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Filosofia e cosmovisão - mario ferreira dos santos, Notas de estudo de Bioquímica

mario ferreira dos santos

Tipologia: Notas de estudo

2016

Compartilhado em 14/07/2016

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danilo-dalla-vecchia-rocha-4 🇧🇷

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Baixe Filosofia e cosmovisão - mario ferreira dos santos e outras Notas de estudo em PDF para Bioquímica, somente na Docsity! 1º edição: Agôsto Je 1952 2º edição; Janeiro de 1955 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS INDICE Prefácio cics mreereienãs Irtrodução à Filosofia Geral ,...cicseseir Um apólogo para introdução ., As antinomias e o dualismo antinômico ...ccacrs " O pensar css ererranearaniararo ererarensanaas Ciência — Teoria do Conhecimento ....... qumnanaero mu. Ciência e suas possibilidades ..csemeereeriecacereareras Análise unitária da Filosofia ....ccesereeae Cosmovisão . eres A Razão . cenenaarieraearontaneça Anélise dialéctica das contradições .ssermercermerenross Princípios da Razão ....cecccererterenteress perenerraar Conceitos da Razão Dualismo antinômico como visão cientifica e filosótica do mundo .ececreeranasersasansaminierassaas pesava Tensamento matemático e elaboração científica da expe- riência ereeereeseeo arerassesrrana A consciência iccusenaseasssaninaearares eremereransade A Afectividade ....cccccescereeeesececerertes aemtenrtare A Estética e a Ética coreano e d o 2 0 q “ 6 6 Q O õ o 0 0 0 o Q o o o O Ç o o o Ú o o Ú Ú o O O FILOSOFIA E COSMOVISÃO 2º EDIÇÃO 12 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS tos alunos, transformá-los em livros, compreendi que não se deveria ministrar filosofia, no Brasil, seguindo os métodos de povos que têm uma disciplina de estudo muito diferente da nossa. Por essa razão, sempre julguei que, ao lado do tema mais profundo, havia sempro de considerar aquêles abismos de que éle me falava. Hoi essa a razão que me levou, ao pu- blicar êste primeiro livro da série de meus cursos de Filosofia, & usar uma linguagem dentro de certo rigor Elosáfico, mas considerando, na exposição, ésses abismos é nunca pressupor “ conhecimento, por parte do leitor, de cert:s aspectos ele. mentazes da filosofia, que devem é precisam desde logo ser esclarecidos, E foi pensando assim que executei essa obra desde uma explanação mais simples até, na Cosmovisão, (segunda parte do livro), tratar dos mais profundos temas da filosofia, embora ainda de forma sintética, com uma linguagem mais rigorosa. E possível quo anitos dos leitores, que já manuscaram li- veces de filosofia, e já tiveram contacto com o pensamerto filo- sófico, encontrem passagens demasiado símplos. Mas êsses formarão aperas uma parte dos leitores, e aão a maior, é deverão comprender que, se assim procede, é por considerar uma das características de nosso povo, O que me leva a usar um método que corresponda à nossa frdole é possa, por issu Inesmo, ser de maior e mais geral proveito. Nos livros sucessivos, que formam a série de minhas obras de filosofia, os temas passarão a ser tratados, já considerando O conhecimento do que é exposto neste volume, para poder avançar cada vez msis aneliticamente no estudo das matéri para encerrá-las em uma concreção global, que é o terceiro es. tégio do método que escolhi para o estudo da filosofia, é que a experiência já me mostrou ser o mais eficaz. Após o estudo sintético, segue-se a análise dos temas abor- dados abstractamente, para devolvê-los à concreção qe que fezem parte, evitando, assim, que o estudo da filosofia se tor- ne, 0 que en: geral tem sido, campo de clocubrações abstrac- tas para Lrausformar-se ruma ampla visão do mundo e numa metodolgia para a própria vida, FILOSOFIA E COSMOVISÃO 13 E nada melhor atesta a conveniência do método escolhido que o progresso verificado entre aquéles dedicados ao gado da filosofia, segundo as minhas axilas, o que, sem apelos a fal- sas modéstias, não posso deixar de considerar a molhor pag aos meus esforços. MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS CCLCCCOCccococeoLocectecesccoce a | EN INTRODUÇÃO À FILOSOFIA GERAL UM APÓLOGO PARA INTRODUÇÃO Que diramos ce quem quisesse dar valor apenas aos fec- tos sensíveis o proclamaase, por exemplo: “Basta a experiência dos meus sentidos”, E ainda ecrescentasse; “,..o que os meus olhos vêem é a única verdade, e elas são a medida de “da a verdade”, Qu então: “,..s6 o que ougo é para mim igorosamente exato”, Seria 9 mesmo se os sentidos, co volta- 1em-se para o cérebro, dissessem: “Tuas generalizações, tuas coordenações são puramente abstractas, meras elocubrações sem nenhuma realidade. Nós não precisamos de tuas reilexões sô- bre nossos actos; basta-nos apenas seniir, e nada mais. O que tu fazes é obra morta, anquilosade, estática; um pobre Fantasia, criado por si”, Pois bem As ciências espocializadas são como os senti des; são predominantemente crapíricas, experimentais. Mas, à nossa experiência não é apenas esta. A inteligência regula nossas actividades, escolhe, selecciona, descobre relições que os sentides não podem alcançar desde logo: mostra erros e ilusões que êles cometem e dos quais sofrem; corrige-os, melko- ra-os, adapta-os, ersina-cs a procederem com mais cuidado, sneita-os a eleançarem bases mais sólidas. Pois assim é a filosofia, e. e O que acima dissemos não esgota o que se entende por Filosofia. Toca de leve apenas no seu sentido, que é muito amplo, o qual iremos exaruiuar aos poucos, à proporção que penetremcs por êsses jardins maravilhosos que são as mais belas criações da inteligência humana. Mas, embora não es- gote o que se entende por Filosofia, serve para, de imediato, mostrar u utilidade do seu estudo, o que ora iniciamos. asansaasas 5, »5» 5 5 6 53 + > 22 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Mas, para alcançar tal fim, é exigível uma concentração do pensamento, uma tensão do pensamento (LL nota); ne- cessitamas, ao dirigir o pensamento, dar-lhe uma tensão que o concentre na luta contra essa barreira. O elemento dinâmico que descobrimos na filosofia, de- monstra que, para comprendêla, precisamos fazer filosofia, Muitos poderão dizer: “Nada de novo nos dizeis; já sabiamos tudo quanto dissestes”. E, realmente, êste é um dos aspectos mais interessantes quanto ao conceito da filosofia: é que éle nas revela o que já sabemos, porque todos nós, sem que o “saibamos”, Eilosotamos muitas vêzes. E isso porque, na filosofia, usemos o pensamen- to como instrumento para embrenhar-nos no próprio pensa- mento; pensamos sôbre o própric pensamento. Mas não pro- cedemos apenas assim, porque para procedermos assim, pre- cisamos antes viver o que fazemos. Não é origiral dizer-se que nunca compreenderunos o que seja à filosofia antes de havermos filosofado, isto é, en- quanto não tenhamos vivido a filosofia. E estamos vivendo a filosofia quando fazemos filosofia. 2... Ao lermos os filósofos, chegamos facilmente à conclusão de que não há um conceito único de filosofia, mas diversos. E por que? Porque êsses filósofos reproduzem suas vivên- cias da filosofia. Esse têrmo vivência, muito usado medema- mente indica-nos que, é que assimilamos, apreendemos e O que vivemos de uma coisa formam um todo, uma experiência afectivo. Há exemplos que ilustram bem o que seja vivência e da- xemos um, parafraseando o famoso de Bergson (filósofo fran- cês, 1859-1941). Digamos que alguém ouvo falar da avenida Rio Brancc. Pode, além disso, ter visto várias fotografias que reproduzam trechos dessa avenida. Pode ter dela ura noção, a mais ampla possível, FILOSOFIA E COSMOVISÃAO 23 Mas quando estiver nessa avenida, percorrê-la, terá dela uma vivência, porque além do que tenha aprendido, também viverá, um momento, essa avenida, Assim, para filosofarmos, precisamos viver a Filosofia, ter dela uma vivência. Ora tais vivências formam perspectivas diversas e, portanto, condicionam uma variabilidade de inter- pretações do que seja a filosofia. Per “ssc, surgem diversos enunciados, os quais teremos oportunidade de estudar e analisar, quando penetrarmcs nas correntes gerais do pensamento filosófico, o que nos permitirá enmpreesder por que nns vcêm 2 filosofia desta, c ontros da- quela maneira Não esgotamos, de forma alguma, o conceito de filosofia com a nossa explanação; epenas apontamos as notas que cons- tituem o aspecto mais geral do seu conceito. E não podemos penetrar mé a fundo, porque, para tanto, é necessário embre. nharmo-nos, mais e mais, vencer novos obstéculos, superá-los, invadir ésse mundo desconhecido de complicações, para poder- mos terra-lo claro ante a luz, que é o pensamento. E, pata melhor compreendermos o conceito de filosofia, vamos estudar kistôricamente como éle ss formou. Tá na 'íngua grega nr verbo, philosophein, formado de phileoo que significa amu, e de sophia, que significa sabedoria, o que quer dizer; afanar-se com amor na busca do saber, Assim, etimolôgicamente, a palavra Filosofia significa “amor à sabedoria”. Philos significa o que ama: filósofo, o que ame a sabedoria, o saber. Atribui-se a palavra a Hitigo- sas (572497 A. G.) filósofo grego, o nos seus discípulos, os quais a :saram em primeiro lugar, como também a usaram Heródot (historiador grego, 490-424, A. C.) € os socráticos. ( Denominam-se socráticos a todos cs discípulos de Sócrates, (filésofo- grego, 470-899, A. C, e àquéles fundadores de es- colas que desenvolveram as suas idéias). 24 MARIO FERREIRA DOS SANTOS O verbo philosophein significa em grego, esforçar-se, afa- nar-se por conhecer. Heráclito (586-470 A, 0.), diz que o Eilósoio é o que co- nheco a razão (Loges), que governa tudo, e distingue quem ama verdadeiramente o saber, de quem é mero emdito. Na acepção que expusemos de infeio, a filosofic. abrange todo o saber, mas já entre os gregos vamos encontrar, cada vez mais, um sentido mais específico do seu conceito, sem que por isso deixe a filosofia de ter como objecto de suas investizações o Todo, ou seja, tôdas us coisas, lodos Os sêres, E isso porque o conceito de Filosofia não se encerra ape- nas nas 11 notas por nós assinaladas, Vejamos: na fase mais antiga da humanidade, as grandes perguntas eram respondidas por seções poéticas da imaginação, por símbolos, por mitos, o que estudaremos mais adiante. Surgiu, então, outra fase: uma fase racional, em que se procurou dar uma solução recio- nal, isto é, pela razão, pelo raciocínio. No início, o saber era empírico, prático, dao apenas pela experiência. Dêsse saber empírico, surgiu a especulação, que era chamada pelos gregos de teoria, a qual vai formar o saber teorético. Anaiisemos: O pensamento não é sômente um meio de ação tendente apenas à prática, mas sobretudo a conhe- cer, a explicar (explicare). Teorit, para os gregos, ora uma contemplação, uma visão, uma contemplação raciunal, uma visão inteligível, Desta forma, o conhecimento tornava-se especulativo, teorético (1). Esclareçamos: filósnio, entre os gregos, por amor ao sa- ber, aspira à verdade, ao último limite da explicação, à expli (1) Chamavam os gregos theoria as filas dos habitantes das diversas cidades, que se aproximavam dos templos pare as festas religiosas. Como se uniam por um néxo, a palavra teoria tomou o sentido, entre os filósofos, de visão que conexiona um eoniunto de facios e as explica FILGSOFIA E COSMOVISAO 25 sação que por si mesma não exigirá mais respostas, porque es- clareceria tudo, explicaria tudo. Procurava o grego explicar, e « filosofia era para éle um responder, um respender por amor ao saber e que, portanto, aspirava à verdade. Essa a primeira fase da filosofia, Com S decorrer do tempo, eiu passa, désse amor ao saber, à ser o próprio saber, a própria sabedoria. Desta forma, q filo- sofia, com os gregos toma-se especulativa, teorética, pois um pensamento especulativo, como vimos, tem por objecto conhe- icar; vo contrário do pensamento, como meio de ação, que “ende à prática, à prática utilitária. Assim os gro- gos chamavam ce vida teórica, aquela que se opunha à prá- tica, como também a que se apanha à vida poética que, para Sles tinha um sentido prático, de criação prática, Mas é, todo saber, filosofia? Há um saber comum e um saber especulativo, procurado, buscado. O primeiro, o vulgar, chamavam os gregos de doxa, pala- vra que significa opinião, e o segundo chamavam de epistéme, gue é o saber especulativo, conforme a divisão proposta por Platão (filósofo grego, 4285-348, A. C,). Desta forma, a filo- sofia não era apenas q saber, nem um amor à sabedoria, mas um saber procurado, buscado, guiado, que tinha um métedo para ser alcançado, que era reflexivo, A filosofia, assim, perdia em extensão, pois, já não abran- gia todo o saber, mas ganhava cm conteúdo, pois, delimitava- se, contornava-se, precisava-se mais, tornava-se um saber teó- rico, reflexivo, especulativo, um saber culto, Este saber culto quer conbecer o que a realidade é. Encontra-se muitas vêzes a expressão “saber de salvação”, Bste saher é superior ao saber técnico, utilitário, e ao saber culto, teórico. O fim dêste saber é a divindade, a salvação do homem, na divindade PrPPRERANARACCOOOAFSGACACARCRCCCA COR cccoeeoeo boss Cos... 2 =": ++ -: "| 26 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Assim, entre os gregos, pois há religiosidade na sua con- cepção do mundo, o saber prepara à perfeição individual para à beatitude e para 2 felicidade. Nos neoplatôniccs, (escola filosófica que perdurou do T1º séc. D. C. em diante) a salva- ção se efetua pela identificação da alma com o Um, participa- ção extática (de êxtase) na suprema unidade divina. No cris- tianismo, a salvação é a redenção da alma do pecado; no bu- disrac, à imersão no nirvana, a aniquilação da consciência in- divídual. Na época actual, para muitos, o saber é cc salvação pelo progresso. Tem suma: a salvação é um transcender, um não limitar-se a “Bste mundo”, um ir além dêle, fora déle, ou néle, por sua mperação. O sentido da filosofia, como saber racional, saber reflexi- vo, saber adquirido, é o de Platão e, também, o de Aristóteles, (filósoio grego, 384.329, A. CG.) mas êste acrescentou maior volume de conhecimentos, graças às investigações que fêz e para as quais contou com muitas e valiosos auxiliares, Pexa Aristóteles, a filosofia era todo êsse saber. e incluia também o que chamamos de ciêr: Assim, a filosofia era a totalidade do conhecimento bumaro, do saber racional Na chamada Tdade Média, continta predominando êste sentido, mas a idéia central de Deus polariza a filosofia. Des- ta forma, é ela a totalidade dos conhecimentos adquiridos pela luz natural ou pela revlação divina. Os conhecimentos acêrca de Deus é do divino separam-se dos outros, e vão formar à Teologia, Esta encerrava a soma dos conhecimentos sôbre o divino, e a filosofia, os conhecimentos humanos acêrca das coisas da natureza. Este conceito da Fiosofia vai predominar por séculos é até hoje, em muitas faculdades, cla é apresenta- da assim. No século XVIL afastam-se dela as chamadas ciências particulares, com objectos e métodos próprios, que a pouco e pouco vão adquirindo uma especialização cada vez maior, para constituirem-se em novas disciplinas independentes. FILOSOFIA E COSMOVISÃO 27 Mas a filosofia permanece, no entanto, no corpo da ciên- cia, é forma uma síntese específica desta. Por exemplo, na matemática, há uma Filosofia da Matemá- tica, aquela que estudo as idéias de número, de extensão, de tempo e de espaço matemáticos, como há uma Filosotia da Fisico-quin ica, que tem por objecto as idéias de fórça, subs- tância, energia, extensão, extensidade e intensidade. £ vivendo-z, que iremos compreender tôda sua extensão e também tedo o seu significado para a vida, e compreendero- mos que a saher teórico, especulativo, eanbora se afaste «o saber técnico prático, sofre dêsto sua influência salutar € sôbre âste exerce grande influência, numa Teciprocidade pro- dutiva. Mostramos, até aqui, à Filosofia como um saber em geral. sem mostrar-lhe ainda tâda a peculiaridade, 0 que será revela- do no decorrer déste livro. O homem, quando começou a filosofar, fê-lo ainda sem saber claramente o que era a filosofia. Sb a posterior análise permitiria cue êle compreendesse melhor « diferença entro os juízos que formulava em face dos factos, Só quando distim- gniu um juízo de gôsto, meramente subjectivo, de um juízo de valor, e ste de um de e de nm ético, poderia o filósofo penetre na significação mais ampla do que é “valor, como, também, estar apto a fazer uma melhor análise de seu espirito, do Funcionamento do mesmo em suas polarizações, intelectuais e afectiva, (o que será amplamente examinado na obra “Noologia Geral”). Alcançado éste ponto, a análise do conceito e de seus conteúdos, do conhecimento como resul tado de um processo de cooperação entre o sujeito e o objecto, que em brave veremos, ievá-lo-i à captar o que é a frônesis, seus conteúdos, os fronemas, como um “conhecer” afertivo, o x objecto é diferente da primeira. tôni em que a relação «tj Já af estará o estudioso Ja filosofia a compreender mais profundamente as diferenças frequentemente apresentadas en- tre a chamada Filosofia Ocidental c a Oriental, que tantas con- trovérsias suscitaram. , az MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS giiências de diversas vivências e de condições históricas, étmi- cas, de classe, são observáveis em quase tôdas a: palavras. Dois homens, pertencentes a classes diferentes, poderão ter um sentido também diferente quaudo empregam a mesma pa- lavra. Para manter a continuidade e a universa.idade do pensa mento especulativo é nocessário um elemento imprescindível: a definição. A definição, para falarmos uma linguagem clara, é a res- posta à pergunta “que é isso?” O estudo da definição pertence à lógica. A definição é uma tentativa de fixar, de delimitar o senti do próprio de um têrmo. Autores há que usam os têrmos muitas vêzes descuidadamente, com sub-intenções muito pes- soais. Em síntese, a definição consiste em explicar um têrmo des- conhecido por outro conhecido, Queremos formar com ela uma identidade. Seria o mesmo que dizer: o têrmo tal é igual à definição tal; ou seja À = A. Costumam subdividir as definições em nominais, reais, jor- mais, materiais. (Esta subdivisão não é importante e, na ló- gica, é melhor esclarecida). Muitos julgam-nas fictícias. Os que aceitam as definições reais qualificam despeotivamente as nominais, chermando-as de tautclogias, isto é, repetições. Enquanto nos ocuparmos de têrmos e definições, estamos apenas no domínio das palavras e, se aí pemanscermos, es- tartamos confundindo o vefeulo de transmissão verbal com os fuctus. . FILOSOFIA E COSMOVISAO s3 Que é um fasto? Um facto não se define, intuiso, A palavra facto vem do latim factum, que signirica feito, acto, coisa ou ação feila, acoutecimento. É uma palavra para nós familiar. Emboza todos saibam o que é um facto, não é fácil dizer o que é, em que consiste realmente um facto. Facto é o que se nos apresenta aqui « agora, num ingar, num momento de- terminado, quer dizer, condicionado pelas noções de espaço e de tempo. Estar no :empo e no espaço é o que se chama de existir cronotópico (1). Nós não atribuímos, não emprestamos exis- tência ag facto; êle tem existência. Quardo os factos existem no espaço, éles são chamados corpos. Há outros que existem no tempo e são, por exemplo, os factos psíquicas, os estados de alma, etc. Os factos actuais constituem a nossa própria exis- tência e o âmbito no qual vivemos e actuamos. a fia ou da história, actos transcorrides censtituem os elementos da biogra- Convém: que saliensemos agora a emprêgo de dois têmos muitos usados, sobretudo na Filosofia moderna: etdérico e fde- tico. Eidótico vem de eidos, palavra grega que significa idéia. O eidético € imutável é intemporalmente válido, coma o estabelece Husserl (1859-1938), enquanto o fáctico quer dizer algo mutável e contingente, isto é, não necessário. É fácil esclarecermos agora o sentido dessas duas palavras. A primeira refere-se à idéia, que é imutável, como por exemplo a idéia de cavalo, que se refere a tudus us cavalos e não a um em particular. Esta idéia não sofre mutações no tempo: é válida intemporalmente, (1) De chrónos, tempo e topés, lugar, espaço, palavras gre- gas. Cronctópico é cquivelente ao que se dá no tempo e no espaço. e “ e t q € S º q e e e e < e e € € € “ e € < 6 e € e e e e e e e e * e . a . “ o e e e . s e » . » “ o e o id . e e e ” » e [ed » o o “ + Ja MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS O fáctico representa o que acontece, que é mutável no tempo e no espaço; uma idéia, contudo, não ocupa um lugar no espaço. Voltando ao nosso tema dos factos, podemos Cizer que quando êles são corpos, nós os intufmos por intermédio des sentidos. Quando são estados de alma, nós os tomamos imediata- mente, isto é, diretamente. Denominamos intuição de intus ire, ir para dentro, essa capacidade de darmos conta dos factos em geral. ” Há intuições sensíveis, intelectuais, afectivas, poéticas, místicas, eto, O conceito de intuição irá esclarecendo se, cada vez mais, à proporção que nos embrenhamos ro estudo da filosofia. Ao exarinarmos nm facto, atribuímos unidade e ostabili dade, e o separamos do contórno, Mas a unidade é relativa, Exemplo: um rebunho, que é Jormado de numerosos indivíduos. Nás buscamos a nnidade dos factos, por exemplo: o átomo é a unidade para a matéria inorgânica; a célula, para a matéria orgânica; a sensação, como pensam alguns, para os actos psíquicos. A ciência hoje náo dá a essa unidade um carácter de isolamento. Também a es tabilidade do facto é uma ficção, porque os factos surgem € desaparecem, num couttante “vira-se” (devir), transformar. se, não havendo portanto estabilidade. O isolamento e a delimitação dos factos são, em parte, ar- tificiosos, pois não há factos isolados, mas um entrosamento de factos. A unificação, a estabilização e a distinção são operações mentais que usamos para conhecermos o mundo rcal. Por que procede dêste modo a razão humana? A razão, desta forma, procura dar ordem ao que intuimos, por isa é que enumeramos, separamos e denominamos, damos nomes aos faetos particulares. FILOSOFIA E COSMOVISÃO E Agora perguntamos: como procede a razão para deminar êsse caos de econtesimentos? Como actua para ordenar êsse conjunto de factos? Qual o instrumento que usa para alcan- çar ésse domínio? O conceito, eis o instrumento. I Se observarmos bem es palavras, veremos que elas expres- sam conceitos: casa, cadeira, livro, etc. Para distinguir os conceitus é nevessério uma note, ou mais, que os individualize. Não devemos confundi- o concei- to com a palavra que o expressa. O cunceito é produto de 1 ecunciade, um uma operação mental; a palavra sina! verbal. Por isso Cevemos evitar cair no verbelinmo, que consiste co emprêgo exagerado de palavras, sem conteúdo apenas o 8 preciso, Assim como não devemos confundir o conceito com sea enunciado verbal, não se deve também confundilo com o facto, Nãv há dúvida que os conceitos decorrem dos factos, mas, no conceito, há uma abstração do facto. No conceito, já despojamos alguns elementos do facto, fazemos uma abstração mental (de abs trahere, latina, trazer para o lado). O facto tem existência no tempo e no espaço, q conteito só caiste quendo pensamos. Intuínos o facio; pen- samos 0 conceio, Tivemos ocasião, no que Cistemos acima, de penetrar em inúmeros pontos que, tratados sinlêticamente, estão agora a exigir uma análise mais completa. Não iremos estudar o conceito sob tados os seus aspectos, porque dizendo êle mais respeito à lógica e à psicologia, é lá que teremos oportunidade de examiné-lo. O homem, para dominar os acontecimentos, necessitava dar-lhes uma ordem que permitisse ver claro por entre os q DOiiO a € FILOSOFIA E COSMOVISAD sr factos. E o instrumento para alcançar essa crdenação foi o conceito. Arulisemos a sua gênese: Se u realidade do mundo que nos esrca fósse uniforme e homogênea; se tudo nos parecesse igual, sem qualquer nota de distinção, de diferenciação, não poderíamos nunca clegar à conhecer os fectos, por que n acontecer seria apenas um grande facto, Mas sucede que a realidade apavece-nos hetexogênea- mente diversa, diferente » diversificada. Se a côr dos factos (corpóicos) fósse a mesma, iupossível seria chegar a com- prender que há côres, de dar vm come a uma cdr que peree- Lemes distinta de outia. Certas putes da realidade visível dão gos olhos uma impressão dz outro gênero de outras partes da realidede. or isso, perecbemos côros diferentes. Eis aqui, porque podemos comparar um objecto de uma côr com a de outro objucto, e verificar se sc parecem, é perceber também sc há diferenças, pois nunca poderíamos chegar a perceber que alguna coisa se parece, na côr por exemplo, a outra coisa, se não existissem objectos de côres que se desassemelham, que diferem. Logo à compreensio do semelhante, do parseido, é contemporânea da do diferente, pois também não podemos compreender o diferente, o diverso, se não nos fôr possível, couzemporâneamente, coryparar com o semelhante, o parecido. Uma perguita é possível aqui: é a semelhança anterior à diferença? Para alguns filósofos, a percepção do semelhante é ante rior, no homem e nos animais, à percepção das diferentes, co- mo por exemplo o afirmam Maiac de Biran (1766-1804, filé. sofo francês), e Bergson. Nossa sensação é acempanhada de memória, e uma sensa- gão evoca outra, passada, que sc lãc assemelha. A compara ção é uma associação. Hume (David: filósofo inglês) salien- ta que as associações por semelhança são mais importantes e numerosas que as outras, além de serem mais fáceis e mais de acôrdo com a nossa natural preguiça mental, A criança, por exemplo, apreende em primeiro lugar as semelhanças. a mA ASsAnANRNASNANAS AC ANNANDANANANDA 42 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS apenas julgando que há uma identidade qualitativa, quando, na realidade, é uma igualdade como a enterior, Voltando ao pensamento de Leibnitz (filésofc alemão, 1646-1716), vimos que le sustentava que duas coisas nao po dem ser duas senão quando oferecem alguma diferença de qualidade, que devem diferir por outra coisa do que apenas o uúmero, quer dizer, por “denominações intrínsecas”, o que ex- plicaria a prodigiosa variedade da natureza. Rosta-nos agore comprvender a cemeltença, já que des- cartamos esta idéia da de identidade (princípio da razão, cujo “studo teremos ocasião de fazer) A semelhança, segundo Lalande, é o carácter de dois ob jectos de pensamento que, sem ser qualitativamente idênticos, apresentam, corturln, elementos ou aspectos que podem ser charaados “es mesmos”, Ora, como conceber duas euisus como semelhantes se entro “las não houver aspectos ignais e ontios diicrentes? Sim, porque se são houvesse us curactéres diferentes, clas seriam idênticas. Na natureza, na realidade do homem, não hi idor- de pura, há semelhança, Fortmtu a própria senclhança, como facto, ou seja. ficticamento, implica o d'ferento For oatio lado vimos que todo existente é singular, indi- vidual, Este livro é êste livro, e não entro Tivr ; aguela mesa é aquela mesa, c não esta mesa. Neste sentido êste livro é idên- tico a si mesmo, porque não é cutre, Aquela mesa é idêntica a si mesma porque não é outra, (O carácter de “ser ontro” é deneminaco em filosofia pelo têrmo a!teridade, e se opõe ao de identidade). Sá há identificação consigo mesma quando so “rata da mes. ma coisa (1). :1) Veremos, em kreve, que essa identidade consiste no carácter de um indivíduo cu de uma coisa, de ser a mesma nos diforentes momentos de sua existência, pois ess mes ou êsie livro não pormanecem sempre os mesmos, estálicamente os mesmos, pois apresentam distinções, como veremos. - FILOSOFIA E COSMOVISÃO 43 Qualquer parte da realidade só pode ser considerada idên- tica a si mesma, no sentido de que não é outra, Só neste sen- tido, Noutro sentido, ela é diferente de outrz coisa, assim como êste livro é diferente de qutro livro do mesmo título e edição igual. Singuarmente considerados, ambes são dife- rentes. No entanto, há algo que os assemelha, pois tanto um como outro, embora distintos no tempo eu nº espaço, pois um ocupa um lugar difererte do outro, ambos apresentam as mes- mas qualidades Que nos sugere tudo isso? Está resolvido o probloma? Absolutamonte não, Ixaminemos mais: O hemem em face da voulidade percebe que esta não é homogêncamento igual. Ele apresenta diferenças, como já estudamos. Mas essas diferenças são intensivamente maiores ens ou menores, vais uma pedra e outra pedra apresentam meno- res diferenças que uma pedra c rio, Estudam os psicólogos uma lei que êles chaunam de “let de semelhança” ou também “lei da similaridade”, nome que dãe à disposição geral do sspír o «que consiste em cencar um obiveto percebido au rememorado, ante a idéia de um objecto semelhance, nta ao AnaBisemor: o que há na natureza, o que se pres homem, tem caracteres ques ver o homem se cada experi! emelham. Como poderia vi- incia fôsso semore uma nova é periência” Como podera Ge maul a sua existência se ti- mo algo novo? Bergson esempl'ficava imaginando um homem que houvesse perdido vessc que experimentar cada facto totalmente a memória, c que não tivesse qualquer memória, Quando éle praticava um acto, esquecia-o totalmente logo após mm à prática, c o asto seguinte era-lhe inteiramente novo, & fisse homem não mesmo, pais não lhe guiaria a «qualquer ligação com os actos anteriore poderia tiver, se entregue a s mesvória nenhum de seus actos. Poder-se-ia queimar no fogo tantas vêzes quantas dêle o aproximasse; morreria do fome, pois não guardaria a memória do alimento para satisfazer aque- la necessidade imperiosa. 44 MÁRIO FERREIRA DUS SANIUS Nolemes que na natureza os corpos ocupam um lugar e têm uma dimensão Que êsses corpos são mais brardos ou mais duros, isto é, oferecem maior ou menor resistência ao tncto, Uns, ao receberam a luz, emitem côres, ou sejar brações Jumninosas, mais ou menos intensas. A memória tem graus diferentes, como veremos. Mes verificamos que existe entre a côr verde de tuna árvore e a côr verde de outra árvore, menor diferença que entre ela e a côr cinzenta de nto animal. vio Assim, verificou logo o homera que entre à cór do uma árvore, ou melhor, entre à árvore-esta o à árvoro-aquela, havia um quê que se asscuiclhava, isto é, antas participavam de mma seme- lhançe maior que a da árvore com a do animal. Os graus de diforeaça foram pesmilindo uo homem perceber as semelhar- ças, Ora, era um imperetivo vital para 0 homem, coma o é para os animais superiores, simplificar u experiência, classificar a experiência, isto é, reunir os semelhantes on às menos dife- rentes entre si e excluir os mais dilerentes. Vejamos eo:no so processou êsse trabulho de diferenciação, O homem comparou uma árvore a ontra árvore, Elas não eram “otalmerte iguais, quer dizer, uma não pedia identificar- se com a outra. No ertanto, nessa comparação, verificou êle que a côr do uma se assemelhava À da outra, Se as duas ár- veres eram diferentes, havia entre elas um onto em que uma perecia à outra. O que era dado pelo parecido, o homem re- tirou, separou de uma e de outra, ou seja, abstraiu, que sigui- fica separar, do verbo lutino abstrahere. Essa Junção de comparação, nenessária para a vida do do- mem, criou no seu espírito o que poderíamos chamar de “6r- gão”, aproveitando o têrmo da fisiologia para a filosofia, num sentido, porém, um tanto mude. fisse órgão, essa função de comparação do espírito, é que gera posteriormente, no homen, & ração. Essa comparação é incdiala, intuitiva, À razão activa-se num trabalho de comparação, de pro- cura da identidade, como teremos ccesião de estudar mais adia te, A razão “sobvevém” posteriormente, no homem, como po. demos observar nas crisaças. Em face da natureza, o homem FILOSOFIA E COSMQVISÃO as primitivo intufa os factos. Mas tais factos mostravam conter algo que parecia idêntico, E a vazão, já desenvolvida, que abstrai êsse “idêntico” o lhe dá um nome, ema denominação comum, que é o conceito, Em “ace do facto verde da árvore tai e o do facto verde da árvore tal-outra, e de muitas outras árvores, a razão abstrai o cug há de semelhante numa érvore e noutra árvore, que é o verde. Essa nota comum dz cár da árvore, de outra e de on. tra, permite formar o conceito verde. Na sua forma, esta ár- vare era semelhante âque'a outra e a mais outras. Absrain de uma drvore, e de outres um facto comum nelas que con- sistia em ser um corpo enraizado na terra, com tronco, galhos, fôlhas, etc, é deneminou-o de drpors, Eis surgido o conceito ca árvore. E assim quarto aos galhos, quanto aos troncos, «quanto às folhas. Não é difícil verificurmos ainda hoje, estre nós, que cada dia surgem novos conceitos ce factos específicos, que antes não tinham tum nome. Por exemplo; descobre-se um facto aovo é logo sentimos a necessidade de lhe dar um nome. É que já tendo surgido o conceito, que é uma operação mental, precis mes uma palavra que o enuneia, que é o têrmo correspondente, É fácil ver. ficar-se também que certos conceitos, que até então eram gerais, alargam-se em novos conceitos especiais. É que a busca da semelhança é cada vez mais exigente, Por exem- plo: no conceito de animal, encerramos todos os sêres vivos que à zoolvgia considera animais; mas entre êsses estão outros come us vertebrados e os invertebrados. Estes dois conceitos já não são tão gerais como o ds animal; são mais específicos, E da característica de nosso espirito desdobrar-se em duas a que procura o semelhanto o a que porcebo o dife- Enquanto à primeira função, a de comparar para apreen- «der o semelhante, é a que melhor corresponde à natureza do komem, per simplificar e assegurar uma economia ao trabalho fasso nasna a asas a 48 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS mental, a segunda, a de aprcerder o ciferente, o individual, é-lhe mais cansativa. Por isso, a racionalização do homem: é constante. Mas, por essa racionalização, penetra o horrem no terrenc das abstrações, pais, como veremos, a ra; trabalha tom abstrações & tende para o parecido e, daí, para a Identida- de. A razão, por sun exigância do semelhante, cada vez maior, chega à identidade, onde tódas as semelhanças seria) abscluta- mente igueis. O movimento, a fluidez, a transforma tante das co tendência À ção cons- es, que nus revela iu intuição, chocam-se cmn a abificar, a parar, a identi da razão, A ra: ar, a homegencizar funciona com o parecido e a intuição cum o diferente, por isso cada uma ferma, a posteriori, sens pró- prios corceitos. Em nossa obra “Psivogênese”, estudiunos porarenas izada- mente a formação désso proceso de polarização da intelectueli- dide, em intuição e re “Noclogia Geral”, que é a ciência do espírito (1). ão, como também o anmlísanos na (15 Surge aqui uma grande problemática que exigávia uná- lises mais vastas, O que é examinado ras obras específicas, que compõem. a nossa “Enciclopédia das Ciências Filosóficas e So- ciais”, Assim, a formação da conceito, como esquema abetracso- -noético e a sua fundamentação nos factos, bem «omo o pru- blema das universais, são temas que exigem outros estudos que vião a seu tempo. na III AS ANTINOMIAS E O DUALISMO ANTINÓ- MICO — DUALISMO CGNOSEOLÓGICO E ON- TOLÓGICO — CONCEITOS — ABSTRAÇÃO — EXPERIÊNCIA Convém salientar que um conceito, ao incluir um conjunto de factos singulares, exclui outros. Eis per que não podemos pensar num conceilo sem seus epostos, Quando conceituamos veriebrados, excluímos os in- vertebrados; quando corceituamos 9 idêntico, exclhíimos O di ferente; quando conceituamos homem, exeluímos tudo quanto não o seja “Tal dualismo é uma decorzencia do acto racional Ce conceituação, ou seja, de dar um conceito, uma denomina ção comum, a um cexte número de [actos que nus parecem idênticos. Ao procedermos assim, já fazemos uma exclusão, quer dizer, separamos tudo quanto não é semelhante ao que vonceituames, Per isso, tado o conceito inclui o que deseja denominar exclui tudo quanto não possa enquadrar-se nessa denominação. Esse dualismo é, portanto, fundamental da estrutura lógica da nossa mente, que é obrigada a abstrair, polarizando-se em opostos. Ao criar um conceito, surge espontâncamente o contrário: À afirmação surge sua negação. É isso mais evidente quanto às qualidades. Estas, quando conceituadas, excluem o que lhes é contrário, e logo o conceito oposto, como também aos substantivos abstractos. Assim: Bem e Mal, Liberdade e Nocessidado — Absoluto e Relativo, Abstracto e Concreto, etc. o MÁRIO FERREIKA DUS SANTOS uma apreensão imediata do facto. No conhecimento há um reconhecimento, por isso exige a memória. Pois só se conhe. ce 0 que já se conhsecu. É um conhecer de novo, pois o que se dá pela primeira vez não podemos ainda conhecer, para tal necessitamos clussificir, dizer u que é O acto da comparação não é ainda um verdadeiro conhe- cimento racional, A formação lenta da razão nasce da aplicação constante e espontânea do nosso espírito em direção ao semelhante, To- dos os animais tendem para 0 conhecido, o já percebida, como um irstinto de autodefesa. O homem procede da mes- ão é uma sedimentação posterior, sôbre es- ma forma, À ma quemas, quando a conceituação, à elaboração dos conceitos, spívito já pode funcionar por eutre um atinge tal gra, que o mundo de discurso, um mundo de conceitos, com seus cuun- ciados vesbais (1) A ra7ãe, por tender co semelhante, ao parecido, ao homo- gêneo, gera constanlemento una visão do mundo dirigida para o idêntico, enquanto a intuição tonde para o individual, 0 diferente, o helerogênco, o variante, q plural, êsse dualismo antinômico é constitucional do rosso espírito. Se é êle não apeuas um resultado do modo de conhecer ou sé o próprio ser é dual, é penetrar em outro terreno, Muítas filásofos dis- pulam entre si a subordinação de um polo a outro désse dua- de am a outro. Nesse raso admi- lismo, ou, então, a reduç lem à dualismo, mas hierárquico, ou ent outro, isto é admitem que um dos polos é apenas uma mani- vs a que almite 4 ceduzeim um do Testação co outro. Tunbém cabe ouira posi à homogeneidade de nosso espírito, o qual, ante 4 hetercge- ncidade da realidade, actua dusilisticamente para apreendé-la, Fsta é a posição predominante na filosofia, E temos as três ais (1) os que admitem des clássicas que decorreu de post (1) Ta: afirmativa não implica que a rezão (rationatitas) seja criação da intuição. Sua aciualização, no homem, é condi- cionada pur aquela, que actu? como factor precisponente, mes sua emergência é mais longingus, e ainda não pode ser estudada. FILOSCFIA E COSMOVISÃO 53 que há uma distinção entre natureza e espíritos, são os espíri- tuulistas; (2) os que vão adinitem essa dislinção, que são os materialistas, ste. e (3) finalmente os que acmitem a primazia da espírito, pois, no conhecimento, 9 pensamento sé pode co- nbecer 0 pensamento, não sendo as coisas mais do que nussos próprios pensamentos — os idealistas, Quanto aos que admitem a existência da realidade dos tos de nosso conhecimento, muitos afirmam que esta é antida pela veracidade divina, como Descartes ( (Josefo F-1680) pu pela karmonis praestahelecida, como ob ga francês 1 Leibuita, Quanto à posição que admite uma antinomia do nosso es- pírto e da natureza, essa é de menor influência na filosofia Podemos salientar a figura de Ieráciito, em parte, as de Prou- don ce Kierkegaard (Diramarquês, 8121855), pró nós, Vimos que os conceitos partem sempre de factos. For mais abstrafdos que sejam, sempre encontramos um xesquício de feetos, reais ou psíquicos. Quando o ponto de partida é um jacto real, o conceito conserva mais ccrporeidade, por exemplo fivro; quando de factos psíquicos, o fato real se es- mplo, amor. fura, por es Mas há conceitos acs quais a abstração ultrapassa q term- po eo espaça, ou seja, não têm 0 apoio dêstes, é apenas po- dem ser pensados, não intuídos. São us chumados conceitos negativos. Exemplifiquemos: a intuição nos mostra que na reatílade há fluidez, variação, mensurabildade, finitude, condi cionalidade. A razão cria conceitos próprics, negando o que nos mostra à fu(uição, « assim temos: incomensurabilidade, infinitude, incendicionado, invariante, etc, os quais não tém conteúdo positivo, tético (da palavra grega thetikós, que signi- fica posição). Queremos salientar que os conceitos da razão são, em regra geral, formados de conceitos negativos, como vs que vimos acima, mesma quando !hes falta a partícula nega- ” ee sr a 54 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS tiva. Por exemplo: absoluto, que so define como incondicio- nado, não-condicionado; átomo, (tomos que significa frag- mento, parte, c «, alfa privativo, em grego), quer dizer não fragmento, o que não-tem-partes, Não so deve confundir com os concei s negativos, os que têm conteúdo empírico, como por exemplo: Não-su, Há ainda os conceitos necessários, grande problema da metafísica: são as categorias. Para Kant, que os estudou, são as categorias conceitos fundamentais do entendimento puro, são [ormas « priori, quer dizer, que estão presentes antes da experiência do nosso conhe- cimento, 6 representam tôd: menta disenrsivo. s funções essenciais do persa- Kant ostabolece que todo juízo pode ser considerado de- baixo de quatro pontos de vista: quantidade, qualidade, rela- ção e modalidade, e de cada um dêsses pontos de vista são possíveis três classes de juízos. Vamos enumerálos: Quantidedo Qualidade Relação Modalidede Unidade Atirmução Substância — Realidude — Não reatidado Pluralidade + Negação Causalidade Possibilidade — Impossibilidade Comunidade Necessidade — Contingência lidace Liritaç Essa classificação de Kant é uma classificação modificada da apresentada por Aristóteles. Muitas outras foram apresen- tadas posteriormente, O que nes parece fundamental para compreendermos qual a significação dessas categorias na filo- sofia, consiste em serem clas necessárias à razão para o conho cimento, ou seja, não são conhecidas, são dadas no conneci- mento, mas precedem a éste como meio de classificar, com- preender, ordenar o conhecimento raciona!, que é formado por conceitos e, portante, por abstrações. A tradição chama-as de conceitos universais, dos quais os mais importantes sio cs de substância e causa. É fácil comprender porque se chumam FILOSOFIA E COSMOVISÃO g universais. Nada podemos peasar sem referir a algo que é, ou a um antecedente. Ess: universalidade é um traço do «onhecimento humano, um traço da razão. O processo lógico exige uma suzão suficiente, Essa razão suficiente é e relação necessária de am objeo- to ou acontecimento com os outros, Em virtude dêste princípio, consideramos que nenhum facto pode ser verdadeiro ou existente, e nenhuma enunciação verdadeira, sem uma razão suficiente (Dbastaute) para que seja assim e não de outra forma. Essa a definição de Leib- silz, A rarão, coro cetua sóbre esquemas da compaxação do semelhante, tende, em seu desenvolver, a elaborar o conceito de idêntico. A razão suficiente Jiga, coordena wm facto a cutro, pro- cura entre êles um homogênco, um parecido, uma “razão su- ficiente”, Sc não o encontrar, cla não pode compreender. Dessa forma, a razão necessita das categorias, quer dizer, de clementos homogêneos, que liguem um facto a outro, Ve- jtmos por ex: o conceito de substância, uma das categorias cle relação. A substência é o que está sob as coisas, 0 que sub-está, o que estt atrás dos fenômenos. Por exemplo, êstc livro que temos à frente, pode ser de côr branca ou escura, ter tais ou quais dimensões. Mas subs:ância é o que fica atrés de tudo isso, depois de separados os atributos que encontramos neste livro. Demos um outro exemplo: temos aqui um pouco de cêra à nossa frente, Tiremos tôdas as qualidades que apre- senta, imaginemos que a csquentamos, a derretemos, a fundi- mos, a esfriamos e vemos que se solidifica de novo. No em- tante, permanceo sempre alg» que é substância: a cêra, a 56 MARIO FERREIRA DOS SANTOS mesma cêra. As coisas mudam, transformam-se, mas há sem- pre algo de permanente, algo que é invariante, é a substância, que permanece sempre a mesma (1). Do onde decorrem ésscs conceitos? De factos singulares? Não; ce relações constantes entre os próprios factos. Expres- sam éles coexistência e sucessão, nexos espaciais c temporais, que estabelecem uma interdependência entro a totalidade do existente, Vejamos, por exemplo, o quo éa quantidade, Aris- tóteles dizia que à quantidads é o que responde à pergunta Quanto? Ora, à razão eonecie q quantidade como algc ho- mogêneo, por isso divisível em partes. A quantidade é a pos- sibilidade de mais ou de menos. Para termos o conceito de quantidade, despojamos as coisas de tôdas as suas qualidades, que são helerogêncas. A quantidade é sempre nomogênea. fisses conceitos universais são fecumdos quando apl'cados a um caso concreto, por nos permitirem a classificação, que é a base do conhecimento, Quando tomados como factos reais, independentes do pro- cesso lógica, aparecem-nos vazios. Pois podemos pensar a substância, a quantidade, mas não podemos mtuíis, Vejamos, por exemplo, a causalidade e o seu princípio, que nos obriga a formar ums cadeia do causas sem fim. O primeiro elo nos é impossível alcançar. Para tal, temos cue admitir uma causa sem causa, uma causa sui, uma causa de si mesmo. Assim, quando tenho um objecto e quero conhecê-lo, pro- movo um conhecimento categorial, óbservando 0 objecto, se- guudo cada categoria. Vemo-lo como substância, como quan- tidade, como qualidade; so forma uma unidade ou uma plura- lidade, etc. As categorias, por isso, presidem ao conhecimento. Mui tos filósofos têm reduzido as categorias a uma só, a de relução, (1) O conceito de subs:ância é vário na filbsofia é é exa- minado na “Ontologia”. Também, nessa ohra, são discutidas as vpiniões sôbre as outras categorias, FILOSOFIA E COSMOVISÃO sT Pensar é estabelecer relações. Para tal é eficiente o auxílio dos conceitos, os uriversais. E com eles que se ordena o co- nhecimento dos factos sirgulores em sistemas yacionais. A intuição é que dá o atributo da realidade, porque cla é a apreensão dh individtal, do concreto. Por iso Kant já dizia que todo conceito, sem conteúdo intuitivo, é um conceito va- zio. O conhecimento organizado por meio de conceitos dá um esquesna da realidade, uma visão da própria realidade, não, porém, uma visão exacta. Mas O instrumento para obter no- ção ulequada do scbor empírico é o conceito, Desejamos aborda: agora com alguns vlementos impor- tantes, um têrmo que temos usado sobremancira e que está a exigir melhor esplicação. “Trata-se do têrmo: abstração. A abstração consiste na ação de espírito que consiccra à parte um elemento (qualidade ou relação) de uma represen- tação ou de uma idéia, pondo especialmente a atenção sébre êle, e negligenciando 05 outros elementos, Também se chama abstração ao resultado desta ação, o que conseguimos ahstrair. Por meio da abstração pensamos à parte o que não pode ser dado à parte. Assim, por exemplo, as figuras de geometria são abstrações das figuras concretas, nas quais só temos em consideração a extensão. Falamos do círculo, mas não de um circuo determinado, mas do circulo em geral, Abstrafmos do círculo tôda a concreção, tôda extensão dada consrelamen- te, e pensamos no círeulo como uma figura que está abstraída das qualidades cu relações que individualmente encontramos num círculo ou noutro, O conceito, como vimos, é o resu.tado de uma abstração. Temos um livro, êste, e tomos aquélo livro; êste é maior, aquê- le é menor e verde; êste é de capa amarela. Aquéle é grosso, éste é fino. Vamos abstraindo essas concreções e chegamos a sera es ee e... + & 5 >>» 5 4 & 82 MARIO FERREIRA DOS SANTOS mesmos, em oposição ao conhecimento discursivo e analítico, que nos faz conhecê-los pelo exterior (1). Aceita essa experiência imeciata, o adquirido por experi- ência seria diferente de o adquirido pele raciocínio discursivo ou por deduções. Aquela seria uma experiência directa, e mo por exemplo a que sentimos, que experimentamos em iace ce nma pessoa com a qual, em certos momentos, sentimo-nos tão fundidos em sua alma, em seu mais Íntimo, como so lá dentro nenetrássemos e vissemos o que realmente a pessoa é. Vejamos as diversas maneiras como se entende u expe- riência: a) segundo seu conteúdo intencional: como experiência interna, dir'ge-se à consciência e proporciona a realidade int gra e imediata dosta; L) comu experiência externa: equivale à percepção, mu- ma significação muito ampla do têrmo, exja conceito presiso só pode ser formulado pela psicolog; Ea Assim se fala de uma experiência do sensível e de uma experiência do inteligível; de uma experiência psicológica c de ume experiência metafísica, cte. Desta ferma se v3 que o uso do têrmo é vário, e o conceito de experiência é comasia do Into. Por isso, é muitas vêzes usado nc sentido puramente empírico, numa oposição tenaz aos div enprestam os filósofos. 'sos sentidos que lhe £ àste, por exemplo, o sentido empregado por Kaat Para êle, os nossos conhecimentos começam com a expe- riência, Mas quer referir-se Kant a todos os nossos conheci- mentos? Não. Do contrário como teriimos um conhecimento tmi- versa mente vá.ido, isto é, válido para todos; em suma, como leríamos à ciência? Porianto, alguma coisa intervém. (1) Adiante, na “Cosmevisão", estudaremos mais ampla- mente s intuição j FILOSOFIA E COSMOVISÃO 63 Quer dizer, se a ciência começa com a experiência, não se fundamenta apenas nesta, ncm todos conhecimentos proce- dem sômente da experiência Mas como se dá à ? Façamos mais algumas análises; o conhecimento por experiência é um conhecimento « posteriori, tm conhecimento empírico. Como passa êle ao conhecimento universalmente válido? Por meio da conjunção da experiência com es prinsípius do entendimento fstes principios devem actuar como uma forma sóbre a matéria da experiência, sem trenscendêa nunca, enquanto quiser oa pretenda !imitar-se ac terreno da ciência. Kar: usou o tênno transecdente com um: sentido preciso. Para éle, era transcendente o que estava acima, além de tóda exporiência possível, cuer quando se tratasse dz realidade, de sêres, quer quando «e tratasse dos princípios do aomhecimento As proprias palavras ds Kant são muito cleras e já nes familiarizarão cem outre têrmo que teremos ceesiio co encon- trar imnitas vêzes nos livros de filosofia: “Chamamos inanen- tes es princípios caja aplicação se atém inteiramente nos lími- tes da experiência passível, e franscendentes os que devem erguer o seu vôo acima désses imite”, Torna-se agora bem o o 3 que cueríamos dizer acima, quando afirmávamos que quem pretenda limitar-se no terreno da ciêm tem que conjugar os principios do entendimento com a exprriênc fazendo-os actuar como uma forma, sem transcender nunca à experiência Por isso, o verdadeiro cientista permanece no terreno da ciência, que é imanente, om seja, aplica- * apenas aos limites da experiência possivel. O resto já pertence à filosofia (1) O que se entende por experiência nas diversas filosofias não é matéria pacífica, pois há várias maneiras de compreen- dé-la, (1) Tmanente vom de manere 2 manar em, o que mana centro de determinado sor 6 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Não se julgue que é fácil a elucidação da noção de ex- periênci Os filósofos têm tal dificuldade em aclaré-la, que muitas s ficam g'rando em têra da sua noção. filos Em épocas de crise e de inquietação comc a rossa, obser- va-se a preocupação que há em bascar tôda à Filosofia na ex- periência. O equilíbrio, que se observava em todos os siste- mas de crenças até então admitidos, está ameaçado. As ve- lhas verdades já não satisfazem porque já poucos as conhecem cas caricaturas ubstitucm. As constantes transformações havidas, 2 a incapacidade dos velhos princípios em permitir uma evolução normal da humanidade, e à transformação deles em argumentos para impedir a própria evolução da ordem social, colecou-os cm xeque. Assim, pelo menos, muitos o julgam, As fórmulas perderam a sua fórça e e experiência avulta agora de significado. E é por isso tambóm que é difícil precisar-se 4 sua noção, dadas as grandes contro- vérsias havidas, e que ressoam vas páginas da filesefia a razão or que à Poderemos fazor uma nova pergunta: esgola-se à ração da experiência ra acção ou numa sensibilidade vaga? “A imersão na experiência para à aquisição de experitu- cias” é, consequentemente, o enriquecimento da vida on do sujeito que es vive, não há de representar Jorçosamente uma identificação enm as próprias experiências. Vamos reexaminar q que dissemos. Pode a realidade ser assim ou doutra maneira, Nós a conhecemos. De que ma- neira? Na medida dos nossos esquemas, dentro das limitações comuns a ióda espécio humana, A intuição sensível nes dá os materiais do conhecimento, Os conceitos nos servem nara coordenar êsses materiais, e c produto disso tudo é, para o homem, a imagem da realidade, Então, de que depende a experiência? Dependerá, pois, do caudal de factos intuídos e do acêro dos conceitos emprega- dos. Que faremos então? Estorçarmo-aos continua mente pa- za melhorar a imagem da reulidado, FILOSOFIA E COBMOVISÃO 65 Poderemos comparar essa imagem, essa cópia com a ori- ginal? Di uma defir c clássica que diz quo a verdade é a «ou- cordância da representação mertal com o seu objecto. Como podemos verificar essa corcordância? Eis um problexia de conhecimento, e quem; trata déle é a Teoria do Conhecimento it), Há, no entanto, uma inclinação espontânca a identificar a imagem das coisas com a ceisa-em-si, que para Kant é a subs- tância. A essa inclinação «e chama de realismo ingênuo. Mas, na reflexão filosófica abandona-se, por necessidade, êsse esta- do de inocência, para concluir-se que a experiência é um pro- cessa mental, De tudo quanto toi dito, concluímos que a experiência pode ser analisada sob os dois aspectos em que ela se processa, A experiência é eterior e exterior, E nós atribuímos tanta realidade à uma cono a outra, Nós temos essa convicção, c tudo leva a corroborá-la Do contrário, tudo cuanto nos cerca, inclusive as pessoas seriam apenas Jantasma Vê-se assim, que o problema se apresenta na relação entre a experiência e a realidace, e êsse problema já não perience ao domínio da experiência. É por isso que sc impõe um carde- tes restricto à experiência, embora reconheçamos, rela, gran- de valor. Mas, em que se funda essa vantagem? Em dados que são proporcionados pela intuição sensivel, ou seja, em dados que se dão aqui e agora, no tempo 6 no espaço. Um saber que não se processa nos dados do tempo é do espaço já não é uma experiência, mas um saber de antra ar. dem. Assim, a condição da experiência, como também o seu (1) Trata-se aqui apenas da verdade gnoseológica e não da ontológica, que cabe, esta última, à Ontologia estudar aeamnmas a aaa “ones a 4 a t . k t + - e me 36 MÁRIO FEBREIRA DOS SANTOS limite, são o tempo e o espaço. Mas ejs-nos em face de outra Que é tempo, que é espaço? (1) Dergunt 0 o Um dos temas mais apaixonantes e mais controversos da filnsofia & o de tempo e espaço. Se dissermos que 6 espaço “é 0 meio ideal, caracterizado pela exterioridade de suas partes, na qual são localizadas as nossas percepções, e que contém, portanto, tódas as extensões finitas”; se dlissermos aque é a meio da coexistência, enquanto o tempo é o meio da sucessão”; se dissermos que 0 tempo “é o período que vai de um aconte- cimenta anterior a um acontecimento posterior ou uma “mu- dança contínua (geralmente considerada como contínua ), pela qual o presente se torna passado”, ou um “meio indetinido, no qual se deseurcla a segiência dos acontecirentos, mas que, em si mesmo, seria dado integral o indivisamerte ao pensa- mente”, pouco ainda teremos ufcrecido para à anéliso de um tema tão importante como êste. Mas, em vez de procurar, de antemão, uma ção, procedamos doutro modo, Ante o espaço e o tempo, podemos colocar-nos de dois macos: 1) cu o espaço c o tempo são aspectos da realidade, in- dependentes da sua representação; ou 2) são formas inerentes à estructura da mente. Em outras palavras: 01 são modos do Ser (entológicos) ou são modos do conhecer ( gnoscológicos). Ou tém um sex, independente do conhecimento humano, ou são apenas modos dêsse conhecimento. fisse dilema se impóe na filosofia e divide os filósofos, Uma terceira pergunta também poderia surgir: e se encerram, ambos os modos, a própria realidade? (1) Um saber que não se processe nos dados dc tempo e da espaço cabe à Noolngia estudar. FILOSOFIA E COSMOVISÃO 8 Avtalisemos um pouco mais Esses dois modos do ver. Dá Se aqui e agora o tempo c o espaço? Têm éles um carácter êntico? Existem q espaço e 9 tempo como mados de Ser, in- dependentes de nós? Ou são apenas meras representaçõ nosso espirito, formas elaboradas pela estrutura mente? es do da nessa Já não é a primeira vez que temos dito que, na filosofia, cempre que se exemina, se analisa, ge estuda um tema, há sempre um colocar-se cualista Sempre o pensamento filosó- fico se colo-a entre dois modos contraditórios de observar os foctos, é nenhum délos, por si sé, nos satisfaz, pois, apesar das Polêmicas e controvérsias, nosso espírito se balança entre as duas posições, encontrando, tanto numa, como noutra, pode. rosos argumentos. Senão vejamos: se atribufmos ao espaço e ao tempo nma realidade própria, cafmas fatalmente em conc Pugnam à nossa razão, E lasões que se. mfinito o csvaço? E limitado o espaço? Se queremos afirmar que 0 espaço é infinito, teremos de admitir que não tem fim, qu e há sempre esnaço, cada vez mais espaço, espaço, além, So o fazemos limitado, sentimos a necessidade do pergun- tar: € O que fica além? Não é espaço, pois o espaço é limita. do. Que é então? É fácil, se meditamnos sólre 0 que dissemos, sentir que nenhuma das duas posições nos satisfas, . Estamos aqui em face de uma das antinonias de Kant, que já estudamos. No taso do tempo, nos encontramos na mesma situação: 2) ou ddmitimos um começo no tempo, ou b) negamos êsse começo, E nesto caso não haveria princípio nem fim ny tempo, o que nos coloca noutra situação também insustentável, por ser antinômica. Procurado solu- cionar essa antinemta é que Kant apresentom suas opiniões, que já estudiremos. Mas antes de chegar até elas, façamos comentários e estabelegamos alguns raeiocínios hem simples. tu MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS real, mas nós o vivemos, porque « vida ultrapassa a inteligên- Para Kant e Leibnitz, 0 tempo esiste epenas no pensa- mento humano. “Quem quer que considere essas observações, sompreenderá muito bem que o tempo não é senão uma coisa ideal; e a analogia do tempo e do espaço fará bem entender que um é tão ideal quanto o outre”, diz Leibnitz. Kant, como et já vimos, ecnsidera o tempo e « espaço como formas puras da sensibilidade. TD cessária, que se entende na base de tódas as intuições... Tempos dliferentes são «penas partes de um só é mesmo tem po... Dizer que o tempo é infinito, quer dizer sômente quo tôda grandeza determinada de tempo só é possível pela Ir io: “O tempo é uma representação no mitação de um tempo único que é a base subjacente”, E o que muitos chamam de duração Descartes fazia uma distinção entre 0 tempo e a duração, e assim se expressava: “O tempo, que distinguimos da dura. ção, tomada em geral, e que dizemos ser c número do mort seque certa maneira de pensar nesta duração” o é ma mento, Assim O tempo, como salienia Coblot, será à parte da duração uo cuse da qual neontece um fenômeno; a duração será infi- nita, o tempo será uma quanticade; a duração exislirá objec- tivamente, não porque seja ums realidade por si mesma, m: no sentido de que as coisas duram realmente: o tempo só existirá no espírito que o mede”, Nota-se sempre a necessidade de distinguir o tempo, como Reterogencidade, da espacialização do tempo. Um tempo abs. truckunento considerado é um tempo do fenômeno, determi- nado, mecível. O mesma se dá com a espaço c a extensão; aquéle abstractamente considerado, e esti, como o zspaço do fenômeno, meiível, determinado Sintetizande: o espaço nos é dade de modo imediato. Os corpos se dio no espaço, sem que o espaço seja uma relação, peis o espaço é medível por ser homogêneo, mas imedível quando tem pontos de referência, Medimos o espaço com- preendido entre uma coisa e outra, FILOSOFIA E. COSMOVISÃO 7 As coisas dependem do espaço e a extensão não é inde- pendente dêle, e tôdas as coisas extensas (os corpos) têm par- ticipação com ele. Mas só ondo se dão as coisas há espaço (medive ). O tempo aparece-nos como sucessão; um tempo é substi- tuído por vulto, enquanto o espaço nos aparece como simal- tânco. O tempo também não nos aparece como uma relação, e quando espacializadamente considerado, & medível. Todos os corpos se dão no tempo, e dêle dependem tôdas as coisas. Cemo extensão, todo ospaço pode ser compreendido coma se dando no tempo. Ns eorpes, o tempo oferece a heterogenci- dade, O de um komem não é o de um granito, nem o de um efêmezo micróbio, cuja vida decorre em minutos. Assim, além dos problemas que oferece o tempo de uma dor, que é pro- longado, temos ainda o tempo existencial, que tem uma signi- licação diversa de indivíduo para indivíduo, de espécie para espécie. Quanto à física, esta se interessa pelo tempo espa- cializado, o tempo medível, o tempo redutível a algo homogê- neo, e se preocupa como medio, pois o objecto da física é formado dos objecios métricos, os objectos que se podem medir, É fácil concluir-se que à nossa imagem vulgar e ingênua da realidade é bem problemática. Vemos ficilmente que há uma distinção entre a própria realilade é o conhecimento da realidade. Por que se dá tal facto? Porque a reflexão desdobra a realidade em duus partes, e 020e uma à outra, às quais chama de sujeito e objecto. Vamos agora examinar êsses dois conceites. Não vamos arainar o sujeito de ponto de vista lógico, pois cabe à Ló- gica; nem do ontológico, que cabe à Metafísica; nem do »si- cológico, que cabo à Psicologia, O que nos interessa é o ponio ce vista gnoscológico, isto é, co ser cognoscente, do ser que conhece, “e... | 1 dd à va MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS A êsse ser se atribui uma existência autónoma. É o Eu, aposto ao não-Eu, que, neste caso, é o objecto. Fissa oposição é primária. Mas uma simples reflexão nos mostra, desdy Jogo, o errô- neo dessa oposição, dessa descorectação da processo universal, cessa maneira abstracta de tratur Osse dualismo, tornando-o um dualismo antegônico, , Ora, só se conesbem o sujeito e o objecto numa relação recíproca, o Seu antagonismo é puramente antinôraico, no sentido que já expusemos. Um não pode existir sem o outro, Se tirarmos um térmo dessa dualidade, o outro desaparece, Um sujeito isoiado, sem objecto, não existe, No corhecimento, um não se pode compreender sem c outro, pois náo há am conheci, mento sem objecto, nom um conhecimento sem o sujeito cog- roscente. A negação do objceto seria a posição solipsista, de Borkeloy. que nega à existência do objecto para afirmar ape- nas a do sujeito. Vejamos agera o conteúdo dessas duas pals tas Suíeito e Objecto, : Na Psiculogia 6 estudado o desenvolvimento do Eu. Sabe- mos que a criança, aa nascer, desconhece 0 mundo exterior Mas à pouco e ponco dá forma ao ambiente pelas perecpções e, concomitantemente, vai tomando consciência de si mesma. Tenos, então, a cisão entre ela e o mundo exterior. Eu -- não-Eu. Mas o Eu não vive independentemente do não-Eu. Há uma compenctração que estudaremos em seu aspecto funcional. Essa compenetração se forma através das múltiplas | cas entre 9 organismo humano e o meio ambicnte. A filosofia conhece aqui uma problemática, que podemos sintetizar com as seguintos perguntas: Ilá compenctração? Até onde se processa essa compenetração? Há influxo reci- proco? Podem realmente” influir-se? Essa problemática tem FILOSOFIA E COSMOVISÃO 75 levado a grandes cebates na Filosofia, e o problema ponetra em vários terrenos, tais como o da Psicologia, o da Sociologia, o ca Ontologia, o da Dialéctica, ete. Tem o Fu uma existência autônoma? Opõe-se o Eu ao não-Eu? - Tem fuudesueuto o chamado “dualismo antagônico"? Essa expressão tem um valor muito relativo, pois nunca sabemos ondo termina c Eu e começa o não-Eu. Vê-se atra- vés da Psicclogia, que a separação entre o Eu e o Não-Eu é uma separação lerta que chega até a desdobrar o 7 róprio Eu em seu objecto, como quando o Eu conheco a si mesmo. A seciprocidade, que se verifica na interactuação de um sóbre o outro, mescla a imagem da Não-Ea, formada pelo Eu Quanto à separabilidade total do Eu do não-Eu, esta ofe- rece uma problemática das mais debatidas na Filosofia, pro- blemática que sobresaí na obra dos ascelas e dos místicos, 14 cência do Ser, ete Netafísica, no conhecimento de ao não-Eu. Yor experiência comum, o Eu está vinculad A soparação da qual se fala entre o Eu c o não-tu não é a mesma que a verificada na Química, Já vimos que a separa- ção do Eu do não Eu é concomitante à um anmento do não- Km, como também do Eu. dis o ccuhecimeniu; um saber do Eu sôbré si próprio, ou sôbre o vão-Eu No conhecimento, não há objecso sem sujeito. O ser cb- jecto implica o sujeito. Portanto, pocemos eslocar-nos em uma dessas duas posições: 1) existência do sujeito e do objecto; 2) existência do sujcito apenas. Neste último caso, o sujcito é tado, Esta é, por exemplo, « sosição do solipsismo atribuído a Berkeley (solus e ápsis, em latim, séc st mesmo: afizmação apenas de si mesma) Varacs analisar agora 9 que interessa à órbita do nosso estudo; como se verifica o conhecimento, isto é, como se verl- fica a apreensão do não-Eu pelo Eu. 76 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Encontramos na filosofia quatro posições, que vamos exa- minar, us quais procunam resclver 0 probleua do conheci mento; 1) a resposta empírica: o Eu é uma tábula rasa sôbre a qual a matéria percebida, o objecto, grava c que se chama a experiência. A consciência é passiva, e o não-Eu zetua sôbre cla, O conhecimento é à produto da experiência, Vê-se fa- cilmente que a noção de experiência, para os empiristas, é diferente da que já expusemos. No sentido usado pelos empiristas, conhecer consiste geral- mente no facto e no resultado de sontir, de sofrer or receber alguma coisa que se incorpora ao conjunto de experiências an- tericres, É esta u posição de Bacon, de Locke, de Hume. Pera êles o saber depende da experiência. 2; Resposta dos racionalistas-aprioristas: o Sujeito cria o mando exterior; não depende da experiência. Exs.: a cria- são de figuras geométricas que não existem no mundo exte- rior; Os sêres irreais. Essa resposta admite duas posições: a) uma posição extrema, a do solipsismo, em que o Fu é o criador absoluto do mundo exterivr; b) uma posição moderada. Yamos examiná-la: Irteressemo-nos pelo livro cne temos ente. O empi- rista diz que o livro está situsdo fora do Eu, o qual grava na tábula rasa da consciência uma representação do livro. O moderado diz: não é só a cons iência que pl ieipa do condo- cimento do livro, é necessário também o livro, Mas o decisivo, no conhecimento, é o Eu, isto é, certas leis consuns a todos os homens, desde 0 início, inatas no Ea, isto é, não nascidas, mas já estabelecidas, pertencentes ab initio (desde o principio) ao Eu. Tais são, por exemplo, os conceitos necessários como o de substância (pois alguma coisa deve haver de persistente na mutação) e o de causalidade (tudo tem uma causa), cte, FILOSOFIA E COSMOYISÃO m Esta posição, a dos moderados, é defendida por Descer- tes, Spinoza, ete. De primeira posição temos Leibnitz que de- clara que o sujeito cria 0 mundo exterior. 5) No meio dêste debate, entro ompiristas e racionalis- tasaprioristas, surge Kant, com a sua doutrina, a criticista. Vim s que as fontes do conhecimento são, para os empi- ristas, à experiência e o objecto; para os racicnalistas-aprio- ristas, & razão, No prineiro caso, o sujeito apreende o objecto; no segun- do, o sujeito apreende o sujeito e cria o objecto, que é a posi- cão dos extremados, solipsistas, ete., cu O sujeito aprsende 0 sujeito e o objecto, que é a dos moderados. Kant, em face dessa distinção, procura conciliur as duas soluções. Como? Pela crítica, Vejamos: Temos o sensível sa fazão; o objecto e v sujeito. Não há contradição entre ambes; há uma síntese. À experiência e a razão são equiva- lentes, O conhecimento começa com a experiêax Mm&s INO- dela à experiência, Vamos ao rosso velho exemplo: temas a livro à nossa frente. Nós 0 vemos, tocamos, etc. Mas não é tudo; não esgatamos com isso o conhecimento do livro, senãc O sujeito seria apenas uu aparelho fotográfico, Nés retlectimos sôbre O livre, pensamos sôbre o livro; reu- nimos as percepções, montamos un: conceito que caamamos de livro, que não é formado apenas das percepções; é algo mo- delado, Nesse trabalho entrara as categorias, que já estuda mos, e elas modelam o conhcimente, pois todo conhecimento racioxal é um conhecimento categoria! (c conccotual). Essas «categorias são conceitos necessários que são dados antes, a priori, à percepção do objecto, Assim, ante 0 livro, reflectindo sôbre êle, dizemos que é grande, que é grossa (quantidade), que é interessante, que é uma tota-icade, que é verde, que é uma obra de valor. Desta forma, para Kant, o conhecimento é empírico e racionsl, isto -& o objecto é modelado pelo sujeito na sua representação, mas também interfere no sujeito, aumenta-lhe as experiências, 82 MARIO FERREIRA DOS SANTOS € desta que tiramos gs conteúdos da razão, Ji a teoria da ta- bula rasa de que já tratamos. O empirismo parte dos factos concretos e, em seu favor, alega a evolução do pensamento e do conhecimento humanos, que se fundamentam na exporiên- cla. Observe-se, por exemplo, que a maioria dos racionalistas partem da matemática, enquento a meioria dos esmpiristas par- tem das ciências natwais, peis nestas é a experiência que re- 1 presenta 0 papel decisivo. “Tendom cs racionalicias ao dog- matismo metafísico, enquanto os empiristis tendem «2 copti- smo metafísico. c) Posição intelectualista, O intelectnalismo procurou encontrar um macio têrmo entre os estrerans da racienslismo e do empirismo. Para gle, à experiência e o pensamento fer- mam às bases do conhecimento humano, O intelectualismo deriva da experiência os conceitos, mas êstes exercem sua eção sôbre as representações intuitivas sensíve: 8) A ESSÊNCIA DO CONHECIMENTO. a) Solução do objectivismo. Fara esta solução, o objec- to determina o sujeito, o qual se rege por aquéle. O objecto é algo dado, que é reconstruído pela consciência cogmoscente. b) Solução do subjectivismmo. O subjectivismo funda o conhecimento no sujeito. Não há objectos independentes da consciência, mas esta é quem os engendra, e éstes são apenas produtos do pensamento, e) Solução do realismo. fiste afirma a existência de coisas reais independentemente da consciência, afirmando, sim, a independencia dos objectos da percepção do cognos cente. d) Solução do idealismo. Para o idealimo os objectos reais sto objectos de consciê: Já vimos ia ou objectus ideais. a posição de Berkeley, que é também uma po (solipssmo). Desta forma, o objecto do conhecimento nada ão idealista FILOSOFIA E COSMOVISÃO Bs tem de «cal, tuas apenas de ideal, pois tida realidade está en- cerrada na consciência e) Solução fenomenalista. Segundo o fenomenalismo não conhecemos as ecisas como elas são, mas apenas come elas nos aparecem. Sebemos que as coisas são, porém não c que são. Desta forma o feromonalismo aceita a posição rea- lista ao à iemar as coisas temo reais, mas aceita a posição idea. Jista, quando Janita o comecinento à consciência 4) AS ESPÉCIES DO CONIRCIMEN Já nos referimos à polêmica travada neste ponto. Vamos analisá-da em seus aspectos gerais: a) Conhecimento discursivo, teórico. mediato — Vimos que os filósofos, em sua maioria, afirmam que há apenas um conhecimento: o discursivo, O teórico, reflexivo, meiliato, o conhecimento através da razão, em que o objectivo é aproen- dido, comparado com outros, ete. Note-se 0 sentido exacto do têrmo discursivo que vem de discorrer, ir e vir, andar daqui para ali Assim procode a ra- zão. Ela ende daqui para ali, leva a imagem do objecto e compara a outra, leva, traz, fixa-a, associa-a a outras, em suma, realiza um trabalho de conhecimento por meio de uma multiplicidade de ações (por isso é um conhecimento nedia- to), uma pluralidade de actos, Ao par dêste conhecimento afirmam outros que há um: b) Conhecimento imeciato, (em vez de mediato), um conhecimento intuitivo, em vez de discursivo, um. conhecimen- tu que não vaí daqui para lá, que não discorre, que não com- para, mas que é um dar-se imediato do objecto. Na realidade, uão su pede negar a apreensão imediata, a percepção directa, Mas aqui não se trata própriamente da intrição chamada sensível, mas da » intelectual, Quando notamos um ebjecto que é verde o outro ami, e intufmos a diferença, te- mos aqui um exemplo de intuição intelectual, Descartes no 84 MARIC FERREIRA DOS SANTOS cogito ergo sum aceitava a intuição como um meio autônomo de corhecimento. A maioria dos filósafas, porém, afirma que só há um conhecimento: o racional (discursivo). Mas os valóres estéticos e os éticos são aprecadidos pela intuição, e o artista, enquanto artista, trabalha com a intuição. “Vemos uma certeza intuitiva de nós mesmos, de mundo exte- rior é das outras pessoas Tergson afirmave que o conhess ni mento racional apenas apreende a forma metemâtico-mo! ca da realidade, e só a intuição penetra em seu conteúdo inti- mo, xo âmago das coisas. (1) A posição dos iacionslistas extremados, que negam: à incuição qualquer corhecimento, « m como a posi que êste é apenas o teórico, o racional, a: dos irracionalistas que negum à razão qualquer valor no seu conhecimento, pecam por preferir um dos extresnos, [NECIMENTO HUMANO. 5) CRILERO DO COM Em que conaecemos que um juízo é verdadeiro ou also? Essa pergunta póe cin exame o problema da verdade, o seu conceito. Não é cácil, por enquanto. sem que examincmos prêviamente diversos outros aspectos da filosofia, penetrar num cunpo de tão magna importância, como o do criuírio da ver- dado, que é 0 objecso da “Criteriologia”. Já vimos que normalmente, « verdade do conhecimento consiste na concordância do pensemento com o ubjecto. Este conceito de verdade implica, no entanto, uma sério de ontros elementos que aínda não foram estudados. O cri téxio da verdade implica que se estubsleça 9 conceito da ver- dade. Para o idealismo lógico, a verdade não é transcendente, como na afirmação anterior em que ace-tamos seria a verdade à concordância entre 2 objecto e o conteúdo do pensamento. Neste caso, o objecto transcende v pensamento, é algo colo Para o idealismo, a concordência cade ante o pensamento. (1) Para Bergsor. à insuição é um misto da intuição in- telectual c da simpatética. FILOSOFIA E COSMOVISÃO 85 se dá no pensamento consigo mesmo, e essa concordância con. siste em ser o pensamento isento de contradição, Dessa for- ima, à ausência de contradição é o critério da verdade. No tocante às ciências foruais uu ideais tal critério é válido, por- que o peusarrento, ao encontrar-se com objectos ideais ou mentais, permanece dentro da sua espera. Mas em fuce de chjectos reais, já se critório malogra. A certeza de uma evi- Cênçia prova à certeza o não a evidência. O sentimento da certeza é uma certeza emocional, intuitiva, que não pode pre. tender uma valides universal. É a certeza que é vivida, que , é que não é formalmente demonstrada. O conheci cutífico exige validez universal. É um conhecimento válido aqui e cm qualquer parte, A evidência é um critério ce verdade, mas essa evidência pode sur emocional ou racio- é intuíil mento nal, ou ambas simultarcumente, Tem o homem scessidade de responder às grandes inter- rogações que se colocam exigontes, Onde há uma lacuna, o home procura erchêla; onde há um enigma, procura resol. vêdo. Precisa completar o seu saber, ampliálo, para que élo abarque o todo, passa tudo explicar, tudo esclarecer, Quande não tem ésso saber, ria uma hipótese, Vejumos o que é hipótesc. A palavra vem de duas pala- vras gregas: hypo e thesis que significam “pasto debaixo”, e que equivale a “suposição”. Pode 4 imaginação bumasa criar, tas 0 homem vive de acalidades. Mas. à hipótese não é uma mera crisção da fan- tasia sem finalidade pragmática. A hipótese pres criação racional e ela depende do que já contecemos, do ma- teria! já conhecido, e é nesse terseno çue ela firma a sua con- sistôncia, Não deve contradizer factos já experimentados, e deve ter uma comprovação ulterior, ser uma . a. como na “ilosofa, Serve como um saber provisório, uma possibilidade que per- E a hipótese empregada na ciên e... a 86 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS mite e tem permitido o progresso da ciência. Estimula a ro- s vêzes, as experiências as des- Ilexão, as descobertas. Mut troem + são, então, substituídas por outras melhores, mais ade- quadas, Observações decisivas resolvem da sue valides ou não. 18 A Ciência fundamenta-se em hipóteses. Muitas aipóte- ses, por perdurarem através do tempo, são julgadas coma in- dubitáveis, e nisto há muito de culpa dos próprios homens de ciência. Quando a imaginação se sobrepõe e aftonta o con eeito de tempo e espaço, quando quer ir além de tóda esperi- “ência, é pretende dar às suas criações o carácter de entidades reais, já não se trata do hipótese, mas de Aipósiases (de hipc, em baixo é stasis, o que está). A hipóstase é uma criação de catidades estranhas à :eali- dade tempo-espacial, Não é mnca um objecto de experiên- cia, e sup afirmação é para muito, apenas um acto de fé, A Metafísica supõe um conhecimento tateligível seu con- teúdo empírico. f ela fruto de vma atitude intelectua!, coms- ciente e rellexiva, Não é 0 pavor que à inspira, ncim o anislé- rio, mas a curiosidade ante o mistério dos enigmas de existên- cia. A metafísica, já estructurada como disciplina, supõe ur estado avançado da enlhxa, po's exige uma faso reflexiva, de deminto da razão. Quando a religião perde terreno, quando perde sua fórça de convicção, e os crentes não têm mais vivência das «mas afir- mativas, surge, então, a metafísica, porque «la dá um ennho lágica aos factos, une o efêmera ar eterro. Podemos fazer uma :Histinção: na esfera relige proda- mina a atitude afectiva; enquanto ra metafísica, a intelectual, Queremos, com isso apontar que muitos fundamentos da metafísica se confundem com os da religião, que não são mais do que expressões racionalizadas de princípios religiosos, cujas Ne Ori. significações mais profundas analisaremos em | F.LOSCFIA E COSMOVISÃO 87 e, à filosofia runca se desliga da fé. Não éali especulativa como no Geidente, onde o homem não foi tão dominado pela natureza e da qual se libertou para impor sôbre ela o sen domínio. O especulativo é predominante na filosofia oviden- tel, não na filosofia oriental. Na Idade Média, no Ocidente, volton-se ontra vez a êsse ostade. À filosofia tornou-se laica, separou-se da Igreja, sobretudo com a obra de Ockam. Bacon, Descartes, ote Uma cbservação das diversas doutrinas imetafisicas nos mostra que ela nem sempre se Jberta da emotividade nem é puramente racional, Tilementus alógicos (conscientes e inconscientes) mistu- ram-se nela. Mostra-nos a bistória que, através dos tempos, podemos cunstruir ias metafísicas, opostas umas às outras, Fugindo do empírico, e sem nêle se basear, cai muitas vêzes em construções puramente abstractas. Cria “entos de Tzu” (entes que existem apenas na razão humana, metáforas, alegorias, muitas vêzes). Costumam os cépricos rir da metafísica. Kant julgou, com sua olza, tê-la destruído, c acahon enleado em suas teias. A metafísica retorna sempre, uté na obra dos que buscaram combatê-la com o maicr ardor. Basta que eitemos os exem- plos de materialistas que terminam por dar à matéria um ca- rácter de ebsolvte, verdadeiramente metafísico, como criadora omuipotente de tódas as coisas. Após a mo:te de Aristóteles, os seus comentaristas puse- emm em ordem as suas olxas, v «o fazê-lo, colucarmia, logo após os tretados cientificosnaturais, as investigações mais ge- s que êle havia rcalizado. As obras cientilico-maturais Je- vavam o título de peri tá physiká (em grego significa: “Das coisas naturais”) e as que se seguiam charmaram-nas de té metá tá plysiká (as coisas depois das coisas naturais). 92 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS subordina tudo, inclusive o acontecer humano, ao irfluxo das leis da Natureza. A sociedade aumana é explicada materia- listiczamente (materialimc histórico), e sôbre sous fundamen- tos constrói uma concepção do mundo, O espiritualismo penetra na filosofia ccidental mais tardo que o materialismo. Para êle, a verdadeira realidade está constituída única é exclusivamente pelo psíquico, ao qua! se reduz tudo quanto é material. Distiagamos, agora, 0 espirituclismo do idealismo gnosco tógice. O primeiro é uma orientação metafísica, enquanto o segundo é uma orientação gnoscológica que afirma que a ver- ência. Como é essa realida- de, não interessa à teoria do conhecinento, porque seria um problema de metafísica. dadeira existência está na cons Assim o espiritualismo aceita à docidida primazia do es- pírito para a explicação dos fenômenos psíquicos (espiritualis- mo psícológico) & acem no seu fando último, pelo espisitual (espiritualismo metafi- sioo), que 0 mundo se acl constituído, São assim duas formas de manifestação do espi-itualisms Muitas vêzes ambas combinam, como ny caso de Leibuita c Lotze, em que o psíquico e o espiritual são, no fundo, idênti. cos, O psíquico teu: variados g ciênc: as que vão desde a incons- absoluta até a consciência absoluta. Quardo chega a êsse ponto, o espirkualismo é moaista, pois o material é conco- bido como manifestação do espiritual. Há um espiritualismo dualista, como o representado por Descartes O ponro fraco dos espiritualistas-menistas consiste na di- ficuldade que encontram em «plicar o espírito coro imate- ral, puro e simples. O têrmo espirituaiiemo, porém, tem ti- do, sobretudo nestes dois últimos séculos, diversas modifica- gjes ne seu verdadeiro sentido, representando mais ma posi são decididamente antisraterialista e anti-sensua ista, que afiuna a primazia do “espirilual” sôbre o material, FILOSOFIA E COSMOVISÃO o Este sentido é mais polêmico que propriamente filosófico, Assim, há pessoas que sendo puramento idealistas sc apre- sentam como espiritualistas, quando, na reslidade, não o são. O menisma, como já Fizemos notar, propõe-se eliminar c dualismo “corpo-espírito”, não reduzindo um ao outro, mas compreendendo-os como manifestações de um ser snperior, Chamam muitos de “teoria bifivate”, e seu maiur represextau- te é Spinoza. Para éle só existe um mundo úrico do real, que chamou de sibstância, natareza, Deus, O imundo é apenas uma personificação de Deus, o qual não pode admitir outro ser, Deus é apenas a soma do exis- tente; tudo é Deus, e tudo está nãe (panteísmo), Este mun- do se manifesta aos homens como pensamento e como exten- sto. E, en nós mesmos, essas qualidades do ser são eviden- ciadas era corpo e espírito, que não são justapestos, mas modos distintos de uma e mesma realidade, O idealismo proeura resolver o grande problema da coisa- emsi Fela alirmação ds que as coisas são apenas conteúdos de pensameato, Dessa ferra, elimina a coisa-em-si, e considera 6 mundo dos fenômenas só como um produto do cu. Fichte, filáscfo alemão, é o representante desta orientação. Para ele, existe origiwiriamonte uma substância, para a qual nos aproximamos, ao raciocinarmos sôbre nós mesmos. Neste acto encontramos, desde logo, o eu, quer dizer, a esciência, a razão, à inteligência. Esse eu primário se en contra em inconsciente actividade. Produz êle não só a for- ma, mas o conteúdo do conhecimento. A existência de um Eu presume naturclmente a existência de um “não-en”, o qual e não lhe é idêntico. Dessa limitação entre o eu e o não-eu, surge é munde exterior como mundo dos fenômenos. À quarta e quinta posições podemo-les expor assim: para o pluralinno, o mundo está composto ce realidades indepen- dentes e mútuamente irreduífveis. Desta forma, o pluralismo se opõe ao monismo. “e... armam a vob est Me MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS O monopluralismo sustenta a independência das realida- des, mas não nega que exista, directa ou indirectamento, uma interação que dá a unidade, findadr no ser. Pode ainde o pluralismo admitir que a falta de interação eute as realidades não permite, não só qualques redutibilida de de uma a outra, como ainda negar qualquer possibilidade de articulação, que é o que se chama de pluralismo absoluto. Outra tendência afirma que, sem deixar de haver inlepen- dência c a ausência da intervenção, deve admitir-se, porém, um princípio çualquer, capaz de articular as múltiplas reali- dados, como é o pluralismo, defendido por Willi James e Proudhon. Mas o monopluralismo, que citamos acima, escapa ao Ambito propriamente do pluralismo, como é clâssicamente apr sentado, porque a pluralidade é formada dos compos mált- Elos do Ser no seu manifestar. Cada campo é irredntível a ontro, ro cristir. São os mo- dos do Ser, potencialmente : Cremos ter assim exposto em linhas gerais, tão simples quanto é possível ao tratar-se de vm tema de tal magnitude, o sentido da metafísica. vassemos uma breve vista d'olhos sôbre os adversários de metafísica. Entre Bsses vamos encontrar: o positivismo e o eriticismo. Para o positivismo, o único caminho do conhecimento é à experiência sensível, e o único objecto do contecimento é o experimentáve! sensivelmente, Essa 6 a teoria do sensuatis- m9, que é à única teoria do conhecimento que pode eriar o positivismo. Nega o positivismo qualquer conhecimento fora do cempo do sensível. Grande número ds matemáticos e cientistas se- guem esta doutrina. ivistas afirmam Agora perguntam os Jilósolos: se os pº que não há outro conhecimento além do sensível, afirmam-no FILOSOFIA E COSMOVISÃO 95 porque não podem atingi-lo ou negam totalmente o que esteja além do esperimentável? Se a resposta fãr a do primeiro caso, que permaneçam os positivistas fazendo seus livres de matemática e de ciências naturais, e deixem o filosofar para os filósofos, Mas se a res- posta se prende ao segundo caso, afirmam, então, os pesitivistas que nada se dá fora do sensível. Nesto caso, repetem os fiósolos, não haverá nenhum po» sitivista que não compreenda que essa afirmativa é já metafí- sica, c a fazem ao tentar combaté-la? Terminam os filósofos por dizer que os positivistas são metafísicos sem o saber. Aléra disso, o mundo não é o mundo das perocpções, mas um mundo percebido, ou seja, a percepção não apreende a totalidade do munde. Quanto no críticismo de Kant, já tivemos oportunidade de estudá-lo, A posiczo céptica, tambér já examinada, procura upôr-se à metafísica pela alegação da impossibilidade da conhecimento suprasensíve., mas, quando permanece apenas nesse terreno, pretende não ser enti-metafísica, pois apenas alega a impossi. bilidade, quer de uma afirmação, quer de uma negação. Contudo, essa alegação já é afirmativa, Por isso, O cep- mc refuta-sse a si mesmo. vi CIÊNCIA E SUAS POSSIBILIDADES — CIÊNCIA E METAFÍSICA — CIÊNCIA E A TÉCNICA — HISTÓRIA — VALÓRES O conhecimento verdadeiro, que é a meta dos metafísicos. dizem muitos, pode não ser atingido através das buscas em- preudidas por éles, mas cabe no homem, ao menos, a possibi- lidade de ter um conhecimento relativo da realidade tempo- espacial. E essa é à tartta da Ciência Ao encontrarmos no estudo presembular do que é a ciên- cia, muito se actarará o estado sôbre a essência da. filosofia, Dissemos que a ciência nos Cá a possibilidade de um co- nhecimento relativo da realidade tempu-espacial. Como tel conhecimento não nos satisfaz, continuamos, através da filo- sofia, à procura do absoluto, porque somos uns nostálgicos do absoluto, uns esformeados de certeza. A palavra ciência vem do latim scire, que significa saber. Como saber em geral, a ciência tinha o nome de epistéme, na Antiguidade grega, e constitui 9 conjunto dos conuecimentos, e era confundida ora com a filosofia, era vom q ace, ora com a té Lica, ão entre a ciência Com o decorrer do tempo, a difereu ea filosofia foi se processando progressivamente, até à curi- quista da autonomia das ciências particulares, e, sobremdo, quando da constituição da “ciência da natureza”, Pouco interessa hoje a história dessas distinções. O que se verifica, porém, é que a filesofia vai perdendo em extensão, para aumentar em conteúdo, aspecto que desde o primeiro ponto tivemos oportunidade de ressaltar. Na realidade, a filo- FILOSOFIA E COSMOVISÃO s sofia ruca perticu, porque 0 seu conteúdo ganhou, cm com- pensação, um carácter mais nitião, permitindo se separusse muito bera à que é ciência do que é filosofia. (Hoje, porém, tais dislinções já não são, para muitos, lão nítidas). Não se deve pessar que o saber científico consista apenas ua mera experiência. Juntum-se também aos elementos empíricos, ele- mentos apricrísticos, À averiguação do que é dado, acesscen- tese a investigação do suposto, À falta de métedo é de sis tema sz sobrepõe a ordenação, a estrutura, o sentido, a legali- dade, a ide cação. O carácter da ciência é o de ser Hmi- tada, pois & ciência, em todo momento, é “ciência do que &. A viência está adscrita ao ôntico, enquanto a filosutia vai além de todt o quadro êntico, e evorigia, em seu último funda- mento, em seu aspecto metafísico, aquilo que faz justamente que o que é seja (as essências). Já ve ou estruturas do ente s o refere-se ao ente; as formas o charadas Ônticas, enquanto as do ser se chamam ontológicas). Assim a viência se interessa pelo ser como ente, esquanto a filosofia pelo ser comó ser, altamos que dn Já vimos que o ser é para muitos filósofos, o gênero su- premo, esquanto que os ontes são cs factos em que sé actuali- am os gêneros (1j. Um homem, como individuo, é ôntica- mento uxistente, O princípio de identidade, por exempla, é ontológio, nav ôntico, Afirmava Axistóteles que a ciência era um saber do uni- versal, uma investigação das causas, Mas q conceito hoje de Ciência se específica cada vez mais, Vamos esclarecer: A ciência é ou descja ser, pelu menos, à interpretação matemática da realidade objectiva. Ela abs- trai e estuda Qnicamento as relações quantitativas. Não há ciência do singular; a ciência opera com conceitos, abstraídos de um conjunto de casos análogos. ' (1) Na verdade, o ser, ontolôgicamente considerado, não é género, cio veremos na “Ontologia embora o conceilo de ser, lêgicamente considerado, poderia, de certo modo, ser conside- rado como gêncro. 192 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Tados êsses objectos são temporais, estão imersos vo que se chama o curso do tempo. Mas êsse livro está, além do tempo, no espaço também. Os objectos asiquicos estão no tempo, não no espaço, Uma representação, uma emoção não ocupam espaço. Isso não quer dizer que os objectos psíquicos não tenham um: referência espacial indirecta; pois lodo facto de consci pertences um sujeito consciente, que embora ná está adserito a um carpo, e seja espacial, Mas há objectos que não estão nem no tempo nem no capa- go: são os objectos ideais; por ex. os números, as figuzas geo- métricas, as relações, os conceitos e às pensamentos em geral (não o pensar, como acto psíeologico, que esti no tempo) Temos ainda os objectos chamados de objectos metajísicos, por suen-si de Kant, a anbstância, que são corhevidos através do raciocínio, segundo alguns filóglos, ou por actos imediatos, como a intuição intelectual de Schelling (1755- 1854), ou pela intuição não-racioval de Bergson, ou pela in- tuição mística. dos místicos, efe. Temos os uelôres que são qualidades de uma ordem muito especial, que não se referem aq ser do abjeci o, mas ao seu paler, à sua dignidade. Nada dissemos aqui que não tenhemos outros tópicos. Pois bem, fundando-nos no objecto, podemos chegar à uma classificação da ciência: a) Ciências da natureza, cujo objecto é a raturera, como conjunto de objectos e sêres, tempo-espaciais, a realicado cor- poral, tanto inorgânica, como orgânica, enquanto não é pro- duto da ação humana. O corpo humano é nm objecto natural b) Ciências do espírito que estudam o âmbito própria- mente humano da realidade, o homem em sua peculiaridade e como criador, homem do mundo da cultura, e a própria ent. tura. Enfim, todo o objecto cultural que é tudo quario dle cria ou modifica, Vemos assim que, modernamente, as classilicações da ci- ência dão a esta um âmbito muito maior, fundindo-se nova- FILOSOFIA E COSMOVISÃO 103 mente eu alguns aspectos com a filosofia, que permanece ser iceto, enquanto as do o saber do geral, com o todo como dl ciências têm, par objecto, a particular ênticamiente considerado. O ontológico permanece sendo objecto da filusofia, e a ciên- eia se contenta com o terreno do ôntico, sem transcendêlo nunca. Entretanto veremos que tal é impossivel porque a ciência, hoje, sem que o queira, penetra no turreno da filosofia, como esta é levada a penctrar no terreno da ciência. Fstamos numa épora de revisão de valóres, de transições profundas, e é natural que tanto a Filosofia como a ciência rara a influência do memento histórico. A ciência, ao ir ficir ma filosofia, leva-la-á a terrenos novos, inespevados, cujas consegiências ainda estemos, em grande parte, longe de poder prever. ência € à técnica, a ho- Dissemos há pouco que sem a df mem não teria História, Oxigindriamente a histó investigação de índole especial que se opunha à teoria o ao a significa investigação, mas uma sistema, Já vimos que teoria, no sentido usado pelos gregos, sigaifi- ca contemplação, visão, de onde a contemplação racional. visão inteligivel. A vida teórica opõe se à vida prática, mas também à vida poética, porque não é, como estas, ação imanente vu transcon- dente, mas uma atitude expectante, pensamento c, em última análise, aquilo que equivale também à contemplação: intuição. No significado actual, tesria é numa forma do conhecimen- to científico consistente em unificar diversas leis sôbre um aspecto da realidade. Sistema é todo conjunto de clementos de qualquer ordem, relacionados entre si e harmonicamento 194 MARIO VERREIRA DOS SANTOS Cuanto à História, hoje, é de uma ação coereate da desen- volvimento da cultura humana, Há ama sucessão do factos ais e há uma concepção dêsse processo. A primeira consti- tuí a crônica, a enumeração indiferente e anedótica dos casos ocurridos; a segunda, a seleção e a coordenação dos factos históricos (1). A cronologia e a bistória sc compenetram sem deixar é ser disciplinas distintas. Necessita o Eistoriador dos materieis que fomeco q cronista, mas dá referência sos adequados, ela- bara-os, dá-lhes um sentido, porque nem todos as factos que acontecem são históricos. gua coisa de peculiar pasa que dles tenha o carácter de históricos. E esse carácter lhes é dado pela fluência ponderável que lhes é atribuida sa segiiê cesso evolutivo. Por exempio, em tal dia nasceram muitas crianças. Mas, uma delas, talvez dê Aquela data um carácter histárico, como 9 dia do nascimento Ce Napoleão Henaparte ou de Slinkes- peare. Uru simples facto, que foi considerado sem grando iru- portância, ou foi apreciado como simples, pode gerar ou influ- enciur acontecimentos futuros. Diz-se, então, que ôsse facto foi um jacto histórico, ja do pro. O historiador descreve 0 valor histórico dêsse facto. Não & difícil compreender quantas disposições de ordem psicológi- ca, condicionadas pelo tempo e pelo espaço, iutervêm ne: apreciação. Há variabilidade na apreciação dêsses factos, e esa varia- Ditiêade se manifesta no historiador que pode dar mais valor a um facto do que a uutro. Assim é que episódios, julgados importantes, podem perder essa importância, enquanti outros, que foram recebidos friamente, pode ter avaliações maiores (1; Esta enumera: gão indiferente e anedótica dos factos constitue u hístoriat, Veremos em outros traballos que o têrmo Histórico oterece outras ncepções que, po: hora, não nos cabem estudar, FILOSOFIA E COSMOVISÃO 105 E como penehram nessas avaliações as perspectivas do histo- riador é que se fala na maior parcislidade ou imparcialidade dos mesmos no julgar os factos. Os interêsses de hoje modi- iações dos factos passados. ficam as apre: Num conceito restrito de ciência, poderíamos dizer que a história não é ciência, porque não se pode mabematizá-la. Nela não se emprega o método indutivo nein a medida aritmé tica. "Sex tema é à aetividade do bomem que é o sujeito ns o objecto da lsstória Poler-se-ia, no entanto, ubjeclar que o protagonista do drama tem por cenárin a realidade termpo-espacial. Não «etua nº vazia, mas no choque ispero com o sou contôrno biológico Mes, para a história, 0 devisivo não são as circunstâncias ex- ternas, como O é a reação do homem para enfrentá-las. Povos que netuam: no mesmo ambicnte geográfico, tiveram história diferente. Não há dúvida que as condições físicas influero. Um povo, privado de costas marítimas, não realizará façanhas néúnticas. E uma explicação simplos, simples demais. O ho- amem não criou sua cultura adaptando-se o meia; tuas a cman- cipução 6 o tema da história (1). Quando analisamos à realidade tempo-espacial, distingui mos dois processos, assim como na unidade da consciência de- vemos distinguir o dualismo entre o objecto e o sujeito, sem pretender dividi-lo com um 56 golpe. Ao processo natural, opomos 9 processo histórico, como à actividade subjectiva, 2 objectiva, O positivismo, por exemplo, quis ver na evolução histó- rica sômente a continuação da cvolução material, isto é, um processo sujeito a lois fisicas e fatais, um nexo de causas e efeitos, sem fins nem motivos. Os factos reais não sc amol- dam a uma concepção abstracta, por lógica que pareça. A obra da vontade bumana é uma coisa, e a das energias natu (ij GQ estudo dos fastorce emergentes e predisponentes taue c faremos em “Lógica e Dialéctica”) cuando aplicados à História da Cultuva são examízados em cossa obra “Filosulia e História da Cultura”. 106 MÁRIO FERREIRA NOS SANTOS rais, outra. O rio, a árvore, o próprio homem são criações da natureza; mas 0 tear, 4 Biblia são criações históricas, (Perten- cem ao mundo da Cultura). Enquanto a ciência se ocupa do geral, a história se ocupa com o singular: um indivíduo, uma classe, um século, wu povo, um episódio, algo que transcorre, uma experiência única, que não voltará a repetir-se, que só persiste na memóxia, A ciência pude comprovar suas conclusões: a história, não, 36 pode comprovar factos erenológicos. Ixcla não poderios experimentar. Nãn sabemos sc outros bomens, nas mesmas condições, não procederiam do ontro mudo, À exactidão, que eucontramos na ciência, corresponde apenas, um certo na história, A ciência alistrai seus conceitos de wma multiplicidade de factos análogos, enquanto a história não pode fazer o mesmo, porque os acontecimentos são únicos. Não se corclua daí a inutilidade de história. Ela nos dá magníficas lições, e todos verificario que se pode estabelecer uma distinção importante: a diferenciação entre u facto histórico, que não se repete, do facto sociológico, que se repete ou é repetível. Verilica-so cn- tão que o variante é 0 campo da história, enquanto « variante é mais o da socinfogia. dna A história estuda o homem em têdas as fases de sua com- plexa setividade. É também uma lição de psicologia, e por não se referir a temas abstractos, examina p desenvolvimento real da cultnra humana, da técnica, eto. A história ensina- os que a personalidade humana, no conflito com o mando adverso, não é alguma coisa desapreciável A obra histórica é também a obra da vontade, du esídrço, do secrifício do homem. E uma cpopéia heróica que nós, cada um de nós, está intimado a continuar, protagonizando-a, Se cxarminarmos os factos históricas, verifizarros que não se processam tão desordenadamente como pensam tentos. à análise do passado nos revela certa continuidade coerente des factos. Vemos actos individuais condicionacos por ações co- FILOSOFIA E COSMOVISÃO 107 lectivas. [lá uma razão atrás da história. Encontraremos aí uma le Vejamos as diversas interpretações: a) a razão da história está na Providência Divina, atir- mam os crentes, que vêcm nos factos históricos a influência do Criador; b) a dialéctica racionalista hegelina vê uma Razão su- prema nos factos que realizam o ciclo da Idéia: o materialismo econômico vê na história a actraliza- ção das fórças de produção e das suas relações, as quais deter- mir»un os lactos. Tedas essas interpretações têm seus adeptos. No entanto, não satisfazem porque apreendem aspectos parciais da reali- Cude, Como us factos sociais apresentam uma estranha varic- licidade de incidentes, s ivel ainda caplar » parciass. Perten- da uma mallip gem teorias diversas. FE como não é pos total da listória, surgem essas interpretação o éste tema à filosofia da Mistória e no seu acontecer, Recordemos que, em tóda « história, surgem homens que lotam por opeimir & dominar outros ou deles so utilizarem, é ho: agns que lutam por Iihertar-se dessa utilização, O homem snbleva-se contra o destino, e cm seu acto de rebeldia deixa de ser o simples animal para ser homem. Lula contra a natureza; Inla contra seus semelhantes; luta contra si É mesmo. É uma tripice luta. A vontade aspi se e tôda limitação, a a superar o ebstáculo que se ihe opõe, a emancipa atirmar-se em tôda sua plenstude. É a mito de Prometeu e Fausto — dois grandes rebeldes a desafiar o poder suprema! Em todos os actos, ante todos os factos, o homem define, analisa, estima, aceita ou repudia o que se dá, Same tados us factos, dá-lhe um epíteto, adjectiva-o, clevando-o, engrande- cendo-o ou diminui do-o, envilecendo-o. nz MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Há valôres que estão hierârquicamente mais alto, e outres, consegiientemente, mais buixo, Seheler apresenta a seguinte hierarquia: Yalôres religiosas: santo e profano, isto, éticos: justos o inf estéticos: belo e horrivel. lógicas; verlade e falsidade. vitais: forte é dédil, le : adequado + inadequado — conveniente e in- conveniente. Essa hieraquia, no entanto, vão é aceita por todos. Hã quem não considere os valôres religiosos como os mais altos. Um artista poderia consíderar os estéticos; um utilitarista, os ilitários; um lógico, us lógicos. E assim po; diante, Nictes- che, (Friedrich, 1844-1900), por exemplo, combateu a escala de valêres de nossa época mercantilista, na qual predominam os valóres utilitários, sem, no entanto, considerar os religivsos os mais altos e sim os vitais, é os éticos. Quando se fala em transmutação dos valôres é que se quer derrocar q escola pre- dominante e instaurar uma nova, Tódas es eras da Kumeni- dade conheceram suas escalas de velóres, Ora predominam ums, cra predominam outros. Essa classificação de Scheler pose ser ampliada, como muitos têm feito. É natural que, na exiologia, haja tanta divergência sônre a classificação dos va- Jôres, Muitas escalas foram propostas e para darnos alguns exemplos vamos citar os socialistas que, por exemplo, se divi dem quanto à escala dos valóres Os marxistas colocam, no ápice, os utilitários; os anarquistas, os valôres éticos; os fas. cistas, os valóres vitais, em parte, é os utilitários; os eristãos, es veligã D50s. individualmente, há escalas de valres porque a erdem pode ser mudada, Digamos, por exemplo, um homem sincera- mente religioso pode dar uma ordem assim: valóres religiosos, éticos, utilitários, vitais, lógicos e estéticos, por último. vi ANÁLISE UNITÁRIA DA FILOSOFIA Ante 4 multiplicidade dos objectos do conhecimento e das + é aatural que 0 nossa espírito, por seu pro- cesso eminentemente racional, desejo dar à filosofia uma uni- conquistas feH dade, torná-la, enfim, a ciência da unidade, a máxima uuifi- cação «e tudo o nosso conhecimento, A filosolia que já foi todo o saber teórico, com os gregos, “ que a pouco e pouco se separou da ciência, nunca perdeu O. Assim tudo quanto é, to, tudo quanto constituí 0 nossa mundo das formas mutáveis ou o nosso mundo de formas imutáveis, tudo, enfim, constitui o objecto da filosofir. seu sentido universalizante e uai quanto ex: “Tocas es grandes problemas de tôdas as disciplinas, tôdas as grandes e maiores dificuldadus que surgera, são dificuldades que cabem à filosofia analisar e resolver, Dessa forma, o fi- Iósvfo é uma espécie de supervisionador de todo a conheci- mento; é quem liga um facto isolado à cadeia dos factos maio- res, procura a relação que prende, que associa uma idéia a outra, um facto a outro. Prucura as leis das leis, as constantes das constantes, ou por que tal se dá ou não se d Nas experiências de laboratório, encuntra muitas vêzes o Esico problemas que transcendem a experiência, Elo inter- vogando 9 que é a energia, o que é o movimento, Não lhe poder satisfazor sempre as meras experiências. Quando in- terroge assim, apela para o filósofo que está nêle ou então, im- possibilitado de seguir o caminho que transcende 9 seu mister, deixa ao filósofo concluir o que éle não poderia concluir ape- us com os meios de experiência. “o... re a. = sm "m ms Rad va ne ua us ua e ua A “e 1 na MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Desta Forma a Lilosofia é à transeondência de todo o saber fragmentário das disciplinas particulares. Cada ara dessas disciplinas interessa-so por um campo, uma região, que é n seu ebjocto, E, onde tôdas as regiões do saber vêm lançar seus raiss, é pa filosofia, o saber mater de todos us saberes, a sulbiine e nunca suticientemente lonvada filosofia, cujo Ielho os aulucr- sávios munca conseguitam eraparar. Por entre a multiplicidade dos factos, tem « homem Guas funçães inteloctivas para entendêlas. Uma enalítica, a intui- Ro; à outra, 8 intética, a razão. Assim tôdas as coisas, todos os Ínctos que sucedem. quer do mundo exterior, quer do mundo interior, revelam o que são em sua singularidade, mas também o que são em suz genera- lidade. Para conhecer êsse universo de factos variados e hetero. gêncos o para reconhecer o que néles-há de homngéneo o in. variante, a razão e a intuição trabalham juntas como fenções oragaizadoras. Um dos problemas mais importantes da Hilosofia coloca-se aqui: é 0 do conhecimento. Quais os Limites do nosso conhe- cimento, como se efectua, qual a sua natureza, etc, todos ês- ses aspectos, os quais já estudamos, são os grandes problemas que permanecem constantes em tóda a filosofia. Não interes- sam éles apenas à Hlosofia, porque são propostos c colacados em tôda a ciência particular. Desta forma, a filoscfia é cons- taytemente chamada para examiná los, e por entre os debátes des céplicos, dogmáticos, zacionalistas e idealistas, o problema da verdade é sempre colocado. Até ande é verdad o a nos- sa conhecimento? Fsta pergunta inpõe exigente de respostas. Que é ver- dade? Ora todos sentem que a verdade é uma identificação entre a representação que temos de um facto e êsso facto. Se a que enunciamos Ge uma. facto esgota tôdas as rotas dêsse far- e FILOSOFIA E COSMOVISAO 115 to, diremos que ésse enunciado & verdadeiro, Asst dade é ume possilsidade ideal, a a ver O vercadeio 6 o que se conduna com ésse conceito de perfeição que formamos como uma meta a ser atingida, enja exactidiu munca sentimos alcançar, perque é da maliireza hu- mana do conhecimento a insatisfação, qu procurar sempre. * anima o homem a. » adini imos graus na admite graus. O nosso conceil «dade, porque 4 e o de perteição é sempre a no. vação das gradações. Assim à verdade é 0 supremo ideal que ão criou e tôdas as verdades parciais, tédas as verdades que não têm êsse atributo da perfeição, sãa apenas empregos jalhos dêsse conceito supremo de valor que damos ao inatin- gível Tôda idéia de Dei crente atribuiria ao seu Deus uma negação da verdade, por- que tado Deus tem como atributo a perfeição, po ama ns inclui à de verdade. Nenhum Se a certeza muitas vêzes nos satisfaz e nos parece ser à verdade, € que no conceito da oertesa dames algumas das mais profundas significações da verdade, A certeza é apenas uma aparência da verdade, é como esta se nos mostra, mas transeunte, passageira. É como um mensageiro, um arauto que nos anuncia a densa suprema, que, pela sua imugnificência, permite-nos ima- ginar a majestade da verdade, mas apenas nos sugere o que ela é e não nos satisfaz, O problema da vordado é um problema importante, por- «que da solução dêle temos a sclação da luta entre o cepticismo e o dogmatismo, Mas apliquemos nosso método para resolv ; x tão mugno problema, Em vez de respondermos à pergunta “que é a verdade, que é o verdadeiro?” perguntemos: por que colocamos a per- genta? Fmpregamos, aqui, práticamente, o nosso método des indícios. O 116 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Como se apresenta o conceito de verdade para os filóso- fos? Dra como uma identidade entre o conhecimento e n co- nhecido, ora como & adequação entre o facto c a idéia, ora como a coerência do pensamento cunsigo mesmo, como 0 põem o idealistas es são muitas, ias cm tódus está incluída Às enunciaç sempre o que ela quer dizer, Identidade ou adequação e a coérencia dos idealistas são sempre a mesma identidade. A verdade transparece como o desejo «de nma identidade entre o objectivo e o subjectivo, entre à coguascente e o conhecido. Perguntanos, agora: não são essas as intenções mais profun- das da razão? Não é ôsse conceito de verdade, um conceito puramente racional? E é apesas racional o nosso conhecie mento? Nãc. Nosso conhecimento & Ionhér intuitivo, prá- dude é intelinível e, portanto, :P enlur Uma sing A verdade do autenticaments singular o é aperus consigo mesmo. A verdade é ser aqui A verdade da intuição não é uma , mas apenas o próprio ser ou o próprio óendo. TIA adequa assim em tudo uma verdade que é ser eli inesmo. Quando captamos uma imagem de um facte, captamos parte dêsss to. A verdade racional de um jacto é a parte de razão que podemos adequar. ao facto: então temos uma verdade sacio- nal. A verdade intuitiva de uma Ííclo é-uos uada pela prática, porque nãv aprendemos, intuitivamente, tudo quanto o facto é, mas apeuas o que é coro singularidade, c generalizamos essa singularidade pela razão. Então a verdade, conereta- mente, que podemos conceber, é a conjungação do conheci- mento que temes de um fecto, racional e intuitivo em sua re ciprocidade. Mas, qual o valor dêsse conhecimento? Como saber que ésse conhecimento é verciadeiro? - do Se el: não ofende a coerência das normas dialécticas conhecimento, dentro dessas uormas é a imagem verdadeira, e FILOSOFIA E COSMOVISAO 117 E se é verdadeira, camprova-o a prática, porque o homem também domina a natureza, e nesse domínio está um dos ele- mentos da verdade, Mas não podemos identificar êsse conhe- cimento com o conhecida, porque estamos reconhecendo que o conhecimento é apenas parcial. Responderemos assim; o conhecimento racional, como tal, pode ser verdadeiramente racional; como intuitivo é 0 vo- nhecimento do heterogêneo, do diferente e pode ser verdadeira- mento intuitivo, e reciprocamente, n conhecimento intuitivo e raciona! se completa é nos dão um conhe Se aumentamos ns meios de conhecimento, se aumentamos as possibildades de penctrar em outras notas das coisas, êuse co nhecimento novo não aula os anteriores, mas o completa, Dentro do um campo, temos uma verdade, dentro de outro, temos cuira. Assim como posso ter uma verdade física de um corpo, posso ter a verdade química désse corpo também, sem que uma exclua a outra. A verdade tem às mesmas ca- racterísticas Ca liberdade. A minha liberdade não é a falta de liberdade de outrem. Ássim há um conceito racional e universal de verdade, como intento concreto, uma grince possibilidade ideal, c há a actualização dessa ver- dade, que é acto, que é, portanto, consequente com o acto, que é sempre o determinado. Construir com a verdade um conceito de perfeição, um ser-em-si, é uma forma abstracta de compreendê-la; é compre- endê-la apenas por um especto. Compreender a verdade can- cretamente é fazê-la descer do mundo das abstrações. Uma verdade sem fundamentos reais, existenciais, seria uma verda- de inane, um fantasma a pairar como uma sombra a cobrir O nada. A verdade como conereção é a verdade viva, palpitan- te, erisdora (1). (5) Em “Pepria du Conhecimento” fazemos « análise deca- dialéc da verdade, para elvcuçar a verdade concreta cia- lértica, “ ná a + I COSMOVISÃO (VISÃO GERAL DO MUNDO) FILOSOFIA DO CONDICIONADO, DO INCON- DICIONADO E DA RELATIVIDADE O que é à “Visão Geral do Mundo” (Cosmevisão), que ora iniciamos, podo sor exposto, em suas linhas gerais, da seguinte forma: da soma geral dos conhe organizaram, sistemí uentos, os filósofos caroente ou não, uma perspectiva geral do mundo, uma espécie de panorama geral de todo o conhe- cimento, formando uma totalidade de visão, uma coordenação de opiniões entrelaçadas entre si. Com ssa sistemal uma opinião geral de todo o acontecer, mas também compre- ração lhes é possivel forrmutar, não só ender e relacionar um facto indivicnal com a visão geral for- mala do todu. Vamos examinar as posições que se manifestam nas di- versas correntes filosóficas, como também construir uma pers- pectiva geral, dentro du quadro do conhecimento da filosofia, que nos sirva de panto de relcrência para a análise das diver- sas correntes e também de ponto de apoio para uma perspec- tiva mais geral do conhecimento, sem desprezar as tentativas já feitas. A ciência tem a sua “visão gerai do mundo”, chamada tam- bém “conecpção científica do mundo”, que é uma idéia geral da organização do cosmos matorial, segundo os desenbrimentos científicos. Ela forma tuna imagem do mundo pela generalização dos dados parciais da ciência e é, por isso, susceptível de modii- 124 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS iên- cação é desenvolvimento, segundo o progresso da propria cia. Entretanto, a cosmovisão é duda como uma totalicade e é inalterável, Salientamos esta diferença entre q cosmovisão e a imagem do mundo, para evitar enfusões muito comuns. A vel. imagem é variável, enquanto à cosmovisão é inaltei A cosmovisão, como disciplina da filosofia, só foi perfeita- mente delineada em nossos dias. A concepção do mundo (cosmavisão) apresenta-se dêsse modo como um canjunto de intuições que demina não sé as particularizações teóricas de um tipo umano e cultural, e, como sustenta Scheler, (18/5- 1928) condicionam tôda & ciência, como também abarcam as formas normativas, fazendo da cosmovisão uma norma para a ação, como observa Fesrater Mora Assim q nuterialismo, o espiritualismo, o idealismo são cosmovisões. O que caructeriza essas diversas cosmavisões? São; primeiro, um anclo de saber integral; segundo, a apreensão de uma totalidado; reeiro, à solução dos probleras do sentido do mundo e da vida. funecidas pela ciência é pela filo- sofia, podemes também enumerar as determinadas pela psico- logia, pela raça, pela elasse suciul, pela cultura histórica, bem como as fornecidas pela biologia, pela matemática, pela física. Assim, do ponto de vista que se culeca, o intérprete do mundo, quer indivíduo, quer grupo social, casta, estamento, procura êle dar uma interpretação+do mundo coordenada pela sua es- pecialidade ou perspectiva. E por isso que alguns estabele- cem uma verdadeira hierarquia das cosmovisões, na qual as mais amplas e elevadas compreendem, em seu campo, as mais estreitas. Entretanto, ditícil se terna a distinção entre as di- Além das cosmovisô versas cosmovisões, devido aos pontos de contacto que umas estabelecem com as outras, Madermamente, Dilthey, (1833- 1911) Scheler, Spranger (1882), Jaspers (1883) é outros estu- daram cuidadosamente o problema da cosmovisão, e cada um dêles partiu de pontos diversos. Dilficy, por exemplo, comprecude como cosmnvisões bá- sicas o inaterialismo, o idealismo objectivo e o iealismo da FILOSOFIA E COSMOVISÃO 125 liberdade, Scheler, por seu turno, funda a teoria das formas na sociologia da cultura e numa leoria das preferências estimativas (ca axiologia, a ciência dos valóres). Outros, como Jaspers e Jung, estudam-na debaixo do ponto de vista psicológico, da cosmavisão 1 Incluem-se ra cosmovisão, a filosofia, a metafísica, a fma- gem científica do mundo, à ética, a estética, No entanto, não se tenclua que a cosmovisão seja apenas uma soma das diver- sas disciplinas [ilosóficas « científicas, JEla forma uma espécie ce “orgavismo”, irredutível à essas ciências, com 0 seu objeo- ta, embora não perfeitamente dominado, é também aceita mé- todos que ultrapassam aos frequentemente usados pela filoso- fia c pela ciência, pois a cosmovisão não é apenas um saber teórico como « filosofia, já que, em sua maior parte, tavade o terzeno das intuições, do irracional, do transinteligível. isto é, o que se coloca além da inteligibilidade, como teremos epor- Je de veri 5 trabalhos. icar, esplanur, estudar, é precisar no decorrer Neste, examinaremos os principais problemas que formar as grates interrogações que se referem, não só à estrutura da cosmevisão como tal, como da sua função na vida humana, suas dieronciações das outras disciplinas filosóficas e cienti- feas, a influência dos factores psicológicos, sociais, raciais « us de carácter histórico, etc. A cosmovisão, como a aborduremos, interessar-se-á pela elaboração de um método de trabalho que permila «o leitor, no futuro, empreender, por si só, a análise e a solução de todos êstes problemas e os que surgirem posteriormente. Seria impossivel se tentássemos expor tôdas as opiniões, polêmicas, controvérsias sucitadas por um tema tio vasto co- mo o da cusmovisão. Mas nos parece que o método que usa- mos, embora se afaste do freqiientomente empregados no estu- do desta disciplina, é o que melhor capacita o interessado a emprender, com suas próprias fôrças, a investigação dos seus principais temas. . Amam A a » a a 126 MARIO Ti FRREIRA DOS SANTOS Ante 0 espetáculo do mundo, em face de um objecto o homem pergunta que é êsse objecto, Exemplifiquemos: em face de uma árvore, pergunta: que é isso? A resposta seria: “é uma árvore”, E acrescentaria ao interrogante: é o nome que damos a êste ser: árvore, Se imaginássemos que o interrogante fôsse um ser vinda de vutro planeta, poderia êle prosseguir em seu diálogo com um homem va seguinte forma: “em que consiste esta árvore? De que ela é feita? Responderia o outro; sta árvero é composta de uma matéria orgânica vegetal”. Mas esta maté ria urgânica vegetal — perguntaria € outro — em que consiste? O interrogado responderia: consiste rum conjmto de corpos minerais que são fornecidos pela terra, pelo ar “Em que con- sistem êstes mincrais?” Tornacia a perguntar 9 interrogante. + Fise essas “Consistem em manifestação «liversas da matéria perguntas prosseguissem nesse diapasão, chegaria fata'mente e interlocutor, ao verificar que uma coisa consiste em ser feita de eutra, e essa outra de outra, c assim sucessivamente, até a formular esta pergunta: “Mas deve ter um “im. Há de haver algo que são seja outro, quer dizer, algo que compõe 1 tras coisas”. Realmente, pois se ésse algo é composto de ontras coisas, a pergunta prosseguiria. Portanto deve haver atrás de tôdas as euisas, algo que seja éle mesmo, que não seja outro, que não pode ser composto, pois sc fôsse composto seria constitui- do de outros. E come êle é o primeiro, é naturalmente simples. Por- tanto deve ser idêntico a si mesmo. Dessa forma, essa pri- meira coisa deve ser simples, uma e idêntica a si mesma, Tinham os gregos uma palavra: erché, que encoulzamos muito isada em nossa língua, nas obras de filosofia, e grafada arquê, onja significação mais simples é princípio, comêge. Ve- mo-la em palavras como arcaico (antigo) areaísme, arquivo, arqueologia, e em palavras compostas como monarquia. Podemos aproveitar esta palavra para denominar o que buscam us filósofos: um princípio idêntico de tôdas es enisas. FILOSOFIA E COSMOVISÃO 17 Uma razão suficiente de tudo quanto existe, um princípio de onde tudo decorre, Ji va filosofia um desejo, eoestante em todos os tempos: o de encontrar uma certeza, um ponto arquimédico de certeza. Arquimedes pedia uma alavanca e um ponto de apoio é deslecaria o mundo. O ponto de apoio, que téda filosofia bus- ca, É 6 princípio supremo, ess arquê. Estudar do a (ilosofia ne Ociâente, uutre os primitivos gre- ges, vas que cempreendiam o mundo, quanto 4 ema origem, como obra dos deuses Pur exemplo: para Homero, o Oceano era à progenitor de todos os deuses e admitia assim a derivação do em princípio único, de uma arquê, Esse anito É o mes *ra nas antigas civilizações onentais como a bubilônica, a egípcia, a hebraica, a fenícia, etc. Para Hesíodo, o ser pri- mordial foi o Caos, e a fórça motora c geradora, Eros. Os órficos esteheleceram como os primeiros séres a Noite e o Caos e 0 negro Brebo e o prolimdo Tártaro, dos quais nasee- ram e se formaram todos os natros séres (1). ercer Para Jerônimo e Helânico, as primordiais são Cronos (o tempo) e a Ananguê (a Necessidade), E cem os jônicos que se inicia, na Grécia, a investigação cientifica é Eilosófica. Tales, o mais antigo des filósofos gre- gos, que ero da cidade de Mileto, buscou nas cuisas qual seria q princípio da tódas as outras, qual seria aquela à qual se conteriria dignidade de ser princípio, da qual tôdas us outras seriam simples derivados, E afirmou que era a ágma. Repor- tava-so assim ao princípio húnsido que vermos nas m tologias (1) Esses deuses são aperas simbelizações de oxdens div nas cus exatô-icamente foram considerados não como símbolos mas como simbolizados. Em nosso “lratado de Simbólica” exa- miraremos melhor tal tema, 1% MÁRIO FEHREIRA DOS SANTOS Os primeiros, na afirmação do absoluto; os segansivs, aí mando ser êsse absoluto mera Eicção do espírito humano. A filosofia da incondicionalidade ou do iscondicionrado “oi apresentada com clareza por Descartes. Este afirmava o pein- cípio supremo, e como chegar a êle (1). Históricamente, na fase precartesiane, havia 0 desejo de uma incondicionalidade outulógica (Deus), posição melafísica ontológica, anti-relativista A filosofia do condicienado. que, como já visios, nega à alosaluto e classifica como icra ficção, é representada per Comte, Littré, Holbach, Hamilton, Vainhiuges, e algumas cor- rentes materialistas. Dizemos algumas, porque há materiu- listas que dão à matéria um carácter de absoluto, de incondi- cionado, como veremos opurtunamente. A Hilosolia da relatividade noga o absoluto e afirma a vela tividade entre as coisas. TIuicu-se com Protágoras, que decla- As”, rava “que o homem era à medida de tôdas as cois O relativismo afirma a reatividade do conhecimento, a relatividade moral, ete. Poderíamos colocar essa tendência na filosofia do condicionado. Entre cs condicionalistas e es incondicicralistus travou se, trava-se e Uavar-se-á uma grande polêmica, cujos aspectos es- tudaremos a seguir. Mas entre os que defendem a incondiício- a polêmica, que se arrasta há rilê- nalidade vão é menor e nios. Culocam-se os intondicionalistas sob dai: pontos de vista, que procuraremos resumr: 2) os que duckrram que o princípio supremo é semelhan- te Ea posição dos realistas, dos intelectualistas e dos racio- nalistas, (E Des 2a escolástica, perque, devido às deformações que sofreram por parte des seus adversários, exigem quo as estudemes com mais cuidado, cportunarmente, em outros livros. FILOSOFIA E COSMOVISÃO 133 2) os que afirmam que é diferente. Fa posição des no alistas, anti-intelectualistas, e dos irracionalistas, dssas correntes serão tôdas oportunamente estudadas, ana- lisadas e eriticad: * partidários de ambas as. posições acusuu-se mútna- mente de superficialidade, Corno atingir o fundo cessa realidade? Pararos realistas 9 melhur meio é à razão (espírito geométrico E espait À) urdre, le Pascal). O meio mutaral da razão é u identidade, já esta. bulceida por Parmênides, como vimos. Ora, a identidade é 8 coutrério do diferente, que lhe é antagônico. À nevitação da identidade leva à desindiv lidade. A razão bus º que : tualizar a zea- vshomólugos, quer o homogêneo, quer eeutifica, Umu coisa é inteligível na medida da sur identidade, Vamos esclarecer melhor: conhecer só se dá quando a inteligência reconhece o semelhante; só conheçe usado pode zecouhecer. Só podemos dizer que algo é algo quando já conhecemos o que afirmamos de uma coisa, . Se digo que êste objecto, que tenho à minha frente, é um livro, reconheço que êsse objecto tem 0 que é idêntico ao con- ceito «que tenho de livro, isto é, eu vejo que há adequação entre O que é êste objecto, agora e aqui, com o conceito que tenho de livro. Dessa forma, a razio procede pela comparação do seme- lhante go semelhante. Quanto aos procedimentos da razão c seus fundamentos, estudaremos a seguir, Para os anti-intelecinalistas, a intuição é o melhor meio : CF oesrir do Sincrse de Pascal) são é suis profunda e vai até 0 individual das múl. fiplas realidades. Ela não procum comparar isto com aquilo, mas procura intuir, ir dentro da coisa, penetrá-la, vivê-la come nais. a PR andado, BRbIRIÃ Pas nad: ela é Antes de entrarmos na análise da Razão e da Int precisamos examinar a Filosofia da incondicionalidade e a da condicionalidade nas suas manifestações. Ixaminemos alguns dos pontos arquimédicos des que acei- tam a filosofia do incondicionado, As bases que servem de ponto de apoio são: 1) a ractonal: a razão é o ponto arquimédico para Des- cartes, que partindo da dúvida metódica, isto método, chegou a um único ponta em que não poderia duvi- dar: era que precisamente duvidava. Ora duvidar era persar, e, portanto, “cogilo, ergo sum”, “penso, logo existo”. A post ção de Descartes será examinada mais adiante, . usada coma 2) A experiência. Para Calieu a intuição sensivel-rea- lista nos dá o ponto arquimédico de apuio que necessitamos para chegar ao incondicicnado. 8) A mística ou intuição imcdíaia dos místicos, ssa união da alma humana com à divindade, asa imorsão, éssc contacto com à princípio divino 4) A Wesentchau da fenomenologia de Husserl, a intui ção essencial, essa captação das essências, que para éle não são generalidades abstractas mas concretas, e que são de uma evidência apolítica, cuja análise virá oportunamente. 5) A experiência du sujeito empírico de Vulkelt, que diz “A possibilidade de uma teoria incondicional do conhevimento só é dada se eu começo por uma certeza que se relacioce tint- divi- camente com a iminha própria consciência empírica o dna, A certeza de ima realidade transubjectiva eoustiiuída pelos “su” alheios c pelo mundo extemo, ao lado cas cvidên- cias on certezas subjeetivas imediutas, foi o que d vale cançar Volkelt (alemão, 1848-1930). Era com essa reali que êle queria fundamentar seu perto arquiniédico de « de PIAMPIA PO CnSMnTIS£O 125 6) A vontade, pa Schopenhauer, “Esse principio uni versal do eslôrço instintivo pelo qual todo ser realiza v tipo de sua espéci » em lula coutra os ontros sêres para manter a rma de vida que é a sua”... e a “Vontade de Potência” de Nietzsche cema um pento arquimérico, nas suas munifesta- tações através da homem, quer como a vontade de poder, von- tece do dominar, vontade de mais, vontade de perseverar no ser, tese Mehricallon, êsse querer mais, que é o Jundamento de tóda a certeza e que afirma a “Vontade de Potência” um” Sub certo aspecto, pode inch O pento arquimédico dos existencialistas; “sofro, logo existo”, “quero, logo existo”, “actuo, Jogo existo”, “amo, logo existo”, “angustio-me, logo existo” eto,, não são basilares para a fundamenta : o de uma ofia do inconilicionado, porque mo é uma filosofia do condicionado e a certeza empírica do sujeito não permite a (ranscendência de Descartes, salvo na tendência existencialista cristã q existencial Antes de entrarmos nos fundamentos da filosofia do in- condicionado, e úa crítica que iremos apresentar, devemos es- tabelecer uma rápida visão das características da ração, em- bora seja tal tema tratado com mais proficiência a seguir. Já muito temos falado sôbre a razão, o espírito geomé- trico, conto o chamava Pascal. Já vimos também que o meio natural onde se desenvelve a razão é a identidade, e que essa é, para nós ao menos, a abstracção do semelhante quando igual a si mes.ne, estático, bomogênco, portanto. Vimos também que a reulidade sensivel nos mostra aspectos que se parecem ou que diferem uns dos outras, pois uma realidade única é uniforme não daria margem a nenhuma comparação, e a com- em suma, só pode processar-se porque há dife- renças. E também se tado iósso absolutamente diferente não 136 MÁRIO FERRZIRA DOS SANTOS havyeri conhecimento. Assim a realidade é continua e di cia reconhece o semelhante, depara com o semelhante, o re- petido; só conhece quaudo pode reconhecer, por que reco- possibilidade versa. S6 há conhe imento quando a inteligês- nhecer é comparar, é no conhecimento há a identificação do conhecido com o desconhecido, que passa, assi, a sr conhe- eido. Quando dizemos que o meio natural da razão é a iden- tidade, é na medida da identidade que se apresenta a inteligi- bilidade, porque alguma coisa «6 nos é inteligível quando a podernos medir, isto é, comparar com « que se lhe assemelha. Fora do serselhaute não há inteligibilidade suficiente para a ão, como não há para cia inteiigiblidade possível des Fu tos singulares, quando singulares, nos quais só pela intuição podemos penetrar, como já vimos. ra: Como procede a razão? A razão procede repelinco o diferente, o individual, desindividualizando a realidade. Pro- cedo pela classificação, com a qual estabelece uma relação de identidade entro os classificados: parte do múltiplo para al- cançar a unidade, Classificar é despojar os séres da origina lidade, é obter um universo indiferenciado e in-dliferente. Quais os meios que usa a Razão par alcançar éste fim? Ela o realiza com a ajuda dos seus princípios, tais vomo o de identidade e o de razão suficiente, o qual não deve ser confundido com 6 de causalidade, como mais adiante se tr: tará, é que tm sido uma das maiores dôres de cabeça dos fi- lósotos, Na classificação, (cuíus aspectos mais característicos são udados na Lógica é mais adiante, quando tratemos das con- ceitos da ração) há uma Alererqnio apenas quantitativa, que busca cada vez mais o geral até o conceito supremo, o mais vasto de todos. Não é nma hierarquia de valâres ou de qualidades. Na quantidace há o afastamento das singularidades que indivi- dualtzam as coisas. Assim posso dizer, quantitativamente, que esta sula tem 24 metros quadrados e esta casa SM. metros. Quantitativamente encontro um ponto de semelhança, no me- “a FILOSOFIA E COSMOVISÃO 487 tro, na dimensão, mas qualitativamente esta sala é diferente da casa, tem singularidades que a individualizam. Depois dessa síntese podemos entrar nos fundamentos da filosofia êa incondicionalidade, iniciando pela: a) posição « iilosotia onto'ógi tolélica: é Aristóteles o representante da Já vimos que a Ontolvgia é à ciência du ser enquanto ser. Detine a verdade como o acórdo, a ade- quação entre o pensamento e o seu objecto. Issa a noção predominou durante a Idade Média é pervive ainda na filoso- fia eseolástica e outras. Tinha Avistóteles uma fé profunda na iealidade. Para de a é: Du simples, seg do objectivo não era um pro: 1, e o acô do entre 9 pensamento e u seu objecto é 311 do à Lógica Formal, porque o objecto jado de suas sin, é despo ularidades, pois veremos, não muito distante que, no conhecer formal, há a virtualização das singularidades que são inibidas, separada: desprezadas, pera se captar ape- nus o que é universal, geral. No pensamento oniológico, o grande prubiema é o da estrutura do objecto. Não se trata de saber se êle existe ou. não, mas por que existe êle. A causa 6 o mais importante. Sua essência é a que 0 toma inteligível, “Te descobrir a essência é o que toma compreensível, inteligi- vel, o que constitui seu núcleo inctafísico, o fundamento onto- lógico. Fssa a posição aristotélica. b) A posição parmerádica (de Parmênides) sustenta que só o ser absoluto existe, » que é idêntico au pensamento. Co- loca-se na posição ontologista para quem o absoluto explica o empírico. Para Ar tóteles, a verdadeira ciência é a ciência pelas causas e pelos princípios. Se um facto não desvenda a sua causa é êle irracional e, sob o ponta de vista ontológico, a ca: c. é n basc da realização do Jacto, Vê-se que esta com- preensão está ligada à definição de verdade que Clo dá, Am- bas, compreensão e definição, põem o problema da inteligibi- lidade De mn facto empírico é preciso separar a elemento “meta-empírico” para peder “compreendê-lo”, para apreender a “razão” e poder incorporá-lo num sistema de idéias inteli- gíveis por si mesmas. Desta forma, não há para o filósofo e 142 MARIO FERREIRA DOS SANTOS | e razão: dente, Comte, em sua época, tinha grande soma de razão: , a do é : eaciações mas 4 história humana não é apenas essa, e temos vaiaçõ interessançes €) Para o empirismo (do empíria, experiência) todo co- nhecimento é atribuído aos sentidos. Ora, os sentidos ndo podem apsecnder o absuluio. Não Tá divida que o eouheci- mento tem clementos empíricos. Mas o racionalismo tem razão ao sustentar € 4 priori, pois &s prinefpios diretores do conhecimento e as nategonas são invariantes (em parte, pelo menos), o que lhes Cá corto as- E ncio déles se pode apanhar à pesto de absalulo, pois ab por meio dêle se poco a: canpírico, quando exauminamos a exprriéncia O empirismo é xopresentrado por Locke. Hwne, is. vem Viojamos agora a crítica do cepticimmo, (palavra a de skeptomat, que sigoifica: cu exemino. Hissa, escuto ue gin na Grécia, com Górgias (fal 880 A. C.), coja atitude cto- «ólica consiste em negar o conbacimento absoluto, Vo mas cone a doutrina da relatividade do conhecimento, ecsro- a, que não exige o conhecimento abseduto, horeda pela cê descolocou o problema do cept ismo, pois êste punha em aúvida a possibilidade do conhecimento e Ca ciên posição cure, apesar da ciência actual, volta, a ser colocada. Mas vejamos, por era, como objoctavam os céptizos contra a filosofia da incondicionalidade, tava $ proposições: 1) Não há nada ub- ou à Gorgius apre é preciso demonstrar tanto € mr e G ser soluto, poi ; tr <er como não cemegou a ser, tento que há uma unidacu como ama pluralidade; 2; So existisse alguma cuisa não seria cog- ensamento nasefvel, pois nem a experiência sensivel nem o 7 nos dão garantias de segurança; 3) embara pudéssemos conhe» “la a ninguém, peis o dizemos cer alguma coisa, não poderames comer cada tum vive sua própria vida e não sabemos se o q FILOSOFIA E COSMOVISAO 149 a outrem desperta neste as mesmas representações e pensa- mentos que em nós. A atitude de Córgias influiu em Pirro (Fil grego, 3560-270 A, C.), que Juí o eriudor da chamada “dúvida pirrônica”, Tino foi conteraporárea de Aristóteles, e f antes de Descartes € icion a dúvida tou a dúvida doutrinária que segue à ciência, qme é um resiltado da ciência, e tende a destruí-ly enquanto'a de Descartes é uma dívida motúdica, e precede à ncia. Este vai Ca incerteza ao conhecimento, é ascen- dente, enquanto a do Pirro segue nm caminho regressivo des cendente; parte da ci cia ua negá Ja, & procura justificar as à negação. Mas. na * dade, o ceplicismo quer Cesquir a rudão com a própria razão. Pirro torna a dúvida sistemática. Vejamos cgora quais os seus fundamentos: Partindo da impos- ilidade de saber alguma enisa de certa. veri tieneia, ca êle a deo- o é, a igualdade, em fôrca, na convia em cada teoria contrária, o que oca: lavra grega que compreender), ihilidade cas coisas cm impossibilidate em que se encontra o filósofo de compreender o que quer que seja. Ni chegár à ataraxia (yr. tr Dei chegár à atarania (gr. tran ão que resido not a aentalespsiu (pa- lidade « gniliea incposs! a incompree: sillidado de ospírito), à des- preocupação perfeita, a felicidaçe de alma. Pirro era anti gmático e a sua influência se observa na Academia Platôni- ca, com Arcesilau e Catnôades. Enquanto Arcesilau era cép- tico ao dógmatismo cstóico que erescia cm At des inventou uma teoria da probabilidade O pi: em dúvida até a sur própria teoria as, Cam am onismo pôs Carrcades aceitava três formas de probabildades: a) as representações podem ser prováveis em sí mesmas; b) podem ser prováveis e sem contradição com ontras; e) prováveis em si mesmas, sem contradição co:n outras, e confirmadas imiver- salmente. Vê-se que, cesta forma. o cepticismo acadêmico sc asse melha à dúvida cartesiana. “om a morto do Carniaces, a aea- demia voltou ao dogmatismo. Mas o pironismo contira rc século II antes de Cristo com Áenes 10n Gemus de Guosso, o 144 MARIO FERREIRA DOS SANTOS qual deu um carácter deguálico 4o ceptici os 10 famosos trepos, que são: O € apresentou 1) nú diversidade entre os sêres vivos. O que convém a um, não convém a outro. E como, portanto, admtiir que o ponto do vista humano seja c mais aceitável? Pois não varia com os sêres a compreensão das coisas? 2) Há diferenças até entro os homens, difercaças de ca- racteres, dc temperamento, de inteligência, Há varicdade na consideração subjectiva do Bem « do Mal, 3) Há uma diferença na estructura cos sentidos, dos ór- s senLidos, o que pexnite avaliações diferer tes, Assim as imageus tácteis, visuais, auditivas são diferentes. Qual a que caracteriza o objecto em definitivo? 4) Os sentidos trabaham diferentemente e formocem per- copções diferentes, segundo o estado de saúde, O louco, o bêbado vêem um cavalo onde há um monte de lenha, Há elu- cinações, e além disso o julgamento é diferente- segundo a idade, 1) Há diferesças da posição e da distância do objeete. 6) Nada pode ser tomado em tóda a sua pureza e é im- possível discernir um estado normal sempre válido, 7) Há diferenças na própria constituição e na quantidade dos ohjcetos, o que dá lugar à diferenças de percepção. Dois homens são diferentes, dois cães são diferentes. Qual o verca- d.iro? O conjunto é diferente dus elementos isolados, 8) A relatividade das coisas. Este é o maior argumento para Sexto Empirico. 9) Uma coisa é extraordinária ou banal, segundo a ve- mos uma ou rauitas vêzes. Para um hindu, diz Hume, poste- riormente, a água gelada é extraordinária, 10) A influência da educação, das concepções religiesas e filosóficas, dos preconceitos usos e costumes na apreciação. Dilcrenças de comportamento entre um sábio e um homem vulgar, suas avaliações são «ilerentes. 4 a— FILOSO; E COSMQVISÃO 145 Sesto Empirica zeduzin a 5 êssos 10 tropos.. Vejamos: . 1 Contradição nas diferentes afirmações, entre sábios & sistemas, nos pontos essenciais, 2) O “regressus ad infinitum' (regresso aa infinito) que “ng que cada coisa seja provada por ontra e assim por dian- te até o infinito, o que é pralicamente irrcalizável. (8) A teletividade da ciência em relação à constituição à inteligência humana $) O arbitrário das premissas que leva cada filosofia à eolovar-se sob pontos de vista diferentes. “3 O dialeto, o circulo vicioso (palavra grega de d? alle Jon (was pelos outras) argumentos dos dogmáticos que de- imorstravem «valia da razão humana, admitindo a valia da Própria cuzão. Mas, no cirenlo-vicioso, no dialeto, também euio deptir ismo, cr: sua contradição fandamental, pois é pela própria razão cue nega a valia da razão, . Posição teológica -— Pura a teologia, o incondicional só existo em Teus. É impio até buscá-lo em outro lugar. O ser absolute é ontolôgicamente incondicional. A ciência não par te dêle, mas desejaria chegar a éle. Deus não é um ponta de partida para a ch o Posição relativista — Dentro da posição teorética, o rela- tivismo * 4 qutro polo do cepticismo absoluto, Quando este diz: “nada é verdade”, o relativismo afirma “tudo é verdade, mas uma verdace rolativa”, Foi Protágoras, cinco séculos au. tos de Cristu, que, na Crécia, partindo de Leucipo e de De- móerito, cauelutu que a mundo é como aparece a cada um. Tódes as percenções cstão igualmente justificadas. Todo o pensado é verdadeiro para o que pensa. “O homem é a me- Cida «e tódas as coisas; das que são enquênto são, e das que não são, enquanto cão são”. “e... Am & 2.0. . 146 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS Nossa era é profundamente relatvista. Para muitos não há valôres absolutos, nem lógicos, nem éticos, nem estér- cos, nem religinsos, ete. O relativismo, como vimos, nasee com uma concepção puramente gnoscolágier, mas acaba tor- nando-se uma verdadeira concepção do munido, re o estudaremos novamente na Cosmavisão. Desta fo o relativismo, é impossível realizar a incondicimali ra os rolativistas, tôdas as doutrinas cpistemelógice. dogmas fundamentais inconfessos, mas inderaoustráveis, os quais influíram sôbre as suas doutrinas. Tanto Berkeley, co mo Aristóteles, lume, Kant, Locke, Descartes Daselamese nos ses dogmas. ún porque mt para do, Pa- partem de A fraqueza dos sistemas da incond'vionatidade tem servi- do de argumento contra cesa filosofia, Fm geral os im endi ciomalistas partem do que desejam prever Attim se pode- rão propor as seguintes porgurtas: 1) é pessível o principio do incondicional? 2) se passível, podemos atingido? Se res- pondemos sim uu não à primeira pergunta, só caso mantém-se a segunda. Se respondemos sim, poreremos ainda perguntar se é alirmável a sua necessidudo. prôneiro ac a ermubatem Se há incondiciunalidade, dizem os qu deve revelarse, Os incondiciomais dizem que ela se reveh os condicionais dizem que não. Quem está com a 1a2ã0 Oportunamente veremos como a “Noologia aralítica” nes vai oferecer novas perspectivas para a boa colocação deste probe ma tão importante da filosofia. A posição orítica de Kent — Podemos coleci-lo aqui no meio têrmo. Ele permanece fic] ao primeiro postulado do racionalismo, isto é, que tôda experiência é um pensar. Dsé que todo pensar seja um julgar e lodo julgar we compretar uma síntese por categorias, isto é, sintese nas formas do jute- lecto. Kant era um crítico, mas por criticismo consideru-se tóda teoria que admite um conhecimento verdadeiro, mas tarm- hém liraites do conhecimento. Kant, na verdado, foi apenas uma espécie de eriticista. — IH A RAZÃO A simultaneidade, já vimos, é a ordem do espaço. Sem simultarcidade, sem espaço embora ideal, não há comparação possível, Por isso, desde seu início, desde acu primeiro procedimen- to, tem a razão necessidade do espaço, mein natal ode se desenvolve, A razão, posteriormente, vai exixair dêsse espaço todos os aspectos concretos. para torná-lo cada vez mais puro, mais nítido, mais homogêneo, mais abstracto. Volvendo a Kant, podemos forma para, mas racional, da s pertence à intui er que o espaço é uma ti dade, enquanto 6 tempo o no sentido que sempre usamos, como “co- nhecimento” do individual, como penetração no interior de um objecto para apreender o que êle tem de unívoca e inex- pressáve!, como o sentia Bergson Uma análiso dos nossos sentidos favorecerá à compreen- são dêste tercur, Por exemplo: a visão nos oforcee os meios de despertar 1 nós 2 idéia da simultaneidade. E uma faculdade de fixa- são, de estabilização, de imobilização do real. A vista nã nos mostra uma mudança prestes a ser feita, a fazer-se, o devir, bem a produção de uma ccisa em outra, Tanto à mutação, e s. tante considerável mania é binocular, Há conver- cemo o devir e a produção passam-se no intericr das coi A visão npreende o resuitado, quando ba para ser percebido, A visão os ópticos para um abjecto. Quando temos al- gum objecto em movimento, próximo a nós, não podemos «álo. Todo o procedimento da vi a e cstatizar. tende a fixr, a porar, Fisa um objecto e fixa outro para comparr. O que MARIO FERREIZA DUS SANTOS dar-lhes uma hierarquia extensista, reduzidos à conteúdo e continente, o que é incluído e o que inclui. Esse processo é a classificação, a qual consiste em ordenar cs objectos sir- gulares nas espécies, estas nos gêncros, êstes cm gênuros mais vastos, Já vimos que à razão é guiada por uma atividade selecti- va (o que notunos em tório Canção vilal), essa função selec- f da economia da tiva compara, esclarece, simpiifica, u tale, 4 unida- razão à ordem, & clareza e, portanto, « simpii de, Tôda classificação é uma n idade, uma tnifi- cação. Os conceitos são como c ução eulos concêntricos; O trais vasto contém todos os dos singulares ros. Mas, à proporção que subimos às ospécies, das espécies aos gêncros, emo se vê na Lógica, aumentarsos a compreensão, mas diminaímos o conteúdo. Quanto de mais longe, mais coisas vemos, é quanto de mais alto, mais ceisas abrangemos, mas, em corr pensação, vemos menos o individual e o singular. Aumenta- da a extensão, di res. Do alto de uma montanha, pedemos ver um vasto psno- raina que abrange muitas coisas, mas perdemos os pormenores clas coisas que estão na distância. Imaginemos um ser hu- mano que pudesse, de um lugar, abranger, com os clhos, 9 nituii o conteúdo, e perdemos os pormena- universo inteiro, com seus sóis, estrôlas, nebulosas, galaxias, movae, etc. Nem sequer poderia discemir o nosso planeta, nem as maiores estrélas. O universo inteiro seria uma massa uniforme, sem diversi- dade, 'Tal imagem nos permite compreender a idéia de Ser, a alistração suprema. É digno de observar-se a semelhança que há cutre » nossa razão e a visiu. À proporção que que- remos ver mais coisas, perdemos, delas, os pormenores; à pre- porção que a razão quer abranger mais conveitos, perde tum- bém, déles, os pormenores, que são o diferente, para chegar, cada vez mais, ao mais geral, ao “riais” semelhante. Estabelecida a hierarquia pela classificação, segus a razão um carninho inverso: desce do mais geral ao menos geral e dêste ao singular. Temos, então, a definição, cujos caracte- 4 T I FILOSOFIA E COSMOVISAO 153 res lógicos já estudamos. Vimas que definir é delimitar, pre- cisay, colocar o diferente no semelhante, é dosencaixar u que estava euesisado, Dizem os lógicos que não se pode definir o ser individual. E isso porque detinir é limitar um conceito mais & tgo num meros largo. O individual não corresponde hum conceito. Dejinem-se as espécies, descrevemse os indivíduos, dizem os lógicos. Mus as espécies esto nos in- Civídnos; não são separáveis déles. O gênero humano está em cada ser humeno individual. O defi cie, o gêm te dele. a nei nível, então, é à espé- ; define-se, num indivídlue, v gênero que faz par- Na realidade, tida definição é uma descrição. Não há lfr- gua para expressar o individnal, já vimos, como não há ciên- cia do incividual. Convém aqui esclarecermos a difererçs entre inelivídivo e individual. O individuo é um todo coner to, dado pola realidade O ixd'vidual é um elemento désse todo separado do in- divíduo por abstração, elemento que caracteriza o individuo e a incividualicade. Dei o “princípio de individuação” de que trata à metafísica e do qual já tivemos ocasião de fal; A ciência que se poderia criar no indivíduo seria a fun- Gada sóbre os caracteres que êle tem e que pertencem ag gru- DO, que são comuns no grupo. Dessa forma, ciência do incl viduo é a ciência da espécie hã ucarmnada no indivíduo, Não ênciz. do individual que é inexprimível e incomparável, porque o individual é o diferente absoluto, que é o carácter do priscípio de intlividuação. Rsse diferente absoluto. que é u individual, é múltiplo, pois há muitos diferentes absolutos. O Ser é o semelhante absoluto porque néle se encontram todos os sêres que, obser- vados individualmente, são diferentes absolutos, Estarvos assim ante uma nova antinomia da razão, a exis- tente entre o Ser, como semelhante absoluto, e o individual, como diferente absoluto, O individual é o diferente absoluto. Tem assim: O indivíduo um guid propritim (um quê próprio). Se almitissemos que o semelhante está sob o diferente, que eo... es ss soa AaAROsa so...» 154 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS o homogêneo está sob q heterogêneo, como o afirma o zacio- nalismo, haveria então possibilidade de um conhecimento ra- cional do individual, Mas a razão não capta o individual, ela capta o individualizado, o que é cormum nes indivíduos. Se- não vejamos: tódas as coisas reais são individuais, indiscerni- veis, distintas umas das qutras. Se há individucs na nature- za, éles são indefiníveis, portanto incognosciveis pela razão, Desta forma, toma-se impossível o conhecimento racional é científico do real como um conhecimento total, mas apenas como um conhecimento parcial, o conhecimento do geral junta ao particular, do semelhante ao lado do irredutível liferente. Não é outra, por exemplo, a interpretação relali que ela interpreta o conhecimento. Essa interpretaç; de Kant que o demonstrou em primeiro lugar. Per isso decla- la, é assim o vem rou Kant que à ciência é apenas fenomenal. O que se chama de individual, de singular, Kant chamcu >. Fenômeno é o ue aparece do o que sc manifesta à cazão. Só eis. Eis por emo é de noumeno (a coisa em s aoumeno, é 9 quo aparer os caracteres comuns são comanic: se que só há ciência dos fenômenos. Intão podeznas dizer que & ciência só conhece relações, e estantos na concepção re- fativista de hoje. Por emsi A ciência é nm matematizar dessas ve'a so à ciência não pode atisgir é coisa ções ela quantifica o mundo, transmuta as qualidades em quanti- dades. Já nos demonstrou Bergsen que para compreendem o, como + por isso o lempo temos de torná-lo “intemporal”, espuciatiz fazemos quando o medímos. Assim para comprender, tomar. aprender o particular, temos de toraá-lo umiversal Kant nos mostrou também que nossa inteligência deforma puhece o tando, defor- as coisas e que o espírito humano só « mando-o, transformando-o, e reformando-o, fazendi por suas formas e extegorias (temas que já estudamos anterior mente). Vimos que o dogmatismo afirma e conhecimento total do real pela inteligência. -q passar O cepticismo nega o dogmatismo. O relativismo procura conciliar, Todos os intelcctualistas acreditam que a rextidade FILOSOFIA E COSMDVISÃO 155 pede ser totalmente conhecida pel: quada à realidade. veligência, à qual é ade- Retorucmnos agora à definição para que analisemos todos Os seus elementos, necessários para posteriores análises. No seu sentido clássico, « prerlicado está contido no sujeito, Des- sa forma, à definição é mp julgamento emalítico. A lógica ensina-nes que só podemos definir as espécies. Mas sucede que as espécies são construções da razão, são concepções da razão, Xi impossível a defini io dos sêres singulares, como também há conceitos indeliriveis, como são es absiractos su- premos, os summa genero (os gêneros supremos). Nestes enceitos não se distinguem as diferenças, (Lembremo-nos que a definição é renlizada com o auxílio do gênem próximo e du diferença específica), Nos individuais, as diferenças são absolutas. Mas podemos ter uma intuição do individual e não podemos dar uma definição. Mas pela intuição, pode- mos deserever e não definir. Tôda ciência está suspensa das definições a que, no entanto, não implica a relutação ca ciên- ci, porque a sua valídez esti no dorinio dos fectos, comu veremos necjante. A cj tria realiza a sm, sem que tenha definido o que é a linha rosa “ncia, apesar disso, realiza sua cbra, coma a geome- Pascal mostrava a fraqueza da definição e a impossibili. dare de, por meio deli, che esicaz e segun, cur à Ciência a um conhecimento Por meio de Pesprit de finesse (intuição) há possibii daúo de conhecer o homem o Universo e Deus não mais em extensão, mas em profundidade, não mais em quantidade, mas em qualidade, como o afirmava Pascal, que, desta forma, foi uza precursor do Kant e de Bergson quanto à com livista, pção rela- 156 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS : à O conhecimento racional é um conhecimento de parte da ccalidade, A razão realiza uma grande obra, que é q ciassi- ficação. Dizem alguns, como Rabicr, que a definição é anterior à classificação. Mas lembremo-nos que a definição exige o gê- noro prósimo e a diferença esucílica. Sã necessários prê- viamente gêntro & espécie, criações da classificação, à que nos leva tâde essa erítica? Ao cepticismo? N a mt rá eia 5 à análise das antinomias que cselarecerá o poder criador d espírito, que 6 profundamente dialéctico. A classificação é a base da ciência racional, A classífica- ção é o estabelecimento ds uma relação cansal. Pscuisa os conceitos, uns nos outros, é elassificar, pois, ao tirá- los, faze- mos que uns produzam os outros Há uma segra clássica que diz que classificamos os séres pela extensão o pela, ecmpreen- são (conteúilo). à compreensão é sacrificada pela extonsão. quo. aumen- tando, chega até o abstracto suprerao, cuja compreensão é quase rula. Mes, muitas vêzes, para passar do têrmo tais curto para a se apelar an principi :ssulidade, o mais amplo, temos que apelar an princípio de causal Os exemplos nos esclarecerão melhor. espévice do gênero ctr. A côr O azul ou o vermelho s à tr. à uma espécie, por sua vez, do gênero qualidade jísica; esta uma espécie do gênero qualidade. Mas aí chegamos uia gênero supremo, como lôgicamente nos parece, € não podemos rsduaile u um gênero superior. Qualidade é nm ápice da abstração. Não podemos parar ai, e chegamos ao Ser. Mas como passarentos do sor sem rt- ; o corremos ao princípio da causalidade? Na qualidade né encontramos nenhum carácter que seja comum entre ela € sm FILOSOFIA E COSMOVISÃO 157 Outra coisa. Dessa forma, do ponto de vista da extensão, a qualidade não pode ser 4 espécie de nenhum outro gênero, A eualidade xão é suficiente por si mesma, não se explica pur si mesma, ela não tem em si mesma a sue razão suficiente. Não pode ela existir por si só, exige algo que « leve, que a superte, que seja o seu substracto, sus explicação v sur razão de ser E quem é êsse suporto? Bo Ser O Ser é a causa Us qualidade, Temos crntão a intervenção do princípio de causalidade ou melhor ainda, do princípio de razão suficiente, £ o ser a razão suficiente de qualidade, Para completar o encadeamento conceptual, o encadeamento dos ennceitos, pre- cisamos recorrer ao princípio de causalidade ou ao de razão suficiente, cuja distim o é análise faremos oporianzinente, Dessa form, entre o Ser e a qualidade há uma vazão de causa e efeito, au inelher de razão suficiente. O Sor é a ra- zão e causa da qualidade, Dessa forma se vê que à extensão não é suti onto para a clastificação. O mesmo se pode veri- ficar entre os séres c o Ser, É necessário uma relação de razão suficiente, Por isso, além da extensão, como afirmava a definição clássica, a clussificação exige a causalidade. Não podemos definir, a qualidade. E-nos impossivel, pe- lu simples razão de que não é a espécie de nenhum gênero. O Ber paira acima da qualidade podemos ligá-lo à qualidade apenas pelo princípio de causalidade. Que antecede, a clas- sificação ou à explicação? A explicação precede. A class ficaçãe é uma retomada da explicação em têrmos simplifica- des e im à classificação é uma coordenação condensada sob um volume espantosamente re- duzido, As modificações nas classificações que se abservam eciatamente recognosciv na ciência, provém das explicações que se verificam. As cx Plicações nãc são definitivas. Novos conceitos exigem novos têrmmos. O novo conceito exige outro mais amplo que o 3 clua, que seja o seu gênero. Quando não há, inventa-se um novo gênero para néle introduzir-se a nova espécie. A desco- luta do vapor e da electricidade exigiu o conceito rrodermo e mais vasto de fóree, que não tem nenhum correspondente assar... a... aaa am aa 162 MáRIO FEFREIRA DOS SANTOS tativo) de fenômenos, e que cxige o menor número de pri cipios (maior homogeneidade). Nossu inteligência londe a aceitar uma lei por uma explicação. A indução é ainda um encaixamento, uma classificação como as outras processadas pela razão, emborz raais complexa. Quanta à dedução, estamos em lace de outra classil Vejamos: a dedução pude ser mediata ou imediata, No pri- meiro caso temos o silogismo, no segundo temos a conversa ou opesição, Estuamos na Lógica o silogismo, o qual consiste em afirmar que wma qualidade convém a um ser ou a um objce- cação, to, porque convém à tôda classe à qual pertenec êsse ser ou êsse objecto, Examinemos o silogisno já citada por nós: “Todos os homens são mortais”, Sócrates é homem; jogo Sócrates é mor- tal”, Temos, com êle, algam novo coniecimento? Absoluta- mente não, porque se bem verifeamos, estazzos em face de lussificação. O indivíduo Sóerntes pertence humem. que pertence ao gênero dos sêris mortais. uma espécie Se examinarmos tida c qualquer espécie ds sologismo, vetificaremos que todos éles se incluem apenas numa clessi Ficação. A razão tende para à hemegencidade e, nortanto, simplifica, esclarece pela classificação. Todo e trabalho ca cional, filosófico, ou científien, é predeminantemente o de classificação. Gublot chegon a declerar que a “ciassilicação era tôda a ciência”, O conhscimento racional é um proc único de classificação. Classificar é dominar, é distinguir, é comparar, é juntar 0 semolhantes, os iguais com os iguais, é ordenar, coordenar, suberitinar. A clussificação exige a cl sificação da classificação. 'Têda ciência é uma classificação. mas a razão classifica as classificações, dando às ciências por- ticulares um encaixamento na classificação da ciência total O conhecimento racional é um conhecimento panerâmico, é um conhecimento do exterior; mas o conhecimente intuitivo é o que penetra, o que invade o individual, é o conhecimento que pormenoriza. — oe FILOSOFIA Z COSMOVISÃO 163 Classificar é dominar, abrangendo, abarcando. Intuir é penetrar é viver, é ter vivência. A razão compara, verifica os caracteres semelhantes que cla reduz, de degrau em degreu, a um semelhante fiaico. As- sim também procede a visão humana. Mas a visão precede, no homem, à razão, par isso influi nesta, como também influi na intuição. A pouco e pouco se nos vai clareando êsse as- pecto dualístico antinômico do nosso espírito, v qual, depois de bem comprendido e explicado, como procuraremos fazer zais adianle, nos dará o método noolégico que expomos e defendemos, o quai permitirá que peretremos, então, nos ter- renos mais áridos da filosofia e do suber, mas munidos de derosos instrumentos, que tavorecerão a compreen são gera! de tôda a cwtura (1). ão e a (9) 5 imprescindive. o estudo de Dialectica geral exposto em nosso. livro correspondente “Tágica e Dialéctica”, onde a Decadicléctica (dialéctica de dez cai E apresentada, II “ANÁLISE DIALÉCTICA DAS CONTRADIÇÕES -— ANTINOMIAS — O DUALISMO DAS NO- ÇÕES ENERGÉTICAS DE EXTENSIDADE E DE INTENSIDADE — NOOLOGIA ANALÍTICA — OS FACTORES DE INTENSIDADE E DE EXTENSIDADE Aceitatuos como estabelecido o dualismo funcional do nos- so espírito. que tem seus fuudamentos na própria constituição de nossos órgãos da sensação, cs quais, por seu turno, têm seus Fundamentos na próprio processo lunetortal da vida que é se- lectivo, pertanto Cialéctico, por que selecionar é preferir e repelir. Selecoionar é separar, distinguir, preferir, dividir, es- Lentemente, distinguir st & procerir aquêle, conse colher à: te daquele, estabelecer distiny mes q funciontameto ca razão (do parecido pera do mesmo para Veni é semelhante, do semelhar o igual, do igua! para o idêntico, uma sequência da as racional), de afastamento crescente do que separa, do que dis- a : cingir O supremo da seme cura o mesm e tingue, do que é diferente, para Jhança, que seria, iulevidemente, q idêntico; cêsse furcio- oamento examinamos o concelo, a ação o cucader- mernlizantes ve. mento conceptual da razão general rificamos o funcionamento da intuição (do diferente, pera o desigual, do desigual para o incfáve!, de inefável, para o único, tonal), de tudo quanto asse numa scqiiência de ascese (intui melha, para atingir o supremo da dicrença, o difexcate abso- luto, que é o único incfável, cujos outros aspectos ce seu funcionamento examinaremos « soguir. FILOSOFIA E COSMOVISÃO 165 Vemos. assim, que já foram estebelocidos êsses aspectos que nos permitem comprecuder por que, aa examinarmos os fuctos do acontecer cósmica, distinguimos sempre duas inter- pretações pelares, duas ma as parciais do ver os fenêmenos e que são os fundamentos de tôdas as distinções da filosofia e que as diversas pesições que permitem perspectivas tão diva Imp e aumentarão w seu significado, dois têmmos que temos usado ne Cecorer dêste livro é que são: intensidade e exteusi. due. São dois têrmos valiosos que englobam inúmeros sex- tidos e que representar: us campos em que dialêcticamento os cila o nosso espírito, nesse grande e profundo diálogo da natu- 1eza consigo mesma, da natureza com o homem, e do homem ao debruçar-se sôbre si mesmo, Essa contradição constitutiva é no entanto, dinâmica, e há empre um conflito entre am- bas, (intensidade e extensidade), que o espírito humano tem procurado solucionar, ora pola redução (alternativa) de um que esclareçamos, agora, com outros clementos 49 outro, ora pela supressão de nm vu outro, Em poncos mo- mentos, fiaréra, como vemos us estudo da história do pensa. mento filosófico, é dado a ambos 4 mesma realidade, v é cun- cebido êsse conflito como imanente à realidade c à lógica. Procurou-so sompre na filosofia dar wn déles como aparente, em beneficio da reslidade do outro. Nenhum vocabulário de filosofia que conhoçamos estuda o lêmo extensidade. E Se procuraros nos nossos dicionários, não encontraxemos, a O ser corno expresão, usada no Brasil, para inclicar as gran- des ext ões. No entanto, cucontra-se O têrme intensidade, O térmo extensidade tem sido usado apenas pelos fisicos. Teremos agora dar uma explicação clara dêsses dois têr- 1n0s para que possamos prosseguir em nossas análises, Lalande define extensão com duas acepções: como ação de estender + como carácter de ser extenso. Encontramos na fisica o emprêgo do duas expressões: factores de extensidade e factores de intensidade, Citemos Ostwald, (alemão, 1853- - ma 156 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS 1982) o famoso físico: “Para bem sublinhar a uposição que so éá entre éles (os factores da energia que possuem os carec teres ocntrários dos factores de intensidade) e as intensidades, nós os designamos... sob o nome de extessidade” Partindo dai, propôs Ostwald substituir o uso do lêrmo quantidade pelo de factores de quantidade e o de capacidade pelo de foctores de capacidule. Posteriormente preferiu a expressão juctor de extensidade para dominar essas grandezas extca: gia, os “factores materiais”, “powque, diz êle, & é cor: dessas grandezas que determina a antiga concepção da ma- as da ener- deração téria”, A preferência que se dá au têrmo extensidade decorre de não ter sido ainda usado sob várias acepções, coma em geral foram es outros tênmos, per:aitindo assim que se lhe empreste um sentido claro e nítido, A palavra extensiônce é formada do verbo latino extendere, isto é, ex e tondere, tender para ensus que, por sua erro. Indi- fora. A palavra intensidado vem du is parte, vem da tendere, in tende tender para di cam os dois prefixos ex e in-u direção da tensto, 0 dinamismo inverso da tensão. Essas duas palavras iatinas, depois de tan- tos séculos, vêm servir para denominar uma sério de factos que a experiência científica veio corroborar. São essas duas palavras, no entanto, constantemente tsa- s na linguagem famílias. E temos fstensiêade, intensivo, intensificar, intensa, extensão, extensivo, extensibilidade c ex- tensidade. Quando empregamos as expressões que decurrem de cx tensão, sempre queremos siguilicar o que se proionga, o que parte para o exterior; é um dinamismo de afastamento, de desdobramento, de alongamento, é uma dlireção tomada para » objecto, para o que é heterogênco, mntável, para abrangê- Jo, incorporálo; à centrifugo. Quando cinpregamos as ex- pressões decorrentes de intensidade, intenso, queremos nos referir a alguma coisa de interior, alguma coisa que vem da heterogeneidade da sucessão, do movimento de mutações do exterior para dentro, é uma transformação cm si mesma, voi- vida para o intecior; é centrípeta. FILOSOFIA E COSMOVISÃO 167 Quando falamos na extensão de um plano, de um progra- mia, damos o sentida de abarear, de prolongar, de abranger; quando falamos na intensidade de um som, pensamos no ca- ráeter dêsse som em mesmo, é um som que se modifica (mais intenso, menos intenso) como som, é uma direção to- mudo pura o sujeito, é mais um aspecto subjectivo, porque é uma relação para consigo mesma. Enquanto o primeiro leva 20 conceito-objecto (que já estudamos na lógica), o segundo leva ão eomeeito-sujeito. Núm bi mais objcetividade, noutra mais subjectividade. Enquanto na cxtensidade há um sentido de afas são, Enquanto a cxt dade tende para diferenciar mento, há na inlensidado um sentido de concentra- ão tende para assemelhar; a intensi- Para Descartes. “quantidade continua, ou melhor a exten- são em comprimento, largura e profundidade, qne existo ne: sa quantidade”, é englobada ra noção de extexso, di ramento do pensamento, da alma. Descartes deixa confusa mente colocada em sua idéia de alma, a noção de intensidade. tinta intei- Kan' Ciz que uma grandeza é extensiva, quando a repre- senilação das partes torna possível a representação do todo. £ o sentido da homogenci como e tedo é homogêneo. Se, cujas partes são homogêneos, Uma grandeza é intensiva, para êle, quando ela é apreen- dida como unidade. A quantidade, aí, só pode ser representa- da por maior ou mener aproximação da negação (mais veloz, menos veloz, por exempio). “A intensidade não é a quanti- dade cas coisas que sc contam, vem é a duração, nem é a extensão, quantidades que sc medem por meio de unidades homagêncas”, expressa Gollot. Têm dificuldades imensas os filósofos e dicionaristas em definir a intensidade, E a razão é que defnir é comparar, é medir, e à intensidade, por seu próprio carácter, afasta-se da definição, não é apreensível por uma definição. Dessa forma, êsse nonceito sé se esclarece pela intuição e por uma vivência. O cará sintético é fundamental da extensidade; en quento « analítico o é da inte dade. Sintético, porque é Ya MÁRIO FEREIIRA DOS SANTOS Então, sintetizando: a intensidade é a extensida:le podem ser ou actual ou potencial Quando à intensidade se actualiza, à extersidade so poteu- cializa, e viue-verca. Ambas não podem ser acruais ou pote: ciais no mesmo instante e ká oscilação constante entre sua ac tualidade e sua potencialidade era todo acontecimento físico. As aplicações dessa observação a tados os factos da filosofia se- porção que ubles (atemos, rão feitas, daqui por diante, à pr Reterindu-se às intensidades, asstn se expressa Ostwall; ão de focua alguma grandezas no sentido orninário da grandezas iguais, obtemos co- não palavra. Quando reurimos d mo se sabe, ums grandeza dupla. Ora, se reunimos duas tem- peraturas iguais, isto é, se imetemmos em contacio dois corpos da mesma temperatura, esta não sc torna dupla, mas perm-nece a mesma”. Assim, “quando indicamos a grandeza de uma mass não dissemos sôbre essa massa tudo quanto dela se pode diz: Se se divide uma massa em duas metades, esses duar metades não dilrem wma da outra; cada uma lem, portanto, enquanto massa, as mesmas propriedade que a ontrg”. Assim é a homogeneidade, 2 exterioridade ou a objectivi- dade o que caracteriza a extensidade; e, ao contrário, a hetero- gensidade, a interioridade ou a subjectividade parecem en- gendrar o processo da intensidade. O tempo intervém nesta e vemos que a física moderna, quando trata da intensidade, ne- cessita do tempo para seus cálenios, enquanto é o espaço, que é necessário para medir o extensivo. Uma rávida análise sôbre tôdas as formas de energia física, permite distinguir a extensidade da intensidade. Ostwald ox. ganizou êsse quadro: Energias Extensidades intensidades Volume Volume Pressão Forma (elasticidade) — Deslocamento vectoril Fórça correspon- dente Pêso (ou gravitação) — Pêso Potencial de g: vitação FILOSOFIA E COSMOVISÃO 173 Exergiu de mevimen Massa Velocidade ou to quedrado Electricidade Carga eléctrica Potencial eléc- trico Energiu química Entropia Afinidade Exergia térmica Massa & Ternperatura Eis e quadro usual de Jcan Pesrita, Urbuin, cte, Encrgius Extensidudos Intensidedes Eléstica Volume Pressão Eléstica de slyugga Cumprimento Fórça mento Elástica de torsão ângulo Parelha de fôrças iguais opostas Mecânica Deslocamento Fôrça Caéti Entropia (muda de si Temperatura ab. mal) solula Apérmica Quantidade de mnvi- — Velogidade mento Superfície (eapilari Superfície Tensão superfi- de) cial Eléctrica Carga Potencial de gravitação Massa Polescial É a exis “a real, assim, dualística, constituida de dois factores vontrários, ao invez do que persava Descartes. Quan- de um dêles cresce, o outro diminui, como a entropia e a tem- peratura, extensidade e intensidade da energia térmiva, Nos fenômenos imarrofísicos, há predomínio da extensida- do sabre a intensidade. Nos fenómenos mierofísicos, na física atômica, a intensidade predomina sôbre a cxtonsidade, Nos factos psicológicos, há muior predominância da intensidade só- soam maramame masa aa e 174 MARIO FERREIRA DOS SANTOS bro a extensidade, Em breve veremos como essa compreensão permitirá explicar os fenômenos da Termodinâmica, « os pre- blemas que formam, hoje, o arcabouço da teoria da relatívida- da por Finsteir. de, inicia ejamos agora os efeitos que n cmprêgo dessas duas nó- cães podem dar na filosofia e na formação du “Noologin”. Na extensidade, sentimos que há uma ordem. homogeneirade, ho- mogeneização, objretividade e objectivação ao mesmo tempo, enquanto, na intensidade, que tende para st mesma, há hetero- venicidade, hoterogeneização, subjectividade, inteziorzação Estamos em face do “mesmo” (do semelhante, da pareci- do) e do “diverso” e do diferente. Eis os dois aspectos da rea- dade que a razão « à intuição vão aprer mder dive: samente. A espacinlidade está na extensidade, como a temporalidade está na intensidade, A extensidade é predominantemente o campo da razão, e à intensidade, o carapo da intuição, Há transformações na natureza porque há insensidade, por- que som ela, como o afirmam os físicos, não haveria transtorrna- ção, porque esta é o desaparecimento de uma forma € nr apareci mento Se outra. Assim L4 o que varia, que é ruriante, a in- tensidade, a par do que não vária, do que é invariante, a ox tensidade. afirmamos à complementaridade dessas duas exprossões: cível sem a outra. uma necessita da outra, uma é incoripre Veremos, quando estudarmos a Dialéctica, o sentida «que a cién- cia moderma dá à dialéctica e à complementariçade. Quere- mos aqui, apenas afirmar o seguinte: não há extensidade sem intensidade, nem intensidade sem extensidace no acontecer, nos factos naturais. Nem Iudo é homogeneumente puro, ném heterogeneamente puro. Essa é a dialéctica de tôda a exis FILOSOFIA T. COSMOVISÃO 175 tência, que é um opor-se, mas, ao mesmo tempo, um comple- mentar-se: um cposto é completado pelo outro. Lupasvo oferece um quadro dessas duas direções dinâmi- cas do existir. Eilo: Extensidade Intensidade Idertidace-homogeneidade Não identidade-heterogeneidade Matorialidado — cspacialidade — Temporalidads Simultaneidade Sucesão Permanência e c: Desaparecimento e destruição Invariahildade, “+ Variuhilidad: + “variante” Extendimento objectivo, exte- | Desenvolvimento subjetivo, in- riorização “erioriza Sinteso Arálise Gausalicade e determinismo Incausalidade e indeterminismo Afirmação Negação Queromos sobretudo salientar o aspecto dialértico que se manifesta na existência e que o nosso espírito apreende através ta dialéctica também de nas funções. E a disciplina que vai estudar essa dialéctica, que vai caracterizar os conceitos da ra- zão o da intuição, que vai saliontas a influência que o duelismo antizômico da natureza exerce sóbre o dualismo antinômico do espírito, e que vai atalisí-los através de suas múltiplas forma- gões para compreensão geral do desenvolvimento da concepção a do mundo, + 0 que «amamos de Noclogia (de Nou laléotica do espirito; fundada na dialéctica p tê x nos sens aspectos metafísicos, mas apenas nos seus aspectos mmotodolá- giros, como já dis espírito), a ciência da própria existência. Não iremos, porém, exemicá, emos; aproxeilá-la para que dela façamos ui ponto de apoio e de referência para o estudo da ffosofia, e 176 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS permitindo, dêste modo, que o pensamento universal, em su: diversas fases, conheça uma nova sistematização que nos permi- ta esclarecer por que uns filósofos seguiram éste caminho « outros o caminho oposto. (1) Já falames dos “indícios”, pois são éles que nos darão uma nova estrada para trilhar, Vamos atas foram feitas + ao saber agora por que lais € lais pergi esclarecer o por que da pergunta, iremos compreender tam- bém o por que das respostas, pois, embnra pareça paradoxal, há, cm téda perganta, uma indicação da resposta desejada, O estudo sôbre os principios da lazão e os seus conceitos, como es da Iatuição, hão de nos permitir que possamos cons- trair uma visão cientifica do rsundo, e esclarecer « gênese cas grandes visões totais da filosofia. Por êsso caminho, os temas da filosofia passarão também a ter ouro significado, e poce- remos aprsfuadarmo-nes néles sem receios de malogrus, pois iremos munidos de valiosos instrumentos que nos servirão para as pesquizas, Veremos comg ex tôda 4 história du filnsofi sempre so tentou 0 Iriunfo da extensidade sôbre a intensidade ou desta sôbre aquela, no intuito de fugir ao coxflito, ao diá- log! das antinomias, à dialéctica da existência. Ora gctuali- sou-se uuia é virtualizon-se a outra (virtualizar usamos nº sen. tido de inibir) e vice-versa. K veremos porque a filosofia per- maneceu sempre aum “impasse”, perduzou sempre envolta pe- las antinomies, porque procurou fugir ao conllite pela mera negação ds um des antago) Veremos como a ciência moderna, seguindo o caminho dialéctico por nós estudado, con- seguiu penetrar uum terreno tota':nente novo é permitiu a pos- Esto bilidade de novas visões, contra, não viria da ciência nenhuma luz para a áilesofia. A € cia, por trabalhar indutivumente, por interessar-se apenas por ndo os que diziam que um dos aspectos da realidade, nio poderia nunca oferecer à filosofia nenhum novo caminho. Julgaram até que estavam encerradas tôdas cl s possibilidades novas para a Filosofir, que €) A Noclogia, estudada como discipira uutónome, é apresentada em nosso livro “Noningia Gera”, FILOSOFIA E COSMOVISAQ 177 já avia esgotado tôdas as soluções. No entanto, por despojar- se à ciência da ditadura de uma visão apunas parcial do umi- verso, permitiu Que covas possibilidades fôssom descortinadas. Assim a ciência Fac: a leva a novas lerras di lta à filosofia um salto qualitativo que ouliecidas que, em breve, iremos ex- plorr. “eee raia. = 182 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS aque falem os existencialistas) não € inteligívol pela razão, por- reduz, e o que é incomparável, irredutível, rue esta comp , portanto, ininteligível. Vimos com Panénides como 6 deso- jo de iduntificação racionalista Jevnu no extremo de uma mnili- cação completa, absoluta, em que eram negadas tódas as dife renclações: O princípio do identidade é inato à razão e veo lo numa ncia, como o prin- sério de princípios que formam a base da cipio da conservação da energia, o princípio da conservação da tórça do Leibnite. Embora pensem que se firmam com êsses princípios em uma cansa real, fundam-se na verdade, em uma causa raeíonal. E esse o motivo que levou tantos filósotos e tratadistas à confundirem o princípio de razão suficiente com o de causalida- de, tomo veremos a seguir. Resumindo: tudo o que é, é; todos os sêrcs são. O Ser é a identidade absoluta onde se encontram todos os sêros. O Ser é homogêneo, idêntica, único, perfeito. Identidade absonta é também o singular absoluto, porque é irredutível a «gralquer outro e tódas as coisas déle participar om não são. F assim o conceito supremo que a rázão constrói em sua actividade de despojamento das singularidades, das diferenças, que, de abs- traeto em ebstracto, chegaria ao abstracto suremo: O Sez. e] oi 6 principio Vejamos agora os outras princípios da ru de razão suficiente é o de causalidade. O princípio de razão suficiente é emunciado da seguinte forma: “nada existe sem uma razão de ser. Tudo quanto (1) Como identidade absoluta é como deferente absoiuto o Sor ul!rapassa ns opostos, transcende-os Esse conceito razão, na verdade a ultrapassa, o a sua justificação esbe à * tologia”. Nessa disciplina, veremos que c conceito de Ser é emi- nentemente diatéctico. em FILOSOFIA F COSMOVISAO 183 existe tem uma razão de ser preferentemente n uma razão de não ser, Aleanga a razão éss in pela observação racional de tudo cuanto se dá na realidade, Tndo quanto se dá tem que ter uma razão suficiente (Lcibnilz chama de razão deter minante e já veremos por que) para que seja assim e não de ouiro mexlo, Dissemos que nã fiosofiu clássica, e até na filosofia mo- dema, tem havido uma grande confusão entre o princípio de razão suficiente e o princípio de causalidade, que se pode emun- “todo fenômeno tem uma causa”. Para Leilmitz cípios estão englobades no que êle chama de “prin cipio de razão determinante”, Leibnitz fêz uma distinção entre causa e razão suficiente. (Foi êle a primeiro a enunciar nitidamente o princípiu de ra- zão suficiente). Esnpregon-os contudo coro pouca clareza. No priseípio da conservação da fôrça, exposto por Leibuitz, há corfusão entre « priucípio de Razão suficiente e o de causali dade, pois quando pensa referitse a uma cansa real, refere-se a uma cansa racional, Sabemos que o racigmalismo sempre confundiv a lógica com a notalisca. Hegel identificou a leoria do ser com a ciência do sor (tudo quanto é rcal é racional, tudo quanto é racicral é real). Considerau as elaborações da razão como da- des da realidade, e que os pensamentos aprioristicos obtivessem cia sensível, fosses os me- es anesmos resultados que à exp tivos do desdém de racicnalismo à experiência sensivel. (1) Spinoza. por exemplo, considerou a 1: te como a causa des séres e das fenômenos, pois doduziu lbgicamente os séres do & al, reconhecendo, neste, à razão suficiente de todos os sêres, pensando estabelecer, assim, uma relação de causa e efeito, que é a base do seu pantejemo. Na definição er uni (1) Essa a interpretação aque geralmente sc faz de Hegel; vo entanto cm “Dialéctica”, terzes vensião de mostrar qual o ulcanvo dussa afisoativo, e propor-lhe restrições, fundedas na obra hegelians MARIO FERREIRA DOS SANTUS nt de sua Ethica, lê-se: si é é concebido por si necessidade do conceito de outra coisa, do qual deva ser for mado' “Entendo por substância o que é ca quer dizer, cujo conceito, vão tem A existência real é confundida aqui cam a e cisténia lógie: A substância que é, subsiste pelo conceito que não precisa de outro conceito para a sua compreensão. Reconhece êle, no Ser, a razão suficiente do todos os séres que êle tiro daquele. estabelecendo, entre O Ser e os » éres, uma relação de causuli- dade. Entretanto Spinoza ultrapassa mais adianto essa cen fusão as estabelecer » carácter de necessário aq Sex, enquanto os outros sêres são contingentes, mocos de ser que podem exi tir oa poderiam não existir, por não serem necessários. Tam bém Wolff, Selclling, Hegel e até e próprio Kant, cometer dessas confusões, o que seria lergo estudar € uns Sempre, néles, a cuusa lógica prevaleceu sôbre a causa real, Devemes distinguir portanto: a) princípio de Razão suficiente (puramente légico) b) princípio do causalidade, O primeiro é considerado a priori (Kant por exemplo) e contem à razão (razão lógica para alguns, absoluta). Actua fora do mundo concreto, actua no mundo conceptual criado pela razão; é o exercício da razão pura, esforçando-se por tornar i- toligível (racional) o mundo real e o mundo ideal. E uma imposição da razão à realidade. E por iso transcendente. Considerado como « pricri está incluída nas idéias inatas do Tlatenismo e das escolas decorrentes. Ou como conceito cuja validez é dependente da experiência (Kant). Já vimos que, para Kant, e apriori tem sua validez na experiência Considerando a posteriori & uma consequência Ca experi- ência (háhitos contreídos pela razão e impustos por essa à na: FILOSOFIA E COSMOVISÃO 155 turcza por nece: rer; 2) idade funcional). E neste caso pode decor- a experiência imediata concreta: contaelo de nosso espírito com a realidade; bh) da esper ncia imediata (com meios )e abstracta — contacto de nosso espírito com suas pró- s abstracções. P ANÁLISE DO PRINCIPIO DE CAUSALIDADE. Este princípio trabalha o interior da em ple lidade concreta, experiência directa, e põe em movimento todos os recursos extra-racionais do espírito: » observação, a imaginação, a Estuição, à bom senso. Êle & imanente à realidade (perten- sita da intervenção de um agente exterior para manifestar-se, E o contrá ve À eslidade e não nece rio de transcendente). Como concerne à caperigacia, provém da observação da experiência, Concume à razão real, como chamam alguns, como «ção ou como derir. O conceito de causa é dado pela experiência ou pela intuição, fi um têrmo empírico, que serve para explicar um fenôme- no antecodente de um facto, da mesma natureza dêsse facto, ou então um agente produtor de um ser, que, 40 menus em parte, é da mesma vatureza dêsse ser. De qualgucr forma, a uso, de velado, do cuigná- ura para 4 razão, como tudo quanto é dinâmico, móvel, mutável, Depois de uma longa experiência, de longas observações, a idéia de causa surge como algo obscuro. idéia de causa tem elgo de miste tico, de ole A razão aproprivu-se da idéia, deu-lhe 0 conceito vaciimal, tornou-o algo mais fixo, mas não péde, apesar de tudo, Bapedir que nessa idéia permaneça a obscuridade, E é essa obscnri- dade que serve de fundamento para os que atacam o princípio de causalidade, (a relação causa e efeito), como foi combatida por Hume com argurnentos poderosos. Já na vazdo suficiente é o têrmo racional cuja existência implica a co têrmo a explicar, A razão é abstracta, já vimos. am a qm . e mm a cama 186 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS à razão suficiente de um ser singular é a sua espécie; a razão suficiente da existência do leitor é a espécie humsna. A ese pécic tem, como razão enficiente, o gênero. Bo Ser é ligi- camento (note-se bem, lôgicamente) a razão suficiente de tu- do quento existe, Dessa forma a razão suficiente tem uma existência puramente lógica, é extra-temporal, coma iá vimos, enquanto a causa é temporal (dá-se no tempo), A razão su- fiviente decorre do pensamento racional É êste que Jhe dá uma forma necessária, necessária pura tornar inteligível à rea- lidade estática, como é a realidade da razão que é fixa, invtá- vel, não evolui. Ela dá racionalidade à realidade, e fai nesse sentido que Megel a compreendeu. CARACTERÍSTICAS DO PRINCÍPIO DE RAZÃO SUFICIENTE, Já vimos gue o Princípio de Razão Suficiente é um princi- pio lógico, puramente racional, impotente ante o dicrente, e que se aplica ao semelhante. Tanto o de razão suficiente como o de causalidade são meios de explicação, os únisos meios que satisfazem a razão, e são aceitos quando dão uma explicação suficiente de um fenômeno. A razão suficiente é uma expli- cagão suficiente, que basta, que é bastante. Vejamos as diferenças entre êsses dois princípios: “Eo- quanto táda causa é ao mesmo tempo uma razão suficiente, nem tôda razão suficiente é uma causa”, £ grande a.impor- tância dessa diferença, mas facilmente compressíve), porque iente ordena o mundo das idéias c da realidade, a razão sufic enquanto o de causalidade ordena apenas o mundo da teali- dade. O princípio de razão suficiente não precede nc tempo ao seu produto, pois a razão suficiente não é apresentada antes do seu produto. Ela precede no espaço, ela aparece antes na inteligência Jógica, como princípio, não como facto. Q note, não para a esperiênci zer: precede para a intolig a intuição. FILOSOFIA E COSMOVISAO 187 | E simultânea à consequência, coexiste com essa, Por ser simultânea, procede no espaço e permite a resensibilidado, (A simultancidade c a reversibilidade são condições da espaço) Não há espaço sem simultaneidade e reversibilidade o , No cesa da raxão suficiente, a simultaneidade ea rover silitilade são ideias ao menos, mas Dossuidoras, portarita, dos caracleres do espaço (da espaço ideal), pois como já vimos é espacial o campo de ação da ração. Sóbre a existência, simiitaidade o a reversibilidade, Dastania vm extemplo pasa eschrecer tudo: o homem é a espécio humana: uma é com preensivel simultaneamente com o outro, e é reversível, pois posto partir do homem como indivíduo para cheger À espécio, <«omo possa part: da expécie para o individuo, | A precedência da razão us sem produto se dá no espaço, não no lempo, e isso porque ela surge à inteligência como princípio, não como farto, , Schopenhauer mostra como tevou séculos à inteligência umana para perceber que vm conceito racioval não é nm Princípio real, que a razão de ser não é a causa, que a Iigica não pia Mas, (diga-se de passagem), Aristóteles já 0 rebido. Schopenhauer classificava o princípio desta forma: | À) prisetpia de razão suficiente do devir (principium ra- tionis suficiontis fiendi). 2) princípio de razão suficiente do conhecimento (prim- cipium rarionis suficientis cognoscond:) . 3) princípio de razão suficiente do ser (principiem ra. tonis suficientis essendi). 4) principio de razão suficiente da ação Cprincipium ra- tionis enficientis ugendt). Temos: &) conhecimento e ser que são de origem racional é h) dese e eção que são de origem empírica o intuí- iva. 192 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Transformando 8 causa vum gênero, cuja ospécie é o efeito, tomou-o razão suficiente, causa lógica. E a única ox plicação que satisfaz à razão, porque é explicação suficiente de um fenômeno, porcue, por definição, a razão suficiente é uma explicação suficiente, E por isso também a Joma ne- cessária, porque é suficiente, e é suficiente pur que é neves Já chegamos à causa lógica Je rarão suficionte e podemos identificar uma à cutra. A causa lógica é reversível, mas à causa real não o é. Uma é espacia.izante e a outra tempo- ralizante. A razão examina, coro a razão esamina um juíza, O espírito é que actualiza a causa real, que é virtua- lidade, que & potência no sentido axistotélico, para torná-la acto no espírito, transformando-e cm causa Tó Desta forma, o espirito actualiza (a razão é a função actualizadora do espírito), a potência passa ao acto, transfor- rmando-se, assim, de uma idéia obscura para uma ídéia clara. Ela identifica, transforma o que desconhecia no que já co- ntece. Dá um sentido de estabilidade, de estático; substituí o dinâmico pelo estático, Essa é a descoberta da razão: elu descobre, cla destapa o obscuro para rescltar o qu> é claro. (Notem quanto influi a visão na razão. A idéia de clareza é de origem visual. A certeza visual é a certeza d" qual te- mos convioção, quando fixamos alguma coisa), Com a rarão suficiente não passamos de uma realidade para outra realidade; permanecemos numa existência única, no semelhante, no parecido, em suma, na identidade. Já na causa real há um ultrapassamento, Passamos do facto real para outro facto. Assim, enquanto o princípio de razão sufi- ciente é um princípio lógico, o de causalidade é metafísico, Dissemos que O princípio de razão suficiente é uma decor- rência do princípio de identidade, uma forma especial dêste, como o é q princípio de contradição e do terceiro excluído, porque todos éles tendem a uma identificação das diversi- dades e a uma unificação da reslidade. Recordando o que tratamos na classificação, pode dizer-se que o princípio de FILOSOFIA E COSMOVISãO 183 ienes , identidade € o auxiliar da razão pasa a classificação. O ho. mem, graças à sua visão binocul Ca a pu ni “lar, à faculdade que tem de Dos dos sôbre um objecto para visualizá-lo, tende para a estubilidade, o estático, o parado, o imóvel, Quando quezemos ver alguma coisa, precisamos pará Essa característica da visão hunimna (e essa é nossa opinião), condjuvou para à formação de vma função fisadora do o” vecimento, unção Lixadora do espírito, que é à razão — Come a exra, por seu aspeos pois ultrapassa à visualidade qui tos da ra O dinâmico, escapa à visão, ASS sempre, foi com argumen- “io que Hume e Nietzsche puderam estabelecer tan- tos e poderosos argumentos contra a idéia de causa, | Para Hume, à idéia de causa é apenas uma crença. Kant apro- veitando-se da crítica de [lume transformou à cansalidade mo ua categoria, num cOnesito puro do entendimento. A causa- idas qa s lidade Passou a ser aceita como uma possibilidade da deter minção de todos bs ir astuntes dos fenômenos, no tempe. (1) (1) O racionalismo, vomo º ismo, é ui neição a ú rm Dad ima posição uhstraciista, nos grandes escotísticos, não 2 es e nos es esculásticos, se observa tal epcesa de estginlização das idéias, como se vê na filosofia ra alista mode-na, Tul não im d a o impede que se critique, nas aci à : , ci e ted 5 certos exageros, embora menores, may que foram avem. Patrasad Roo discinulos, B o que se verifica também no art Too é Erande apesar do petrarquismo, que actualizou mais O8 deízitos que as vistudes, e us viriudes Menores, pelo exoos- a » Sivo, tornaram-se deficientes oe cneoreeasa. o...» A a IV .CONCEITOS DA RAZÃO -— CONCEITOS DA INTUIÇÃO estudamos, são, quanto à irmam Os gêneros supremos, que t ' hierarquia (conceitual), de graus gifetentes. Uns cfr a que êsses gêneros são formas aprioristicas, nec a, a A so pensamento, Outros inda os co! ram o da a nosso espírito, c quase todos afirmam serem eles pa o poa experiência. Esses gêneros supremos vão inevitâves: - ca à forma, coordenar as nossas reprosentações. o pese A do que Aristótcles chamon-os de estegori a que o tempo e 0 espaço não eram prôpriamente gone tos as formas puras da nossa sersibilidade, Já sem jam am oportunidade de estudar éste ponto. . Fara a doação. : congeitos já vimes que são nossnios duas esti o Ee sensação e à inteligência, sendo esta Sitotoamero posta em dvas funções, que são a intuição e a razão. , “ o gonismo no funcionamento dêsses duis process s : Tm e tes da nossa inteligência À inteligência é consid ernda per Claperêde, Klages & Nietesche, com pequenas vari sos qu desprezar, como um meio de adaptação a O instinto, desviado, homem, um instrumento de adaptação. im me desce desatada (caso do homem) toma-se inteligência porqu cares Dot a tama consciência de si mesmo. (1) mas ienci a pode ter desdosrar-so at tefcitum, pois a comeiência anca pode tec consuiênei tim consciência de que emsei: ronmiência de que 4 PN sta forma, eln pode distanciar-se sempre de si mesma. — : at a a de Noologia, a ciência do consante actuar da conse espírito. FILOSOMIA E COSMOVISAO 195 O nosso conheriment tico, Há-cm todo conheci suparar, seleccionar, esco! já vimos, é descontinuo € cinemá- nerta desconhecimento; conhecer é er, A perecpção de uma diferença (e também a intensidade dessa diferença) é a basu da cons. cia (era o pensamento de Stuart Mil], como também se. melhantemente é a concepção de Bergson). O instinto (instinctus, cin Tatim significa impulso) quan- do tema « heeimento de s: mesmo é a tuição nara Herg- fen; à razão é em desabrochamento posterior. O instinto tem vt fim, dirige-se para um fim. Mis, revertendo-so séibre si Mesmo, interiorizando-s Tollste-so à si mesmo e seflote sôbre “ mesmo, O instinto é um impulso interessado. Na impos- sibilidade de atingir 04 scns ins, reverte.so sóbre si mesmo e Parece tornar-se desinteressado. (Lembeemo-nos da opinião de Nicteshe sdlxe a interiorização do homs Por não po der realizar, na sociedade, tudo quanta o impelem os seus instintos, recolhe-se em si mesmo, inferioriza-s: » Qdoece de sf Mesmo, cria a má consciência ao lado da consciência), Essa opinião sóbre a formação da razão como mera revsrsão do ár tinto, que acima espusemos, não a aceitumes, porque a razã não é apenas elaborada, peles instintos. O Papel sclectivo da própria vida, dos Grgios dos sentidos, a acentuação do dina- mismo des bondloges que já estudamos, most am-nos que Mrarão é de origem múltipla « complexa, o tem ruízes muito mais longínquas de que pensam muitos filósofos, O tinto imrovertido é um fector da Tazio, mas um Factor cocperante die Actua predisponestemente, é não única à melmente àquela adequaio for- Na rezão há a coexistência que ulicapassam ao instinto. vertida para o exterior, intr muitos qutros elementos Quando a tensão nervosa, antes Overte-se, é com É conncração de tantos Ínctores torna-se razão, torra-se também desinteressada, no sentido do interêsse peculiar da instinto, para ter outro, o da razão. E vejamos por que segundo « opirião geral de tais auto. res: quendo a intuição se torna impotente, porque o conheei- mento do inlividaal seria um obstáculo à vida, e vida é mn 156 MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS dinamismo para o homólogo como já vimos, a tazão surge para melhor compronder. À razãn serve um fim que é da cca- momia da própria existência. Enquanto os instintos são su- ficientes, como nos animais inferiores, ela não surge. Quan- «lo êsses instintos se tornam incapazes, por si sós, de atendo- rem à defeza da existência e a intuição é insuficiente, a razão aparece 6 45 desenvolve concomitantemente com a redução do tintos e da iatuíção como se dá com o do vostigar êste ponto potencial das is mais profundamente. sudo, tem um fim. Sea e que à intuição (sobre Fla serve assim à vida; e intere: filosofia deu sempre mais valor à razi tudo a filosofia vcidental, que é espeeulativa, como já vimes, tcórica, eminentemente racionalista) é que a razão prop oferece, dá possibilidades maiores do que se julgava. Ea oferece todo o conhecimento (e nisto têm razão os mís os irracionalistas, porque não dá um e imento compie- to). Mas munida da razão, v levando-a como instrumento de a filo- ão ieos, investigação até as suas últimas consequências, poder: sofia peuclrar em terrenos seguros coro o pôde com & esco- lástica que scube usí-la, Esse « motivo porque o impulso racionalista foi tão predominante no Ocidente, onde as con dições sociais e ambientais permitiam o desabrochan.ento do rational. Se no século passado neste se desenvolve uma ampla corrente irracionalista ua filosofia, este não vem pare ão, comp pensam Inuitos, 1945, ao deterininar os o que não destruir a ra seus lonites, vem desenvolver a parte da intulçi devera ficar esquecida como ficou, depois do malógro (em tico. parte aparente) do movimento mí Já estabelecemos a correlação existente entre a razão « o órgão da visão. À razão oferece-nos a nitidez (mitidus, em latim, claro, lustraso, brilhante), As idéias claras são aque- (a palawa idéic, vem de um radical que sigoifica ver) — A visão clara, aítida nos dá uma imagem visível, claramente recortada no espaço, como abstraída do resto que a cerca, A razão esquematiza, separa, dá nitidez, amém las que s2 podem ver q ? clareza À idéia que ab i ' ' FILOSOFIA E COSMOVISÃO 197 Ássim mostramos também quanto tem de espacializante a razão. Para compreender º sos O tempo o espacializamos, tão por estarmos no espaço, coro q pensava Bergson, mas per influência ca razão, que espacializa para perceber melhor, À razão é assim interessada e utilitária, Porque serve à vida, Porque convém à manutenção da vida é por ser o lomem o animal de instintos imais frágeis, é também o que tem a razão desenvolv: Depois Cêsse exórdio, em que repisamus muitos dos pon- tados, podemos entrar agora nes conceitos da Razão é da Intuição, e analisá A inzão por ser espacializante (já vimos que u espaço é u meio da coex lência, da simultanei- dado, da reversibilidade) é eminentemente extensista; é ela, para usarmos uma velha expressão da psicologia clássica, que nos cá a visão da extensidade, Assim os seus conceitos pre- foridos (conceitos básicos) são 1) O semulhente. (Já estudamos sobejamente q seme- lhante e 5 roteiro que vem do parecido ao semelhante, do semelhante para o mosuo, do mesmo para o igual e do igual à identidade, que é a homugencidade absilnta, abstração má- xima da função ubstractiva da razão). (1) - 2) A quentidado — A materialidade c a espacialidade nos dão a idéia da quantidade que é homogênea. Temos daí & grandeza, o uúmero, todos de ordem genôticamente visual. 3) A hmutubilidade, Atrevés do que Mui, do que mu- das de que se transforma, du que é móvel, deve haver algo (1) Os conceitos da razão, tomados abstractivamente não correspondem à totaildade do real, as doí não se pude concluir vela falsidede, São dles esquemas abstractos noéticos, mas po- dei ser adequados ro que corresponde jundamentelnente ras eúisas, tomo vemes na “Teori do Conkezimento” é na “Nool- Gezal”, 1) empeégo exagerado de tais conceitos racionais, Struetiva c zão cinlêeticanento tomados, deve-se ao raciona- “lema, que, como ismo, repetimos, é vivi
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