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Trabalhando a voz do professor, Trabalhos de Fonoaudiologia

Trabalhando a voz do professor

Tipologia: Trabalhos

2013

Compartilhado em 25/02/2013

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fga-jucielle-queiroz-3 🇧🇷

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Baixe Trabalhando a voz do professor e outras Trabalhos em PDF para Fonoaudiologia, somente na Docsity! CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA VOZ TRABALHANDO A VOZ DO PROFESSOR Prevenir, Orientar e Conscientizar AMÁLIA POLLASTRI DE CASTRO E ALMEIDA RIO DE JANEIRO 2000 2 CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA VOZ TRABALHANDO A VOZ DO PROFESSOR Prevenir, Orientar e Conscientizar Monografia apresentada como parte das exigências para a conclusão do Curso de Especialização em Voz. Orientadora: Mirian Goldenberg AMÁLIA POLLASTRI DE CASTRO E ALMEIDA RIO DE JANEIRO 2000 5 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 8 2. COMO MANTER UMA BOA VOZ ....................................................................................... 11 2.1 REVISÃO DA ANATOMIA E FISIOLOGIA.................................................................... 11 2.2 SISTEMA RESPIRATÓRIO.......................................................................................... 13 2.3 IMPORTÂNCIA DA TERAPÊUTICA RESPIRATÓRIA .................................................. 15 2.4 SAÚDE VOCAL............................................................................................................ 16 3. ORATÓRIA, GESTOS E POSTURAS ................................................................................. 21 4. O COTIDIANO DO PROFESSOR ....................................................................................... 24 4.1 PRINCIPAIS QUEIXAS ................................................................................................ 24 4.2 DIFICULDADES ENCONTRADAS DENTRO E FORA DA SALA DE AULA.................. 25 4.3 RELAÇÃO VOZ X CARGA HORÁRIA........................................................................... 27 4.4 DISFONIA COMO DOENÇA OCUPACIONAL.............................................................. 28 5. RELAÇÃO ESTRESSE X VOZ............................................................................................ 31 6. IMPORTÂNCIA DA TERAPIA VOCAL NO TRABALHO COM PROFESSORES ................ 33 6.1 COMO AUXILIAR OS PROFESSORES NOS CUIDADOS COM A VOZ ...................... 34 6.2 A NECESSIDADE DE MAIOR DIVULGAÇÃO DO TRABALHO FONOAUDIOLÓGICO JUNTO AOS PROFESSORES ............................................................................................ 35 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................. 37 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................... 41 6 SUMMARY The goal of this paper was to show the importance of prevention and correct orientation in the treatment of teachers vocal problems. Through theoretical researchs, important information was raised concerning the main complaints, the more common vocal abuses and their consequences. As well the difficulties found by those professionals in their daily work. Factors like frequent psychological stress and lack of pedagogical resources were mentioned by the researched authors as the main problems found by teachers. Beside these, the most part of professionals work in crowded classes, without the means to provide them an adequate vocal production. Resources as microphones or roams designed with better acoustics are not a Brazilian reality, but are fundamental to the maintenance of the voice quality and consequently to a more efficient and pleasant education. This paper has been a contribution to teachers to become aware of the importance of prevention and habits changes. As well the correct prevention towards voice problems, since teachers are the professionals that have got the highest number of vocal alterations. 7 RESUMO O objetivo desse trabalho foi mostrar a importância da prevenção e correta orientação no tratamento dos problemas vocais dos professores. Através de pesquisa teórica, foram levantados dados importantes sobre as principais queixas, os abusos vocais mais cometidos e suas conseqüências, e as dificuldades encontradas por esses profissionais no dia-a-dia de seu trabalho. Fatores como freqüente estresse psicológico e falta de recursos pedagógicos foram apontados pelos autores pesquisados como principais problemas encontrados pelos professores. Além desses, a maioria dos profissionais trabalham em salas de aula cheias e sem meios que propiciem uma adequada produção vocal. Recursos como microfone ou salas projetadas com uma acústica melhor são propostas que, apesar de não fazer parte da realidade brasileira, são fundamentais para a manutenção da qualidade da voz e, consequentemente, para uma educação mais eficiente e prazerosa. A prevenção é o principal meio para se evitar problemas vocais, embora, baseado em experiências de consultório particular, são raros os professores que procuram a terapia fonoaudiológica antes de se estabelecer um problema. Esse trabalho contribuiu para que os professores se conscientizem da importância da prevenção, da mudança de hábitos e correta profilaxia com a voz, visto que são eles os profissionais com maior índice de alterações vocais. 10 Acredita-se que muitos profissionais passam constantemente por situações duvidosas e incertas no atendimento aos professores. Este trabalho também visa o esclarecimento, total ou parcial, de algumas destas dúvidas e incertezas e a suscitação de outras. 11 2. COMO MANTER UMA BOA VOZ 2.1 REVISÃO DA ANATOMIA E FISIOLOGIA O mecanismo fonatório acontece durante a fase expiratória da respiração. Para tal faz-se necessária uma atividade equilibrada de toda musculatura intrínseca da laringe, que é constituída pelos músculos aritenóideos, cricoaritenóideos laterais e feixe externo do tiroaritenóideos (músculos adutores). Constituindo o mecanismo abdutor das pregas vocais encontra-se os músculos cricoaritenóideos posteriores. O mecanismo de tensão é realizado pelos músculos cricotireóideos e principalmente pela ação do feixe interno do músculo tiroaritenóideos. A voz é produzida pela vibração das pregas vocais. Durante a expiração as pregas vocais se aproximam em toda sua extensão, resultando num fechamento glótico e conseqüente aumento da pressão aérea subglótica. Estas duas forças opostas resultam na vibração das pregas vocais. A pressão subglótica forma-se quando as pregas vocais são aproximadas. O volume de ar expirado que deixa os pulmões é retardado ao nível da glote, o que resulta em maior velocidade de fluxo de ar através da glote (BOONE, 1984). A pressão subglótica aumenta em relação a pressão aérea subglótica e as pregas vocais são separadas rapidamente, igualando as duas pressões (fase de abertura de um ciclo de vibração). 12 Devido a massa das pregas vocais e ao efeito de Bernouilli (efeito de sucção), elas se unem novamente à sua linha de aproximação prévia (fase de fechamento do ciclo de vocalização). O efeito de Bernouilli é a atração sugadora das pregas vocais, uma em direção à outra, causada pela maior velocidade do ar passando entre as pregas vocais aproximadas. BOONE (1984) explica que o ciclo vibratório funciona da seguinte forma: os adutores intrínsecos aproximam as pregas vocais quando a expiração inicia; a pressão sub aumenta; o fluxo de ar passa pela abertura glótica e separa as pregas vocais; a massa estática e o efeito de Bernouilli as aproximam novamente; o ciclo vibratório se repete. Este ciclo pode se repetir aproximadamente 125 vezes por segundo na vocalização de um homem adulto e 215 vezes por segundo em uma mulher adulta (BONNE, 1984). FIGURA 1. Estruturas cartilaginosas laríngeas básicas: A) corte da ala direita da tireóidea; B) parede cartilaginosa da tireóidea esquerda; C) cartilagem aritenóidea esquerda; D) posterior da cartilagem cricóidea. Músculos intrínsecos: E) cricoaritenóideo posterior; F) cricoaritenóideo lateral; G) aritenóideo oblícuo; H) aritenóideo transverso; I) ariepiglótico; J) tiroaritenóideo (prega vocal); K) prega ventricular; L) epiglote. (BOONE & McFARLANE, 1994). 15 das costelas e entram em atividade após cessada a fase exalatória visual, quando os intercostais externos estão relaxados e as costelas já retornaram à posição inicial. Sua contração implica a utilização do ar de reserva (PINHO 1998). 2.3 IMPORTÂNCIA DA TERAPÊUTICA RESPIRATÓRIA Como foi citado anteriormente, é comum encontrarmos nos professores uma incoordenação pseudo-fono-respiratória. Esse descontrole faz com que tais profissionais usem constantemente o ar de reserva, gerando hiperadução glótica com conseqüente prejuízo do aparelho fonador (aumento da fadiga vocal, por exemplo). Deve-se lembrar que a utilização do início do ar de reserva é permitido desde que seja enviada corrente aérea para as pregas vocais, por meio da contração progressiva da musculatura da cinta abdominal (PINHO, 1998). A cinta abdominal é constituída por vários músculos que participam da dinâmica responsável e da sustentação da voz. O treinamento dessa musculatura é indispensável para a firmeza das costelas e para a locução em fortes intensidades. O aumento da intensidade vocal depende diretamente do aumento da pressão aérea subglótica, controlada pela adução glótica e fluxo aéreo expiratório (PINHO, 1998). 16 Um problema chave para muitos profissionais com problemas de voz é a tendência a comprimir a glote fechada para produzir a força necessária, ao invés de aumentar a pressão do ar contraindo os músculos abdominais. Se este método for habitual, o esforço excessivo torna-se base para um hiperfuncionamento da voz, podendo gerar edemas, nódulos entre outras. O equilíbrio entre o suporte responsável e os mecanismos laríngeos permite a manutenção da vibração das pregas vocais. De acordo com PINHO (1998), a terapia respiratória consiste basicamente na instalação e automatização do padrão respiratório costodiafragmático abdominal, no condicionamento muscular e no controle do sopro durante as demandas vocais. A importância do trabalho respiratório nas disfonias tem sido mencionada por vários autores, mas o tratamento da função respiratória tem sido ignorado por muitos fonoaudiólogos, apesar do aumento do esforço respiratório ser nitidamente observado em professores com queixas vocais. 2.4 SAÚDE VOCAL Baseando-se nos estudos de PLETSCH (1997), QUINTEIRO (1989), PINHO (1997), COLTON & CASPER (1996), AYDOS (2000) e em observações próprias da autora deste trabalho, pode-se afirmar que a voz do professor é suscetível a inúmeras interferências, tais como: abusos vocais, condições climáticas, vícios, alimentação, hormônios, distúrbios respiratórios, inadequada 17 hidratação. Para manter uma boa saúde vocal o professor depende do cumprimento de algumas recomendações preciosas descritas pelos referidos autores, as quais passamos a destacar: Abusos vocais Para evitar abusos vocais recomenda-se ao professor: 1) locomover-se pela sala de aula, podendo assim ser ouvido mais facilmente, evitando falar alto ou quando os alunos estiverem inquietos; 2) Falar com intensidade de voz adequada ao ambiente, com o tom e a velocidade de voz que melhor lhe convier; 3) utilizar a colocação correta da voz, com a ressonância equilibrada; 4) falar calmamente, evitando desgastes desnecessários; 5) substituir os gritos por apitos ou assobios quando quiser obter a atenção do público; 6) evitar emitir sons onomatopéicos (motores, trovões, ruídos de animais, instrumentos musicais, entre outros); 7) visitar o médico regularmente. Efeitos climáticos Para se prevenir dos efeitos climáticos aconselha-se: 1) agasalhar- se adequadamente e evitar exposição a correntes de ar contínuas; 2) manter uma boa hidratação, possibilitando a fluidificação das secreções produzidas pelo organismo; 3) evitar a ingestão de alimentos e bebidas geladas ou quentes em excesso, pois estes provocam choque térmico, causando edemas nas pregas vocais; 4) não permanecer falando por longos períodos em ambientes demasiadamente secos, sob o efeito de ar condicionado, pois isto agride as mucosas das pregas vocais, propiciando a formação de catarro e irritações nasais e laríngeas. 20 Seguindo estas recomendações, os educadores, assim como outros profissionais que utilizam a voz excessivamente, estarão prevenindo-se de futuras alterações e males que acometem a região laríngea, preservando, deste modo, a sua saúde vocal. 21 3. ORATÓRIA, GESTOS E POSTURAS A oratória teve origem na Sicília no século V a.C. mas foi na Grécia que encontrou meios para seu desenvolvimento (POLITO, 1996). Consiste em um princípio de comunicação e valorização da expressão oral, pois falar bem é imprescindível para o Profissional da Voz. É importante a maneira como se fala devido a carga de emoção que passamos com nossas palavras. A voz transmite os sentimentos e atinge os ouvintes diretamente, proporcionando-lhes sensações de prazer ou desprazer, interesse ou desinteresse. Para tanto, o orador deve transmitir através de seus gestos, da sua postura e da sua voz um entusiasmo que envolva os seus ouvintes. Não podemos falar em voz, em comunicação sem nos preocuparmos com o que nossa expressão corporal está dizendo. Para o professor é fundamental ser bom orador, a fim de atrair seus ouvintes, no caso, seus alunos, através de uma boa qualidade vocal aliada a uma expressão corporal e gestual adequada ao conteúdo transmitido. A maioria dos estudiosos concorda que os ouvintes guardam na memória cerca de 10% do que ouvem. Quando vêem ou participam com o corpo, a retenção das informações sobe para 20% ou 3O%. Isso nos mostra que o professor pode lançar mão de outros recursos para ensinar e não apenas usar a voz como único meio para tal. 22 Devemos lembrar que não significa que a aula deva ser transformada num espetáculo de fogos de artifícios, mas deixar claro que, além de desenvolver uma veia de orador, é interessante que o professor recorra à linguagem corporal ou visual, pois assim poupará a voz, evitando o cansaço vocal tão comum a esses profissionais. O cuidado com a postura deve iniciar quando o professor entra em sala de aula, principalmente com alunos de faixa etária maior, que são mais críticos. A maneira de sentar, de olhar, de cruzar ou descruzar as pernas, tudo isso é observado pelo aluno, e, junto a isso, a maneira como fala e usa a voz. O tamanho e a intensidade do gesto do professor devem atender ao tipo de sala que enfrenta. POLITO (1996) descreve que, como recurso didático para poupar a voz, quanto maior a sala, levando em consideração a série e o conteúdo, maiores e mais largos deverão ser os gestos, enfatizando o que o professor achar necessário dentro do contexto dado. Porém, o mesmo autor salienta que os gestos devem ser apenas indicados, usados para reforçar o que o professor deseja, ao invés de usar a voz para tal. Muitos gestos acabam por tirar a atenção do aluno ao que está sendo ensinado. Já ouvimos a mesma história de muitos estudantes. O professor conhece bem a matéria, mas não sabe ensinar (POLITO, 1996: 34). É possível que o defeito seja da comunicação como um todo, mas se ele gritasse menos, gesticulasse de forma correta e coerente com o conteúdo e/ou se posicionasse 25 PINTO & FURCK (1997) salientam que a prática vocal bem estruturada não fadiga em absoluto a voz, pelo contrário, os músculos e os órgãos vocais se desenvolvem e se fortificam com a exercitação correta. Às vezes, nos consultórios, nos deparamos com alguns depoimentos, muito comuns entre o professorado, do tipo: – De uns tempos para cá, eu ando tão rouco! – Não sei o que acontece com minha garganta; parece raspar quando eu falo. Chega a doer, às vezes. – Agora, nas férias, a minha voz está excelente. Você nem pode imaginar como fica quando estou trabalhando. – Outro dia minha voz não funcionou. Fiquei muda. Foi baseando-se em queixas iguais a estas que muitos estudiosos começaram a apresentar propostas de trabalho no sentido de orientar os professores, assim como cantores, locutores, telefonistas, advogados, políticos, entre outros, para a correta utilização do aparelho fonatório. Fonoaudiólogos e médicos otorrinolaringologistas também têm considerado, como sendo de enorme importância, o trabalho de prevenção, detecção e tratamento de transtornos vocais que acometem estes profissionais. 4.2 DIFICULDADES ENCONTRADAS DENTRO E FORA DA SALA DE AULA A disfonia apresentada pelos profissionais da área de educação tem sido pesquisada e considerada como doença profissional e social em quase 26 todos os países (OYARZÚN, 1984). Para evitar estes transtornos vocais que limitam a capacidade do professor, tem-se discutido cada vez mais sobre a profilaxia das patologias de voz. Com o objetivo de desenvolver um programa de orientação profilática junto aos professores, OLIVEIRA et al. (1998) investigou um grupo de 75 docentes, pertencentes a cinco escolas da cidade de Campinas-SP, sendo três estaduais e duas particulares. Após a realização de um levantamento onde foram observados os recursos materiais, as condições ambientais, sintomas e patologias vocais, cuidados gerais com a voz e higiene vocal, a autora chegou as seguintes conclusões: – O hábito de falar voltado para a lousa, além de dificultar a propagação do som e exigir um aumento do volume da voz, irrita sobremaneira a laringe, pois facilita a inspiração de pó de giz, provocando secura e rouquidão na garganta. – A falta de ventilação propicia o acúmulo de poeira e pó de giz dentro da sala de aula, aumentando a possibilidade de o professor desenvolver patologias do aparelho respiratório como crises alérgicas e obstrução das vias aéreas superiores. – Tentar controlar os ruídos internos e externos à sala de aula através do aumento do volume de voz pode provocar sintomas negativos na voz (abafamento, falhas etc.) e na laringe (ardume, cansaço etc.). – Falar durante horas ininterruptas, além de sobrecarregar o aparelho fonatório, diminui a umidade da boca e laringe, provocando irritação. 27 Em virtude destas conclusões, OLIVEIRA et al. (1998) sugerem, entre outras coisas: 1) troca do giz convencional por pincel atômico; 2) limpeza e ventilação adequada; 3) salas menores e com maior potencial acústico; 4) eliminar, ou minimizar, ruídos externos; 5) utilizar outros meios, que não o grito, para diminuir os ruídos de dentro da sala de aula; 6) fazer breves intervalos vocais durante a aula, utilizando outros meios para expor o conteúdo didático, e aumentar o consumo de água durante o período em que estiver lecionando. Seguindo estas orientações, os professores estarão eliminando ou, pelo menos, diminuindo as possibilidades de surgimento de problemas no aparelho fonatório. 4.3 RELAÇÃO VOZ x CARGA HORÁRIA O professor, muitas vezes por necessidades econômicas ou por desconhecimento, assume jornadas de trabalho excessivas, sem se dar conta de que este ritmo poderá estar lhe prejudicando e, em segundo momento, lhe impedindo de lecionar. De acordo com pesquisa realizada por SOUZA & FERREIRA (1996) junto a professores da Secretaria Municipal de Ensino de São Paulo, o fator “tempo de trabalho” mostrou-se fortemente associado aos sintomas de rouquidão e perda da voz, pois a freqüência de ocorrência desses sintomas foi maior a medida que foram aumentando as horas e os anos de magistério. 30 GRÁFICO 1. Número de profissionais disfônicos que procuram orientação fonoaudiológica dividido em categorias (RODRIGUES et al., 1995). Este gráfico, apesar de ser apenas uma amostra regional, serve de parâmetro para que possamos ter uma noção, ainda que pouco precisa, da incidência de problemas relacionados ao aparelho fonatório apresentados pela classe dos professores. A voz necessita de cuidados como todo o resto do corpo. Portanto, a falta de conhecimento sobre a mesma facilita o surgimento das indesejáveis disfonias. Para evitar esta ocorrência desagradável, adverte-se que os professores (assim como outros profissionais que fazem parte deste grupo de risco) tenham sempre em mente que uma voz saudável é sinônimo de equilíbrio, estabilidade, informação e inteligência. É possível evitar a maioria dos problemas relacionados a voz, uma vez que somos nos mesmos que os provocamos. 1 Para atuar em São Paulo, como Fonoaudiólogo, é necessário possuir experiência mínima de 3 anos no atendimento a profissionais da voz e publicação e/ou divulgação de trabalho da área em evento científico. 31 5. RELAÇÃO ESTRESSE x VOZ O estresse é a resposta dada pelo nosso organismo às diferentes mudanças ambientais vividas, sejam elas reais ou construídas pela imaginação. Está associado a atividades penosas ou situações difíceis e ameaçadoras enfrentadas pelo ser humano em seu cotidiano. Face ao estresse, o corpo humano apresenta uma série de reações, ativando e desativando mecanismos, como forma de “lutar contra” ou “fugir” desta situação desconfortável. Baseando-se em estudos realizados por PLETSCH (1997), podemos dizer que a reação mais comum apresentada pelo nosso organismo – que atinge quase a totalidade do corpo – é a seguinte: FIGURA 2. Ciclo de efeitos do estresse (PLETSCH, 1997). A adrenalina é liberada na corrente sangüínea O batimento cardíaco se acelera O estômago se contrai (provocando disfunção) A respiração torna-se superficial Os vasos sangüíneos periféricos se contraem Aumenta a pressão sangüínea A digestão e o processo intestinal desaceleram Os músculos tensionam-se 32 Estas reações, que são involuntárias, agindo sinergeticamente, formam um círculo prejudicial à saúde do ser humano, causando uma série de moléstias manifestadas nas diversas partes do corpo onde os músculos tensionados retiveram toxinas, causando desconforto, sensação de cansaço e dores localizadas. Problemas como disfunção intestinal, indigestão, gastrite, enxaquecas, pressão alta, gripes, TPM, impotência sexual e mal funcionamento das cordas vocais são os mais citados na literatura consultada, mas também são relatados problemas mais graves como diabetes, infartos e tumores (inclusive na região da boca e laringe) resultantes do estado de estresse do indivíduo (BONNE & McFARLANE, 1994). Para prevenir todos estes males provocados pelo estresse, PLETSCH (1997) sugere a utilização das técnicas de relaxamento e massagem, capazes de fazer com que o organismo “descarregue” as tensões acumuladas e facilite o trabalho metabólico natural do organismo. A utilização destas técnicas desencadeia reações tanto fisiológicas (ativação da circulação sangüínea, tonificação dos músculos etc.) quanto psicológicas (redução da ansiedade, sensação de alívio etc.). 35 A seguir, serão apresentadas as dez medidas preventivas propostas pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, publicadas em 1998: 1) empregar o volume da voz moderadamente em todas as situações da atividade profissional; 2) evitar gritar em família, no púlpito ou tribuna, em partidas de futebol, em sala de aula etc. 3) não cantar em excesso se não estiver habituado; 4) manter um ritmo adequado a cada situação do dia; 5) não competir com barulhos externos e internos ao seu ambiente; 6) evitar falar rápido, muito forte e agudo; 7) praticar exercícios vocais, como ler em voz alta para aperfeiçoar a entonação, dicção, ritmo; 8) respeitar os limites da sua voz: cansou, parou. 9) falar com tranqüilidade, articulando todos os sons, sem pressa; 10) buscar apoio terapêutico junto a profissionais qualificados para o ensino da comunicação e literatura específica. 6.2 A NECESSIDADE DE MAIOR DIVULGAÇÃO DO TRABALHO FONOAUDIOLÓGICO JUNTO AOS PROFESSORES Por ser uma profissão relativamente nova perante a legislação do país, a Fonoaudiologia ainda não conquistou a devida credibilidade e respeito junto à sociedade. O que tem-se visto nos consultórios fonoaudiológicos é que 36 muitos professores, que podem ter exames laringológicos negativos ou sinais mínimos de irritação laríngea, freqüentemente recebem até 3 meses ou mais de tratamento médico antes do encaminhamento para a avaliação da voz. Não é incomum que pacientes dessa categoria sejam tratados com antibióticos, anti- histamínicos, descongestionantes, tranqüilizantes e até mesmo corticoesteiróides, ou sejam enviados para casa com algum conselho nitidamente não-específico sobre relaxar ou reduzir o uso da voz. A Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia adverte que, devido aos efeitos que algumas medicações exercem sobre a mucosa laríngea, os sintomas vocais reais do indivíduo podem piorar no transcorrer do tratamento ao invés de melhorar. Para prevenir este tipo de ocorrência e os possíveis prejuízos dela provenientes, sugere-se uma maior divulgação do trabalho do fonoaudiólogo junto às instituições de ensino. Por se tratar da saúde e do principal instrumento de comunicação dos seres humanos, acredita-se ser muito melhor prevenir do que remediar. 37 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desse trabalho foi pesquisar e estudar sobre a voz do professor. Como é freqüente o número de profissionais com problemas vocais, a necessidade de aprofundar mais neste assunto foi determinante para escolha do tema. Muitas dúvidas são comuns durante os atendimentos a esses profissionais. Como um professor, que já apresentou um problema vocal, teria condições de melhorar , continuando a fazer uso constante da voz? Como conseguir com que eles melhorassem sem ter que se afastarem do cargo? Como conciliar carga horária, família, voz? Como evitar recidivas? Muitas dessas dúvidas continuaram sem resposta, ao mesmo tempo que outras foram esclarecidas. Existem variações anatômicas de indivíduo para indivíduo, o fator estresse está presente na maioria destes profissionais, mas a forma como cada um lida com ele é diferente, carga horária, motivação para o trabalho, família, grau de conscientização, entre outros, são variantes que interferem no resultado do tratamento. Pesquisando sobre a voz do professor, foram encontrados diversos estudos, incluindo projetos que foram desenvolvidos para fazerem parte do currículo dos cursos de formação desses profissionais. Um dos principais motivos que levou a pesquisar o tema foi, justamente, a desinformação que esses profissionais têm em relação ao uso 40 para que eles façam esse ou aquele exercício, sigam essa ou aquela recomendação sem vivenciar o que realmente acontece no dia-a-dia desses profissionais, sem ouvir suas queixas e dificuldades. Só através desta escuta, poderemos adequar a terapia à realidade de cada um, conseguindo obter resultados satisfatórios e desenvolvendo em cada paciente a conscientização sobre a necessidade dos constantes cuidados com a voz. “E vosso corpo é a harpa de vossa alma; A voz pertence tirar dele musica melodiosa ou ruídos dissonantes.” Gibran Khalil Gilbran 41 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AYDOS, B.R.S.; MOTTA, L.; TEIXEIRA, S.B. Eficácia da hidratação na redução de queixas vocais de professores. In: Jornal Brasileiro de Fonoaudiologia. Porto Alegre: Maio, v. 1, n. 2, 2000. BEAUTTENMULLER, G.; LAPORT, N. Expressão vocal e expressão corporal. Rio de Janeiro: Revinter, 1992. BEHLAU, M. Laringologia e voz hoje. Rio de Janeiro: Revinter, 1998. BOONE, D.R. Sua voz está traindo você; como encontrar sua voz natural. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. BOONE, D.R.; McFARLANE, S.C. A voz e a terapia vocal. 5.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. COLTON, R.H.; CASPER, J.K. Compreendendo os problemas de voz: uma perspectiva fisiológica ao diagnóstico e ao tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. FABRON, E.M.G.; OMOTE, S. Queixas vocais entre professores e outros profissionais. In: FERREIRA, L.P.: COSTA, H.O. Voz ativa: falando sobre o profissional da voz. São Paulo: Roca, 2000. FERREIRA, L.P.; COSTA, H. Voz ativa: falando sobre o profissional da voz. São Paulo: Roca, 2000. OLIVEIRA, I.B. e col. Distúrbios vocais em professores da pré-escola e primeiro grau. In: FERREIRA, L.P.; OLIVEIRA, I.B.; QUINTEIRO, E.A.; MORATO, E.M. Voz Profissional: o profissional da voz. 2.ed. Carapicuiba: Pró-Fono, 1998. OYARZÚN, R.; BRUNETTO, B.; MELLA, L.; AVILA, S. Disfonia em professores. Rev. Otorrinolaringol., 42(2): 12-18, 1984. 42 PINHO, S.M.R. Manual de higiene vocal para profissionais da voz. São Paulo: Pró-Fono, 1997. PINTO, A.M.P.; FURCK, M.A.E. Projeto saúde vocal do professor. In: FERREIRA, L.P. Trabalhando a voz. São Paulo: Summus, 1987. PLETSCH, F. Técnicas vocais, relaxamento e saúde vocal do professor. Dissertação de Mestrado. Curitiba: CEFAC, 1997. POLITO, R. Gestos e posturas. São Paulo: Saraiva, 1996. QUINTEIRO, E.A. Estética da voz. São Paulo: Summus, 1989. RODRIGUES, R.; AZEVEDO, S.; BEHLAU, M. Considerações sobre voz profissional falada. In: MARCHESAN, I.Q.; ZORZI, J.L.; GOMES, I.C.D. Tópicos em Fonoaudiologia. Vol. 3. São Paulo: Lovise, 1995. SEGRE, R.; NAIDCH, S.; JACKSON, C. Principios de foniatria para alunos y professionales de canto y dicción. Buenos Aires: Panamericana, 1981.
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