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Ideias emergentes em biblioteconomia, Notas de estudo de Biblioteconomia

Ideias Emergentes em Biblioteconomia nasceu de dois aspectos: o primeiro, em uma tarde, ao ler comentários efervescentes em um dos mais volumosos grupos de Biblioteconomia que temos no Facebook. Embora muito do que ali esteja seja bastante curioso, pertinente, mas também peculiar, foi interessante observar as desenvolturas daquelas discussões nas próprias timelines de alguns amigos. O segundo aspecto vem também do Facebook, mas de discussões mais limitadas, de determinados círculos de amigos em

Tipologia: Notas de estudo

2017

Compartilhado em 14/05/2017

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jose-paulo-dos-santos-6 🇧🇷

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Baixe Ideias emergentes em biblioteconomia e outras Notas de estudo em PDF para Biblioteconomia, somente na Docsity! IDEIAS EMERGENTES M BIBLIOTECONOMIA | 2 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA organizador JORGE DO PRADO AUTORES DESTE VOLUME Ana Marysa de Souza Santos Ariel Morán Catia Lindemann Daniela Spudeit Elisa Cristina Delfini Correa Fabíola Bezerra Katia Costa Liliana Giusti Serra Marielle Barros de Moraes Michelângelo Viana Moisés Lima Dutra Moreno Barros Oswaldo F. de Almeida Jr. Paula Azevedo Macedo Rosangela Madella Silvana Toriani Soraia Magalhães Tânia Piacentini Tanira Piacentini Ronaldo Ferreira de Araújo Vagner Amaro 2016 | 5 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA Terceira parte: ATITUDES Bibliotecários: é necessário queimar pontes.............................................................55 Fabíola Bezerra Consumidor de informação 3.0..................................................................................60 Elisa Cristina Delfini Correa Design thinking para bibliotecas................................................................................69 Paula Azevedo Macedo e Ana Marysa de Souza Santos Dias de luta: ativismo bibliotecário e o caso Movimento Abre Bibliotecas......................................................................................78 Soraia Magalhães Quarta parte: TECNOLOGIAS A internet das coisas na prática.................................................................................86 Moisés Lima Dutra e Silvana Toriani As bibliotecas e os serviços de aluguel de livros digitais..........................................93 Liliana Giusti Serra Faça a biblioteca acontecer fora da biblioteca..........................................................99 Michelângelo Viana O periódico científico 350 anos depois....................................................................107 Moreno Barros Quem lê, cita? Ensaio comparativo entre dados do Mendeley e do Google Acadêmico..........................................................................111 Ronaldo Ferreira de Araújo | 6 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA APRESENTAÇÃO Jorge do Prado O Ideias Emergentes em Biblioteconomia nasceu de dois aspectos: o primeiro, em uma tarde, ao ler comentários efervescentes em um dos mais volumosos grupos de Biblioteconomia que temos no Facebook. Embora muito do que ali esteja seja bastante curioso, pertinente, mas também peculiar, foi interessante observar as desenvolturas daquelas discussões nas próprias timelines de alguns amigos. O segundo aspecto vem também do Facebook, mas de discussões mais limitadas, de determinados círculos de amigos em comum, que propõem discussões geniais, mas que dificilmente estarão presentes num artigo de periódico científico, muito menos em um livro dedicado somente ao debate. Ideias tão bacanas que chega a ser um desperdício não as registrar e disseminá-las. Juntando estes dois aspectos chegamos ao seguinte questionamento: como, num futuro próximo (daqui uma semana), faremos para resgatar estas discussões? Você até pode salvar os links, tirar prints de tela, mas ainda assim não será a melhor opção. A produção cultural e intelectual nas mídias sociais é um assunto de suma importância e que perceba, poderá se perder aos poucos com o decorrer do tempo por conta da dificuldade em resgatá-la posteriormente. Numa tentativa, principalmente de compartilhar estas ideias, é que resolvi organizar o Ideias Emergentes. Não espere textos rigorosamente acadêmicos, repletos de uma fundamentação teórica. Também não espere respostas às perguntas que ficaram abertas pelos autores, pois o intuito disso é que você reflita, se achar pertinente e, se quiser, contribua com o assunto numa página online dedicada exclusivamente ao capítulo. Dividido em quatro partes – Formação, Atuação, Atitudes e Tecnologias – há capítulos escritos ou por pessoas que estudam muito determinado assunto ou porque atuam diretamente com o tema. Não são exclusivamente todos doutores, | 7 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA professores ou autores proeminentes, mas profissionais que merecem destaque por participar de muitos debates acalorados, por levantar questões que permitam a qualquer bibliotecário se questionar sobre o que faz. Tudo sem querer nada em troca, de forma livre e espontânea, um belo exemplo da estonteante cultura da participação de Clay Shirky. Ao final de cada capítulo, você encontrará um link para uma página dentro do blog deste livro, podendo dar continuidade à discussão levantada no texto com outros leitores. Já está na hora de tornar nossas publicações mais transmídia para a construção de um conhecimento mais coletivo, focado em resultados mais evoluídos para nossas bibliotecas. A sociedade é em rede, mas nossa Biblioteconomia... Há vários temas que poderiam ser abordados, por conta desta profissão com identidade tão líquida. Quem sabe, para os próximos anos, outros capítulos com outros autores convidados, com novas ideias emergentes para discussão num novo volume. Boa leitura! http://ideiasemergentes.wordpress.com Florianópolis, março de 2016. F o r m a ç ã o d o s m e d i a d o r e s i n f o r m a t i v o s c u l t u r a i s | 10 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: FORMAÇÃO epistemológicos das três áreas de conhecimentos mencionadas: Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia. Ademais as várias opiniões acerca desse tema, é certo que, em muitos sistemas econômicos da América Latina, ocorre que, ao concluir os estudos de graduação e de pós-graduação, os alunos encontram um mercado de trabalho contraído, no qual existe uma competição cada vez maior e mais difícil pelos postos de trabalho, ao invés de os profissionais competirem por melhores salários. Esta situação nos faz questionar a problemática da Educação, pois, muitas vezes, esta é vista como gasto e não como investimento por parte do poder público, e assim, ao invés de termos indivíduos altamente qualificados para diversos empregos, o que ocorre é que esses sujeitos altamente qualificados são escassos. A solução para este problema pode ser encontrada na educação, mas não nela por si mesma, mas sim, contemplada como uma política econômica de investimento social impulsionada pelo Estado. Todavia, isso não quer dizer que os perfis de formação dos estudantes, nas instituições de ensino superior, devam estar determinados (em uma relação diretamente proporcional) pelas regras do mercado. Neste contexto de incerteza, na qual os indivíduos devem se formar em escolas, onde os cursos relacionados com as áreas das ciências da informação começam apenas a investigar algumas destas questões, é necessário falar de uma visão mais ampla, por exemplo, falar de uma relação “trialética” entre a sociedade, o mercado e a epistemologia. Ou seja, perguntar-se, também, se há mais peso de algum desses fatores sobre os outros. A Teoria do Capital Humano analisa, por exemplo, a heterogeneidade do fator trabalho, assinalando a importância da educação/capacitação - no sistema educativo, ou no trabalho formal ou mediante a experiência, formação geral ou específica - na maior produtividade de dito fator, sendo concebida a educação como um investimento a ser retribuído no futuro mediante maiores salários, melhores empregos e/ou um emprego. Este aspecto se acentuou na atualidade pelos acelerados processos de geração e obsolescência do conhecimento. Vejamos. Nem sempre um maior nível educacional se relaciona com maiores taxas de ocupação ou melhores salários, ao mesmo tempo, muitas vezes, as necessidades da sociedade não são as mesmas necessidades que tem o mercado de trabalho. Hoje, no Brasil, se necessita de bibliotecários para ocupar os postos de trabalho nas Bibliotecas Escolares. No entanto, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2010, a realidade brasileira nos mostra que mais de 90% da população sabe ler e escrever, porém o País ainda possui, mais ou menos, 18 milhões de brasileiros que não sabem nem ler e nem escrever. Além disso, atualmente, no Brasil, 72% das escolas não possuem bibliotecas e o País necessita formar bibliotecários para as Bibliotecas Escolares em mais de 180 mil. Os nossos currículos de formação de bibliotecários estão se voltando para esse nicho do mercado? Ou estão apenas inserindo disciplinas F o r m a ç ã o d o s m e d i a d o r e s i n f o r m a t i v o s c u l t u r a i s | 11 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: FORMAÇÃO denominadas de “bibliotecas escolares” nos currículos, mas esquecendo-se que o profissional a ser formado para atuar nesse campo necessita de conhecimentos do campo da Educação e da Pedagogia? Os currículos das escolas de Biblioteconomia nos propiciam a desenvolver bibliotecas para alunos - crianças, jovens, adultos, anciãos - do século XXI? Estamos aptos a desenvolver projetos nesses ambientes tanto para os nativos, quanto para os imigrantes digitais? Estamos discutindo essas questões nos currículos? Ou estamos pensando em inserir bibliotecas do século XIX, em escolas do século XX, para crianças, jovens, adultos e anciãos do século XXI? Ainda nesse contexto das bibliotecas escolares, muito se fala que esse profissional deve atuar como um “infoeducador”, um “alfabetizador informacional”, ou outro sinônimo para este que-fazer, porém, quais disciplinas do currículo estão se voltando para discutir essas questões? Por outro lado, temos as necessidades do mercado laboral, que requerem profissionais com determinados perfis para gerenciar grandes volumes de dados e informações, a fim de melhorar o conhecimento e a tomada de decisões, o chamado Big Data. Por sua vez, os cidadãos requerem informações para exercer sua racionalidade e autonomia, por exemplo, para avaliar suas decisões, as quais estão sujeitas a incertezas consideráveis. Diante deste contexto nos surgem as seguintes questões: ❖ Quem analisará e fará a gestão de enormes volumes de dados que não podem ser tratados de maneira convencional, e que também superam os limites e capacidades das ferramentas de software habitualmente utilizadas para a captura, gestão e processamento de dados? ❖ Estamos preparados para essa nova realidade? ❖ Estamos, como mediadores informativo-culturais, preparados para analisar as enormes quantidades de dados e de informações que estão nas redes sociais e que são úteis para as empresas, principalmente, em um momento em que estas possuem um grande número de clientes em potencial nas redes sociais? ❖ Quais disciplinas do currículo de formação dos profissionais da informação que se voltam para o estudo mais amplo da sociedade na qual esse profissional irá atuar? ❖ Quais disciplinas se voltam para questões de processamento de grandes volumes de dados não somente analógicos, mas também digitais? ❖ As disciplinas que se voltam para a análise da informação vislumbram apenas as análises de objetos tradicionais dos campos dos arquivos, das bibliotecas e dos museus, ou se voltam para análises de informações que estão em formato de fluxos na rede e que são estratégicos para diferentes organizações? F o r m a ç ã o d o s m e d i a d o r e s i n f o r m a t i v o s c u l t u r a i s | 12 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: FORMAÇÃO Para isso, é importante um profissional que saiba analisar as informações para uso estratégico das empresas, das organizações, dos governos, frente a seus clientes, usuários, cidadãos. Aqui é percebido um ponto forte de intersecção das áreas da Arquivologia, da Biblioteconomia e da Museologia. No México, por exemplo, a recém promulgada Ley General de Transparencia y Acceso a la Información Pública, de 11 de junho de 2002, pugna de maneira implícita por profissionais que participem - como o indica o artigo 2°, parágrafo VII - na promoção, fomento e difusão da cultura da transparência através do acesso à informação, mediante mecanismos que garantam a publicidade da informação oportuna e completa, em formatos adequados segundo as condições sociais, econômicas e culturais de cada região do país. Os arquivos são parte fundamental no exercício do acesso à informação, uma vez que são a fonte que documenta o agir dos governos. A Ley Federal de Archivos está constituída com uma forte carga da teoria arquivística (se explica, por exemplo, o que é o valor documental). Nesta lei, se estabelecem disposições que permitem a adequada organização e conservação de arquivos governamentais, através da incorporação de ferramentas arquivísticas reconhecidas a nível internacional e a designação de responsabilidades em matéria de arquivos. Já no Brasil, a Lei n°12.527, de 18 de novembro de 2011, mais conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI), a qual regula o acesso às informações públicas, está constituída com uma linguagem fortemente voltada para a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia, uma vez que trata de termos relativos aos três campos de conhecimentos, tais como: informação, documento, informação pessoal, informação sigilosa, tratamento da informação, disponibilidade, autenticidade, integridade e primariedade. Este fato nos faz perceber que não se trata somente do tratamento das informações em fluxo, mas, sobretudo, das informações que já foram produzidas e que precisam ser tratadas, armazenadas e disponibilizadas para a sociedade em geral. Desta feita, percebemos que o manejo dos documentos públicos é outra área que, tanto no Brasil, quanto no México também vai necessitar de muitos profissionais “de fronteira” para manejar a Lei de Acesso à Informação, pois será necessário saber classificar os documentos para sua disponibilização aos cidadãos. Tanto arquivistas, quanto bibliotecários e museólogos são profissionais aptos a atuar com a referida Lei, no âmbito dos arquivos, das bibliotecas e dos museus públicos, uma vez que sua missão não é mais ser o guardião dos tesouros da humanidade, mas, sobretudo, facilitar o acesso às informações desses ambientes, tanto em seu paradigma custodial, quanto no paradigma pós-custodial. Assim sendo, diante desta realidade digital, perguntamos: estamos preparados para sobreviver como bibliotecários, arquivistas ou museólogos diante dessa ambiência digital/online? No entanto, antes de qualquer outra coisa, temos que dimensionar que a apropriação responde a contextos culturais e sociais I n f o r m a ç ã o e c o n h e c i m e n t o . E o s d a d o s ? | 15 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: FORMAÇÃO Informação e conhecimento. E os dados? Oswaldo Francisco de Almeida Júnior Os termos “dados, informação e conhecimento” fazem parte do cotidiano acadêmico dos que atuam na Ciência da Informação e em outras áreas do conhecimento humano. No segmento da gestão da informação e da gestão do conhecimento, esses termos são considerados essenciais e dão suporte e base a muitas reflexões, estudos e pesquisas. Ao analisarmos a literatura especializada, defrontamo-nos com esses termos com frequência. São eles entendidos, na maioria das vezes, como uma sequência: quando aos dados é acrescentado um ou mais significados, eles se transformam em informação que, por sua vez, possibilitarão a criação de conhecimento. Rafael Semidão (2014), em sua dissertação de mestrado, analisa os três termos em dois segmentos, ou núcleos como emprega o autor, da Ciência da Informação: organização do conhecimento e gestão da informação e do conhecimento. O autor se pergunta se há outras formas de entendimento para os três termos que não a sequência, ou seja, dados, informação e conhecimento dar- se-iam de maneira concomitante ou teríamos outras formas para a concretude desses termos? Acompanhando a literatura – e extraindo dela o que nos interessa para esta discussão – podemos identificar dois tipos de conhecimento: o tácito e o explícito. O conhecimento tácito pode ser entendido como aquele conhecimento que possuímos, mas não sabemos que o possuímos. Outra corrente aponta o conhecimento tácito como aquele que sabemos que o possuímos, mas que não é necessário tê-lo de forma consciente para emprega-lo. No primeiro caso, podemos exemplificar com ações inconscientes que utilizamos para produzir alguma coisa. Já como exemplo para o segundo caso, podemos eleger o conhecimento para dirigir I n f o r m a ç ã o e c o n h e c i m e n t o . E o s d a d o s ? | 16 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: FORMAÇÃO um carro: passamos por um aprendizado de condução de um veículo, sabemos que possuímos esse conhecimento, mas, quando estamos efetivamente dirigindo um carro, não precisamos pensar sobre cada etapa do processo de direção; ele, processo, é executado automática e inconscientemente. O conhecimento explícito é apresentado pela literatura especializada como sendo aquele sobre o qual temos um domínio, sobre o qual temos plena consciência de que o possuímos. Poderíamos iniciar aqui uma discussão sobre esses dois conhecimentos, especulando, de início, se não haveria outras formas de conhecimentos além desses dois aceitos. Como resumo sobre o que é tido como consolidado nesse âmbito, teríamos a certeza de que os dois conhecimentos pertencem, de fato, ao sujeito e existem em algum espaço dentro dele; a informação tem a tarefa de alterar o conhecimento, existindo necessariamente fora do sujeito; a partir do segundo sentido do conhecimento tácito – aquele que defende que sabemos possuir tal conhecimento, mas não o utilizamos de maneira consciente – podemos entender que a maior parte dos estudiosos advoga uma consciência do sujeito do conhecimento possuído por ele; entendemos também que os pesquisadores entendem a tríade “dados, informação e conhecimento” como um processo que se dá de maneira necessariamente sequencial, até porque, como vimos, nesse pensar a informação está fora e o conhecimento está dentro do sujeito. Partimos aqui, ao contrário desse pensamento hegemônico, da ideia de que o conhecimento não tem apenas um lugar, um espaço, um compartimento dentro do cérebro do sujeito, uma vez que ele se realiza na relação, no diálogo. Além disso, ele não deve ser dividido em dois, o tácito e o explícito. Defendemos que o conhecimento se concretiza na relação do sujeito com o mundo, com os outros. Defendemos também que o conhecimento é único e sua análise deve levar em conta várias “nuances” entre a consciência ou não consciência dele por parte do sujeito. Mais uma defesa: talvez a informação não exista apenas fora do sujeito, desaparecendo quando apropriada; é possível que ela permaneça latente no sujeito, não influenciando olhares e entendimentos diferenciados apenas no momento em que é apropriada. Será que o esquecimento, tão discutido e estudado no âmbito da memória, não existiria também no caso do conhecimento (e da informação, se aceitarmos que ela permaneça latente no sujeito)? Não há um “esquecimento” próprio do conhecimento; não há um “esquecimento” próprio e específico da informação? Não precisam, tanto o conhecimento como a informação, de um esquecimento para se constituírem, para se realizarem? Há muitas questões que estamos formulando, mas que não temos espaço para desenvolvê-las neste texto. I n f o r m a ç ã o e c o n h e c i m e n t o . E o s d a d o s ? | 17 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: FORMAÇÃO Ainda seguindo a literatura especializada: o conhecimento explícito, quando exteriorizado, transforma-se em informação. O sujeito possui um conhecimento sobre o qual tem consciência – o conhecimento explícito – e, de alguma forma, manifesta uma pequena ou pequenas quantidades, seja registrando em suportes físicos (livros, periódicos, filmes, CDs, DVDs, reálias, etc.) ou disseminando a partir de formas de sustentação efêmeras (a oralidade, em especial). A informação assim criada, ou melhor, o suporte da informação será armazenado, organizado e disseminado nos equipamentos informacionais. Os suportes poderão ter várias formas, mas, essencialmente, serão divididos em suportes físicos, tangíveis e suportes eletrônicos, virtuais. O equipamento informacional, a partir dos interesses, necessidades, desejos e demandas informacionais da comunidade atendida por ele, selecionará suportes que contenham informações adequadas para satisfazer aquelas demandas. Não nos esqueçamos que essas são as principais e mais aceitas ideias presentes nas pesquisas e estudos da área. As informações selecionadas serão organizadas seguindo critérios e padrões normalizados, de forma a permitir o compartilhamento delas entre os inúmeros equipamentos informacionais existentes. Disponíveis nos acervos, as informações contidas nos suportes serão disseminadas através de serviços, atividades ou produtos informacionais. Cabe, claro, uma série de questionamentos nessas afirmações. O primeiro deles está voltado para a informação gerada a partir do conhecimento explícito exteriorizado. Não carregaria tal informação um significado aposto pelo sujeito produtor dessa informação? Dessa forma, a informação traria já no seu nascedouro um subjetivismo que lhe é próprio e uma carga de conceitos, ideias, interesses, intenções. A informação não é vazia, a informação não possui um único significado. A nossa defesa aponta para uma informação que vai sendo construída a cada passo de seu ciclo de vida (lembrando que, talvez, ela permaneça viva dentro do sujeito). A cada momento ela recebe interferências de todos os que com ela entram em contato. E isso não se refere apenas a pessoas, mas também a objetos. Vejamos: ela nasce do sujeito produtor; recebe influência do suporte escolhido pelo produtor, uma vez que cada suporte tem uma linguagem própria e específica; há mais influência na forma como ela será distribuída, disseminada; passará pelo crivo da política de seleção do equipamento informacional; fará parte de um acervo, físico ou virtual; terá a interferência dos agentes que atuam no equipamento; o dia, tempo, espaço, mobiliário, humor, etc. de todos os que estiverem participando da mediação explícita também, de alguma forma, interferirão; por fim, a influência do usuário. A informação, assim, por se construir durante o processo – e não cessar de se construir –, nunca será, de fato, uma informação. Em textos passados, L i c e n c i a t u r a e m B i b l i o t e c o n o m i a | 20 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: FORMAÇÃO Licenciatura em Biblioteconomia: história, formação, atuação e desafios para uma nova profissão Daniela Spudeit Falar nesse curso sempre gera muita curiosidade dos ouvintes e desperta questionamentos, ora provenientes de dúvidas, ora de preconceitos em relação a uma nova área que emerge dentro da Biblioteconomia. Alguns criticam: Mas para que especializar ainda mais uma área já tão enfraquecida? Outros mais ponderantes antes de criticar perguntam: Qual a necessidade e relevância desse curso? Aqueles com olhar mais apocalíptico já largam: Para que mais um curso se o bibliotecário pode fazer isso que o licenciado fará? Mas será que pode? O bacharel tem formação para o ensino? Para mediar e contribuir efetivamente com o processo de ensino e aprendizagem? Para dialogar com professores no mesmo nível de conhecimento e prática? A atual quantidade de bacharéis sustenta a demanda de profissionais de Biblioteconomia exigida para a formação de auxiliares, técnicos, tecnólogos? O bacharel tem formação pedagógica para atuar no ensino de cursos de bacharéis em Biblioteconomia no Brasil? Enfim, ao longo desse tempo que me dediquei ao Curso de Licenciatura sempre me deparei com os mesmos questionamentos e olhares desconfiados, daí a necessidade de falar mais ainda sobre a proposta dessa nova formação. É importante pesquisar, publicar, socializar informações sobre a Licenciatura em Biblioteconomia, pois essa é uma das formas de solidificar uma profissão e fortalecer abrindo para discussões e amadurecimento de uma nova profissão que L i c e n c i a t u r a e m B i b l i o t e c o n o m i a | 21 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: FORMAÇÃO emerge num contexto social, educacional, político diferente de tantos outros quando foi criado o bacharelado em Biblioteconomia no início do século XX na Biblioteca Nacional no Brasil. Falar o que a Licenciatura se propõe trará algumas respostas para as perguntas acima, mas principalmente esclarecerá as polêmicas geradas e apontará a relevância da atuação desse profissional junto aos bibliotecários, técnicos, tecnólogos e tantos outros que podem colaborar com a valorização, visibilidade, fortalecimento da Biblioteconomia brasileira, mas principalmente, para melhorar a educação do nosso país por meio de um trabalho colaborativo que deverá envolver profissionais da Biblioteconomia, da Educação e de outras áreas afins. A Biblioteconomia no Brasil é polêmica. Vemos isso em discussões acirradas via mídias sociais e listas de discussão em grupos específicos da área, assistimos debates acalorados em eventos ou mesmo em artigos publicados em revistas e livros. Sempre terá aquele grupo que vai relativizar tudo, aqueles prontos para a Batalha do Armagedom2, aqueles que tem a síndrome de Pollyanna3 ou os profissionais que estarão em dúvidas permanentes sobre a área e que ficarão em cima do mundo, assim como Alice4 quando encontra o gato e não sabe que rumo tomar. Quanto a isso posso afirmar duas coisas: Isso existe em qualquer área (não estamos sozinhos) e é saudável ter essas discussões para fortalecer nossa identidade profissional. Entretanto, cabe aos profissionais da Biblioteconomia abrir seus horizontes para enxergar não somente outras possibilidades de atuação, mas também novas frentes de trabalho (as vagas de emprego de carteira assinada é que estão chegando ao fim) e buscar parcerias com diferentes profissionais por meio de equipes interdisciplinares para agregar sua formação e expertise a uma nova ordem mundial pautada pela fluidez de comportamentos e de informações. A Biblioteconomia apesar de ter sido criada por meio de decreto em 1911 na Biblioteca Nacional (BN), só abriu a primeira turma em 1915, no qual esse ano completou 100 anos de curso no Brasil e atualmente funciona na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Foi o terceiro do mundo e o primeiro da América Latina pautado na École Nationale de Chartes da França5. Porém, o curso foi extinto em 1922 e reaberto somente em 1931 após várias mudanças curriculares. Na época o curso originado por uma demanda específica para formar pessoas para atuar na BN, teve como professores Cecília Meireles, Afrânio Coutinho e Sérgio Buarque de 2 Ver Bíblia - Apocalipse 16 3 Publicado pela romancista norte-americana Eleanor Hodgman Porter em 1913. 4 Literatura infanto-juvenil Alice no País das Maravilhas de autoria de Lewis Carroll (1832-1898) publicada em 1865. 5 Ver “O ensino da Biblioteconomia no contexto brasileiro: século XX” publicado em 2009. L i c e n c i a t u r a e m B i b l i o t e c o n o m i a | 22 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: FORMAÇÃO Hollanda6, porém, também não tinha professores suficientes para formar esses profissionais, havia pouca demanda e escassos recursos destinados à Biblioteca Nacional. Alguma relação com o que ocorre hoje nas escolas de Biblioteconomia pelo país? Ao longo do século XX, não somente o curso de Biblioteconomia foi sendo reformulado pautando-se pelas exigências legais, necessidades do mercado, demandas sociais tanto na formação quanto no fazer profissional do bibliotecário, mas também a identidade desses profissionais que se forma a partir de experiências adquiridas e das influências que contribuem para a formação de características próprias, seja de pessoas, instituições ou mesmo novas propostas profissionais visto que o meio em que esse sujeito se insere tem forte implicação na sua identidade. Em 1944, a Biblioteca Nacional sofreu novas reformas em sua estrutura e, no mesmo ano o curso de Biblioteconomia foi reformulado, pois não mais se limitaria a formar profissionais para a Biblioteca Nacional, mas oferecendo formação básica, estaria preparando pessoas para qualquer tipo de biblioteca. A partir da reforma a formação passa a acontecer em três diferentes níveis: a) Curso Fundamental de Biblioteconomia que atendia a formação de auxiliares; b) Curso Superior em Biblioteconomia, direcionado para a formação de Bibliotecários; c) Cursos chamados “avulsos” para atualização profissional e formação continuada. O que convém analisar sob uma perspectiva histórica é: Quem eram as pessoas que estavam formando esses profissionais? Historicamente quem forma são os próprios bibliotecários, alguns inclusive de fora do país que influenciaram no currículo da Biblioteconomia no Brasil. Entretanto, pensando na formação é que a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), no final da década de 1970, retomou as discussões do Curso Fundamental de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional destinado a preparar candidatos aos serviços auxiliares de biblioteca e criou o Curso de Licenciatura em Biblioteconomia7. A primeira turma começou em 1981, houve algumas mudanças curriculares e até integração com o curso de bacharelado funcionando normalmente até 1991, depois não houve oferta em função da falta de professores da área de Educação conforme explicado no projeto pedagógico do curso da UNIRIO. Entretanto, nos anos 2000 houve novamente o interesse em reabrir o curso, porém a partir de outros interesses. É fundamental a compreensão de que a necessidade da retomada do curso de Licenciatura em Biblioteconomia se dá essencialmente por demandas sociais concretas no estado do Rio de Janeiro, que 6 Blog da Biblioteca Nacional https://blogdabn.wordpress.com/2012/03/12/dia-do-bibliotecario/ 7 Conforme Resolução nº 187, de 26 de dezembro de 1979 reconhecido pelo Parecer Ministerial nº. 502, de 20 de dezembro de 1983, publicado no DOU de 22/12/1983 na página 21.611. L i c e n c i a t u r a e m B i b l i o t e c o n o m i a | 25 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: FORMAÇÃO ______________________________________ Daniela Spudeit é mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina, além de graduada em Biblioteconomia, pela mesma instituição, e em Pedagogia pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Atua como professora no Departamento de Biblioteconomia e Gestão da Informação (graduação e mestrado) desta universidade. Coordenou entre 2014 e 2015 a Licenciatura em Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. QUER COMPLEMENTAR? VISITE A PÁGINA DESTE CAPÍTULO: http://wp.me/P7k4jO-D | 26 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO SEGUNDA PARTE ATUAÇÃO A b i b l i o t e c a p ú b l i c a e n t r e o s e r e o t e r | 27 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO A biblioteca pública entre o ser e o ter Katia Costa Gostaria de escrever sobre o “mar de rosas” que devem ser as bibliotecas públicas, mas penso que estamos muito longe de sairmos das mazelas, diante do que temos de concreto, de colegas de profissão leio e ouço relatos que me fazem pensar o quanto vivemos na utopia do discurso, pelo menos no que tange o assunto relacionado às Bibliotecas Públicas no Brasil. Mesmo tendo um Ministério da Cultura onde funciona o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), com suas regionais nos Estado, podemos dizer que ainda estamos muito aquém do que devem ser as bibliotecas públicas em nosso país. Obviamente que temos exceções, algumas bibliotecas com suas potencialidades alcançadas, seus serviços de atendimento em pleno funcionamento, mas infelizmente são exceções. Mas, mesmo com o movimento contrário, vou discorrer um pouco sobre este espaço que é ou deveria ser o lugar do cidadão. No Brasil desde 1992 contamos com o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, anteriormente a este sistema existiram outras nomenclaturas responsáveis por gerir o segmento livro e biblioteca. O SNBP teoricamente faz o controle de como estão as bibliotecas públicas em todo o Brasil, atualmente temos registradas, conforme informação do site15, 6.102 bibliotecas públicas municipais, distritais, 15http://snbp.culturadigital.br/informacao/dados-das-bibliotecas-publicas/ Acesso em: 25 nov. 2015. A b i b l i o t e c a p ú b l i c a e n t r e o s e r e o t e r | 30 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO ● Criar e fortalecer o prazer da leitura; ● Apoiar a educação individual e a educação formal; ● Estimular a imaginação, a criatividade do indivíduo; ● Propiciar acesso às expressões culturais das artes em geral; ● Promover o conhecimento da herança cultural; ● Favorecer a diversidade cultural; ● Apoiar a tradição oral; ● Garantir acesso aos cidadãos a todo tipo de informação comunitária; ● Proporcionar serviços de informação para as empresas e associações locais; ● Facilitar o desenvolvimento e uso das tecnologias; ● Apoiar a participação de atividade e programas de alfabetização para todas as idades. Quando digo que a IFLA responde parcialmente à pergunta é porque após observarmos cada item relacionado às bibliotecas públicas temos que verificar o nosso entorno, cada região do país é diferente, com necessidades únicas e o gestor da biblioteca, seja ele bibliotecário ou não vai ter que adequar o seu trabalho a estas necessidades. A biblioteca pública tem funções diferentes em cada segmento que atende o cidadão que a procura, por isso é bom sempre lembrar separadamente de cada uma destas funções. Em sua função informacional devemos lembrar que a informação é o que movimenta o mundo, vivemos na tão falada sociedade da informação, podemos ficar estáticos diante dos acontecimentos no planeta, mas não sairemos da inércia se não nos informarmos e entendermos o que está diante dos nossos olhos. As bibliotecas públicas devem ter este poder, de dar a informação correta e precisa, seja ela de cunho simplista (simples para nós que sabemos como informar, mas complexa para aquele que a procura), como também informações mais elaboradas sobre projetos, pesquisas, trabalhos e tudo o que possa auxiliar o interagente a captar a sua necessidade imediata. Os bibliotecários destes espaços devem estar conectados às várias possibilidades de resgatar informações. Como centro de informação a biblioteca pode montar painel com informações importantes para a comunidade em todos os segmentos: empregos, cursos, eventos entre tantos outros. Como função cultural e de lazer, as bibliotecas públicas devem agregar ações, programas e projetos culturais buscando apoio entre os diversos parceiros A b i b l i o t e c a p ú b l i c a e n t r e o s e r e o t e r | 31 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO de cultura: dança, teatro, artes visuais, música, capoeira, tudo que envolve as pessoas, que está ligado intrínseco ou extrinsecamente com a leitura deve ser agregado às atividades realizadas nas bibliotecas. O interagente deve perceber a ligação entre todos os segmentos da cultura, a leitura é importante em todos estes movimentos culturais. Dentre as várias atividades podemos oferecer conferências, debates, exposições que podem ser locais e itinerantes, mostrando a herança cultural da comunidade, feiras culturais, mesas redondas, feira de livro, mural de poesias, varal cultural e ainda apresentações musicais, exibição de filmes, audiovisuais ou multimídia e tudo que a equipe possa organizar e coordenar. Rubem Alves sugeriu em um de seus textos de fazermos concertos de leitura nas escolas, que tal usarmos também nas bibliotecas públicas, assim como a música a leitura deve encher os ouvidos, olhos e coração de prazer. O mesmo autor em O Prazer da Leitura diz, e concordo plenamente com ele (sim sou fã de seus escritos), que acontece com a leitura o mesmo que acontece com a música, quando somos tocados por sua beleza é impossível esquecer e que a leitura é uma droga perigosa que vicia. O que seria se todos os cidadãos se viciassem em leitura e em bibliotecas? Como função educacional nas bibliotecas, devemos lembrar que os livros são a porta de entrada para a leitura, em um primeiro momento na fase infantil o lúdico aparece em forma de desenhos e gravuras, após este período quando temos o contato na adolescência à aventura por mundos desconhecidos fica mais excitante e a garotada viaja pelo mundo, adultos intensificam suas leituras procurando textos maduros e marcantes, assim também como os idosos. Quem está à frente das bibliotecas deve preocupar-se com as questões relacionadas à educação, com letramento dos indivíduos que vai muito além do ler e escrever, também é preciso que o indivíduo aprenda a interagir com a leitura e a escrita, entender os diferentes contextos. A dificuldade de leitura eleva o abandono escolar e como consequência, a delinquência juvenil, o contato com as drogas, os riscos de gravidez entre adolescentes e estes fatores podem ter sucessão em ciclos de pobreza e dependência. Não precisamos de autores para nos dizer, percebemos em nossa sociedade. O papel social abrange a parte socioeconômica, a biblioteca pode fazer atendimento aos vários segmentos de necessidades especiais como, por exemplo, o ensino e a leitura em Braille, Libras, auxiliar os que necessitam de informação dentro e fora da biblioteca, orientação em currículos e busca de emprego, sim somos responsáveis por isso também, o bibliotecário é um ser social e não deve deixar-se absorver pelo acúmulo de técnicas e esquecer seu lado humanista. Suaiden19 (1995) observou que entre todos os tipos de bibliotecas, as públicas são as únicas que possuem características reais de instituição social, por todo seu campo de ação e amplitude diante da diversidade de seus interagentes. 19SUAIDEN, Emir. Biblioteca pública e informação à comunidade. São Paulo: Global, 1995. A b i b l i o t e c a p ú b l i c a e n t r e o s e r e o t e r | 32 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO O bibliotecário para trabalhar em biblioteca pública tem que se ater não só a parte técnica da profissão, ele deve saber antes de tudo que sua função será multidisciplinar, com exceção de espaços que tenham uma equipe completa e seus setores direcionados (o que é raro, em maioria conseguimos alguns estagiários, com sorte servidor contratado), o bibliotecário terá que se desdobrar na parte técnica, administrativa, referência, captação de recursos, elaboração de projetos entre as várias atividades que fazem parte do espaço de trabalho em que vai atuar. Temos que ir do planejamento ao operacional e sempre há as barreiras burocráticas e financeiras. Em verdade o “jogo de cintura” é o termo correto que podemos direcionar ao profissional que embarca nesta maravilhosa viagem, por que digo isso? Trabalhar em uma biblioteca pública, quando ela é realmente voltada para a comunidade é ter acesso a várias pessoas, diferentes perfis, inúmeras histórias, para quem pensa que há uma monotonia, digo que está enganado, é uma novidade atrás da outra, todo dia um novo dia. O perfil do bibliotecário neste segmento deve ser inter e multidisciplinar, polivalente, mediador da informação, gostar de leitura, ter senso de organização, extrovertido. Encontraremos situações inusitadas que só rindo para podermos não nos estressarmos com o acúmulo de trabalho. Criatividade é ponto chave, sem dinheiro não se faz nada, mas com criatividade se consegue muita coisa. Crianças que crescem e observamos sua evolução na leitura, jovens amadurecendo, adultos e seus problemas cotidianos, idosos e suas lindas histórias de vida, estudantes que não estudam, outros dedicados, trabalhadores à procura de emprego, migrantes à procura de casa, projetos indeferidos e os que são aprovados, novos amigos, todos os dias são emoções diferentes que temos nas bibliotecas públicas. Sobre as expectativas que se vai encontrar em uma biblioteca pública, Suaiden20 (2000) escreveu que é diferente para os diversos atores que compõem o seu universo: editoras pensam ser a formação de leitores, educadores que é um alicerce no processo de ensino-aprendizagem, intelectuais um espaço enriquecido com literatura e o cidadão comum que iremos solucionar todos os problemas cotidianos. O mais interessante de se trabalhar neste ambiente e sinto isso não só a partir do meu trabalho, mas também do relato de outros colegas na mesma situação, é que as bibliotecas públicas não são vistas como um órgão governamental, ela aparece sempre como um local de todos, não que todos saibam que podem se apropriar, mas quando descobrem que podem e devem utilizá-la gratuitamente, há um empoderamento automático, quase um “sim, é nossa!”. Talvez isso seja o diferencial de outros setores como a saúde, assistência social, são setores que o cidadão associa normalmente à prefeitura, ao estado, mas a 20SUAIDEN, E. J. A biblioteca pública no contexto da sociedade da informação. Ci. Inf., Brasília, v. 29, n. 2, p. 52-60, maio/ago. 2000. B i b l i o t e c a e s c o l a r | 35 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO bibliotecas nas instituições de ensino no país e estabelece o prazo de 10 anos para a efetivação do que a lei determina. Em relação ao PNBE, questiona-se o foco de sua ação, prioritariamente em relação à distribuição de livros, sem conformar também em seus objetivos a criação e manutenção de bibliotecas escolares para receberem estas coleções e a formação de mediadores para disseminá-las. Neste sentido, a lei 12.224 de 2010, apresenta-se como um avanço, embora os desafios sejam grandes para que ela se efetive. Um levantamento feito pelo portal Qedu, da fundação Lemann, a pedido da Agência Brasil, baseado nos dados do Censo Escolar de 2014 teve como resultado que 53% das 120,5 mil escolas públicas brasileiras não possuem bibliotecas ou salas de leitura. Estes dados nos mostram que o grande desafio encontrado para as bibliotecas escolares brasileiras é que elas sejam universalizadas e passem a existir com maior visibilidade nas políticas públicas, e que também, no campo das abstrações, estejam nas aspirações de pais, gestores, professores e alunos como um direito a ser alcançado. Fato marcante na nossa cultura é que as bibliotecas escolares não são vistas pelo senso comum como importantes. Pais, professores e alunos não lutam por sua existência e mesmo em escolas particulares a ausência de bibliotecas é vista com naturalidade. Proponho neste texto que a biblioteca desvalorizada no imaginário social e nas práticas da sociedade civil está muito distante das potencialidades atuais existentes para a biblioteca escolar. Embora ainda persista em grande parcela da população brasileira uma ideia da biblioteca escolar como o espaço do castigo, do silêncio extremo, do excesso de regras e normas, dos livros antigos e empoeirados, dos funcionários inflexíveis e entediados, enfim, das impossibilidades, apenas a mudança das práticas profissionais poderá fazer com que a biblioteca escolar entre na pauta de desejos da sociedade, de forma que seja um desejo fazer uso pleno da biblioteca, assim como o é ir à praia ou ao cinema. Pesquisa organizada pela ESPM-SP e pela FGV, Panorama Setorial da Cultura Brasileira 2013-2014, identificou que de 1.620 pessoas entrevistadas, de 16 a 75 anos, apenas 5% havia frequentado bibliotecas públicas no último ano. Se existem atores sociais lutando para que as bibliotecas sejam universalizadas, torna-se necessário pensar que modelo de biblioteca surgirá a partir destas leis, decretos e planos e se este modelo estará moldado para os interesses atuais de crianças e jovens. Vejo surgir algumas poucas novas experiências em biblioteconomia escolar que se apropriam dos conhecimentos produzidos durante anos por bibliotecários e outros educadores sobre planejamentos, processos técnicos e mediações e aliam a este conhecimento as possibilidades de atuação que a atualidade apresenta. Um fator a ser destacado é que, sanada a questão do déficit de bibliotecas e, B i b l i o t e c a e s c o l a r | 36 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO principalmente, em relação às bibliotecas que já existem, os desafios da biblioteca escolar são os mesmos desafios da escola, não podendo ser dissociados, conforme atesta Sílvia Castrillon (2013) quando afirma que as funções da biblioteca escolar são de caráter político, ético e educacional, que elas não estão separadas do papel geral da escola e que seu cumprimento não pode acontecer em um trabalho isolado da sala de aula, embora tenham tarefas específicas que lhe conferem uma identidade própria e uma razão para existir dentro da escola e do sistema educacional. Neste sentido, cabe refletirmos sobre os desafios atuais da educação básica, em que a biblioteca escolar está inserida. Diversos estudos apontam que a evasão escolar, o desinteresse de crianças e jovens pelos conteúdos privilegiados pela escola e as dificuldades de integrar a tecnologia às práticas de ensino são os grandes desafios da educação contemporânea. Incluo nestes, questões trazidas pelo estágio da globalização que vivemos, que estimula nos jovens a formação de identidades multiculturais. Em 1998, Edgar Morin produziu um texto para a Unesco em que apontava os 7 saberes necessários à educação no futuro, sendo eles: As cegueiras do conhecimento, o erro e a ilusão - trata do dever da educação de armar cada um para o combate vital para a lucidez; Os princípios do conhecimento pertinente – trata de entender o pensamento, valorizando a visão e a reflexão a longo prazo, conjugando o conhecimento das partes com o conhecimento das totalidades, conjugando a análise com a síntese; Ensinar a condição humana – uma das vocações essenciais da educação do futuro será exame e o estudo da complexidade humana, conduzida à tomada de conhecimento, por conseguinte, de consciência, da condição comum a todos os humanos e da diversidade dos indivíduos, dos povos e das culturas; Ensinar a identidade terrena – É preciso ensinar a história da era planetária e mostrar como todas as partes do mundo se tornaram solidárias, sem ocultar opressões e a dominação que devastam a humanidade e ainda não desapareceram. Mostrar que todos os seres humanos, confrontados de agora em diante aos mesmos problemas de vida e de morte, partilham de um destino comum; Enfrentar as incertezas – ensinar princípios de estratégias que permitiriam enfrentar os imprevistos, o inesperado e a incerteza, e modificar seu desenvolvimento, em virtude das informações adquiridas ao longo do tempo; Ensinar a compreensão – estudar a incompreensão a partir de suas raízes, suas modalidades e seus efeitos. Enfocar nas causas do racismo, da xenofobia e do desprezo, seria uma base segura para educação para a paz, a qual estamos ligados em essência e vocação; A ética do gênero humano – todo desenvolvimento humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana. Diante das asserções apresentadas, pensemos nas ações em que os bibliotecários escolares tradicionalmente atuam em um entendimento de colaboração com os objetivos da escola. Neste campo destacam-se o incentivo à B i b l i o t e c a e s c o l a r | 37 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO leitura e a orientação à pesquisa. Vemos timidamente algumas práticas de competência em informação serem desenvolvidas. Da mesma forma que a escola questiona qual modelo seguir para cumprir sua missão, devemos nos questionar se as práticas de fato correspondem às necessidades dos nossos usuários, sejam eles alunos, professores e outros membros da comunidade escolar. Até que ponto estamos promovendo os saberes necessários à educação do presente e do futuro? Em 1996, um grupo de pesquisadores dos letramentos se reuniu em Nova Londres, em Connecticut, para pensar uma pedagogia que incluísse os novos letramentos emergentes na sociedade contemporânea. Dois fatores marcantes destacavam-se nos jovens observados por estes educadores, o uso de novas ferramentas de acesso à comunicação e à informação e de rede social, que acarretava novos letramentos de caráter multimodal e multissemiótico e os conflitos culturais que estes alunos viviam. Deste encontro surgiu a Pedagogia dos multiletramentos, que ROJO (2012) descreve como uma pedagogia que pode não envolver (normalmente envolverá) uso das novas tecnologias de comunicação e de informação, mas que caracteriza-se como um trabalho partindo das culturas de referência do alunado e de gêneros, mídias e linguagens por eles conhecidos, para buscar um enfoque crítico, pluralista, ético e democrático, que ampliem o repertório cultural, na direção de outros letramentos valorizados, ou desvalorizados. Cito também como proposta educacional que merece estudo mais aprofundado e que por ser transversal, também dialoga com as vocações da biblioteca escolar, o conceito de educação 3.0, do qual Jim Lengel é especialista. Na educação 3.0 os alunos trabalham em problemas estimulantes com senso prático e funcional, alunos e professores produzem em conjunto, os alunos desenvolvem pesquisas auto direcionadas, os alunos aprendem como contar uma boa história, estudantes empregam ferramentas apropriadas para a tarefa e os alunos aprendem a ser curiosos e criativos. Por fim, destaco a literatura sobre o letramento informacional, que para Campelo (2009) constitui uma capacidade necessária aos cidadãos para se adaptarem à cultura digital, à globalização e à emergente sociedade baseada no conhecimento Existem diálogos e ressonâncias nestes pensadores que se dedicaram a atualizar as práticas educacionais ao nosso tempo de mudanças constantes. A partir dos textos citados e da minha experiência ouso elaborar, em síntese, alguns apontamentos, que descrevem os modos de usar a biblioteca escolar, citado no título deste texto: - Da dinamização da leitura à uma pedagogia dos multiletramentos Que as ações de dinamização da leitura contemplem os textos multissemióticos e multimodais, adequando-as aos princípios da prática de multiletramentos, sendo sistemáticas e considerando os letramentos não privilegiados pela escola, mas de uso comum dos alunos. Que as leituras nestas B i b l i o t e c a e s c o l a r | 40 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO ________________________________________ Vagner Amaro é bibliotecário na Escola SESC de Ensino Médio (RJ). Mestrando em Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. É graduado em Biblioteconomia por esta mesma instituição e em Jornalismo pela Universidade Estácio de Sá, onde também se especializou em Gestão da Cultura. QUER COMPLEMENTAR? VISITE A PÁGINA DESTE CAPÍTULO: http://wp.me/P7k4jO-H B i b l i o t e c o n o m i a s o c i a l | 41 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO Biblioteconomia Social: as leis de Ranganathan numa biblioteca prisional Catia Lindemann Obter o título de bacharel em Biblioteconomia dentro de uma Ciência Social Aplicada, área de respaldo técnico, e aceitar esta verdade como única sempre me causou inquietude ao longo do curso. Ora, para o senso comum, a biblioteconomia forma profissionais aptos a lidarem com a técnica de organização, gestão e representação das obras do conhecimento, ficando sempre a imagem de uma profissão estereotipada em bibliotecas. Aliás, a maioria das escolas de Biblioteconomia ainda segue nessa diretriz de bibliotecário versus biblioteca formal (universitária, escolar, pública, etc.). No entanto, dentro da atualidade, o bibliotecário vive sua multidisciplinaridade, atuando além das fronteiras das bibliotecas tradicionais, ouso dizer que a Biblioteconomia é em verdade o bibliotecário, acompanhando-o onde quer que ele esteja, não dependendo da técnica para existir, mas do usuário, agregando informação e conhecimento em comunidades, sendo fator ativo nas discussões sociais. Exemplo disso são as bibliotecas prisionais, espaços em que por experiência própria eu posso lhes dizer que a técnica precisa ser totalmente readaptada e quase sempre reinventada. Quando fui implantar a atual biblioteca da Penitenciária do Estado aqui na minha cidade (Rio Grande - RS), cheguei cheia de expectativas e visando colocar na prática o que havia aprendido enquanto teoria em sala de aula. Busquei respaldo na cadeira de “Planejamento de Bibliotecas” e depois de medir espaço físico, analisar posição das estantes, priorizar cuidados de preservação do acervo, pronto, B i b l i o t e c o n o m i a s o c i a l | 42 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO eu fui e fiz tudo como roga a “técnica”, me sentindo a tal bibliotecária que havia aprendido a lição perfeitamente e só precisava transformá-la em ação. Depois de tudo pronto em seu devido lugar, entra o chefe de segurança da prisão, olha com atenção cada mobiliário da biblioteca e passa pelas estantes observando calmamente os detalhes. Alguns minutos depois, ele me olha sério e num tom enfático me diz: - “Ora Dona Catia, isso tá tudo errado. As estantes não podem ficar assim nestas colunas horizontais”. Eu pensei cá comigo: “O que ele sabe de Biblioteconomia? Vou explicar que tudo deve ficar assim porque eu estudei para isso e sei como deve ser feito”. Respirei fundo e apenas argumentei o porquê do local de cada mobiliário dentro da biblioteca. Ele me ouviu atentamente e passando a mão na cabeça, já rindo de minha ingenuidade, me disse: - “As regras são muito bonitas Dona Catia, mas isso a senhora faz numa biblioteca lá fora. Aqui nossa prioridade é a segurança, portanto, melhor seus livros aqui pegarem o sol que vem dessas grades (a biblioteca foi montada numa cela desativada) do que a senhora ficar mantida refém de algum preso. Isso aqui não tem sequer linha de tiro Dona. Como vamos visualizar um preso atrás das estantes? Não pode né? Linha de tiro é prioridade”. No cárcere, foi preciso adequar a Biblioteconomia para que a biblioteca de fato pudesse existir. Tudo que aprendemos como teoria é contraposto quando se trata de biblioteca prisional. Olhar aquele espaço e lembrar-se de “Planejamento de Acervo”, mas lembrar de que lá dentro a priori é não é o que roga a Biblioteconomia e sim a segurança. Como se tratava de leitores com suas especificidades, averiguei que somente os procedimentos bibliotecários não surtiriam os resultados desejados, ou seja, não bastava catalogar e classificar as obras literárias, mas apresentar os livros aos usuários apenados, buscar alternativas para a sua compreensão em torno da localização das obras nas estantes. Seguir o método de classificação dentro da técnica bibliotecária não proporcionou que os apenados tivessem autonomia na hora de buscar a leitura. A biblioteca enquanto espaço destinado às obras e a leitura, deve seguir a técnica da biblioteconomia e colocar em prática tudo que nos foi e é ensinado em sala de aula, porém a biblioteca enquanto ferramenta social destinada ao apenado, não tem como seguir sozinha sem estar respaldada pelo respeito às regras do cárcere e principalmente respeito à cultura do preso. Todas estas questões me fizeram rever as leis de Ranganathan, consideradas como fundamentais para a Biblioteconomia. Mas como seguir tais diretrizes dentro do cárcere? B i b l i o t e c o n o m i a s o c i a l | 45 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO sempre pratiquei uma Biblioteconomia Social, mas e o que de fato vem a ser esta temática dentro da área enquanto cientificidade? O social biblioteconômico já é uma realidade dentro da Ciência da Informação? Dentro da minha percepção, implantar unidades de informação em presídios, espaços de leitura em hospitais, salas comunitárias da periferia da cidade, casa de tratamento e recuperação de dependentes químicos, era isso o que até então eu rotulava como Biblioteconomia Social. Mas quando fui colocar estas ações dentro da teoria, compreendi que havia lacunas, dúvidas e muito a ser pesquisado, analisado e assimilado sobre este assunto. Fui à busca destas e outras tantas inquietudes sobre o tema em minha monografia, investiguei respostas, delineei o termo Biblioteconomia Social em nível de Brasil, almejando conceber onde de fato encontrar-se à ligação do Social dentro do Aplicado nesta Ciência denominada Biblioteconomia. Digo-lhes, que em minha concepção, a Biblioteconomia Social pode ser encarada como elo entre a técnica tradicional da Biblioteconomia e o social contemporâneo. Hoje os tempos são outros, em pleno século XXI, com uma sociedade que luta por igualdade, isso inclui o acesso à informação, os direitos humanos buscando consciência cidadã por parte dos profissionais de todas as áreas, não há mais razão em querer nivelar a Biblioteconomia atual da Biblioteconomia Deweyniana de quase 200 anos atrás. Talvez esteja na hora de dar uma nova roupagem para as Leis de Ranganathan e assim trazê-las para a realidade da Biblioteconomia Social, tendo como objetos centrais a cultura e as deficiências de comunidades em que a biblioteca ainda não está presente. Teríamos então Leis da Biblioteconomia atuando em prol de Bibliotecas + Sociedade = Igualdade Social, compreendendo que: - Os livros são escritos para serem lidos por todos; - Todo leitor tem seu livro, desde que você conheça o seu leitor; - Todo livro tem seu leitor, se o princípio em que o leitor estiver permitir que assim seja; - Poupe o tempo do leitor, se o leitor assim desejar; - Uma biblioteca é um organismo em crescimento, deve sempre acompanhar o crescimento da comunidade em que está inserida. Compreendo que não pode haver menosprezo ao tecnicismo bibliotecário, pois sua existência é essencial para dar funcionalidade à biblioteca como prestadora de serviços. Sem uma boa técnica, qualquer outro caminho galgado pela biblioteca fica disperso. É preciso dar fundamentação no tratamento técnico da informação B i b l i o t e c o n o m i a s o c i a l | 46 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO para que deste modo a finalidade social da biblioteca possa atingir seu objetivo. Entretanto, deve-se ressaltar que no caso de bibliotecas prisionais, o usuário vem atribuído de outras facetas que o tornam mais do que um número estatístico de serviços prestados e atendimentos realizados, mas sim um usuário-interesse, usuário-indivíduo com existência social e psicológica, atribuindo deste modo um contexto maior dentro do “usuário-cartão de empréstimo”. Dentro do cárcere, a Biblioteca é um agente institucional, porém temos o Bibliotecário que em contrapartida é um agente humano. Nenhuma instituição pode ser agente de transformação sem o senso de seu próprio valor, especialmente a biblioteca prisional. Será que já não está na hora da nossa Biblioteconomia sair da sua zona de conforto da cientificidade e perceber que os tempos são outros, que urge a necessidade de uma Biblioteconomia Social e voltada única e exclusivamente para o seu usuário? Concluo minhas percepções assumindo que estou longe de ser uma expert da academia e tão pouco tenho bagagem científica. Mas tenho legado e ele está nos guetos, nas salas de leitura e nas bibliotecas que já montei. Lugares em que antes os livros jamais estiveram... Espaços em que as regras bibliotecárias precisaram dar espaço às regras do local. Mas este é o meu jeito de fazer Biblioteconomia, como sempre digo, sou uma mistura das palavras do Edson Nery da Fonseca com as menções do Fernando Pessoa, tipo isso: “Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada Biblioteconomia... À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. E você, tem praticado a “Humanidade, Liberdade e Dignidade da Pessoa Humana” ao do seu fazer bibliotecário na comunidade em que está inserido? _________________________________________ Catia Lindemann é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande. Vem refletindo sobre a atuação do bibliotecário em unidades prisionais e sobre o papel social da Biblioteconomia. QUER COMPLEMENTAR? VISITE A PÁGINA DESTE CAPÍTULO: http://wp.me/P7k4jO-J B a r c a d o s L i v r o s | 47 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO Barca dos Livros: uma biblioteca com alma Rosangela Madella Tânia Piacentini Tanira Piacentini A Biblioteca Comunitária Barca dos Livros foi idealizada pela Sociedade Amantes da Leitura, cujo objetivo, em dez anos de existência, tem sido difundir a leitura como instrumento de afirmação cultural e de cidadania. Conta com um acervo catalogado de mais de 15.000 livros, atualizado anualmente com livros novos, recebidos das editoras em decorrência do trabalho profissional do Núcleo de Estudos e Pesquisas (NEP) como votante junto à Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ. A cidade de Florianópolis é carente de bibliotecas públicas: há uma no centro da cidade e outra no bairro do Estreito. A Lagoa da Conceição, onde se localiza a sede-porto da Biblioteca, reúne cerca de 40 mil pessoas, das quais 5.000 crianças e jovens escolares. A Lagoa, como é conhecida, é um bairro de confluência de várias localidades tradicionais do seu entorno, e ao mesmo tempo atrai turistas de todos os lugares, não só pelas belezas naturais como por sintetizar o apelo ao lado "mágico" da chamada Ilha da Magia. Rica em atrativos turísticos, a região "esqueceu-se" de seus moradores nativos, restringindo-lhes (devido aos preços muitas vezes impeditivos) o acesso aos bens culturais a que todo o cidadão tem direito - e a leitura certamente é direito inalienável e fundamental para a formação da cidadania. A formação do leitor exige um permanente e renovado contato com textos escritos disponíveis sob a forma de livros, revistas, jornais, em lugares e contextos motivadores da leitura. É a biblioteca o lugar mais adequado para que o direito a essa convivência seja incentivado e exercido por todo cidadão de qualquer classe social e de qualquer idade. Para a sua formação como leitor, então, o acesso à leitura literária é fundamental e decisivo desde cedo, pois a literatura auxilia no desenvolvimento e enriquecimento ético, estético e afetivo de todas as pessoas. Por comungar totalmente com essa premissa, nos definimos como uma biblioteca de B a r c a d o s L i v r o s | 50 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO b) A Escola Vai à Barca: visita de escolas à biblioteca, com acesso livre aos livros e sessão de leitura em voz alta e narração de histórias. c) Leitura Literária – Grupo Aberto de Discussão. Encontros semanais para discutir questões pertinentes a vários aspectos da leitura e da literatura para crianças; d) Quartas de Babel – Grupos de conversação na Biblioteca: inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e português para estrangeiros; d) Quintas Literárias: leitura compartilhada em voz alta de títulos variados, à escolha dos participantes; e) Divulgação: newsletter com programação (8.000 e-mails), resenhas de livros e notícias semanais. Atualizações do site. f) Núcleo de Estudos e Pesquisas em Literatura: análise do acervo, crítica de livros, produção de resenhas, comentários e textos sobre as obras literárias. Compõe a comissão avaliadora da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, que estabelece 17 premiações anuais em nível nacional. Além disso, o NEP é responsável pela apresentação das obras dos vestibulares na atividade específica. AÇÕES MENSAIS a) Histórias na Barca dos Livros: 2º sábado de cada mês, dois passeios de barco na Lagoa da Conceição, às 15h e 16h, com livros, leituras, narração de histórias e música. b) Sarau de Histórias: narração de histórias para jovens e adultos; sempre no último sábado do mês; c) Encontro com Autores/Ilustradores/artistas diversos: conversa sobre o processo criativo, obras, relação texto/ilustração, leitura de trechos de obras, lançamento de livros, etc. d) Literatura no Vestibular: apresentação e debate de obras para vestibulares UFSC/UDESC. e) Além dessas atividades, também são realizados eventos de música, literatura, teatro, recitais de poesia comemorando datas e escritores (por exemplo: mês da criança, centenário de Carlos Drummond de Andrade, sesquicentenário do poeta Cruz e Souza, Dia Nacional do Surdo, etc.). B a r c a d o s L i v r o s | 51 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO AÇÕES BIMESTRAIS a) Cursos e oficinas na área do livro e da leitura: escrita criativa, e-textos, conservação de livros, narração de histórias, leitura em voz alta, leitura de poemas, poesia, literatura infanto-juvenil, confecção de personagens (bonecos), etc. AÇÕES TRIMESTRAIS a) Exposição/Galeria: exposições de artes plásticas (pintura, fotografia, gravuras, gravuras digitais, cerâmica etc.), obras/registros de atividades de grupos culturais (Grupo Sul, por exemplo) - exposições de curta duração com visitação monitorada e ou conversas com os autores para grupos agendados. b) Gastronomia e literatura / A Poesia Põe a Mesa – eventos reunindo jantar ou lanche com poesia, leitura de trechos de obras literárias, preços variados. AÇÕES ANUAIS a) Abril com Livros: evento para troca de saberes/experiências e encontro entre leitores e cultura escrita. Exposição dos resultados das ações anuais e celebração do Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil (02/04), Dia Nacional do Livro Infantil (18/04) e Dia Mundial do Autor e do Direito Autoral (23/04), com atividades específicas durante todo o mês. Ministração de cursos e atividades lúdicas em escolas e bairros da cidade e do estado de Santa Catarina, etc. Profissionais envolvidos: Equipe da Biblioteca e voluntários. b) Participação na Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, realizada nos meses de junho/julho, com a montagem de uma sala de leitura desde 2007. c) Participação na Semana Municipal do Livro Infantil de Florianópolis, com programação especial para as escolas, em todas as edições da Semana. AÇÕES ESPECIAIS a) A Sociedade Amantes da Leitura já editou dois livros infantis: O Patinho Feio, em parceria com o SESC/SC, e O Perseverante Soldadinho de Chumbo, em parceria com a Editora Peirópolis. Traduções do dinamarquês por Tabajara Ruas, ilustrações do primeiro por Fernando Lindote e do segundo por Jandira Lorenz. b) Projeto Bebelê: Gestando Leitores – Em 2013, a Biblioteca Comunitária Barca dos Livros candidatou-se ao Prêmio de apoio à modernização de bibliotecas comunitárias e pontos de leitura, da Biblioteca Nacional e foi contemplada. De fevereiro a agosto de 2014, desenvolvemos, como projeto – piloto, B a r c a d o s L i v r o s | 52 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATUAÇÃO o “Bebelê: Gestando leitores”, junto a gestantes, pais e bebês, tendo como objetivo final o desenvolvimento do hábito de leitura literária na família desde antes do nascimento do bebê, assim como o desenvolvimento do imaginário infantil. A promoção da leitura na infância se faz também através da voz dos pais e que a história do ser humano como sujeito de linguagem se inicia ainda no útero. O projeto trabalhou no sentido de orientar o grupo familiar, cuidadores, professores, agentes de saúde e mediadores de leitura a oferecer aos bebês uma base simbólica através de cantigas e histórias contadas e cantadas, que são as primeiras espécies literárias com as quais a criança tem contato antes e depois do nascimento. Ao realizar atividades com livros e leituras, a inserção do bebê e da família no mundo da leitura literária ocorre de maneira prazerosa. A Sociedade Amantes da Leitura implantou o projeto Biblioteca Barca dos Livros como uma alternativa no campo informacional, agregando valor para a comunidade, em especial da Lagoa da Conceição. Analisando o lado cultural do projeto, onde o fluxo das informações está acontecendo e o reconhecimento pela comunidade é significativo, evidenciado na frequência e nas visitas das escolas, torna-se de fato um espaço para a cultura, a informação e a leitura de literatura, contribuindo para a formação de cidadãos capazes de trilhar seus próprios caminhos com acesso à leitura com qualidade. A proposta da Biblioteca Barca dos Livros é estimular a leitura para a criatividade, desenvolver a compreensão e interferir no desenvolvimento do ser humano, possibilitando a tomada de atitude crítica e intelectual, preparando o indivíduo para as diversidades da sociedade da informação. A leitura estimula a imaginação, distrai, informa e contribui para o conhecimento. Não basta, pois, ser alfabetizado e ter vontade de ler. É preciso que existam livros, revistas e jornais para que sejam lidos. Há, enfim, um caminho longo entre o homem e as circunstâncias de onde vive. Se o meio for generoso e oferecer oportunidades, o indivíduo poderá, com a educação formal, com as leituras e demais fontes de informação ter mais autonomia para pensar e agir. (MILANESI, 2002, p. 35). É possível afirmar que a Biblioteca Barco dos Livros é uma biblioteca viva, que além de possuir um riquíssimo acervo de literatura, desenvolve oficinas, palestras, minicursos para seus frequentadores. Um espaço aberto, dinâmico, agradável, que proporciona, além de entretenimento, um espaço de interação sociocultural para a comunidade da Lagoa da Conceição e adjacências. A alma da Barca dos Livros se expressa nos sorrisos dos leitores, na alegria das crianças, na emoção das pessoas de todas as idades que participam de nossas atividades e vêm à Barca para buscar livros, trocar impressões, enfim, participar do encantamento e afetividade que o mundo dos livros empresta à vida cotidiana. B i b l i o t e c á r i o s : é n e c e s s á r i o q u e i m a r p o n t e s | 55 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES Bibliotecários: é necessário queimar pontes Fabíola Bezerra Conta a lenda que um general chinês foi para a guerra e o campo de batalha acontecia em uma ilha. Para ter acesso a essa ilha era necessário atravessar uma ponte, e lá se foi o general com seus soldados. Embora com medo, os soldados não tiveram outra opção e atravessaram a ponte. Ao passar o último soldado pela ponte, o general ateou fogo à ponte e nenhum deles teve como recuar. Observando os soldados cheios de medo e diante da ponte em chamas, o general olhou para eles e disse: “só existem duas únicas alternativas que são: lutar e ganhar a guerra, ou perder a guerra e morrerem todos, desistir não é uma opção”. A metáfora contida na história acima retrata muito bem as situações em que nos deparamos e nas quais não temos como voltar atrás, a única opção é seguir em frente e aceitar novos desafios. Associados à história acima nos veio à mente alguns discursos desanimados, de um bibliotecário ou outro, diante do mercado de trabalho, ou mesmo diante da profissão. Observamos um movimento no campo de atuação do bibliotecário voltado quase que exclusivamente para o trabalho no serviço público, como se este fosse o único caminho a percorrer profissionalmente, ou a única ponte possível a atravessar. Fala-se muito de uma Biblioteconomia renovada com as múltiplas possibilidades advindas das tecnologias da informação e comunicação. No entanto, caminhou-se muito pouco em busca de novos horizontes. O trabalho moroso do processo técnico foi substituído pela agilidade de poderosos sistemas de automação e gestão de bibliotecas, o sistema foi agilizado, mas alguns “operadores” parecem ainda estar na época da máquina de pedal. Por onde andam os “generais chineses” que farão os bibliotecários atravessarem suas pontes? Qual guerra precisará vir para que atravessem a velha ponte e nunca mais pensem em voltar? B i b l i o t e c á r i o s : é n e c e s s á r i o q u e i m a r p o n t e s | 56 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES Empreendedorismo, uma ponte possível para atravessar O campo de atuação dos Bibliotecários está diretamente relacionado com a ideia que cada profissional tem acerca da sua profissão. Parafraseando a ideia de David Lankes, ressalto que muitos bibliotecários estão apenas sobrevivendo na profissão ao invés de inovar. Algumas vezes, o bibliotecário vê a Biblioteconomia numa perspectiva errada e encontra dificuldades de vislumbrar novas pontes. Reconheço que nem todo bibliotecário tem o perfil inovador ou “revolucionário”, dificultando assim seguir em frente em busca de novos desafios. Porém, os que se “aventuraram” conseguiram queimar suas próprias pontes, e com certeza foram bem-sucedidos. O empreendedorismo voltado para Biblioteconomia, ou, dito de outra forma: a Biblioteconomia voltada para o empreendedorismo é um tema que tem despertado interesse e estudos de alguns profissionais na área. Particularmente, vejo com simpatia o assunto e vislumbro como uma ponte possível a se atravessar. Entendo o empreendedorismo, acima de tudo, como uma postura, uma decisão, um comportamento motivado por uma disposição interior, uma maneira de ser e estar no mundo, uma questão de atitude. A disposição interior ou a motivação que nos leva à tomada de decisões está diretamente relacionada à maneira pela qual vemos o mundo, é como um mapa formado pelas nossas crenças e valores; a isso se chama de mindset (jargão corporativo da língua inglesa), a maneira como percebemos o mundo. A aplicação do seu mindset voltado para ações inovadoras e empreendedoras irá definir o tipo de bibliotecário que você será, uma vez que, traduzindo ao pé da letra, mindset significa mente configurada, ou configuração da mente. Pensar o empreendedorismo na Biblioteconomia é, antes de tudo, mudar o padrão de pensamentos dos bibliotecários. A criação desse novo mindset será uma ferramenta essencial no processo de construção do bibliotecário empreendedor. Aprender a dar os comandos certos para o cérebro, redefinindo-o para identificar aonde você quer chegar, alinhando a sua mente e aumentando as próprias expectativas de atuação profissional. Nesse sentido, pergunto: Como anda o mindset dos bibliotecários? Acredito que tudo isso está relacionado com o modelo mental que temos acerca da nossa profissão, ou seja, a percepção sobre o universo biblioteconômico será o principal responsável por essa mudança. Dessa forma, é importante uma abertura de conhecimentos que vai além da Biblioteconomia. Assim como é importante entender a Biblioteconomia afora os conhecimentos adquiridos nos bancos da faculdade, uma Biblioteconomia multi, inter e transdisciplinar, atenta a tudo e a todos. Cada um de nós, enquanto bibliotecários, podemos mudar o nosso B i b l i o t e c á r i o s : é n e c e s s á r i o q u e i m a r p o n t e s | 57 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES futuro profissional a partir da nossa percepção. Nesse sentido, é importante criar novas expectativas na mente, não ter medo de atravessar pontes e depois queimá- las, atitudes assim serão capazes de mudar a nossa realidade profissional. Não é raro ouvirmos de colegas bibliotecários queixas ou relatos de insatisfações sobre situações pontuais, ou mesmo sobre a própria profissão. Algumas vezes fico a pensar se essa insatisfação não foi motivada pela incompatibilidade com a profissão, ou, em última hipótese, pela falta de atitude em mudar a regra do jogo. E você, já avaliou se está precisando buscar um novo mindset para a sua vida profissional? Está precisando de um oficial chinês na sua vida? Ou será capaz de atravessar a ponte sozinho? Para quem “serve” a informação que eu domino? Diz a frase: “quem tem informação tem poder”. Isso posto, pergunto: enquanto bibliotecário, o que faço com a informação que domino? Existe um sentimento de satisfação como profissional toda vez que consigo prestar um serviço de qualidade ao meu usuário. Muitas vezes, estudamos um assunto para dar uma informação precisa, ou uma resposta que agregue valor à vida do usuário. Mas efetivamente, o que fazemos com o conhecimento que vamos acumulando? Analisando o lado prático da profissão, podemos dizer que teoricamente somos um dos poucos profissionais que temos o privilégio de poder estar sempre atualizados sobre os assuntos do mundo, uma vez que a nossa ferramenta de trabalho é a informação. Por que esse conhecimento adquirido não é retido e aplicado em benefício próprio? E que tal “estocar” o conhecimento adquirido e construir novas possibilidades de trabalho e de negócio? Não gosto de pensar na atuação do bibliotecário apenas como ser subserviente em prol do outro, nem tampouco achar que o campo de atuação profissional limita-se ao serviço público. Alvin Toffler preconizou na década de 1980: “que a geração de riqueza passou das mãos da produção para as mãos da informação”. A economia da informação muda totalmente o conceito de valor, o “dinheiro está nas ideias, na informação”. A agilidade do profissional bibliotecário em transformar esse conhecimento em negócio será imperativo para ele, profissionalmente, pois lhe permitirá uma mobilidade social e profissional. Tenho tido a oportunidade nos últimos tempos de adentrar um pouco no mundo do empreendedorismo e do marketing digital. Observo um aumento exponencial de infoprodutos comercializados por diferentes profissionais, a partir de suas habilidades únicas, sendo atualmente um dos principais produtos de empreendedores digitais. Infoprodutos são produtos de informação em formato digital, um dos mais vendidos na Internet. O objetivo de um infoproduto é resolver C o n s u m i d o r d e i n f o r m a ç ã o 3 . 0 | 60 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES Consumidor de informação 3.0 Elisa Cristina Delfini Corrêa Estamos na era digital e boa parte da vida contemporânea acontece por lá. No ciberespaço nos comunicamos, estudamos, trabalhamos, nos divertimos, pagamos nossas contas, compramos ou vendemos e muito mais. Temos perfis pessoais e profissionais nas mídias sociais, usamos aplicativos para saber o horário do ônibus ou chamar um táxi, controlar as calorias da nossa alimentação, saber a previsão do tempo. A conexão em rede 24/7 está se tornando muito comum, uma vez que a noção de tempo e espaço foi alterada na sociedade contemporânea a partir da Internet. Assim como ‘estamos’ na era digital, a era digital começa a ‘estar em nós’ igualmente. Quando não procuramos a tecnologia, ela mesma nos procura dando alertas sobre o e-mail que chegou, as interações em seus perfis de mídias sociais, a hora certa de beber água/almoçar/jantar e por aí vai. O smartphone nos avisa se temos reunião: com quem, onde e a que horas. Ele, sempre conectado à rede e aos humanos, nos faz alertas sobre o livro novo da biblioteca, o artigo quentinho que acaba de ser publicado e que muito nos interessa. Se, por acaso, consultamos preços de automóveis ou imóveis, ficamos recebendo e-mails com ofertas por meses, mesmo depois de fechado o negócio. A rede te ‘conta’ as novidades no showbusiness, na economia, na política, na vizinhança... Enfim, nós, os cidadãos da era digital, somos ávidos consumidores de informação de (quase) todo o tipo e em (quase) todo o tempo. Em tempos digitais, os consumidores de produtos e serviços passaram não apenas a ser mais exigentes, mas também, pela facilidade de acesso e diversidade de opções, são mais autônomos e críticos em relação a seus direitos. A web social, ou web 2.0, abriu as portas que separavam consumidores e produtores permitindo o diálogo direto. Ficou muito mais simples e fácil pesquisar diferentes opções de C o n s u m i d o r d e i n f o r m a ç ã o 3 . 0 | 61 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES fornecedores e as plataformas para solucionar problemas eventuais nos processos de comunicação são bastante amplas e eficientes na maioria dos casos. Dessa forma, as empresas e instituições presentes na Internet procuram ser muito cuidadosos com sua imagem e esforçam-se para resolver conflitos de forma rápida e educada, a fim de conquistar uma boa reputação no mercado online. Quem nunca usou o Twitter, por exemplo, para dizer ao mundo que foi mal atendido, que o produto está atrasado na entrega ou chegou com defeito? Por outro lado, também são comuns recomendações de produtores e fornecedores que atenderam bem o consumidor dessa nova geração que foi “batizada” com o título de consumidor 3.0. Consumidor 3.0 O consumidor 3.0 surge a partir do uso intenso das tecnologias de informação e comunicação e trata-se de um indivíduo conectado que interage no ciberespaço em diferentes plataformas e mídias sociais realizando suas atividades e tarefas cotidianas nesse ambiente. Para o SEBRAE21, o consumidor 3.0 é: Mais comunicativo e reivindicativo [...] realiza compras pela web e faz pesquisas em diversos sites antes de efetuar a transação, além disso utiliza ambiente multicanal para se informar sobre o produto e as condições de pagamento. Esse consumidor realiza suas compras e pesquisas sobre os produtos através da internet por meio de seus diversos ambientes de interação – redes sociais, blog, sites. Ele também é mais interativo, comunicativo, reivindicativo e opinativo, buscando maior comunicação com a empresa. O infográfico abaixo, disponibilizado pelo blog Midiaria e publicado também por Lira (2012), apresenta o perfil do consumidor 3.0, também chamado como neoconsumidor: 21 http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/Consumidor-3.0 C o n s u m i d o r d e i n f o r m a ç ã o 3 . 0 | 62 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES Fonte: Publicitários Social Clube (2012) Esse consumidor chega a ambientes como restaurantes e lojas e logo realiza seu check-in em ferramentas de comunicação digital. Quer ser bem atendido e, se não for, imediatamente publica notas depreciativas em suas redes sociais da internet. Fotografa e compartilha suas experiências nesses ambientes e, assim, influencia novos e potenciais consumidores em sua rede de relacionamentos – ele deseja ser ouvido. (IMMAGIO, 20--). Segundo Tocha (2014): o consumidor 3.0 usa o celular dentro da loja para comparar preços. Curte e descurte produtos e empresas. Compra direto de fábricas na China. O consumidor 3.0 sai de casa com a decisão praticamente tomada. Muitas vezes ele chega na loja sabendo mais sobre o produto que o vendedor, querendo apenas ver o produto. E as vezes ele volta pra casa e compra online, por um preço melhor. Além de percorrer sites de produtores e fornecedores, ele também valoriza a experiência de outras pessoas em suas compras. Assim é que decidir a respeito de qual hotel se hospedar em uma viagem, por exemplo, pode ter uma influência muito forte vinda dos depoimentos de pessoas que já estiveram por lá. Esse consumidor, portanto, tem como característica marcante uma forte autonomia advinda de um C o n s u m i d o r d e i n f o r m a ç ã o 3 . 0 | 65 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES Informação personalizada também é uma exigência do consumidor de informação 3.0: “O cliente quer ser servido pessoalmente [...] Personalização significa, por exemplo, elaborar o conteúdo de uma homepage de modo a que atenda às expectativas do usuário, independentemente da infraestrutura ou do equipamento de acesso que ele utiliza” (INFORMAÇÃO, 2002). Por isso, os fornecedores digitais esforçam-se por individualizar o atendimento e criar estratégias de marketing personalizadas. Esse é o grande negócio do chamado ‘big data’: reunir dados de pesquisas na Internet e assim moldar ofertas de acordo com perfis e interesses de cada consumidor. Além do atendimento personalizado, o big data proporciona também relacionamento próximo entre consumidor e produtor, promoções ajustadas ao bolso de cada um, rápida solução de crises no processo de venda (FABULOSA IDEIA, 2013). Assim, ao alcance de um click os interagentes têm acesso à informação formatada de acordo com suas necessidades e interesses. Por último, porém não menos importante, destacam-se as características a seguir, apresentadas por Helio Basso (2015) em palestra sobre OmniChannel23: ● O novo consumidor quer ter o poder de se conectar com a marca nos mais variados canais (em qualquer horário, em qualquer local); ● Ele espera que toda tela ou espaço físico sejam interativo; ● Quer que cada desejo seja percebido e atendido prontamente, mesmo que não tenha havido uma comunicação prévia (interação consumidor-marca); ● Quer conveniência ao extremo, sem ter que falar com ninguém É bom lembrar que, quando esse perfil é traçado, não estamos falando de uma realidade distante, mas estamos nos referindo a pessoas como eu e você, hoje, aqui e agora. A questão final proposta nesta reflexão volta-se agora ao universo das unidades de informação da atualidade, mais especificamente, das bibliotecas. Estariam elas preparadas para atender esse tipo de público conectado com perfil 3.0? Consumidor 3.0 X bibliotecas 1.0 O subtítulo acima automaticamente responde à questão colocada ao final da seção anterior: não, nossas bibliotecas estão bem longe de atender ao consumidor de informação 3.0. Ainda há muito o que fazer para sairmos do contexto de biblioteca essencialmente analógica e 1.0. As bibliotecas precisam reinventar-se a fim de acompanhar as transformações da sociedade digital, e isso exige muita mais uma revolução de atitude do que uma revolução tecnológica. 23 Modelo de vendas que estabelece sincronia entre diferentes canais de uma mesma empresa, sejam físicos ou digitais C o n s u m i d o r d e i n f o r m a ç ã o 3 . 0 | 66 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES Colocando em termos bem simples, para que as bibliotecas 1.0 avancem em direção ao mundo 3.0, seria saudável que: ● Mudassem o foco do documento/informação para o foco das pessoas/comunicação: A organização documental é apenas um meio para atingir o propósito de prover acesso à informação e ao conhecimento, não o objetivo final de uma biblioteca. ● Ouvissem com mais atenção o que diz, sente e deseja sua comunidade: as pessoas que buscam as bibliotecas são muito mais do que simples ‘usuários’, são interagentes que desejam relacionar-se com a biblioteca e sentir-se parte dela. Dessa comunicação e interação é que vem o engajamento que, antes de mais nada, é resultado do sentimento de pertencimento de cada um; ● Dessem voz ao seu interagente: ainda sob a perspectiva de entender sua comunidade como mais do que simples usuários, envolve-los nos processos da biblioteca significa quebrar paradigmas e torna-los parceiros para, por exemplo, novas formas de indexação mais adequadas por meio da folksonomia, facilitando o acesso a informações mais pertinentes e ‘empacotadas’ de forma mais personalizada; ● Investissem em uma efetiva presença digital: por meio de um planejamento eficiente, as bibliotecas podem e devem criar perfis em diferentes mídias sociais e oferecer postagens com conteúdo relevante e de interesse de seus grupos de interagentes. Além disso, em suas páginas web, podem também criar e oferecer serviços e produtos de informação e de atendimento personalizados e de relacionamento a partir da web 3.0, chamada web semântica. Importante ressaltar a necessidade de uma sincronia entre o espaço físico e o digital, tornando a biblioteca um ambiente seguro com atendimento coerente em ambos os espaços. ● Inovassem, saíssem do lugar comum: Bibliotecas são muito mais do que emprestar livros e essa ideia precisa ser melhor explorada, a fim de transformá-las em lugares de aprendizado ativo, experimental, com espaço para o diálogo e a criatividade coletivas. Experiências como as de coworking e makerspaces24 já são realidade em muitos lugares mundo afora e estão apenas começando a ser consideradas no Brasil. Para que isso aconteça, no entanto, precisamos de bibliotecários 3.0, com visão de mundo diferenciada, atitude inovadora e mente inquieta. Por mais que se esforcem, os cursos universitários não dão conta de formar profissionais com esse 24 Coworking: “trabalhar de forma colaborativa, mas independente de projetos ou objetivos” (https://2000caracteres.wordpress.com/2014/04/16/bibliotecas-como-espacos-de-coworking-e- propulsoras-de-projetos/). Makerspace: espaços de criação (http://portaldobibliotecario.com/2015/07/20/bibliotecas-como-makerspaces/). C o n s u m i d o r d e i n f o r m a ç ã o 3 . 0 | 67 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES calibre. É preciso ir além, ‘ranganatheando’25 estudando continuamente e buscando conhecer o que está acontecendo nas bibliotecas ao redor do mundo, tarefa muito mais fácil nos dias atuais por conta da Internet. É possível criar uma biblioteca que supere as expectativas dos interagentes e da própria Biblioteconomia, como afirma Lankes (2012), mas isso depende do trabalho de cada um. Porque a sociedade precisa e merece uma biblioteca adaptada aos tempos 3.0. REFERÊNCIAS BASSO, H. Omni-Channel: o desafio da gestão de canais. Slides. The UP Day, Florianópolis, 2015. DAVENPORT, T.H.; BECK, J.C. A economia da atenção. Rio de Janeiro: Campus, 2001. FABULOSA IDEIA. Big data: seu cliente precisa de informação personalizada. 02 jun. 2013. Disponível em: http://www.fabulosaideia.com.br/blog/2013/big-data-o-seu-cliente-precisa-de- informacao-personalizada/ Acesso em 23 dez. 2015. GOOGLE MOBILE DAY. 2015. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=19n9u5fo-zc Acesso em 23 dez. 2015. IMMAGIO. O consumidor 3.0. Disponível em: http://www.immagio.com.br/noticia/16/o_consumidor_30/ Acesso em 22 out. 2015. INFORMAÇÃO personalizada vincula clientes. Deutsche Welle, Economia, 04 mar. 2002. Disponível em: http://www.dw.com/pt/informa%C3%A7%C3%A3o-personalizada-vincula- clientes/a-466399 Acesso em: 23 dez. 2015. LANKES, R.D. Expect more. E-book. 2012 Disponível em: http://quartz.syr.edu/blog/?page_id=4598 Acesso em: 23 dez 2015. LIMA, R.K. da S.; FARIA, M.S. Estratégias de marketing e comunicação para publicidade na cultura digital: formas de relacionamento com o consumidor 3.0 que causam engajamento. Disponível em: http://www.fapcom.edu.br/comfilotec/images/RAIANE-Estrategias-de-marketing.pdf Acesso em: 22 out. 2015. LIRA, S. Consumidor 3.0 Disponível em: http://www.publicitariossc.com/2012/05/consumidor-3-0/ Acesso em: 22 out. 2015. NEPOMUCENO, C. Consumidor 3.0. In: NEPÔSTS. Disponível em: http://nepo.com.br/2015/03/18/consumidor-3-0/. Acesso em: 22 out. 2015. RODRIGUES, A.; ROSA, J.L. Os novos consumidores de informação. Observatório da Imprensa, ed. 856, 23 jun. 2015. Disponível em: 25 Inventei o termo agora, mas o que quero dizer é que cada bibliotecário deve ser curioso e investigativo, sair por aí estudando diversos modelos de bibliotecas através da observação e pensar além do seu tempo, assim como Ranganathan fez com sua biblioteca em Madras, Índia, nos anos 30 do século passado. Ele foi um inovador! D e s i g n T h i n k i n g p a r a B i b l i o t e c a s | 70 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES centradas nas pessoas. Popularizado pela IDEO, consultoria internacional de inovação, o processo foi desenvolvido por várias escolas de design, centradas em resolver problemas de pessoas reais. A Chicago Public Library e a Aarhus Public Library, ambas bibliotecas públicas dos Estados Unidos, trabalharam junto com IDEO e o Instituto Melinda & Bill Gates para desenvolver uma metodologia de design thinking aplicada às bibliotecas. O resultado final é o Design Thinking for Libraries (Design Thinking para Bibliotecas)27, um guia que conta o passo-a-passo de como desenvolver um projeto nesses moldes, mostrando exemplos reais de aplicação em mais de 40 bibliotecas de 10 países diferentes, como, além das já citadas, a Bucharest Metropolitan Library, os projetos READ Nepal, Jamaica Library Service, Vinnytsia Regional Universal Research Library, entre outros. O toolkit ou “guia de ferramentas” pode ser adquirido gratuitamente pelo site do projeto. As bibliotecas que precisam inovar O guia é baseado em trabalhos realizados com bibliotecas reais, e levou processo do Design Thinking - que pode ser resumido nos conceitos de Entender, Idear e Prototipar - de forma facilitada para quem atua em bibliotecas. Segundo o guia, por meio de uma investigação profunda das necessidades das pessoas, a biblioteca pode inovar no atendimento à sua comunidade, tanto para aquela que já atende como para a que poderia atender. Para eles, uma biblioteca pode inovar em diversos aspectos como: ● Atividades e Eventos: Os bibliotecários já estão acostumados a desenvolver atividades de promoção de leitura e uso dos recursos da biblioteca, mas há muito espaço para chacoalhar essas atividades, por meio de um melhor entendimento das pessoas e a dinâmica do entorno da biblioteca. ● Serviços: Remodelação dos serviços oferecidos — na maneira como ela articula as tecnologias disponíveis e as necessidades das pessoas. ● Espaços: O ambiente físico influencia a maneira como as pessoas se sentem e se comportam. Criar novas experiências nos espaços da biblioteca não referem-se apenas às cores de paredes, é possível ir além e pensar em vários tipos de interações e fluxos nos diversos ambientes da biblioteca, às vezes indo além do espaço dela. ● Sistemas: Emergir o desenvolvimento de um sistema diferente para a própria biblioteca ou integrar serviços interdependentes que atendam aos diversos interesses e necessidades tanto do público quanto dos funcionários. 27 Design Thinking for Libraries. Disponível em <http://designthinkingforlibraries.com/>. Acesso em: 21 nov 2015. D e s i g n T h i n k i n g p a r a B i b l i o t e c a s | 71 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES Há outros exemplos que podem nos inspirar além dos citados pelo material, que também realizam práticas nessa linha. Um deles é o do sistema de Bibliotecas Públicas de Deschutes28, em Oregon nos EUA, inspirados no entendimento da comunidade e de sua dinâmica inovaram na maneira de oferecer serviços para seus usuários. Os funcionários viraram “bibliotecários comunitários” saíram para ruas e começaram a participar das atividades civis. Deschutes Public Library — Summer Reading29 A biblioteca se espalhou e ocupou outros ambientes da cidade e foi diversificando seus serviços pensando nas necessidades das pessoas como, por exemplo: ● Criando exposições de artes, clubes de leitura com autores, aulas de computação espalhadas pela cidade; ● Programa de serviços em assuntos como segurança no trânsito, autodefesa e prevenção de incêndios; ● Segunda-feira Criativa -  encontro onde as pessoas se reúnem para fazer de tudo, desde artesanato até produtos tecnológicos sofisticados com equipamentos de impressão 3D; 28 Disponível em: http://www.deschuteslibrary.org/. Acesso em 20/11/2015 29 Deschutes Public Library — Summer Reading. Disponível em: https://www.facebook.com/deschuteslibrary/ Acesso em 20/11/2015 D e s i g n T h i n k i n g p a r a B i b l i o t e c a s | 72 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES ● Caixas com livro nos pontos de ônibus escolares para aquietar a criançada na volta para casa; ● Abrindo as portas das bibliotecas mais cedo para os mais velhos que tanto apreciam aquele impagável silêncio que só uma biblioteca vazia e bem comportada pode prover; ● Entrega de livros para estudantes diretamente em suas escolas. Se há essa tendência da biblioteca sair do prédio, assistimos também a tendência de o prédio da biblioteca ser mais que o conceito tradicional de biblioteca. São as bibliotecas como “makerspaces” 30 - espaços usados para as mais diversas atividades, cursos e serviços relacionados à informação, cultura e desenvolvimento de habilidades de pesquisa e uso de novas tecnologias. Há quem diga que elas serão o centro de criação de novas tecnologias ao se equiparem com impressoras 3D e outras ferramentas.31 Outro movimento que chama atenção nos últimos tempos, especialmente no nosso país, são as bibliotecas comunitárias e populares construídas a partir de um desejo individual. São diversos exemplos, desde o funcionário de em açougue que resolve criar uma biblioteca popular32, da “menina que doa livros”33 em São Paulo até a garota de 7 anos que quis criar a própria biblioteca comunitária no interior de Alagoas, a Biblioteca da Mell34. Percebemos nesses casos, um interesse genuíno da comunidade por seus bens simbólicos - o que as bibliotecas e livros representam para elas para que eles mesmos queiram construir os seus espaços? Aplicando o design thinking em uma biblioteca brasileira: a Biblioteca do Poeta Com o intuito de desenvolver esse projeto em uma biblioteca brasileira, reunimos um grupo de interessados em discutir o processo de design thinking e aplicação em uma biblioteca. Um dos pontos chaves do processo de design thinking é a multidisciplinaridade das pessoas que participam das atividades. Trabalhando alguns anos com design thinking, percebemos exatamente isso — todos temos 30 Bibliotecas como ‘makerspaces’. Disponível em: http://portaldobibliotecario.com/2015/07/20/bibliotecas-como-makerspaces/ Acesso em 20/11/2015 31 Libraries Are the Future of Manufacturing in the United States. Disponível em: http://www.psmag.com/nature-and-technology/libraries-are-the-future-of-manufacturing-in-the-united- states. Acesso em 20/11/2015 32 http://www.t-bone.com.br/index.php/t-bone-cultural/biblioteca-popular/ Acesso em 20/11/2015 33 http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/08/11/menina-de-nove-anos-doa-livros-no-minhocao-em- sp-educacao-muda-vidas.htm Acesso em 20/11/2015 34 https://www.facebook.com/Biblioteca-da-Mell-1430077123959504/ Acesso em 20/11/2015 D e s i g n T h i n k i n g p a r a B i b l i o t e c a s | 75 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES poderíamos explorar. Por fim, formulamos os desafios, selecionando os temas que tinham mais recorrência e sobre os quais pudéssemos formular propostas diversas. Refinamos os desafios por meio de uma estrutura própria da metodologia, assim definimos o público-alvo, como mediríamos o sucesso da implementação das soluções (métricas), quais as atividades estavam relacionadas a ele e uma visualização. Entre uma reunião de trabalho e outra, participamos de um mutirão proposto pelos idealizadores e colaboradores do CICAS, ajudando na limpeza e organização básica da biblioteca. Foi um momento muito importante para nos aproximarmos ainda mais das pessoas que cuidam do espaço e entender a relação delas com a biblioteca e também para conhecermos o acervo com mais profundidade. Limpamos todos os livros, definimos coletivamente quais livros deveriam ser descartados, organizamos por temas e sinalizamos os locais com plaquinhas identificadoras dos temas. O dia começou com um punhado de livros e acabou com uma biblioteca. Essa era a nossa sensação e o que enxergávamos nos olhos dos nossos parceiros do CICAS, que haviam nos acolhido e ainda tinham dúvidas do que iríamos fazer por lá. Dia de Mutirão no CICAS A Biblioteca do Poeta finalmente tinha forma aos nossos olhos e ganhou um fôlego com os coletivos que gerem o espaço, todos passaram a ficar mais D e s i g n T h i n k i n g p a r a B i b l i o t e c a s | 76 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES esperançosos e acreditar que o projeto realmente pode causar um impacto na comunidade. Nosso projeto encontra-se na fase de criação de um plano de prototipação - nós vamos implementar um piloto das ideias que foram geradas no último encontro a fim de entender o que dá certo e o que dá errado na comunidade. Quais caminhos deveríamos focar e como podemos ajudar a comunidade a se apropriar do que é deles. A ideação foi feita utilizando a metodologia do design thinking e técnicas para gerar soluções por meio da colaboração. Focando nos nossos dois principais desafios que eram: ● Como poderíamos criar maior envolvimento da comunidade com o acervo? ● Como poderíamos melhorar a comunicação entre os coletivos? Primeiro geramos uma série de atividades para que as equipes se acostumassem com as mecânicas e para que buscassem inspirações em atividades análogas, como por exemplo “Como poderíamos atrair consumidores para comprar um nova bebida no supermercado?”. A técnica escolhida foi a do brainwriting pool, que permite a geração de muitas ideias em pouco tempo e que um construa na ideia do outro. Ao final, ficamos com 4 conceitos bem definidos sobre nossa atuação no CICAS, alguns voltados para organização dos coletivos e outros para aproximação do centro cultural com a comunidade. Sempre utilizando o espaço e buscando os elementos simbólicos da própria comunidade para que ela se aproprie e construa a nova biblioteca junto conosco. A implementação e nossos testes junto ao CICAS são cenas de um capítulo próximo. No entanto, fica aqui o registro de nossos pequenos passos em busca de uma nova biblioteconomia. O ponto é que não adianta ficarmos no âmbito da reflexão. Temos que colocar a mão na massa. Design thinking é o nosso instrumento de ação com propósito. E você, também acredita nesse encontro da biblioteconomia com o design? Para acompanhar nosso grupo: Reunião dos artigos publicados que inspiraram a criação deste: https://medium.com/design-thinking-para-bibliotecas D e s i g n T h i n k i n g p a r a B i b l i o t e c a s | 77 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES Nossa página no Facebook: https://www.facebook.com/designthinkingparabibliotecas __________________________________________ Paula Azevedo Macedo é bibliotecária especialista em Comunicação Digital pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Líder de projetos de inovação e especialista em Arquitetura de Informação e UX Design na INSITUM Brasil. Ana Marysa é de Souza Santos é formada em Biblioteconomia pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e especialista em Gestão da Comunicação em Mídias Digitais pelo SENAC. É UX Designer no Walmar.com. QUER COMPLEMENTAR? VISITE A PÁGINA DESTE CAPÍTULO: http://wp.me/P7k4jO-P D i a s d e l u t a | 80 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES desse pensamento e neste mesmo dia que o Movimento Abre Biblioteca começou, haja vista que ao chegar a casa criei o texto da Petição Pública e pedi ao Professor Raimundo Martins que ajudasse na revisão, enquanto isso Thiago criava a imagem visual da campanha e no dia seguinte publicava a Petição Online. Durante os dias que seguiram da Bienal começamos a colher assinaturas em folhas impressas pedindo a reabertura da Biblioteca. A organização do Movimento Abre Biblioteca teve origem a partir de uma reunião que envolveu além de mim, os colegas Katty Anne Nunes, Evany Nascimento, Thiago Siqueira, Gutemberg Praia e José Bustamante que juntos demos os primeiros passos. A luta foi longa e muitas pessoas foram se engajando em determinados períodos, contudo não posso deixar de referendar a contribuição da Professora de Arte Evany Nascimento que foi uma das mais entusiasmadas e atuou no planejamento e execução de todas as etapas. O Movimento Abre Biblioteca Antes de avançar por sobre a ação do Movimento em si, vale a pena contextualizar Manaus, tendo em vista que a capital do Amazonas se apresenta nas listas econômicas como a primeira da região norte e a sexta mais rica cidade do país. O segmento cultural da cidade está a cargo da Secretaria de Cultura do Estado, sob a administração do senhor Robério Braga que permanece a frente do cargo há mais de vinte anos. Mais de vinte anos é muito tempo e durante esse período foi latente a cultura do medo em Manaus. Quem teria a coragem de contrariar esse administrador? Um grupo pequeno, formado por bibliotecários, estudantes e uma profissional de Artes que partiram para a ação criando uma série de atividades que exigiam a definição de uma data efetiva para a reabertura da Biblioteca. Nós não estávamos reivindicando postos de trabalho, estávamos lutando por democracia informacional. Alguns jornalistas chegaram a perguntar se a luta era por que queríamos trabalho, a ideia não era essa e se fosse ainda assim seria justa, mas a grande adesão veio do fato de que queríamos uma cidade com acesso a biblioteca pública para o povo. As atividades duraram dez meses e era preciso instigar a visibilidade para o problema, para isso, dentre as mobilizações de rua realizadas podemos destacar quatro momentos significativos: O Abraço: Inspirado em uma ação do Movimento Marea Amarilla, ocorrido na Espanha, quando um abraço foi dado à Casa de las Conchas, Biblioteca Pública de Salamanca. No nosso caso, em Manaus, foi o momento que mais repercutiu na imprensa local e nas redes sociais. Iniciada com uma pequena passeata que percorreu as ruas do centro histórico da cidade, pedíamos por meio de cartazes e faixas a reabertura da Biblioteca. O abraço foi uma ação simbólica. Uma corrente, de mãos dadas onde tentávamos demonstrar o nosso carinho por aquele espaço D i a s d e l u t a | 81 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES público que nos estava sendo negado. A manifestação ocorreu no dia 16 de julho de 2012 e contou com a participação de professores da Universidade Federal do Amazonas (alguns do Curso de Biblioteconomia), integrantes do Conselho Regional de Biblioteconomia – CRB-11, políticos, amigos, familiares e o povo que parou para nos ouvir. Biblioteca na rua: O objetivo de cada ação era não deixar que a luta caísse no esquecimento e por isso tentávamos nos mostrar sempre presentes. O Biblioteca na Rua foi realizado em frente ao prédio da Biblioteca. Queríamos que as pessoas sentissem o que era ter acesso a livros, jornais, revistas e atividades culturais. O evento foi um sucesso, apesar do forte sol amazônico que fazia com que se refletisse o quão bom seria se estivéssemos do lado de dentro e não fora da Biblioteca. Mural Abre Biblioteca: Essa foi a mais fácil de todas as ações, pois convidamos dois artistas de rua para criar uma arte instigando a proposta sobre a causa, ou seja, sobre o pedido de reabertura da Biblioteca. A arte ficou por vários dias estampada nos tapumes e chamava a atenção daqueles que passavam. O Grito: foi a última ação de rua e considero, assim como O Abraço, uma das mais importantes. Realizada no dia 2 de dezembro de 2012, diante da presença de Omar Aziz, o governador do Estado, que iria reinaugurar uma praça. Dois dias antes, conclamamos as pessoas a irem para o local com suas camisas para juntos gritarmos Abre Biblioteca. Foi um momento tenso por que havia policiamento e até cordão de isolamento, mas gritamos e gritamos tanto que o governador saiu do seu lugar de honra para pedir uma trégua e prometeu nos receber em seu gabinete para tratar sobre a data da reabertura da Biblioteca, que de acordo com a nova promessa seria em janeiro de 2013. Após O Grito, nada mais foi publicado sobre uma nova data e o espaço foi reaberto às escondidas no dia 31 de janeiro de 2013. Por sorte, tenho fotos, inclusive do senhor Robério Braga saindo do espaço após a abertura das portas. Sobre o assunto, os meios de comunicações (jornais e TV) criaram matérias fabulosas contando sobre as melhorias do espaço e deram ênfase a algumas personalidades da casa. Em nenhum momento comentaram sobre as ações que envolveram as reinvindicações para a reabertura. Mas o Movimento Abre Biblioteca ganhou visibilidade, inclusive fora do Brasil. Por indicação de colegas bibliotecários, estive entre os 50 profissionais que agitaram a profissão no ano de 2012 e figurei no Movers & Shakers 2013, do Library Journal, nos Estados Unidos. Ganhei também o prêmio Genesino Braga pelo reconhecimento à luta pela reabertura da Biblioteca. Mas tudo isso aconteceu em meio a muitas horas de trabalho, bem como as parcerias firmadas com muitas pessoas que acreditaram e se dedicaram à causa. D i a s d e l u t a | 82 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: ATITUDES Quanto a Biblioteca Pública Estadual do Amazonas, logo nos primeiros meses funcionou relativamente bem, inclusive com horário de segunda à sexta, das 8h às 20h, e aos sábados, de 8h às 14h. Mas desde o início de 2015, foram reduzidos os quadros de horários e em termos de serviços, somente o trivial: consulta local e empréstimo domiciliar. Talvez seja a hora de começarmos a lutar por melhoria em termos de recursos humanos, equipamentos, acervos, serviços. Abaixo, deixo uma síntese em imagens de alguns momentos marcantes do Movimento. A situação das Bibliotecas Públicas no Brasil O surgimento das maiores e mais bem equipadas bibliotecas do país, salvo algumas exceções datam dos primeiros anos do século XX. É interessante constatar o quão pouco avançamos e me pergunto quais foram as bibliotecas construídas nos últimos anos que se firmaram como efetivamente representativas no Brasil? Nas cidades do interior, creio que nenhuma. Em algumas capitais temos o exemplo da Biblioteca Pública Estadual de Rio Branco, no Acre, ou da Biblioteca de São Paulo e as Bibliotecas Parque no Rio de Janeiro inspiradas no modelo Bibliotecas Parque da Colômbia.35 Em pleno século XXI é desanimador afirmar que o Brasil sofre com bibliotecas fechadas ou também com bibliotecas de “fachadas”. O Ministério da Cultura, juntamente com o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, no âmbito 35 Ao exaltar o feito, tive que fazer uma reformulação nesta parte do texto tendo em vista a informação publicada pela Revista Biblioo (em 24/11/2015) que alertava sobre o possível fechamento das quatro Bibliotecas Parques do Rio de Janeiro por falta de recursos para pagamentos de funcionários e manutenção dos equipamentos culturais em funcionamento. | 85 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: TECNOLOGIAS QUARTA PARTE TECNOLOGIAS A i n t e r n e t d a s c o i s a s n a p r á t i c a | 86 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: TECNOLOGIAS A Internet das Coisas na prática: desafios e oportunidades Moisés Lima Dutra Silvana Toriani Dentre as novas tecnologias surgidas nos últimos anos, poucas têm o potencial para mudar tanto e tão profundamente nosso mundo e nosso modo de viver como a Internet das Coisas. A Internet das Coisas – ou IoT, como é conhecida a partir do seu acrônimo em inglês (Internet of Things) –, é um conceito que propõe literalmente a interconexão via Internet de todos os objetos existentes, as chamadas “coisas”. Esta interconexão possibilitaria que os objetos “conversassem” entre si e “tomassem decisões” sem a intervenção humana. O que se espera com este tipo de abordagem é se obter, principalmente, automação de tarefas repetitivas e agilidade na tomada de decisões em situações onde pessoas não estejam presentes. Apesar do tom um tanto futurista da proposta, já existem aplicações IoT em funcionamento, em ambientes domésticos, industriais, logísticos, entre outros. Talvez estejamos mais perto de concretizar alguns cenários de filmes de ficção científica como “De Volta Para o Futuro” do que imaginemos. No entanto, como toda proposta dotada de tamanho potencial de impactar decisivamente em nossas vidas, nem tudo são flores. Há alguns questionamentos que se fazem necessários, os quais discutiremos a seguir. A ideia de se conectar objetos em rede não é recente. Em setembro de 1991, o então cientista-chefe da Xerox PARC norte-americana, Mark Weiser, já propunha esta ideia36. Para Weiser, uma tecnologia só poderia ser considerada efetivamente integrada ao nosso dia-a-dia quando ela desaparecesse, ou seja, quando passássemos a utilizá-la em nossas tarefas diárias sem nos darmos conta de que ela está presente. Esta afirmação ainda permanece atual, vinte e quatro anos depois. O autor afirmava que os esforços deveriam ir na direção de se tentar conceber novas formas de integrar os computadores no mundo, de tal forma que as 36 http://www.ubiq.com/hypertext/weiser/SciAmDraft3.html A i n t e r n e t d a s c o i s a s n a p r á t i c a | 87 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: TECNOLOGIAS máquinas passassem a fazer parte do ambiente humano de maneira completamente desapercebida por nós. Além disso, declarava que a computação ubíqua (aquela que está presente em toda parte) é uma aliada na resolução de questões relacionadas ao excesso de informação no mundo moderno, e que deveríamos procurar, cada vez mais, inserir as máquinas no ambiente humano ao invés de forçarmos as pessoas a se adaptar ao ambiente das máquinas. O termo computação ubíqua ou pervasiva, cunhado pelo próprio Weiser, em 198837, possui estreita relação com o termo computação vestível38, também proposto no mesmo ano, por Steve Mann. Este último propõe que os gadgets - ou dispositivos eletrônicos - estejam diretamente em contato com o usuário, como se este os estivesse “vestindo”. Após alguns anos de hiato, a computação vestível voltou a estar em voga nos últimos tempos. Para se ter uma ideia, a consultoria Juniper Research39 crê que o mercado de computação vestível deverá alcançar US$ 19 bilhões em 2018. Diversas startups brasileiras têm investido neste mercado, como a catarinense ATAR40, que produz gadgets vestíveis. O termo “Internet das Coisas” propriamente dito foi apresentado pela primeira vez em 1999, por Kevin Ashton, numa palestra da Proctor & Gamble41. Naquele momento, já haviam sido implementados alguns projetos que representaram avanços na área da computação ubíqua e vestível, entre os quais pode-se citar: a Trojan Room Coffee Pot42, uma cafeteira monitorada à distância; a WearCam43, que transmitia em tempo-real as imagens captadas por óculos conectados à Internet; e o projeto InTouch44, desenvolvido pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), com o objetivo de criar um “telefone tangível” a longas distâncias. O que fez, no entanto, com que ideias propostas há duas décadas ou mais retomassem tal impulso nos últimos anos? A respostas a esta questão reside no fato de basicamente termos resolvido três antigos gargalos tecnológicos: (i) a velocidade de processamento das máquinas; (ii) a capacidade de armazenamento de dados; e (iii) a largura da banda disponível na Internet comercial. Desde que Gordon Moore, cofundador da Intel, cunhou em 1965 sua célebre frase “a cada 18 meses a capacidade de processamento dos computadores irá dobrar, enquanto os custos permanecerão constantes”, que viria a ser conhecida como “Lei de Moore”, esta previsão continua válida. Em relação ao armazenamento 37 http://www.ubiq.com/hypertext/weiser/UbiHome.html 38 http://wearcomp.org/wearcompdef.html 39 http://www.redorbit.com/news/technology/1112976153/smart-wearable-devices-report-juniper- research-101613/ 40 http://www.atartech.com.br/ 41 http://www.rfidjournal.com/articles/view?4986 42 http://www.cl.cam.ac.uk/coffee/qsf/coffee.html 43 http://wearcam.org/myview.html 44 http://tmg-trackr.media.mit.edu:8020/SuperContainer/RawData/Papers/315- Tangible%20Interfaces%20for%20Remote/Published/PDF A i n t e r n e t d a s c o i s a s n a p r á t i c a | 90 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: TECNOLOGIAS Para Kellmereit e Obodovski (2013)48, três fatores capitanearão este processo: ● Miniaturização: dispositivos eletrônicos cada vez menores e detentores de fontes de energia potentes e eficientes; ● Custos: o preço dos componentes eletrônicos vem caindo consistentemente; ● Aceleração da adoção tecnologia sem fio: cada vez mais os dispositivos tendem a ser wireless ou sem fio. O último a desaparecer deverá ser o próprio fio de alimentação elétrica. E o profissional da informação, onde entra nessa história? Há alguns indícios que nos fazem refletir o papel deste profissional. Por exemplo, a biblioteca da Universidade de Chicago49, inaugurada em 2011, foi totalmente planejada para funcionar diariamente sem bibliotecários, desde que a maior parte das suas funções essenciais são automatizadas ou no estilo self-service. Outro exemplo é a empresa Netflix, que contratou bibliotecários para trabalharem com folksonomia50 e, desta forma, organizarem seus catálogos personalizados a partir de gírias e expressões do público mais jovem. O que restou então a um bibliotecário do século XXI? Acreditamos que o profissional da informação do futuro deverá estar capacitado para organizar a informação virtual, não importando onde esta se encontre. Além disso, deverá ser alguém adaptado e atualizado com relação às novas tecnologias que surgem todos os anos, que possua conhecimentos que o permitam expandir a sua visão além de um único repositório digital e se tornar um verdadeiro facilitador da construção do conhecimento pela sociedade. Deve ser também capacitado para trabalhar na vigilância tecnológica, na recuperação proativa da informação e na análise preditiva de dados, herdeiras dos antigos serviços de referência das bibliotecas. Este profissional deverá monitorar diversas áreas do conhecimento. O centro de vigilância tecnológica irá disponibilizar informações de orientação que ajudarão no desenvolvimento de produtos, serviços, parcerias, entre outros. O profissional da informação será o pensador que utilizará a IoT para facilitar seu trabalho. Temos clareza de que este profissional precisa avançar em outras áreas para estar preparado para o futuro. Entretanto, alguns desafios persistem até que este futuro esteja plenamente operacional. Chega a ser um paradoxo, mas assim como a IoT interconecta todas as coisas, da mesma forma pode gerar uma desconexão entre pessoas, sentimentos, emoções, noções de comunidade, entre outros. Se por um lado a IoT vai conectar demandas de informações que podem otimizar e facilitar a vida humana, por outro, ela poderá criar rupturas de relacionamentos e de cooperação 48 KELLMEREIT, D.; OBODOVSKI, D. The Silent Intelligence - The Internet of Things, Amazon Digital Services, Inc., 2013 49 https://www.youtube.com/watch?v=HK7E0ang48w 50 http://bsf.org.br/2015/04/07/vaga-para-bibliotecarios-netflix-brasil/ A i n t e r n e t d a s c o i s a s n a p r á t i c a | 91 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: TECNOLOGIAS mútua. É estranho como algumas tecnologias que se propõem a resolver e aproximar as pessoas acabam por criar abismos entre seres humanos. Pensemos nas mídias sociais, que tinham objetivo inicial da aproximação das pessoas, de socialização, e que aumentaram a violência, a xenofobia e o racismo. Será que a IoT vai aumentar o individualismo? Que sociedade formaremos a partir da IoT? Gostaríamos de ter as respostas de que a sociedade necessita para usar esta tecnologia para otimizar seu dia-a-dia e ampliar sua perspectiva de vida em comunidade. No entanto, para ficarmos apenas na questão financeira, temos dificuldade de usarmos o dinheiro e não sermos escravo dele. A busca pelo lucro a qualquer preço geralmente substitui a busca pela paz, pela sabedoria, pela felicidade. Precisamos ter cuidado para que o mesmo não aconteça com a IoT. Além disso, alguns questionamentos éticos podem ser evocados aqui. Imaginemos por um momento que nossa vida estará imersa quase que por completo na IoT. Será que o fator humano deve ser completamente excluído desta equação? Os sistemas computacionais estão preparados para tomarem todas as decisões por nós? Inclusive as mais importantes? E como ficam as questões de segurança? E se crackers invadirem o nosso sistema e tiverem acesso aos nossos objetos do dia a dia e puderem controlá-los à distância? E se o nosso carro, em vez de ir parra o destino inicialmente planejado, nos levar a algum lugar indesejado? E se os marca-passos puderem ser alterados por vândalos digitais e isso custar a vida de pessoas? Os crimes digitais têm aumentado ano-a-ano no Brasil51 e ainda não exploramos um décimo do potencial da IoT (MCKINSEY, 2015)52. Estamos preparados, enquanto sociedade, para um mundo ainda mais interconectado e online? Problemas de conexão também podem ser um entrave. Se a IoT estiver gerenciando serviços essenciais, como hospitais, enfermarias, asilos, escolas e acontecerem interrupções no fornecimento de energia elétrica ou algum servidor falhar, como fica? Haverá um plano B? Todas essas questões precisam ser pensadas, pois os sistemas deverão estar preparados para rodar sem falhas 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 por ano. Para finalizar, cremos que entre os desafios que teremos em relação a IoT, é não usá-la como substituta do contato humano. Precisamos avaliar cuidadosamente o impacto da IoT na sociedade como um todo. Acreditamos que uma sociedade mais saudável é aquela onde as pessoas pudessem ter e aproveitar mais tempo livre para lazer, família, amigos, esporte, arte, desenvolvimento científico, entre outros, pois essas são coisas que complementam e dão valor à vida. No entanto, a tendência atual não é esta. A progressiva digitalização e virtualização do trabalho nos últimos anos, aliada à miniaturização dos gadgets (smartphones, tablets e ultrabooks), teve o efeito oposto, qual seja, o de nos deixar 51 http://www.cgi.br/ 52http://www.mckinsey.com/insights/business_technology/the_internet_of_things_the_value_of_digitizi ng_the_physical_world A i n t e r n e t d a s c o i s a s n a p r á t i c a | 92 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: TECNOLOGIAS cada vez mais “conectados”. Some-se a isso a diminuição do contato social entre as pessoas e o aumento da violência virtual. Para o filósofo italiano Umberto Eco53, “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”, que antes falavam apenas “em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”. Eco diz ainda que, “normalmente eles eram imediatamente calados, mas agora têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”. Para finalizar, acrescenta que “o drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. Desta forma nos questionamos, será que a IoT poderá potencializar ainda mais esta situação? De uma coisa, no entanto, podemos ter certeza: a IoT é uma realidade com a qual, mais cedo ou mais tarde, tomaremos contato. Quanto mais preparados estivermos, melhores escolhas poderemos fazer. A evolução tecnológica dissociada da evolução da sociedade dificilmente fará do mundo um lugar melhor. Enquanto não evoluirmos enquanto indivíduos, a IoT ou qualquer outra nova tecnologia poderá muito bem ser utilizada negativamente e de maneira prejudicial, sem ética e sem moral. De acordo com Fell (2014)54, em 2003 havia 6,3 bilhões de pessoas vivendo no planeta e 500 milhões de dispositivos conectados à Internet. Ainda segundo o mesmo autor, até 2020 haverá 7,6 bilhões de pessoas no planeta e 50 bilhões de dispositivos online. Algumas estimativas elevam este número para cerca de 1 trilhão de dispositivos conectados à Internet em 2025. Qualquer que seja o prognóstico, o fato é que a chamada Internet das Coisas irá gerar impactos profundos na sociedade. ____________________________________ Moisés Lima Dutra é professor adjunto no Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutor em Computação pela Universidade de Lyon 1, mestre em Engenharia Elétrica e bacharel em Computação, ambos pela UFSC. Silvana Toriani é doutoranda em Engenharia de Produção e Sistemas pela UFSC, mestre em Administração pela Universidade do Sul de Santa Catarina e bacharel em Administração de Empresas pela Universidade do Oeste de Santa Catarina. Administra a Veliti Tecnologia Assistiva, além atuar como professora em cursos de pós-graduação. 53 http://noticias.terra.com.br/educacao/redes-sociais-deram-voz-a-legiao-de-imbecis-diz-umberto- eco,6fc187c948a383255d784b70cab16129m6t0RCRD.html 54 FELL, M. Roadmap for the Emerging Internet of Things - Its Impact, Architecture and Future Governance. Carré & Strauss, United Kingdom. 2014. QUER COMPLEMENTAR? VISTE A PÁGINA DESTE CAPÍTULO: http://wp.me/P7k4jO-T F a ç a a b i b l i o t e c a a c o n t e c e r f o r a d a b i b l i o t e c a | 95 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: TECNOLOGIAS (IPA) e pela Federation of European Publishers55, em 2015, foi constatado que a média de imposto recolhido para livros impressos é de 5,75%, enquanto para livros digitais é de 12,25%, representando impostos dobrados ao segundo conjunto. Dos 79 países pesquisados, 53 (69%) recolhem impostos sobre os livros digitais. Os livros impressos apresentam isenção ou baixos impostos na maioria dos países, visto que são produtos culturais e educacionais, cujo acesso deve ser favorecido pelos governos, que os consideram ferramentas para aquisição e transferência de conhecimento. Esta situação, porém, ainda não foi amplamente estendida aos livros digitais, que ainda recolhem impostos superiores em relação ao papel. Nos Estados Unidos as taxas sobre os livros digitais são definidas pelos estados, com parte deles optando pela isenção de impostos, enquanto outros consideram a cobrança na comercialização de quaisquer produtos digitais e não somente para livros. No Brasil um projeto de lei encontra-se em tramitação na Câmara dos Deputados visando atualizar a Lei no. 10.753, de 30 de outubro de 2003, que institui a Política Nacional do Livro, alterando a definição de livro e equiparando-o ao livro impresso, que acarretaria em isenção tributária. Em pouco tempo diversas empresas passaram a oferecer os serviços de aluguel ou assinatura, porém, alguns destes movimentos resistiram por curtos períodos e já encerraram suas atividades. Dentre os desafios observados pelas empresas que oferecem os serviços de aluguel ou assinatura de livros digitais, além dos altos preços praticados, apresenta- se a forte concorrência da Amazon, que subsidia os custos e promove em muitos casos a gratuidade no acesso de publicações lançadas por autores que utilizam a ferramenta de auto-publicação disponibilizada pela empresa, ou ainda, com o intuito de favorecer a venda do dispositivo de leitura Kindle. Indefinições relacionadas à comercialização em âmbito global, com revendedores impedidos de vender títulos fora dos países onde foram definidos os contratos com autores e editores contribuem com estas dificuldades. Destaca-se também a pouca flexibilidade dos editores, que desejam receber a remuneração total de suas obras, sem fracionar os ganhos de acordo com as proporções lidas de seus títulos, além da não oferta de lançamentos ao conjunto de títulos oferecidos. Recentemente, um dos serviços viu- se obrigado a aumentar os custos a seus assinantes que consumiam obras de ficção e outros gêneros populares, como autoajuda por exemplo, devido dificuldades em subsidiar a leitura dos consumidores que são leitores vorazes. Mas será que este modelo de assinatura realmente aplica-se para livros? Pode ser que não. Primeiramente porque o consumo de música, filmes e seriados – os primeiros atendidos por estes modelos - é diferente do de livros. Os produtos 55 INTERNATIONAL PUBLISHERS ASSOCIATION; FEDERATION OF EUROPEAN PUBLISHERS. VAT/GST on books & e-books: an IPA/FEP global special report. 2015. Disponível em: http://www.internationalpublishers.org/images/VAT2015.pdf. Acesso em: 4 Out. 2015. F a ç a a b i b l i o t e c a a c o n t e c e r f o r a d a b i b l i o t e c a | 96 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: TECNOLOGIAS destes segmentos são curtos, com canções possuindo, em média, quatro minutos, seriados variando de trinta minutos a uma hora e filmes com duas a até quatro horas de duração. Portanto, o consumo destes produtos é rápido, permitindo que o usuário possa usufruir de diversos itens durante a vigência do serviço. Outro fator a ser considerado é o esforço necessário. A leitura, mesmo que a de lazer, exige maior concentração que escutar canções ou assistir filmes. Normalmente a leitura exige um ambiente apropriado, com poucas interrupções ou ruídos, embora existam leitores que não necessitam de silêncio absoluto. O ato de ler é, em sua maioria, solitário e não coletivo, afinal diversas pessoas podem sentar-se para assistir a um filme juntas, porém a velocidade de leitura não é igual entre todos, assim como seu grau de envolvimento e concentração. Escutar música ou assistir programas e filmes na televisão são ações passivas, que exigem pouco esforço dos usuários, diferentemente do que ocorre com livros. A música e o mercado televisivo passaram a receber remuneração por fragmentos de produtos, com o licenciamento ocorrendo sobre as canções ou episódios adquiridos de forma avulsa, sem a obrigatoriedade de comprar álbuns ou temporadas completas. Existem livros que podem ter sua comercialização realizada de forma fragmentada, principalmente nos meios acadêmicos e corporativos. Em faculdades e universidades é comum os professores criarem pastas e disponibiliza-las em copiadoras, facilitando o acesso aos estudantes ao reunir em um único local a literatura recomendada a cada disciplina; mas observa-se que o mercado editorial ainda não está efetivamente considerando o pagamento da leitura parcial, embora alguns movimentos de licenciamento de capítulos venham sendo implementados por agregadores de conteúdo, nitidamente testando outras formas de remuneração. Ainda não é claro a atuação dos serviços de aluguel ou assinaturas em relação às bibliotecas. Diversas instituições já possuem livros digitais em seus acervos e a tendência é a ampliação da oferta dos títulos disponíveis, principalmente do material protegido por direitos autorais. A inclusão de livros digitais iniciou-se nas bibliotecas universitárias e foi, paulatinamente, expandindo às corporativas, públicas e escolares. Este movimento também é observado no Brasil, embora a quantidade de títulos disponíveis em português para bibliotecas ainda não seja tão extensa quanto a oferta em livrarias virtuais. O modelo de negócio de Assinatura permite a inclusão de pacotes de publicações, nem sempre com a biblioteca tendo autonomia para selecionar os títulos desejados. Independentemente de quem seja o fornecedor da obra, sua leitura será realizada por meio de plataforma, podendo exigir ou não o acesso à Internet durante a leitura, ou ainda controlando a quantidade de acessos simultâneos que podem ser praticados pelos usuários de acordo com a forma de licenciamento que foi definida na contratação. F a ç a a b i b l i o t e c a a c o n t e c e r f o r a d a b i b l i o t e c a | 97 IDEIAS EMERGENTES EM BIBLIOTECONOMIA: TECNOLOGIAS As bibliotecas possuem a missão de preservar seu acervo e disponibiliza-lo para consulta, garantindo o acesso à informação, sem custos aos usuários. Bibliotecas não alugam livros, mas os emprestam, sem cobrança de taxas ou impondo limite de quantidade de obras que podem ser consultadas. Algumas instituições realizam cobrança de multas caso a entrega de publicações seja realizada com atraso, mas esse fato é inexistente com livros digitais, uma vez que eles não são entregues com atrasos, com o título sendo excluído do dispositivo do usuário ao finalizar o prazo de circulação. As bibliotecas podem limitar a quantidade de livros que são emprestados ao mesmo usuário simultaneamente, mas seu objetivo é que os itens presentes no acervo sejam utilizados, favorecendo a maior quantidade possível de leitores. Os serviços de assinatura ou aluguel podem ser mais uma oferta de fornecedores às bibliotecas, porém devem permitir algumas flexibilidades como: - Incluir os registros contratados no catálogo online, consolidando o OPAC (Online Public Access Catalogue) como o ponto de descoberta das obras digitais licenciadas. Para que ocorra a inclusão dos títulos, os mesmos devem ser fornecidos no formato MARC (Machine-Readable Cataloguing), facilitando a importação de metadados; - Respeitar e dar autonomia à biblioteca para regular os períodos de circulação, de acordo com sua política; - Praticar preços competitivos; - Facilitar o acesso ao conteúdo aos usuários, com plataformas que não exijam a leitura conectada; - Ter condições acessíveis para o uso simultâneo dos títulos licenciados; - Permitir aos usuários a consulta e leitura dos livros digitais fora do espaço da biblioteca, com validação do usuário por meio de integração com sistemas de gestão de acervos ou uso de VPN (Virtual Private Network), por exemplo; - Ter opção de alterar o modelo de negócio dos títulos que a biblioteca deseja manter no acervo por tempo indeterminado aplicando, por exemplo, a Aquisição perpétua; - Poder oferecer aos usuários a possibilidade de aquisição dos títulos digitais, preferencialmente comissionando a biblioteca por transações comerciais realizadas pelos usuários, resultando em melhores condições no momento de renovação do serviço ou expansão da oferta de títulos. Os serviços de aluguel de livros digitais não precisam ser encarados como uma concorrência às bibliotecas, mas podem vir a ser mais uma opção de
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