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Escola Estadual de Educação Profissional - EEEP Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Curso Técnico em Comércio Gestão de Comércio I Economia e Mercado Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Sumário UNIDADE 1 – Conceitos fundamentais da Economia Conceitos fundamentais da Economia......................................................................................................02 Resumo.........................................................................................................06 Atividade de aprendizagem...............................................................................................06 UNIDADE 2 – Valor Valor..............................................................................................................07 Resumo.........................................................................................................14 Atividade de aprendizagem...............................................................................................14 UNIDADE 3 – Mensuração da atividade econômica O sistema econômico.....................................................................................................15 Resumo..........................................................................................................34 Atividade de aprendizagem................................................................................................34 Material Complementar Conceitos de Economia.......................................................................................................35 Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 1 Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 1 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Conceitos fundamentais da Economia Nos dias de hoje, quando andamos pela cidade, percebemos um grande movimento no comércio. Cente- nas de pessoas enchem as lojas, despertando um contentamento enorme nos vendedores. Os compradores estão contentes, pois as lojas oferecem uma infinidade de produtos, desde roupas de todos os tipos até equipamentos eletrônicos mais sofisticados, de modo a satisfazer a todos os gostos. Veja que essa variedade de bens satisfaz a vontade do consumidor mais exigente e mais rico ao menos exigente e com menor poder de compra. O importante é que são milhões de produtos que milhares de pessoas podem comprar e compram todos os dias. Essa cena pode ser vista em qualquer cidade do Brasil e do mundo. É bom lembrar que a disciplina Economia, que ora estamos iniciando, se interessa, em grande medida, por essas coisas ditas comuns. No Século XIX, Alfred Marshall disse que a Economia procura estudar os negócios comuns da vida da humanidade. Por negócios comuns, podemos entender as cenas comuns da vida econômica. Hoje, a Eco- nomia continua estudando e tentando entender como esses negócios comuns funcionam: como funciona nosso sistema econômico? Para saber mais *Alfred Marshall – (1842–1924) – foi um dos mais influentes economistas de seu tempo. Seu livro Princípios de Economia (Principles of Economics, disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Marshall-_note- PRINCIPLES#_note-PRINCIPLES) procurou reunir num todo coerente as teorias da oferta e da demanda, da utili- dade marginal e dos custos de produção, tornando-se o manual de Economia mais adotado na Inglaterra por um longo período. O método analítico-matemático de Marshall foi uma de suas maiores contribuições para a moderna Ciência Econômica. Fonte: Wikipédia (2007). Quando e por que o sistema econômico entra em crise, ocasionando mudanças de comportamento das pessoas e empresas? Etimologicamente, a palavra “economia” vem dos termos gregos oikos (casa) e nomos (norma, lei), e pode ser compreendida como “administração da casa”. Note-se que administrar uma casa é algo bastante comum na vida das pessoas. Portanto, essa aproximação de que as casas e as economias têm muita coisa em comum é muito utilizada. Em síntese, pode-se dizer que a Economia estuda a maneira como se administram os recursos escassos com o objetivo de produzir bens e serviços, e como distribuí-los para seu consumo entre os membros da sociedade. Pense como uma família toma decisões no seu dia-a-dia: quais tarefas cada membro deverá desempenhar, e o que cada um deles vai receber em troca? Quem vai preparar o almoço e o jantar? Quem vai lavar e passar? Qual aparelho de televisão vai ser comprado? Qual carro vai ser adquirido? Onde passar as férias de final de ano? Quem vai? Onde vai ficar? Segundo Mankiw (2005, p. 3), “[...] cada família precisa alocar seus recursos* escassos a seus diversos membros, levando em consideração as habilidades, esforços e desejos de cada um”. Veja que os recursos produtivos, também denominados fatores de produção, são os elementos utilizados no processo de fabricação dos mais variados tipos de bens (mercadorias) e utilizados para satisfazer as ne- cessidades humanas. O que é uma necessidade humana? Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 2 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Entende-se por esta a sensação de que falta alguma coisa unida ao desejo de satisfazê-la. Acreditamos que todas as pessoas sentem necessidade de adquirir alguma coisa, sentem desejo tanto por alimentos, água e ar, quanto por bens de consumo* como televisão, computador, geladeira, etc. Da mesma forma que uma família precisa tomar muitas decisões, uma sociedade também precisa fazer o mesmo. Precisa claramente definir o que produzir, para quem produzir, quando produzir e quanto produ- zir. Em linhas gerais, a sociedade precisa gerenciar bem seus recursos, principalmente se considerarmos que estes, de maneira geral, são escassos. GLOSSÁRIO *Recurso – insumo ou fator de produção, um material que seja necessário em uma construção ou em um processo de produção. Fonte: Wikipédia. *Bens de consumo – bem comprado para satisfazer desejos e necessidades pessoais, tais como: sabonete, refrigerante, pasta e escova de dentes, pente, sorvete, camisa, lápis, sapato e outros. Nem sem- pre o consumidor é aquele que compra o bem, mas sim aquele que o usa. Fonte: Lacombe (2004) Tradeoffs: em Economia, esse termo significa uma situação de escolha conflitante. Exemplos: redução da taxa de desemprego com aumento da taxa de inflação. Mais recursos para a saúde podem significar menos para educação. Talvez o maior tradeoffs que a sociedade brasileira enfrenta nos dias de hoje seja entre eficiência e eqüidade. Assim como uma família não pode ter todos os bens que deseja, ou seja, dar aos seus membros todos os produtos e serviços que desejam, uma sociedade também não pode fazer o mesmo. A razão para que isso aconteça está na escassez. Escassez significa que os recursos são limitados em termos de quantidade dis- ponível para uso imediato. Portanto, escassez significa também que a sociedade não tem todos os recursos que gostaria de ter para produzir todos os bens e serviços para oferecer a todos os seus membros. A Economia, assim, tem sido entendida como o estudo de como a sociedade administra seus recursos escassos, embora haja quem dis- corde disto. Ainda que possamos estudar Economia de muitas maneiras, existem algumas idéias que se tornam centrais nesta disciplina. Essas idéias são consideradas como princípios básicos de Economia por parte de alguns economistas. Portanto, para poder compreender Economia, é bom saber mais sobre quais são esses princípios e o que significa cada um. Segundo Mankiw (2005), não há nada de misterioso sobre o que é uma economia. Em qualquer parte do mundo, uma economia é um grupo de pessoas que estão in- teragindo umas com as outras e, dessa forma, vão levando a vida. Diante disso, podemos imaginar que a primeira coisa que precisamos entender quando se quer compreender uma economia é saber como são to- madas as decisões dessas pessoas. Portanto, cabe questionar: como as pessoas tomam decisões? Quatro princípios norteiam essa primeira questão: primeiro: as pessoas precisam fazer escolhas, e essas escolhas não são de graça. Elas precisam ser feitas tendo em vista que os recursos são escassos. Não é possível atender a todas as necessidades de maneira ilimitada. Portanto, a sociedade precisa fazer suas escolhas, assim como os indivíduos no seu dia-a-dia; Os economistas usam o termo mudanças marginais para explicar os pequenos ajustes incrementais a uma ação existente. segundo: o custo real de alguma coisa é o que o indivíduo deve despender para adquiri-lo, ou seja, o custo de um produto ou serviço é aquilo do que tivermos de desistir para consegui-lo; terceiro: as pessoas são consideradas racionais e, por isso, elas pensam nos pequenos ajustes incrementais de todas as suas deci- sões. Isto significa que as pessoas e empresas podem melhorar seu processo de decisão pensando na mar- gem. Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 3 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional sos fatores de produção, tais como: trabalho, terra, capital e capacidade empresarial. Recebem em troca, como pagamento, salários, aluguéis, juros e lucros, e é com essa renda que compram os bens e serviços produzidos pelas empresas. O que sempre as famílias buscam é a maximização da satisfação de suas ne- cessidades; e governo (nas três esferas): inclui todas as organizações que, direta ou indiretamente, estão sob o controle do Estado, nas suas esferas federais, estaduais ou municipais. Vez por outra, o governo atua no sistema econômico, produzindo bens e serviços, através, por exemplo, da Petrobrás, das Empresas de Correios, etc. Saiba mais... Sobre o sistema capitalista em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_capitalistaSobre o socialismo em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Socialismo RESUMO A compreensão do nosso sistema econômico e o sentido de economia como “administração da casa” de- ram o tom desta Unidade. Além disso, os princípios que norteiam as decisões e os agentes econômicos en- carregados do funcionamento da organização econômica foram objeto de reflexão e aprendizagem. Atividades de aprendizagem 1. Liste e explique sucintamente os quatro princípios da tomada de decisão. Depois, observe as reais si- tuações de seu cotidiano e veja se são aplicados a elas os quatro princípios. 2. Propomos que você verifique como anda o comércio na sua região. Há muitas especialidades? Como isso impacta, ou seja, como isto reflete na economia, e no ritmo de desenvolvimento da sua cidade e regi- ão? 3. Após ter lido sobre produtividade, como você poderia explicar por que o comércio entre países pode melhorar a vida das pessoas? 4. Explique como você entende o ditado dos economistas que diz que “não existe almoço grátis”. 5. Liste os bens e serviços livres e econômicos existentes no seu município. O que você achou dessa lista? 6. Liste os principais bens de capital e de consumo existentes no seu município. 7. Os bens públicos foram considerados como não disputáveis e não exclusivos. Explique cada um desses termos e mostre de que maneira o bem público é diferente de um bem privado. 8. Como você poderia associar a presença de bens de consumo e de capital disponíveis no seu município com o ritmo de desenvolvimento observado nos últimos anos na região? Quais as suas sugestões para me- lhorar esse quadro? Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 6 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional 2 Valor A discussão do valor é um dos temas de maior relevância na Economia. No entanto, os manuais de Economia dificilmente trazem uma unidade especial destinada a debater a sua origem, estruturação e desenvolvimento, e quando trazem, quase sempre o fazem de forma muito pouco crítica, ampliada e desatrelada da formação sistêmica vigente. Para abordarmos o valor, inicialmente, procuraremos apresentar as concepções desenvolvidas sobre como se formam os preços das mercadorias*, melhor dizendo, o que faz com que os produtos tenham preços. E, também, por que estamos dispostos a pagar um determinado preço por um produto quando poderíamos pagar um outro preço muito menor por ele. Na formação dos valores, os preços organizam-se de forma re- lativa. GLOSSÁRIO *Mercadoria – qualquer produto ou serviço produzido para venda ou troca por outra coisa num sistema de mercado. Fonte: Lacombe (2004). Diversos computadores da marca X equivalem a um carro da marca Y. Na realidade, os preços relativos das mercadorias acabam alertando os consumidores, que obedecem à renda disponível, tendo, por isso, restrição orçamentária, em uma economia na qual os salários e os juros também são preços. Recordemos a situação dos juros exorbitantes que pagamos para adquirir uma determinada mercadoria a prazo na econo- mia brasileira. Esses juros, no fundo, agem como barreira para frear o consumo e, portanto, adquirem a forma de preços. As escolas do pensamento econômico desenvolveram inúmeros estudos com a intenção de entender o valor. Inicialmente, gostaríamos que você ficasse com a idéia de que o valor se refere ao preço de uma determinada mercadoria em relação a uma outra. Se, por exemplo, um carro custa R$ 30.000,00, e um computador, R$ 3.000,00, podemos com certeza afirmar que um carro equivale a dez computadores. Mas, então, o que pretende explicar a Teoria do Valor? No nosso entendimento, a Teoria do Valor possibilita a compreensão do motivo que leva um carro a custar o equivalente a dez computadores, e não o equivalente a cinco, ou mesmo a um, e facilita a troca no mer- cado, tendo em vista que os produtos, na sua maior parte, são produzidos para serem comercializados (va- lor-de-troca). Na Economia, entender os preços relativos auxilia e muito a compreensão da apropriação da renda e da situação entre economias desenvolvidas e em processo de desenvolvimento. Com o estudo cen- trado na Economia Política, visualiza-se melhor a situação do trabalho, da acumulação do capital, do lu- cro, da distribuição da riqueza, da industrialização, do setor agroindustrial, do comércio, das famílias, do governo, etc. Embora o propósito desta Unidade não seja a de estudar Economia Política, muitos dos fo- cos terão o uso das suas ferramentas para melhor ilustrar as mais variadas situações. Em quantas teorias se divide a Teoria do Valor? A Teoria do Valor divide-se em duas teorias: Teoria do Valor-Trabalho: explica a formação do valor de uma mercadoria pela quantidade de trabalho inserida no seu processo de produção e enfoca os custos presentes; e Teoria do Valor-Utilidade: explica a produção e o consumo pela capacidade de satisfação que provoca em ambos. Na Teoria do Valor-Utilidade, o ponto de equilíbrio nos mostra o lugar onde tanto produtores quanto consumidores se encontram satisfeitos. Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 7 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Note que o termo “mercadoria” tem uma conotação provocativa e não esconde o objetivo da conquista do maior lucro possível. As leis de produção, reprodução e distribuição das mercadorias na Economia Políti- ca auxiliam-nos no entendimento mais profundo da sua engrenagem. É significativo frisar que nem toda mercadoria produzida vai para o mercado, e quando uma mercadoria é útil, mas não é comercializada no mercado, dizemos que ela possui apenas valor-de-uso. Uma mercadoria somente possui valor-de-troca quando entra no mercado para ser comercializada. Portanto, uma mercadoria com valor-de-troca contém diferentes valores-de-uso, sendo medida por um parâmetro comum que é o trabalho. Assim, independente da posição ideológica assumida, é necessário que você conheça a Teoria do Valor- Trabalho e a Teoria do Valor-Utilidade para poder compreender o funcionamento orgânico do sistema econômico na sua plenitude. São as características dos mercados que nos fornecem os detalhes de como os preços acabam sendo formados. Entender a relação de funcionamento entre preços e custos ajuda-nos na compreensão da formação do lucro e no entendimento das crises, que são dificuldades originadas em função do decréscimo da taxa de lucro nas economias. Sem a pretensão de esgotar o assunto, que merece um estudo mais aprofundado, cabe observar que a crise pode se estabelecer pela superprodução ou pela estagnação. Quando ocorre superprodução, os produtos acabam sobrando nas prateleiras, pois a renda existente no mercado não consegue absorver tão rapida- mente o aumento da produtividade trazido pela tecnologia, e quando ocorre estagnação, o mercado já utilizou toda a capacidade instalada e não tem condições de atender à crescente demanda do mercado. As principais contribuições para a fundamentação da Teoria do Valor O uso da Teoria do Valor se alterou ao longo do desenvolvimento da Economia, assumindo as feições de cada época, sem deixar, entretanto, de adquirir uma compreensão cada vez mais aprofundada da questão. No período medieval, por exemplo, o valor era estático, e o preço vinculava-se ao que a moral considera- va justo. Apenas quando o mercado se ampliou, no mercantilismo, é que o preço justo passou a coincidir com o preço do mercado competitivo e acabou sendo considerado moralmente correto, com o aval da Igreja. O lucro nessas transações começou a ser aceito e considerado normal. Mesmo antes do surgimento da Escola Clássica, havia indícios de a questão do valor estar relacionada à renda e ao lucro. No entanto, naquela época, lucros exorbitantes, como referido anteriormente, não eram aceitos. Como a explicação adquiriu um rumo mais coeso? Apesar dessas reflexões sobre valor, foi com Adam Smith (1981) que a explicação adquiriu um rumo mais coeso em direção à inserção do trabalho na fundamentação, afastando-se um pouco da concepção de utili- dade e escassez, sem, no fundo, negá-la. Concebia-se e ainda permanece sendo muito aceita a questão do valor ligada à escassez dos produtos, que tem hoje no diamante a sua melhor explicação. A água, que era considerada um produto abundante, nos dias atuais, devido à degradação ambiental, começou a se tornar escassa e tende, em breve, a se tornar um produto dos mais procurados, inclusive mais até que o diamante, pois se trata de produto essencial, e não supérfluo. Entretanto, com relação ao que postula Smith, é prudente observar que a Teoria do Valor formulada pelo estudioso da Economia Clássica se respalda na Teoria da Mão Invisível. Você já ouviu falar na Teoria da Mão Invisível? Segundo esta teoria, o próprio mercado seria o maior encarregado pelo permanente restabelecimento do equilíbrio, ajustando a demanda e a oferta num ponto ótimo, tido como preço natural (ponto de satisfação dos demandantes e dos ofertantes aptos e dispostos a participar). Num mercado de competição perfeita, explicava Adam Smith, quando a demanda excedia à oferta, a com- petição entre os demandantes se acirrava (situação decorrente de guerras, calamidades, etc.), e, quando a oferta excedia à demanda, a competição entre os ofertantes é que se acirrava (desenvolvimento tecnológi- co, produção ampliada, etc.). Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 8 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional dos conflitos entre produtores e trabalhadores, levantados anteriormente pelos estudiosos do socialismo utópico. Na Teoria do Valor-Trabalho, Marx construiu a Teoria da Mais-Valia e recompôs o modo como os lucros se formavam numa sociedade formada por produtores e trabalhadores, para demonstrar detalha- damente os conflitos existentes entre capital e trabalho. Na concepção de Marx, era através do trabalho in- corporado na mercadoria que a medida do valor se instituía, ou seja, em qualquer produto produzido, o trabalho incorporado é que criava valor. A força de trabalho, num mercado como o que foi analisado por Marx, também se transforma em merca- doria e passa a ser vendida por um valor que cobre apenas a sua subsistência. Na análise de Marx, a diferença entre o trabalho realizado e o que era pago ao trabalhador é o que ficou conhecido como mais- valia* e que explicaremos mais à frente, através do esquema de reprodução do capital. Na Teoria Marxista, o valor encontra-se presente na produção, na distribuição e na troca. O conceito de exército industrial de reserva, criado por Marx, destacava que os trabalhadores que ficavam de fora do sis- tema acabavam fazendo com que os salários permanecessem baixos, pois a qualquer hora, caso alguns tra- balhadores se sentissem insatisfeitos, poderiam ser substituídos por outros novos trabalhadores a perder de vista. GLOSSÁRIO *Mais-valia – é o nome dado por Karl Marx à diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, que seria a base da exploração no sistema capitalista. Fonte: Wikipédia (2007). Marx explicou detalhadamente a relação entre o capital e a produção, ressaltando os custos. Ele qualificou de trabalho direto aquele despendido diretamente pelo trabalhador para produzir uma determinada merca- doria e o denominou de capital variável (v). Com relação às máquinas e aos instrumentos utilizados na produção, denominou de capital constante (c), e o lucro, a parte que fica com o produtor, e que é apropria- da do trabalho realizado, de mais-valia (m). Na concepção marxista, o valor-de-troca pode ser traduzido em c+v+m, e o valor refere-se aos trabalhos direto e indireto, socialmente utilizado na produção, enquan- to a moeda faz a equivalência dos valores, e a mercadoria traduz a equivalência relativa. Um carro de uma determinada marca, referido inicialmente, que custa R$ 30.000,00, refere-se ao Valor Relativo, e a moeda, ao Valor Geral. Deduzimos, então, a partir da fundamentação marxista, que o valor exerce influência de- terminante sobre o preço. Prosseguindo com Marx, para o entendimento da formação orgânica do nosso sistema de produção, basta dividir o capital constante pelo capital variável, que se encontra a composição orgânica do capital. Já a taxa de lucro (L), para ele, descreve a relação entre a maisvalia (m) e a compra de máquinas e maté- rias-primas (v): L= m/c+v. A lei de tendência ao decréscimo da taxa de lucro, que explica o funcionamento contraditório do processo de produção, ora em crise pela superprodução, ora pela estagnação, buscou mostrar o funcionamento do capital diante da tendência ilimitada do desenvolvimento das suas forças produtivas, aqui entendidas como meio de produção e força de trabalho utilizados para produzir mercadorias. No esquema desenvolvido, o capital-dinheiro acumulado, ao invés de dirigir-se diretamente para o setor comercial, passa a ser aplicado na esfera da produção. Então, o esquema simples de produção: Dinheiro – Mercadoria – Dinheiro’ passou a ocorrer da seguinte forma: Dinheiro – Mercadoria (Matéria-Prima e Força de Trabalho) – Produção – Dinheiro’ O esquema apresentado demonstra que o produtor pega o seu dinheiro e o transforma em capital, com- prando máquinas, matérias primas e força de trabalho para produzir mercadorias, vendidas por um preço mais elevado em relação ao dinheiro inicial. Logo, a diferença entre D’ e D é o que passou a ser chamado de mais-valia e tem origem no processo de produção. Embora haja muito mais para falar de Marx, acreditamos ter abordado o essencial e esperamos ter despertado em você a satisfação de conhecer ainda mais o sistema por dentro. Como ficou a Teoria Neoclássica com relação à Teoria do Valor? Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 11 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional A Teoria Neoclássica, na tentativa de auxiliar o desenvolvimento da economia e sem pretensões de cons- truir uma Teoria do Valor, se contrapôs ao estudo de Ricardo e apresentou a formulação que ficou conhe- cida como marginalista, dependendo o valor de um determinado produto, não tanto da quantidade de tra- balho nele introduzida, mas da sua utilidade. Nesse contexto, houve estudos que, embora fossem margina- listas, não descartavam por completo o trabalho incorporado, levando em conta os dois fatores. Quem se destacou nesta parte foi Alfred Marshall, ao observar que a oferta e a demanda entravam na dis- cussão de forma interdependente, ou seja, a demanda amparada na concepção da utilidade marginal* e a produção amparada na concepção da produtividade marginal. GLOSSÁRIO *Utilidade marginal – utilidade ou grau de satisfação proporcionada pela última unidade obtida pelo pos- suidor de determinado tipo de bem. Fonte: Lacombe (2004) Embora a análise de Marshall tenha sido a do equilíbrio parcial em contraposição à de Walras, que buscou o equilíbrio geral, sua concepção levou em conta o tempo e, com isso, possibilitou uma situação mais apropriada para a construção do preço, por estar mais próxima da realidade. Era o começo da análise mi- croeconômica, que dava as suas fortes contribuições, em contraposição à análise macroeconômica dos clássicos. Foi o período em que o comportamento tanto dos consumidores quanto dos produtores passou a ser analisado a partir das análises de custo marginal e da utilidade. A Microeconomia estuda o comportamento econômico individual de consumidores, firmas e indústrias, bem como a distribuição da produção e do rendimento (renda) entre eles. Os consumidores são considera- dos como fornecedores de trabalho e capital, e demandantes de produtos finais. As firmas são considera- das demandantes de trabalhos e fornecedoras de produtos finais ou intermediários (a serem usados por ou- tras firmas ou agentes produtores). Com todo esse aparato que levava em conta as mais diversas situações, Marshall construiu uma Teoria da Distribuição, segundo a qual a distribuição de renda ocorreria por conta do próprio mercado de concorrên- cia. Cabe ressaltar que os neoclássicos se recusaram a enfrentar o problema do valor por dentro, no intuito de investigar mais profundamente as causas determinantes das situações em andamento, e acreditaram ser a economia uma área que se movimentava de forma bastante independente. Contudo, alguns estudiosos, seguidores de Marshall, desenvolveram novas teorias, levando em conta as imperfeições do mercado, como Pigou e Joan Robinson, em busca da formulação de uma Teoria do Bem-Estar. Sem dúvida, Mar- shall, na Teoria Neoclássica, teve os seus méritos e muito contribuiu para o entendimento da realidade dos empresários e dos consumidores, apesar de não ter se constituído numa teoria do valor. *Joan Violet Robinson (1903–1983)– professora na Inglaterra, lugar onde nasceu e veio a falecer. Pertenceu à fa- mosa tertúlia dos keynesianos, o Circus de Cambridge. A denominada “Revolução Keynesiana” pode também ser considerada como obra sua, não só pela sua participação nas discussões do Tratado da Moeda de Keynes, mas igualmente pelos seus livros Ensaios sobre a Teoria do Emprego e Introdução à Teoria do Emprego. Fonte: Wikipé- dia (2007). Uma conversa resumida bem ao pé do ouvido A Teoria do Valor-Trabalho mostra todos os custos no processo de produção de uma determinada merca- doria. Levanta desde as matérias- primas, as instalações, as máquinas (capital constante) e a força de tra- balho (capital variável) empregada na produção de uma determinada mercadoria. Como todos se utilizam do trabalho, este passa a ser o componente principal para a formulação do valor. O tempo do trabalho so- cialmente empregado para produzir alguma mercadoria acaba sendo levado em conta. Portanto, é do tra- balho despendido que se origina o valor da mercadoria. Logo, a Teoria do Valor-Trabalho explica a forma- ção do trabalho social na Economia e permite compreender o funcionamento da economia no mundo (em termos macroeconômicos). Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 12 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional A Teoria do Valor-Utilidade procura explicar a formação do valor a partir da utilidade. Quando desejamos ou necessitamos muito comprar algum produto, normalmente estamos dispostos a pagar o preço que nos pedem, não nos importando com o valor a ser gasto. Realizada a satisfação, um segundo produto não terá mais a mesma importância, bem como um terceiro, um quarto, etc. Logo, segundo a Teoria do Valor-Utili- dade, os produtos dependem muito da satisfação, e a curva que representa a situação descrita tem, por isso, um formato decrescente. O grau maior de satisfação na Teoria da Utilidade se dá no ponto de inter- secção entre a curva da oferta e a curva da demanda, e ficou conhecido como ponto de equilíbrio. A curva de indiferença* é que traz a representação gráfica das opções de cestas para o consumo indiferente do consumidor (mesma satisfação). Na realidade, através da curva de indiferença, os consumidores demons- tram a sua opção num determinado momento, respeitando a satisfação. É um debate dos mais interessan- tes, pelo fato de entrar no mundo subjetivo e objetivo (restrição orçamentária) do consumidor. GLOSSÁRIO *Curva de indiferença – linha num gráfico cartesiano mostrando os pontos que representam igual satisfa- ção do consumidor em relação às quantidades consumidas de dois bens diferentes. Fonte: Lacombe (2004). A Teoria do Valor-Utilidade está repleta de imperfeições, pois as empresas mais fortes interferem no mer- cado, e as decisões dos compradores nem sempre são tão soberanas, uma vez que acabam sofrendo a in- terferência da propaganda. Nem a presença do governo nem a interferência de empresas são requisitadas. É o liberalismo em plena ação, buscando atender satisfatoriamente tanto os produtores quanto os consu- midores. Portanto, das Teorias do Valor, se você nos perguntasse qual delas recomendaríamos, sem titubear, diría- mos para ter atenção para com as duas formulações. Desde Adam Smith, a Economia vem lutando em busca da compreensão do valor e do desenvolvimento. Contudo, somente na atualidade passamos a ser um pouco mais conscientes do nosso papel no processo econômico. Se nem tudo ocorreu de acordo com as previsões dos teóricos, não deve ser este um motivo para deixarmos de estudá-los, afinal estudamos Economia, e não Futurologia*. GLOSSÁRIO *Futurologia – conjunto de pesquisas prospectivas que têm por objeto a evolução da humanidade nos seus aspectos científico, econômico, social, etc. Fonte: Priberam (2007). Saiba mais... Sobre a Teoria das Vantagens Comparativas: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vantagens_comparativas So- bre as contribuições teóricas de Alfred Marshal, consulte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_marshall RESUMO Das contribuições sobre a Teoria do Valor, apresentamos as formulações de Adam Smith, David Ricar- do, Karl Marx, Alfred Marshall, León Walras, Arthur Cecil Pigou e Joan Robinson. Esperamos que, após realizada a leitura, você tenha conseguido adquirir uma noção consistente da Teoria do Valor-Traba- lho, da Teoria do Valor-Utilidade, da formação do lucro e da origem das crises na economia mundial. Atividades de aprendizagem 1. Por que é importante a concepção de valor na sua formação de administrador? 2. Explique a Teoria do Valor-Utilidade e destaque os entraves que inviabilizam o seu funcionamento completo. Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 13 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional terial? Por que não vivemos como Robinson Crusoé em uma ilha onde nossas necessidades materiais fos- sem todas produzidas por nós mesmos? As respostas a todas essas indagações dizem respeito ao sistema econômico. Na maioria das vezes, nos apropriamos de coisas que o sistema econômico nos oferece, mas não damos a menor importância sobre como essas coisas chegaram até nós. Saiba mais... Assista ao filme Robinson Crusoé (Las Aventuras de Robinson Crusoe, México/EUA, 1952), 1h29. Dra- ma. Direção de Luis Buñuel. Roteiro de Hugo Butler e Luis Buñuel, com base no romance de Daniel De- foe. Com Dan O’Herlihy, Jaime Fernández e Felipe de Alba.) O enredo se passa em 1659, quando o náu- frago inglês Robinson Crusoé vai parar numa ilha tropical aparentemente deserta, na qual luta sozinho para prover sua subsistência até encontrar o nativo a quem batiza de Sexta-Feira. A versão do cineasta para o clássico de Daniel Defoe (publicado em 1719) acentua o tema da dominação colonial e da opressão religiosa. Para pensar um pouco mais sobre esse tema, é chegada a hora de aprender como a economia serve a bilhões de pessoas, permitindo que sobrevivam e prosperem, apesar dos contratempos da vida atual, que penalizam milhares de pessoas. Não se esqueça que tudo isso se refere ao sistema econômico, sua forma de organizar, produzir e distribuir seus bens e serviços a todos os cidadãos. A evolução dos sistemas econômicos A evolução dos sistemas econômicos, nesses últimos dez mil anos, foi marcada por duas características norteadoras de todo o processo: a especialização: sistema de produção segundo o qual cada indivíduo se concentra em um número limita- do de atividades; a troca: dar uma coisa por outra, substituir uma coisa por outra, permutar. Através da especialização e da troca, as nações puderam dispor de maior produção, e os padrões de vida foram se elevando. Diante disso, todas as nações passaram a aumentar o grau de especializações e de tro- cas. As razões pelas quais a especialização e a troca permitem o crescimento da produção podem ser observa- das pela capacidade humana de aprender durante a vida. Isto significa que o ser humano possui a capaci- dade de aprender a fazer coisas durante a vida. Diante disso, a especialização torna-o mais hábil para fazer algumas poucas coisas, em vez de ser amador em várias. Uma outra razão que se justifica é pelo tempo necessário para mudar de uma atividade para outra. Segundo Hall e Liberman (2003, p. 34), “[...] quando as pessoas se especializam e, com isso, passam mais tempo realizando uma só tarefa, há menos perda de tempo decorrente da transição entre as tarefas”. Percebe-se, com isso, uma alteração nos níveis de produtividade dessa economia, levando-a a um cresci- mento do nível de produção. Não podemos nos esquecer do meio ambiente em nossas análises. Uma forma simples de entender e visualizar como se organiza a economia, como seus participantes inte- ragem uns com os outros, como compradores e consumidores se relacionam entre si e com o governo e, ainda, como a economia interna se relaciona com o setor externo, e assim por diante, se expressa através do diagrama do fluxo circular ampliado (Figura 1). Figura 1: Diagrama do fluxo circular Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 16 Mercado Interno Meio Ambiente Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional O diagrama do fluxo circular evidencia visualmente as relações econômicas instituídas e facilita o enten- dimento no que diz respeito ao funcionamento da economia, utilizando as seguintes categorias: produtores (organizações), consumidores (famílias), governo e setor externo. No diagrama do fluxo circular, observa-se a existência de relações entre os diversos agentes que com- põem o mercado interno e também a relação desse mercado com o setor externo. Com a presença de pessoas, empresas (grandes, médias, pequenas, formais e informais) e governos (municipal, estadual e fe- deral), as relações estabelecidas dão sustentação ao mercado. Isto acontece em quase todos os lugares, e uma relação direta e indireta com o meio ambiente acaba sendo processada. Portanto, não dá para pensar em produção de bens e serviços sem considerar como elemento básico da análise a questão ambiental. Diante do exposto, podemos dizer que a atual discussão sobre o tema meio ambiente e desenvolvimento econômico reflete a relação dialética* que se manifesta, por um lado, mediante o modelo de desenvolvi- mento adotado e os impactos provocados ao meio ambiente e, por outro, o que esses impactos ambientais podem provocar no modelo de desenvolvimento. GLOSSÁRIO *Dialética – a arte do diálogo, da contraposição e contradição de idéias que leva a outras idéias. Fonte: Wikipédia (2007). Como mensurar as atividades econômicas? É interessante que você saiba que, no sistema econômico, tudo pode e deve ser avaliado monetariamente, de modo que toda a produção de bens e serviços que uma economia produz pode ser transformada em va- lor, medido pelo dinheiro ou pela moeda. Quando as atividades econômicas de um país são mensuradas, a sociedade passa a ter mais clareza do seu processo de desenvolvimento econômico. Acompanhe como se desenvolvem o Fluxo Real e o Fluxo Monetário da economia, ilustrados nas Figuras 2 e 3, respectivamente. Figura 2: Fluxo real da economia Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 17 Organizações Consumidores Governo Setor Externo DEMANDA OFERTA OFERTA DEMANDA Famílias Empresas Mercado de bens e Serviços Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Figura 3: Fluxo monetário da economia Enquanto o Fluxo Real procura evidenciar as relações de demanda e oferta existentes no mercado de bens e serviços, o Fluxo Monetário deixa claras a relação de pagamentos efetuados no mercado de bens e servi- ços, e a remuneração dos fatores de produção. Portanto, mensurar as atividades econômicas significa quantificar essas relações. Podemos dizer que o sistema econômico pode ser entendido como o conjunto de relações técnicas, bási- cas e institucionais que caracterizam a organização econômica de uma sociedade. Independentemente do seu tipo, todo sistema econômico deve, de algum modo, desempenhar três funções básicas, determi- nando: o que produzir e em que quantidade: deve-se escolher entre as possibilidades de produção de uma eco- nomia de modo a satisfazer o mais adequadamente a sociedade; como produzir tais bens e serviços: toda sociedade deve determinar quem vai ser o responsável pela produção, qual a tecnologia a ser empregada, qual o tipo de organização da produção, etc.; e para quem produzir, ou seja, quem será o consumidor: devem ser definidos o público-alvo e as maneiras através das quais o produto deverá atingi-lo. É importante perceber que essas três funções são básicas em Economia. É interessante saber, agora, como as sociedades resolvem os seus problemas econômicos fundamentais: o que e quanto, como e para quem produzir? A resposta depende da forma de organização econômica. Cada relação entre esses agentes cara- cteriza um mercado em particular. No campo da Microeconomia*, podemos analisar o mercado de petró- leo, de soja, de mão-de-obra para o setor financeiro, etc., enquanto, no campo da Macroeconomia*, po- demos estar atentos ao funcionamento do mercado de bens e serviços, mercado de trabalho como um todo, mercado financeiro e mercado cambial. Uma questão importante, que surge na esfera do estudo econômico, diz respeito às distinções entre as pre- ocupações macro e microeconômicas. Contudo, vale salientar que, embora, aparentemente díspares, no fundo, ambas tratam do mesmo objeto: o sistema econômico. Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 18 Remuneração dos Fatores de Produção Famílias Empresas Remuneração dos Fatores de Produção Pagamento dos bens e Serviços Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional o processo. Percebe-se que o mercado é, ao mesmo tempo, o meio mais simples e o mais complexo de alocação de recursos. Que história é essa de meio mais simples e mais complexo de alocação de recursos? O que si- gnifica isso? A necessidade da regulação torna-se premente em função da constatação de que os mercados, não funcio- nando a contento, provocarão um processo de ineficiência econômica. Isto significa que, mesmo em situa- ções de livre mercado, há ocasiões em que o mercado não é capaz de fazer de maneira eficiente o proces- so de alocação e distribuição dos recursos. Portanto, nesta vertente teórica, a necessidade da regulação surge em função da existência de falhas do mercado. Assim, ao se falar em regulação, está-se imaginando formas de contornar essas falhas à luz do modo de produção capitalista, enquanto a desregulamentação si- gnifica deixar o mercado solto das amarras da regulação, pois, nestes casos, o mercado é mais eficiente. Você já ouviu falar das agências reguladoras no Brasil? Muitas pessoas pensam que os significados dos termos oferta e demanda são sinônimos na Ciência Eco- nômica. Quando debatem temas como saúde, transportes, pobreza, moradia, etc., costumam afirmar que tudo isso se refere apenas à questão de oferta e demanda. Outros, menos informados, costumam ainda usar e abusar dessa afirmação, tornando a oferta e a demanda uma espécie de lei inviolável sobre a qual nada pode ser feito e a partir da qual tudo pode ser explicado. Você precisa estar alerta para o fato de que tanto a oferta quanto a demanda fazem parte de um modelo econômico criado para explicar como os pre- ços são determinados em um sistema de mercado. Observe que os preços determinam quais famílias ou regiões serão beneficiadas com determinados produtos e serviços, e quais empresas receberão determina- dos recursos. Em se tratando de Microeconomia, os economistas recorrem ao conceito de demanda para descrever a quantidade de um bem ou serviço que uma família ou empresa decide comprar a um dado preço. Então, a quantidade demandada de um bem ou serviço refere-se à quantidade desse bem ou serviço que os compra- dores desejam e podem comprar. Observe, também, que várias questões podem afetar os consumidores na hora da compra, tais como renda, gosto, preço, etc. A Teoria da Demanda deriva de algumas hipóteses so- bre a escolha do consumidor entre diversos bens e serviços que um determinado orçamento doméstico permite adquirir. Essa teoria procura explicar o processo de escolha do consumidor diante das diversas possibilidades existentes. Devido à certa limitação orçamentária, o consumidor procura distribuir a renda disponível entre os diversos bens e serviços, de maneira a alcançar a melhor combinação possível que possa lhe trazer o maior nível de satisfação. A demanda não representa a compra efetiva, mas a intenção de comprar por determinado preço. Ao analisarmos como funcionam os mercados, percebemos que o pre- ço de um bem ou serviço exerce papel central. Na prática, a quantidade demandada de um bem ou serviço diminui quando o preço aumenta, e aumenta quando o preço diminui. Logo, a quantidade demandada é negativamente relacionada ao preço, como pode ser observado na Figura 4: Figura 4: Curva de demanda Preços P1 Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 21 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional P0 D Q1 Q0 Quantidade As variáveis que podem deslocar a curva da demanda como um todo são: riqueza (e sua distribuição); renda (e sua distribuição); fatores climáticos e sazonais; propaganda; hábitos; gostos e preferências dos consumidores; expectativas sobre o futuro; e facilidades de crédito (disponibilidade, taxa de juros, prazos). Os deslocamentos da curva da demanda estão ilustrados na Figura 5: Figura 5: Variações da curva da demanda Preços Preços D’ D D” Quantidade A Teoria da Oferta muda o foco da análise, pois o vendedor vai ao mercado com a meta de obter o maior lucro possível. O vendedor (uma empresa) depara-se com uma restrição importante: a produção de bens e serviços requer a utilização de recursos produtivos, e essa quantidade depende do padrão tecnológico uti- lizado pela firma. Observe que a tecnologia de produção nos diz o que a empresa pode fazer. Portanto, o padrão tecnológico acaba se tornando um fator restritivo para a empresa poder produzir, além dos preços dos outros fatores de produção* e do próprio preço praticado no mercado. Podemos definir oferta como a quantidade de um bem ou serviço que os produtores (vendedores) desejam produzir (vender) por unidade de tempo. Nota-se que a oferta é um desejo, uma aspiração. Assim, a quan- tidade ofertada de um bem ou serviço refere-se à quantidade que os vendedores querem e podem vender. Dessa maneira, existe uma associação de comportamento dos preços com o nível de quantidade ofertada. Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 22 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional A quantidade ofertada aumenta à medida que o preço aumenta e cai quando o preço se reduz. Logo, a quantidade ofertada está positivamente relacionada com o preço do bem e serviço, segundo pode ser veri- ficado na Figura 6: GLOSSÁRIO *Fatores de produção – todos os insumos usados para produzir bens e serviços: recursos naturais, informações, energia, capital, trabalho, capacidade empresarial, etc. Fonte: Lacombe (2004). Figura 6: Curva de oferta Preços 0 P1 P0 D Q0 Q1 Quantidade As variáveis que podem deslocar a curva da oferta como um todo são: disponibilidade de insumo; tecnologia; expectativa; e número de vendedores. A Figura 7 demonstra o deslocamento a que estamos nos referindo. Figura 7: Variações da curva de oferta Preços 0” 0 0’ Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 23 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional O coeficiente de elasticidade cruzada pode ser positivo ou negativo. Quando positivo, dizemos que os produtos são substitutos um do outro. Sendo negativo, dizemos que os produtos são complementares. Assim, analisando o comportamento da elasticidade cruzada da demanda, podemos compreender o que são um bem substituto e um bem complementar (Quadro 1): Quadro 1: Exemplos de bens substitutos e bens complementares Bens substitutos O aumento de um produto não interfere na satisfação do consumidor, que imediatamente tem a possibilidade de substi- tuí- lo por um outro. Exemplo: manteiga e margarina, cinema e locação de fitas de vídeo, carne de frango e carne de vaca, cerveja, refrigerantes. Bens complementares Se um aumento no preço de um deles ocasiona uma redução na quantidade demandada do outro. Exemplo: gasolina e óleo para motor, camisa social e gravata; sapato e meia, pão e margarina, computador e software. Veja bem, esta abordagem da elasticidade também poder ser utilizada no lado da oferta. A elasticidade- preço da oferta mede o quanto a quantidade ofertada responde à mudança de preço. A oferta de um bem é chamada de elástica se a quantidade ofertada responde bem a mudanças no preço. Quando essa resposta na quantidade ofertada é pequena às mudanças de preço, dizemos que a oferta é ine- lástica. Diante disso, podemos afirmar que a elasticidade-preço da oferta depende da flexibilidade que os vendedores (produtores) têm para mudar a quantidade do bem que produzem. Ao contrário da elasticidade da demanda, a elasticidade-preço da oferta é positiva. Isso ocorre, porque as variações de preço e quantidade se dão no mesmo sentido. Você se lembra do professor de Matemática fa- lando de funções crescentes? Podemos calcular a elasticidade da oferta dividindo a variação percentual na quantidade ofertada pela variação percentual no preço. Então, a relação entre o preço de um produto e o volume de vendas é muito importante para as empresas. Mas qual a razão disto? Isto ocorre, porque toda a relação descrita serve de base para a formação da política de preços, estratégia de vendas, e atendimento dos objetivos de lucro e participação no mercado. Assim, entender como se comporta a elasticidade torna-se muito importante para o administrador contemporâneo. Estrutura de mercado Na estrutura de mercado clássica, podemos distinguir dois casos extremos: monopólio: quando uma empresa é a única provedora do produto; concorrência perfeita: quando a dimensão de cada empresa é insignificante em relação às demais empre- sas. O termo “concorrência” tem sentido múltiplo. Em Economia, acompanhado da palavra “pura”, significa justamente a inexistência de competição, no seu sentido parcial. Em outras palavras, em um mercado no qual vigora a concorrência pura, os competidores não têm rivalidade entre si. As condições básicas para a existência de concorrência pura são: homogeneidade do produto: um requisito da concorrência pura é que todos os vendedores de um dado produto vendam unidades homogêneas deste, e os compradores também consideram o produto homogê- neo; insignificância de cada comprador ou vendedor diante do mercado: cada comprador e/ou vendedor precisa ser pequeno o suficiente para não ser capaz de influenciar, sozinho, o preço de mercado; Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 26 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional ausência de restrições artificiais: não devem existir restrições artificiais à procura, à oferta ou aos pre- ços. Em outros termos, é preciso que os preços sejam livres para oscilar de acordo com as exigências de mercado; mobilidade: é preciso que haja mobilidade de bens, serviços e recursos. Novas firmas devem poder entrar sem dificuldade nesse mercado, assim como não deve existir impedimento à saída; e pleno conhecimento (atributo da palavra “perfeita”): a concorrência perfeita incorpora o pleno conhe- cimento do sistema econômico e de todas as suas inter-relações por parte dos agentes partícipes desse mercado. O monopólio é uma situação de mercado em que uma única firma vende um produto que não tem substi- tutos próximos. De uma outra forma, monopólio é uma situação de mercado em que existe um só produ- tor de um bem (ou serviço) que não tem substitutos próximos. Devido a isso, o monopolista exerce grande influência na determinação do preço a ser cobrado pelo seu produto. Conforme Vasconcellos (2004), o mercado monopolista se caracteriza por apresentar condições diametral- mente opostas às da concorrência perfeita. Nele existem, de um lado, um único empresário (empresa) do- minando inteiramente a oferta e, de outro, todos os consumidores. Não há, portanto, concorrência nem produto substituto ou concorrente. Nesse caso, os consumidores se submetem às condições impostas pelo vendedor ou simplesmente deixam de consumir o produto. Hipóteses básicas do modelo monopolista: um determinado produto é suprido por uma única empresa; não há substitutos próximos para esse produ- to; e existem obstáculos (barreiras) de novas firmas na indústria (nesse caso, a indústria é composta por uma única empresa). As dificuldades para as empresas se estabelecerem no mercado, aqui entendidas como barreiras de acesso, podem ocorrer de várias formas. No caso de monopólio puro ou natural, devido à elevada escala de produção requerida, exige-se um grande montante de investimento. Refinarias de pe- tróleo, siderurgia, etc., podem ser enquadradas neste caso. Uma outra forma de empecilho à instalação de novas empresas no mercado imperfeito se dá através das patentes, direito único para produzir um bem. Os laboratórios farmacêuticos, encarregados da fabricação de medicamentos, valem-se deste instrumento de patentes ou controle de matérias-primas-chave. Final- mente, o monopólio estatal ou institucional, protegido pela legislação, normalmente ocorria em setores es- tratégicos ou de infra-estrutura. Até pouco tempo atrás, no nosso país, você sabe que tínhamos como exemplo: energia elétrica, telecomunicações, etc. Uma outra estrutura bastante conhecida, nos dias de hoje, no campo da competição imperfeita é o oligo- pólio. É um tipo de estrutura normalmente caracterizada por um pequeno número de empresas que domi- nam a oferta de mercado. Pode-se caracterizá-la como um mercado em que há um pequeno número de empresas, como a indústria automobilística, ou, então, onde há um grande número de empresas, mas pou- cas dominam o mercado, como a indústria de bebidas. O setor produtivo brasileiro é altamente oligopoli- zado, sendo possível encontrar inúmeros exemplos: montadoras de veículos, setor de cosméticos, indús- tria de papel, indústria de bebidas, indústria química, indústria farmacêutica, etc. O oligopólio pode ser: puro: quando os concorrentes oferecem exatamente os mesmos produtos homogêneos, iguais, substitutos entre si. Exemplo: cimento, da indústria de cimento; alumínio, da indústria de alumínio; ou diferenciado: quando o produto não é homogêneo. Exemplo: indústria automobilística ou de cigarro. Ou seja, embora semelhantes entre si, esses produtos não são idênticos – o Gol é diferente do Fiat Uno, etc. O oligopólio apresenta como principal característica o fato de as firmas serem interdependentes. Isso de- corre do pequeno número de firmas existentes na indústria, e significa que as firmas levam em considera- ção e reagem às decisões quanto a preço e produção de outras firmas. No oligopólio, tanto as quantidades ofertadas quanto os preços são fixados entre as empresas por meio de conluios ou cartéis. O cartel é uma organização (formal ou informal) de produtores dentro de um setor que determina a política de preços para todas as empresas que a ele pertencem. Exemplo: Cartel da Orga- nização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que estabelece o preço do petróleo no mercado mundial. Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 27 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Será que existe formação de cartel entre os distribuidores de álcool no Brasil? E entre os distri- buidores de gasolina? Pense nisso! Além dos cartéis, existe um outro modelo de oligopólio chamado de liderança de preço. Liderança de pre- ço é a forma de conluio imperfeito em que as empresas do setor oligopolístico decidem, sem acordo for- mal, estabelecer o mesmo preço, aceitando a liderança de preço de uma empresa da indústria. Esse modelo pressupõe que a liderança decorre do fato de que uma das firmas rivais possui estrutura de custos mais baixos que as demais. Por essa razão, consegue se impor como líder do grupo. Inicialmente, os preços podem ser diferenciados. O mercado, entretanto, preferirá o produto que esteja sendo oferecido a preços mais baixos. Desta forma, resta às firmas que oferecem o produto a preços mais elevados duas possibilidades: ou mantêm o preço e, como conseqüência, são banidas do mercado, ou, en- tão, aceitam o preço praticado pela rival de menores custos, que é mais baixo, e continuam no mercado, sem maximizar seus lucros. Assim é que a firma líder de preço fica, através de um acordo tácito (isto é, um acordo não formal), responsável pela determinação do nível de venda do produto. As firmas menos fa- vorecidas em termos de preços tornam-se seguidoras dos preços fixados pela firma líder. A outra estrutura de mercado imperfeito é a concorrência monopólica ou concorrência monopolista. Ela está presente em vários setores da economia, mais do que você imagina. Esta forma de mercado tem como característica marcante empresas produzindo produtos diferenciados, embora sendo substitutos próximos. Nota-se, então, que, na concorrência monopolística, a empresa tem determinado poder sobre a fixação de preços. A diferenciação do produto pode ocorrer por características físicas, de embalagem ou pelo esquema de promoção de vendas. Como exemplo, temos os laboratórios farmacêuticos, as indústrias alimentícias, automobilísticas, etc. Como o próprio nome diz, a concorrência monopolista é uma estrutura de mercado que contém elementos da concorrência perfeita e do monopólio, ficando em uma situação in- termediária entre essas duas formas de organização de mercado. Ainda: não se confunde em nada com o oligopólio. As principais características da concorrência monopolista são: margem de manobra para fixação dos pre- ços não muito ampla, uma vez que existem produtos substitutos no mercado; e número relativamente grande de empresas com certo poder concorrencial, porém com segmentos e produtos diferenciados, seja por características físicas, seja por embalagens ou prestação de serviços complementares (pós-venda). Essas características acabam dando um pequeno poder monopolista sobre o preço de seu produto, embora o mercado seja competitivo – daí o nome de concorrência monopolista. Discutidos os principais aspectos ligados à Microeconomia, vamos agora passar à Macroeco- nomia. No início do século XXI, a abordagem dos economistas tem-se dirigido à Nova Economia, à tecnologia da informação, ao ajuste externo e interno, à globalização dos mercados, etc. Assistimos às evidências do impacto dessas mudanças no nosso dia-a-dia, às vezes, sem nos preocuparmos muito com as conseqüên- cias. Por isso, fazemos diversas indagações: quais são exatamente os efeitos dessas mudanças?; como elas podem afetar os padrões de vida e a taxa de crescimento da economia?; como estas mudanças na economia atingem o emprego e o desemprego, os preços e o equilíbrio do balan- ço de pagamentos?; Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 28 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional ção ou deflação), vamos falar em PIB real. Portanto, o PIB real deve ser compreendido como uma medida de produto que leva em conta as alterações dos preços e não pode ser desprezado. Mas o que determina o crescimento? Como explicitado anteriormente, a variação do PIB é a medida do crescimento econômico. Assim, é ne- cessário determinar quais são os componentes do PIB para saber o que realmente determina o crescimento econômico de um país. A seguinte equação representa os condicionantes do crescimento econômico: PIB = consumo das famílias + gasto do governo + investimento das empresas + exportação líquida. Vamos analisar, agora, cada um dos componentes separadamente. Consumo das famílias: ao se apropriarem de suas rendas, as famílias destinam uma parte ao consumo de bens e serviços. Quanto mais as famílias consumirem, mais as empresas terão que produzir para suprir as demandas por bens e serviços das pessoas. Vale ressaltar que famílias de baixa renda tendem a consumir proporcionalmente mais de suas rendas, pois não adquiriram todos os bens de que necessitam. Destaca-se, então, a importância de uma distribuição de renda eqüitativa no país, pois famílias de baixa renda conso- mem pouco e, caso tenham incrementos em seus ganhos, passarão a consumir mais, impulsionando o crescimento econômico. Investimento das empresas: é uma das mais importantes variáveis para o crescimento de um país. Ao in- vestirem, as firmas elevam o nível de emprego, produto e renda. As indústrias, na maioria das vezes, não possuem recursos suficientes para realizar seus planos de investimento e, com isso, precisam recorrer a empréstimos junto às instituições financeiras, pagando uma determinada taxa de juros pelo dinheiro que tomam emprestado. Ao fazerem seus planos de investimento, as empresas calculam, aproximadamente, a rentabilidade que tal investimento vai lhe proporcionar. Caso a lucratividade do investimento seja maior que os juros que deverão ser pagos pelo financiamento, a empresa realizará seus planos; caso contrário, tal investimento torna-se inviável. Portanto, para que exista um nível de investimento elevado na econo- mia, é necessário que se mantenha a taxa de juros baixa. Gasto público: ao fazer obras, construir, operar suas estatais, etc., o governo está empregando mais pes- soas, expandindo o nível de emprego e, ao mesmo tempo, dando condições para que as empresas produ- zam mais. Assim, ao comprar e produzir mais, o governo causa uma elevação da produção e do nível de emprego, e aumenta o nível de renda da economia. Exportação líquida: são as exportações menos importações de um país. Quanto maior o saldo, maiores o nível de emprego e o crescimento econômico, já que a produção deve aumentar; quanto menor o saldo, menor o nível de emprego, pois produtos que eram produzidos aqui passam a ser comprados do exterior, piorando a produção da economia. É óbvio que nenhum país fica sem comprar e vender para o exterior, mas o ideal é aumentar o nível de exportações e diminuir o de importações. O Sistema de Contas Nacio- nais e a conseqüente mensuração dos agregados possibilitam uma avaliação quantitativa do produto que uma economia pode ser capaz de gerar num determinado período de tempo. Tal medida vem sendo consi- derada um importante indicador de desempenho econômico e mostra a capacidade de geração de renda das economias. Portanto, quando o objetivo da política econômica for de crescimento econômico, auto- maticamente, se estará procurando expandir o nível de produção e, conseqüentemente, o nível de emprego da economia. A mensuração das variáveis econômicas possibilita a avaliação quantitativa do produto que uma economia se torna capaz de gerar num determinado período de tempo. Tal medida é considerada um importante indicador de desempenho econômico e identifica a capacidade de geração de renda da econo- mia. Entretanto, se a preocupação for com a qualidade de vida da população, o produto agregado mostra- se inadequado. Na avaliação da qualidade de vida da população, faz-se necessário considerar não apenas os aspectos eco- nômicos, mas também aqueles ligados à oferta de bens públicos, como saúde e educação, que afetam dire- Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 31 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional tamente o bem-estar. A utilização de indicadores sociais como parte da avaliação da riqueza de uma região insere-se na discussão entre crescimento e desenvolvimento econômico. A preocupação com o bem-estar da sociedade nos remete ao confronto de dois importantes conceitos: crescimento econômico versus desenvolvimento econômico. Desse modo, observa-se nas sociedades em fase de desenvolvimento ou subdesenvolvidas a ocorrência de crescimento sem desenvolvimento. Se o crescimento for muito concentrado, isto é, mal distribuído, a maior parte da população não se benefi- cia da elevação da renda gerada na economia. Vale a pena observar que uma das formas de avaliar o de- senvolvimento é acompanhar a evolução de alguns indicadores relativos à saúde e à educação, porque seu comportamento fornece uma boa aproximação do que está ocorrendo com a qualidade de vida da popula- ção. Algumas instituições internacionais, como o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD –, vêm divulgando sistematicamente dados como os de expectativas de vida, mortalidade infantil, condições sanitárias, nível e qualidade da educação do país. Tais estatísticas, além de permitirem avaliar a qualidade de vida de um país, possibilitam comparações en- tre os países e fornecem uma idéia mais precisa do que vem a ser caracterizado como um país desenvolvi- do. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), publicado nos Relatórios do Programa das Nações Uni- das para o Desenvolvimento – PNUD, tem como objetivo avaliar a qualidade de vida nos países. O PNUD calcula o IDH desde o início dos anos 1990 e, atualmente, o estima para muitos outros países. O IDH agrega, em sua metodologia de cálculo, três variáveis: indicador de renda: é a renda per capita, ajustada para refletir a paridade do poder de compra (PPP) en- tre os países (portanto, renda avaliada em US$ PPP); indicador das condições de saúde: é a expectativa de vida (índice de longevidade); e indicador das condições de educação: é uma média ponderada de outros dois indicadores, a taxa de alfa- betização de adultos e a taxa combinada de matrícula nos Ensinos Fundamental, Médio e Superior. O IDH varia de zero a um e permite classificar os países em três grupos distintos: baixo desenvolvimento: IDH menor ou igual a 0,5; médio desenvolvimento: IDH entre 0,5 e 0,8; e países de alto desenvolvimen- to: IDH maior que 0,8. Saiba mais... Informações sobre como é calculado o PIB no Brasil e sua evolução durante os últimos anos nos endere- ços: http://www.ibge.gov.br/home/ http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata?65370046 Pesquise também na Fundação IBGE – Sistema de Contas Nacionais – Tabela de recursos e usos - Meto- dologia. Diretoria de Pesquisa, texto para discussão interna número 88, dezembro de 1998 em: http://www.ibge.gov.br/home/ Sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e sua evolução nos principais países, em: http://www.pnud.org.br/home/ http://www.pnud.org.br/idh/ RESUMO Esperamos que você, na presente Unidade, tenha entendido pelo lado da Microeconomia como se formam as curvas de demanda e oferta, no caso de uma economia em regime de concorrência perfeita, bem como a formação do preço de equilíbrio, com destaques para os excessos de procura e oferta, e os conceitos de bens elásticos e inelásticos; e no caso de uma economia em regime de concorrência imperfeita, o monopó- lio e o oligopólio. Na Macroeconomia, centramos a atenção na formação das políticas econômicas, com vistas ao crescimento da produção, controle da inflação, equilíbrio das contas externas e melhor distribuição da renda gerada no país. Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 32 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Atividades de aprendizagem 1. Que problemas microeconômicos e macroeconômicos têm sido destacados pelos noticiários nos últi- mos dias? 2. Por que o sal de cozinha consegue manter a quantidade consumida mesmo com preço elevado? 3. O turismo pode ser considerado um bem supérfluo? Justifique sua resposta. 4. Escreva um texto sobre o significado de monopólio, apresente mais exemplos dessa estrutura de merca- do e discuta as implicações para o desenvolvimento de uma região, com destaque para a sua. 5. Explique o significado de oligopólio e de concorrência monopolística. 6. Discuta as características do mercado do principal produto comercializado em sua região. 7. Quais são a elasticidade-preço e a elasticidade-renda desse produto? Elástico ou inelástico? Explique a sua resposta. 8. Identifique alguns aspectos do crescimento econômico na sua cidade, região e Estado. 9. Qual o PIB dos Estados brasileiros? Identifique as atividades econômicas mais relevantes das nossas cinco regiões. Material Complementar Gestão de Comércio I – Economia e Mercados – 1 CONCEITOS DE ECONOMIA Etimologicamente, a palavra economia vem do grego oikos (casa) e nomos (norma, lei). Seria a “administração da casa”, pode ser generalizada como “administração da coisa pública” Economia pode ser definida como a ciência social que estuda como o individuo e a sociedade decidem utilizar recursos produtivos escassos, na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer às necessidades humanas. Assim, trata-se de uma ciência social, já que objetiva atender às necessidades humanas. Contudo, depende de restrições físicas, provocadas pela escassez de recursos produtivos ou fatores de produção (mão-de-obra, capital, terra, matérias-primas). Pode-se dizer que o objeto de estudo da ciência econômica é a questão da escassez, ou seja, como “economizar” recursos. A escassez surge em virtude das necessidades humanas ilimitadas e da restrição física de recursos. Afinal, o crescimento populacional renova as necessidades básicas; o contínuo desejo de elevação do padrão de vida (que poderíamos classificar como uma necessidade “social” de melhoria de status) e a Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 33 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional evidenciando a necessidade de uma situação mais ativa do setor público nos rumos da atividade econômica. Basicamente, a atuação do governo justifica-se com o objetivo de eliminar as chamadas distorções alocativas (isto é, na alocação de recursos) e distributivas, e promover a melhoria do padrão de vida da coletividade. Isso pode dar-se das seguintes formas: a) atuação sobre a formação de preços, via impostos, subsídios, tabelamentos, fixação de salário mínimo, preços mínimos, taxa de cambio: b) complemento da iniciativa privada, principalmente de investimentos em infra-estrutura básica (energia, estradas etc.), o qual, eventualmente, o setor privado não tem condições financeiras de assumir, seja pelo elevado montante de recursos necessários, seja em virtude do longo tempo de maturação do investimento, até que venha a propiciar retorno; c) fornecimento de serviços públicos: iluminação, água, saneamento básico etc.; d) fornecimento de bens públicos: bens públicos são bens gerais, fornecidos pelo estado, que não são vendidos no mercado; fundamentalmente, educação, justiça, segurança; e) compra de bens e serviços do setor privado: o governo é, isoladamente, o maior agente do sistema e, por tanto, o maior comprador de bens e serviços. 4 DIVISÃO DO ESTUDO ECONÔMICO A teoria econômica representa um só corpo de conhecimento, mas, como os objetivos e métodos de abordagem podem diferir de acordo com a área de interesse do estudo, costuma-se divida-la de forma a seguir: MICROECONOMIA: estuda o comportamento de consumidores e produtores e o mercado no qual interagem. Preocupa-se com a determinação dos preços e quantidades em mercados específicos. MACROECONOMIA: estuda a determinação e o comportamento dos grandes agregados, como PIB, consumo nacional, investimento agregado, exportação, nível geração do preço, etc., com o objetivo de delinear uma política econômica. Tem um enfoque conjuntural, isto é, preocupa-se com a resolução de questões como inflação e desemprego, a curto prazo. QUESTÕES DE REVISÃO 1. Por que os problemas econômicos fundamentais (o quê, como e para quem produzir) originam-se da escassez de recursos produtivos escassos? 2. O problema fundamental com o qual a economia se preocupa é: a) A pobreza b) O controle dos bens produzidos c) A escassez d) A taxação daqueles que recebem toda e qualquer espécie de renda e) A estrutura de mercado de uma economia 3. Os três problemas econômicos relativos a “o que”, “como” e “ para quem” produzir existe: a) Apenas nas sociedades de planejamento centralizado b) Apenas nas sociedades de “livre empresa” ou capitalistas nas quais o problema da escolha é mais agudo Gestão de Comércio I – Economia e Mercados 36 Escola Estadual de Educação Profissional [EEEP] Ensino Médio Integrado à Educação Profissional c) Em todas as sociedades, não importado seu grau de desenvolvimento ou sua forma de organização política d) Apenas nas sociedades subdesenvolvidas, uma vez que desenvolvimento é, em grande parte enfrentar estes três problemas e) Todas as resposta anteriores estão corretas. 4. Em um sistema de livre iniciativa privada o sistema de preço restabelece a posição de equilíbrio: a) Por meio da concorrência entre compradores, quando houver excesso de oferta b) Por meio da concorrência entre vendedores, quando houver excesso de demanda c) Por pressões para baixo e para cima nos preços, tais que acabem respectivamente com o excesso de demanda e com o excesso de oferta d) Por meio de pressões sobre os preços que aumentam a quantidade demandada e diminuem a quantidade ofertada, quando há excesso de oferta, e que aumentam a quantidade ofertada e diminuem a demandada, quando há excesso de demanda. e) Todas as alternativas anteriores são falsas. Bibliografia VASCONCELLOS, Marcos Antonio Sandoval de. Economia: micro e macro – 3.ed. – São Paulo: atlas, 2002. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Série Perguntas mais Freqüentes. Disponível em: <http://www.bc.gov.b>. BATISTA JÚNIOR, Paulo Nogueira. Brasil e a Economia Internacional. Rio de Janeiro: Campus, 2005. BOTTOMORE, Tom. 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