverizações por ano. Na fase de formação, até seis meses após o plantio, pulverizações de Supermagro (13 a 15%) promovem melhor crescimento dos cafeeiros (Araújo, 2004). Por estes produtos conterem micronutrientes, pulverizações excessivas podem ocasionar teores elevados nos tecidos foliares. Por este motivo, análises químicas foliares devem ser feitas freqüentemente, a fim de monitorar os teores desses nutrientes nas plantas e direcionar a formulação do biofertilizante. O biofertilizante líquido produzido a partir da simples fermentação de esterco fresco de bovinos, é recomendado para aplicação em maiores concentrações. É distribuído usando-se tanques ou através de um sistema de aspersão sobre o solo ou sobre a planta, em diluições de 20 a 40% e volumes de 100 a 200 m3/há.
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