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Guias e Dicas
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Apolonio de Tiana, Notas de estudo de Bioquímica

Apolônio de Tiana

Tipologia: Notas de estudo

2012

Compartilhado em 20/09/2012

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Baixe Apolonio de Tiana e outras Notas de estudo em PDF para Bioquímica, somente na Docsity! SBoticiade das Ciências Antigas Vida e Obra de Apolônio de Tiana “Pitágoras disse que a mais divina arte é a de curar. E, se a arte de curar é a mais divina, deve ocupar-se com a alma tanto quanto com o corpo, pois nenhuma criatura pode ser saudável enquanto sua natureza superior estiver enferma.” Apolônio de Tiana Busto de Apolônio de Tiana, no museu de Nápoles, Itália Apolônio de Tiana foi o mais famoso filósofo do mundo greco-romano do primeiro século, e devotou a maior parte de sua longa vida à purificação dos muitos cultos do Império e à instrução dos ministros e sacerdotes de suas religiões. Com a exceção de Cristo, nenhum personagem mais interessante apareceu na cena da história ocidental nesses primeiros anos. São muitas, variadas e fregiientemente contraditórias, as opiniões sobre Apolônio. Além de seu ensino público, ele teve uma vida à parte, uma vida na qual nem mesmo seu discípulo favorito entrou. Ele viajou para as ntes, e perdeu-se para o mundo por anos inteiros. Entrava nos santuários dos sagrados e nos círculos internos das comunidades mais fechadas, e o que ele disse ou fez lá permaneceu um mistério. A origem e os primeiros anos Nascido em algum momento dos primeiros anos da era Cristã (provavelmente entre 1 e 10 d.C.) em Tiana na Capadócia, Turquia ou Ásia Menor como era conhecida na época, Apolônio de Tiana teve pais aristocratas, de antiga linhagem e fortuna considerável. Muito cedo deu mostras de uma memória prodigiosa e de uma grande disposição para os estudos, além de ser de uma beleza notável. Aos quatorze anos foi enviado a Tarso, um famoso centro de estudos da época, para completar sua instrução. Porém, seu temperamento sério não se acomodava ao estilo de vida das escolas e mudou- se para Egue, cidade no litoral de Tarso onde encontrou o ambiente adequado para mergulhar nos estudos da filosofia. Biografia - Apolônio de Tiana Sociedade dar Ciências Antigas 2 Planície de Tiana Freqiientava o templo de Esculápio, onde curas ainda eram realizadas, e desfrutou da sociedade e instrução de discípulos e instrutores das escolas de filosofia Platônica, Estóica, Peripatética e Epicurista. Mas, dentre todos esses sistemas de pensamento, foram as lições da escola Pitagórica que ele absorveu com uma extraordinária e profunda compreensão, mesmo que seu professor, Euxeno, não fosse um praticante da disciplina. Mas ouvir falar não era suficiente para Apolônio e, aos dezesseis anos ele iniciou-se na vida Pitagórica. Quando Euxeno perguntou-lhe como ele iniciaria seu novo modo de vida ele respondeu: “Como o doutor purga seus pacientes”. Daí em diante ele se recusava tocar qualquer coisa que tivesse tido vida animal, considerando que isso densifica a mente e a torna impura. Ele considerava que a única forma de alimentação pura era a produzida pela terra: frutas e vegetais. Também se abstinha do vinho, pois mesmo sendo feito de frutas, “tornava o éter túrbido na alma”, e “destruía a compostura da mente”. Andava descalço, deixou seu cabelo crescer livremente, e vestia-se somente com tecidos de linho. Agora vivia no templo, para a admiração dos sacerdotes e rapidamente se tornou tão famoso por seu ascetismo e vida pia, que uma frase dos cilícios sobre ele (“Para onde estão correndo? Apressam-se para ver o jovem?”) se tornou um provérbio. Quando tinha vinte anos seu pai morreu (sua mãe havia morrido alguns anos antes), deixando considerável fortuna, a ser dividida entre Apolônio e seu irmão mais velho, um jovem dissoluto de 23 anos. Como ainda era menor, Apolônio continuou a morar em Egue, mas chegando à maioridade voltou a Tiana para tentar salvar seu irmão de sua vida de vícios. Seu irmão aparentemente já tinha dissipado sua parte da herança e Apolônio imediatamente deu-lhe metade de sua própria parte e, com conselhos amorosos, devolveu-o ao mundo. Depois distribuiu o restante de seu patrimônio entre alguns parentes, mantendo para si apenas uma mínima parte. Nessa época fez um voto de silêncio por cinco anos, que foram passados na Panfília e na Cilícia. Mas, ainda que pa sse muito tempo em estudo, não se isolou do mundo, mas manteve-se em movimento e viajava de cidade em cidade. Nem mesmo a disciplina do silêncio o impedia de fazer o bem. Já ne: tenra idade ele havia começado a corrigir abusos e com os olhos, as mãos e movimentos da cabeça, fazia-se entender. Por Filóstrato, seu biógrafo, sabemos que Apolônio passou algum tempo entre os Árabes, e foi instruído por eles. Os locais que visitava ficavam fora das rotas, longe das populosas e agitadas cidades. Dizia que o tema de sua conversação requeria “homens, e não povo”. Ele passou o tempo viajando de um a outro desses templos, santuários e comunidades, o que nos leva a crer que havia entre eles algo em comum, da natureza de uma iniciação, que lhe franqueava as portas de sua hospitalidade. Mas onde quer que estivesse, sempre observava uma divisão regular do dia. Ao nascer do sol praticava certos exercícios religiosos sozinho, cuja natureza ele só transmitia a quem passasse pela disciplina dos “cinco anos” de silêncio. Então palestrava com os sacerdotes do templo ou com os Biografia - Apolônio de Tiana Boricdade das Ciências Antigas 5 amava passar seu tempo no templo, ele deve ter encontrado lá satisfação para suas necessidades espirituais e instrução na ciência interior. Em sua viagem à Índia Apolônio viu muitos magos na Babilônia. Ele costumava visitá-los ao meio- dia e à meia-noite, mas o que acontecia nesses encontros Damis não sabia, pois Apolônio não permitia que o acompanhasse, e ao responder à sua pergunta direta dizia somente: “Eles são sábios, mas não em todas as coisas A descrição de certo edifício a que Apolônio tinha acesso lembra o interior do templo. O telhado era em forma de cúpula, e o forro do teto era coberto de “safiras”. Nesse céu azul havia modelos dos corpos celestes, revestidos de ouro, como se se movessem no éter. Além disso, do teto estavam suspensos quatro “lygges” de ouro, que os magos chamavam de “Línguas dos Deuses”. Eram anéis ou esferas aladas relacionadas à idéia de “Adrasteia” (ou Destino). A respeito dessa visita aos sábios indianos não é possível concluir muito a partir da narrativa de Damis e de Filóstrato, porque o que Apolônio ouviu e viu lá não contou para ninguém, nem mesmo para Damis, exceto o que poderia derivar da enigmática sentença: “Vi homens morando na Terra e ainda assim sem estar nela, defesos de todos os lados, e mesmo assim sem defesa alguma, e possuindo nada exceto o que todos possuem”. Estas palavras ocorrem em duas passagens, e em ambas Filóstrato acrescenta que Apolônio as escreveu, o que demonstra que Filóstrato deparou-se com elas em algum escrito ou carta de Apolônio e, portanto, são independentes do relato de Damis. O sentido dessa frase não é difícil de adivinhar: eles estavam na Terra, mas não pertenciam a ela, pois suas mentes estavam estabelecidas nas coisas do alto. Eram protegidos pelos seus poderes espirituais inatos, dos quais temos tantos exemplos na literatura indiana e não possuíam nada exceto o que todos os homens possuiriam, se apenas desenvolvessem o lado espiritual de seus seres. Mas esta explicação não é suficientemente simples para Filóstrato, e então ele recorre a todas as memórias de Damis, ou antes, às lendas de viajantes, sobre levitação, ilusões mágicas e etc. A ênfase principal da narrativa de Damis recai no conhecimento psíquico e espiritual dos sábios. Eles sabem o que se passa à distância, podem revelar o passado e o futuro, e ler as vidas passadas dos homens. Sobre a natureza da visita de Apolônio, contudo, podemos julgar a partir da misteriosa carta a seus hospedeiros: “Eu vim a vós por terra e vós me destes o mar; não, antes, dividindo comigo vo: sabedoria vós me concedestes o poder de viajar pelos céus. Estas coisas eu trarei de volta à mente dos gregos, e conversarei convosco como se estivésseis presentes, se eu não tiver bebido da taça de Tântalo em vão”. É evidente que o “mar” e a “taça de Tântalo” são idênticos à “sabedoria” que foi concedida a Apolônio, a sabedoria que ele uma vez mais traria de volta à memória dos gregos. Ele assume, assim, claramente que voltava da Índia com uma missão específica e com os meios de levá-la a cabo, pois não apenas tinha bebido do oceano da sabedoria no qual aprendeu a Brahma-vidyâ 3 mas também aprendeu como conversar com eles estando seu corpo da Grécia e o deles na Índia. Ao retornar à Grécia, um dos primeiros santuários que Apolônio visitou foi o de Afrodite de Pafos, em Chipre. A maior peculiaridade exterior do culto pafiano da Vênus era a representação da deusa por um misterioso símbolo de pedra. Parece ter tido o tamanho de uma pessoa, mas com a forma de uma pinha com a superfície polida. Aparentemente Pafos era o mais antigo santuário dedicado a Venus na Grécia. Seus mistérios eram muito antigos, mas não autóctones, foram trazidos do continente, de onde depois se constituiu a Cilícia, em remota antigiiidade. O culto ou consulta à Deusa se fazia através de preces e da “pura labareda do fogo” e o templo era um grande centro ? BRAHMA-VIDYA: A ciência de Brahman; conhecimento de Brahman; estudo relativo ao Brahman ou a Realidade Absoluta. Biografia - Apolônio de Tiana Sociedade dar Ciências Antigas 6 divinatório. Apolônio passou algum tempo ali e instruiu os sacerdotes integralmente a respeito de seus ritos sagrados. Em primeiro plano, ruínas do Templo de Vênus, em Pafos Na Ásia Menor ele apreciava especialmente o templo de Esculápio em Pérgamo; curou muitos doentes lá, e deu instruções no método correto a adotar a fim de se obter resultados confiáveis através dos sonhos prescritivos. Em Tróia, Apolônio passou uma noite sozinho junto ao túmulo de Aquiles, um dos locais popularmente mais sagrados da Grécia. Não sabemos por que ele fez isso, pois a fantástica conversa com a sombra do herói contada por Filóstrato parece desprovida de todo elemento de milhança. Mas como Apolônio logo depois visitou a Tessália expressamente para incitar os tessálios a renovar os antigos ritos tradicionais ao herói, é de se supor que era parte de seu grande esforço para restaurar e purificar a antiga instituição da Hélade, para que, com os canais tradicionais liberados, a vida pudesse fluir melhor na nação. Também se cogita que Aquiles teria dito a Apolônio onde encontrar a estátua do herói Palámedes na costa da Eólia. Apolônio restaurou a estátua, e Filóstrato nos diz que a viu no local. Palámedes foi um dos heróis ante Tróia que a lenda diz ter sido o inventor das letras. Percebe-se que Apolônio via Palámedes como o herói-filósofo do período Troiano, ainda que Homero quase não o mencione. Apolônio restaurou os ritos a Aquiles, e ergueu uma capela na qual colocou a estátua desprezada de Palámedes. Também construiu um recinto em torno do túmulo de Leônidas nas Termópilas. Os heróis do período Troiano, pareceria, ainda guardavam uma relação com a Grécia, de acordo com a ciência do mundo invisível na qual Apolônio havia sido iniciado. Em Lesbos Apolônio visitou o antigo templo dos mistérios Órficos, que em dias antigos havia sido um grande centro de profecia e divinação. Ali também lhe foi dado o privilégio de entrar no santuário interno ou adytum. Chegou a Atenas na temporada dos Mistérios Eleusinos e, apesar dos festivais e ritos o povo e também os candidatos à iniciação foram ter com ele, negligenciando suas obrigações religios Apolônio censurou-os, e cumpriu os ritos preliminares necessários e apresentou-se para a iniciação, ele que já havia sido iniciado em privilégios maiores do que os de Elêusis. As razões para e: atitude não precisam ser procuradas: os Eleusinia constituíam uma das organizações intermediári: entre os cultos populares e os genuínos círculos internos de instrução. Eles preservavam uma das tradições do caminho interior, mesmo se seus oficiais naquela época houvessem esquecido o que seus predecessores conheciam. Para restaurar estes antigos ritos à sua pureza, ou para usá-los para seus fins originais, era necessário entrar nos recintos da instituição, pois nada poderia ser feito de fora. Apolônio desejava apoiar a instituição dando o exemplo público de procurar a iniciação ali. Biografia - Apolônio de Tiana Boricdade das Ciências Antigas 7 Mas, fosse o hierofante da época ignorante ou estivesse enciumado da grande influência de Apolônio, ele recusou-se a admiti-lo, baseado na alegação de que ele era um feiticeiro e que ninguém tão impuro poderia ser iniciado. Apolônio respondeu a acusação com ironia: “Vós omitistes a mais séria acusação que poderia ser lançada contra mim, isto é, que embora eu de fato conheça mais dos ritos místicos do que seu hierofante, eu vim aqui simulando desejar a iniciação de homens de maior sabedoria que eu”. Afetado pelas palavras e atemorizado diante da indignação do povo pelo insulto feito ao seu ilustre convidado e assombrado pela presença de um conhecimento que ele já não podia negar, o hierofante implorou para nosso filósofo aceitar a iniciação. Mas Apolônio recusou. “Eu serei iniciado mais tarde. Ele me iniciará”. Diz-se que se referia ao próximo hierofante, que presidia quando Apolônio foi iniciado, quatro anos mais tarde. Durante sua estada em Atenas, Apolônio falou asperamente contra a afeminação das Bacanálias e as barbaridades dos combates de gladiadores. Os templos, mencionados por Filóstrato, que Apolônio visitou na Grécia, têm a peculiaridade de serem muito antigos. Por exemplo, Dodona, Delfi, o antigo santuário de Apolo de Abe, na Fócida, as “grutas” de Anfiarau (um grande centro de divinação através de sonhos) e Trofônio, e o templo das Musas no Helicão. Quando entrava nos adyta desses templos com o intuito de restaurar os ritos, era acompanhado somente pelos sacerdotes, e certos discípulos imediatos. Isso sugere uma ampliação do significado do termo “restauração” ou “reforma”, e quando lemos em outras partes sobre os muitos locais consagrados por Apolônio, não podemos pensar senão que parte de sua obra era a re-consagração, e com isso a purificação psíquica de muitos destes centros antigos. Seu principal trabalho externo, contudo, foi instruir e, como Filóstrato diz, “taças de suas palavras foram colocadas em todas as partes para o sedento delas beber”. Ele não só restaurou os ritos antigos da religião como também prestou muita atenção às antigas constituições e instruções. Assim, o encontramos instando os espartanos a retornarem ao seu antigo modo de vida, a seus exercícios atléticos, sua vida frugal, e à disciplina da antiga tradição dórica. Acima de tudo, louvou especialmente a instituição dos Jogos Olímpicos, cujo elevado padrão ainda era mantido. Na primavera de 66 d.C., ele deixou a Grécia indo a Creta, onde parece ter passado a maior parte de seu tempo nos santuários do Monte Ida e no templo de Esculápio em Lêbene. Mas, curiosamente, recusou-se a visitar o famoso Labirinto em Cnossos, cujas ruínas haviam sido recém descobertas provavelmente porque uma vez foi centro de sacrifícios humanos. Em Roma Apolônio continuou seu trabalho de reformar os templos, mas sua permanência na cidade imperial foi bruscamente interrompida, pois em outubro Nero coroou sua perseguição dos filósofos publicando contra eles um decreto de banimento. A seguir o encontramos na Espanha, fazendo seu quartel-general no templo de Hércules em Cádiz. Retornando à Grécia via África e Sicília, onde visitou Etna, ele passou o inverno (talvez de 67 d.C.?) em Elêusis, vivendo no templo e na primavera do ano seguinte, embarcou para Alexandria, onde passou algum tempo, a caminho de Rodes. A cidade da filosofia e do ecletismo recebeu-o de braços abertos. Mas reformar os cultos públicos do Egito foi um trabalho muito mais difícil do que qualquer outro. Sua presença no templo de Serápis inspirou respeito universal, tudo sobre ele e cada palavra que pronunciava parecia emanar uma atmosfera de sabedoria e de “algo divino”. O sumo-sacerdote do templo perguntou com desdém: “Quem é sábio o suficiente para reformar a religião dos egípcios?” A resposta de Apolônio: “Qualquer sábio que venha da parte dos indianos”. Aqui, como em toda parte, Apolônio opôs-se ao sacrifício sangrento e tentou substituí-lo, como fizera noutros lugares, Biografia - Apolônio de Tiana Boricdade das Ciências Antigas 10 vossa em muitos pontos; um homem procurado pelos ricos, ainda que jamais tenha procurado riquezas; que amava a sabedoria e desprezava o ouro; um homem frugal em meio a festins, vestido de linho no meio dos purpurados, austero no meio da luxúria... Enfim, falando claramente, talvez nenhum historiador encontrará nos tempos antigos um filósofo cuja vida fosse igual à de Apolônio”. Assim vemos que mesmo entre os Padres da Igreja as opiniões se dividiam enquanto que entre os filósofos o louvor a Apolônio era ardente. Amiano Marcelino, amigo de Juliano, o Imperador filósofo, refere-se ao Tianeu como “aquele celebérrimo filósofo”, enquanto que uns poucos anos depois Eunápio, discípulo de Crisâncio, um dos professores de Juliano, escrevendo nos últimos anos do século IV, diz que Apolônio era mais que um filósofo, era “um meio-termo, por assim dizer, entre os deuses e os homens”, significando com isso presumivelmente alguém que tinha atingido o grau de ser superior ao homem, mas ainda não igual aos deuses. Não só Apolônio era um adepto da filosofia Pitagórica, mas “exemplificou plenamente o seu lado mais divino e prático”. Esta apreciação aparentemente exagerada talvez encontre uma explicação no fato de que Eunápio pertenceu a uma escola que conhecia a natureza das realizações atribuídas a Apolônio. Mesmo depois do declínio da filosofia encontramos Cassiodoro, que passou os últimos anos de sua longa vida em um mosteiro, falando de Apolônio como o “renomado filósofo”. Do mesmo modo entre os autores bizantinos, o monge George Syncellus, no século VIII, refere-se diversas vezes ao nosso filósofo, e não apenas despido de toda a crítica adversa, mas declarando que ele foi a primeira e mais notável de todas as eminências que surgiram no Império. Tzetzes, crítico e gramático, chama Apolônio de “todo-sábio e ante-conhecedor de todas as coisas”. Apolônio voltou à memória do mundo, depois do esquecimento na idade das trevas, sob maus auspícios. Desde o início a antiga controvérsia Hiérocles-Eusébio foi ressuscitada, e todo o assunto foi de uma vez retirado da calma região da filosofia e história e arremessado mais uma vez na tumultuosa arena do amargor e do preconceito religiosos. Durante muito tempo Aldus hesitou em publicar o texto de Filóstrato, e finalmente só o fez em 1501, com o texto de Eusébio como apêndice, para que, como ele piamente diz, “o antídoto possa acompanhar o veneno”. Junto apareceu uma tradução latina do florentino Rinucci. A tradução de Rinucci foi retificada por Beroaldus e impressa em Lion (15047), e novamente em Colônia em 1534. Bacon e Voltaire falam de Apolônio nos mais altos termos e mesmo um século antes de Voltaire, o deísta inglês Charles Blount. As notas de Blount, geralmente atribuídas a Lord Herbert, suscitaram tamanha gritaria que o livro foi condenado em 1693, e sobrevivem poucas cópias. As notas de Blount, entretanto, foram traduzidas para o francês um século mais tarde, nos dias do Enciclopedismo, e anexas a uma versão da Vita, — A Vida de Apolônio de Tíana, por Filóstrato, com os Comentários feitos em Inglês por Charles Blount sobre os Primeiros Livros desta Obra. Apolônio e os governantes do Império Apolônio não só vivificou e re-consagrou os antigos centros religiosos por algum motivo desconhecido para nós, e fez o que pôde para ajudar a vida religiosa do seu tempo em suas múltiplas formas, mas também tomou parte decisiva, embora indireta, na influência dos destinos do Império através de seus governantes supremos. Biografia - Apolônio de Tiana Sociedade dar Ciências Antigas u cê = atoa Moeda com a efígie de Apolônio Sua influência era invariavelmente de natureza moral e não política e era levada a cabo através de conversas e instrução filosóficas, pela palavra falada ou escrita. Do mesmo modo que Apolônio em suas viagens conversou sobre filosofia, e discursou sobre a vida de um homem sábio e sobre os deveres de um governante sábio com reis, governantes e magistrados, também tentou aconselhar para seu bem os imperadores que se dispunham a ouvi-lo. Vespasiano, Tito e Nerva eram, antes de sua elevação à púrpura, amigos e admiradores de Apolônio, enquanto que Nero e Domiciano olhavam o filósofo com temor. Durante a breve estada de Apolônio em Roma, em 66 d.C., mesmo que nem uma só palavra lhe houvesse escapado que pudesse ser transformada em um pronunciamento traidor pelos numerosos informantes, ainda assim foi levado perante Tigelino, o infame favorito de Nero, e submetido a um cerrado interrogatório. Aparentemente, até essa época, Apolônio estava trabalhando para o futuro, e tinha restringido sua atenção inteiramente à reforma da religião e à restauração das antigas instituições das nações, mas a tirânica conduta de Nero, que não deu paz nem mesmo ao mais inatacável dos filósofos, abriu completamente seus olhos para um mal mais imediato, que parecia ser nada menos que a ab-rogação da liberdade de consciência por uma tirania irresponsável. Daí em diante, portanto, encontramo-lo vivamente interessado nas pessoas dos imperadores seguintes. Na verdade, Damis, ainda que confesse sua inteira ignorância do propósito da viagem de Apolônio à Espanha depois de sua expulsão de Roma, presume que tenha sido para apoiar a iminente revolta contra Nero. Ele conjetura a partir de três dias de entrevistas secretas de Apolônio com o Governador da Província da Bética, que veio a Cádiz especialmente para vê-lo, e declara que as últimas palavras do visitante de Apolônio foram: “Adeus, e lembre-se de Vindex”. É verdade que quase imediatamente depois irrompeu a revolta de Vindex. Mas toda a vida e caráter de Apolônio são opostos a qualquer idéia de intriga política, ao contrário, ele bravamente contestou a tirania e a injustiça face a face. Ele se opunha à idéia de Eufrates, um filósofo de perfil muito diverso, que teria posto um fim na monarquia e restaurado a república, ele acreditava que o governo por um monarca era o melhor para o Império, mas desejava acima de tudo ver “o rebanho da humanidade” conduzido por “um pastor sábio e fiel”. De modo que embora Apolônio tenha apoiado Vespasiano enquanto ele tentou realizar dignamente seu ideal, imediatamente censurou-o pessoalmente quando ele privou as cidades gregas de seus privilégios. “Vós escravizastes a Grécia”, ele escreveu. “Vós reduzistes um povo livre à escravidão”. De qualquer maneira, a despeito de sua censura, Vespasiano, em sua última carta a seu filho Tito, confessou que eles eram o que eram exclusivamente por virtude do bom conselho de Apolônio. Da mesma forma ele viajou a Roma para encontrar Domiciano face a face, e mesmo que tenha sido posto em julgamento e todos os esforços tenham sido feitos para prová-lo culpado de complô traidor com Nerva, ele não pôde ser indiciado por nada de natureza política. Nerva era um bom Biografia - Apolônio de Tiana Boricdade das Ciências Antigas 12 homem, disse ao Imperador, e não um traidor. Não que Domiciano tivesse realmente alguma suspeita de que Apolônio estivesse pessoalmente intrigando contra ele. Foi colocado na prisão somente na esperança de que poderia induzir o filósofo a revelar as confidências de Nerva e outros homens eminentes que lhe eram objetos de suspeita, e que ele imaginava que tinham consultado Apolônio sobre suas chances de sucesso. Mas os negócios de Apolônio não eram com a política, mas com “os príncipes que lhe pediam conselho sobre a virtude”. Profeta e Taumaturgo Apolônio não foi somente um filósofo, no sentido de ser um especulador teórico ou de ser o seguidor de um modo de vida organizado, escolado na disciplina da renúncia. Ele foi também um filósofo no sentido Pitagórico original do termo, um conhecedor dos segredos da Natureza, e assim podia falar, como alguém que tinha autoridade. Ele conhecia o lado oculto das coisas da Natureza por experiência e não por ouvir dizer. Para ele a senda da filosofia era uma vida por onde o próprio homem se tornava um instrumento do conhecimento. A religião, para Apolônio, não era somente uma fé, era uma ciência. Para ele o espetáculo das coisas eram aparências sempre mutantes. Cultos e ritos, religiões e crenças, para ele eram todos um só, considerando o espírito correto que jazia por trás deles. O Tianeu não via diferenças de raça ou credo, essas estreitas limitações não eram para ele. Acima de todos os outros ele deve ter rido diante da palavra “milagre” aplicada aos seus feitos. A maioria dos registros de taumaturgia de Apolônio são casos de profecias ou previsão, de vi distância e visão do passado, de ver ou ouvir durante uma visão, de curar os casos de obs: possessão. Ainda jovem, no templo de Egue, Apolônio deu sinais da posse dos rudimentos desta percepção psíquica. Não só sentiu corretamente a natureza do passado sombrio de um rico, m: indigno suplicante que desejava a restauração de sua visão, mas previu, ainda que obscuramente, o mau fim de um que havia atentado contra sua inocência. Ao encontrar Damis, seu futuro fiel criado ofereceu seus serviços para a longa jornada à Índia considerando que conhecia as línguas dos diversos países por onde teriam que passar. “Mas eu entendo-os todos, mesmo que jamais tenha-lhes aprendido a língua”, respondeu Apolônio, em sua maneira enigmática usual, e acrescentou: “Não vos admireis que eu saiba as línguas dos homens, pois eu conheço até o que eles nunca dizem”. E com isso ele queria dizer simplesmente que podia ler os pensamentos das pe s, não que ele pudesse falar todas as línguas. Mas Damis e Filóstrato não podiam entender um fato tão simples da experiência psíquica e devem ter pensado que ele sabia não apenas as línguas de todos os homens, mas também as dos pássaros e feras. Em sua conversa com o monarca babilônio Vardan, Apolônio claramente reivindica presciência. Ele diz que é um médico da alma e pode livrar o rei das doenças da mente, não só porque sabia o que tinha de ser feito, isto é, a disciplina adequada ensinada nas escolas Pitagórica e similares, mas também porque ele antevia a natureza do rei. De fato nos dizem que o assunto da presciência, de cuja ciência Apolônio era um profundo estudioso, foi um dos principais tópicos discutidos por nosso filósofo e seus hóspedes indianos. Como Apolônio fala ao seu amigo filosófico e estudioso, o Cônsul romano Telesino, para ele a sabedoria era um tipo de divinização ou de tornar divina toda a natureza, uma espécie de estado de perpétua inspiração. E assim, sabemos que Apolônio era informado de todas as coisas desta natureza pela energia de sua natureza “daimônica”. Mas, para os estudantes das escolas Pitagórica e Platônica, o “daimon” de um homem era aquilo que podia ser chamado o Eu Superior, o lado espiritual da alma distinto do puramente humano. É a melhor parte do homem, e quando sua consciência física é unificada com o “morador do céu”, ele tem, de acordo com a filosofia mística mais elevada da antiga Grécia, enquanto ainda na Terra, os poderes daqueles seres incorpóreos intermediários entre os Deuses e os homens chamados “daimones”. Um estado ainda mais elevado, Biografia - Apolônio de Tiana Boricdade das Ciências Antigas 15 os passos da sabedoria, para resgatá-los e corrigi-los; em verdade, sou tão rigorosa com aqueles que escolhem meu caminho, que mesmo em suas línguas ponho um ferrolho. Agora ouve de mim quais coisas ganharás, se perseverares. Um senso inato de prontidão e de correção, e jamais sentir que o quinhão de outrem é melhor que o próprio; eliminar pelo medo os tiranos antes que ser um temeroso escravo da tirania; ter tuas pobres ofertas mais abençoadas pelos deuses do que aqueles que lhes apresentam o sangue dos touros. Se és puro, conceder-te-ei como saber as coisas que virão, e encherei tanto teus olhos de luz que poderás reconhecer os deuses, os heróis, e provar e dominar as formas sombrias que assumem a forma de homens”. Toda a vida de Apolônio demonstra que ele tentou seguir consistentemente esta regra de vida, e as repetidas declarações de que ele jamais se juntaria aos sacrifícios sangrentos dos cultos populares, mas os condenava abertamente, mostram não só que a escola Pitagórica tinha sempre dado o exemplo do modo mais elevado de sacrificar puramente, mas que eles não só não foram condenados e perseguidos como heréticos por causa disso, mas foram antes considerados como sendo de especial santidade, e como seguindo uma vida superior do que os mortais comuns. A restrição contra a carne de animais, entretanto, não estava baseada simplesmente em idéias de pureza, tinha uma sanção adicional no amor positivo para com os reinos inferiores e o horror de infligir sofrimento a qualquer criatura viva. Assim Apolônio asperamente recusou-se a tomar parte de uma caçada, quando convidado a fazê-lo por seu real hospedeiro na Babilônia. “Sire”, ele replicou, “esquecestes que mesmo quando sacrificardes não estarei presente? Muito menos então farei estas feras morrerem, e todo o resto quando seus espíritos forem quebrados e forem constrangidos contra sua natureza”. Mas embora Apolônio fosse um irredutível mestre de si mesmo, ele não desejava impor seu modo de vida sobre os outros, mesmo sobre seus amigos e companheiros pessoais. Assim ele diz a Damis que não deseja proibi-lo de comer carne e beber vinho, ele apenas reserva-se o direito de abster-se e de defender sua conduta se chamado a fazê-lo. Esta é uma indicação adicional de que Damis não era um membro do círculo interno da disciplina, e este último fato explica o porquê de um seguidor tão fiel da pessoa de Apolônio ainda estivesse na escuridão. E não só isso, mas Apolônio mesmo dissuade o Rajá Fraotes, seu primeiro hospedeiro na Índia, que desejava seguir sua observância estrita, de fazê-lo, porque isso o afastaria muito de seus súditos. Três vezes por dia Apolônio orava e meditava: ao alvorecer, ao meio-dia, e no ocaso. Isso parece ter sido seu costume invariável não importando onde ele estivesse. Parece ter devotado pelo menos uns poucos momentos para a meditação silenciosa nesses momentos. O objeto de seu culto é sempre dito ter sido o “Sol”, isto é, o Senhor de nosso mundo e seus mundos irmãos, cujo símbolo é o orbe do dia. Quando foi a julgamento, não fez preparação alguma para sua defesa. Ele tinha vivido sua vida como ela se apresentava cotidianamente, preparado para a morte, e assim continuaria. Acima de tudo agora era sua escolha deliberada desafiar a morte pela causa da filosofia. E diante das repetid: solicitações de seu velho amigo para que preparasse sua defesa, replicou: “Damis, pareces ter perdido teu entendimento diante da morte, ainda que tenhas estado tanto tempo comigo e eu tenha amado a filosofia desde mesmo minha juventude, imaginei que estarias tu mesmo preparado para a morte e igualmente conhecias bem meu generalato nisto. Pois como os guerreiros no campo de batalha necessitam não só de boa coragem, mas também daquele generalato que os avisa quando lutar, assim devem os que amam a sabedoria fazer um cuidadoso estudo das boas épocas de morrer, para que possam escolher a melhor e não encontrar a morte todos despreparados. Que eu escolhi e agarrei o momento que segundo a sabedoria era o melhor para a contenda mortal — isto é, se há alguém que deseje matar-me — eu provei a outros amigos quando estavas perto, tampouco cessei de ensinar-te isto em privado”. Biografia - Apolônio de Tiana Boricdade das Ciências Antigas 16 Sua pessoa, seus modos e seus discípulos Diz-se que Apolônio tinha uma bela aparência, mas além disso não temos nenhuma indicação muito precisa de sua pessoa. Seus modos eram sempre doces, gentis e modestos, e nisto, diz Damis, ele parecia mais um indiano do que um grego. Mas, ocasionalmente ele impreca, indignado contra alguma barbaridade especial. Seu temperamento era frequentemente pensativo, e quando não estava falando mergulhava em profundos pensamentos, durante o que seus olhos ficavam fixos no chão. Ainda que, como vimos, fosse ferrenhamente inflexível consigo mesmo, estava sempre pronto para desculpar os outros. Se, por um lado aplaudia a coragem dos poucos que permaneceram com ele em Roma, de outro recusou acusar de covardia os muitos que haviam fugido. Mas sua gentileza não era demonstrada simplesmente pela abstenção de acusar, ele era sempre ativo em atos positivos de compaixão. Uma de suas poucas peculiaridades era gostar de ser chamado de “Tianeu”, mas não é dito o porquê disto. Dificilmente pode ter sido porque Apolônio fosse particularmente orgulhoso de seu local de nascimento, pois mesmo que fosse um grande amante da Grécia, tanto que às vezes poderíamos chamá-lo de patriota entusiástico, seu amor pelos outros países era igualmente pronunciado. Apolônio era um cidadão do mundo, se jamais houve algum, em cuja linguagem a terra natal não influenciava, e um sacerdote da religião universal em cujo vocabulário a palavra seita não existia. A despeito de sua vida extremamente ascética, ele era um homem de compleição forte. Mesmo quando tinha alcançado os 80 anos, dizem, ele ainda era rijo e saudável em cada membro e órgão, aprumado e perfeitamente formado. Havia ainda um certo charme indefinível em torno dele que o fazia mais agradável de ver do que o próprio frescor da juventude, e mesmo que sua face estivesse coberta de rugas, como o representavam as estátuas no templo de Tiana no tempo de Filóstrato. De fato, diz seu retórico biógrafo, os relatos decantam mais o charme de Apolônio em sua idade provecta do que a beleza de Alcebíades em sua juventude. Em resumo, nosso filósofo parece ter tido a presença mais encantadora e a disposição mais amável. Sua absoluta devoção à filosofia não teve uma natureza eremítica, pois ele passou sua vida entre os homens. Não admira que tenha atraído tantos seguidores e discípulos. Teria sido interessante se Filóstrato nos tivesse dito mais sobre estes “Apolônicos”, como eram chamados e se formavam uma escola distinta, ou se reuniam em comunidades segundo o modelo Pitagórico, ou se eram simplesmente estudiosos independentes atraídos à personalidade dominante da época no campo da filosofia. Porém, é certo que muitos deles usavam a mesma roupagem que ele e seguiam o seu modo de vida. Também é feita repetida menção aos acompanhantes de Apolônio em suas viagens, às vezes até dez de uma vez, mas a nenhum deles permitia ensinarem até que houvessem cumprido o voto de silêncio. Os mais notáveis destes seguidores foram Musônio, que era considerado o maior filósofo da época depois do Tianeu, que foi a vítima especial da tirania de Nero, e Demétrio, “que amava Apolônio”. Esses nomes são bem conhecidos da história, outros nomes já desconhecidos são os do egípcio Dioscórides que, devido à má saúde, foi deixado para trás na longa viagem à Etiópia. Menipo, a quem livrara de uma obsessão. Fédimo e Nilo, que o seguiu deixando os Gimnosofistas e, é claro, Damis, que nos faz pensar que estava sempre com ele desde a época de seu encontro em Ninus. Seus ditos e sermões Apolônio acreditava na oração, que era muito diferente da oração vulgar. Para ele a idéia de que os deuses pudessem ser desviados da senda da estrita justiça pelas súplicas dos homens era uma blasfêmia. Que os deuses pudessem se tornar partidários de nossas esperanças e temores egoístas, para nosso filósofo era algo impensável. Só sabia de uma coisa: que os deuses eram os ministros do Biografia - Apolônio de Tiana Boricdade das Ciências Antigas 17 direito e os rígidos administradores do justo merecimento. A crença comum, que persiste até em nossos dias, de que Deus pode ser desviado de Seu propósito, de que pactos poderiam ser feitos com Ele ou Seus ministros, era inteiramente desprezível para Apolônio. Seres com quem pactos podiam ser feitos, que podiam ser influenciados e obrigados, não seriam deuses, mas menos que homens. Assim encontramos Apolônio, jovem, conversando com um dos sacerdotes de Esculápio nos seguintes termos: “Já que os Deuses conhecem todas as coisas, imagino que alguém que entre no templo com uma consciência correta em si rezaria assim: “Dai-me, oh deuses, o que me cabe!”” E assim também ele rezou, em sua longa jornada à Índia, na Babilônia: “Deus do Sol, envia-me sobre a Terra até onde for bom para Ti e para mim e que eu possa conhecer o bem, e jamais conhecer o mal ou ser conhecido por ele”. Uma de suas preces mais comuns era, segundo Damis, assim: “Concedei, oh Deuses, que eu tenha pouco e não precise de nada”. “Quando entrais nos templos, pelo que rezais?”, perguntou para nosso filósofo o Pontífice Máximo Telesino. “Eu rezo”, disse Apolônio, “para que a retidão possa imperar, para que as leis permaneçam intactas, para que o sábio seja pobre e os outros, ricos, mas honestamente”. A fé de nosso filósofo no grande ideal de nada ter e ainda assim possuir todas as coisas é exemplificada em sua réplica ao oficial que demandava como ele pretendia entrar nos domínios da Babilônia sem permissão. “Toda a Terra”, disse Apolônio, “é minha, e me é dado que eu a percorra”. Há muitos exemplos de dinheiro sendo oferecido a Apolônio por seus serviços, mas ele invariavelmente recusava e não só isso, mas seus seguidores também recusavam todos os presentes. Quando o Rei Vardan, com verdadeira generosidade oriental, ofereceu-lhe presentes, foram devolvidos e Apolônio disse: “Vêde, minhas mãos, ainda que muitas, são todas parecidas”. E quando o rei perguntou a Apolônio qual presente lhe traria para da Índia, nosso filósofo replicou: “Um presente que vos agradará, Sire. Pois se minha estada lá me tornar mais sábio, voltarei a vós melhor do que sou agora”. Um exemplo de como Apolônio transformava acontecimentos casuais em boas ilustrações é o seguinte: Certa vez em Éfeso, em uma das estradas pavimentadas perto da cidade, ele estava falando sobre dividirmos nossos bens com os outros, e como deveríamos naturalmente ajudar uns aos outros. Um grupo de pardais estava pousado numa árvore próxima em perfeito silêncio. Subitamente um outro pardal chegou voando e começou a chilrear, como se quisesse dizer aos outros qualquer coisa. Imediatamente todo o bando começou a pipilar também, e voaram todos atrás do recém-chegado. A supersticiosa audiência de Apolônio ficou muito impressionada pelo comportamento dos pardais, e viu nisso um augúrio de alguma coisa importante. Mas o filósofo continuou seu sermão. O pardal, disse ele, convidou seus amigos para um banquete. Um garoto escorregou em um campo próximo e esparramou-se algum grão que ele carregava em uma bolsa; ele recolheu a maior parte e foi-se embora. O pequeno pardal, calhando de encontrar os grãos que sobraram, imediatamente voou para convidar seus amigos para o festim. Então a maior parte da audiência correu para ver se era verdade, e quando voltaram todos gritando e gesticulando maravilhados, o filósofo continuou: “Vêde que cuidado os pardais têm uns para com os outros, e quão felizes ficam em compartilhar seus bens. Mas nós homens não o aprovamos antes, se vemos um homem dividindo seus bens com outros homens, chamamo-lo de esbanjador, extravagante, e de outros nomes, e acusamos os homens que recebem a partilha de serem aduladores e parasitas. O que nos resta então senão encerrarmo-nos em casa como aves de engorda, e empanturrarmos nossos estômagos na escuridão até que rebentemos de gordura”
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