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Guias e Dicas
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Tese - silvio reinod costa, Teses (TCC) de Linguística

DOUTORADO - LINGUÍSTICA

Tipologia: Teses (TCC)

2012

Compartilhado em 15/06/2012

profsilvio
profsilvio 🇧🇷

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Baixe Tese - silvio reinod costa e outras Teses (TCC) em PDF para Linguística, somente na Docsity! SILVIO REINOD COSTA NÁLISE MORFO–SEMÂNTICA DE ALGUNS PARES ESUFIXOS ERUDITOS E POPULARES LATINOS NO PERÍODO ENTRE OS SÉCULOS XII A XVI Vol. I Araraquara – SP 2008 ANÁLISE MORFO–SEMÂNTICA DE ALGUNS PARES DE SUFIXOS ERUDITOS E POPULARES LATINOS NO PERÍODO ENTRE OS SÉCULOS XII A XVI Vol. I 2 SILVIO REINOD COSTA ANÁLISE MORFO–SEMÂNTICA DE ALGUNS PARES DE SUFIXOS ERUDITOS E POPULARES LATINOS NO PERÍODO ENTRE OS SÉCULOS XII A XVI Vol. I Araraquara – SP 2008 Tese apresentada à Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Campus de Araraquara, como parte dos requisitos parciais para a obtenção do título de Doutor em Letras – Área de Concentração: Lingüística e Língua Portuguesa. Linha de Pesquisa: Estudos do Léxico Orientação: Profa. Dra. Clotilde de Almeida Azevedo Murakawa 5 DEDICATÓRIAS Dedico à Rosa Maria Trocoli, minha esposa, companheira fiel em todas as horas, pelo carinho, paciência, dedica- ção, empenho e doação ímpares empreendidos para comigo nesta jornada. Beatriz Schenkman, cidadã do século XXI, minha “netinha”. Tão linda, tão meiga, tão inteligente, mas tão danadinha e desespe- rada para sua tenra idade. 6 HOMENAGEM ESPECIAL À inesquecível Profa. Dra. Maria Tereza Camargo Biderman, a minha sincera gratidão pela mestra amada, pelos ensinamentos e pela examinadora perfeita, exemplar. Todos perderam uma pérola, e a Lingüística ficou de luto eternamente. 7 AGRADECIMENTOS ESPECIAIS  Ao Cósmico, fonte de Eterna Inspiração e Sabedoria, com sua Luz, Vida e Amor, por ter me auxiliado e permitido vencer mais uma etapa de minha Vida;  Ao Deus do meu Coração, ao Deus da minha Compreensão, por ter me inspirado e me revelado, mais uma vez, a “LUZ MAIOR”, conduzindo-me, com maestria, das Trevas da Ignorância para a Luz da Sabedoria e por ter me proprocionado viver este momento tão ímpar nesta minha existência;  À Profa. Dra. Clotilde de Almeida Azevedo Murakawa, pelo desvelo, quase maternal, pelo carinho, pelas sábias “lições de vida” e pela paciência com que me conduziu nos labirintos da Lingüística, em especial, nos campos da Morfologia e da Lexicologia do Português Arcaico, enfim, não tendo palavras para definir a minha admiração, o meu carinho e o meu respeito; a ela, humildemente, o meu muito obrigado e a minha gratidão eternos. 10  A todos os meus colegas dos cursos de Pós-graduação (Mestrado/Doutorado), pelo coleguismo e amizade cordiais no decorrer dos mesmos, ao longo destes anos. Vocês fazem parte da “minha história”.  Ao meu pai, responsável pela minha existência;  Aos meus colegas da Escola Estadual “Profa. Eugênia Vilhena de Morais” pelo carinho e pela fé que depositam em mim;  Aos meus queridos alunos do ensino médio da Escola Estadual “Profa. Eugênia Vilhena de Morais”, a quem ensino, respeito e muito admiro e com quem tanto aprendo;  Ao Centro Universitário “Barão de Mauá” pela confiança sempre depositada em mim, no decorrer destes 20 anos;  Ao Magnífico Reitor do Centro Universitário “Barão de Mauá”, Prof. João Alberto de Andrade Veloso, pela confiança e respeito sempre depositados em mim;  Aos colegas do Centro Universitário “Barão de Mauá” pela amizade de sempre;  Às amigas do Centro Universitário “Barão de Mauá” Profas. Mestras Lílian Rosa e Luciene Alves Minohara, pelo apoio e compreensão depositados em mim; 11  Ao Prof. Dr. Mário Eduardo Viaro (Universidade de São Paulo) pelas valiosas sugestões, quando esta Tese ainda era apenas um sonho e ainda um anteprojeto, e por sua amizade tão sincera;  À Profa. Dra. Maria do Céu Caetano Mocho (Universidade Nova de Lisboa), pela contribuição inestimável, pelo carinho, amizade e presteza com que me enviou sua Tese de Doutoramento;  Às amigas “d´além-mar”, Profas. Dras. Maria Filomena Candeias Gonçalves (Universidade de Évora) e Margarita Maria Correia Ferreira (Universidade de Lisboa) pelo afeto e pelos ensinamentos;  À Profa. Dra. Juliana Soledade Barbosa Coelho (UFBA) – em quem tanto me espelhei – pelo carinho e pelas inestimáveis contribuições;  Aos amigos, Adel Fran Lacerda, Edson Costa Santos, Nazarete de Souza, Solange Mendes Oliveira e Sônia Abreu por suas valiosas amizades e contribuições ímpares a esta Tese;  À amiga Sarah Lúcia Alem Barbieri Rodrigues Vieira pela amizade sempre tão sincera;  À amiga Rosane Malusá Gonçalves Peruchi pelas inúmeras finezas prestadas ao longo deste trabalho; 12  Aos Professores Doutores Jenni Silva Turazza (Pontifícia Universidade Católica – São Paulo), José Lemos Monteiro (Universidade Federal do Ceará / Universidade Estadual Ceará), José Pereira da Silva (Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos / Academia Brasileira de Filologia), Margarida Maria de Paula Basílio (Universidade Federal do Rio de Janeiro / Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro), Luiz Carlos Cagliari (Universidade Estadual de Campinas / Universidade Estadual Paulista – Campus Araraquara), Luiz Carlos de Assis Rocha (Universidade Federal de Minas Gerais), Luiz Carlos da Silva Schwindt (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Luiz Carlos Travaglia (Universidade Federal de Uberlândia), Llüísa Gràcia Sole (Universidade de Valencia - Espanha), pelas valiosas contribuições, cada um a seu modo;  Aos Professores Doutores Ana Cláudia Trocoli Torrecilhas e Sérgio Schenckman pelo carinho, amizade e companheirismo e por acreditarem em mim;  Ao amigo Jurandir Soares Oliveira Filho, pela amizade sincera e por estar sempre de bem com a vida;  Finalmente, agradeço imensamente toda a colaboração, o apoio, as palavras amigas e o carinho recebidos das pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, durante a elaboração desta Tese. Todas as incoerências, inconsistências, falhas, lapsos e limitações são de minha inteira responsabilidade. No entanto, sem o incentivo das pessoas amigas, esta Tese não teria sido realizada. 15 Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. (Clarice Lispector) "Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." (Clarice Lispector) 16 RESUMO COSTA, Silvio Reinod. Análise Morfo-semântica de alguns pares de sufixos eruditos e populares latinos no período entre os Séculos XII a XVI. 2008. 388 p. (vol. I – Tese) + 545p. (vol. II – Corpus – em CD – ROM). Tese (Doutorado em Lingüística e Língua Portuguesa) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Araraquara (SP). 2008. Pretendeu-se, neste trabalho, analisar a evolução dos significados de alguns sufixos latinos (eruditos) utilizados, em Português arcaico, que apresentam uma contraparte popular. Inicialmente, foram revistos a História, a origem, os períodos e sub-períodos do Português, assim como os textos principais de sua fase arcaica. Em relação aos sufixos, objeto específico deste trabalho, faz-se uma revisão geral, em ordem cronológica ascendente, da literatura existente a esse respeito, tomando-se por base a opinião de alguns eminentes filólogos e gramáticos da História da Língua (Carolina Michäelis de Vasconcelos (1946), José Joaquim Nunes (1989), Manuel de Said Ali (1931 e 1964), Joseph Hüber (1986 [1933]), Theodoro Maurer Jr. (1951), José Leite de Vasconcelos (1959), Sousa da Silveira (1960)), gramáticos normativos (Fernão de Oliveira (1975 [1536]), Júlio Ribeiro (1913 [1881]), João Ribeiro (1926 [1901]), Gladstone Chaves de Melo (1978), Cunha e Cintra (1985), Evanildo Bechara (1999) e lingüistas – estruturalistas / gerativistas – (Joaquim Mattoso Camara Jr. (1979 e 1980), Margarida Basílio (1980 e 2004), Cacilda de Oliveira Camargo (1986), Antônio José Sandmann (1991 e 1992), Valter Khedi (2005), Graça Maria de Oliveira e Silva Rio-Torto (1993 e 2006), Luiz Carlos de Assis Rocha (1998), Alina Villalva (2000), Margarita Correia (2004), Margarita Correia & Lucia San Payo de Lemos (2005) e Soledad Varela Ortega (2005)). A partir de um corpus elaborado por nós, baseado em 20 obras, foram selecionados os seguintes pares de sufixos: –ato x – ado; –ático X –adego; –bil x –vel;–ense x –ês; –ario x –eiro;–(t)orio ~ –(s)orio x –(d)oiro e –(t)ura ~ –(s)ura ~ –(d)ura x –ura. Há sufixos com grande, média e baixa produtividades. Muitos deles vão ganhando, ao longo dos séculos, novos significados; outros, entretanto, mantém aqueles já presentes em Latim. Palavras-chave: sufixos; sufixos eruditos; sufixos populares; sufixação; português arcaico; corpus do português arcaico. 17 ABSTRACT COSTA, Silvio Reinod. Morphologic-Semantic Analysis of Some Latin Suffix Pairs – erudite and popular – in the period from 12th to 16th Centuries. 2008. 388 p. (vol. I - Thesis) + 545 p. (vol. II – Corpus – in CD – ROM). Doctor Thesis (Linguistics and Portuguese Language) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Araraquara (SP). 2008. The aim of this thesis is to analyze the development of the meaning of some erudite latin suffixes used in Archaic Portuguese which have a popular counterpart. Firstly, the history, the origin, the periods and subperiods of Brazilian Portuguese have been revised, as well as the main texts of its archaic period. A general review of the literature on suffixes, the specific object of this work, has been done in ascendant chronological order taking as its basis the opinion of some most eminent philologists and grammarians of the History of Language such as (Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1946), José Joaquim Nunes (1989), Manuel de Said Ali (1931 and 1964), Joseph Hüber (1986 [1933]), Theodoro Maurer Jr. (1951), José Leite de Vasconcelos (1959), Sousa da Silveira (1960)); normative grammarians such as (Fernão de Oliveira (1975 [1536]), Júlio Ribeiro (1913 [1881]), João Ribeiro (1926 [1901]), Gladstone Chaves de Melo (1978), Cunha & Cintra (1985), Evanildo Bechara (1999); and structuralist/gerativist linguists such as (Joaquim Mattoso Camara Jr. (1979 and 1980), Margarida Basílio (1980 and 2004), Cacilda de Oliveira Camargo (1986), Antônio José Sandmann (1991 and 1992), Valter Khedi (2005), Graça Maria de Oliveira e Silva Rio-Torto (1993 and 2006), Luiz Carlos de Assis Rocha (1998), Alina Villalva (2000), Margarita Correia (2004), Margarita Correia & Lucia San Payo de Lemos (2005) and Soledad Varela Ortega (2005). The following suffix pairs which form the corpus have been selected based on 20 books: –ato x – ado; –ático X –adego; –bil x –vel;–ense x –ês; –ario x –eiro;–(t)orio ~ –(s)orio x –(d)oiro e –(t)ura ~ –(s)ura ~ –(d)ura x –ura. There are suffixes of high, medium and low productivity. Many of them acquire new meanings through the centuries; others, however, maintain the meanings used in Latin. Keywords: suffixes ; erudite suffixes; popular suffixes; suffixation; archaic portuguese; archaic portuguese corpus. 20 4.15 Denominais sufixais sem mudança de classe gramatical – I 166 4.16 Denominais sufixais sem mudança de classe gramatical – II 167 4.17 MATRIZ A.1.a – Sufixo –EIRO 174 4.18 Principais Diferenças entre Sufixos e Prefixos 176 4.19 Tipos de Processos de Formação de Palavras (Produção Lexical Sufixal) 187 4.20 Estrutura morfológica dos adjetivos denominais I 189 4.21 Estrutura morfológica dos adjetivos denominais II 190 4.22 Sufixos Homófonos – Sentidos e/ou Funções e Exemplificação 194 4.23 Sufixos Fósseis X Sufixos Internacionais 204 4.24 Sufixos atribuíveis aos nomes de qualidade 206 4.25 Produtos isocategoriais construído com o sufixo –eir 207 4.26 Principais Processos de Sufixação em Língua Portuguesa 209 4.27 Classificação dos sufixos de acordo com sua categoria gramatical 216 4.28 Classificação dos sufixos de acordo com a base à qual se reportam 217 5.1 Lexias em que se encontra a forma –ato e suas origens.... 224 5.2 Algumas locuções verbais utilizadas no Português Arcaico com seus principais verbos auxiliares 230 5.3 Algumas locuções verbais com os verbos principais sufixados em –ado4 na voz passiva analítica e suas formas correspondentes na voz passiva sintética 237 5.4 O sufixo –ado em algumas lexias presentes no corpus e as bases a que se adjungem 261 5.5 Significados do sufixo –ado em Latim e dos séculos XI a XVI 263 5.6 O sufixo –ático em em algumas lexias presentes no corpus e as bases a que se adjungem 270 5.7 Principais significados do sufixo –ático em latim e dos séculos XI ao século XVI 270 5.8 Os sufixos –ádego ~ –ádigo em algumas lexias presentes no corpus 273 21 e a bases a que se adjungem 5.9 Significados dos sufixos –ádego ~ –ádigo dos séculos XI a XVI e seu correspondente erudito –aticu em Latim 274 5.10 O sufixo –bil e seus alomorfes e as bases a que se adjungem 280 5.11 Significados presentes no sufixo –bil e seus alomorfes – em Latim e do século XI ao XVI 280 5.12 As lexias sufixadas em –bil por Camões em “Os Lusíadas” (1572) 281 5.13 O sufixo –vel e seus alomorfes presentes em algumas lexias do corpus e as bases a a que se adjungem 285 5.14 Significados presentes no sufixo –bil e seus alomorfes – em Latim e do século XI ao século XVI 286 5.15 A produtividade do sufixo –vel presente em algumas lexias do Português ao longo dos séculos XIII a XX 287 5.16 O sufixo –ense e seus alomorfes e as bases a que se adjungem 292 5.17 Significados presentes no sufixo –ense em Latim e do século X ao XVI 292 5.18 O sufixo –ês e seus alomorfes presentes em algumas lexias e as bases a que se adjungem 295 5.19 Significados presentes no sufixo –ês em Latim e so século XI ao século XVI 296 5.20 O sufixo –ario em algumas lexias do Português Arcaico com a base a que se adjungem e seus respectivos significados 305 5.21 Significados do sufixo –ario e de seus alomorfes – em Latim e do século XII ao século XVI 307 5.22 Algumas lexias sufixadas em –eiro com seus respectivos significados e as bases a que se adjungem 318 5.23 O sufixo –eiro e seus principais significados – em Latim e do século XI ao século XVI 322 5.24 As lexias sufixadas em –(t)orio ~ –(t)oria e seus respectivos significados e as bases a que se adjungem 329 5.25 O sufixo –(t)orio ~ –(t)oria e seus principais significados – em Latim e do século XI ao século XVI 329 22 5.26 O sufixo –(d)oiro em algumas lexias do Português Arcaico com a base a que se adjungem e seus respectivos significados 332 5.27 O sufixo –(d)ouro e seus principais significados – em Latim e do século XII ao século XVI 333 5.28 A produtividade dos sufixos –(d)oiro ~ –(d)ouro em algumas lexias – dos séculos X ao XVI, de acordo com Houaiss (versão eletrônica) e Cunha (1986) 334 5.29 O sufixo –ura e seus alomorfes em algumas lexias do Português Arcaico com a base a que se adjungem e seus respectivos significados 340 5.30 Significados do sufixo –ura e de seus alomorfes – em Latim e do século XII ao século XVI 344 25 LISTA DE FIGURAS Pág. Volume I – Tese 0.1 Dispute entre Louis XI et Marie de Bourgogn (Iluminura) 39 0.2 Grupos de Morfologia no Brasil na Contemporaneidade 41 1.1 As origens remotas do Português 49 1.2 Árvore genealógica das línguas indo-européias 51 2.1 La Nativité (Enluminure) – Bibliothèque Municipale de Lyon 220 Volume II – Corpus 1.1 Iluminura do Livro das Horas (Book of Hours) 13 26 LISTA DE MAPAS Pág. Volume I – Tese MAPAS 1.1 A Localização Atual da Romênia no Continente Europeu 52 1.2 A Romênia 53 1.3 As Línguas Indo-Européias da Europa 56 1.4 Grandes Grupos de Línguas Românicas 56 27 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS A adjetivo f. arc. forma arcaica a.C. antes de Cristo f.ant. forma antiga adj. /ADJ adjetivo f. ant. pop. forma antiga popular Adv. advérbio fr. francês apud citação indireta fr. ant. francês antigo arc. arcaico(a) f. divg. forma divergente B infrm. Brasil informal fig. figura cap./Cap. capítulo G grau cf. / CF. confira gr. grego cfr. confira ICT Ictiologia d.C. depois de Cristo it. italiano dim. diminutivo l. linha(s) ed. edição lat. latim esp. espanhol lat. tar. latim tardio et al. e outros lat. vulg. latim vulgar ETIM étimo m. masculino ex. exemplo masc. masculino f. folha / fólio m.q. mesmo que f. forma mod. moderno fem. feminino N nome (substantivo) No. número sc. a saber 30  LPGPII – Lírica Profana Galego-Portuguesa II – Trovadores / Menestréis / Rei Trovador / Jograis / Segréis / Mercedes Brea (Coord.) - Equipe de Investigación: • Fernando Magán Abelleira • Ignacio Rodiño Caramés • María del Carmen Rodríguez Castaño • Xosé Xabier Ron Fernandez •• Equipo de Apoio: • Antonio Fernández Guiadanes • María del Carmen Vázquez Pacho  OCGV Obras Completas de Gil Vicente – Gil Vicente / Marques Braga (Org.) I – vol I; II – vol. II; III – vol. III; IV – vol IV; V – vol. V; VI – vol. VI.  LVC O Livro de Vita Christi – Ludolfo Cartusiano / Augusto Magne, S. J. (Org.)  LUS Os Lusíadas – Luiz Vaz de Camões / • Edição fac-similada, editada pela XEROX DO BRASIL S.A. REPRODUÇÕES GRÁFICAS. Rio de Janeiro: XEROX DO BRASIL, 1972. • Utilizou-se também do Índice Reverso de “Os Lusíadas” , organizado por Telmo Verdelho. Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1981.  QCDJI Quadros da Crónica de D. João I – Fernão Lopes / Rodrigues Lapa  TA Textos Arcaicos – Vários autores / Textos em prosa e em verso / José Leite de Vasconcelos (Coordenação/Anotações/Glossário) – Serafim da Silva Neto (Anotações)  TAII Testamento de Afonso II – Afonso II / Ivo Castro (IN: CHLP – Curso de História da Língua Portuguesa)  TCP Um Tratado da Cozinha Portuguesa – Autoria incerta / Antonio 31 Gomes Filho (Org.) – Reprodução fac-similar do manuscrito I – E da Biblioteca Nacional de Nápoles  VCPVC Vocabulário da Carta de Pero Vaz de Caminha – Pero Vaz de Caminha / Silvio Batista Pereira (Preparador da edição). / Foi consultada também a edição preparada por Jaime Cortesão (1967). Obs.: As referências completas das obras encontram-se nas REFERÊNCIAS. 32 LISTA DE SÍMBOLOS < provém de; origina-se de > dá origem a ~ alterna com Ø zero / morfema zero / singular † língua morta § parágrafo † morte * nascimento + fronteira de morfema # fronteira de palavra + mais -– menos + sim -– não [...] parte suprimida do texto † aposentado / aposentou-se ------ dados não registrados  étimo 35 4 Do Sufixo: Da Filologia e das Gramáticas Históricas à Lingüística e às Gramáticas Normativas Contemporâneas – Uma Revisão da Literatura 94 4.1 Introdução 94 4.2 Os Sufixos nos estudos de Filologia e de Gramática Histórica 95 4.2.1 Carolina Michäelis de Vasconcelos 95 4.2.2 José Joaquim Nunes 101 4.2.3 Manuel Said Ali (1931) 108 4.2.4 Manuel Said Ali (1964) 113 4.2.5 Joseph Hüber 114 4.2.6 Theodoro Henrique Maurer Junior 118 4.2.7 José Leite de Vasconcelos 125 4.2.8 Sousa da Silveira 128 4.3 O Sufixo nos Estudos da Gramática Normativa da Língua Portuguesa 130 4.3.1 Fernão de Oliveira 130 4.3.2 Júlio Ribeiro 134 4.3.3 João Ribeiro 138 4.3.4 Gladstone Chaves de Melo 140 4.3.5 Celso Cunha & Luís Felipe Lindley Cintra 143 4.3.6 Evanildo Bechara 145 4.4 O Sufixo nos Estudos Lingüísticos 150 4.4.1 Joaquim Mattoso Câmara Jr. 150 4.4.2 Margarida Maria de Paula Basílio 160 4.4.3 Cacilda de Oliveira Camargo 169 4.4.4 Antônio José Sandmann 175 4.4.5 Valter Khedi 180 4.4.6 Graça Maria de Oliveira e Silva Rio-Torto 182 4.4.7 Luiz Carlos de Assis Rocha 191 4.4.8 Alina Villava 198 4.4.9 Margarita Maria Correia Ferreira 204 4.4.10 Soledad Varela Ortega 211 PARTE II – ANÁLISE E DESCRIÇÃO DOS DADOS 220 5 ANÁLISE E DESCRIÇÃO DOS DADOS – UMA VISÃO MORFO-SEMÂNTICA DE ALGUNS PARES DE SUFIXOS – ERUDITOS X POPULARES – UTILIZADOS NA LÍNGUA PORTUGUESA 221 5.1 Introdução 221 5.2 Análise e Descrição dos Dados 222 5.2.1 O sufixo –ato 222 36 5.2.2 O sufixo –ado 227 5.2.2.1 Os sufixos –ato X –ado 265 5.2. 3 O sufixo –ático 267 5.2.4 O sufixo –adego 271 5.2.4.1 Os sufixos –atico X –adego 276 5.2.5 O sufixo –bil 277 5.2.6 O sufixo –vel 283 5.2.6.1 Os sufixos –bil x –vel 288 5.2.7 O sufixo –ense 289 5.2.8 O sufixo –ês 293 5.2.8.1 Os sufixos –ense x –ês 297 5.2.9 O sufixo –ario 298 5.2.10 O sufixo –eiro 311 5.2.10.1 Os sufixos –ario x –eiro 325 5.2.11 O sufixo –(t)orio 327 5.2.12 O sufixo –(d)oiro 330 5.2.12.1 Os sufixos –(t)orio x –(d)oiro 335 5.2.13 O sufixo –ura e seus alomorfes 336 5.2.13.1- Os sufixos –(d)ura ~ –(t)ura ~ –(s)ura X –ura: 345 REFERÊNCIAS 356 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 364 DICIONÁRIOS CONSULTADOS 378 CORPUS 382 SITES CONSULTADOS 386 VOLUME II – CORPUS (em CD-ROM) 0 Considerações sobre a Elaboração do Corpus 7 1 Das Obras Utilizadas para a Elaboração do Corpus 8 CORPUS 12 Fig. 1 – Livro das Horas (Book of Hours) 13 37 –(A)BEL ~ –(A)BIL ~ –(I)BIL ~ –(A)BELLE ~ –(A)BLE ~ –(A)UEL ~ –(A)UIL ~ –(A)VEL ~ –(A)VELL ~ –(A)VIL ~ –(Í)VEL ~ –(I)VIL ~ –(É) UELL 14 –AÇO ~ –AÇA ~ –ACU – AZO 28 –ACHO 30 –ÁDEGO ~ –ÁDIGO ~ –ÁTIGO 31 –(A)DA1 ~–(A)DO1 (SUBSTANTIVOS) 34 –(A)DA2 ~–(A)DO2 (ADJETIVOS) 69 –(A)DA3 ~–(A)DO3 (ADJETIVOS PARTICIPIAIS) 144 –(A)DA4 ~–(A)DO4 (VERBOS – (PARTICÍPIO PASSADO)) 221 –ALHA ~ –ALHO 231 –AIRA ~ –AIRO 233 –(A)NÇA ~ –(A)NCIA ~ –(A)NÇIA 239 –ANA ~ –ANO 263 –à ~ –ÃO 266 –ÁRIA ~ –ARIA ~ –ÁRIO ~ –ARIO ~ –ARIUS 272 –AZ 286 –ATA ~ –ATO 287 –ÇAM ~ –ÇO(M) ~ –ÇÃO ~ –SAM ~ –(S)SOM 288 –(D)OIRA ~ –(D)OURA ~ –(D)OIRO ~ –(D)OURO 324 –EDO 329 –EIRA ~ –EIRO ~ –EIRU ~ EYRA ~ –EYRO ~ –EYRU 331 –ELHA 398 –(E)NÇA ~ –(E)NCIA 398 –ENSE ~ –ENSIS 415 –ÊS ~–ESA 416 –ETA 417 40 INTRODUÇÃO Após exaustivo levantamento bibliográfico, pudemos verificar que os sufixos são, quase sempre, mal trabalhados, seja por filólogos, gramáticos, gramáticos ou lingüistas. Na maior parte das vezes, em especial nas gramáticas normativas, no capítulo referente à estrutura e formação de palavras, os sufixos são classificados em: a) nominais; b) verbais; c) adverbial. Geralmente, os autores apresentam tabelas e/ou quadros, e citam alguns exemplos, não mostrando ao leitor seu real funcionamento, uma vez que os mesmos não se encontram em uma enunciação. Com os recentes estudos nas Áreas de Lingüística Textual, Análise do Discurso, Análise Crítica do Discurso, Semiótica, Semiologia, entre outras Áreas que privilegiam o texto como objeto de análise e interpretação, a MORFOLOGIA tem ficado relegada a segundo plano. Pudemos verificar a imensa lacuna, nos dias atuais, em relação aos estudos lingüísticos nas Áreas que privilegiam a palavra, principalmente em estudos que tomam por objeto de análise e investigação o sufixo, em especial a Morfologia e a Lexicologia. Movido por esta ânsia e apaixonado pelo tema, é que resolvemos elaborar um Projeto sobre o mesmo. Inicialmente, fizemos a Disciplina Morfologia Lexical, sob a responsabilidade da Profa. Clotilde de Almeida Azevedo Murakawa, em 2003, na UNESP – Campus de Araraquara (SP). Do contato com ela, e de acordo com suas orientações, surgiu o Anteprojeto desta Tese. Como o assunto é bastante amplo, decidimo-nos verificar a evolução de alguns pares de sufixos – eruditos x populares – assim tratados pelas Gramáticas Históricas. 0.1 Da Justificativa: Quando se fala em estudos diacrônicos, nos dias atuais, – independente da Área de estudos lingüísticos a que sejam aplicados – a coisa fica então mais séria e complicada, e os trabalhos, cada vez, tornam-se mais escassos, raríssimos. 41 É por essa razão que se pretende o presente estudo a fim de contribuirmos com o desenvolvimento da Lingüística, em especial nas Áreas de Morfologia Histórica/Lexicologia, objetivando-se a dar uma contribuição, ainda que parcelar, a áreas pouco exploradas suficientemente. Na Contemporaneidade, no Brasil, poucos são os grupos e/ou pessoas dedicados à Morfologia, em especial na linha diacrônica, dentre os quais, destacamos: Obs.: O símbolo “†” indica aposentado(a). Fig. 0.2 – Grupos de Morfologia no Brasil na Cotemporaneidade Obs.: 1) Na realidade, o PROHPOR (UFBA) tem desenvolvido pesquisas em várias áreas da Lingüística Histórica e História da Língua Portuguesa, com excelentes trabalhos; Prof. Dr. Antônio José Sandmann († UFPR) Prof. Dr. Mário Eduardo Viaro (USP/SP – Morfologia Histórica do Português) Profa. Dra. Margarida Maria de Paula Basílio († UFRJ / PUC – RJ) Prof. Dr. José Lemos Monteiro - (UNIFOR / † UFC / † UECE) Profa. Dra. Rosa Virgínia Mattos e Silva (UFBA) – PROHPOR 42 2) O único grupo em franco desenvolvido relativo a pesquisas morfológicas diacrônicas, em especial, tem sido o do Prof. Dr. Mário Eduardo Viaro, docente da USP – SP. 0.2 Da Seleção dos Sufixos: Dada a complexidade do tema, selecionamos, para este trabalho, os seguintes pares de sufixos: SUFIXOS ERUDITOS: SUFIXOS POPULARES: ALÓGRAFOS: NOTAS: -(a)bil (lat.) -(a)vel -(a)bel ~ -(-e)vell ~ -(i)bil ~ -(í)vel ~ -(i)vell ~ -(i)velle ~ -(í)vil  Sufixos que apresen- tam o maior número de alógrafos. -ário (lat.) -eiro -arius  Há, ainda a forma intermediária –airo na passagem da forma erudita para a popular.  Apresentam vários homomórficos, ainda na fase arcaica do Português. -ático (lat.) -ádego ~ ádigo -(a)to (lat.) -(a)do -ense (lat.) -ês -ensis -tório (lat.) -doiro ~ -douro -(d)ura ~ -(s)ura ~ (t)ura -ura (lat.) Tabela 0.1 - Pares de sufixos eruditos x populares selecionados para o estudo desta tese. 0.3 Dos Objetivos: 45 portanto do vocabulário, pertencentes a uma fase pretérita da língua – a arcaica. Ainda assim, privilegia também a Semântica, uma vez que faz o levantamento dos significados presentes nos sufixos em latim e dos séculos XII a XVI. O trabalho insere-se, ainda, na Linha de Pesquisa de Estudos do Léxico, do Programa de Pós-graduação em Lingüística e Língua Portuguesa da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Campus de Araraquara – SP. 0.5 – Da Estrutura do Trabalho: Esta tese foi elaborada em dois volumes: no volume I, foi elaborada a tese propriamente dita; no volume II (CR-ROM), tem-se o corpus utilizado para análise e descrição dos dados. Este trabalho está estruturado em duas partes bem delimitadas: uma teórica e outra prática. A parte teórica apresenta 4 seções, assim delimitadas: 1. A Língua Portuguesa – História, Origem e Periodização; 2. O Português Arcaico – Marco Divisório e Obras Representativas; 3. Metodologia e Teoria; 4. Do Sufixo: da Filologia e das Gramáticas Históricas à Lingüística e às Gramáticas Normativas Contemporâneas: Conceitos e Característi- cas – Uma Revisão da Literatura. A parte prática apresenta apenas uma seção, na qual se faz a análise morfo- semântica de cada sufixo e observa-se se houve evolução, ou não, quanto ao(s) significado(s) presente(s) nos sufixos em Latim. 5. Análise e Descrição dos Dados – Uma visão morfo-semântica de alguns pares de sufixos – eruditos x populares – utilizados na Língua Portuguesa Arcaica. A seguir, são apresentadas as Referências e a Bibliografia Consultada, como é de praxe. 46 1 A Língua Portuguesa – História, Origem e Periodização 1.0 Introdução: A Língua Portuguesa, assim como as demais línguas românicas ou neolatinas (espanhol, italiano, francês, romeno, sardo, catalão etc.), originou-se do Latim – modalidade vulgar. Em relação à periodização da Língua Portuguesa, não há, como veremos, consenso em relação a ela entre os especialistas. Bastante diversa é a periodização e a terminologia apresentadas por Leite de Vasconcelos, Serafim da Silva Neto, Pilar Vasquez Cuesta, Luís-Felipe Lindley-Cintra e Maria Helena Mira Mateus. Antes, contudo, de nos atermos à periodização e à terminologia empregadas por esses autores, traçamos uma breve História da Língua Portuguesa. 1.1 Breve História da Língua Portuguesa: A Língua Portuguesa teve sua origem na Península Ibérica (parte Ocidental). A época de sua formação vai do século V ao século VIII da Era Cristã. No ano de 197a.C., a região peninsular foi romanizada, e o latim foi implantado como língua oficial, tendo absorvido as diversas línguas faladas por seus primitivos habitantes – cartagineses, celtas, iberos, fenícios, gregos, lígures. No século V d.C., os bárbaros invadiram a Península Ibérica. Eram de origem germânica e compreendiam várias nações, cada uma com o seu dialeto – vândalos, suevos, visigodos ou godos do ocidente. Os suevos fixaram-se no Noroeste da Península (Galiza) onde deram origem a um reino; os vândalos detiveram-se no Sul (Andaluzia). Os visigodos chegaram logo após; corajosos e destemidos, dominaram toda a Península e fundaram uma monarquia cuja capital era Toledo. Embora afeitos à guerra, os bárbaros não conseguiram ultrapassar a base romana na questão lingüística, por essa razão admitiram a civilização dos romanos, adotaram a língua latina vulgar e cristianizaram-se. No século VIII, os árabes avançaram sobre a Península Ibérica, derrotaram o exército dos visigodos e dominaram, no prazo de três anos, a Península. Mais tarde, perderam a batalha e foram derrotados por Carlos Martel ou Carlos Martelo (* 688, 47 Herstal – † 15/10/741, Quierzy–sur–Oise, filho bastardo de Pepino de Herstal (* 679 – † 714) e avô de Carlos Magno por linha paterna). Da convivência doa árabes com os peninsulares surgiram, na Península Ibérica, os moçárabes – cristãos arabizados pela necessidade de viver juntos – possuíam um “modus loquendi” todo especial: falavam românico e árabe. Conservaram as tradições cristãs e da língua, que se conservou românica. O árabe foi adotado, no entanto, o povo não o acatou e continuou a falar o romanço. Ainda no século VIII, no tempo da conquista árabe, o território dominado compreendia três partes: a) do Minho ao Douro; b) do Douro ao Tejo; c) uma outra parte – conquistada totalmente pelos mouros. Quase no findar do século XI, deu-se a cruzada contra os mouros. Afonso VI reservou ao príncipe Henrique de Borgonha, seu genro, o condado de Portus Cale (região entre o Minho e o Douro). Afonso Henriques, filho de Henrique de Borgonha, sucedeu a seu pai no condado, outorgou-se funções de suserano de Castela , deu a batalha a Ourique e se proclamou rei de Portugal em 1139. Os celtas, dominadores do noroeste da Península Ibérica, deixaram vestígios de independência política, e a região, reino dos suevos, foi, por essa razão, diferente do resto da região. Formou-se, no noroeste da Península, devido a antecedentes próprios e persistentes, um linguajar bem característico e regional – o Galeziano; a região foi denominada Gallaecia. É importante ressaltar que A independência do condado ressaltou mais as diferenças do falar do Norte e do Sul do Minho. Do Sul do Minho surgiu o português. Em 1250, D. Afonso II, [sic] conquista o Algarve; o domínio e as conquistas aumentam e o progresso se faz sentir em tôdas as regiões. A língua das populações sob o domínio dos mouros (moçárabes) foi paulatinamente absorvida pelo Português. Do Minho ao Guadiana era então falado o português. D. Pedro I (1400) fêz com que fôsse obrigatório o uso do Português em todos os atos públicos, isto é, escritos na língua vulgar e corrente. Aos poucos a língua vulgar foi sendo cuidada, polida e mais incentivada, atingindo o seu apogeu no século XVI. (TERSARIOL, 1966, p. 24 – 25) 1.2 A Origem da Língua Portuguesa: O português é uma das línguas românicas que derivam do latim – modalidade vulgar – que se opõe “ao latim literário e ao latim eclesiástico”, conforme observam Ilari & Basso (2006, p.16). 50 c) a celta; d) a balto-eslava; e) a germânica; f) a helênica; g) a hitita; i) a indo-iraniana. Castro1 observa que: Indo-europeu, enquanto adjectivo, designa o conjunto de ´línguas que, por meio de uma evolução regular, são provenientes de uma determinada língua, que desapareceu e não está atestada. Integram-se no conjunto das línguas indo-européias o latim e todas as línguas românicas, entre elas o português. Enquanto substantivo, indo-europeu designa a própria língua-não atestada. Mas designa também o povo que a falava. Recomenda Martinet que fórmulas como esta sejam entendidas no plural: não é de conceber que fosse uma língua estável e estruturada, falada por um povo fixado no terreno. É mais provável que fosse um conjunto de línguas evoluindo de modo conexo e usadas por povos não necessariamente aparentados. Martinet situa as suas origens cerca de 5000 anos antes de nossa era, num povo localizado no sudeste da União Soviética, que deixou consideráveis vestígios arqueológicos. Este povo iniciou uma deslocação para ocidente, em três vagas sucessivas que demoraram milénio e meio, vindo a fixar-se nas planícies do Báltico até ao Danúbio e aos Balcãs1 (CASTRO, 1991, p. 77 e 79) Vejamos, na próxima página, a “árvore genealógica” das línguas indo-européias (fig. 1.2): _______ 1 CASTRO (1991, p. 78) baseia-se em MARTINET (1987, p. 18). 51 A “árvore genealógica” das línguas indo-européias (fig. 1.2): Fig. 1.2 – Árvore genealógica das línguas indo-européias. (Fonte: CASTRO, 1991, p. 78, onde aparece como “Quadro III”.) 1.5 A România: Ivo Castro observa que România é um nome vivo ainda hoje, no sentido de comunidade de línguas derivadas do latim. Como as áreas do mundo ocupadas por estas línguas não coincidem mais com a área do Império Romano do Ocidente, costuma-se chamar România Nova às regiões que foram colonizadas por europeus a partir do século XVI e onde o português, o castelhano ou o francês continuam a ser falados. 52 Do mesmo modo, chama-se România Submersa ao conjunto de regiões da Europa que, tendo sido romanizadas, não albergam hoje uma língua românica. [...] (CASTRO, 1991, pp. 69 – 70) Romênia Mapa 1.1 – A Localização Atual da Romênia no Continente Europeu (Fonte: http://www.guiageo-europa.com/mapas/europa.htm Acessado em 17/07/2007 - 15:45h) 55 l) o português: falado no Brasil, em Portugal e algumas cidades fronteiriças, pertencentes à Espanha (no concelho de Barrancos, extremo oriental Alentejo, e em Olivença, ao norte deste concelho (fala-se aí uma variedade do alentejano); em Almedilha, na província de Salamanca (usa-se o português a par do espanhol); em Ermisende, na província de Samora (a fala aí usada apresenta fenômenos comuns ao trasmontano); em San Martín de Trevejo, Eljas e Valverde de Fresno, onde alternam o português e o espanhol) além de suas ilhas bem como suas colônias africanas (Guiné Portuguesa, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Santo Tomé, Príncipe, Madeira, Açores) e asiáticas (Índia Portuguesa (Goa, Damão, Diu), Macau e Timor Leste. Além dessas línguas, temos o dalmático: hoje é considerada língua morta. Outrora era falado na Dalmácia, região a que corresponde hoje a Iugoslávia. Por ocasião da morte do pedreiro Udina Burbur, o único informante da língua, desapareceu também esse rebento da latinidade. Isso ocorreu em 1898. Dentre as línguas românicas, 6 são oficiais: o português, o espanhol, o italiano, o francês, o romeno e o rético. Vejamos a localização das línguas românicas na Europa (Mapa 1.3) e os grandes grupos das línguas românicas (Mapa 1.4), na página seguinte: 56 Mapa 1.3 – As Línguas Indo-Européias da Europa (Fonte: CHAVES DE MELLO, 1981, p. 60) (Obs.: Em azul, destacam-se as línguas da Família Românica (italiano, provençal, franco-provençal, francês, espanhol, português, galego, sardo, romeno, catalão e rético) Mapa 1.4 – Grandes grupos de Línguas Românicas2 57 1.7 Periodizações e Subperiodizações do Português: Todas as línguas vivas vão mudando durante o tempo. Não existe nenhuma língua viva que se mantenha estática. As mudanças estruturais são aquelas que ocorrem na fonética, na morfologia, na sintaxe. As mudanças podem acontecer, também, em virtude de alguns fatores: a) as funções sociais que a língua foi assumindo e b) os graus de estandardização pelas quais passou. Em relação ao primeiro fator, temos a língua com sua capacidade de servir, ou não, de veículo para novos gêneros – literários ou não; em relação ao segundo fator, pensemos na ortografia e na organização dos textos, com suas tipologias, através dos tempos. Para Ilari & Basso (2006, p. 22), “As periodizações ajudam-nos a organizar nossos conhecimentos de como a língua foi mudando ao longo do tempo e têm um caráter de síntese”, pois levam em conta as mudanças estruturais e suas funções sociais, como já frisamos acima. Muitos autores já trataram da questão da periodização da língua portuguesa apresentando propostas para ela. Entre os principais, podemos citar: Clarinda Maia, Dieter Messner, Evanildo Bechara, Ivo Castro, Jaime Ferreira da Silva, José Leite de Vasconcelos, Lindley Cintra, Paul Teyssier, Pilar Vasquez Cuesta e Serafim da Silva Neto para ficarmos só com alguns nomes. No entanto, podemos afirmar apenas que: a) entre as propostas não há coincidência perfeita; b) há acordo quanto a reconhecer na história da língua três fases: uma arcaica, uma clássica, uma moderna ou contemporânea; c) quase todos os autores seguem os mesmos termos – os quais não são genuinamente lingüísticos, mas sim literários; d) quase todos os autores supracitados seguem o mesmo esquema de periodização lingüística, com exceção de dois deles: Dieter Messner e Evanildo Bechara; _______ 2 IN: <http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.editorialgalaxia.es/imx/linguas.gif&im grefurl=ttp://www.editorialgalaxia.es/nomundo/index.php%3Fid%3D1&h=258&w=427&sz=19&hl =ptBR&start=3&tbnid=9Ebj6DvDQXtuFM:&tbnh=76&tbnw=126&prev=/images%3Fq%3DL%25C3 %25ADnguas%2Brom%25C3%25A2nicas%26svnum%3D10%26hl%3Dpt- BR%26lr%3D%26sa%3DN> Acessado em 10/12/2006 – 11:15h 60 1.8 O português arcaico no tempo da língua portuguesa De acordo com Mattos e Silva denomina-se português arcaico [...] o período da língua portuguesa que se situa entre os séculos XIII e XV [...] qualquer tentativa de periodização histórica, como qualquer classificatória ou taxionomia é arbitrária e está necessariamente condicionada pelos princípios que estão na base da classificação. A delimitação do português arcaico, no fluxo da história da língua portuguesa, não poderá fugir a essa fatalidade. (MATTOS E SILVA, 2006, p. 21) Mattos e Silva (2006, p. 21) observa que historiadores e filólogos que se dedicam a esse período do português são unânimes em situar o início desse período da língua nos princípios do século XIII, uma vez que “é nesse momento que a língua portuguesa aparece documentada pela escrita” e o mesmo pode assim ser representado: Infográfico 1.1 - Fases do português arcaico (Fonte: Mattos e Silva (2006)) Século XIII Período pré-literário Proto-histórico Documentação remanescente do latim – traços indetectáveis da futura variante românica que se esboçava no noroeste da Península Ibérica Situado, em geral, a partir do século IX – traços da futura variante românica já podem ser detectados por especialistas em documentos escritos no tradicionalmente chamado latim bárbaro (latim notarial ou tabeliônico veiculado na área românica antes das línguas românicas se tornarem línguas oficiais) Pré-histórico Século XIV Século XV PORTUGUÊS ARCAICO PERÍODO PRÉ-LITERÁRIO 61 Mattos e Silva (2006, p. 22), contudo, afirma que “[...] o limite final desse período é uma questão em aberto, embora se costume considerar o século XVI como o ponto de partida de um novo período da língua.” Vejamos a posição da autora: Infográfico 1.2 – Primeiros Textos Medievais (Português Arcaico) (Fonte: MATTOS E SILVA (2006)) Século XIV Início da história escrita da língua portuguesa: Textos Iniciais: Testamento de Afonso II (1214) e Notícia do Torto (1214 – 1216), ambos escritos na segunda década do século XIII. Outros textos (na poesia): Cancioneiro Medieval Português (cantigas de amigo e cantigas de amor); Cancioneiro da Ajuda (fins do século XIII); Cantiga da Ribeirinha (de amigo); Cantiga da Garvaia (de amor) Século XV Século XII Século XIII Textos (cantigas) circulavam na tradição oral Século XVI Cancionei- ro da Biblioteca Nacional de Lisboa e Cancioneiro da Vaticana, descendentes de uma compilação de meados do século XIV Primeiras Gramáticas da Língua Portuguesa: a de Fernão de Oliveira (1536) e a de João de Barros (1540) Novo período na história da língua portuguesa PERÍODO PRÉ-LITERÁRIO PORTUGUÊS ARCAICO 62 Vejamos as principais periodizações apresentadas por Mattos e Silva (2006) em relação às épocas da Língua Portuguesa. A bem da verdade, a autora traz ao leitor a periodização apresentada por Ivo Castro, em sua obra Curso de História da Língua Portuguesa (1998). Época Leite de Vasconcelos Silva Neto Pilar V. Cuesta Lindley Cintra até s. IX (882) pré-histórico pré-histórico até +- 1200 (1214 – 1216) proto-histórico proto- histórico pré-literário pré-literário até 1385/1420 trovadoresco galego- português português antigo até 1536/ 1550 português arcaico português comum português pré-clássico português médio até s. XVIII português clássico português clássico até s. XIX/XX português moderno português moderno português moderno português moderno Tab. 1.2 – Periodizações da Língua Portuguesa. (Fonte: CASTRO (org. 1998:12), apud MATTOS E SILVA (2006)). O que nos é incontestável em relação à periodização acima é que até o século IX temos o primeiro período da Língua Portuguesa, chamado de pré-histórico por Leite de Vasconcelos e Silva Neto e de período pré-literário por Pilar V. Cuesta e por Lindley Cintra. Para esses dois últimos autores, esse período prolonga-se até 1214/1216 (século XIII); para aqueles esse primeiro período subdivide-se no período proto-histórico (de 882 até ± 1214/1216). Leite de Vasconcelos é o único autor que faz alusão ao português arcaico (de 1385/1420 até 1536/1550) não o subdividindo. A esse mesmo período, até 1385/1420, Leite de Vasconcelos o classifica como trovadoresco; Pilar V. Cuesta, como galego-português e Lindley Cintra como português antigo. Ao período que se 65 2.2 Os Mais Antigos Documentos da Língua Portuguesa: Os mais antigos documentos da língua portuguesa datam do século XII: a) em prosa: um Auto de partilha (1192), um Testamento (1193), uma Notícia de Torto (1206?); b) em verso: uma Cantiga de Pai Soares de Taveirós (1189), uma Cantiga del- rei D. Sancho (1194 – 1199). 2.3 Principais Obras do Período Arcaico: De acordo com Coutinho (1976, p. 67), “[...] as principais obras do período arcaico cujos manuscritos existem, em sua maior parte, na Torre do Tombo ou na Biblioteca de Lisboa, com a menção do século em que se supõe terem sido escritas” – algumas delas já estão transcritas e publicadas enquanto outras permanecem inéditas – estão abaixo relacionadas: I. SÉCULOS XII a XIV II. SÉCULO XIV a XV III. SÉCULO XV a XVI Cancioneiros Trovadores- cos (da Ajuda, da Vaticana, Colocci- Brancuti), Nobiliários, Orto do Esposo, Vergéu de Prazer e Consolação, Túngalo, Barlaam, Castelo Perigoso, Santos Mártires, S. Aleixo, S. Bento, S. Agostinho, S. Nicolau, Bíblia, Diálogos de S. Gregório, Vida de D. Telo, Flores de Dereito, Livro d´alveitaria, Livro de Esopo, Demanda do Santo Graal e Livro de Joseph ab Arimathia Estória Geral, Corte Imperial, Estória de Vespasiano, Vita Christi, Crônica da Fundaçam do Mesteiro de Sam Vicente, Crônica da Ordem dos Frades Menores e Legenda Áurea Ho Flos Sanctorum, Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, Livro de Montaria de D. João I, Leal Conselheiro de D. Duarte, Virtuosa Benfeitoria do Infante D. Pedro – obras de Fernão Lopes, Gomes Eanes de Azurara e de Rui de Pina, Crônica do Condestabre, Sacramental, Boosco deleitoso, Espelho de Cristina, - obras de Gil Vicente, Sá de Miranda e Jorge Ferreira Tabela 2.1 – Principais Obras do Período Arcaico da Língua Portuguesa (Fonte: COUTINHO: 1967, p. 67) 66 Somam-se às obras acima a messe de textos que se encontram em obras e publicações várias, a saber: Dissertações Cronológicas e Críticas de João Ribeiro; nos Documentos Inéditos de Oliveira Guimarães; nos Documentos Históricos da Cidade d´Évora de G. Pereira; nos Portugaliae Monumenta Historica; no Arquivo Histórico Português de Braamcamp Freire; na Revista Lusitana e no Arqueólogo Português. É importante ressaltar que para o conhecimento da língua portuguesa em sua fase arcaica são importantes tanto os textos em versos (lírica medieval) quanto os textos literários em prosa. Em relação aos textos em versos, cumpre-nos ressaltar: A documentação lingüística fornecida pelo conjunto da lírica medieval galego-portuguesa é riquíssima: seus dados são essenciais para o conhecimento do léxico da época. O fato de serem poemas de estrutura formal em versos rimados os torna fundamentais, no que concerne a estudos de história da língua, para o conhecimento de fatos fonéticos desse período, como sejam, por exemplo, questões referentes aos encontros entre vogais (hiatos/ditongos), ao timbre vocálico (abertura/fechamento), vogais e ditongos nasais/orais. A morfologia tanto a nominal como a verbal também tem nessa documentação uma fonte fundamental. A questão da sintaxe aí representada deve ser considerada, tendo sempre presente que o caráter excepcional e variável é essencial na construção poética. (MATTOS E SILVA, 1991, p. 32). Em relação aos textos literários em prosa, é importante destacar: Para o conhecimento da língua na sua fase arcaica é fundamental a produção em prosa literária. A documentação poética e a não-literária se complementam para o conhecimento do léxico do português arcaico. A prosa literária documenta abundantemente a morfologia nominal e verbal, as estruturas morfossintáticas dos sintagmas nominal e verbal. Sobretudo é importante para o estudo das possibilidades sintáticas da língua, porque não sofre as limitações, já ressaltadas, da documentação poética e jurídica. Para os estudos fonéticos oferece restrições decorrentes de não s e poder sistematizar com o mesmo rigor, relativamente possível para a documentação seriada não-literária, as relações entre som e letra, e por não oferecer os recursos formais da poesia. O fato de essa documentação não ser, em muitos casos, localizada, impede também que por ela se possa chegar a dados sobre a variação dialetal de então, quando é possível uma aproximação pela documentação jurídica. Quanto à cronologia dos fenômenos lingüísticos, embora não seja possível uma seriação estreita, como o é, para a documentação não- literária, toda ela datada, é possível, contudo, a partir de um corpus criteriosamente selecionado – se não datado, pelo menos situável em um determinado momento desse período – estabelecer um estudo diacrônico no âmbito do período arcaico com base nesses textos em prosa literária. Sem dúvida, é nesse tipo de texto que se podem entrever, com mais amplitude, os recursos sintáticos e estilísticos disponíveis para o 67 funcionamento efetivo da língua nesse período, já por serem textos extensos, já pela variedade temática. (MATTOS E SILVA, 1991, p. 38 – 39) Uma da mais completas relações das obras representativas do português arcaico, no entanto, foi elaborada por Ivo Castro em sua obra Curso de História da Língua Portuguesa (1991). Para ele, A produção regular de documentos em português só é conhecida a partir da segunda metade do século XIII: em 1255 começam a ser escritos em português alguns dos documentos saídos da chancelaria de D. Afonso III e em 1279 D. Dinis torna sistemático o uso do português como língua dos documentos oficiais. Pode assim usar-se o ano de 1255 como divisória. Antes desse ano, temos a chamada produção não-literária, cujo mais antigo documento conhecido é a escritura de fundação da igreja de Lordosa (ano de 882). É constituída por textos latinos em graus diversos de pureza, desde os muito fiéis aos modelos clássicos até outros que quase poderíamos classificar de românicos, ainda que revestidos de um leve véu alatinado. É evidentemente neste últimos que as possibilidades de encontramos formas e características do português antigo se multiplicam. (CASTRO, 1991, p. 182) Castro (1991, pp. 183 - 192), apresenta-nos as seguintes obras pertencentes à fase arcaica da língua portuguesa: I. Produção Primitiva Portuguesa: Constituída por documentos de caráter notarial escritos em português. Sua importância é excepcional para o estudo da primeira fase da história da língua portuguesa. a) Testamento de Afonso II (1214); b) Notícia de Torto (ca. 1214); c) dois documentos de Mogadouro1. Aqui citaram-se apenas os documentos hoje conhecidos; a crítica histórica provou a não autenticidade de outros documentos como Testamento de Elvira Sanches e Auto de Partilhas, supostamente escritos no século XII, mas, na 70 4. Livro de D. João de Portel Cartulário privado favorito do rei D. Afonso III, D. João Peres de Aboim, conhecido também como D. João de Portel. Contém cartas redigidas em latim, castelhano e português. Escritas provavelmente antes de 1285, ano da morte de D. João Peres de Aboim, foram publicadas na revista Archivo Historico Portuguez, por Pedro de Azevedo, entre 1906 e 1909. c) Leis Locais: Documentos não literários, incluem-se neles duas espécies diferentes: os Foros e os Forais. 1. Foros ou “Costumes”: são “[...] uma transposição para a escrita do direito consuetudinário tradicional de uma determinada vila, transmitido oralmente durante séculos e fixado num dado momento histórico por algum letrado, provavelmente um notário local.” (Cintra, 1963, p. 53, apud Castro, 1991, p. 188). Os foros mais antigos foram redigidos na segunda metade do século XIII e destacam-se:  Foros de Galvão (1267);  Foros da Guarda (copiado entre 1273 e 1282);  Costumes de Terena comunicados a Évora (1280);  Costumes de Santarém comunicados a Oriola (1294). 2. Forais: são “´cartas breves´, onde são contidos os direitos locais, direitos concedidos por um senhor feudal ou uma corporação superior (civil ou militar), mas frequentemente outorgados pelo próprio rei.” (Castro, 1991, p. 189). Todos os forais, de 1095 até 1279, foram redigidos em latim; apresentavam graus diferentes de “contaminação” de formas românicas. Totalizaram-se 261 forais; muitas das vezes foram escritos pelos notários do senhor ou do rei. 71 Os forais dos períodos supracitados foram recolhidos no volume II, Leges et Consuetudines dos Portugaliae Monumenta Historica. A circulação d e traduções portuguesas dos forais latinos só começam a circular no século XIV. d) Leis Gerais: Constituem-se de decretos, ou compilações de decretos, saídos das chancelarias reais. Sua promulgação afetava ou tentava afetar a inteira vida da nação. Esses textos aparecem editados no Portugaliae Monumenta Historica e possuem, de acordo com Cintra (1963, p. 55), “[...] um valor linguístico semelhante aos dos documentos das chancelarias reais. É difícil encontrar neles vestígios de particularidades linguísticas locais.” Destacam-se: a) Livro das Leis e Posturas ou Livro das Leis Antigas: manuscrito de fins do século XIV; conservado na Torre do Tombo. b) Ordenações de D. Duarte (de D. Afonso V); c) Ordenações Afonsinas (de D. Afonso V). e) Inquirições: Inquirições ou Inquisitiones são “[...] o resultado dos levantamentos escritos, em forma de relatórios, das propriedades e direitos da casa real.” (Castro, 1991, p. 189). Esses textos ofercem um material lingüístico excepcional, principalmente para o estudo da toponímia e da antroponímia. Destacam-se: a) Inquirições Gerais de D. Afonso II: de 1220, foram conservadas numa cópia ligeiramente posterior a 1289; b) Inquirições Gerais de D. Afonso III: de 1258, foram conservadas em uma cópia um pouco posterior. 72 Uma partes desses textos encontra-se recolhida no tomo IV de Inquisitiones da série Portugaliae Monumenta Historica. f) Outros: Castro (1991, p. 190) assim se refere a “uma série de textos inclassifcáveis, ou que preferimos incluir nesta última secção de documentos não literários, onde se podem encontrar elementos importantes para o estudo da história do português antigo.” Destacam-se:  Traduções de textos jurídicos castelhanos, nomeadamente da chancelaria do rei Afonso X, do século XIII e XIV;  Obituários da Sé de Coimbra dos séculos XIII e XIV;  Inventários das casas reais, particularmente a de D. Dinis (entre 1278 e 1282);  Inventários dos bens da Ordem de Avis (1364). Castro (1991, p. 190 – 192) cita ainda os seguintes textos4: Poesia: 1. Cancioneiro da Ajuda (ex do Col. Dos Nobres): Bibl. Da Ajuda, século XIII5; 2. Cancioneiro da Vaticana: Bibl. Vaticana, séculos XV – XVI6; 3. Cancioneiro da Biblioteca Nacional (ex Colocci-Brancuti): Bibl. Nacional de Lisboa, séculos XV – XVI; 4. Cantigas de Santa Maria [2 mss.: Madrid (Escorial) e Florença], século XIII; _______ 4 Castro não numera a produção abaixo. Seguimos “ipsis littris” a classificação realizada pelo autor. 5 Serafim da Silva Neto (1952) data-o de 1275. 6 Para Serafim da Silva Neto (1952), fins do século XV. 75 2. Crónica Geral de Espanha de 1344: 2 manuscritos: Academia das Ciências de Lisboa, século XV; B. N. Paris, século XV. 76 3 METODOLOGIA E TEORIA: Este capítulo divide-se em seções que procuram dar conta de como o trabalho foi desenvolvido, que métodos foram empregados e que teorias embasaram esses métodos. Para efeitos didático-pedagógicos, será feita uma apreciação referente: a) ao processo de constituição do corpus; b) às fontes utilizadas para a elaboração do corpus – informações gerais pertinentes às obras selecionadas; c) ao corpus propriamente dito utilizado neste trabalho; d) à descrição da recolha dos dados; e) ao percurso de análise dos dados, ou seja, à metodologia empregada. 3.1 Da Constituição do Corpus: Nem sempre conseguimos constituir um corpus de acordo com nossos reais interesses de investigação quando se trata de estudar um período lingüístico muito recuado de uma determinada língua. É o que sucede quando objetivamos aprofundar nossos estudos em relação à língua portuguesa arcaica: Quando estamos estudando uma sincronia pretérita de uma língua, não nos é possível constituir um corpus de acordo com os nossos interesses de investigação; ele já se encontra delimitado e restrito aos documentos existentes. No caso do período arcaico, essa documentação já é bastante determinada, por ser o período em que se inicia a produção de documentos escritos em português. Em um trabalho que procura descrever o quadro lingüístico de um momento histórico bastante extenso de uma língua, [...], não poderíamos almejar abranger toda a documentação remanescente do período arcaico, mas sim procurar constituir [...] um corpus representativo. (COELHO, 2004, p. 93 – 94 – grifos nossos) Dada a impossibilidade de se fazer um trabalho exaustivo, isto é, que esgotasse toda a produção arcaica, constituímos um corpus a partir de obras – em prosa e em verso; literárias ou não – do referido período. Uma vez que as obras originais que constituem a primeira edição de um livro – chamadas “edições prínceps” – referentes ao período arcaico da língua portuguesa são bastante inacessíveis, raras, muitas vezes de difícil acesso e localização, além de caras, quando encontradas, em sua maioria em sebos, optamos, na medida do possível, por utilizar uma “edição fac-similar” – aquela edição fiel ao original e 77 reproduzida por processo fotomecânico ou tipográfico, contudo, procurou-se utilizar de obras de eminentes autores representativas do período abordado, os mais importantes de cada período literário abordado (Trovadorismo  Humanismo  Classicismo  Literatura de Informação) 3.2 Das Fontes Utilizadas para a Elaboração do Corpus: Os textos selecionados, para a coleta dos dados, são em prosa e em verso e abarcam os diferentes gêneros e tipos textuais (poemas (líricos/ épico/ religiosos/ albas, alvas ou serenas, barcarolas ou marinhas, bailias ou bailadas, romaria, sonetos, tenções) cantigas (amor/ amigo/ escárnio/maldizer), cartas, receitas culinárias, doações, testamentos, crônicas, vilancetes, verbetes de dicionários, recibos de compra, manuscritos, editais, petições, procurações, tratados, denúncias, glossários, direito consuetudinário, tratado de poética, auto, farsa, comédia etc.), além de consultas e pesquisas em dicionários e em gramáticas da língua portuguesa. Versam as obras sobre temas diversos: amor, flora e fauna brasileiras, o “descobrimento” do Brasil, ingredientes e modo de fazer de receitas culinárias, doações e testamentos de bens, denúncias, vidas de reis portugueses, a vida no Brasil Colônia, coita d´amor, saudades do amigo que não regressa, o ambiente doméstico onde a moça aguarda o “namorado” (amante), aspectos típicos da vida dos jograis e/ou da corte, a impossibilidade de realização amorosa, lamento pela distância do namorado, amor cortês, diálogos com a natureza, narrações de vidas de santos, críticas diretas ou indiretas a pessoas da sociedade, narrativas de viagens, descrições de lugares, a instabilidade e a fugacidade da vida e dos bens materiais, a viagem de Vasco da Gama às Índias, a História de Portugal, narrativas cavaleirescas, milagres e mistérios de santos, etc. Muitas vezes, critica-se que muitas formas encontradas na língua ficam apenas nos grandes inventários das obras lexicográficas, principalmente nos Thesauru e, na realidade, nunca são utilizadas pelo povo que a fala. Por essa razão, os dados que compõem o corpus são baseados em documentações históricas e comprovam o uso por um autor ao retratar a época à qual pertence e de que faz parte e a linguagem utilizada pelo povo em determinado período histórico-literário; 80 textos traduzidos do latim ou de outras línguas. Na realidade, não apresentam grande valor literário, mas um valor lingüístico inestimável. Retratam, na sua maior parte, a vida medieval na sociedade portuguesa (corte principalmente) e descrições das flora e fauna brasileiras, a vida dos primeiros habitantes encontrados no Brasil etc. Utilizamo-nos de:  Coisas Notáveis do Brasil: sua autoria é incerta e ainda não foi comprovada, mas estudiosos atribuem-na ao Padre Luís da Fonseca ou ao Padre Francisco Soares.  Carta de Pero Vaz de Caminha: Considerada a “Certidão de Nascimento do Brasil”, título atribuído por Capistrano de Abreu. Nela o escrivão da armada de Cabral narra ao rei de Portugal a viagem iniciada em 26 de abril e concluída no dia 1º. De maio de 1500. Considerado o mais minucuoso e importante documento relacionado à viagem da esquadra de Cabral ao Brasil, o documento só se tornou público em 1790, sendo publicada a primeira vez no Brasil em 1817, pelo geógrafo Manoel Ayres do Casal, no primeiro volume da Corographia Brasílica..., de autoria de Manuel Aires do Casal. Contém informações e pormenores sobre a viagem ao Brasil e a estadia nesse país inexistentes em outras fontes conhecidas. Utilizamo-nos do “Vocabulário da Carta de Pero Vaz de Caminha”, edição preparada por Silvio Batista Pereira e publicada pelo INL/MEC em 1964.  Crônica de D. Pedro I, Crônica de D. Fernando e Quadros da Crônica de D. João I, todas de Fernão Lopes, integram a Chrónica dos feitos dos Reis de Portugal e Crônica da Tomada de Ceuta e Crônica dos Feitos de Guiné, de Gomes Eanes de Zurara ou Azurara. Todas as edições consultadas fazem parte da Livraria Clássica Editora.  Livro das Aves: de autoria desconhecida, foi preparada por um grupo de pesquisadores/professores da Universidade Federal da Bahia, sob a direção de Nelson Rossi. Aprsenta o fac-símile do códice utilizado e um glossário completo dos vocábulos utilizados na obra. 81  Obras Completas de Gil Vicente: obra em seis volumes, contém toda a produção dramática vicentina. Gil Vicente é considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Escreveu autos (peças teatrais de assunto religioso ou profano; sério ou cômico) , farsas (peças cômicas de um só ato, com enredo curto e poucas personagens, extraídas do cotidiano), comédias (peça cujo propósito é divertir pelo tratamento cômico das situações, dos costumes e dos personagens), etc. Sua obra reflete a mudança dos tempos e a passagem da Idade Média para o Renascimento.  O Livro de Vita Christi em Lingoagem Português - Vol. I: da autoria de Ludolfo Cartusiano. A edição é fac-similar e crítica e foi cotejada com os apógrafos de 1495 por Augusto Magne. Apresenta Glossário das palavras mais utilizadas na obra.  Os Lusíadas: obra de Luiz Vaz de Camões, considerado o maior escritor do Classicismo português e um dos maiores em Língua Portuguesa. Escritos em 1572, são um poema épico, divididos em dez cantos. O tema central é a viagem de Vasco da Gama às Índias e a história portuguesa, desde a luta contra os mouros invasores até a consolidação do Estado luso e as grandes navegações. Utilizamo-nos da edição fac-similar de 1972, editada pela Xérox do Brasil S.A. Reproduções Gráficas e do Índice Reverso de “Os Lusíadas”, organizado por Temo Verdelho (1981). Foram utilizadas ainda as seguintes Obras para a recolha dos dados e a montagem do corpus:  Textos Arcaicos. Para Uso da Aula de Filologia Portuguesa da Faculdade de Letras de Lisboa.: A obra é uma compilação de representativos textos arcaicos dos séculos XII a XVI, além de alguns textos não datados. Foi preparada por José Leite de Vasconcelos. Contém textos em prosa e em verso, de vários gêneros e tipos textuais (testamentos/poesias líricas/ crônicas/ testamentos/ doação/ títulos de venda/ direito consuetudinário etc.). Destaca-se o Testamento de Eluira Sanchez (1193). 82  Dicionários: Selecionamos o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado (5 vol.) e o Dicionário da Língua Portuguesa Arcaica, de Zenóbia Collares Moreira: ambos elaborados em verbetes por ordem alfabética, resgatam boa parte do vocabulário presente nos textos arcaicos do português sendo o de Machado mais completo e de superior valor – quer pelo número de entradas quer pelas abonações utilizadas.  Um Tratado da Cozinha Portuguêsa: obra do tipo descritivo-injuntivo, de autoria incerta, apresenta receitas culinárias, supostamente atribuídas a Rainha Dona Maria I de Portugal (* Lisboa, 17/12/1734 – † Rio de Janeiro, 20/03/1816), conhecida pelos cognomes de A Piedosa ou A Pia, devido à sua extrema devoção religiosa e como D. Maria, a Louca, devido à doença mental manifestada com veemência nos últimos 24 anos de vida, depois da morte de seu filho primogênito, que ela havia se recusado a vacinar contra a varíola, por motivos religiosos. Utilizamo-nos da obra publicada pelo INL/MEC, 1963, que traz a reprodução fac- similar do manuscrito I–E da Biblioteca Nacional de Nápoles; leitura diplomática; a leitura moderna dos textos e índice de vocábulos utilizados na obra. Utilizamo-nos, para a coleta de dados, de textos de documentação poética e de documentação em prosa (literária/não literária). Outras obras serviram-nos de fonte de consulta e pesquisa, embora não se tenha utilizado das mesmas para a elaboração do corpus, salvo quando encontravam-se passagens abonatórias delas nos Dicionários supracitados. São elas, principalmente:  1) ARROYO, L. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Ensaio de Informação à Procura de Constantes Válidas de Método. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos; Brasília: INL, 1976.  2) CAMARGO, C. de O. et al. Textos Medievais Portugueses – Cantigas de João Servando. Araraquara: Faculdade de Ciências e Letras/Centro de Estudos Portugueses “Jorge de Sena”, 1990. 85 Históricas/ Professor da Universidade de Coimbra) Séc. XIII a XV – PROSA, 1943. 4) CRÓNICA DE D. FERNAN- DO CDF Fernão Lopes / • Torquato de Sousa Soares (Introdução, seleção e notas, Doutor em Ciências Históricas/ Professor da Universidade de Coimbra) Cronista-mor da Torre do Tombo/ Historiador s.d. XX XIV Pertence à Coleção Clássicos Portvgveses – Trechos Escolhidos. Fernão Lopes II. • Integra a Chrónica dos feitos dos Reis de Portugal. • 2ª. ed. corrigida. Lisboa, Livraria Clássica Editora, s.d. 5) CRÓNICA DA TOMADA DE CEUTA CTC Gomes Eanes de Zurara (Azurara) / • Alfredo Pimenta (Introdução, seleção e notas) Cronista do Rei e Cavaleiro da Casa Real / • Titular Fundador da Academia Portuguesa da História e Conservador do Arquivo Nacional da Torre do Tombo 1942 XX XV Livraria Clássica Editora, Col. Clássicos Portvgveses – Trechos Escolhidos – Séc. XIII a XV – PROSA, 1942 6) CRÓNICA DOS FEITOS DE GUINÉ CFG Gomes Eanes de Zurara (Azurara) / • Álvaro Júlio da Costa Pimpão (Introdução, seleção e notas) Cronista e Guardador da Torre do Tombo / • Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra 1942 XX XV Livraria Clássica Editora, Col. Clássicos Portvgveses – Trechos Escolhidos – Séc. XIII a XV – PROSA, 1942 7) DICIONÁRIO ETIMOLÓ- GICO DA LÍNGUA PORTUGUE- SA DELP José Pedro Machado Lexicógrafo 2003 XXI 1952 XX • Obra em 5 volumes. • Utilizada a 8ª. ed. Lisboa, Livros Horizonte, Lda, 2003. 8) DICIONÁRIO DA LÍNGUA DLPA Zenóbia Collares Moreira Professora Titular de Literatura Portuguesa e 2005 XXI 2005 XXI • Elaborada em verbetes por ordem alfabética 86 PORTUGUE- SA ARCAICA Literatura Comparada no Curso de Letras e do Programa de Pós- Graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (A/Z), a obra pretende “[...] resgatar da dispersão o vocabulário da nossa língua em uso no período his- toricamente considerado ar- caico, ou seja, o que vai do século XII até o XVI.” (Introdução,pá- gina 17) • Cada verbete apresenta a classe gramatical a que pertence o lema. • Nem todos os verbetes apre- sentam abonações. • Não há referências ao étimo das palavras sele- cionadas. 9) DOCUMEN- TOS PORTU- GUESES DO NOROESTE E DA REGIÃO DE LISBOA DPNRL Ana Maria Martins (Org.) Diversos autores/ • Professora Universitária 2001 XXI XIII – XVI (1ª me- tade). Obs.: Há três docu- mentos não datados : um perten- cente ao Mostei- ro de S. Salva- dor de Moreira (Maço 8, 33), um ao Mostei- ro de São Pedro- so • A obra compõe-se de 218 documentos editados, na sua maioria inéditos: ape- nas 22 foram publicados. • Pertencem aos Mosteiros de S. Miguel de Vilarinho, S. Salvador de Moreira, S. Pedro de Cete, S. Pedro de Pedroso, S. João Baptista de Pendorada, S. André de Ansede e Chelas (região noroeste de Portugal) e a Lisboa. • • Há documen- tos de 1243 87 (Maço 4, 38) e outro ao Mostei- ro de São Miguel de Vilari- nho (Maço 2,41) (séc. XIII) a 1548 (séc. XVI). 10) LIVRO DAS AVES LA Jacira Andrade Mota/Rosa Virgínia Matos/Vera Lúcia Sampaio/ Nelson Rossi (Direção) • Diversos pesquisadores – Professores da Universidade Federal da Bahia 1965 XX XIV • A referida edição foi preparada, em edição crítica copiosamente anotada, enriquecida com a reprodução integral em fac- símile do valioso códice e acompanhada de um glossário completo. • Pertence à Coleção Dicionário da Língua Portuguesa – Textos e Vocabulários 4. • Foi publicada pelo Instituto Nacional do Livro/Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 1965. 11) LÍRICA PROFANA GALEGO- PORTUGUE- SA – VOL. I LPGPI Mercedes Brea (Coord.) • Equipe de Investigación: • Fernando Magán Abelleira • Ignacio Rodiño Caramés • María del Carmen Rodríguez Castaño • Xosé Xabier Ron Fernandez • Trovadores / Menestréis / Rei Trovador Jograis / Segréis (157 autores; 1071 páginas) • • Obs.: A edi- ção foi pre- parada por Professores Universitários - Pesquisa- dores do (Sub) XX XII – XV (início) – apro- xima- damen- te) • Corpus completo das cantigas medievais, com estudo biográfico,análise retórica e bibliográfica específica • Santiago de Compostela, Xunta de Galicia, Centro de Investigacións Lingüísticas e Literarias Ramón Piñero, 1996. 90 16) QUADROS DA CRÓNICA DE D. JOÃO I QCDJI Fernão Lopes • Rodrigues Lapa (Seleção, prefácio e notas) Cronista-mor da Torre do Tombo/ Historiador • Filólogo/ Professor Catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa 1956 XX XIV • Considerada a crônica medieval portuguesa mais importan- te, tanto pelos acontecimentos que relata como pela qualidade literária • • 9ª. ed., Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1956. 17) TESTAMEN- TO DE AFONSO II TAII, In: Curso de História da Língua Portugue- sa (CHLP), de Ivo Castro (1991) Afonso II (cognominado O Gordo, O Crasso ou O Gafo) 3º. Rei de Portugal XX – In: Cur- so de Histó ria da Lín- gua Por- tugue sa, de Ivo Cas- tro (1991) 1214 XIII • É considera- do o mais anti- go documento oficial (real) conhecido escrito e datado em português (27/06/1214). • Existem dois exemplares deste testamento, a cópia que foi enviada ao arcebispo de Braga e aquela que foi enviada ao arcebispo de Santiago. 18) TEXTOS ARCAICOS. PARA USO DA AULA DE FILOLOGIA PORTUGUESA DA FACULDADE DE LETRAS DE LISBOA. TA Leite de Vasconcelos • José Leite de Vasconcelos (Coordenação/Ano- tações e Glossário) Filólogo s.d. XX • Há textos não datados e textos repre- senta- tivos dos séculos XII a XVI. • Apre- senta docu- mentos em latim bárbaro, em portu- guês • Seleta de textos e/ou fragmentos representati- vos do Português Arcaico. • Há breves anotações – redigidas pelo Prof. Serafim da Silva Neto. • Há textos em prosa e em verso (doação / títulos de venda / testamentos / poesias líricas / tratado de poé- tica / direito consuetudiná- rio / crônicas / 91 arcaico e em galego- portu- guês. vilancete / poe- sia religiosa / cantigas etc.) • Traz o Testamento de Eluira Sanchez, texto de 1193. • Acompanha: um glossário com as principais palavras utilizadas nos textos, Breves Anotações e Corrigenda. • A edição utilizada foi a 4ª., s.d., Lisboa: Livraria Clássica Editora. 19) UM TRATADO DA COZINHA PORTUGUÊSA TCP • Autoria incerta • • Antônio Gomes Filho Professor 1963 XX XV • Por falta de título, pois o manuscrito não o possui, foi denominado Um Tratado de Cozinha Portuguêsa do Século XV. Contudo, diz-se tratar das famosas receitas da Rainha Dona Maria, de Portugal. • Traz a reprodução fac- similar do manuscrito I–E da Biblioteca Nacional de Nápoles; leitura diplomática; leitura moderna e índice de vocábulos. • A edição utilizada faz parte da Coleção Dicionário da Língua Portuguesa – TEXTOS E VO- CABULÁRIO, 2. INL/MEC, 1963. 92 20) VOCABULÁ- RIO DA CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA VCPVC Pero Vaz de Caminha Escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral/ XX 1500 XV • Considerada a “Certidão de Nascimento do Brasil”. • Edição consultada: a preparada por Sílvio Batista Pereira, lingüista / filólogo • INL/MEC – Col. Dicionário da Língua Portuguesa. TEXTOS E VOCABULÁ- RIOS 3, 1964 Tabela 3.1 – Da Constituição do Corpus desta tese. 3.4 Metodologia Utilizada na Recolha e na Análise dos Dados: Em relação ao levantamento do corpus utilizado no trabalho, foram seguidos os passos:  Foram levantadas as passagens onde ocorriam os sufixos delimitados para esta pesquisa: alguns pares de sufixos nominais (eruditos x populares), já arrolados na Introdução.  A coleta de dados foi feita inicialmente em fichas pautadas “6 x 9” e, a seguir, os dados foram digitados. Os dados foram coletados em obras dos séculos XII ao século XVI.  Após a montagem do corpus, procedeu-se à análise e à descrição dos dados, levando-se em consideração as variantes dos morfemas sufixais e, acima de tudo, a semântica deles, a fim de se perceber a evolução dos mesmos ao longo dos séculos que constituem o português arcaico.  O método utilizado na análise dos dados é o dedutivo: parte de aspectos gerais para os específicos e chega-se a conclusões a respeito do tema em estudo. 95 Sem a pretensão de esgotarmos o assunto, faremos um recorte, a fim de verificar como especialistas de diferentes áreas do saber, que tomam a língua por objeto de estudo, procederam em seus estudos e análises sobre o referido tema. 4.2 O Sufixo nos estudos de Filologia e de Gramática Histórica: Vejamos a posição de alguns filólogos e/ou gramáticos históricos sobre sufixos e/ou sufixação: 4.2.1 Carolina Michaëlis de Vasconcelos: Carolina Michaëlis de Vasconcelos, em sua obra Lições de Filologia Portuguesa. Segundo as Prelecções Feitas ao Curso de 1911/1912, Tomo I, em sua Lição V [Derivação e Composição. Noções Gerais, Preliminares, Teóricas], lembra- nos de que a sufixação, prefixação e composição não são privativas das línguas românicas, mas são processos comuns a toda a família indo-germânica. Em alguns idiomas, no entanto, prevalecem as derivações e em outras as composições (por exemplo, no alemão e no grego). Nas formações novilatinas, seus protótipos são elementos latinos e gregos. Com muita propriedade, a autora adverte-nos: A história da sufixação, prefixação e composição portuguesa está por escrever. Há, isso sim, em cada gramática portuguesa destinada ao ensino secundário oficial, um capítulo sôbre derivação e composição, com listas dos sufixos e prefixos que servem actualmente para a formação de substantivos, adjetivos e verbos, ordenados alfabèticamente, ora segundo as funções que êles exercem. Mas os fins práticos e restritos dessas obras não admitem que a matéria seja tratada exaustivamente, nem mesmo com certa extensão e intensidade. É justíssimo que nelas não só registem os sufixos mais produtivos, com breve indicação das suas funções regulares e das classes gramaticais a que se costumam juntar. Arcaísmos, vulgarismos, formações isoladas e irregulares e sufixos extintos ou petrificados, não em que fazer em livros escolares. [...] O que se podia e devia fazer é ensinar algo sôbre o grau de popularidade e produtividade de cada sufixo. [...] O que também se podia fazer é mostrar a distinção entre sufixos de forma popular como –eiro, –deiro, –doiro e os correspondentes literários –ário, –tário, –tório. Não nos parece bom confundirem-se vocábulos realmente nacionais, criados em Portugal, com os herdados que entraram prontos e feitos, no idioma; nem com formações tardias e eruditas. (VASCONCELOS, 1946, p. 41 – 42, grifos nossos) 96 Carolina Michaëlis de Vasconcelos não traz em sua obra um conceito explícito de sufixo(s), mas nos coloca em relação a ele(s), as seguintes características: a) É um dos tipos de afixos – elemento que exprime idéias secundárias tanto em línguas primitivas como nas derivadas; os outros dois afixos são os prefixos e os infixos; b) Seguem as raízes, os radicais, os temas ou as palavras primitivas; c) Soldado às raízes – aos radicais, aos temas – ou às palavras primitivas: particularizam-lhes e determinam-lhes a significação em diversos sentidos; d) São a classe mais numerosa e a mais importante, seguida, respectivamente, pelos prefixos e pelos infixos – estes originam formações curiosas; e) Originariamente, nos primeiros estádios das línguas, os sufixos foram também raízes, assim como os demais afixos. Foram [...] sílabas curtas e únicas, meros grupos de consoantes, ou mesmo uma só consoante ou uma só vogal para simbolizar coisas concretas, qualidades abstractas, actos e fenómenos naturais que mais profundamente impressionaram os nossos antecessores – o homem primitivo. (VASCONCELOS, 1946, p. 49) f) Empregados como complementadores e modificadores da idéia essencial: pouco a pouco, reduziram-se a elementos só de relação, de valor abstrato e perderam a sua independência, só readquirida, momentaneamente, em línguas modernas; g) Originários das línguas primitivas e pelo que se vê nas derivadas; h) Muitos sufixos se fundiram com o tema e, por esta razão, passaram às línguas românicas sem serem sentidos e percebidos como tais: 97 benignus (benino XV, benygno XV; ETIM lat. benìgnus,a,um 'benigno, benévolo, bondoso (Houaiss, versão eletrônica; CUNHA, 1986) malignus (malino XIV; > lat. malignus; ETIM lat. malignus,a,um 'que tem má índole'; f. ant. pop. malino) (Houaiss, versão eletrônica; CUNHA, 1986) velho é veclo (> vetulus; vet (radical) + -ulus (sufixo); ETIM lat. vetùlus,a,um 'um tanto velho', dim. de vètus,èris 'velho, idoso, antigo', através de uma f.*vetlu pronunciada /veclu/, que passou de dim. a normal, registra Nascentes1) rolha está por rótula (XVI) (> *rocla > *rogla > *royla > rolha; ETIM lat. rotla,ae, dim. de rota,ae 'roda', com prov. evolução rtla > *rocla > port. rolha;) (Houaiss, versão eletrônica; CUNHA, 1986) malha2 está por mácula (lat. séc. XVI; ) tábua está por tabula (taboa XIII, tauoa XIII, tauoas XIV, tauola XIV, tauua XV, tabola XVI, tabla XIV; ETIM lat. tabùla,ae) (Cf. Houaiss, versão eletrônica) névoa está por nbla (neuoa XIV, nebla XIV; ETIM lat. nebùla,ae 'névoa, nevoeiro, cerração) (Cf. Houaiss, versão eletrônica) póvoa está por popula (ETIM orig.contrv.; fem. de povoo, f. arc. de povo; há quem considere regr. de povoar, o que pressuporia maior antiguidade para o verbo; ´pequena povoação; povoado, vilarejo) (Cf. Houaiss, versão eletrônica) mágoa está por macula (ETIM lat. macùla,ae 'mancha, malha', f.divg. de mácula, mancha e mangra) (Cf. Houaiss, versão eletrônica) ______ 1 Cf. Houaiss, versão eletrônica. 2 ETIM fr. maille 'laçada, anel, mancha', do lat. macla,ae 'mancha na pele, mancha, nódoa; erro, incorreção; p.ext. malha de tecido ou rede; fig. desonra, infâmia, vergonha' (Cf. Houaiss, versão eletrônica)
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