Baixe Materiais de Construção - Falcão Bauer - Vol 1 - 5ª Ed, p.25 e outras Notas de estudo em PDF para Materiais, somente na Docsity! MR DT
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MATERIAIS DE
CONSTRUÇÃO 1
Coordenador:
L.A. Falcão Bauer
Revisão Técnica:
Prof. João Fernando Dias
Universidade Federal de Uberlândia (UFU-MG)
5.º edição revisada
a
& | LTC
O autor e a editora empenharam-se para citar adequadamente e dar o devido crédito
a todos os detentores dos direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro,
dispondo-se a possíveis acertos caso, inadvertidamente, a identificação de algum deles
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Direitos exclusivos para a língua portuguesa
Copyright O 2000 by Luiz Alfredo Falcão Bauer (Coordenador)
LTC — Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda.
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1.º edição: 1979 — Reimpressões: 1980, 1982 e 1984
2: edição: 1985
3.º edição: 1987
4: edição: 1992
pressão:
5.º edição: 1994 — Reimpressões: 1995 e 1997
5. edição revisada: 2000 — Reimpressões: 2001, 2003, 2005. 2007, 2008, 2009 e 2010
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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
M377
va
Materiais de construção, | / coordenador L.. A. Falcão Bauer ; revisão técnica João
Fernando Dias. - S.ed. revisada, [reimpr.). - Rio de Janeiro : LTC, 2008.
p.
Anexo
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-216-1249-0
1. Materiais de construção. 1. Bauer, L. A. Falcão (Luiz Alfredo Falcão).
08-2998. CDD: 691
CDU: 691
APRESENTAÇÃO
Aos colegas engenheiros, aos estudantes e a todos os que, de alguma forma, se inte-
ressam em conhecer o comportamento dos materiais de construção, e em particular do “con-
ereto”, é este livro oferecido pelos autores que participaram de sua elaboração e que doaram
Os direitos autorais ao Banco de Transparências do COPMAT (COMITÊ DE PROFESSO-
RES DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO) com o objetivo de patrocinar a execução de
esquemas de aulas com recursos audiovisuais e a sua distribuição às escolas de Engenharia.
O presente trabalho resultou de determinação do COPMAT, no sentido de que se ela-
borasse um livro de texto que servisse de gui Os professores e de orientação para os
alunos de escolas técnicas e de Engenharia. iado durante a Presidência do Professor
Ermani Sávio Sobral, da Universidade da Bahia, grande incentivador desta obra.
LUIZ ALFREDO FALCÃO BAUER
Ex-Presidente do COPMAT
VIII / SUMÁRIO
254. Cal metalúrgica, 31
25.5. Cal hidráulica, 32
26. Exercícios, 34
Referências Bibliográficas, 34
3. — Cimento Portland, 35
3.1. Definição, 35
3.2. Constituintes, 35
33. Propriedades físicas, 38
33.1. Densidade, 38
33.2. Finura, 38
333. — Tempo de pega, 42
334. Pasta de cimento, 43
335. Resistência, 44
336. Exsudação, 45
34. — Propriedades químicas, 46
Reação álcali-agregado, 49
3.5. Classificação, 49
3.8. — Armazenamento, 58
39. Cimentos pozolânicos, 58
3.10. Cimentos aluminosos, 60
3.11. Cimento natural, 60
3.12. Índices e módulos, 60
3.13. Exercícios, 61
Referências Bibliográficas, 62
4 Agregados, 63
41. Definição, 63
42. Classificação, 63
2.1. Segundo a origem, 63
Segundo as dimensões das partículas, 63
2.3. Segundo o peso específico aparente, 63
43. Produtos, 64
431. Industrializados, 64
4311 Definições, 64
43, Matéria-prima, 65
43, Brita, 66
43. Leves, 71
431 Pesados, 72
43, Pedreiras, 72
432. Naturais, 78
4321. Areia, 78
4322. Cascalho, 84
44. — Índices de Qualidade, 84
441. Resistência à compressão, 84
442. — Resistência à tração, 85
443. — Resistência à abrasão, 85
48.
46.
SUMÁRIO /IX
Esmagamento, 85
Resistência ao choque, 85
Forma dos grãos, 86
Impurezas, 87
Fragmentos macios e friáveis, 87
Friabilidade, 88
Resistência aos sulfatos, 88
Propriedades físicas, 88
Massa específica, 88
Massa específica aparente, 89
Porosidade, 90
Compacidade, 90
Índice de vazios, 90
Granulometria, 90
4.5.6.1. Graduação, 90
4.5.6.2. Peneiras padronizadas, 91
4.5.6.3. Distribuição granulométrica, 91
4.564. Distribuição log-normal, 95
457. Finura, 96
4.5.7.1. Conceituação, 96
458. Módulo de finura, 96
45.9. i
4.5.10.
4.5.1 Umidade superficial, 101
45.12. Absorção de água, 101
4.5.13 Inchamento, 101
45.14. Coesão, 103
45.15. Fragilidade, 103
45.16. Maleabilidade, 103
45.17 Tenacidade, 103
45.18. Adesividade ao betume, 103
Agregados para concreto, 104
46.1. Condições gerais, 104
46.2. Correlação com as propriedades do concreto, 104
Resistências mecânicas, 1
Fragilidade, 105
Forma dos grãos, 105
Impurezas, 106
Resistências aos sulfatos, 107
Reatividade potencial, 107
Massa específica absoluta, 108
Massa específica aparente, 108
Compacidade, porosidade, índices de vazios, 108
Distribuição granulométrica, 109
Módulo de fura Superfície específica, 110
Teor de umidade, 110
Absorção de água, 110
Inchamento, [10
Aderência, 110
Teor de cloretos, 110
Índice de qualidade, 111
X/ SUMÁRIO
41.
48.
49.
4.10.
462.18. Resistência ao fogo, Il
462.19. Isolamento termoacústico, 11
463. Propriedades do concreto ligadas ao agregado, 11
Resistência à compressão, 111
mm
Durabilidade, 112
Trabalhabilidade, 112
Permeabilidade, 112
46.36. —Higroscopia (ascensão capilar), 113
Agregados para pavimentos rodoviários, | 13
471. Subleito, 113
472. Base, 113
473. Concreto betuminoso, 115
Agregado para lastro ferroviário, 115
Agregados para quebra-mares de enrocamento, 1 16
Normalização, 117
Referências Bibliográficas, 119
ER Agressividade das Águas, dos Solos e dos Gases ao Concreto — Escolha dos Cimentos, 121
5.1.
5.2.
53.
sa.
ss.
56.
57.
s8.
Introdução, 121
As substâncias que atacam o concreto e seus efeitos, 121
52.1. Noção geral e introdução, 121
5.2.2. A lixiviação do cimento endurecido, 122
522.1. A água doce, 122
5222. Os ácidos, 122
5223. Ossais, 123
5.224. Asgraxasc os óleos, 123
523. — Aexpansão, 124
Apreciação do grau de agressividade, 124
53.1. Bases da apreciação, 124
5.32. Prescrições estabelecidas para diferentes países, 125
5.32.1. Estados Unidos, 125
5322. Inglaterra, 125
(3.2.3. União Soviética, 126
5.324. Alemanha, 126
5.33. Proposição da Comissão Laboratorial da Associação das Fábricas
de Cimento Alemãs, 126
Exame das águas, 128
S4l. Resumo sobre a análise química, 128
54.2. Amostragem, 128
Exame dos solos, 129
5.5.1. Reconhecimento dos solos, 129
5.5.2. Substâncias agressivas, 129
5.5.2.1. Solos com sulfatos, 129
5.5.2.2. Solos pantonosos, 129
5.5.2.3. — Aterros de resíduos, 129
5.53. Ensaios químicos, 130
Escolha dos cimentos, 130
Exercícios, 134
Referências Bibliográficas, 134
Ensaio de abatimento, 277
Ensaios de penetração, 278
Ensaios de escorregamento, 279
Ensaio fator de compactação, 279
Ensaios de remoldagem, 280
9.5. Exercícios, 2
Referências Bibliográficas, 282
10. Propriedades do Concreto Endurecido, 284
10.1. Generalidades, 284
10.2. Características e propriedades, 284
10.3. Densidade, 286
10.4. Atrito, 287
10.5. Resistência à abrasão, 288
10.6. Condutibilidade elétrica, 288
10.7. Propriedades térmicas, 288
10.7.1. Condutibilidade, 288
10.7.2. | Calor específico, 290
10.7.3. Dilatação térmica, 290
10.74. Resistência ao fogo, 291
10.8. it radioativas, 296
10.9. Adesão, 297
10.10. ie acústicas, 298
10.11. Durabilidade, 301
10.12. Permeabilidade, 307
10.13. Exercícios, 312
Referências Bibliográficas, 313
11. Ensaios não Destrutivos do Concreto, 314
11.1. Introdução, 314
11.2. Métodos de ensaio, 315
11.21. Método da medição da dureza superficial, 315
11.2.1.1. Método da reflexão por choque, 315
11.2.1.2. Método da impressão (esclerômetro Gaede), 318
11.22. Métodos sônicos, 319
11.2.2.1. Método da determinação da velocidade de propagação
do som no concreto, 319
11.2.2.2. Método da ressonância, 322
n.23. Métodos atômicos, 323
Utilização da radiação (gemasrafia), 323
Método eletromagnético, 32:
11.24. comportamento de pegas estuturais através da
medição das deformações, 324
24, Determinação das deformações verticais, 325
24.2. Determinação das distensões das fibras, 325
Determinação da rotação em pontos da peça estrutural, 325
11.3. Avaliação de características do concreto por ensaios de ultra-som, 325
11.3.1. Introdução, 325
Histórico, 326
11.3.3. Determinação dos módulos de elasticidade, 327
11.3.3.1. Módulo de elasticidade dinâmico, 327
11.3.3.2. Módulo de elasticidade estático, 329
1134. Avaliação da resistência à compressão dos concretos, 329
11.3.4.1. Realização dos ensaios, 329
"3 Resultados dos ensaios, 330
11.3.4.3. Análise dos resultados e confronto com resultados
de pesquisas anteriores, 331
113.5. Fatores que influem na velocidade de propagação e a consideração
de seus efeitos nos ensaios, 335
. Densidade do concreto, 335
Tipo, densidade e outras características dos agregados, 336
Efeito da umidade e temperatura da peça em ensaio, 336
Efeito da armadura sobre a velocidade de propagação
nos ensaios em concreto armado, 337
Efeito na direção de ensaio, 341
11.3.5.6. Tipo de adensamento, 341
113.57. Efeitos de outros fatores, 341
1136. — Detecção de defeitos no concreto, 341
11.3.6.1. Detecção de falhas de concretagem, 32
11.3.6.2. Estimativa de fissuras, 343
11.4. Exercícios, 344
Referências Bibliográficas, 345
12.
Ensaios Acelerados para Previsão da Resistência do Concreto, 347
12.1. Introdução, 347
12.2. Evolução histórica, 348
123. Experiência brasileira, 353
12.4. Método adotado, 354
Escolha do método, 354
+ Descrição do método adotado, 355
1243. Considerações sobre o procedimento adotado, 356
12.5. Aplicação típica, 359
126. Limitações, 365
127. Conclusão, 365
Anexo 1. Equipamentos de laboratório, 369
Anexo II. Equipamentos para o canteiro de obras, 3
128. Exercícios, 372
Referências Bibliográficas, 372
13.
Controle Tecnológico do Concreto, 375
13.1. Generalidades, 375
13.2. Controle de qualidade, 375
132.1. Tomada de conhecimento, 375
1322. — Fomecimento das dosagens que atendam às condições anteriores, 376
133. Acompanhamento da obra, 376
133.1. Verificação, 376
133.2. Realização dos ensaios necessários, 376
13.4. Tomada de conhecimento do projeto, 376
13.5. Características peculiares impostas pelo projeto arquitetônico, 381
136. Materiais disponíveis e suas características, 381
137. Dos equipamentos disponíveis e da cura a ser empregada, 383
13.8. Dacura, 384
139. Da mão-de-obra disponível, 385
13.10. Dosagens, 385
13.11. Acompanhamento das obras, 386
13.12. Métodos de amostragem, ensaios de agregados e recepção, 386
13.13. Medição de umidade, 388
13.14. Verificação do estado e comportamento dos equipamentos e da mão-de-obra, 388
13.15. Cura do concreto, 388
13.16. Fluência, 390
13.17. Realização de ensaios, 391
13.18. Especificação para execução de concreto aparente, 392
13.18.1. Concreto, 393
13.18.2. Fôrmas, 393
. Juntas horizontais, 394
. Juntas verticais, 395
13.21.2. Remoção dos moldes, 398
13.22. Ensaios de compressão: como interpretá-los, 398
13.22.1. Cálculo da resistência do concreto, 399
13.22.11. Fixação dos valores de desvio padrão, 399
Concreto com desvio padrão conhecido, 400
; Concreto com desvio padrão desconhecido, 400
13.22.1.4. Ensaios de controle de aceitação, 400
Referências Bibliográficas, 403
14. Patologia e Terapia das Construções (Parte 1), 405
Is.
Estruturas de Concreto Armado, Patologia e Terapia das Estruturas (Parte II), 408
15.1. Resumo, 408
15.2. — Introdução, 408
15.3. Referências históricas, 408
15.4. — Deterioração, 409
15.5. Sintomas, 411
15.6. Diagnóstico, 412
15.7. Inspeção, 415
15.8. Recuperação, 416
Patologia em Alvenaria Estrutural de Blocos Vazados de Concreto, 429
16.1. Resumo, 429
16.2. - Introdução, 429
16.2.1. Principais características, 429
16.22. Técnica executiva, 429
16.3. Anomalias, 430
163.1. Principais anomalias, 432
16.3.
Fissuras, 432
16.3. Eflorescências, 433
16.3.1,3. - Infiltrações de água, 437
16.4. Considerações finais, 439
Referências Bibliográficas, 439
17.
Manifestações Patológicas em Pisos e Revestimentos, 441
17.1. Introdução, 441
17.2. Considerações gerais, 441
17.21. Piso de argamassa de alta resistência, 441
17.2.1.1. - Sistemas de aplicação, 441
2 | MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
1.1.2. Evolução Histórica dos Materiais de Construção. Os materiais de construção são
tão importantes que a História, nos seus primórdios, foi dividida conforme a predomi-
nância do emprego de um ou outro material. É o caso, por exemplo, da Idade da Pedra ou
da Idade do Bronze.
Nas civilizações primitivas, o homem empregava os materiais assim como os encon-
trava na Natureza; não os trabalhava. Não demorou muito, porém, para que começasse à
aprender a modelá-los e adaptá-los às suas necessidades. A partir daí a evolução se deu a
passos lentos. Até a época dos Grandes Descobrimentos, a técnica se resumia em modelar
os materiais encontrados, os quais eram poucos, tendo quase sempre o mesmo emprego.
Na construção predominavam a pedra, a madeira e o barro. Os metais eram empregados
em menor escala, e, ainda menos, os couros e as fibras vegetais.
Aos poucos foram aumentando as exigências do homem, e, consequentemente, os
padrões requeridos. Ele passou à demandar materiais de maior resistência, maior durabili-
dade e melhor aparência do que aqueles até então empregados. Assim, por exemplo, é o
caso do concreto armado. Durante muito tempo, para grandes vãos e cargas, só se usou à
pedra. Tomava-se necessário um material de confecção e moldagem mais fáceis, que fosse
trabalhável como o barro e resistente como a pedra. Surgiu daí o concreto. Posteriormen-
te, com a difusão do uso desse material, procurou-se, naturalmente, aperfeiçoá-lo para que
pudesse vencer grandes vãos — apareceu o concreto armado, que, por sua vez, incentivou à
pesquisa dos aços e, com o tempo, levou ao concreto protendido.
Vê-se, pois, que se formava um ciclo: melhores materiais possibilitavam melhores
resultados e melhores técnicas, e estas, por sua vez, demandavam materiais ainda
melhores.
Presentemente, a tecnologia avança com rapidez e o engenheiro precisa estar atuali-
zado para poder aproveitar as técnicas mais avançadas, utilizando materiais de melhor
padrão e menor custo. Os materiais, atualmente, podem ser simples ou compostos; podem
ser obtidos diretamente da natureza ou elaborados industrialmente. Sua evolução é tão
rápida que o profissional que não deseja ficar decatualizado deve permanecer sempre
atento aos novos conhecimentos e invenções, de modo que é necessário que o estudo
dessa matéria seja uma constante em toda a sua vida profissional.
1.2. CAMPO DA MATÉRIA
1.21. Requisitos. Para construir, é preciso conhecer, a fim de alcançar o objetivo
desejado, as forças externas que atuarão sobre a construção (cargas, vento, clima etc.),
as forças internas que então se originarão (tensões) e o material que poderá resistir a essas
forças e tensões. Por esse motivo, é importante que se conheçam as propriedades físicas,
químicas e mecânicas desse material. Esse conhecimento se baseia quase exclusivamente
na experimentação, não entrando em jogo muitos princípios matemáticos. Valemo-nos,
então, da tecnologia experimental.
1.22. Campo. A tecnologia experimental se utiliza dos conhecimentos da Física e da
Química, ou da reunião dessas duas — a Físico-Química. Recorre também a muitos outros
ramos das Ciências Naturais, como Botânica, Geologia, Mineralogia, Cristalografia etc.
INTRODUÇÃO / 3
Com o auxílio de todas essas ciências podem ser conhecidas as propriedades e qualidades
dos materiais usados na indústria da construção. Este estudo não se baseia, portanto, em
uma única ciência, mas na escolha, em cada caso, de um grupo adequado dos conheci-
1.3. ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
1.3.1. Elementos Escritos de um Projeto de Engenharia. Um projeto de Engenharia
não consiste apenas em plantas, desenhos e cálculos. Inclui também uma parte de redação,
sob a forma de memorial descritivo e de especificação técnica.
O memorial descritivo é a simples descrição e indicação dos materiais a serem
empregados e dos locais da construção. É dirigido a elementos que não têm formação
técnica, com a finalidade de fazê-los compreender O projeto e sua aparência quando for
concluído. Já as especificações técnicas indicam minuciosamente as propriedades mínimas
que os materiais devem apresentar e a técnica que será empregada na construção. Desti-
nam-se ao construtor, e visam assegurar que a obra seja realizada com os cuidados apon-
tados no projeto.
1.32. As Especificações e a Cadeira “Materiais de Construção”. Especificações e me-
moriais descritivos costumam ser divididos em duas partes: especificações para os mate-
riais e especificações para a execução.
É na cadeira Materiais de Construção que se aprendem as qualidades, os defeitos e
as possibilidades de cada material. Uma vez conhecidas, cabe ao projetista escolher aque-
les que mais correspondam aos seus planos, estabelecendo, simultaneamente, os padrões
mínimos de qualidade.
1.33. Como Especificar Materiais
a Ao especificar os materiais, é necessário que se use da maior exatidão possí-
vel, definindo todos os elementos que possam variar de procedência.
b. Procurar sempre citar os dados técnicos do material desejado. Mesmo que eles
pareçam evidentes ao projetista, podem não o ser para o construtor, assim como este
poderá vir a aproveitar-se de uma omissão para agir de má fé.
e Convém não somente nomear o material, mas também a classificação, o tipo,
a dimensão desejada e, eventualmente, a marca (procedência).
d. Procurar não esquecer nenhum material. A experiência demonstra que o pro-
jetista esquece, geralmente, os materiais de menor custo ou volume, e é justamente em
relação a eles que surgem as maiores dúvidas de interpretação.
e É sempre conveniente rever os catálogos dos materiais que estão sendo especi-
ficados, para estar atualizado quanto a pormenores de diferenciação.
f Organizar um guia para especificações, a fim de não esquecer detalhes, como
rodapés, ferragens etc.
4 | MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
1.4. NORMALIZAÇÃO
1.4.1. Finalidades da Normalização. Elaboram-se normas com O objetivo de regulamen-
tar a qualidade, a classificação, a produção e o emprego dos diversos materiais.
Algum tempo atrás, a reputação do fabricante era suficiente para se ter uma idéia
da qualidade do material. Esse processo, embora generalizado, tornava-se bastante regio-
nal e, o que é pior, com O tempo originava monopólios, em prejuízo de novas marcas,
que precisavam lutar muito até conseguirem o reconhecimento de suas qualidades.
Conquanto fossem, às vezes, melhores que as tradicionais, esbarravam na desconfiança
natural e na opinião já enraizada. A normalização contribuiu para eliminar muitos desen-
tendimentos no recebimento das mercadorias, regulamentando as qualidades e até mesmo
a forma de medição.
Em cada país existem organismos cuja função é estabelecer normas que padronizem
as especificações de materiais. Essas especificações vêm, em geral, atender às exigên-
cias dos consumidores ou produtores, seja no processo de fabricação. seja no acabamento,
forma e dimensões, na composição química e nas propriedades físicas, nos ensaios de
inspeção, no recebimento ou no emprego dos produtos.
A normalização, embora rudimentar, já era empregada por alguns povos antigos. Os
tijolos dos persas eram de dimensões normalizadas, assim como a seção dos aquedutos
romanos e as pedras de construção dos egípcios. Os navios venezianos eram construídos
com peças normalizadas intercambiáveis.
1.4.2. Entidades Normalizadoras. No Brasil, a normalização cabe à ABNT — Associa-
ção Brasileira de Normas Técnicas, sociedade civil com intuito não-lucrativo, com sede
no Rio de Janeiro. Ela congrega os seguintes tipos de sócios, espalhados por todo o país:
— sócios mantenedores — contribuem substancialmente;
— sócios coletivos — firmas ou entidades;
— sócios individuais — contribuem em menor escala;
— entidades associadas — assessoram o trabalho da ABNT.
A ABNT se dedica à elaboração de normas técnicas, sua difusão e incentivo. Isso
não impede que, em campos mais restritos, outras entidades, particulares ou oficiais,
tenham o mesmo objetivo. Alguns exemplos são: a Associação Brasileira de Cimento
Portland (ABCP), o Instituto Brasileiro de Concreto (IBC) ou o Instituto Brasileiro do
Pinho (BP), que também estabelecem normas nos seus respectivos campos.
Nos Estados Unidos, essa responsabilidade cabe à American Society for Testing
Material (ASTM) e à American Standard Association (ASA); na Alemanha, à Deutsche
Normenausschuss, com sua conhecida sigla para normas, DIN; na Inglaterra, à British
Standards Institution (BS); na Noruega, ao Norges Standardiserings-Forbund (NSF).
Como siglas de normas podem ser citadas:
A — Austríacas CNS — Tcheco-eslovacas
BS — Inglesas DS — Dinamarquesas
GOST -— Russas Ns — Norueguesas
INTRODUÇÃO / 7
1.4.6. Marcas de Conformidade. As entidades normalizadoras concedem marcas de
conformidade, ou seja, reconhecem publicamente os materiais que estão de acordo com
suas especificações, desde que solicitado. Em alguns casos, essa conformidade pode ser
indicada por um símbolo a ser afixado no material ou embalagem, tal como o emblema da
Fig 1.1, usado pela JIS japonesa, ou o desenho de um papagaio de papel, adotado pela BS
inglesa.
Fig. 1.1
É importante saber que, pela Lei nº 4.150, a obediência às NBR é obrigatória em
todos os serviços executados, dirigidos ou fiscalizados pelas repartições públicas brasileiras
ou órgãos paraestatais, bem como em todos os serviços subvencionados ou feitos sob o
1.5. PROPRIEDADES GERAIS DOS corros
Antes de se iniciar o estudo da matéria propriamente dita, convém recordar algumas
noções de Física sobre as propriedades dos corpos. São conceitos que devem ser gravados
perfeitamente para melhor compreensão das exposições.
Dá-se nome de propriedades de um corpo às qualidades exteriores que o caracteri-
zam e Um dado material é conhecido e identificado por suas propriedades e
Por seu comportamento perante agentes exteriores.
As definições das propriedades dadas abaixo são clássicas. A Física moderna modifi-
cou alguns desses conceitos, mas, para este estudo, essas conceituações são suficientes.
Assim, por exemplo, sabe-se que a matéria pode ser transformada em energia, o que altera
a definição de indestrutibilidade.
As propriedades variam de material para material. Em alguns casos chegam a ser
nulas. Para o construtor, é básico o conhecimento das propriedades de cada material, para
poder deduzir o seu comportamento na prática.
1.5.1. Principais Propriedades dos Corpos. São propriedades gerais dos corpos:
a Extensão. É a propriedade que possuem os corpos de ocupar um lugar no
b. Impenetrabilidade. É a propriedade que indica não ser possível que dois cor-
Pos ocupem o mesmo lugar no espaço.
c. Inércia É a propriedade que impede os corpos de modificarem, por si mes-
mos, seu estado inicial de repouso ou movimento.
d. Atração. É a propriedade de a matéria atrair a matéria, de acordo com a lei de
atração das massas.
8 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
e Porosidade. É a propriedade que tem a matéria de não ser contínua, havendo
espaço entre as massas.
f Divisibilidade. É a propriedade que os corpos têm de se dividirem em frag-
mentos cada vez menores.
& — Indestrutibilidade. É a propriedade que a matéria tem de ser indestrutível.
1.5.2. Propriedades dos Corpos Sólidos. As seguintes propriedades são específicas dos
corpos sólidos, que são os de maior importância nesta disciplina:
a Dureza. É a resistência que os corpos opõem ao serem riscados.
b. Tenacidade. É a resistência que opõem ao choque ou percussão. (Observem-se
que o vidro tem grande dureza, mas pequena tenacidade; os termos não são sinônimos.)
e Maleabilidade ou Plasticidade. É a capacidade que têm os corpos de se adelga-
çarem até formarem lâminas sem, no entanto, se romperem.
d | Ductibilidade. É a capacidade que têm os corpos de se reduzirem a fios sem se
romperem (a argila tem boa plasticidade e pequena ductibilidade).
e Durabilidade. É a capacidade que os corpos apresentam de permanecerem
inalterados com o tempo.
f Desgaste. É a perda de qualidades ou de dimensões com O uso contínuo.
(Durabilidade e desgaste não são necessariamente inversos.)
g Elasticidade. É a tendência que os corpos apresentam a retornar à forma
primitiva após a aplicação de um esforço.
1.5.3. Esforços Mecânicos. Os esforços mecânicos ou solicitações simples a que um
corpo pode ser submetido são:
— compressão (Fig. 1.24);
tração (Fig. 1.2b);
flexão (Fig. 1.2c);
torção (Fig. 1.2d);
— Cisalhamento (Fig. 1.2e).
so soa dê
I
Fig 1.2
INTRODUÇÃO / 9
Observe-se, na Fig. 1.3, que no mecanismo da flexão aparecem esforços de com-
pressão em uma face e de tração na face que lhe é oposta. Isso vem a ser uma solicitação
composta.
Chama-se tensão à relação o = entre o esforço aplicado e a área da seção resis-
tente. Geralmente, é medida em MPa. Assim, uma barra de aço de 10 cm?, submetida a
3 000 kgf, sofre uma tensão de 30 MPa, bastante superior à que sofreria uma barra de
30 cm? sob um esforço de 6 000 kgf (tensão de 20 MPa).
Módulo de elasticidade ou módulo de Young é a relação entre a tensão e a deforma-
ção unitária resultante. Por exemplo. seja um fio de 1 cm de diâmetro que. submetido a
uma tração de 500 kgf. passa do comprimento 3 m para 3,02 m.
2 2
Área do fio: De. Aláxil O 0,776 em?
4 4
Tensão: —S00 64 sMpa
0,776
Deformação total: 302 --300=0.02m=2cm.
Deformação unitária:
= 0.00666.
645
Módulo de elasticidade: = 9 680 MPa.
1.5.4. Peso Específico, Massa Específica e Densidade. Quando se toma uma balança de
pratos e pesa-se, digamos, | kg de um determinado material, em um dado local, e depois
leva-se tudo e pesa-se novamente em outro local ou altitude, a balança continua marcando
1 kg. Na realidade, a balança simplesmente acusou o equilíbrio existente entre as massas
colocadas nos dois pratos. Quando se pesa essa mesma quantidade de material com um
dinamômetro ou balança de molas, em locais ou altitudes diferentes, o dinamômetro vai
acusar resultados diferentes. É que ele mede uma força chamada peso, que é resultante da
ação da gravidade sobre a massa do material, e a gravidade não é igual em toda parte.
12 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
com uma pequena quantidade de um agente emulsificador normalmente usado como
ajuda no processo de fabricação.
Na Fig. 2.1 está esquematizado o processamento geral de refinação do petróleo cru,
especialmente as linhas de produção de asfaltos.
Asfalto diluído em destilado médio
MCO —e MCS
Asfalto diluído em destilado leve
RCO—eRCS
Fig 2.1. Diagrama da destilação do petróleo, mostrando a linha asfáltica.
22.1. Cimentos Asfálticos. Como se vê no diagrama da Fig. 2.1, os cimentos asfálticos
são produzidos a partir dos materiais residuais compostos de asfalto e óleo. Esse material
é submetido à destilação em baixa temperatura sob vácuo. Frequentemente o vapor de
água é introduzido como ajuda no processo de destilação, sendo os produtos assim
obtidos usualmente denominados “ao vácuo” ou “ao vapor € vácuo”. O processo é
realizado a uma temperatura aproximada de 250ºC.
AGLOMERANTES / 13
Podem ser obtidos também pelo processo de precipitação, em soluções de matéria-
prima com solventes seletivos que dissolvem apenas a fração do óleo presente.
Os cimentos asfálticos são produzidos e classificados segundo diversas variedades, de
acordo com os resultados dos ensaios de penetração. Estes constituem uma medida da
consistência ou dureza. Uma agulha padronizada de peso total de 100 g é aplicada durante
cinco segundos, medindo-se a sua penetração em décimos de milímetro. Esse número
representa a penetração, que é uma medida da consistência do cimento asfáltico. Na
Fig. 2.2 encontra-se o esquema desse ensaio.
E
Início Depois de
5 segundos
Fig. 2.2. Esquema do ensaio de penetração.
Além do ensaio de penetração, as especificações usualmente prescrevem outros
ensaios, com O fim de controlar outras características. Entre elas merece referência a
determinação do ponto de fulgor, que é a temperatura na qual, durante o aquecimento, os
vapores desprendidos se inflamam temporariamente quando postos em contato com uma
pequena chama. Na Fig. 2.3 encontra-se o esquema desse ensaio.
E
Início Fim
Fig-2.3. Esquema do ensaio de determinação do ponto de fulgor.
14 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
O ponto de fulgor de um produto asfáltico representa a temperatura crítica acima
da qual é necessário tomar precauções especiais para afastar o perigo de incêndio durante
o seu aquecimento e manipulação. Na Tab. 2.1 encontram-se as características principais
dos cimentos asfálticos.
Tabela 2.1. Algumas Características de Cimentos Asfálticos.
Características
Ponto de Fulgor - ºC 22 28 177
a . o 100-120
Penetração 7-8 120- 150 200 - 300
85-100 150 - 200
Perda por aquecimento
a 1630C 1 2 2
%
Solubilidade em tetra-
cloreto de carbono ”s 995 ”s
222. Asfaltos Líquidos Cura lenta (SC). Os asfaltos líquidos de cura lenta são mis-
turas de cimento asfáltico e óleos. Estes últimos podem ser misturados posteriormente à
produção do asfalto, ou podem já estar incluídos no produto. O endurecimento desse
aglomerante se opera lentamente por evaporação dos óleos presentes, conduzindo a
consistência do material à da fase pseudo-sólida restante.
Cura média (MC). O asfalto líquido de cura média é uma mistura de cimento
asfáltico de penetração de 120 a 300 com um solvente hidrocarbonado de ponto de
evaporação próximo ao do querosene. Devido ao maior grau de volatilidade desse
solvente, tais asfaltos endurecem com mais rapidez do que os tipos precedentes. São
também conhecidos pelo nome de Kerosene Cutback Asphalr.
Cura rápida (RC). É uma mistura de cimento asfáltico, de 80 a 120 de penetração, e
de um solvente altamente volátil, em geral com ponto de evaporação próximo ao da
gasolina. Evidentemente, trata-se de material que endurece com mais rapidez que os tipos
precedentes. É também conhecido por Gasoline Cutback Asphalt.
Cada tipo de asfalto líquido é produzido em diversas variedades, de acordo com a
sua consistência. Estas se identificam pelas expressões apresentadas no quadro a seguir.
Os prefixos RC, MC e SC identificam o tipo de asfalto líquido e os sufixos de O a 5
a sua consistência relativa. Os tipos RC-0, MC-O e SC.0 têm aproximadamente a mesma
consistência, são os mais moles e aproximam-se de um creme caseiro, na temperatura
normal. Igualmente, os tipos RC-S, MC.S e SC-5 são de consistências comparáveis,
aproximando-se de geléia firme.
AGLOMERANTES / 17
denomina-se cal extinta — quando a hidratação se realiza no local do emprego do
material, no canteiro de serviço, normalmente — ou cal hidratada — quando a extinção se
processa na fábrica. A reação química da extinção da cal viva é a seguinte:
CaO +H;0 — Ca(0H),.
A cal extinta é utilizada em mistura com água e areia, em proporções apropriadas,
na elaboração de argamassas. Estas têm consistência mais ou menos plástica, e endurecem
por recombinação do hidróxido com o gás carbônico presente na atmosfera, reconsti-
tuindo o carbonato original, cujos cristais ligam de maneira permanente os grãos de
agregado utilizado. Esse endurecimento se processa com lentidão e ocorre, evidentemente,
de fora para dentro, exigindo uma certa porosidade que permita, de um lado, a evapo-
ração da água em excesso e, de outro, a penetração do gás carbônico do ar atmosférico. O
mecanismo do endurecimento, que depende do ar atmosférico, explica o nome ordi-
nariamente dado a esse aglomerante — cal aérea — que se opõe ao nome de outra varie-
dade — cal hidráulica — da qual se tratará mais adiante, e que endurece principalmente
por ação da água. A reação de carbonatação é a seguinte:
Ca(OH); +CO; +» CaCO; + H,0.
Essa reação ocorre na temperatura ambiente e exige a presença de água. Verificou-se
que o gás carbônico seco não combina satisfatoriamente com o hidróxido. O processo é
lento, podendo, entretanto, ser acelerado pelo aumento da proporção de gás carbônico
presente na atmosfera. O resultado, porém, não é satisfatório, uma vez que tal aceleração
conduz ao desenvolvimento insuficiente dos cristais de carbonatos, que resulta no enfra-
quecimento final do produto.
23.2. Classificação. Usualmente se classificam as variedades de cal aérea segundo dois
critérios: o da composição química básica e o do rendimento em pasta.
De acordo com a composição química, apresentam-se duas variedades: a cal cálcica
€ a cal magnesiana. A primeira, com um mínimo de 75% de CaO, e a segunda, com 20%
no mínimo de MgO, devendo sempre a soma de CaO com MgO ser superior a 95%. Os
componentes argilosos SiO,, Al, Os e Fe; O; devem somar no máximo 5%. A proporção
residual de CO, deverá ser inferior a 3%, quando a amostra for tirada do forno de
calcinação, e inferior a 10%, quando a amostra for retirada de outro local.
Segundo o outro critério — o rendimento em pasta — a cal apresenta duas varie-
dades: cai gorda e cal magra.
Entende-se por rendimento em pasta o valor do volume de pasta de cal obtido com
uma tonelada de cal viva. Essa pasta é uma suspensão do tipo coloidal, que se obtém na
operação de extinção da cal viva. Para todos os efeitos, a pasta de cal pode ser considerada
como o aglomerante realmente utilizado em construção. Do ponto de vista econômico, é
primordial o conhecimento do rendimento em pasta, porque o produto comprado é a cal
viva e o produto utilizado, a pasta de cal.
Se o rendimento em pasta for maior do que 1,82, a cal será denominada gorda, e, se
for inferior a esse valor, magra. Esse rendimento-limite corresponde ao rendimento de
18 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
182m? de pasta para uma tonelada de cal viva (550 kg de cal viva para 1 mº de pasta).
De um modo geral, a cal magnesiana é magra. Observe-se, entretanto, que outros
fatores, como a presença de impurezas, supercozimento ou subcozimento, têm maior
influência no rendimento da cal.
23.3. Propriedades. A cal viva é um produto de cor branca que se apresenta sob a
forma de grãos de grande tamanho e estrutura porosa, ou em pó. No primeiro caso, a
densidade média é de 0,85, aproximadamente, e, no segundo caso, 0,50. A densidade
abscluta é, em média, 2,20. A cal hidratada apresenta-se sob a forma de flocos ou pó de
cor branca, com densidade aparente de 0,5.
a Plasticidade. Neste aglomerante, é um termo utilizado para conceituar a
menor ou maior facilidade na aplicação das argamassas como revestimento. Diz-se que a
cal é plástica quando se espalha facilmente, resultando numa superfície lisa sob o rasto da
colher do pedreiro. Se ela é arrastada por se agarrar à colher, conduz à produção de
trincas ou mesmo desgarra da parede. Nesse caso é considerada não-plástica, um conceito
bastante subjetivo. Cal magnesiana produz argamassas mais bem trabalháveis do que as
variedades cálcicas.
b. Retração. A carbonatação do hidróxido realiza-se com perdas de volume,
razão pela qual o produto está sujeito à retração, cuja consequência é o aparecimento de
trincas nos revestimentos. Sendo a cal normalmente empregada em mistura com agregado
miúdo na elaboração de argamassas, a introdução desse produto em proporções conve-
nientes reduz os efeitos da retração. A proporção da pasta de cal na argamassa deve
obedecer a um limite mínimo, abaixo do qual deixa de ser trabalhável. A proporção
determina a capacidade de sustentação de areia da pasta de cal. A experiência mostra que
a cal cálcica tem maior capacidade de sustentação de areia do que a variedade magnesiana.
e Rendimento. O conceito de rendimento já foi exposto, restando definir a
consistência da pasta utilizada na determinação desse fator. Trata-se de uma consistência
arbitrária, usualmente determinada pelo abatimento de um cilindro de 5 cm de diâmetro e
10 cm de altura, que se deforma para 8,7 cm pela remoção do molde. Cal de variedade
cálcica oferece melhores rendimentos que cal magnesiana.
d — Endurecimento. Como é necessária a absorção de CO; do ar para o endureci-
mento da cal aérea, esse material não endurece debaixo da água. O endurecimento que
depende do ar atmosférico é muito lento, por razões evidentes: camadas espessas perma-
necem fracas no seu interior durante longo período de tempo. Consequentemente,
quando se usam argamassas de cal e areia para revestimento, torna-se necessário aplicá-las
em camadas, geralmente com um intervalo de 10 dias entre uma e outra operação. O
processo de endurecimento ainda continua durante o tempo em que a argamassa perma-
nece em contato com o ar. Além da carbonatação, o endurecimento da cal se dá também
pela combinação do hidróxido com a sílica finamente dividida que se encontra, even-
tualmente, na areia que constitui a argamassa. Um produto de elevada dureza e valor
ligante é o que resulta da combinação da cal com a sílica. Tal fenômeno já é conhecido há
bastante tempo e foi extensamente utilizado pelos romanos em suas obras, quando
juntavam uma certa proporção de pozolana em suas argamassas e concretos feitos com cal
ordinária. Mais tarde se tratará desse assunto pormenorizadamente.
AGLOMERANTES / 19
23.4. Extinção. A hidratação da cal viva é obtida mediante a adição de água, processo
usualmente conhecido por extinção da cal. A hidratação é uma reação altamente exotér-
mica, acompanhada de considerável aumento de volume. Na variedade cálcica de grande
pureza, O processo é violento. Na variedade magnesiana, o processo é mais lento e,
consequentemente, a produção de calor é menor, assim como o aumento de volume.
A reação de hidratação da cal viva pode resultar na produção de hidróxido em
forma cristalina ou coloidal, em proporção que depende das condições mantidas durante a
reação. Os cristais de hidróxido de cálcio formam-se e desenvolvem-se devagar, enquanto
o hidróxido coloidal se forma com grande rapidez. Quanto mais rápida a reação, maior a
proporção coloidal de hidróxidos. A utilização de água quente ou morna é a agitação da
mistura concorrem para o aumento da proporção do colóide. Do ponto de vista da
utilização do material, convém que haja preponderância da fase coloidal, que melhora a
plasticidade, o rendimento e a capacidade de sustentação de areia.
A hidratação da cal viva altamente cálcica é muito violenta, podendo ocorrer a
queima devido à grande elevação na temperatura, a qual: pode atingir 360ºC em tanques
abertos e 450ºC em caixas fechadas. Essa elevação tem provocado incêndios em vagões,
silos, barracões de madeira, .nos quais a cal virgem se hidratou em contato com à água,
geralmente da chuva.
Na extinção da cal cálcica, usualmente gorda, deve-se evitar a violenta elevação de
temperatura, controlando o processo no sentido de um desenvolvimento térmico acei-
tável. Na extinção da cal magnesiana ocorre o contrário. Por ser lenta a reação de
hidratação, convém aproveitar a energia térmica desenvolvida para acelerar o processo,
que então resulta em maior proporção da fase coloidal de hidróxidos. No primeiro caso,
para eliminar o perigo de queima da cal por elevação não-controlada da temperatura, o
processo é conduzido com excesso de água; no segundo, com controle do volume da água
utilizada.
Pode-se proceder a um ensaio prévio, de realização simples, para orientar a operação
de extinção, evitando os dois riscos mencionados. Colocam-se, em um balde, dois ou três
pedaços de cal, de aproximadamente 1/2 kg cada um, adicionando-se água até que eles
fiquem cobertos; observa-se quanto tempo leva para iniciar-se a reação de extinção,
quando o material começa a soltar fragmentos ou a esboroar-se. De acordo com o tempo
decorrido, tem-se a seguinte classificação:
— extinção rápida — tempo inferior a S minutos;
— extinção média — tempo entre 5 e 30 minutos;
— extinção lenta — tempo superior a 30 minutos.
Para o processo de extinção rápida, é necessário que a cal seja colocada na água,
nunca O inverso. A operação deve ser constantemente observada e, ao mais leve sinal de
desprendimento de vapor, deve-se proceder a uma rápida e enérgica agitação, adicionando
mais água, até cessar o desprendimento.
No processo de extinção média, adiciona-se água suficiente para fazer submergir
parcialmente o material. A agitação será ocasional e, havendo desprendimento de vapor,
deve-se adicionar água aos poucos. Convém não adicionar mais água do que o necessário,
nem grande quantidade de uma vez só.
22 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
23.7. Fabricação. A calcinação do calcário se processa em temperaturas acima de
850ºC e abaixo de 1200ºC. Em temperaturas inferiores, o cozimento é incompleto,
resultando um produto subcozido de rendimento inferior. Em temperaturas acima de
1200ºC, o óxido de cálcio começa a combinar-se com as impurezas, verificando-se uma
vitrificação incipiente na superfície dos blocos de calcário, resultando também um
produto de qualidade inferior. A operação deve, portanto, ser conduzida dentro de um
certo controle, para melhor qualificação do produto.
A calcinação do calcário pode ser realizada em instalações rudimentares ao ar livre,
com os naturais defeitos inerentes a semelhantes processos. As medas são constituídas por
camadas alternadas de calcário e carvão vegetal, dispostas horizontalmente, de modo a
formar um volume hemisférico, assente sobre uma fogueira de lenha e revestido exterior-
mente com uma camada impermeabilizante de argila furada no ponto mais alto para
tiragem (Fig. 2.6).
Fig 2.6. Forno de campanha para cal.
Nos fornos de campanha amontoam-se os fragmentos de calcário no interior de um
poço cavado no terreno, formando o volume de uma fornalha na sua parte interior, onde
a lenha é empregada como combustível (Fig. 2.7).
Fig 2.7. Medas para fabricação de cal.
AGLOMERANTES / 23
Os fornos intermitentes (Fig. 2.8) são em tudo semelhantes aos fornos de campa-
nha, diferenciando-se apenas por serem estruturas permanentes de alvenaria. Apresentam
95 mesmos inconvenientes, especialmente no que se refere ao trabalho intermitente, que
obriga a um consumo maior de combustível e a mão-de-obra maior que a necessária para a
calcinação em fornos contínuos, mais aperfeiçoados. São fornos desse tipo que se utilizam
geralmente em nossa indústria de cal. Suas capacidades são variáveis, indo desde 6 até
mais de SO toneladas.
Fig. 2.8. Fornos intermitentes para cal.
Os fornos contínuos empregados na calcinação do calcário são de tipo vertical e
horizontal, sendo que no primeiro ainda se estabelece uma diferença de acordo com os
tipos de combustíveis empregados, que podem ser de chama curta — por exemplo, o
carvão-coque — ou de chama longa — como a lenha.
Nos fornos que utilizam combustível de chama curta, o calcário é misturado ao
combustível, geralmente carvão, resultando um produto de qualidade inferior, escurecido
pelas contaminações inevitáveis, contendo elevada proporção de cinzas que não se
separam do produto. Apesar disso, trata-se de processo mais econômico e o produto
obtido é aceitável para a maioria das aplicações.
A Fig. 2.9 apresenta o esquema de um forno contínuo vertical, que utiliza combus-
tível de chama curta — carvão. Consta de duas câmaras superpostas, sendo o calcário
alimentado por abertura junto à chaminé superior e o combustível introduzido no estran-
gulamento entre as duas câmaras onde se processa a combustão. O resfriamento do
material se dá na câmara inferior, onde o ar necessário à combustão é aquecido, com
melhoria evidente para o rendimento térmico. O material calcinado é extraído pela parte
inferior da câmara de resfriamento.
Outros fornos contínuos verticais, utilizando combustível de chama curta, são em
tudo semelhantes aos fornos de fundição de ferro Cubilot, onde o combustível e o
calcário são alimentados pela parte superior e a alimentação de ar é proporcionada através
de ventiladores que forçam a sua introdução pela parte inferior da câmara. O material
calcinado é retirado intermitentemente pelo fundo do forno.
24 | MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Fig. 2.9. Forno contínuo vertical, a carvão, para cal.
Nos fornos contínuos verticais que utilizam combustível de chama longa, dá-se a
calcinação por ação dos gases provenientes de uma fornalha lateral, sendo o calcário
também alimentado por cima e o produto calcinado retirado por baixo (Fig. 2.10).
VE eseárto
Fig. 2.10. Forno contínuo vertical,
a lenha, para cal.
AGLOMERANTES / 27
Tabela 2.4. Valores para os Gessos Franceses
Gessos para Construções
Grosseiros Finos
Refugo na peneira 30 5.20% <2%
Refugo na peneira 27 <s0% <18%
Início de pega 245 min 245 min
Fim de pega 10-40 min 10-40 min
2h 0,1 MPa 0,15 MPa
Resistência 24h 0.2 MPa 0,25 MPa
compressão 74 0,3 MPa 0,35 MPa
284 - 0.4 MPa 0,45 MPa
60-70% semi-hidratos
40-30% sulfato-anidro
Peneira 30 (AFNOR) — 0,80 mm
Peneira 27 (AFNOR) — 0,40 mm
Na França, onde existe grande quantidade de gesso, o material é sempre aplicado
puro, enquanto nos Estados Unidos é principalmente utilizado em mistura com areia, sob
a forma de argamassa. Nos gessos franceses, a proporção de sulfato-anidro insolúvel é
geralmente maior, tornando inconveniente a sua utilização em argamassa. No Brasil, o
gesso é um produto escasso, caro e, consequentemente, pouco empregado como aglome-
rante. Existem, no Nordeste, algumas jazidas situadas a uma distância que torna impos-
sível o seu uso em escala apreciável nos trabalhos de construção, o qual se restringe,
então, a aplicações de menor volume, especialmente em ornamentações. É, entretanto,
um material relativamente abundante em algumas regiões do mundo, nas quais o seu
preço é comparável ou mesmo inferior ao da cal, o que possibilita seu emprego como
material de revestimento de paredes e forros, para o que se presta admiravelmente,
resultando em superfícies lisas, de fino acabamento, muito superior ao alcançado com as
argamassas de cal.
Em nosso mercado é encontrado em sacos de SO a 60 kg com os nomes de gesso,
estuque ou gesso-molde.
2.4.1. Propriedades. No estado em que se encontra no mercado, o gesso é um pó
branco, de elevada finura, cuja densidade aparente varia de 0,70 a 1,00, diminuindo com
o grau da finura. Sua densidade absoluta é de cerca de 2,7.
28 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
a Pega. Como já foi dito, o gesso misturado com a água começa a endurecer em
razão da formação de uma malha imbricada, de finos cristais de sulfato hidratado. Depois
do início da pega, o gesso, tal como os outros materiais aglomerantes, continua a endu-
recer, ganhando resistência, num processo que pode durar semanas. A velocidade de
endurecimento das massas de gesso depende dos seguintes fatores:
— temperatura e tempo de calcinação;
— finura;
— quantidade de água de amassamento;
— presença de impurezas ou aditivos.
A calcinação realizada em temperaturas mais elevadas ou durante tempo mais longo
conduz à produção de material de pega mais lenta, porém de maior resistência. O gesso de
Paris, que é constituído de semi-hidrato puro, dá pega em poucos minutos; gessos obtidos
em segunda cozedura, constituídos principalmente de sulfato-anidro solúvel, podem ter
pega tão lenta quanto se desejar. Material supercozido, com predominância de sulfato-
anidro insolúvel, não dá pega, é sem valor aglutinante. Gessos de elevada finura dão pega
mais rápida e atingem maiores resistências, em razão do aumento da superfície específica,
disponível para a hidratação.
A quantidade de água de amassamento influencia negativamente o fenômeno da
pega e do endurecimento, quer por deficiência, quer por excesso. A quantidade Ótima se
aproxima da quantidade teórica de água necessária à hidratação (18,6%).
O semi-hidrato puro, gesso de Paris, dá pega tão rapidamente, entre 2 e 5 minutos,
que é virtualmente inútil como material de construção, pois endurece antes que possa ser
trabalhado. A presença de impurezas, que naturalmente ocorre na gipsita original, diminui
muito a velocidade de endurecimento. Pode-se também reduzir o tempo de pega mediante
o emprego de aditivos apropriados, como retardadores, cola, serragem fina de madeira,
sangue e outros produtos de matadouro usados em proporção de 0,1 a 0,5%. Tais pro-
dutos retardam a hidratação por interferência mecânica, formando membranas protetoras
intergranulares. Contrariamente, outras substâncias, tais como O sal de cozinha ou mesmo
o gesso hidratado, são aceleradores de pega. A cal hidratada, em mistura com até cerca de
15%, melhora as qualidades plásticas da pasta.
b. Resistência mecânica. As pastas de gesso, depois de endurecidas, atingem
resistência à tração entre 0,7 e 3,5 MPa e à compressão entre Se 15 MPa. As argamassas
com proporção exagerada de areia alcançam resistência à tração e compressão muito mais
reduzida.
c Aderência. As pastas e argamassas de gesso aderem muito bem ao tijolo, pedra
e ferro, e aderem mal às superfícies de madeira. A aderência ferro-gesso, embora traduza
uma compatibilidade físico-química entre os dois materiais, tem, infelizmente, o defeito
de ser instável, permitindo a corrosão do metal. Não se pode fazer gesso armado como se
faz cimento armado. Todavia, a estabilidade é alcançada quando se faz a armadura com
ferro galvanizado.
d. Isolamento. As pastas endurecidas de gesso gozam de excelentes propriedades
de isolamento térmico, isolamento acústico e impermeabilidade ao ar. Sua conduti-
bilidade térmica é muito fraca (0,40 cal/h/cm?/ºC/cm), cerca de 1/3 do valor para o
AGLOMERANTES / 29
tijolo comum. O gesso é material que confere aos revestimentos com ele realizados consi-
derável resistência ao fogo. A água de cristalização é eliminada pelo calor, reduzindo o
material superficial à condição de pó, que não sendo removido, atua como um isolador
que protege a camada interior de gesso.
24.2. Fabricação. Pode-se realizar a calcinação da gipsita segundo processos primitivos
das medas e fornos de campanha descritos na fabricação de cal.
Entre os processos modernos, podem citar-se os fornos de marmita e os fornos
rotativos. No processo da marmita, a gipsita pulverizada é aquecida dentro de um grande
recipiente com capacidade variável entre 10 e 20 toneladas. O material é agitado e
aquecido por fogo indireto. Entre 100 e 110ºC, a umidade superficial é eliminada, ocor-
rendo a desidratação entre 120 e 1SOC. A água de hidratação é eliminada sob a forma
de vapor, com uma agitação violenta que se assemelha à fervura. Esta continua até quea
desidratação de 1 e 1/2 molécula de água se complete, ocasião em que o material entra em
repouso. O gesso, neste estágio de produção, é denominado de primeira cozedura e se
constitui principalmente de semi-hidratos.
Se se der continuidade ao processo mediante a elevação das temperaturas até 190
ou 220C, eliminar-se-á o restante da água de hidratação, observando-se nova fervura no
cozimento. O material assim produzido, de segunda cozedura, constituído quase que
exclusivamente de sulfato-anidro solúvel, será de pega mais rápida, como já foi men-
cionado. Observa-se que o gesso de primeira cozedura pode adquirir qualidades seme-
lhantes às do de segunda cozedura, por meio do processo de envelhecimento ao ar
atmosférico.
O processo mais moderno de produção de gesso emprega os fornos rotativos para
calcinação da gipsita. Em todos os seus aspectos, o processo se assemelha ao da produção
da cal em forno rotativo.
Uma variedade bem conhecida de gesso de acabamento é o chamado cimento
Keene. Esse gesso é produzido por calcinação dupla de gipsita muito pura. Após a pri-
meira calcinação em temperatura elevada, o sulfato-anidro resultante é imerso numa
solução de 10% de alúmen, depois é recalcinado e, finalmente, pulverizado num moinho
de bola.
24.3. Aplicações. Na construção civil, o gesso é usado especialmente em revestimentos
e decorações interiores. O material presta-se admiravelmente a esse tipo de serviço, quer
utilizado simplesmente como pasta obtida pelo amassamento do gesso com água, quer em
mistura com areia, sob a forma de argamassa. No Brasil, como já se disse anteriormente, a
carência desse material impede o seu emprego nos revestimentos usuais das construções,
onde se opera quase que exclusivamente com argamassas de cal e areia.
O revestimento de gesso em pasta ou em argamassa, tal como acontece com o
revestimento feito com argamassas de cal e areia, é feito quer em uma única camada, quer
em duas ou mesmo três. Pode-se proceder ao alisamento final da superfície do reves-
timento com a colher ou desempenadeira, ou com a raspagem final, quando o material já
adquiriu dureza suficiente. De qualquer forma, o acabamento é sempre muito bom,
podendo alcançar polimentos excepcionais.
32 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
25.5. Cal Hidráulica. O nome cal hidráulica é aplicado a uma família de aglomerantes
de composição variada, obtidos pela calcinação de rochas calcárias que, natural ou artifi-
cialmente, contenham uma porção apreciável de materiais argilosos. O produto goza da
propriedade de endurecer sob a água, embora, pela quantidade de hidróxido de cálcio que
contém, sofra também a ação de endurecimento pela carbonatação proveniente da fixação
de CO; do ar.
A cal hidráulica é fabricada por processos semelhantes ao da fabricação da cal
comum. Utilizam-se, de preferência, fornos contínuos, sendo o produto calcinado
subsequentemente extinto. A extinção, neste caso, tem um duplo objetivo: hidratar o
óxido de cálcio presente, transformando-o em hidróxido, para evitar posteriores
expansões nocivas ao comportamento do material, e, ao mesmo tempo, aproveitar o
efeito mecânico dessa expansão para obter uma pulverização natural do produto. A
operação de extinção da cal hidráulica é bastante delicada, onde a proporção de água
utilizada nunca deve ultrapassar os limites convenientes, para evitar a eventual hidratação
dos silicatos produzidos. Após a extinção da cal hidráulica, o produto é peneirado e se
encontra em condições de expedição e emprego.
Apesar de seu nome, a cal hidráulica não é um produto apropriado para construções
sob a água. Sua pega é muito lenta, o que a torna mais adequada a emprego de menor
responsabilidade, principalmente em misturas denominadas cimentos de alvenaria.
Nessa família de aglomerantes, define-se um fator que qualifica o seu compor-
tamento, do ponto de vista do processo de endurecimento: o índice de hidraulicidade, a
relação entre as proporções dos constituintes argilosos e dos constituintes alcalinos.
Na Tab. 2.6 estão relacionados os valores correspondentes a diferentes tipos de
cal hidráulica. Aí se verifica a evolução do índice de hidraulicidade em relação ao pro-
cesso de endurecimento.
Tabela 2.6. Meio de Endurecimento e Indice de Hidraulicidade de Cal
Nome pad, de s0,*Ah0,+ FO, | | Tempo pde
Cal aérea (gorda e magra) Ar <ou >30d
Cal fracamente hidráulica Are água 0,1-0,5 15-30d
Cal medianamente hidráulica Are água 0,15 — 0,30 10-1Sd
Cal hidráulica Água 0,30-040 s-10d
Cal eminentemente hidráulica Agua 0,40 — 0,50 2- 4d
Cimento natural de pega lenta Água 0,50 — 0,65 6-24h
Cimento natural de pega rápida Água 06 -120 6h
Classificação geral. Na Tab. 2.7 estão classificados os algomerantes já apresentados.
Tabela 2.7. Aglomerados em Geral
AGLOMERANTES / 33
Proceno
dem ly uu lg 4%
Principais | Secundários | mento Apa Ácidos | Alea
Cimento = | Restrumento) Púxico - - | Concratos
atínico — | netos pes. anfáticos
Asfatos | Hidrocato- | Ólcos leves. | Evaporação | Púástico - Impermes.
líquidos | netospes | Gaolis | dosolvente dilação
Emuiões | Hidrocarbo | Agua Emporação | Púsico - —— | impermea
astíticas | netos pes. do solvente bultação
e
Envofres s - | Restiamento| - - [ama Cimentos
rest.a
dedos
Gota | 10 - | Agodo Dimoe Revestimem.
i Mo CO, dou | Rígido lentamente | Ataca Ataca tos. Alvema-
ras
Maga | GO impurezas | Ação do Resto à -— | Rea
E) Mo 00, dou |rígdo Juçiods | Asa mentor
E Alvenana
Geno caso, - | Hidratação | Rígido Dimolve len- Ataca Revestimeo.
tamente, m- tos
chusive a
cm
Keme caso, - | Mstrtação | Rígido Dimolve lem- - [ama Revestimen.
tamente, im- tos
chunive ns
chama
Saree Meo Ma, Agoqui | Rígido | Dino em. = | mo
mica tamente, -
chaxive na
chuva
Caiporo | cum, | Porolama | Acioqui | Rígido - [asa - -
lânica mica
Caime | Cu), | Escóriame- | Acêo qui | Rígido - [aa Arenas
tónica talérgica | mica -
Cotidráo- | 30 Ampias | Hidratação | Rígido - [aa Avenarias
ves -
Cimentos | 30 Arias | Hidratação | Rágido - [aa Estouturas.
Ponund - | Revenimes
tos
Furan Farm - | Asioquê | rúmica - [aus - | Revesimes.
tos
Fesólco | Fenot - | Aoqui | rúxica - [ua O a
mica tos
Epóxi Polésteres - | Atdoque | única - [|aua - | Revesimes.
fenólicos mica tos. repara
ões de coner
34 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
26. EXERCÍCIOS
1. Faça a diferenciação entre asfaltos quentes, dissolvidos e emulsões.
2. Explicar o significado dos prefixos RC, MC, SC e dos sufixos de O a 5, para asfaltos líqui-
dos.
3. Descrever o processo de obtenção da cal.
4. Oqueéacalviva?
$. Como é processada a extinção da cal viva em obra, e quais os cuidados que devem serob-
servados?
6. Quais as principais propriedades da cal hidratada?
7. Citar e explicar sucintamente quais os ensaios de verificação da qualidade de uma cal hidra-
tada.
8. Quais as principais propriedades do gesso?
9. Quais as características que conferem ao gesso sua excelente propriedade de proteção con-
tra o fogo?
10. Cite as principais utilizações do gesso na construção civil.
11. O que é a cal hidráulica?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. THE ASPHALT INSTITUTE. Manual of the Asphalt Institute.
2 MANTEL. Engineering materials handbook. New York, McGraw-Hill, sd.
3. MILLS, J.— Materials of construction. New York, John Wiley, 1955.
4. — DOBER, Wan. Cales, cementos y hormigones. Barcelona, Sintes, s.d.
S. PAULA, João Fulgêncio de. — Aglomerantes rígidos. Belo Horizonte, Escola de Engenharia, 1961.
SEGURADO, J. — Materiais de construção. Lisboa, Bertrand, sd.
”
7. KOMAR, A. — Matériaux et elements de construction. Moscou, Mir, 1973.
CIMENTO PORTLAND / 37
2. Fe0,=49%
AhO; = 43%
Cao (livre) = 1,0%
CaO=8,8%
C4AF = 15,0%
C,)A=3,0%
CaO (livre) = 1,0%
3. CaO=618%
SiO, = 24,0%
CaO anterior = 10,8%
Diferença: 61,8 — 10,8 = 51,0%
CS = 50,0%
C5S=25,0%
DSO, 245%
CO "140%
Casos 2,8%
” “40%
noi 1as%
CoO(iiva) = 1,0%
Co «88%
AF 15,0%
GA 230%
Coo(ivre)= 1,0%
FCO «6,6%
SO + 240%
CO anterior «10,8%,
Diterença: 61,8 - 10,8 * 81,0%
* 50,0%
raso
38 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
O aluminato de cálcio (CA) muito contribui para o calor de hidratação, especial-
mente no início do período de cura. O silicato tricálcico é o segundo componente em
importância no processo de liberação de calor. Os dois outros componentes contribuem
pouco para a liberação de calor.
O aluminato de cálcio, quando presente em forma cristalina, é o responsável pela
rapidez de pega. Com a adição de proporção conveniente de gesso, 0 tempo de hidratação
é controlado. O silicato tricálcico (CsS) é o segundo componente com responsabilidade
pelo tempo de pega do cimento. Os outros constituintes se hidratam lentamente, não
tendo efeito sobre o tempo de pega.
33. PROPRIEDADES FÍSICAS
As propriedades físicas do cimento Portland são consideradas sob três aspectos
distintos: propriedades do produto em sua condição natural, em pó, da mistura de cimen-
to e água e proporções convenientes de pasta e, finalmente, da mistura da pasta com
agregado padronizado — as argamassas.
As propriedades da pasta e argamassa são relacionadas com o comportamento desse
produto quando utilizado, ou seja, as suas propriedades potenciais para a elaboração de
concretos e argamassas. Tais propriedades se enquadram em processos artificialmente
definidos nos métodos e especificações padronizados, oferecendo sua utilidade quer para
o controle de aceitação do produto, quer para à avaliação de suas qualidades para os fins
de utilização dos mesmos.
3.3.1. Densidade. A densidade absoluta do cimento Portland é usualmente considerada
como 3,15, embora, na verdade, possa variar para valores ligeiramente inferiores. A utili-
dade do conhecimento desse valor se encontra nos cálculos de consumo do produto nas
misturas geralmente feitas com base nos volumes específicos dos constituintes. Nas com-
pactações usuais de armazenamento € manuseio do produto, a densidade aparente do
mesmo é da ordem de 1,5.
Na pasta do cimento, a densidade é um valor variável com o tempo, aumentando à
medida que progride o processo de hidratação. Tal fenômeno; de natureza extremamente
complexa, é conhecido pelo nome de retração. Esta ocorre nas pastas, argamassas e
concretos. Pode atingir, em 24 horas, cerca de 7 mm por metro na pasta pura, 4,5 mm
por metro na argamassa-padrão e 2 mm por metro em concretos dosados à
350 kg/cimento/m”. Dada a excepcional importância que o fenômeno da retração tem na
tecnologia de concreto, ele será tratado pormenorizadamente no estudo das propriedades
do concreto endurecido.
3.3.2. Finura. A finura do cimento é uma noção relacionada com O tamanho dos grãos
do produto. É usualmente definida de duas maneiras distintas: pelo tamanho máximo do
grão, quando as especificações estabelecem uma proporção em peso do material retido na
CIMENTO PORTLAND / 39
operação de peneiramento em malha de abertura definida, e, altenativamente, pelo valor
da superfície específica (soma das superfícies dos grãos contidos em um Brama de cimen-
to).
A finura, mais precisamente a superfície específica do produto, é o fator que
governa a velocidade da reação de hidratação do mesmo e tem também sua influência
comprovada em muitas qualidades de pasta, das argamassas e dos concretos.
O aumento da finura melhora a resistência, particularmente a resistência da primeira
idade, diminui a exsudação e outros tipos de segregação, aumenta a impermeabilidade, a
trabalhabilidade e a coesão dos concretos e diminui a expansão em autoclave.
Exsudação é o fenômeno que consiste na separação espontânea da água de mistura,
que naturalinente aflora pelo efeito conjunto da diferença de densidades entre o cimento
ea água e o grau de permeabilidade que prevalece na pasta. É um tipo de segregação,
fenômeno mais geral, entendido como separação dos diversos constituintes das argamassas
e dos concretos por via de ação de diferentes causas, conduzindo, finalmente, a uma
heterogeneidade indesejável. A coesão nos concretos e argamassas frescas é responsável
pela estabilidade mecânica dos mesmos, antes do início da pega, e é medida pelo valor de
resistência do cisalhamento.
Trabalhabilidade é uma noção subjetiva, aproximadamente definida como o estado
que oferece maior ou menor facilidade nas Operações de manuseio com as argamassas e
concretos frescos. São todos atributos importantes das misturas frescas, tratadas minucio-
samente no capítulo correspondente às propriedades da mistura fresca.
A finura do cimento é determinada naturalmente durante o processo de fabricação
para controle do mesmo, como também nos ensaios de recepção do produto, quando deve
estar dentro dos limites determinados nas especificações correspondentes. As especifi-
cações brasileiras NBR 5732 (EB-1) e NBR 5733 (EB-2) prescrevem limite de retenção na
peneira nº 200 de malha de 75 micra de abertura. Para o cimento Portland comum, o re-
síduo deixado nessa peneira não deve exceder 15% em peso. Para os cimentos Portland de
alta resistência inicial, tal índice deve baixar a 6%. A especificação admite, nesse caso, a
determinação das superfícies específicas pelo turbidímetro de Wagner, não devendo, en-
tão, ser superior a 1900 cm? /g o valor obtido para essa superfície.
As peneiras normalizadas empregadas na determinação da mistura de materiais pul-
verulentos têm características geométricas diferentes de um país para outro. No Brasil,
são geralmente utilizadas as peneiras americanas padronizadas pela ASTM. Na Tab. 3.1
estão registrados alguns valores ilustrativos da série fina de peneiras padronizadas ameri-
canas. Na Tab. 3.2 estão também registrados alguns valores da série fina de peneiras
padronizadas francesas.
Verificou-se ser impraticável a operação de separação de grãos de tamanhos infe-
riores a 60 micra. Desenvolveram-se, entretanto, processos indiretos de análises granulo-
métricas que se baseiam na medida de tempo de sedimentação de suspensões, na medida
da permeabilidade à passagem de determinados fluidos através dos vazios intergranulares
de amostras de cimento etc.
No processo de turbidímetro de Wagner é medido o tempo de precipitação dos
grãos de diferentes diâmetros em suspensão no querosene. No processo de permeâmetro
de Blaine, mede-se o tempo de percolação de determinado volume de ar através dos vazios
intergranulares de uma amostra de cimento de características definidas.
42 | MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
um cimento apresentou 2500 cm? /g no turbidímetro de Wagner e 3900 cm? /g no per-
meâmetro de Blaine.
3.33. Tempo de Pega. O fenômeno da pega do cimento compreende a evolução das
propriedades mecânicas da pasta no início do processo de endurecimento, propriedades
essencialmente físicas, consequente, entretanto, à um processo químico de hidratação. É
um fenômeno artificialmente definido como o momento em que à pasta adquire certa
consistência que à torna imprópria a um trabalho. Tal conceituação se estende, evidente-
mente, tanto à argamassa quanto aos concretos nos quais a pasta de cimento está presente
e com missão aglutinadora dos agregados.
No processo de hidratação, os grãos de cimento que inicialmente se encontram em
suspensão vão-se aglutinando paulatinamente uns aos outros, por efeito de floculação,
conduzindo à construção de um esqueleto sólido, finalmente responsável pela estabilidade
da estrutura geral. O prosseguimento da hidratação em subsequentes idades conduz ao
endurecimento responsável pela aquisição permanente de qualidades mecânicas, caracte-
rísticas do produto acabado. A pega e o endurecimento são dois aspectos do mesmo
processo de hidratação do cimento, vistos em períodos diferentes — a pega na primeira
fase do processo e o endurecimento na segunda e última fase do mesmo. A partir de um
certo tempo após a mistura, quando o processo de pega alcança determinado estágio, a
pasta não é mais trabalhável, não admite operação de remistura. Tal período de tempo
constitui o prazo disponível para as operações de manuseio das argamassas e concretos,
após o qual esses materiais devem permanecer em repouso, em sua posição definitiva, para
permitir o desenvolvimento do endurecimento.
A caracterização da pega dos cimentos é feita pela determinação de dois tempos
distintos — o tempo de início e o tempo de fim de pega. Os ensaios são feitos com pasta
de consistência normal, noção detalhada mais adiante, e, geralmente, com o aparelho de
Vicat. Nesse aparelho mede-se, em última análise, a resistência à penetração de uma agulha
na pasta de cimento.
Têm sido tentados outros procedimentos para a medida de outras características
físicas da mistura que conduzissem a uma melhor caracterização de fenômenos da pega. A
medida da evolução do valor do atrito interno da pasta de cimento mostra claramente
pontos de estreita correlação com os ensaios de penetração de agulha, confirmando, pelo
crescimento rápido desse valor no intervalo entre o tempo de início e o de fim de pega, à
ocorrência de uma aglomeração de marcantes características mecânicas no interior da
massa durante essa fase do processo de hidratação.
Medições feitas sobre os valores de velocidade de propagação do som durante O
início de hidratação das pastas têm mostrado pontos característicos coincidentes com os
tempos de início e fim de pega definidos por penetração de agulha. O mesmo ocorre no
exame dos valores de resistência elétrica a correntes de alta frequência, onde as curvas
também mostram pontos característicos coincidentes com os tempos de início e fim de
pega. Não há dúvida de que, embora artificialmente definido o fenômeno, ele curresponde
a uma realidade física caracterizada por pontos importantes no desenvolvimento do pro-
cesso de endurecimento de aglomerante nos seus primeiros tempos de vida. Na Fig 3.4 é
representada a evolução dos valores das velocidades de propagação do som e da resisti-
vidade elétrica.
CIMENTO PORTLAND / 43
Velocidade do som»
Início Fim da pego
Fig. 3.4. Velocidade do som, temperatura, resistência elétrica e pega.
3.3.4. Pasta de Cimento. A ocorrência da pega do cimento deve ser regulada tendo-se
em vista os tipos de aplicação do material, devendo-se processar ordinariamente em perío-
dos superiores a uma hora após o início da mistura. Nesse prazo são desenvolvidas as
operações de manuseio do material, mistura, transporte, lançamento e adensamento. Há
casos, entretanto, em que o tempo de pega deve ser diminuído ou aumentado.
Nas aplicações em que se deseja uma Pega rápida, como, por exemplo, nas obtura-
ções de vazamentos, são empregados aditivos ao cimento, conhecidos com o nome de
aceleradores de pega. Tais aditivos serão tratados mais adiante, cabendo, no momento, a
citação de dois exemplos de aceleradores, o cloreto de cálcio e o silicato de sódio.
Contrariamente, em outros processos tecnológicos, ressalta-se a conveniência de um
tempo de pega mais longo, como, por exemplo, nas operações de injeção de pastas e
argamassas e nos lançamentos de concretos sob água, quando então se empregam aditivos
denominados retardadores. Entre estes, citam-se os açúcares ordinários, a celulose e ou-
tros produtos orgânicos. Alguns cimentos oferecem raramente o fenômeno da falsa pega,
que tem as características da pega ordinária, ocorrendo em período mais curto e não
correspondendo, entretanto, à evolução já descrita para O fenômeno. Trata-se de uma
anomalia, geralmente atribuída ao comportamento do gesso adicionado ao cimento, no
processo de manufatura, e que pode ser corrigida por destruição do incipiente esqueleto
sólido e formação mediante ação enérgica de mistura ou remistura.
O tempo de pega do cimento é determinado, como já foi dito, por ensaio do
aparelho de Vicat. A pasta é misturada em proporção que conduz a uma consistência
denominada normal. Essa consistência normal é verificada no mesmo aparelho de Vicat,
utilizando-se a chamada sonda de Tetmajer, um corpo cilíndrico, metálico, liso, de 10 mm
de diâmetro e terminado em seção reta. A sonda é posta a penetrar verticalmente em
pasta fresca por ação de um peso total (incluindo a sonda) de 300 g. Na Fig. 3.5 está
representado o aparelho de Vicat.
44 | MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Fig. 3.5. Esquema do
aparelho de Vicat.
No ensaio de consistência da pasta, a sonda penetra e estaciona a uma certa distân-
cia do fundo do aparelho. Essa distância, medida em milímetros, é denominada índice de
consistência. A pasta, preparada para ensaios de tempo de pega, deve ter uma consistência
normal de 6 mm, isto é, a sonda de Tetmajer deve estacionar à distância de 6 mm do
fundo da amostra.
Essa amostra de consistência normal é ensaiada nesse mesmo aparelho à penetração
de uma agulha corpo cilíndrico circular, com 1 mm? de área de seção e terminando em
seção reta. A amostra é ensaiada periodicamente à penetração pela agulha de Vicat,
determinando-se o tempo de início da pega quando esta deixa de penetrar até o fundo da
pasta, ou melhor, ao ficar distanciada do fundo 1 mm. Os ensaios são prosseguidos até a
determinação do tempo de fim de pega, quando a agulha não penetra nada mais na
amostra, deixando apenas uma imperceptível marca superficial.
Na obra procede-se — quando necessário, por exemplo, para eliminar a suspensão de
um cimento geralmente em processo muito lento de pega — a um ensaio grosseiro, que
consiste na moldagem de uma série de pequenas bolas com pastas de consistência seme-
lhante à normal de laboratório. Submetendo-as a posteriores esmagamentos com os dedos,
quando o esmagamento deixa de ser plástico, tem-se, grosseiramente, O início da pega;
quando as bolas se esfarinham por ação de esforço muito maior, tem-se O fim da pega.
3.3.5. Resistência. A resistência mecânica dos cimentos é determinada pela ruptura à
compressão de corpos-de-prova realizados com argamassa. A forma do corpo-de-prova,
suas dimensões, o traço da argamassa, sua consistência e O tipo de areia empregado são
definidos nas especificações correspondentes, e constituem características que variam de
um país para outro.
Quase todos adotam cubos de arestas de 5 a 7 cm, predominando esta última
dimensão. Apenas no Brasil e no Uruguai empregam-se corpos-de-prova de forma cilín-
drica. No Brasil, o corpo-de-prova e um cilindro de 10 cm de altura por 5 cm de DA
consistência da argamassa é determinada pelo ensaio de escorregamento da argamassa
normal sobre mesa cadente. O processo é descrito pormenorizadamente no método NBR
7215 (MB-1) da ABNT. Molda-se com argamassa um corpo-de-prova de formato tronco de
cone, tendo como diâmetros das bases 125 e 80 mm e como altura 65 mm sobre uma pla-
taforma lisa de um mecanismo capaz de promover quedas de 14 mm de altura. No ensaio
são executadas trinta quedas em trinta segundos (ver Fig. 36).
CIMENTO PORTLAND / 47
34.1. Estabilidade. A estabilidade do cimento é uma característica ligada à ocorrência
eventual de indesejáveis expansões volumétricas posteriores ao endurecimento do con-
creto e resulta da hidratação de cal e magnésia livre nele presentes. Quando o cimento
contém apreciáveis proporções de cal livre (CaQ), esse óxido, ao se hidratar posterior-
mente ao endurecimento, aumenta de volume, criando tensões internas que conduzem à
microfissuração, e pode terminar na desagregação mais ou menos completa do material.
Isso pode ocorrer quando prevalecem temperaturas superiores a 1 900%C no processo de
fabricação do clinker e resulta na supercalcinação da cal. Este óxido, como se sabe,
hidrata-se de maneira extremamente lenta, conduzindo a indesejável expansão em época
posterior ao endurecimento do material. Tal fenômeno ocorre com maior razão com O
óxido de magnésio, motivo pelo qual as especificações limitam a proporção da presença
desses constituintes no cimento.
Determina-se a estabilidade do cimento pelos ensaios de expansão em autoclave,
onde a pasta de cimento é submetida a um processo acelerado de endurecimento em
temperatura elevada, de modo a fazer aparecer, em sua provável grandeza, a expansão
resultante da hidratação, tanto da cal quanto da magnésia livre. No Brasil, utiliza-se, para
esse ensaio, a chamada agulha de Le Chatelier, que é constituída por uma forma cilíndrica
de chapa de latão com 30 mm de altura e 30 mm de diâmetro, com uma fenda aberta
segundo uma geratriz. Soldadas às bordas dessa fenda estão duas hastes destinadas a
multiplicar a medida da abertura, que aumenta com a expansão do núcleo de pasta
soldada no interior do cilindro. No método NBR 7215 da ABNT, esse ensaio é descrito
em detalhe e é constituído, em linhas gerais, da moldagem, cura do corpo-de-prova imerso
em água na temperatura ordinária, durante 12 horas, e subsequente aquecimento do cor-
po-de-prova em água conduzida lentamente à fervura, durante cinco horas ou mais. O va-
lor da expansibilidade é medido nas pontas das agulhas em milímetros, não podendo ul-
trapassar os limites descritos pelas especificações de qualidade do cimento (no Brasil, a
NBR 5732 e a NBR 5733).
3.4.2. Calor de Hidratação. Durante o processo de endurecimento do cimento, consi-
derável quantidade de calor se desenvolve nas reações de hidratação. Essa energia térmica
produzida é de grande interesse para o engenheiro, principalmente pela elevação de tem-
peratura, resultante nas obras volumosas, a qual conduz ao aparecimento de trincas de
contração ao fim do resfriamento da massa. O desenvolvimento de calor varia com a
composição do cimento, especialmente com as proporções de silicato e aluminato tricál-
cicos.
O valor do calor de hidratação do cimento Portland ordinário varia entre 85 e
100 cal/g, reduzindo-se a 60 a 80 cal/g nos cimentos de baixo calor de hidratação.
Os valores do calor de hidratação dos constituintes do cimento são os seguintes:
cs — 120 cal/g
cs — 62callg
C;A — 207 cal/g
C4AF — 100 cal/g
Magnésia — 203 cal/g
Cal — 279 callg
48 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
O método mais comum para a determinação do calor de hidratação do cimento é o
calor de dissolução. Amostras secas de cimento em pó e de cimento parcialmente hidra-
tado e subsequentemente pulverizado são dissolvidas em mistura de ácidos nítrico e
clorídrico numa garrafa térmica. A elevação de temperatura devidamente corrigida pela
eliminação dos fatores estranhos ao fenômeno determina as medidas do calor de dissolu-
ção das amostras. Por diferença, o calor de hidratação do cimento é calculado.
O interesse do conhecimento do valor do calor de hidratação do cimento reside na
possibilidade do estudo da evolução térmica durante o endurecimento do concreto em
obras volumosas. Basicamente, trata-se de multiplicar o calor de hidratação do cimento
pelo peso do cimento contido no metro cúbico de concreto e dividir o resultado pelo
calor específico do concreto. Esse cálculo aproximado não se desenvolve, evidentemente,
com essa simplicidade esquemática, devendo ser considerados vários outros fatores que
intervêm na evolução do fenômeno, tais como a velocidade de reação, o coeficiente de
condutibilidade térmica do concreto, a variação do calor específico do concreto com à
temperatura etc. Este assunto será desenvolvido no capítulo referente ao endurecimento
do concreto.
34.3. Resistência aos Agentes Agressivos. Nos concretos em contato com a água e com
a terra podem ocorrer fenômenos de agressividade. As águas, como as terras, podem
conter substâncias químicas suscetíveis a reações com certos constituintes do cimento
presentes nos concretos. Nestes últimos, o cimento constitui o elemento mais suscetível ao
eventual ataque, já que os agregados são de natureza predominantemente inerte. Os
silicatos de cálcio mais ou menos hidratados e principalmente a cal hidratada, presentes
no cimento hidratado, são os elementos submetidos a ataque químico. O hidróxido de
cálcio presente na proporção de 15 a 20% do peso do cimento original constitui o ponto
mais vulnerável.
As águas puras, de fontes graníticas ou oriundas do degelo atacam o cimento
hidratado por dissolução da cal existente. Essa dissolução alcança cerca de 1,3 grama por
litro nas temperaturas correntes. Águas puras renovadas acabam lavando toda a cal exis-
tente no cimento hidratado, após o que começam, com menor intensidade, a dissolver os
próprios silicatos e aluminatos.
As águas ácidas, como, por exemplo, a água de chuva, com certa proporção de gás
carbônico dissolvido, agem sobre a cal do cimento hidratado segundo processo que varia
em função da concentração do anidrido carbônico. Se a concentração é baixa, o sal
formado é o carbonato de cálcio, pouco solúvel, que obstrui os poros, constituindo
proteção a ataques posteriores.
Se a concentração é relativamente forte, o carbonato formado é dissolvido como
bicarbonato, prosseguindo o ataque até completa exaustão da cal presente. Os sais de
cálcio são atacados em seguida.
As águas podem ser igualmente agressivas quando contém outros ácidos, como
acontece com os resíduos industriais e águas provenientes de charcos contendo ácidos
orgânicos. Tanto num caso como no outro, há exaustão da cal, e um ataque posterior dos
sais constituintes do cimento hidratado deixa no concreto um esqueleto sem coesão e
inteiramente prejudicado nas suas características mecânicas e outras. Para estimar a resis-
tência química ds um cimento à água , ura e ácida, é útil conhecer seu índice de Vicat,
CIMENTO PORTLAND / 49
isto é, a relação sílica mais alumina dividida por cal. Se é inferior a 1, tem-se o cimento
rico em cal, como o Portland, portanto, um cimento facilmente atacável. Se, ao contrário,
O índice é superior a 1, cimento aluminoso, cimento metalúrgico, cimento pozolânico,
trata-se de material pobre em cal e capaz de resistir à agressividade da água dissolvente.
A água sulfatada ataca O cimento hidratado por reação do sulfato com aluminato,
produzindo um sulfoaluminato com grande aumento de volume. Essa expansão interna é
responsável pelo fissuramento que, por sua vez, facilita o ataque, conduzindo o processo a
completa deterioração do material. Águas paradas, contendo mais de meio grama de
sulfato de cálcio/litro, e águas correntes com mais de 0,3 & podem, em geral, ser conside-
radas perigosas.
A água do mar contém numerosos sais em solução, entre os quais os sulfatos de
cálcio, o sulfato de magnésio e o cloreto de sódio. A presença deste último contribui para
aumentar a solubilidade da cal. O pequeno conteúdo de ácido carbônico contribui ligeira-
mente como medida de proteção, pela formação de carbonato insolúvel. Já os sulfatos,
principalmente os de cálcio, agem da maneira já descrita, resultando no final ataque
progressivo dos cimentos ricos em cal pelas águas do mar.
34.4. Reação Álcali-Agregado. Identifica-se como reação álcali-agregado a formação
de produtos gelatinosos acompanhada de grande expansão de volume pela combinação
dos álcalis do cimento com a sílica ativa finamente dividida, eventualmente presente nos
agregados. Trata-se de fenômeno estudado em época recente que, embora não tenha sido,
até agora, constatado objetivamente no Brasil, por constituir importante risco na durabili-
dade dos concretos, merece detalhada investigação quando do uso de agregados oriundos
de novas fontes, sem experiência anterior. Tal assunto será examinado no capítulo corres-
pondente aos agregados.
365. CLASSIFICAÇÃO
Os cimentos foram originariamente fabricados segundo as especificações dos consu-
midores que encomendavam, das fábricas, o produto com certas características convenien-
tes a um trabalho. A partir de 1904, quando as primeiras especificações da ASTM foram
introduzidas, a indústria limitou-se a produzir alguns tipos de cimento.
Em cada país, a indústria produz os cimentos padronizados pelo organismo normali-
zador nacional e alguns outros fora de normas, mas sempre um número limitado de tipos.
Não se encontram todos os tipos, entretanto, disponíveis no mercado. Muitos deles,
destinados a usos especiais, são obtidos mediante encomenda.
No Brasil são produzidos vários tipos de cimento, oficialmente normalizados.
Fabrica-se também, para emprego ordinariamente não estrutural, o cimento branco,
que é um cimento Portland ordinário, praticamente isento de óxidos de ferro, e que se
consegue mediante cuidados adequados na escolha da matéria-prima e na condução do
processo de fabricação. Na Tab. 3.4 são apresentadas as principais características dos ci-
mentos normalizados brasileiros.
52 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Além desses tipos de cimento, fabrica-se, nos Estados Unidos, um cimento Portland
ordinário de pega muito lenta, os cimentos de poços de petróleo, que devem endurecer
em condições de temperatura a pressão muito elevada, o que se consegue mediante a
adição de outros agentes retardadores que não o gesso. Da mesma forma, o cimento
branco, que é uma variedade do cimento tipo 1, é encontrado normalmente no mercado
americano, havendo também, em grau menor de disponibilidade, outros tipos especiais
constituídos de cimento tipo 1 com aditivos variados, como, por exemplo, os cimentos
antibactericidas.
Na França encontra-se, provavelmente, a maior variedade na classificação de tipos
de cimento. Na Tab. 3.6 apresentam-se algumas características dos principais produtos
franceses. Os cimentos franceses são identificados por um símbolo cujo prefixo é uma
associação de letras constituídas pelas iniciais do nome do produto, seguidas por um
sufixo composto por um par de números que representam as resistências à compressão a
7e a 28 dias, respectivamente, em MPa.
O supercimento 355-400 e o cimento de elevada resistência inicial (315-400) consti-
tuem os produtos de alta qualidade mecânica e pequena disponibilidade no mercado,
preço mais elevado e emprego restrito aos casos não resolvidos pela aplicação do cimento
Portland ordinário.
O cimento comum é fabricado nas classes CPA-250/315 e CPB-250/315, diferen-
ciando-se um do outro pela adição de escória de alto-forno finamente dividida no produto
CPB. Esses dois cimentos constituem o grosso da produção industrial francesa.
Tabela 3.6. Algumas Características de Alguns Cimentos Franceses
Compressão Tração
Cimento Simbolo Proporção MPa MPa
deEscória | 24) 7d |28d|2d | 7d [284
Portland artificial crAaso/3s 10% as [31.5 2/25
Idem CPB250/315 10% as [31,5 2 las
Alta resistência HRI-315/400 16 [31.5 | 40 [18 [25] 3
Supercimento Super 16 |35.5| so a as
Metalúrgico CMM-250/315 so% as [ais
Encontram-se, a seguir, os chamados cimentos ao ferro CF-250/315, que é uma
variante do cimento comum, contendo, porém, de 20 a 30% de escória de alto-forno. Os
tipos subsequentes, cimento metalúrgico misto, cimento de alto-forno e cimento de escó-
ria e clinker, são todos constituídos por mistura de cimento Portland comum CPA com
proporções variadas de escória de alto-forno, que participa até com 80% da mistura no
último cimento.
A escória de alto-forno finamente dividida não constitui propriamente um aglome-
rante hidráulico, podendo, entretanto, combinar com à cal livre existente no cimento
CIMENTO PORTLAND / 53
Portland hidratado, endurecendo lentamente e proporcionando ao produto final quali-
dades que o capacitam a diferentes utilizações nas obras de construção.
36. FABRICAÇÃO
O cimento Portland é atualmente produzido em instalações industriais de grande
porte, localizadas junto às jazidas que se encontram em situação favorável quanto ao
transporte do produto acabado aos centros consumidores. Trata-se de um produto de
preço relativamente baixo, que não comporta fretes a grandes distâncias. As matérias-
primas utilizadas na fabricação do cimento Portland são, usualmente, misturas de mate-
riais calcários e argilosos em proporções adequadas que resultem em composições químicas
apropriadas para o cozimento.
O condicionamento econômico do empreendimento, combinado com a natureza
das jazidas disponíveis, determina os materiais que podem ser utilizados na manufatura do
cimento Portland. Entre os materiais calcários utilizados encontram-se o calcário propria-
mente dito, conchas de origem marinha etc. Entre os materiais argilosos encontram-se a
argila, xistos, ardósia e escórias de alto-forno.
A fabricação do cimento Portland comporta seis operações principais, a saber:
— extração da matéria-prima;
— britagem;
— moedura e mistura;
— queima;
— moedura do clinker,
— expedição.
A extração da matéria-prima se faz pela técnica usual de exploração de pedreiras,
quando se trata de rochas e xistos; por escavação, segundo a técnica usual de movimenta-
ção ds terras, quando se trata de argila, e por dragagens, quando é o caso. A técnica de
exploração de pedreiras será desenvolvida mais adiante, quando se tratar da produção de
agregados.
A matéria-prima, quando rochosa, é submetida a uma operação de beneficiamento
com o propósito de reduzir o material à condição de grãos de tamanho conveniente.
Trata-se da britagem, operação também comum no processo de exploração de pedreiras
para a produção de agregados. Os materiais britados, calcário, por exemplo, são encami-
nhados a depósitos apropriados, de onde são processados segundo duas linhas principais
de operação: via seca e via úmida.
No processamento por via seca, a matéria-prima é inicialmente conduzida a uma
estufa, onde é convenientemente secada. Secos, os materiais argilosos e calcários são
proporcionados e conduzidos aos moinhos e silos, onde se reduzem a grãos de pequeno
tamanho em mistura homogênea.
Utilizam-se, para esse fim, moinhos, usualmente de bolas, associados em série e
conjugados a separadores de peneira, ou ciclones, por cuja ação se conduz o processo na
produção da mistura homogênea de grãos de pequeno tamanho, intimamente misturados,
das matérias-primas.
54 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Essa mistura é conduzida por via pneumática para os silos de homogeneização, nos
quais a composição básica da mistura é quimicamente controlada e são eventualmente
feitas as correções.
A mistura homogênea é armazenada em silos apropriados, onde aguarda o momento
de ser conduzida ao forno para a queima.
No processo por via úmida, onde se emprega a argila natural como matéria-prima,
esta é inicialmente misturada com água, formando uma lama espessa.
O calcário britado proveniente dos silos é proporcionado e misturado com a lama de
argila e conduzido para os moinhos, também usualmente de bolas, onde a rocha calcária é
reduzida a grãos de tamanho muito pequeno. Esses moinhos trabalham também com
equipamentos separadores, neste caso, câmaras de sedimentação que proporcionam meio
eficaz de controle dos tamanhos dos grãos de calcário em suspensão na lama.
A lama, após a operação de moedura do calcário, é bombeada para os silos de
homogeneização, nos quais, como se procedeu na via seca, se controla a composição
química e se fazem as eventuais correções. A mistura, devidamente controlada e homoge-
neizada, é conduzida para os silos de armazenamento do cru. Nesta altura, os dois pro-
cessos novamente se encontram, procedendo-se à alimentação do forno, com à mistura
pulverulenta proveniente da via seca ou com a lama proveniente da via úmida.
O fomo, como é utilizado atualmente, é constituído por um longo tubo de chapa
de aço, revestido internamente de alvenaria refratária, girando lentamente em tono de
seu eixo, levemente inclinado, tendo na extremidade mais baixa um maçarico onde se
processa a queima de combustível e recebendo pela sua boca superior o cru.
A operação de queima da mistura crua devidamente proporcionada num forno
onde, pela combustão controlada de carvão, gás ou óleo, a temperatura é elevada aos
níveis necessários à transformação química que conduz à produção do clinker, subsequen-
temente resfriado, é, talvez, a mais importante fase na fabricação do cimento. O material
submetido ao processamento das queimas percorre o forno rotativo de uma ponta à outra
em cerca de 3 horas e meia a 4 horas. O clinker produzido sai do forno em elevada
temperatura, incandescente, e é resfriado mediante corrente de ar ou mesmo por ação de
água.
O clinker resfriado é conduzido a depósitos apropriados, onde aguarda o processa-
mento da moagem.
A operação de moagem do clinker é realizada em moinhos de bola conjugados com
separadores a ar. Sendo o clinker um material extremamente duro, a moagem é uma
operação dispendiosa, onde são consumidas as esferas de aço duro utilizadas dentro do
moinho.
O clinker entra no moinho já de mistura com a parcela de gipsita utilizada para
controle do tempo de pega do cimento. Para facilitar a operação de moagem, a indústria
manufatureira de cimento tem utilizado como aditivos certas substâncias que facilitam
essa operação, os aditivos de ajuda na moagem.
O clinker pulverizado é conduzido pneumaticamente para os separadores de ar, um
ciclone que reconduz ao moinho os grãos de tamanho grande e dirige os de menor
tamanho, o cimento propriamente dito, para os silos de estocagem.
O produto acabado, o cimento Portland artificial, é então ensacado automatica-
mente em sacos de papel apropriado ou simplesmente encaminhado a granel para os
veículos de transporte.
CIMENTO PORTLAND / 57
Fig. 3.9. Tanque para transporte de cimento a granel com descarga por escorregamento.
58 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
40 metros. Usado na descarga de caminhões e vagões de transporte de cimento a granel,
proporciona uma operação muito rápida. Um caminhão com 9 t pode ser descarregado
em 9 minutos.
No processo de escorregamento, a descarga do veículo se faz por gravidade ao longo
de uma calha interna, que corre pelo fundo do reservatório, neste caso um longo tanque,
semelhante aos tanques de transporte de combustível (Fig. 3.9).
conferida ao cimento, ele escorrega com facilidade pelas calhas, esvaziando-se o reserva-
tório em pouco tempo. Nesse processo, ocorre uma descarga de duas toneladas por
minuto.
No sistema de parafuso sem fim, mais antigo, a descarga do veículo é levada a efeito
pela ação de uma hélice longa, alojada na calha inferior que constitui o tubo do reserva-
tório. A capacidade de descarga é menor e alcança cerca de 0,7 minuto.
Tais sistemas de transporte a granel são econômicos e se impõem no caso de grande
consumo. No Brasil, esse gênero de transporte está sendo desenvolvido atualmente como
consequência da fabricação local desse tipo de equipamento.
A quantidade mínima de consumo de cimento que permite a instalação de uma
frota para o transporte a granel é da ordem de 200 t por mês, ou seja, 10 000 sacos de
cimento por mês. O problema econômico é resolvido mediante uma análise dos custos de
investimento e operação do equipamento de transporte em face da econoqia resultante
da eliminação dos sacos de papel.
3.8. ARMAZENAMENTO
O cimento exige algum cuidado no seu armazenamento no canteiro de serviço. É
necessário evitar qualquer risco de hidratação. Os sacos de papel não garantem a imper-
meabilização necessária, razão pela qual não se deve armazenar cimento por muito tempo.
Os barracões para armazenamento de cimento devem ser bem cobertos e bem fechados
lateralmente, devendo ser o soalho bem acima do nível do solo.
Para armazenagem por curto espaço de tempo, podem-se cobrir as pilhas de sacos de
cimento com lona, sendo elas colocadas sobre estrados de madeira convenientemente
elevados do solo. Não se recomenda o armazenamento de cimento por mais de três meses.
Quando se inicia a hidratação, o que se reconhece pela existência de nódulos que
não se desmancham com a pressão dos dedos, o cimento torna-se suspeito. Pode ser
usado, após peneiramento, somente em serviços secundários, como argamassas, pavimen-
tos secundários etc.
3.9. CIMENTOS POZOLÂNICOS
Pozolanas são substâncias siliciosas e aluminosas que, embora não tendo qualidades
aglomerantes próprias, reagem com à cal hidratada na presença de água, nas temperaturas
CIMENTO PORTLAND / 59
ordinárias, resultando a formação de compostos cimentícios. Esses materiais podem ocor-
rer naturalmente ou ser produzidos em instalações industriais adequadas, sendo os primei-
TOs encontrados como cinzas vulcânicas e os segundos resultantes do beneficiamento de
argilas cozidas, cinzas volantes e algumas escórias. As pozolanas serão tratadas mais
adiante, no capítulo referente aos agregados.
O emprego das pozolanas provavelmente é anterior ao início da História registrada.
É possível que os antigos tenham descoberto seu uso por acidente, na operação de
calcinação de calcários nas regiões vulcânicas, pela observação da melhoria introduzida no
comportamento das argamassas que continham essa impureza. Depósitos de pozolanas
naturais encontram-se próximos da cidade de Pozzuoli, perto do Vesúvio, na Itália. Estão
hoje os restos de obras romanas, aquedutos feitos com concretos pozolânicos, a teste-
munhar à excelente durabilidade do material feito com esse constituinte.
Com o desenvolvimento da indústria de cimento Portland, a utilização das pozola-
nas foi abandonada, havendo, entretanto, uma tendência recente de intensificação do
emprego desse material, traduzida no número significativo de obras realizadas com ele e
mesmo na orientação de fabricantes de cimento, que iniciam a produção de cimentos
pozolânicos englobando, já durante a manufatura, uma proporção desse material.
Não se conhece ainda o mecanismo da ação química entre as pozolanas e a cal
presente no cimento hidratado, embora se admita que a sílica amorfa finamente dividida,
presente nas pozolanas, reaja com a cal hidratada, produzindo, principalmente, silicato
monocálcico.
O uso conveniente das pozolanas nos concretos de cimento Portland melhora mui-
tas das qualidades desse material, como, por exemplo, a trabalhabilidade; além disso,
diminui o calor de hidratação, aumenta a impermeabilidade, assim como a resistência aos
ataques por águas sulfatadas, águas puras e águas do mar, diminui os riscos de reação
álcali-agregado, a eflorescência por percolação de água e, finalmente, os custos.
De um modo geral, cerca de 20 a 40% do cimento utilizado nos concretos podem
ser substituídos por pozolana sem diminuição da resistência mecânica final e com diversas
melhorias nas qualidades do produto.
Os cimentos franceses tipo D, os cimentos metalúrgicos, os cimentos de escória
franceses, americanos e alemães são, na realidade, cimentos pozolânicos. Na França, ini-
cia-se a mistura de cinza volante aos cimentos Portland para a fabricação de cimentos com
cinza. Essas cinzas volantes constituem um subproduto nas centrais termelétricas aciona-
das a carvão, constituindo a fase pulverulenta muito fina, arrastada pela fumaça das
fornalhas das caldeiras e que, para não contaminar a atmosfera, são retidas em filtros
especiais.
As pozolanas poderão, eventualmente, ser desenvolvidas no Brasil por beneficia-
mento das escórias de alto-forno, havendo, naturalmente, necessidade de estudos e experi-
mentação, assim como de entendimentos com as usinas siderúrgicas.
Trata-se de assunto extremamente complexo a investigação do comportamento das
pozolanas artificiais, uma vez que a sua constituição é muito variável. Não resta a menor
dúvida de que a utilização das pozolanas se vai tornando uma imposição de natureza
econômica e tecnológica, principalmente nas obras de grande envergadura, onde suas
qualidades fazem melhor efeito. Não há, até o presente momento, qualquer tentativa de
utilização desse material aqui no Brasil.
62 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
4. Em que fase da fabricação do cimento Portland é adicionado gipsita, e com que finalidade?
5. Quais os principais cuidados que devem ser tomados na armazenagem, em obra, de cimento
em sacos?
é. Quais as principais propriedades da pozolana utilizada como adição, em cimento Portland?
7. Quais as principais propriedades de um cimento aluminoso?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2 BAUER, E. E. — Plain Concrete. New York, McGraw-Hill, 1956.
3 BLANKS, R. F. & KENNEDY H. L. — The Technology of Cement and Concrete. New York, John Wiley &
Sons, 1955. 2 v.
4. PETRUCCI, ELÁDIO G.R. — Concreto de Cimento Portland. Editora Globo, 1978.
5. —CALLEJA,C. JOSÉ. — Conglomerantes Hidráulicos: Fisicoquímica e Tecnologia, Monografia n.º 214
Madrid, IETCC, 1961.
6. CALLEJAC. JOSÉ. — Ciclo de Palestras. São Paulo, — FTDE/EPUSP/IPT, 1979.
7. LABLAU, O. — Prontuário del Cemento. Ed. Técnicos Associados, 1970.
VENUAT. M. — Cimento et Bétons. Presses Universitaires de France, 1973.
9. VENUAT, M. & PAPADAKIS, M. — Control y Ensayo de Cementos, Morteros y Hormigones. URMO.,
1964.
10. DUDA, W.H.— Manual Tecnologico de Cemento. ETA, 1977.
AGREGADOS
CAPÍTULO 4
Engº ALEXANDRE SERPA ALBUQUERQUE
EPUSP
CONSULTOR DE ENGENHARIA
4.1. DEFINIÇÃO
Agregado é o material particulado, incoesivo, de atividade química praticamente nula,
constituído de misturas de partículas cobrindo extensa gama de tamanhos. O termo
“agregado” é de uso peneralizado na tecnologia do concreto; nos outros ramos da construção
é conhecido, conforme cada caso, pelo nome específico: filer, pedra britada, bica-corrida,
rachão etc.
4.2. CLASSIFICAÇÃO
Os agregados classificam-se segundo a origem, as dimensões das partículas e o peso
específico aparente.
4.2.1. Segundo a Origem
— Naturais. Os que já se encontram em forma particulada na natureza: areia e cascalho.
— Industrializados. Os que têm sua composição particulada obtida por processos
industriais. Nestes casos, a matéria-prima pode ser: rocha, escória de alto-forno e
argila.
4.2.2. Segundo as Dimensões das Partículas. O agregado usado na tecnologia do con-
ereto é dividido em:
— Miúdo. As areias.
— Graúdo. Os cascalhos e as britas.
4.2.3. Segundo o Peso Específico Aparente. Conforme a densidade do material que
constitui as partículas, os agregados são classificados em leves, médios e pesados.
A Tab. 4.1 relaciona alguns deles e os valores aproximados das médias das densidades
aparentes.
64 / MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Tabela4.1 Densidades Aparentes Médias
Leves Médios Pesados
vermiculita 03 calcário 1,4 barita 29
argila expandida 0,8 arenito 1,45 hematita 32
escória granulada 1,0 cascalho 1,6 magnetita 3,3
granito 1,5
areia 1,5*
basalto 1,5
escória 1,7
* Esta é a densidade aparente média da areia “seca ao ar”. Ver4,3.2.1a.
4.3. PRODUTOS
4.3.1. Industrializados
43.1.1. Definições
a. Brita. Agregado obtido a partir de rochas compactas que ocorrem em depósitos
geológicos - jazidas, pelo processo industrial da cominuição, ou fragmentação controlada
da rocha maciça. Os produtos finais enquadram-se em diversas categorias.
b. Pedra britada. Brita produzida em cinco graduações, denominadas, em ordem
crescente de diâmetros médios: pedrisco, pedra 1, pedra 2, pedra 3e pedra 4, designadas
a seguir por: pd, p!, p2, p3 e p4.
c. Pó de pedra. Material mais fino que o pedrisco. Sua graduação genérica, mas não
rigorosa, é 0/4,8.
d. Areia de brita. Agregado obtido dos finos resultantes da produção da brita, dos
quais se retira a fração inferior a 0,15mm. Sua graduação é 0,15/4,8.
e. Fíler. Agregado de graduação 0,005/0.075. Seus grãos são da mesma ordem de
grandeza dos grãos de cimento.
f. Bica-corrida. Material britado no estado em que se encontra à saída do britador:
primária quando deixa o britador primário, com graduação aproximada de 0/300, depen-
dendo da regulagem e tipo do britador; secundária, quando deixa o britador secundário, com
graduação aproximada de 0/76.
g. Rachão. Agregado constituído do material que passa no britador primário e é
retido na peneira de 76mm. É a fração acima de 76mm da bica-corrida primária. A NBR -
9935 define rachão como “pedra de mão”, de dimensões entre 76 e 250mm.
h. Restolho. Material granular, de grãos em geral friáveis. Pode conter uma parcela
de solo.
i. Blocos. Fragmentos de rocha de dimensões acima do metro, resultantes dos fogos de
bancada, que, depois de devidamente reduzidos em tamanho, vão abastecer o britador primário.
|.
75 150 300 60 12 24 48 95 19 3 7% 152
te um ja mm 4
th te -
Pó a Ps - média de 6 pedreiras
Go a Gs - agregado graúdo - NBR7211
Fig. 4.1. Brita industrial — ranito.
Na prática, no entanto, para se conformar com a natureza da rocha e com a demanda, a série
pode ser um pouco diferente dessa.
Uma das comumente usadas é 76-45-27-. 16-9-2-2,4, da qual resultam as diversas britas
comerciais: pedrisco a pedra 4, cujas distribuições granulométricas são as indicadas na Fig.
4.1. Entretanto, a NBR 7225 dá para as “pedras britadas numeradas” os seguintes valores,
que diferem dos da prática indicados na Fig. 4.1:
pedra 1 18/12,5
pedra 2 12.525,0
pedra 3 25/50
pedra 4 50/76
pedra 5 76/100
Se d e D são os limites inferior e superior de uma graduação d/D, (por exemplo: P4 =
38/76) e sempre considerando as curvas medianas dos fusos médios, há na pedra 4 apenas
6,2% do peso do material que excede os limites D e d. contra 25% no do pedrisco, isto
é: 0 rendimento de peneiramento da pedra 4 é de 93,8% e o do pedrisco de 75%. A Tab. 42
resume o que fica dito.
Acontece, porém, que, à medida que o material se torna mais fino, o diâmetro mínimo
passa a ser uma fração cada vez menor do diâmetro mediano. Por exemplo: na pedra 4 0
diâmetro mediano é de S7mm e o diâmetro mínino de 38mm, ou 67% do mediano; no
pedrisco são, respectivamente, 4,S5mm e 0,075mm, valor este inferior a 1,6% do mediano.
As curvas granulométricas têm, assim, caudas cada vez mais extens: medida que o
material fino adere às superfícies dos grãos maiores e é por eles arrastado, sem atravessar a
68/ MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Tabela 4.2
Pedra 4 Pedrisco
d(mm) 38 a
D (mm) 7% 9
d(%) 1 20
D(%) sa s
excesso (%) 62 28
rendimento (%) 938 75
malha da peneira, como deveria ocorrer. Assim, pedrisco, por exemplo, só deveria conter,
pela tabela da NBR 7211, até 5% abaixo de 2,4 mm; na prática, porém, contém de 8,5% a
30% do material abaixo de 2,4 mm. Este pó fino que fica aderente aos grãos maiores só será
identificado em ensaios de laboratório. A quantidade de pó aderente depende do teor de
umidade do material, assim como de seu tempo de permanência sobre a tela da peneira. À
medida que o diâmetro aumenta, diminui a porcentagem de finos aderentes aos grãos. Para
reduzir o arraste de material fino há dois recursos:
— usar peneiras mais compridas para dar mais tempo ao material fino de se desagregar
dos grãos;
— “injetar água sobre as telas, para que ela leve consigo o material fino.
3) Propriedades físicas. As propriedades físicas das rochas das pedreiras citadas no
item 1) pouco diferem de uma pedreira para outra, com três exceções na rocha gnáissica. Os
valores médios e seus desvios padrões (expressos em porcentagem do valor médio) são
dados na Tab. 4.3. Indicam-se, também, os parágrafos em que adiante cada uma das
propriedades é descrita.
Tabela 4.3
Ver $ Média Desvio (%)
Resistência à compressão, MPa 44.1 120 (*) 47
Resistência à abrasão, % 443 263(*) 16
Massa específica absoluta kg/m” 481 2698 2
Resistência ao choque,% 448 167 24
Porosidade,% 453 0,6(*) 15
Absorção de água,% 45.12 0,26 3
Grãos cubóides,% 446 79 6
Material pulverulento,% 447 0.28 3
Argila em torrões,% 447 o -
Partículas macias e friáveis.% 448 136 ns
Resistência aos sulfatos.% 44.10 033 69
AGREGADOS / 69
O granodiorito gnáissico apresenta desvios em relação às demais pedreiras nas
seguintes características:
— resistência à compressão 81 MPa;
— resistência à abrasão 41,3%;
— porosidade 1,0%.
Estes valores não foram, naturalmente, considerados para o cálculo das médias citadas
na Tab. 4.3 e marcadas com um asterisco.
A compacidade de um agregado (ver Seg. 4.5.4) depende, primeiramente, de sua
distribuição granulométrica e, em seguida, da forma dos grãos, que, por sua vez, é função
da natureza da rocha e, no caso dos agregados industrializados, do tipo dos britadores. Na
pedra britada, verifica-se que todas as graduações provenientes de uma mesma rocha têm
praticamente a mesma compacidade. Há ligeiras diferenças entre diferentes rochas, como
mostra a Tab. 4.4.
Tabela 4.4
Rocha) dens.| DENSIDADEAPARENTE | DESVIO PADRÃO % | COMPACIDADE|
Sbsol.! py | p2 | p3 | pa [média PL/PZ/P3 pa |Médial
[granito 2.660 [1,37 1,38/1,37/1,38 1,357 | 0,7
granito/2,768 [1,45/1,48|1,44]1,45/ 1,455 | |
gnáis- |
sico |
+
0,6/0,9/0,4| 0,4 0,517
]
- 0,526
+++ 1
basalto|2,742 1,41 [1,41/1,41| - [141 [27/38/44] - 134 | 014 |
4) Usos. A NBR 7211, que padroniza a pedra britada nas dimensões hoje con-
sagradas pelo uso, trata de agregado para concreto. Não obstante isso, e apesar de as curvas
granulométricas médias dos agregados comerciais não coincidirem totalmente com as
curvas médias das faixas da Norma, emprega-se o agregado em extensa gama de situações:
— Concreto de cimento. O preparo do concreto é o principal campo de consumo de
pedra britada. São empregados, principalmente o pedrisco, a pedra 1 e a pedra 2. Ver
adiante a Seç. 4.6. É também usado o Pó de pedra, apesar de ter ele distribuição
granulométrica não coincidente com a do agregado miúdo padronizado para concreto
(areia). A tecnologia do concreto evoluiu, de modo que o pó de pedra é usado em
grande escala. Nos concretos massa e ciclópico usam-se como agregado graúdo a
pedra 4e o rachão.
— Concreto asfáltico. O agregado para concreto asfáltico é necessariamente pré-
dosado, misturando-se diversos agregados comerciais. Isto se deve ao ter ele de
satisfazer peculiar forma de distribuição granulométrica. São usados: filer, areias,
pedra 1, pedra 2 e pedra 3. Ver u Seç. 4.7, adiante.
72/ MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
A escória simplesmente resfriada ao ar, ao sair do alto-forno (dita escória bruta), uma
vez britada, pode produzir um agregado graúdo, de granulação 12,5/150, aproximadamente.
Normalmente, após receber um jato de vapor, a escória é resfriada com jatos de água fria,
produzindo-se, então, a escória expandida, de que resulta um agregado de graduação da
ordem de 12,5/32. Quando é imediatamente resfriada em água fria, resulta a escória
granulada, que permite obter um agregado miúdo de graduação 0/4,8, aproximadamente.
A escória granulada tem distribuição granulométrica próxima da areia média, zona 3 da NBR
7211, com módulo de finura de 2,90 (contra os 2,75 da zona 3). O diâmetro médio desta
escória granulada é de 1,0mm, constituindo-se, portanto, em material um pouco mais fino
do que o da areia média (1,3 mm) (item 4.3.1.2.g).
A escória granulada é usada na fabricação de cimento Portland de alto-forno. Usa-se
a escória expandida como agregado graúdo e miúdo no preparo de concreto leve em peças
isolantes térmicas e acústicas, e também em concreto estrutural, com resistência a 28 dias
da ordem de 8-20 MPa e densidade da ordem de 1,4. Se usada apenas como agregado miúdo
e graúdo da brita de granito, a resistência e a densidade do concreto são equiparáveis às do
concreto preparado com areia de rio e brita.
e. Vermiculita. É um dos muitos minérios de argila. Tais minérios que compõem as
argilas são grupos cristalinos, quimicamente inertes, de baixa densidade, constituídos de
óxidos de alumínio, silício, ferro e magnésio. Apresentam uma granulação lamelar porosa
e se expandem cerca de vinte vezes quando aquecidos até por volta de 500º C, formando,
assim, a vermiculita expandida, um agregado leve, de granulação 0/4,8, peso específico
aparente, de acordo com a distribuição granulométrica, de 800 a 1600 Nim” e de con-
dutibilidade térmica média de 0,22 W/mk (0,2 kcal.m/m? hºC) — NBR 9.230.
A vermiculita expandida tem os mesmos empregos da argila expandida.
43.1.5. Pesados
a. Hematita. A hematita britada constitui os agregados miúdo e graúdo que são
usados no preparo de concreto de alta densidade (dito “concreto pesado”) destinado à
absorção de radiações em usinas nucleares: os escudos biológicos ou blindagens. O grau de
absorção cresce com o aumento da densidade do concreto. Com a hematita, é possível obter
concretos com pesos específicos próximos de 40 KN/m' e resistências à compressão aos 28
dias superiores a 40 MPa.
O agregado miúdo 0/4,8 de hematita tem distribuição granulométrica, para uso em
concretos densos, próxima da zona 3 da NBR 7211. O agregado graúdo de especificação
estrangeira é 4,8/50, contendo, portanto, porcentagem de finos, ao contrário da brasileira
para concretos comuns, que é 32/64, conforme a graduação 4 da NBR 7211.
b. Barita. Pela sua alta densidade, a barita também é usada no preparo de concretos
densos.
4.3.1.6. Pedreiras
a. Fluxograma. A brita é produzida em estabelecimentos industriais denominados
pedreiras. Em resumo, trata-se de submeter à rocha de uma jazida a sucessivos processos
de cominuição, reduzindo-a a fragmentos de tamanhos adequados. A Fig. 4.2 mostra um
AGREGADOS / 73
8BC2 - bica-corrida secundária
Fig. 4.2. Pedreiras: Nuxograma típico.
possível fluxograma de pedreira; o fluxograma real dependerá das condições particulares
de cada caso: natureza da rocha, produtos preferenciais, mercado etc. Além de em rochas
de jazidas, podem os mesmos processos de cominuição ser empregados em escória de
alto-forno, produzindo o mesmo resultado final.
b. Lavra. Na jazida, a rocha é fragmentada por meio de explosivos carregados em
furos de brocas de cerca de 80mm de diâmetro. A detonação é o fogo de bancada, que produz
blocos de dimensões que podem superar um metro. Segue-se nova fragmentação por
explosivos: o fogacho, cuja função é reduzir os blocos a dimensões não superiores à boca
do britador primário (x, Fig. 4.3).
74/ MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
c. Britagem. O britador de mandíbulas (Fig. 4.3 Bl- Fig. 4.2) é praticamente o
único tipo empregado como britador primário. A mandíbula móvel (8) é dotada de movimen-
to de vaivém, pelo excêntrico (e). O bloco de pedra é comprimido contra a mandíbula fixa
(9), fragmentando-se. O produto que deixa o britador primário — a bica-corrida — é
constituído de material desde o impalpável até uma dimensão que depende da abertura da
boca de saída, cuja largura pode ser alterada, elevando ou abaixando o bloco (5).
Fig 4.3. Britador de mandíbulas.
Os britadores normalmente fabricados têm boca de entrada X, desde cerca de 600 x
400mm (produzindo, em granito, até -40m)/h) a 1500 x 1200mm (produzindo, em granito,
até -500m?/h). Como britadores secundários (B2 - Fig. 4.2), são fabricados com dimensões
de boca que variam de 600 x 130mm até 1200 x 400mm (produzindo, em granito, de 10 a
130m?/h).
A distribuição granulométrica das bicas-corridas, tanto de britadores de mandíbulas
como de cone, é pouco afetada pelo tamanho do britador ou pela abertura de saída. Nos de
mandíbulas, a dimensão máxima dos blocos de bica-corrida é da ordem de Dj, = 1,85
» sendo medido na posição fechada.
A Fig. 4.4 mostra as curvas de distribuição logarítmica do produto de britadores de
mandíbulas de bocas de 1 100 x 800mm, curva (1), e 1 100 x 400mm, curva (2), britando
granito da Serra da Cantareira em São Paulo, material muito abrasivo € tenaz.
Fig. 4.7. Separador de areia.
produto pode ser alterada modificando-se à velocidade de rotação do rotor. A pedra é,
Portanto, rompida por choque e não por cisalhamento de compressão, como ocorre nos
britadores de mandíbulas, resultando um produto sem grãos disformes.
e. Lavagem. A fração muito fina que se forma na rebritagem pode ser vantajosa-
mente retirada dos produtos mais finos (pó, pedrisco e pedra 1) por via úmida, para produzir
areia de brita sem alto teor de material fino. Jatos d'água sobre as telas de peneira da
classificação (C, Fig. 4.2) arrastam todo o material abaixo de 4,8mm. A água é levada para
O separador de areia (Fig. 47 e S. Fig. 4.2), onde o material 0,1/4,8 (aprox.) decanta
rapidamente e é arrastado pelas Pás (4), saindo do separador em (6). A água, tendo agora
em suspensão o material 0/0,1 (aprox.) sai em (7) e é levada para tanques de decantação. A
água limpa é rebombeada para a peneira.
É. Classificação e estocagem. A bi
separada em frações granulométricas comere
42).
orrida que deixa os britadores terciários é
is em peneiras vibratórias (Fig. 4.8e C, Fig.
Uma caixa (1), apoiada em molas (3), sofre um movimento circular produzido por
excêntrico; o material entra em (5) e é separado pelas diversas telas (4) de aberturas
quadradas de dimensões adequadas à produção da fração que se deseja, como detalhado em
4.3.1.1. Cada uma destas frações, ou categorias, é estocada em pilhas próprias, de onde sai
para o mercado.
As categorias normalmente produzidas são: pedrisco, pedra 1, pedra2, pedra3e, pedra
4. O projeto da instalação de classificação dependerá de demanda que cada uma delas tiver
no mercado. Por exemplo: havendo necessidade de aumentar a porcentagem de material fino
(pedrisco e pedra 1), talvez seja preciso britador quaternário: parte das rações provenientes
da bica-corrida vai para as pilhas de estocagem e parte para o quaternário, onde é rebritada
e reclassificada em uma segunda pencira.
78/ MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Fig 48. Peneira vibratória.
4.3.2. Naturais
4.32.1.Areia
a. Definições. Areia, geologicamente, é um sedimento clástico inconsolidado, de
grãos em geral quatzosos de diâmetros entre 0,06€e 2,0 mm.
Considerada como material de construção, areia é o agregado miúdo. Os diâmetros
limites adotados para classificar um agregado como areia variam conforme o ponto de vista
em que se encara a questão. Neste capítulo, a graduação da areia é 0,15/4,8.
A areia, como material de construção, precisa ter grãos formados de material consis-
tente, não necessariamente quartzosos.
Um granulado de grãos friáveis, mesmo que satisfaça a graduação 0,15/4,8, não pode,
normalmente, substituir a areia; ele será apenas um material enquadrado na fração areia.
Um ensaio de esmagamento (ver 4.3.2.1.d.1) situa O material em função da
friabilidade do material dos grãos.
b. Origens. As areias, como material de construção, provêm:
1) Derio. São depósitos sedimentares que se formam nos leitos de alguns rios. A
extração se faz por dragas de sucção, que bombeiam a água, contendo cerca de 5 - 10% de
areia, para lagoas de decantação, de onde o material é retirado e, em alguns casos,
classificado, para retirar elementos de diâmetro superior a 4,8 mm, que possam existir.
Estas instalações para extração de areia de rio são chamadas portos de areia.
2) De cava. São depósitos aluvionares em fundos de vales cobertos por capa de solo.
São, às vezes, muito profundos. A areia é extraída ou por escavação mecânica ou por
AGREGADOS / 79
desmonte hidráulico, que é caso mais comum. Segue-se o mesmo tratamento dado às areias
de rio.
3) De britagem. É a areia de brita, obtida no processo de classificação a seco nas pedrei-
ras. Este material contém certa Porcentagem de material impalpável (abaixo de 0,075mm) que
pode ser retirado pelo processo úmido (ver item 4.3.1.6e) nos separadores de areia. Esta opera-
ção melhora a qualidade do produto; contudo, a técnica de Preparo de concreto — que é de longe
a maior fonte consumidora de areia e brita — permite usar a areia vinda do processo seco, mate.
rial mais barato que o do processo úmido (este, dito areia “lavada”.
4) De escória. A escória de alto-forno, egranulada, é a que é resfriada bruscamente
por jato de água, fragmentando-se em grãos em geral inferiores a 12,/mm. Após a clas-
sificação, obtém-se a areia de escória. A composição química da escória difere muito da
das rochas e varia ainda conforme a composição da carga do alto-forno. A escória produzida
pela Cosipa* tem os seguintes principais componentes e suas porcentagens médias:
anidrido silícico Sio, 35,7%
óxido de alumínio AIZO3 123%
óxido de cálcio Cao 42,8%
óxido de magnésio Mgo 6,3%
A densidade aparente da areia de escória oscila por volta de 0,7 a 1,1 situando-se,
Portanto, entre os agregados leves.
5) De praias e dunas. As areias das praias brasileiras não se usam, em geral, para o
preparo de concreto por causa de sua grande finura e teor de cloreto de sódio. O mesmo
Ocorre com as areias de dunas próximas do litoral.
c. Caracterização
1) Granulometria
Sobre esta questão, ver também o item 4.5.6, adiante.
As areias apresentam as características curvas granulométricas em S. Podem ser
classificadas em faixas granulométricas, como as seguintes:
fina 0,15/0,6mm
média 0,6/2,4mm
grossa 2,4/48mm
A NBR 7211, que trata de agregados para concreto, classifica as areias — graduação
0,15/4,8mm — em quatro faixas, denominadas muito fina, fina, média e grossa (Tab. 4.5).
Esta nomenclatura não deve ser confundida com a acima citada: na NBR 7211, todas as
quatro faixas têm a mesma graduação 0,15/4,8; mas se diversificam pelas diferentes
porcentagens de tamanhos de grãos, e não pelos limites inferior de superior D dos diâmetros,
como é o caso das três faixas granulométricas acima citadas.
* Companhia Siderúrgica Paulista — COSIPA.