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Guias e Dicas
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Fisiologia Cardiovascular aplicada, Notas de estudo de Farmácia

Fisiologia Cardiovascular aplicada

Tipologia: Notas de estudo

2015

Compartilhado em 11/03/2015

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Baixe Fisiologia Cardiovascular aplicada e outras Notas de estudo em PDF para Farmácia, somente na Docsity! FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR APLICADA Otoni Moreira Gomes VERDADE É JESUS - São João 14.6 JESUS ES LA VERDAD - San Juan 14.6 TRUTH IS JESUS - St. Jonh 14.6 Coordenador e Orientador de Pós-Graduação Estrito Senso em Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular (Parecer CFE-MEC 576/91 ) Diretor Científico da Fundação Cardiovascular São Francisco de Assis ServCor Prof. Titular / Cirurgia Cardiovascular - Departamento de Cirurgia da FM. UFMG Presidente do Dpto. de Cardiologia da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular Presidente do Departamento de Pesquisas Experimentais da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (DEPEX - SBCCV) Presidente do Departamento de Fisiologia Cardiovascular e Cardiologia Experimental da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DFCVR-CEX-SBC) Executive Director of the International Academy of Cardiovascular Sciences ( South American Session )  Dedicatória Com amor, para minha esposa Maria Aparecida e nossos filhos Eros, Elaine Maria e Elton, equipe inabalável, minha estrada e meu porto. Com amor para Michelle, Marcella, Joana, Henrique e Fernando, luzes em nossas vidas e futuro de nossos sonhos e ideais. Na certeza de que todo Amor vem de Jesus. Fisiologia Cardiovascular Aplicada  Agradecimentos Especiais Aos autores e colaboradores, cuja competência, amizade e confiança incondicional definem o valor e realizam o pioneirismo desta Edição. À preciosa equipe de Editoração da Fundação Cardiovascular São Francisco de Assis, Sr. Elton Silva Gomes, Sra. Maristela de Cássia Santos Xavier, Sr.. Fábio Costa e Sr. Odélcio Júnior Rogério M. Júnior pela competência e dedicação inestimáveis, tornando possível também esta realização. À Dra. Elaine Maria Gomes de Albuquerque (OAB), Diretora - Presidente da Fundação Cardiovascular São Francisco de Assis / ServCor, pela competência, dedicação e enlevo que agregam, motivam e viabilizam o trabalho constante e a diferenciação da qualidade na assistência, ensino e pesquisa.  Reconhecimento/Reconocimiento/Tribute NARANJAN S. DHALLA PhD, MD (Hon), DSc (Hon), Distinguished Professor and Director Institute of Cardiovascular Sciences St. Boniface General Hospital Research Centre Faculty of Medicine, University of Manitoba, Winnipeg, Canada Founder and CEO International Academy of Cardiovascular Sciences PROFESSOR MUNDIAL DE CIêNCIAS CARDIOVASCULARES PROFESSOR DE CIêNCIAS CARDIOVASCULARES EN EL MUNDO PROFESSOR OF CARDIOVASCULAR SCIENCES ALL OVER THE WORLD Fisiologia Cardiovascular Aplicada 10 Larissa de Oliveira de Lima Coutinho Assistente do Departamento de Fisiologia - Prof. Osvaldo Sampaio Netto- Universidade Católica - DF Leticia Vittone Centro de Investigaciones Cardiovasculares, Facultad de Ciencias Médicas, Universidad Nacional de La Plata, La Plata 1900, Argentina Investigador del Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Argentina Luiz Ricardo Goulart PHD em Genética e docente do Instituto de Genética e Bioquímica da Universidade Federal de Uberlândia – MG Marcílio Faraj Mestre em Cardiologia pela Fundação Cardiovascular São Francisco de Assis / ServCor Prof. Adjunto de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Barbacena da FUNJOB Coordenador e Preceptor da Residência Médica de Clínica Médica da Santa Casa de Misericórdia de Barbacena -MG Marta Del Riego Cuesta Médica Veterinária - Pós-Grad.Latu Sensu Clínica Médica de Pequenos Animais - PUC Minas Martín Donato Becaria de la Facult. de Med. de la Univer. de Buenos Aires, Beca “Prof. Dr. Alfredo Lanari Martin G. Vila Petroff Centro de Investigaciones Cardiovasc., Fac. Ciencias Méd., Univ. Nac. La Plata, Argentina Investigador del Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Argentina Mauro Ricardo Nunes Pontes Cardiologista - Instituto de Cardiologia - IC/FUC - RS Mestre em Fisiologia - Laboratório de Fisiologia Cardiovascular - ICBS/ UFRGS Médico Assistente da Clínica de Insuficiência Cardíaca - Complexo Hospitalar ULBRA/RS Supervisor do Programa de Residência em Clínica Médica - Universidade Luterana do Brasil - ULBRA/RS 11 Melissa R. Dent Department of Physiology, Faculty of Medicine, University of Manitoba, Winnipeg, Manitoba, Canada Messias Antônio Araújo Doutor em Genética e docente do departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Uberlândia – MG Michael R Dashwood Department of Clinical Biochemistry, Royal Free and University College Medical School, Royal Free Campus, Pond Street, London NW3 2QG Noeme Maria A.C.Osterne Médica Residente do Hospital das Forças Armadas de Brasíliia Osvaldo Sampaio Netto Prof. Titular e Coordenador do Departamento de Fisiologia da Pontifícia Universidade Católica do Distrito Federal Otoni Moreira Gomes Orientador de Pós-Graduação Estrito Senso em Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular (Parecer CFE/MEC 576/91) - Fundação Cardiovascular São Francisco de Assis / ServCor Professor Titular do Departamento de Cirurgia da FMUFMG Paola Contreras Departamento de Fisiología. Facultad de Medicina. Montevideo. URUGUAY Patricia Cabeza Meckert Instituto de Cardiología y Cirugía Cardiovascular, Fundación Favaloro Comisión de Investigaciones Científicas de la Provincia de Buenos Aires2, Argentina Patrícia de Moura Silva Fisioterapeuta – Bacharel em Fisioterapia pela FCMMG. Especialista em fisioterapia respiratória pela UFMG Paulo Antônio Marra Mota Médico Cardiologista Intervencionista do Hospital de Base, Instituto do Coração de Taguatinga, Hospital Santa Lúcia e Centro de Tratamento Cardiovascular do Hospital de Brasília Radhi Anand Department of Clinical Biochemistry, Royal Free and University College Medical School, Royal Free Campus, Pond Street, London NW3 2QG Fisiologia Cardiovascular Aplicada 12 Rafael Diniz Abrantes Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular (GEPESC – FCSFA/ServCor). Ac. da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais Ricardo L. Armentano Prof. Titular . Coordenador de Pesquisas Cardiovasculares - Argentina Ricardo J. Gelpi Prof. Titular y Director del Centro de Pesquisas Cardiovasculares de la Universidad de Buenos Aires - Argentina, Presidente de la Session Sul Americana de la Academia Internacional de Ciências Cardiovasculares, Investigador del Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Tecnológicas (CONICET) Rubén P. Laguens Prof. Titular y Director del Departamento de Anatomia Patológica - Instituto de Cardiología y Cirugía Cardiovascular, Fundación Favaloro Rolando A. Agramont Médico Cardiologista do ServCor. Especialista em Cardiologia pela SBC Sandra J. Pereira Especialista em Cardiologia Pediátrica pela Soc.Bras. de Pediatria e pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Chefe da Cardiologia Pediátrica do Hospital dos Servidores do Estado. Thomas Edson Cintra Osterne Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília Ubirajara Fernandes Valladares Médico Clínico - Mestrando de Medicina pela F.C.S.F.A. – ServCor. Verónica D´Annunzio Becaria de la Fac. Med. de la Universidad de Buenos Aires, Beca “Prof. Dr. Alfredo Lanari Victor Murad Prof. Titular de Cardiologia da EMESCAN 1 21- BASES FISIOLÓGICAS DE LA VARIABILIDAD DE LA FRECUENCIA CARDÍACA...............................................................304 Eduardo R. Migliaro, Paola Contreras 22- ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS CARDIOVASCULARES AO EXERCÍCIO.......................................................................................316 Patrícia de Moura Silva 23- EXERCISE FOR HEART HEALTH ...................................................324 Ivan Berkowitz, Melissa R. Dent 24- ENDOTÉLIO VASCULAR: DA FISIOLOGIA À DISFUNÇÃO ....................................................................................332 Mauro Ricardo Nunes Pontes 25- FISIOLOGIA APLICADA DAS VÁLVULAS VENOSAS DE MEMBROS INFERIORES..........................................................347 Otoni Moreira Gomes, Eros Silva Gomes 26- VASA VASORUM APPLIED PHYSIOLOGY ..................................357 Michael R Dashwood, Otoni M. Gomes, Radhi Anand Andrzej Loesch, Domingos S. R. Souza 27- FISIOLOGÍA APLICADA DE LA PROLIFERACIÓN VASCULAR........................................................................................371 Alberto J. Crottogini, Gustavo L. Vera Janavel 28- BASES PARA EL ESTUDIO CLINICO DE LA FISIOLOGIA ARTERIAL PULMONAR............................................382 Daniel Bia Santana, Ricardo L. Armentano, Edmundo I. Cabrera Fischer 29- FISIOLOGIA ARTERIAL PULMONAR DURANTE ESTADOS DE HIPERTENSION AGUDA..........................................................406 Daniel Bia Santana, Ricardo L. Armentano, Edmundo I. Cabrera Fischer Fisiologia Cardiovascular Aplicada 1 30- MECANISMOS DE PROTECCIÓN MIOCÁRDICA EN LA CARDIOPATÍA ISQUÉMICA...........................................................431 Martín Donato, Verónica D´Annunzio, Ricardo J. Gelpi 31- PRÉ E PÓS-CONDICIONAMENTO ISQUêMICO MIOCÁRDIO..............................................................459 Otoni Moreira Gomes, Ubirajara Fernandes Valladares, Victor Murad 32- FENOMENO DE LA ESCALERA: ALTERACIONES EN EL CORAZON INSUFICIENTE........................................................468 Martin G. Vila Petroff, Julieta Palomeque, Alicia Mattiazzi 33- FISIOLOGIA APLICADA DA RESPIRAÇÃO.....................................482 Rafael Diniz Abrantes, Otoni Moreira Gomes 34- APNÉIA DO SONO: FISIOPATOLOGIA E IMPLICAÇÕES CARDIO VASCULARES....................................................................514 Mauro Ricardo Nunes Pontes 35- FISIOTERAPIA, O SÉTIMO CORAÇÃO .........................................525 Otoni Moreira Gomes 36- FISIOLOGIA DO CORAÇÃO TRANSPLANTADO...........................536 Alfredo Inácio Fiorelli 37- FISIOLOGIA APLICADA DA COAGULAÇÃO E ANTICOAGULAÇÃO SANGüÍNEA................................................565 Otoni Moreira Gomes 38- MECANISMOS GENÉTICOS POTENCIAIS NA DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA..........................................578 Messias Antônio Araújo Luiz Ricardo Goulart 1 A EVOLUÇÃO DA FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR Otoni Moreira Gomes As primeiras noções da humanidade referentes ao sistema circulató- rio, remontam aos três primeiros milênios antes do nascimento do Senhor Jesus Cristo, e constam de escritas egípcias em hieróglifos, descrevendo as artérias como os vasos contendo ar. Esta interpretação, possivelmente, prende-se ao fato de que nos cadáveres as artérias ficam vazias, enquanto que no leito venoso o sangue permanece coagulado. A destruição da Bi- blioteca de Alexandria, em 391 da nossa era, (1) criou um hiato sombrio na cultura médica, por sepultar um milênio, precisamente o último, da cultura egípcia clássica, ficando uma impressão injusta de que os conhecimentos fundamentais tiveram origem na cultura greco-romana. Por isso, os registros seguintes, mais próximos documentados, datam do século IV a.C.. Hipócrates (350 a.C.), considerava o coração como o centro da vida e das emoções. Erasistratos (310 a.C.), descreveu fundamentos importantes da atividade do coração como bomba, identificando alterações da freqüência cardíaca e sedimentou o conceito de que “coração dá origem ao espírito vital que é levado pelas artérias a todas as partes do corpo”. Herófilo (300 a.C.), que também como Erasistratos era médico em Alexandria, sendo anatomista e clínico, descreveu as pulsações e considerou ser o pulso um fenômeno intravascular. (2) Relata-se que Erasistratos realizava experiências de dissecação em prisioneiros humanos vivos, os quais pediam a execução sumária para não serem dissecados. (3) Com o advento do cristianismo, as dissecações em humanos foram primeiro abandonadas e posteriormente proibidas, porque não havia outra atitude possível, para proteger seres humanos da dissecação e evisceração, em vida, sem nenhuma anestesia. Este motivo não tem sido suficientemente ensinado, para explicar a proibição da Igreja para estudos em humanos naquela época. Capítulo 1 Fisiologia Cardiovascular Aplicada 20 seu livro histórico “Exercitacio anatômica de motu cordis et sanguinis in animalibus”,(3,9) conhecido universalmente como “De moto cordis”, conceituando definitivamente a seqüência da contração atrial antecedendo a ventricular e o fato de que a mesma massa sanguínea circulava constantemente. Até ele, todo o conhecimento médico fundamentava-se no estudo do corpo inerte. Após Harvey a anatomia e a fisiologia ganham movimento e vida e com elas toda a medicina se revitaliza. Seu livro, que mudou o mundo, tinha 72 páginas, com dezessete capítulos mal impressos, com 126 erros na primeira edição, com cerca de 200 exemplares, dos quais possivelmente ainda restem 53 (informação de Geoffrey Keynes, citado por Friedman e Friedland). Harvey não chegou a entender a drenagem linfática, e não aceitou a descoberta de Caspare Aselli (1627) de que a linfa ou quilo deixava os intestinos por vasos linfáticos, drenando para o ducto torácico. Harvey não soube que os pulmões oxigenavam o sangue, e também nunca mencionou a diferença de cor entre o sangue venoso e o arterial, mas anatomistas predecessores já o haviam notado. Não conheceu a existência da circulação capilar, nem como o coração podia bater, e acreditava que as artérias se esvaziavam diretamente nas veias. Mas esses conhecimentos não poderiam precedê-lo, porque seriam incompreensíveis sem a evidência de que o sangue circulava, como ele demonstrou. Harvey era médico de grande prestígio na corte e amigo particular do Rei Carlos I. Esta amizade está perenizada na pintura de Robert Hannah (Museu de Londres) mostrando Harvey ensinando sobre o coração para o rei, na presença de seu jovem filho Jorge, que optou pela advocacia e foi o instituidor do Habeas Corpus. Harvey, já aposentado em 1649, recebeu a visita do jovem Dr George Ent, seu amigo e admirador, que organizou os conhecimentos e escritos de Harvey sobre embriologia, publicados por Harvey em 1651, no livro “Excitaciones de geratione animalium”, onde afirma que toda vida tem início por um óvulo ou ovo, e daí prossegue o seu desenvolvimento. Esta informação, contudo, não teve nenhum impacto em sua época, até porque ainda não existia microscópio nem a microbiologia. Robert Hook, em 1664, apresentou na Sociedade Real de Londres (London Royal Society) seu microscópio, que só permitia visão mais acurada de superfícies já visíveis a olho nu, e Antoni van Leeuwenhoek, só em 1673, apresentou seu microscópio, que embora sendo menos complexo do que o modelo de Hook, possuía lentes polidas, com resolução incrivelmente maior, abrindo para a medicina o universo da microbiologia. E foi, exatamente Regnier de Graaf, médico e anatomista holandês, altamente conceituado, descobridor do ponto gerador de óvulos 21 pelos ovários, quem, poucos meses antes de morrer aos 32 anos de idade, recomendou o invento de seu amigo Leewenhoek à Sociedade Real de Londres. A descoberta, definitiva do óvulo no ovário humano aconteceu em 1827, por Karl von Baer.(3) Richard Lower, em 1669,(10) demonstrou que o sangue ao passar os pulmões mudava a cor azul-escura para escarlate vivo por causa da exposição ao ar. Inclusive comprovou o fato agitando o sangue em vaso aberto, mudando a cor violeta escura para vermelho brilhante. Foi também Richard Lower, quem definitivamente demonstrou o automatismo da contração miocárdica: Em reunião com representantes da sociedade científica da época, Lower retirou um coração de animal, esvaziou todo o sangue, cortou os ventrículos em várias partes e mostrou que os pedaços de ventrículos continuavam pulsando. Mas os opositores disseram que era o vapor de sangue quente dentro dos pequenos vasos do miocárdio que fazia o miocárdio pulsar. Richard Lower, então, fez uma demonstração experimental, perfundindo a veia de um animal com cerveja e deixando o sangue sair pela carótida cortada, até não haver mais sangue e vazar apenas cerveja. Como o coração continuasse batendo, o experimento foi aprovado como demonstração suficiente de que o coração batia por automatismo! Conversa à parte: Que cerveja fantástica! Uma das conseqüências do conhecimento de que o sangue circulava, foi o início da terapêutica transvenosa, tendo Johann Daniel Major, de Pádua, injetado droga em veia de animal por meio de tubos muito finos de prata. Foi Richard Lower, quem pioneiramente realizou a primeira transfusão de sangue, de um animal para outro, por meio de tubos introduzidos em vasos sanguíneos. Também a prática de transfusões de sangue de animais para homens é descrita por Lyons e Petrucelli-II(5) como iniciada pelo próprio Richard Lower, que transfundiu sangue de ovelha para um jovem procurando melhorar seu caráter. Jean-Baptiste Denis, em 1667, repetiu esta experiência, com o mesmo propósito em outro jóven, mas o paciente teve uma reação violenta e morreu. Denis foi inocentado, mas os governos italiano e francês proibiram todas as transfusões de sangue. O Parlamento inglês proibiu a transfusão de sangue animal para humanos,mas manteve a permissão da transfusão do sangue homólogo. A solução para o problema da incompatibilidade sanguínea veio apenas em 1901, quando Karl Landesteiner descreveu os tipos A,B, AB e O, e Landsteiner e Wienner, em 1940, descreveram o sistema Rh de compatibilidade. Marcelo Malpighi, em sua obra Opera Omnia, de 1686,(11) foi quem descreveu a circulação capilar completando a monumental obra de William Fisiologia Cardiovascular Aplicada 22 Harvey. No século XVIII destacaram-se as contribuições do médico alemão Adam Christian Thebesius (1685 - 1732), que descreveu a drenagem venosa cardíaca para as cavidades atrial e ventricular direitas por veias mínimas (Veias de Tebésio) e de Raymond Vieussens, em 1706, na França, descrevendo a drenagem arterial para dentro das cavidades ventriculares (Sistema arterial de Vieussens).(12) Foram também imprescindíveis para a moderna estimulação cardíaca, as contribuições de Luigi Galvani (1737 - 1798), demonstrando que os músculos podiam ser estimulados por corrente elétrica (mimetizando a ação do sistema nervoso), e de Alessandro Volta (1745 - 1827) desenvolvendo a armazenagem da energia elétrica em pilhas, originando as baterias elétricas. No final deste século, Karl Wilhelm Scheele (1742 - 1786) conseguiu separar o oxigênio do ar, e Joseph Priestley (1733 - 1804) conseguiu produzir o oxigênio a partir do óxido de mercúrio, mas coube a Antoine-Laurent Lavoisier (1743 - 1794) dar consistência científica aos estudos de Scheele e Priestley, inclusive introduzindo o termo “oxigênio”. Lavoisier estabeleceu ainda, como teoria, que seria necessária a reação de oxidação do oxigênio nos tecidos. Foi guilhotinado na revolução francesa.(4,5) Em 1733, o reverendo inglês Stephen Hales (1677-1761), fez a primeira medição da pressão arterial (PA) de um animal.(13) improvisando um longo tubo de vidro como manômetro. Assim descreveu, em 1733, seu primeiro experimento: “Em dezembro, eu imobilizei uma égua, com 1,4m de altura e cerca de 14 anos, que tinha uma fístula na sua virilha. Não era nem forte, nem fraca. Tendo aberto sua artéria crural esquerda em cerca de 7,6 cm a partir de seu ventre, eu inseri um tubo de cobre com 0,4cm de calibre e, através de um outro tubo de cobre que estava firmemente adaptado ao primeiro, eu fixei um tubo de vidro de, aproximadamente, o mesmo diâmetro, com 2,7m de comprimento. Então, soltando a ligadura da artéria, o sangue subiu a 2,5m no tubo de vidro, acima do ventrículo esquerdo do “coração”. Este experimento está muito bem representado em um dos afrescos de Diego Rivera, de 1945, que se encontra no Instituto de Cardiologia do México, feito por encomenda do Dr Ignacio Chávez, quando procurou ilustrar a história da cardiologia.(14,15) Jean Léonard Marie Poiseuille (1799-1869), melhorou o manômetro de Hales, substituindo o longo e frágil tubo de vidro por um tubo em U, com 20cm, parcialmente cheio de mercúrio (Hg) e apresentou na sua tese de doutoramento, em 1828, o aparelho que chamou de “hemodinamômetro” ganhando a medalha de ouro da Real Academia de Medicina da França. 2 conjunto das publicações de Starling representa a maior contribuição pessoal para o entendimento da função mecânica do coração. Como o trabalho de Otto Frank, desenvolvido em coração de sapo e publicado em 1895, inquestionavelmente, foi o que mais influenciou os trabalhos de Starling, existe acerto histórico na conceituação da lei com o nome de Frank - Starling. Foi posteriormente, no trabalho publicado em 1914, em colaboração com Sydney W. Patterson,(40) que Starling divulgou pela primeira vez as curvas consagradas com o seu nome, mostrando que a pressão de enchimento e o débito cardíaco se elevam, em conjunção, até um limite, além do qual uma elevação adicional do retorno venoso reduz a ejeção ventricular. Entre os textos que tratam das leis do coração, o de maior repercussão (The Regulation of the Heart Beat) resultou de trabalho colaborativo anglo- germânico e incluiu, pela primeira vez, uma hipótese que foi possível ser confirmada mais tarde, com o advento da microscopia eletrônica: “... the mechanical energy set free on passage from the resting to the contracted state depends on the area of chemically active surface, i.e., on the lenght of the muscle fibers”. Em meados da década de 1960, valendo-se da microscopia eletrônica, Gordon, Huxley e Julian(41) elaboraram a “teoria dos miofilamentos deslizantes”, que permitiu compor a conceituarão atual da contração miocárdica. As avaliações histométricas possibilitaram analisar o comprimento do sarcômero, dos filamentos grossos e dos filamentos finos. Com base nas medidas ultramicroscópicas, Gordon, Huxley e Julian puderam considerar que o desempenho sistólico do miocárdio depende do estiramento diastólico porque o comprimento em repouso regula a disposição espacial dos filamentos de actina e de miosina, e determina o número possível de pontos de interação química entre estas proteínas. Esta concepção morfofuncional de Gordon, Huxley e Julian a respeito da contração miocárdica abrange as fases ascendente e descendente da “curva de Frank-Starling”: estiramentos do sarcômero até 2,1µ são acompanhados de elevação da capacidade em gerar força; estando os sarcômeros estirados entre 2,1- 2,3µ bloqueiam esta propriedade, e estiramentos superiores a 2,3µ resultam em deterioração da capacidade contrátil.(42,43) Esses conceitos eqüivalem à interpretação proposta pelo grupo de Starling 50 anos antes. Contribuição marcante para o estudo da dinâmica ventricular, veio da aplicação dos estudos de Pierre-Simon Laplace (1749 - 1827),(44) gênio da matemática e consagrado também em cálculos de equilíbrio dos corpos Fisiologia Cardiovascular Aplicada 2 celestes, que estabeleceu que a tensão nas paredes de uma cavidade é igual ao produto da pressão interna vezes o raio da cavidade, divido pela espessura da parede (T=PxR/M). Esta condição adquiriu grande valorização com os estudos de Randas Batista, em 1995,(45) provando que mesmo corações em estado de falência refratária recuperam função eficaz quando submetidos ao remodelamento por ventriculectomia parcial. Laplace também contribuiu para estudos sobre a respiração junto com Lavoisier, em 1780, quando por meio de um calorímetro de gelo, que eles mesmo inventaram, concluíram que a respiração também é basicamente um processo de combustão. Outra área de contribuições memoráveis nesse período foram os estudos de Etienne Jules Marey, usando o Eletrômetro Capilar de Lippmann (1872) no coração do sapo, em 1876. Augustus Desiré Waller introduziu, pioneiramente o uso do ECG, aplicando o Eletrômetro capilar de Lippmann em humanos, em 1887, possibilitando a monumental contribuição de Willen Einthoven (1860 - 1927), fisiologista dinamarquês, definida desde 1889 e consagrada em 1903, quando introduziu o eletrocardiógrafo. Foi também muito importante para o estudo da fisiologia cardíaca a invenção do quimógrafo por Carl Friedrich Wilheim Ludwig (1816 - 1895).(46,47) Interessante, que neste final do século XIX teve início a descoberta do sistema de condução cardíaco, literalmente em sentido retrógrado, ou ascendente, com o anúncio, primeiro, da rede intramiocárdica, por von Purkinje,(48) em 1895, e do Feixe atrioventricular demonstrado por His,(49) no mesmo ano. Em seguida, Aschoff-Tawara(50) descobriram o Nó Atrioventricular (1906), Bachmann(51) o Feixe interatrial (1906), Keith e Flack(52) o Nó sino-atrial (1907), Kent(53) o feixe anômalo atrioventricular (1913) e Wenckebach(54) o Feixe internodal mediano (1916). O Feixe anômalo para-septal, só foi descoberto em 1940, por Mahaim.(55) Thorel(56) em 1909, foi o primeiro a conceituar a existência dos Fascículos internodais no átrio direito, demonstrando precariamente o ramo internodal posterior, que hoje sabemos percorre na projeção da crista terminal, mas na época chegou a ser ridicularizado. Paes de Carvalho (1957)(57) e James (1963)(58) completaram a definição anátomo-fisiológica desse fascículo de condução internodal posterior. É interessante, associar também o relato de duplicação (desdobramento) do nó sino-atrial, feito por Bruni e Segre,(59,60) em 1925, condição que pode originar entalhe da onda P no eletrocardiograma O Século XX presenciou o avanço fantástico dos conhecimentos de fisiologia cardiovascular aplicada na construção e aplicação dos dispositivos de circulação artificial. 2 Para este sucesso, foram fundamentais também as contribuições de Mc Lean e Howell,(61,62) descobrindo a heparina em 1916 (possibilitando anticoagulação eficaz para que o sangue circulasse em superfícies artificiais), e de Alex Carrel (1873-1944)(1) sistematizando as suturas vasculares e iniciando estudos experimentais com transplantes de órgão, fazendo juz ao prêmio Nobel de 1912. Em 1931, Hyman(63) construiu e demonstrou a eficácia do primeiro marcapasso artificial, e logo a seguir, em 1937, John Gibbon Jr.(64) construiu e realizou com sucesso, a primeira circulação extracorpórea experimental com exclusão funcional total do coração e dos pulmões. Empregou um aparelho coração-artificial equipado com oxigenador de telas e bombas de roletes, reproduzindo com sucesso o modelo de bomba patenteado por Porter e Bradley, em 1855, na Alemanha, e também utilizado por De Backey, em 1934, para transfusões sanguíneas. Dogliotti e Constantini, em 1951,(65) na Itália realizam o primeiro procedimento de circulação extracorpórea em humanos, com uma derivação cava-pulmonar e Gibbon Jr.,(66) em 1953, realizou pioneiramente a primeira circulação extracorpórea completa em paciente humano,com a correção de comunicação interatrial. Nesta mesma década, Liotta e De Backey(67) constroem e empregam os primeiros modelos de ventrículos artificiais. Sarnoff e Berglund,(68) em 1954, desenvolveram as curvas de desempenho ventricular, demonstrando a possível independência de trabalho dos ventrículos direito e esquerdo, e o fato de que, estando o pericárdio intacto, o aumento da pressão diastólica não é capaz de estirar o miocárdio até um ponto de falência, como previamente demonstrado por Starling. Em 1956, o prêmio Nobel em medicina foi atribuído a Werner Forssmann (1904 - 1979), que em 1929, num pequeno hospital de Eberswal, Alemanha, como jovem médico residente, anestesiou sua própria prega cubital, introduziu um cateter na veia mediana basílica (antecubital), e com o cateter balançando dirigiu-se para a sala de Raios-X, documentando o cateter posicionado no átrio direito, provando que um cateter poderia ser introduzido com segurança dentro do coração, para injeção de drogas na ressuscitação cardíaca. Foi demitido do hospital e humilhado pela sociedade médica de seu tempo. Abandonou a Cardiologia e dedicou-se à Urologia. Cournand e Richards, também foram laureados junto com Forssmann, por terem empregado pela primeira vez, em 1941, o cateterismo cardíaco para diagnóstico hemodinâmico, com medida do débito cardíaco.(69) Logo a seguir, em 1958, Mason Sones(70) cardiologista pediátrico na Cleveland Fisiologia Cardiovascular Aplicada 30 recuperação de todo o corpo. O desenvolvimento do coração, a partir de seres monocelulares, passando por peixes primitivos com tubos cardíacos de estrutura contrátil elementar, não poderia ocorrer por estímulo do meio, porque todos os indivíduos do grupo primitivo morreriam de insuficiência cardíaca, e não veríamos sobreviventes dos grupos primitivos, como estão aí, em quantidades incrivelmente maiores do que o próprio homem, e até mesmo muito mais numerosos do que todos os mamíferos. Houve um salto inexplicável por leis naturais. O Coração, não só pelo seu “metabolismo de trauma”, especial, mas também pela organização geométrica de sua estrutura miocárdica, justificando a metáfora “da corda enrolada”, de Torrent-Guasp,(86) estabelece uma diferença evolutiva marcante entre seres de Reino, até Ordens, Famílias, Gêneros e muitas espécies diferentes. A mudança do miocárdio de músculo longitudinal para circunferencial múltiplo não pode ser só por estímulo do meio. Todos os intermediários, inexoravelmente, morreriam de ICC, impedindo a evolução. Diante da evidência, na humildade que edifica, é conveniente recordar as palavras do Espírito Santo do Senhor Jesus em São Moisés: “O Verbo estava com Deus, o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas por seu intermédio e nada do que foi feito sem Ele se fez ( São João 1, 1)”. O coração é um dos órgãos especiais da Criação, não obedeceu a evolução modelo darwinismo. O nosso coração é de Jesus! 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Alex Carrel - In http://educaterra.terra.com.br/voltaire/antiga/2002/10/31/001.htm 2.Castiglioni A - História de la Medicina. Barcelona: Salvat, 1941; p.180, 181, 722. 3. Friedman M, Friedland GW - As dez maiores descobertas da medicina. São Paulo,Companhia das Letras, 2000 4. Introcaso L - História da medida da pressão arterial-100 anos do esfigmomanômetro Arq Bras Cardiol 1996; 67 (5) 5. Lyons AS, Petrucelli-II RJ - Historia de la Medicina. Barcelona, Ediciones Doyma, 1987 6. Servet M. - Christianismi restitutis - Viena, Balthasar Amoullet, 1553 7. Colombo R. - De re anatomica, libri XV - veneza, Nicolai Beullacquae, 1559 8. Fabrici G. De venarum osteolis - Padua, Lorenzo Pasquati, 1603 9. Harvey W. - Excitaciones de geratione animalium - Londres, O. Pulleyn, 1651 10. Lower R. - Iractatus de corde - Londres, J. Allestry, 1669 11. Malpighi M. - Opera omnia- Londres, R. Scott, 1686 Dorland Medical Dictionary/ W.Saunders/ www.msn.com.br 12. “Dorland” Diccionario de Ciencias Médicas. 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Torrent-Guasp F - The Cardiac Muscle. Madri, editorial Gráficas Torroba, 1972 3 A parede torácica é composta pela coluna vertebral, costelas, cartilagens costais e pelo esterno. A abertura torácica superior é limitada pela margem superior da primeira vértebra torácica, dorsalmente, borda superior do manúbrio, ventralmente, e pelo primeiro par de costelas com suas cartilagens, lateralmente; mede aproximadamente 5 cm no diâmetro anteroposterior e 10 cm no transverso. A abertura torácica inferior, fechada pelo diafragma, é limitada pela 12ª vértebra torácica, junção xifosternal, 12º par de costelas e pelas bordas livres do último par de cartilagens costais. A cavidade torácica contém os pulmões, as pleuras e o mediastino, geralmente dividido nas seguintes regiões: MEDIASTINO SUPERIOR Situado acima do nível do pericárdio, apresenta feixes de tecido fibroso pouco denso, unindo o manúbrio esternal à parte superior do pericárdio (ligamento esternopericárdico superior) e grande número de estruturas: o arco aórtico com seus três ramos (tronco braquiocefálico, carótida comum esquerda e subclávia esquerda), a parte superior da veia cava superior, as veias braquiocefálicas e a veia intercostal superior esquerda; os nervos vagos, frênicos, cardíacos e recorrente laríngico esquerdo; a traquéia, esôfago, ducto torácico e timo, ou seus remanescentes, juntamente com linfonódos. Um plano longitudinal imaginário, passando na projeção da traquéia, ANATOMIA TORÁCICA E CARDIOVASCULAR Otoni Moreira Gomes Capítulo 2 Fisiologia Cardiovascular Aplicada 0 torácica. Encontra-se externamente à pleura parietal, à qual é unida por tecido conectivo delgado, infiltrado de gordura em alguns pontos. A fáscia endotorácica pode ser comparada à fáscia “transversalis” do abdome; a primeira sendo limitada pela pleura e parede costodiafragmática e a segunda pelo peritônio e parede abdominal. Na parte superior do tórax, ao nível da cúpula pleural, a fáscia endotorácica contrai aderências com os vasos da região; anteriormente, ao nível do manúbrio esternal continua-se com a aponeurose cervical média; posteriormente ao esterno, passa por trás dos vasos torácicos internos (mamários) e músculo esternocostal; inferiormente reveste a porção carnosa do diafragma e contribui para o fechamento dos orifícios diafragmáticos. A fáscia endotorácica é delgada na criança e mais espessa no adulto. Sua espessura varia de uma para outra região, no mesmo indivíduo: mostra- se mais resistente nas paredes anterior e posterior do tórax, sendo mais frágil nas paredes laterais e diafragmática. Superiormente, sua continuação com as aponeuroses cervicais média e profunda não apresenta linha de demarcação, porém, lateralmente, adere-se firmemente ao contorno interno da primeira costela. Esta disposição impede a invasão do tórax pelos processos supurativos do pescoço. Na parede torácica posterior a fáscia endotorácica contorna os órgãos do mediastino posterior e se confunde com a porção fibrosa do pericárdio. Em casos de fraturas, a fáscia endotorácica, reforçada pela pleura, contribui significativamente, impedindo a propagação de infecções, graças a sua estrutura consistente. PLEURA A membrana pleural recobre os pulmões e a cavidade torácica internamente. O folheto de revestimento pulmonar é designado como pleura visceral e o da parede torácica como pleura parietal. O espaço entre esses dois folhetos é virtual e só se torna manifesto em casos patológicos, pelo acúmulo de ar (pneumotórax), sangue (hemotórax), pus (empiema), linfa (quilotórax) e líquidos serosos ou serofibrinosos (hidrotórax). A pleura visceral adere-se intimamente ao pulmão, do qual não pode ser dissecada sem lesão do parênquima, revestindo todas as fissuras e projeções dos lobos pulmonares. A pleura parietal reveste a cavidade torácica, podendo ser dividida em quatro porções: pleura costal, revestindo 1 as costelas e músculos intercostais; pleura diafragmática, cobrindo a superfície torácica do diafragma; pleural mediastinal, limitando lateralmente o mediastino e pleura cervical, correspondente à cúpula pleural. As superfícies de oposições das pleuras visceral e parietal são revestidas de mesotélio que secreta pequena quantidade de líquido seroso, que atua como lubrificante, facilitando o deslizamento durante os movimentos respiratórios. Nos pontos de reflexão os folhetos da pleura parietal acham-se em contato até serem afastados pela incursão das margens pulmonares na inspiração. Tais espaços potenciais são especialmente notados inferiormente, onde as pleuras costal e diafragmática entram em contato ao redor do diafragma, formando o recesso costodiafragmáticos. Formações similares ocorrem na junção das pleuras costal e mediastinal (recesso costomediastinal). A pleura mediastinal reflete-se ao nível da raiz pulmonar para continuar como pleura visceral. O prolongamento desta zona de reflexão, até á borda inferior do pulmão, constitui o ligamento pulmonar. A cúpula pleural projeta-se discretamente através da abertura torácica superior, sem contudo ultrapassar o nível do colo da primeira costela. Devido, no entanto, à obliquidade desta costela, anteriormente, a pleura ultrapassa em 2,5-5,0 cm o nível da incisura jugular do esterno ou 1,5-2,5 cm o nível da articulação esternoclavicular. Inferiormente, a linha de reflexão pleural pode ser levemente mais baixa à esquerda, mas não é diferente para merecer designação especial. A margem inferior da pleura é relativamente horizontal, sendo mais baixa ao nível da linha axilar média, onde alcança a 10ª costela. Próximo à coluna vertebral, no entanto, pode descer abaixo do colo da 12ª costela, aspecto importante a ser considerado nas incisões de acesso ao rim. PULMÃO, TRAQUÉIA E BRÔNQUIOS De conformidade com o desenho da caixa torácica, cada pulmão possui um ápice e uma base, superfícies costal e mediastinal e bordas anterior, posterior e inferior. O ápice ocupa a cúpula pleural, ultrapassando cerca de 1,5-2,5 cm o nível da articulação esternoclavicular. A base (ou superfície diafragmática) é ampla e côncova, moldada pela cúpula diafragmática. A superfície mediastinal contém a raiz do pulmão, constituída pelos nervos, brônquios e vasos pulmonares; anteriormente, essa face pulmonar exibe a Fisiologia Cardiovascular Aplicada 2 côncova impressão cardíaca, mais pronunciada à esquerda. Em torno das estruturas da raiz do pulmão a reflexão pleural delimita o hilo pulmonar. Cada pulmão é cortado diagonalmente por uma fissura oblíqua que o divide em dois lobos (superior e inferior). No pulmão direito, a fissura horizontal contribui para delimitar o lobo médio. Em alguns casos esta fissura apresenta-se rudimentar, dificultando a separação cirúrgica dos lobos superior e médio. No lado esquerdo a separação entre o lobo superior e a língula, homóloga do lobo médio direito, raramente é bem pronunciada, sendo a individualização cirúrgica feita em função da distribuição brônquica. A traquéia intratorácica situa-se anteriormente ao esôfago, que a separa da coluna vertebral. Sua bifurcação ocorre ao nível da borda superior da 5ª vértebra torácica, em oposição ao ângulo esternal. O arco aórtico relaciona-se com sua porção distal, passando de anterior para lateral esquerdo, razão pela qual os aneurismas desse segmento aórtico podem comprimi-la. O tronco braquiocefálico cruza anteriormente a traquéia para dividir-se em artérias subclávia e carótida comum que sobe junto ao seu contorno lateral. Nas traqueostomias essa disposição deve ser lembrada para evitar a lesão do tronco braquiocefálico ao tentar prolongar inferiormente a abertura traqueal. O relacionamento entre vasos e brônquios na raiz do pulmão é aproximadamente igual nos dois lados; as veias pulmonares são anteriores e os brônquios posteriores; as artérias pulmonares situam-se entre essas estruturas. No sentido súpero-inferior, a disposição é diferente conforme o pulmão considerado, sendo que à esquerda a artéria pulmonar situa-se acima do brônquio; no hilo pulmonar direito o brônquio lobar superior situa-se acima da artéria pulmonar. Para diagnóstico topográfico por imagens e para programação de cirurgias, é importante o conhecimento da segmentação broncopulmonar, sendo universalmente aceita a terminologia proposta por Jackson e Huber (Quadro I) (Fig. 1-1 a 1-5). ( SÃO AS FIG. 1-2 a 1-6 do LIVRO ZERBINI)  Figura - Segmentação broncopumonar Aspecto da Segmentação broncopumonar na superfície costal do pulmão esquerdo Fisiologia Cardiovascular Aplicada  Aspecto da Segmentação broncopumonar na superfície mediastinal do pulmão direito. Aspecto da Segmentação broncopumonar na superfície costal do pulmão direito  PERICÁRDIO, CORAÇÃO E GRANDES VASOS PERICÁRDIO O pericárdio apresenta três folhetos, sendo que o externo, fibroso, confunde-se inferiormente com o centro tendíneo do diafragma ao qual está firmemente aderido na frente e à direita, onde forma o ligamento frenopericárdico; acima e posteriormente une-se com a adventícia dos grandes vasos da base. Internamente ao pericárdio fibroso situa-se o pericárdio seroso com seus dois folhetos: o parietal, que se adere ao pericárdio fibroso e o visceral, frequentemente denominado epicárdio. O pericárdio seroso é um saco fechado e invaginado, sendo normalmente virtual a cavidade delimitada entre seus dois folhetos, a qual contém líquido seroso em quantidade suficiente apenas para diminuir o atrito durante os movimentos do coração. A lâmina parietal do pericárdio seroso reflete-se para o coração ao nível dos vasos da base. Quando a cavidade pericárdica é aberta, pode-se identificar o seio transverso, que se apresenta como um túnel, limitado na Aspecto da segmentação broncopumonar na superfície mediastinal do pulmão esquerdo Fisiologia Cardiovascular Aplicada 0 membranácea. A primeira compreende sua maior porção, ao passo que a segunda abrange pequena área adjacente às valvas atrioventriculares. Geralmente a inserção da cúspide septal da tricúspide divide o septo membranáceo acima da valva tricúspide e separa o átrio direito do ventrículo esquerdo, sendo por isso denominado septo atrioventricular. A extremidade superior do septo membranáceo continua-se com o contorno direito da aorta ascendente. A valva atrioventricular direita, ou tricúspide, possui cúspides anterior, posterior e septal. Cúspides acessórias existem ocasionalmente, sendo mais comum a divisão da cúspide posterior. A valva atrioventricular esquerda foi comparada com a mitra episcopal (Vesalius) e por esse motivo denominada valva mitral. Contudo, as duas cúspides são muito desiguais, sendo a anterior (ou aórtica mais pronunciada que a posterior (ou mural). A cúspide anterior está interposta entre os óstios atrioventricular e aórtico. Deste modo, o sangue entra no ventrículo esquerdo deslizando sob sua face atrial e retorna sobre a face ventricular, para sair na aorta. Nesta cúspide as cordas tendíneas são confinadas à margem, em contraste com a cúspide mural e com as cúspides da valva atrioventricular direita que são lisas apenas na superfície atrial e rugosas na face ventricular, pela implantação das cordas tendíneas. As valvas semilunares da aorta e da pulmonar estão situadas nas origens desses vasos. As válvulas (cúspides) aórticas geralmente situam-se uma na frente e duas atrás, sendo que a artéria coronária direita origina-se do seio aórtico anterior e a esquerda do seio aórtico esquerdo. A valva pulmonar está situada em nível mais alto do que a aórtica. As cúspides das valvas aórtica e pulmonar são constituídas de tecido fibroso avascular, coberto em cada face pela íntima. A borda livre de cada cúspide apresenta um pequeno espessamento, o nódulo, de onde se estende pequena lâmina desprovida de tecido fibroso, a lúnula. Os espaços delimitados entre as cúspides e as paredes dos vasos são, respectivamente, os seios aórticos e pulmonares. Cada seio é designado em conformidade com a respectiva cúspide (Fig. 3). O sistema de condução é constituído de fibras musculares especializadas para a transmissão de impulsos. É representado pelo nó sino- atrial, feixes de condução atrial, nó atrioventricular, feixe atrioventricular com seus ramos e fibras de Purkinje. O nó sino-atrial localiza-se na parte superior do átrio direito, no contorno anterolateral de junção da veia cava superior. Seus estímulos se propagam pelos feixes de condução atrial (anterior, médio e posterior) 1 Fig. 3 - Cavidades Cardíacas Modificado de Tatarinov V. Human Anatomy and Physiology. Moscow, Mir Publishers, 1971(9,10). 1 - Parede do Ventrículo Direito, 2 - Músculos Papilares Post. e Septal, 3 - Cordas Tendíneas, 4 - Cúspides Posterior e Septal da Valva Atrioventricular Direita (Tricúspide), 5 - Artéria Coronária Direita, 6 - Septo Interventricular, 7 - Óstio da Veia Cava Inferior, 8 - Aurícula Direita, 9 - Átrio Direito, 10 - Veia Cava Superior, 11 - Septo Interatrial, 12 - Óstios das Veias Pulmonares, 13 - Aurícula Esquerda, 14 - Átrio Esquerdo, 15 - Valva Mitral, 16 - Parede do Ventrículo Esquerdo, 17 - Fossa Oval, 18 - Limbo da Fossa Oval. 19 - MM Papilares Ant. e Posterior Fig. 4- Complexo Estimulador do Coração (Modificado de Lossnitzer K, Pfennigsdorf G, Bräuer H. Miocárdio, Vasos, Cálcio. Mainz, Erasmusdruck GmbH, 1984(11)). 1 - Nervo Vago Direito, 2 - Nó Sino-atrial, 3 - Feixes Interatriais, 4 - Nó Atrioventricular, 5 - Rede de Purkinje, 6 - Ramo Direito, 7 - Ramo Esquerdo, 8 - Feixe Atrioventricular (Hiss), 9 - Feixe de Backman, 10 - Nervo Vago Esquerdo Fisiologia Cardiovascular Aplicada 2 até o nó atrioventricular, situado abaixo do endocárdio atrial direito, na parte do septo interatrial imediatamente acima do óstio do seio coronário. O feixe atrioventricular dirige-se para a parte membranácea do septo interventricular e em seguida se divide em ramos direito e esquerdo, que cavalgam o septo muscular. Em coração apresentando comunicação interventricular na parte membranácea do septo, o feixe atrioventricular ocupa o contorno do orifício (CIV) no segmento compreendido entre 6 e 9 horas(1,2) (Fig, 4). O coração é nutrido pelas duas artérias coronárias, que em condições normais originam-se dos seios aórticos. A coronária esquerda (Fig. 5) nasce do seio aórtico esquerdo, passando entre o tronco pulmonar e a aurícula esquerda, dividindo-se a seguir em ramos interventricular anterior (realmente superior) e circunflexo, que continua na parte esquerda do sulco coronário onde se anastomosa com a coronária direita. O ramo interventricular anterior desce no sulco do mesmo nome, contorna a ponta do coração e sobe no sulco interventricular posterior em distância variável: fornece ramos septais e ramos diagonais para a porção anterolateral do ventrículo esquerdo. O ramo circunflexo vasculariza as porções adjacentes do ventrículo e átrio esquerdos através dos ramos marginal, ventriculares posteriores e atriais. A artéria coronária direita (Fig. 6) nasce do seio aórtico ventral, dirige-se para a direita, descendo na parte direita do sulco coronário, onde se divide em ramo descendente posterior (realmente inferior), que desce no Figura 5 - Artéria coronária esquerda Figura 6- Artéria Coronária direita  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. de Paula W, Gomes OM – Anatomia Cirúrgica do Tórax. In Zerbini EJ, Ed. Clínica Cirúrgica Alipio Correa Netto, São Paulo, Sarvier 1974 2. Gardner, Gray, O`Rahilly. Anatomia. 4a Edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan S.A., 1978 3.Netter, F. Interactive Atlas of Human Anatomy. Illinois, Novartis Medical Education - 1995 4.Todd R. Olson, ADAM. Atlas De Anatomia Humana. Barcelona, Masson-Williams E Wilkins España, S.A., 1997 5. Khale W, Leonhardt H, Platzer W. Atlas De Anatomia Humana, 3a Edição. São Paulo, Editora Atheneu, 1997 6. Cozenza RM- Fundamentos de Neuroanatomia, 2a Edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan S. A. 1998 7. Dangelo e Fattini. 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O princípio primeiro da pesquisa experimental é nunca realizar no animal vivo o que pode ser estudado sem o seu sacrifício. Por exemplo, em cadáveres ou simuladores outros inanimados. O segundo princípio da pesquisa experimental guarda relação de muita proximidade com o segundo da medicina humana, que é: “O fim divino da medicina é aliviar a dor”. Na experimentação é: “O primeiro compromisso do pesquisador é evitar o sofrimento do animal” Para aliviar ao máximo o sofrimento do animal faz-se mister sejam consideradas as três fases clássicas de todo ato cirúrgico: pré, trans e pós- operatório. No pré-operatório três comportamentos diferentes dos animais precisam ser delineados: agressivo, indiferente ou dócil. O animal agressivo, pela própria natureza exige a sedação prévia. O animal indiferente, submisso, pode sofrer muito se não for devidamente sedado. O animal dócil, conhecido do tratador, pode permitir sua condução até à anestesia geral, com sofrimento mínimo. Assim, os animais do segundo grupo acima, precisam de atenção Capítulo 3 Fisiologia Cardiovascular Aplicada 0 nervos, vísceras e fetos. Como testemunho existe no Vaticano uma mesa de mármore que pertenceu ao cientista em forma de homem deitado, com o dorso aberto, mostrando internamente vísceras de macaco. Posteriormente, a religião católica colaborou com os cientistas que sofriam perseguição pelo povo, devido à prática da medicina em cadáveres. Devia-se este fato, aos desenterros de cadáveres feitos durante a noite, e dissecções em lugares ermos ou mesmo na casa de algum amigo. Por isso os sacerdotes formavam escolas de medicina nos conventos, como por exemplo, as de Montecassino e Salerno. A influência de Galeno perdurou quase 14 séculos, sem haver franca oposição aos seus trabalhos. Até que Andrea Vesalius publicou em 1543 o seu livro “De Humani Corporis Fabrica”, baseado integralmente em estudos de cadáveres humanos muitas vezes mantidos em sua própria casa. A sua crítica foi contudente! Galeno tinha mantido uma pseudo-anatomia de erros múltiplos por quase 14 séculos, pela extrapolação ao ser humano dos estudos em macacos. Outros cientistas como Eustáquio, Sylvius, Dubois, Fabrici, da Vinci colaboraram no desenvolvimento da anatomia na época. Posteriormente Harvey, Malpighi, Leeuvenhoek, Linneo, Hunter, Lamarck, Darwin e outros deram contribuições decisivas na compreensão das estruturas anatômicas em relação a sua função, morfologia e evolução biológica. Em relação à Anatomia Comparada, seu criador foi na realidade o francês Cuvier, que viveu posteriormente a Linneo (1707-1778), sendo ulteriormente aperfeiçoada por John Hunter baseado nos novos conhecimentos zoológicos que introduziu Haeckel.(2) PESCOÇO A musculatura na região anterior do pescoço difere entre os diversos animais e o homem, porque este último apresenta em forma bem definida o músculo cutâneo do pescoço ou platisma, o que não acontece com os animais menores. A traquéia nos animais citados tem longitude maior, com mais anéis facilitando cirurgias nesse órgão. TIREÓIDE Homem - situada no pescoço em frente á 5ª, 6ª e 7ª vértebras cervicais. Possui a forma de U ou H e é constituída por dois lobos, normalmente para- traqueais e um istmo pré-traqueal (Fig.1). 1 Cão - Alongadas e situadas na origem da traquéia, lateralmente a ela. (Fig.2). No pólo inferior as tireóides podem estar reunidas por um istmo, às vezes reduzido a trato filiforme. Chegam até o 7º anel traqueal. Figura1 – Tireóide humana Figura 2 – Tireóide de cão Gato - Cobaia - não apresentam diferenças visíveis em relação ao cão Rato - situadas lateralmente à laringe, abrangem aproximadamente, sete anéis traqueais. Suas extremidades anteriores são ovóides. Em sua porção superior recobrem quase que totalmente a traquéia, deixando livre apenas a região mediana traqueal, que se relaciona com o esôfago. No pólo inferior, podem estar reunidas por um pequeno istmo tireoidiano. TÓRAX A ausência de clavícula, o manubrio esternal agudo, o maior número de costelas (12-13 pares), o esterno em fúrcula e o tórax que chega a abarcar grande parte do abdome, são algumas características que diferem os animais dos seres humanos. Fisiologia Cardiovascular Aplicada 2 A existência de músculo cutâneo tóraco-abdominal, a presença de musculatura da prensa abdominal de tipo tóraco-abdominal pela sua extensão, o músculo peitoral menor que é superficial e o maior que é profundo, são outras diferenças para com o ser humano. PULMÕES Homem - o pulmão direito está dividido em três lobos; superior, médio e inferior, por duas fissuras; uma oblíqua e outra horizontal. O pulmão esquerdo possui apenas dois lobos; superior e inferior, delimitados por profunda cisura oblíqua. (Fig. 3). Fig.3 – Pulmão humano Cão - caracterizados pela existência de sulcos profundos que se estendem até os brônquios, porém sem relação com a divisão dos lobos que não são claramente visíveis. O pulmão esquerdo apresenta duas cisuras que delimitam os lobos apical, cardíaco e diafragmático, que não são individualizados por completo. O pulmão direito apresenta divisão idêntica, apenas apresentando um quarto lobo suplementar, ventral, o lobo ázigos. Gato - pulmões semelhantes aos do cão (Fig.4). Cobaia - possuem cisuras profundas que delimitam os lobos. Tanto o pulmão direito como o esquerdo apresentam quatro lobos: apical, diafragmático, cardíaco e ázigos. A única diferença reside no menor tamanho dos lobos do pulmão esquerdo em relação aos do direito.  Fig. 6- Representação grafica da posição do coração do cavalo no torax.[ Bonagura JD,Muir WW. The cardiovascular system.In: Muir WW, Hubbell JAE editor. Equine anesthesia.St louis :Mosby.1999.p.69.](6) Anatomia do coração nas diferentes espécies. No cão(7) : Fig.7- Foto da anatomia externa do coração do cão Fisiologia Cardiovascular Aplicada  O coração da cobaia é totalmente recoberto pelos pulmões permanecendo livre apenas os dois átrios, a aurícula direita e ventrículo direito. As aurículas com seus volumosos átrios são nitidamente separadas dos ventrículos por um profundo sulco atrioventricular. No caso do rato o coração esta totalmente envolvido pelos pulmões. É importante lembrar que o número de veias pulmonares no cão, cavalo e vaca são quatro como no homem, mais em determinadas espécies chega até onze. Também ocorrem variações na anatomia do arco aórtico dos animais domésticos.(8) No cão o arco aórtico se bifurca em: tronco braquiocefálico e subclavia esquerda. Do tronco braquiocefálico nascem as duas carótidas comuns direita e esquerda e a subclavia direita. CIRCULAÇÃO CORONÁRIA Homem – possui suprimento arterial pelas artérias coronárias direita e esquerda, que nascem dos seios aórticos ventral e esquerdo respectivamente. Na maioria das vezes a artéria coronária direita é dominante, irrigando a maior parte do ventrículo esquerdo, septo interventricular e parte do ventrículo direito. Cão - a artéria coronária esquerda é extremamente curta, dividindo- se quase na origem. Ela fornece 90% do sangue arterial para o coração. A artéria coronária direita é exígua não atingindo a face inferior o coração. Gato - apresenta grandes analogias com o do coração canino Cobaia - é totalmente recoberto pelos pulmões permanecendo livre apenas os dois átrios, a aurícula direita e ventrículo direito. As aurículas com seus volumosos átrios são nitidamente separadas dos ventrículos por um profundo sulco atrioventricular. Rato - O coração é totalmente envolvido pelo pulmões. Apenas a ponta e uma porção da face ântero-inferior ficam descobertas. Possui CD com marginal de VD e interventricular posterior; CE com Cx e DA Ovinos: CD com marginal do VD e ramos terminais ventriculares posteriores; CE com Cx, DA. (interventricular Paraconal) e ramo subsinuoso. Bovinos: CD com ramo descendente subsinuoso; CD com Cx e DA (Descendente Paraconal) Ainda nesses animais o número das veias pulmonares é bem maior (até 11). No cão existe também uma grande diferença nos ramos da croça  da aorta, que dá o tronco braquiocefálico e subclavia esquerda. Do tronco braquiocefálico nascem as duas carótidas primitivas. No homem só a carótida direita nasce do tronco braquiocefálico Figura 8- Foto da circulação coronaria no cão. SISTEMAS ARTERIAL E VENOSO Homem - o primeiro ramo da croça da aorta é o tronco braquiocefálico, curto, dividindo-se logo em dois ramos: a artéria carótida comum direita e artéria subclávia direita. O próximo ramo é a artéria carótida comum esquerda, seguida pela artéria subclávia esquerda (Fig.7). A aorta torácica fornece as artérias intercostais posteriores, as subclávias, as brônquicas, esofágicas e mediastínicas. A aorta abdominal emite os principais ramos viscerais: o tronco celíaco seguido pelas artérias mesentérica superior, renais e mesentérica inferior. A aorta abdominal termina ao nível Figura 9 – Homem – croça da aorta Fisiologia Cardiovascular Aplicada 0 Figura 14 – Cão – aorta abdominal O sistema venoso acompanha o sistema arterial. A veia jugular externa é a principal veia da massa cefálica. Elas são habitualmente reunidas por um ramo transversal que passa por trás da laringe. A veia jugular interna é um pequeno vaso que se reune à veia jugular externa pouco antes de seu término e acompanha a artéria carótida comum, ao longo da traquéia. Gato - apresenta a mesma distribuição arterial do cão. Possui apenas as seguintes particularidades: a carótida comum se divide em dois ramos terminais, artéria carótida externa e interna, pois a artéria occipital nasce de um tronco comum com a carótida interna. A maioria dos ramos musculares que nascem da carótida comum estão agrupados em um tronco comum, no terço anterior do pescoço; a carótida interna é ainda mais curta que no cão. O sistema venoso corresponde ao do cão. Cobaia - na cobaia, a mesentérica e o tronco celíaco, não nascem separados e sim juntos, formando o tronco celíaco-mesentérico. As dez ou doze artérias jejunais não formam tronco comum, elas acompanham o mesentério até sua inserção na parede intestinal e se dividem em ramos, formando arcos, que se anastomosam com seus adjacentes. A cobaia apresenta a particularidade de possuir duas artérias renais de cada lado, curtas e volumosas, uma anterior e outra posterior. A renal anterior se divide próximo ao hilo em diversos ramos, sendo que uma parte se dirige para a fase inferior do rim e que o ramo principal se situa ao lado 1 do ureter, penetrando no hilo juntamente com a renal posterior. Em relação ao sistema venoso, a cobaia apresenta duas cavas anteriores; uma direita e outra esquerda. A cava anterior direita é formada pela veia jugular externa direita e veia subclávia direita, na altura da primeira costela e drena no seio venoso. A veia cava esquerda nasce da reunião das veias jugular externa, subclávia esquerdas, terminando no átrio direito. Rato - no rato, o tronco braquiocefálico nasce da croça da aorta, seguido pela carótida comum esquerda e subclávia esquerda. O tronco braquiocefálico dirige-se para frente e um pouco para à direita, para logo em seguida dividir-se em carótida comum e subclávia direitas. O tronco celíaco e a mesentérica superior não formam um tronco comum. Do contorno livre da aorta posterior, pouco antes de sua bifurcação, nasce a sacra mediana que prolonga a aorta posterior até a cauda, onde se divide em duas artérias caudais externas. O sistema venoso é semelhante ao da cobaia, com a existência de duas veias cavas anteriores.(9-11) MEDIASTINO Homem - cada pulmão possui saco pleural com dois folhetos: parietal e visceral. A pleura visceral se reflete no mediastino formando a pleura parietal, que juntamente com a pleura mediastinal oposta, separam nitidamente os dois hemitórax. Figura 15 – Músculo braquiocefálico (A-B) com tendão clavicular e porções cleidocervical e cleidobraquial Fisiologia Cardiovascular Aplicada 2 Cão - apresenta a pleura mediastinal extremamente adelgaçada, que pode deixar em comunicação direta os dois hemitórax. MEMBRO SUPERIOR Observação: o homem possuindo cintura escapular dotada de movimentos complexos e apoiando-se apenas sobre os membros inferiores, apresenta um osso clavicular que mantém a articulação do tronco com os membros superiores. Tal osso não é encontrado nos quadrúpedes, que apresentam apenas um tendão clavicular inserido transversalmente no músculo braquicefálico (Fig. 15). ABDOME Em cães, gatos e ratos, a linha alba muscular é muito delgada. Sob esta existe uma dobra de peritônio com o tecido gorduroso que vem desde a região hepática e se estende até a região umbilical, e que nos cães constitui o primeiro elemento a ser visualizado pré-visceralmente (é o ligamento falciforme) ESTÔMAGO Homem - não apresenta forma fixa, podendo assumir, quando vazio a forma de meia-lua, cilíndrica ou de “J”. Apresenta quatro regiões distintas: cárdia, fundo, corpo e piloro, que não possuem limites externos visíveis. Forma duas curvaturas: uma maior e outra menor, sendo a curvatura maior de aspecto convexo e voltada para a esquerda. A curvatura menor é côncova e superior, e orienta-se para cima e para a direita. Cão - é relativamente volumoso: 100 a 250 ml de volume gástrico/ kg de peso corpóreo. São perfeitamente distinguíveis duas partes: o corpo, à esquerda, de aspecto arredondado e o piloro, à direita, semelhante às primeiras alças intestinais. Gato - semelhantes ao cão. Apresenta um esfíncter pilórico nitidamente desenvolvido. Cobaia - está situado atrás do fígado com sua grande curvatura voltada para baixo e o eixo cárdio-piloro orientado transversalmente. Está unido ao baço por ligamento gastroesplênico bem desenvolvido e ao fígado pelo ligamento hepatogástrico. Na porção mediana apresenta um pequeno estreitamento que corresponde à separação do corpo com a zona pilórica. Rato – o estômago compreende duas porções: uma glandular, ou estômago digestivo propriamente dito, e uma porção em fundo de saco ou pré-estômago.  FÍGADO Homem - é a maior glândula do corpo. Possui duas faces, uma diafragmática, voltada para o diafragma e outra visceral voltada para baixo. Apresenta um lobo direito e outro esquerdo delimitados na fase visceral pela cisura do ligamento venoso, atrás, e pela cisura do ligamento redondo, na frente. Na face diafragmática a delimitação é feita pela inserção do ligamento falciforme. Cão - o fígado do cão recobre quase que totalmente a face abdominal do diafragma. Apresenta profundos sulcos entre seus lobos e em suas bordas notam-se entalhes irregulares. Na face diafragmática evidenciam-se quatro lobos, ao passo que na face posterior se reconhecem seis lobos. O lobo mais desenvolvido é o esquerdo, unido ao lobo intermediário esquerdo; é mais ou menos piramidal e sua parte dorsal não ultrapassa a veia porta. O lobo quadrado é pequeno e o lobo intermediário direito envolve a vesícula biliar. O lobo direito situa-se na região dorsal, e abaixo da veia porta está o lobo caudado, apresentando dois sulcos dirigidos para a direita e esquerda. A porção direita é o processo caudado, de aspecto piramidal, às vezes dividido em dois e ultrapassando a borda direita do fígado. A porção esquerda forma o processo papilar que se insinua no omento menor (Fig. 20). Não é infrequente encontrar-se duplo conduto hepático comum. Gato – apresenta um grande lobo lateral esquerdo, de aspecto ovalar , podendo possuir um profundo sulco em sua fase visceral; Figura 19 - Cobaia - ceco Fisiologia Cardiovascular Aplicada  um lobo intermediário esquerdo, em forma de menisco, localizado anteriormente ao lobo lateral esquerdo; lobo quadrado, de formato triangular visto de sua fase anterior, que se dirige para trás do hilo hepático e apresenta depressão causada pela vesícula biliar; lobo intermediário direito, em forma de palheta e o lobo lateral direito de aspecto piramidal. O lobo caudado, acima da veia porta, envia para trás em direção ao estômago o processo papilar e, para trás e à direita, o processo caudado de extremidade bífida. Figura 20– Cão – fígado (face visceral) A vesícula biliar não é livre. Situa-se no leito vesicular do lobo quadrado. O canal cístico é tortuoso. Cobaia – apresenta divisões profundas entre os lobos, tornando a lobulação do parênquima visível. O lobo lateral esquerdo é o maior, sendo coberto, em parte, pelo lobo intermediário esquerdo. Ao lobo quadrado pequeno, segue o lobo intermediário direito, que está em relação com a face direita e extremidade inferior biliar. Na face direita encontra-se o lobo lateral direito. Na face posterior do lobo lateral direito identifica-se o processo caudado, caracterizado pela profunda foceta renal; o resto do lobo caudado é representando pelo processo papilar. A vesícula biliar possui o tamanho de uma pérola e está situada entre os lobos quadrado e intermediário direito. É facilmente visível pela face posterior e diafragmática do fígado.  Rato – possui o fígado com a lobulação visível, apresenta o lobo quadrado, e o processo papilar está dividido em dois prolongamentos, que envolvem a pequena curvatura do estômago por cima e por baixo. Não possui vesícula biliar. PÂNCREAS Homem – situada atrás do estômago, é constituído de cabeça, corpo e cauda. A cabeça é englobada pela porção descendente do duodeno e porção pilórica do estômago. O corpo e a cauda cruzam a coluna vertebral projetando-se para a esquerda. É um órgão retroperitoneal. Apresenta dois ductos, o ducto pancreático que geralmente é maior e desemboca junto com o ducto colédoco, na papila maior do duodeno, e o ducto pancreático acessório que drena isolado na papila menor. Esse último por sua vez pode se apresentar impermeável. O sistema de drenagem pancreático, no entanto, pode apresentar outras variações (Fig. 17). Cão – é caracterizado pelo seu aspecto em “C”, formado por dois ramos, o ramo direito duodenal, e o ramo esquerdo ou gástrico. A porção direita estreita estende-se entre o duodeno descendente e o cólon ascendente, em direção caudal, atingindo o pólo posterior do rim direito. O ramo esquerdo, mais espesso, acompanha o estômago desde o piloro até a parede abdominal esquerda (Fig. 18). O sistema de drenagem apresenta dois canais distintos. O ducto pancreático principal drena, juntamente com o colédoco, na papilar maior do duodeno e o pancreático acessório desemboca independentemente, sendo o ducto mais importante para a drenagem pancreática. Gato – a porção anterior está situada na primeira curvatura do duodeno; seu ramo direito se desloca em direção caudal, acompanhando o duodeno descendente até o duodeno posterior; o ramo esquerdo, com trajeto transversal segue a face posterior do estômago até o rim esquerdo. O sistema de drenagem é semelhante ao do homem. Cobaia – possui forma de ferradura, de coloração rosa-pálida. Está situado essencialmente atrás e pouco abaixo do estômago. Compreende uma porção transversal e dois ramos: ramo esquerdo, junto ao duodeno e ramo transversal, posterior à borda da pequena curvatura e piloro, que depois se dirige para trás, formando o ramo direito. O ducto pancreático drena diretamente no colédoco. Rato – é uma estrutura bastante tênue e compreende dois ramos: o direito, atrás do estômago, e o esquerdo junto ao duodeno. Possui dois ductos pancreáticos maiores e oito a quinze ductos menores, sendo que Fisiologia Cardiovascular Aplicada 0 Gato - apresenta, como particularidade a existência de veias estrelares em número de quatro ou cinco, que partem do hilo até a borda externa, caminhando sobre as faces dorsal e ventral do rim, possuindo ramificação tipicamente arborescente (Fig. 23). As supra-renais (pararrenais) são semelhantes às do cão. Cobaia - são assimétricos. Sendo o rim direito semelhante ao formato de um feijão, porém mais arredondado. O rim esquerdo apresenta forma piramidal, com bordas arredondadas. As supra-renais estão localizadas em posição anteromedial com relação ao pólo superior do rim. Rato - não apresentam diferenças em relação aos rins da cobaia. ÓRGÃOS DA CAVIDADE PÉLVICA ÚTERO Homem - situado no interior da pelve, não apresenta posição fixa, porém geralmente está situado no plano mediano ligeiramente deslocado para a direita. Não apresenta forma fixa, variando com a idade e o estado gestacional. Nas nulíparas no entanto, apresenta forma de uma pêra invertida onde se delimitam três porções distintas: corpo, parte principal do útero, que se estende para o pólo inferior até o istmo, que é a segunda porção, estreita e com cerca de 1 cm ou menos de comprimento; o colo, terceira e última porção, está situado póstero-inferiormente ao istmo e prolaba na cavidade vaginal. Cão – o útero está sustentado pelo ligamento largo do qual sai o ligamento redondo em direção ao canal inguinal. Apresenta um cólon extremamente curto, fazendo saliência na vagina e um corpo uterino filiforme, que se divide rapidamente em dois cornos estreitos, retilíneos, que se estendem até os rins. Gato e Cobaia – semelhantes ao cão. Rato - apresenta curto colo uterino, que continua com o corpo sem limites precisos. É também bicórneo. PêNIS E TESTÍCULOS(12) Homem - situados na região urogenital, compõe de uma porção fixa (a raiz) e outra livre (o corpo). A raiz compreende os dois ramos do pênis e o bulbo, localizado entre eles. O corpo contém um par de corpos cavernosos, continuações dos ramos e um corpo esponjoso, que é continuação do bulbo. A glande está separada do resto do corpo por uma constrição: o colo da glande. 1 Os testículos em número de dois, são ovóides, e estão situados no escroto. Cão - apresenta o pênis muito pouco separado da parede abdominal. Possui como particularidade um osso peniano, que pode ser considerado como tecido erétil modificado, contendo um sulco em sua face ventral, onde caminha a uretra. Em corte transversal apresenta a forma de “U” invertido . (Fig. 24). Figura 24 – Cão – osso peniano (corte transversal ao nível do bulbo da glande) Gato - não apresenta alteração morfológica em relação ao cão. Cobaia e Rato - não apresentam o osso peniano e a posição dos testículos pode ser variável: escrotal, inguinal ou intra-abdominal. Parâmetros Fisiológicos Básicos de Alguns Animais Utilizados em Cirurgia Experimental Os valores aqui enunciados foram coligidos das obras de Coffin (1959)(13), Schalm (1964)(14), Bentick-Smith (1968)(15), Houssay (1971)(16), Coles (1974)(17) , Aguiar et al (1978)(18), Jani (1993)(19) e Mayer e Harvey (1998)(20). Os dados referentes aos cães são mais assinalados, tendo em vista sua larga utilização em nosso meio, dada a disponibilidade e, principalmente, pela facilidade de programação de experiências isovolúmicas, pois a incompatibilidade sanguínea é rara nesses animais. Com efeito, embora neles sejam identificados sete grupos sanguíneos, apenas para o fator A positivo surge o risco de acidentes de incompatibilidade (90% dos cães têm sangue tipo C). Ainda nestes casos, a simples feitura de prova cruzada permite com certa margem de segurança, a profilaxia do fenômeno. Fisiologia Cardiovascular Aplicada 2 De qualquer forma, são muito raras as manifestações de incompatibilidade sanguínea nas primeiras transfusões. por outro lado, quando ocorrem, tendem a ser menos graves que em humanos e a lesão tubular renal típica dos acidentes transfusionais não ocorrem em cães (Schwartz, 1964). Quadro 3-1: PARÂMETROS FISIOLÓGICOS BÁSICOS *(b) = braquial; *(f) = femoral; *(c) = carótida; *(Co) = coccígea Homem Cão Gato Coelho Rato Boi Co-baia Porco Temperatura retal ºC ± 0,5 ºC 37 38 38,5 39,3 38,1 38,5 38,1 39 Diurese ml/kg/dia 20-30 21-41 21-30 180-400cc/dia 0-30 cc/dia 17-34 0-30 cc/dia 25-50 Gestação - dias 280 63 63 30 21 280 68 114 Sobrevida - anos 65 12 9,5 6 2,5 18raro 4,5 6 Pressão arterial mmHg 120/80 * (b) 120/80 *(f) 120/90 *(f) 100/90 *(f) 77 *(c) 170 *(Co) 77/47 *(c) 170 *(f) Frequência cardíaca b.p.m. 72 80 125 200 400 32 400 70 Frequência respiratória i.p.m. 15-20 10-30 20-30 100-150 100- 150 10-30 100- 150 8-18  Q ua dr o 3- 7: S EC R EÇ Õ ES D IG ES TI VA S – C ÃO -G AT O Su co g ás tr ic o C ão G at o B ile C ão G at o S. P an cr eá tic o C ão G at o S. d uo de na l C ão G at o S. je ju na l C ão G at o S Ile al C ão G at o Pe so e sp ec ífi co g r 1. 00 2- 1. 00 4 10 04 - 10 31 1. 00 9 1. 00 9 pH 1, 4- 4, 5 5, 18 - 6, 97 7 ,1 -8 ,2 8, 4 8, 7- 8, 9 6, 83 7, 61 - 8, 66 B ic ar bo na to m Eq /l 26 ,1 - 31 ,8 93 -1 43 5, 2- 30 69 ,8 - 11 4 C ál ci o m Eq /l 0, 95 -3 ,3 0 1, 7- 5, 3· 26 ,1 4, 6- 5, 1 1, 8- 2, 0 4, 6- 5, 1 1, 6- 5, 4 5, 0- 5, 5 C lo re to m Eq /l 98 -1 43 15 5, 5- 16 5, 7· 0- 20 71 -1 06 67 -9 3 14 1- 15 3 68 ,1 - 87 ,9 M ag né si o m g/ 10 0m l 0, 5 0, 2- 1, 4 0, 2- 1, 9 Fo sf at o m g/ 10 0 m l 0, 25 0, 7- 3, 6 1, 2- 7, 9 0, 5- 0, 7 Fó sf or o m g/ 10 0 m l 0, 16 -0 ,5 5· 82 - 28 0 Po tá ss io m Eq /l 10 ,3 -2 2 11 ,5 -1 3, 6· 2. 5- 7. 0 4, 2- 10 ,2 4, 7- 6, 8 Só di o m Eq /l 46 ,3 -7 9* 12 ,1 7- 55 ,6 5· 14 9- 16 2 12 6- 19 2 14 6- 15 6 Á ci do C lo ríd ric o m Eq /l To ta l 32 (0 -5 0) * 12 7, 5- 15 4, 7 Li vr e 15 1( 0- 16 8) * 97 ,2 5- 12 2, 30 · E st im ul aç ão c om a lim en to Fisiologia Cardiovascular Aplicada  Quadro 3-8: SUCO GÁSTRICO Homem Cão Porco PESO ESPECÍFICO 1.009 1.002-1.004 1.002-1.006 SECREÇÃO ml/dia 1.000 100-200 800-1.000 pH 0,80-0,98 1,4-4,5 1,07-2,0 Quadro 3-9: BILE – SECREÇÃO E pH Homem Cão Gato Boi Porco SECREÇÃO ml/dia 700-800 250 200 22-6 kg 800-1000 pH 5,33-7,08 5,8-6,9 5,33-7,08 5,33-7,08 5,33-7,08 Quadro 3-10: SUCO PANCREÁTICO Homem Cão Gato Boi Porco SECREÇÃO ml/dia- g/h. 500-800 ml / dia 1-35 g/h 1-35 g/h 250-400 g/h 7-15 g/h pH 8,0-8,3 7,1-8,2 7,0-8,8 7,6-8,4 7,8-8,3 Quadro 3-11: SECREÇÃO DUODENAL Homem Cão Gato Boi Porco PESO ESPECÍ- FICO 1.007-1.010 1.009 1.007-1.010 1.007-1.010 1.007-1.010 pH 8,7-9,1 8,4 8,0-9,0 8,0-9,0 8,7 SECREÇÃO ml / 24h 600-800 100 80 - 600 FRRRIRRA EMI UE SOMOGRAMA DE CALCULO DE SUPER PESO dnEa DE SUPERFICIE — AMSTÂNCIA cEel CORPORIA NASO — ANUE* imêl ab rm 2 ma Lis « uno ut um am 1º bp 1 upa n$ am cm a E a TATI ITA f Eb Eh E 55 z Í I T ca doria Lava Dorvadoras daria fins diria lira Losialoras eu nv nm 4 É : = MEDIDA PELA BASE VENTRAL IVESCOÇO, TARAN ABDOME, PELVIS Fisiologia Cardiovascular Aplicada 0 “O sistema cardiovascular possui três funções primordiais: o transporte de oxigênio e de outros nutrientes para as células do organismo, remover as excretas metabólicas resultantes do metabolismo celular, e promover o transporte de substâncias pela corrente sanguínea de um local do corpo para outro como é o caso dos hormônios, água e eletrólitos. A ação da bomba cardíaca é influenciada por basicamente quatro determinantes principais: a pré-carga, o estado inotrópico ou contratilidade, a pós-carga e a freqüência cardíaca.(1-4) O ciclo cardíaco inicia-se pela geração espontânea de um potencial de ação, no Nó Sinusal ou de Keith-Flack, que se localiza na parede lateral do átrio direito, próximo ao orifício da veia cava superior. O potencial de ação se propaga rapidamente pelos átrios, e depois pelo feixe A-V, para os ventrículos. Ao atingir as fibras de transição do Nó Atrioventricular o impulso elétrico sofre uma redução na velocidade de propagação e finalmente atinge os ventrículos garantindo sístole ventricular com atraso de pequeno instante, porém de vital importância, para garantir o sincronismo entre as contrações atrial e ventricular do ciclo cardíaco normal. (5-6) Desse modo, os átrios funcionam como bombas de enchimento para os ventrículos, e esses ventrículos, por sua vez, fornecem a maior parte da força que vai propelir o sangue pelo sistema vascular. Uma prolongação do Nó Sino-atrial como feixe de estímulo para o átrio esquerdo é conhecida como feixe de Bachmann.(7)” FISIOLOGIA CARDÍACA FUNDAMENTAL Otoni Moreira Gomes Rafael Diniz Abrantes Capítulo 4 1 ELETROFISIOLOGIA CARDÍACA A atividade elétrica do coração é consequência do potencial elétrico liberado pelas células miocárdicas, resultante das diferenças na composição iônica entre os meios extra e intracelular, bem como da natureza semipermeável da membrana celular. Historicamente, coube a Sidney Ringer, em 1980, demonstrar que o coração pode ser mantido batendo mesmo quando perfundido por solução eletrolítica substituindo o sangue. É, de modo particular, especialmente notável, sua contribuição também pioneira e demonstrando que o Cálcio é agente inotrópico indispensável para a preservação da contração cardíaca(8). Potencial de ação Transmembrana (3-5,9) O desenvolvimento do potencial de ação para a contração cardíaca foi demonstrado por Hodkin e Huxley (2) com estudos entre 1940 e 1960. Durante o repouso, todos os pontos do meio extracelular tem o mesmo potencial e entre eles não existe corrente. No entanto, entre ambos os meios existe uma diferença de potencial devido às propriedades dielétricas da membrana. O registro elétrico de despolarização da membrana celular é denominado potencial de transmembrana. Durante o potencial transmembrana ocorrem as seguintes fases: Fase zero: Despolarização = entrada rápida de Na+ Fase 1 : Saída de K+ e entrada de Cl-, além de ter cessado a entrada de Na+ Fase 2: Saída de K+ e também entrada de Ca2++ Fase 3: Somente saída de K+ Fase 4: Repouso ou fase diastólica = Troca de íons : Saída de Na+ e entrada de K+, através da bomba Na+/ K+ ATPase com gasto energético. Nessa fase também sai Ca++ Período Refratário É o intervalo de tempo em que a célula não responde corretamente à estímulos. Período Refratário absoluto- Desde o início da despolarização até antes da porção final da fase três da repolarização, ao redor de –60 mV (milivolts), durante o qual a célula não aceita nenhum estímulo. Fisiologia Cardiovascular Aplicada 2 Período Refratário Relativo- Após o período refratário absoluto até o final da fase três, durante o qual a célula responde de forma inadequada à estímulos intensos. Período Supernormal- Um curto intervalo de tempo após o período refratário, durante o qual a célula pode responder a estímulos de pequena intensidade que normalmente não atingiram o potencial limiar. Correlacionando esse potencial de ação com o Eletrocardiograma (ECG), pode-se entender que as fases 0 e 1 correspondem ao QRS, a fase 2, ao seguimento ST; a fase 3, à onda T e a parte inicial da fase 4, à onda U. Os íons, responsáveis pela atividade elétrica do coração são : sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloro e ânions não difusíveis intracelulares, constituídos por proteínas do sarcoplasma, além de fosfatos e bicarbonato,. Os íons difusíveis mais importantes são o Na+, e o K++ , que apesar de que baixa concentração, interfere muito com a contração muscular. No fenômeno de despolarização atrial a primeira região a se despolarizar é o nó sinusal ou de Keith-Flack . Dessa região, o estímulo é propagado para os átrios como ondas de excitação de forma radiada, semelhante ao que acontece quando se atira uma pedra no lago. A onda de ativação atrial pode ser representada por um vetor resultante que se dirige de cima para baixo e da direita para a esquerda. No ECG é registrada uma pequena deflexão, a onda P, situada em torno de +60 graus no plano frontal, sendo assim positivas na derivações II, III e aVF. O nó sinuatrial é uma estrutura oval e alongada, semelhante a uma Intracelular Extracelular Cátions Ânions Cátions Ânions K+ 155 CI- 8 K+ 5 CI- 110 Na+ 12 HCO3- 8 Na+ 145 HCO 27 Mg2+ 15 Prot- 60 Mg2+ 2 Prot- 15 Ca2+ 2 PO+ 90 Ca2+ 2 PO+ 2 - - SO+ 18 - - - - Ac.Org. 6 - - - -  subencárdica direita. O ramo esquerdo inicia-se às custas de uma série de fibras que se desprendem sucessivamente do feixe de His à semelhança se um leque e subdivide-se em três fascículos: anterior, intermédio e posterior. Despolarização Ventricular A depolarização ventricular manifesta-se no eletrocardiograma (ECG) através do complexo QRS. A excitação dos ventrículos ocorre de maneira sequencial através do septo e do miocárdio ventricular, com as forças iniciais da despolarização sendo determinadas pela distribuição do sistema de condução da intimidade da musculatura ventricular. A ativação ventricular normal chega primeiro ao terço médio do septo ventricular esquerdo e, logo depois, à base dos músculos papilares anterior e posterior, para, em seguida, atingir o septo interventricular direito, com uma diferença de tempo de 0,05 ms, dando origem aos primeiros vetores da ativação septal. Durante a ativação septal, o estímulo se propaga pela superfície endocárdica dos dois ventrículos, onde as fibras do sistema de Purkinje favorecem despolarização rapidíssima e quase simultânea da metade ou dos dois terços internos da espessura das paredes livres ventriculares. Toda esta zona ventricular ativando-se, praticamente ao mesmo tempo, origina número infinito de pequenos vetores dirigidos em todos os sentidos, que se anulam mutuamente e não determinam diferença de potencial capaz de influenciar no ECG registrado na periferia. Em seqüencia, as últimas partes do coração a serem despolarizadas são as porções basais dos ventrículos e do septo interventricular, por serem zonas de maior espessura e pobres em terminações de Purkinje. Repolarização Ventricular Após a inscrição do complexo QRS, toda a massa miocárdica, esta ativada, mostrando cargas negativas. Não havendo, durante certo tempo, difenças apreciáveis de potencial, obtém-se o registro de linha quase isoelétrica, denominada segmento ST. À seguir, inicia-se o fenômeno da repolarização ventricular, onde as células passam novamente a ter cargas positivas. A diferença de potencial que começa a se estabelecer entre as zonas já repolarizadas e as ainda negativas determina o registro de uma deflexação arredondada e lenta, denominada onda T. A repolarização ventricular, que devia ocorrer do endocárdio Fisiologia Cardiovascular Aplicada  (primeira região a ser ativada) para o epicárdio (última região a ser ativada), inverte-se devido a ação discutível de vários fatores, que retardariam a recuperação das câmaras subendocárdicas. Entre esses fatores, inclui-se a pressão do sangue intracavitário sob o endocárdio, a mais baixa temperatura deste em relação ao epicárdio e, ainda, a melhor irrigação das porções subendocárdicas. Enfim, desenvolve-se uma onda de positividade que avançaria lentamente do epicárdio para o endocárdio. O ciclo cardíaco normal decorre de uma série de eventos. A compreensão de alguns aspectos dos eventos de natureza elétrica, mecânica e hemodinâmica é de grande auxílio para a aplicação racional de métodos clínicos destinados ao exame do aparelho cardiovascular. Existe relação de causa e efeito entre esses eventos. Os elétricos originam os mecânicos e estes os hemodinâmicos. Os eventos cardíacos que ocorrem do início de cada batimento cardíaco até o início do próximo é chamado de ciclo cardíaco que segundo a descrição clássica de Wiggers se divide em períodos de sístole e diástole .Cada ciclo inicia-se pela geração espontânea de um potencial de ação no Nó Sinusal ou de Keith-Flack (9). Esse nodo localiza-se na parede lateral do átrio direito, próximo ao orifício da veia cava superior, e o potencial de ação se propaga rapidamente pelos átrios e depois, pelo Feixe A-V, para os ventrículos.Durante a propagação do impulso dos átrios para os ventrículos ocorre um atraso de 1/10 de segundo, devido à passagem do impulso pelas células transicionais do nodo A-V . Isso permite que os átrios contraiam-se antes dos ventrículos, bombeando sangue para os ventrículos antes do início da forte contração ventricular. Desse modo, os átrios funcionam como bombas de enchimento para os ventrículos, e estes por sua vez, fornecem a maior parte da força que vai propelir o sangue pelo sistema vascular. O Nó Sino-atrial pode apresentar-se dividido em duas estruturas funcionais: a principal, conhecida como Nó de Keith-Flack, descrito em 1906, e a secundária, designada como Nó de Pace, Bruni e Segres (7,8). Nesta circunstância,de fato muito rara, com duas origens de estímulos, a onda P do eletrocardiograma pode normalmente mostrar-se dividida. Uma prolongação do Nó-sino atrial como feixe de estímulo para o átrio esquerdo é conhecida como feixe de Bachmann.  Relação do ECG com o Ciclo Cardíaco O eletrocardiograma consiste na expressão de ondas, P, Q, R, S e T, na superfície corporal pelo coração e é registrada pelo eletrocardiógrafo. A onda P é causada pela dispersão da despolarização, através dos átrios, produzindo a contração destas câmaras, o que provoca pequena elevação da curva da pressão atrial, que se inscreve imediatamente após a onda P. Cerca de 0,16 segundo após o início da onda P, o complexo QRS aparece, como resultado da despolarização dos ventrículos, iniciando sua contração e provocando o início da elevação da pressão ventricular. Assim, o complexo QRS aparece no registro do ECG momentos antes da sístole ventricular mecânica (11) . A onda T no eletrocardiograma representa a fase de repolarização dos ventrículos, quando as fibras musculares começam a relaxar, e aparece no registro pouco antes do término da contração ventricular. É importante sempre considerar que o eletrocardiograma representa a atividade da membrana do cardiomiócito, e não do seu desempenho contrátil. Todos os componentes vetoriais gerados pela mobilização iôntica para o potencial de ação, dependem da função e estrutura histológica do sarcolema, sarcotúbulos e retículo sarcoplasmático. Já a resultante inotrópica, com geração de força e pressão resultantes, dependem da integridade do sistema protéico contrátil miocárdico, notadamente da actina, miosina e titina, definindo o sarcômero, delimitado pelas bandas Z, Fig. 1 - Complexo Estimulador do Coração 1 - Nó Sino-atrial 2 - Feixe Internodal Anterior 3 - Feixe de Bachmann  - Feixe Internodal Mediano (Wenckebach)  - Feixe Internodal Posterior (Thorel), (Vias Acessórias de Condução:  - Feixe de James  - Feixe de Mahaim  - Feixe de Kant)  - Nó Atrioventricular 10 - Feixe Atrioventricular (Hiss) 11 - Ramo Direito (Tawara) 12 - Ramo Esquerdo (Tawara) 13 - Fibras de Purkinje 1 - Septo Interventricular (Modificado de Lossnitzer K, Pfennigsdorf G, Bräuer H. Miocárdio, Vasos, Cálcio. Mainz, Erasmusdruck GmbH, 1984).
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