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Autismo um estudo de habilidades comunicativas em crianças, Notas de estudo de Fonoaudiologia

Analise as habilidades comunicativas verbais e não-verbais de crianças autistas.

Tipologia: Notas de estudo

2012

Compartilhado em 17/06/2012

ludmila-zamperlim-figueira-10
ludmila-zamperlim-figueira-10 🇧🇷

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Baixe Autismo um estudo de habilidades comunicativas em crianças e outras Notas de estudo em PDF para Fonoaudiologia, somente na Docsity! 598 Rev. CEFAC. 2009 Out-Dez; 11(4):598-606 AUTISMO: UM ESTUDO DE HABILIDADES COMUNICATIVAS EM CRIANÇAS Autism: a study on communicative abilities in children Lílian Dantas Campelo (1), Jonia Alves Lucena (2), Cynthia Nascimento de Lima (3), Helane Mariza Machado de Araújo (4), Larissa Gomes de Oliveira Viana (5), Mariana Martins Lira Veloso (6), Priscila Izabela Freitas de Barros Correia (7), Lílian Ferreira Muniz (8) RESUMO Objetivo: analisar as habilidades comunicativas verbais e não-verbais de crianças autistas. Métodos: foram selecionadas seis crianças com o diagnóstico de atraso de linguagem secundário a autismo, submetidas à terapia fonoaudiológica em uma clínica escola de uma universidade privada da cidade do Recife. As crianças foram observadas em duas sessões de terapia, que foram gravadas em fita VHS para posterior análise e discussão. A análise foi baseada no uso do protocolo de observação pertencente ao ABFW, que contempla os meios e funções comunicativas. Resultados: em detri- mento dos meios vocais e verbais, o meio gestual apareceu com maior frequência nos atos comunica- tivos. Os gestos, mesmo constituindo uma forma de comunicação não verbal, demonstraram, muitas vezes, expressar intenções dos sujeitos. Com relação às funções comunicativas, pôde-se concluir que houve uma grande variedade das mesmas, porém, entre as vinte funções investigadas, apenas poucas se destacaram. Entre elas, apareceram, predominantemente, as funções não-focalizadas, protesto, exploratória e reativa. Conclusão: foi possível verificar que as crianças investigadas utili- zam formas funcionais de comunicação nos diferentes contextos situacionais, entre as habilidades verbais e não-verbais, aspectos considerados essenciais para a proposição de recursos na interven- ção fonoaudiológica. DESCRITORES: Linguagem; Transtorno Autístico; Fonoterapia (1) Fonoaudióloga; Associação de Proteção à Maternidade e da Infância da Vitória de Santo Antão, APAMI, Santo Antão, PE; Pós-Graduada em Linguagem pela Universi- dade Católica de Pernambuco. (2) Fonoaudióloga; Professora Adjunta da Universidade Cató- lica de Pernambuco, UNICAP, Recife, PE; Doutora em Psi- cologia Cognitiva. (3) Fonoaudióloga; Universidade Católica de Pernambuco, UNICAP, Recife, PE. (4) Fonoaudióloga; Clínica Integrada Médico-odontológica, MA; Pós-Graduada em Motricidade Oral com enfoque em Disfagia pela Faculdade Integrada do Recife. (5) Fonoaudióloga; São Lourenço da Mata, PE; Pós-Graduada em Fonoaudiologia Hospitalar pela Faculdade Estácio de Sá. (6) Fonoaudióloga; Centro Psicopedagógico de Atividades Integradas, Recife, PE. (7) Fonoaudióloga; Núcleo Ortopostural de Recife, PE; Pós- Graduada em Motricidade Oral com enfoque em Disfagia pela Faculdade Integrada do Recife. (8) Fonoaudióloga; Professora Assistente da Universidade Católica de Pernambuco, UNICAP, Recife, PE; Doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco. Conflito de interesses: inexistente „ INTRODUÇÃO O autismo infantil é considerado um distúrbio global do desenvolvimento que atinge a lingua- gem, a cognição e a interação social. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), na classifi- cação internacional das doenças, o autismo é uma síndrome presente desde o nascimento, que se manifesta antes dos 30 meses, apresentando como características respostas anormais a estímulos auditivos ou visuais, como também dificuldades na compreensão da linguagem 1. Algumas característi- cas de crianças autistas são enumeradas e podem ser utilizadas como critério de diagnóstico: dificulda- des de relacionamento no início da vida; atraso no desenvolvimento da linguagem, envolvendo inver- são pronominal, ecolalia, comportamento obsessivo e uso ritualístico da linguagem; repertório restrito de atividades e interesses, com desejo obsessivo pela manutenção da mesmice; desenvolvimento Comunicação em crianças autistas 599 Rev. CEFAC. 2009 Out-Dez; 11(4):598-606 intelectual normal, com memória imediata exce- lente; desenvolvimento físico normal 1,2. Na verdade, o conceito atual de autismo envolve discussões que estão ligadas às diversas formas de pensamento, associadas à compreensão das alterações de relacionamento, afetividade ou com- portamento. Entretanto, independente de qualquer abordagem conceitual, hipótese etiológica ou crité- rio de diagnóstico, a linguagem sempre representa um aspecto fundamental desse quadro 3-7. Diversas pesquisas associam as alterações na linguagem às causas do autismo infantil, quer seja como ele- mento desencadeador, quer como um aspecto afe- tado pelas mesmas desordens que o causam. Além disso, a linguagem também está ligada ao prognós- tico desse transtorno infantil 1,8-10. As maiores dificuldades de linguagem enfren- tadas por crianças com autismo são relacionadas aos aspectos pragmáticos e à estruturação de nar- rativas. Limitações de compreensão sobre como as pessoas usam a linguagem para obter algo e na interpretação de narrativas, impedem o sujeito autista de compreender, enunciar e manter uma conversação 8,9,11-13. A teoria pragmática envolve os aspectos funcionais da linguagem, investigando as reações ou os efeitos de uma determinada emis- são no ambiente ou no interlocutor, levando-se em conta tanto a linguagem verbal como não-verbal, os aspectos sociais e ambientais, ou seja, a relação entre a linguagem e o contexto 1,9,14,15. A partir do momento em que a linguagem passa a ser vista não só como um código ou conjunto de regras gramaticais, mas também como atividade dialógica e cognitiva, é possível investigá-las em crianças com limitação ou ausência de linguagem, como no caso de algumas crianças autistas. Essa concepção de linguagem amplia o universo de investigação, na medida em que inclui os comporta- mentos não verbais no fenômeno da linguagem. A avaliação observacional, por exemplo, possibilitará obter dados qualitativos sobre os possíveis transtor- nos no desenvolvimento da linguagem, na medida em que não se preocupa com o número de respos- tas corretas ou incorretas da criança, mas com o funcionamento da linguagem. A partir dessa forma de avaliação, é possível se obter dados menos arti- ficiais, ou seja, dados mais condizentes com a reali- dade comunicativo-linguística do cliente 1,14. Para a determinação do perfil comunicativo de crianças autistas, foi elaborado um protocolo de observação 16 que envolve a identificação de 20 categorias funcionais. De acordo com esta pro- posta, os atos comunicativos começam quando a interação adulto-criança, criança-adulto, ou criança- objeto é iniciada e termina quando o foco de atenção muda ou há uma troca de turno; a melhor situação de coleta de dados é a de linguagem espontânea. Quanto ao meio comunicativo utilizado, os atos comunicativos são divididos em: verbais (VE), que envolvem pelo menos 75% dos fonemas da língua; vocais (VO), que envolve todas as outras emis- sões; e gestuais (GE) que envolve os movimentos do corpo e do rosto. É comum as crianças autistas utilizarem mais comunicação gestual, menos verbal e poucas vocalizações, de acordo com estudos que analisam aspectos funcionais da comunicação tera- peuta – paciente na terapia de linguagem de crian- ças autistas 16,17. É interessante comentar que no trabalho com crianças autistas, o fonoaudiólogo deve ter em mente que se trata de um quadro clínico objeto de contradições e frequentes mudanças na sua descri- ção e categorização. O olhar do fonoaudiólogo deve extrapolar os limites dos meros sintomas apresen- tados pelos indivíduos, buscando-se sentido e inter- pretação. A linguagem, por sua vez, deve ser con- cebida em seu sentido mais amplo, ou seja, como instrumento da ação e interação da criança sobre o ambiente e sobre os outros. Ressalte-se que a abordagem teórica aqui adotada concebe a lingua- gem como elemento nuclear do estudo da comuni- cação. A partir da compreensão mais aprofundada sobre a linguagem, torna-se possível contribuir para a atuação fonoaudiológica junto a estas crianças, fortalecendo outras propostas diversas de estudos na área 18 que já buscaram determinar o perfil fun- cional da comunicação de crianças e adolescentes com diagnósticos incluídos no espectro autístico. Sob esta perspectiva, esta pesquisa busca analisar as habilidades comunicativas verbais e não-verbais de crianças autistas. „ MÉTODOS Este estudo caracteriza-se como exploratório e descritivo. A coleta de dados foi realizada em uma clínica escola da cidade do Recife. Foram selecio- nadas para fazer parte da amostra crianças com atraso de linguagem, encaminhadas por psiquiatras com diagnóstico de transtorno autista, de acordo com o DSM-IV e a CID-10. Todas as crianças eram do sexo masculino, tinham idade entre quatro e 10 anos, estavam em acompanhamento fonoaudio- lógico e frequentavam escolas da rede pública de ensino, em turmas da Educação Infantil. Inicialmente, o estudo foi apresentado aos pais e/ou responsáveis pelas crianças selecionadas para a pesquisa. Aqueles que permitiram a partici- pação das crianças assinaram o Termo de Consen- timento Livre e Esclarecido. Posteriormente, cada criança foi observada, indi- vidualmente, em duas sessões de atendimento na 602 Campelo LD, Lucena JA, Lima CN, Araújo HMM, Viana LGO, Veloso MML, Correia PIFB, Muniz LF Rev. CEFAC. 2009 Out-Dez; 11(4):598-606 Tabela 1 – Distribuição numérica e percentual dos meios comunicativos utilizados pelas crianças MEIO C1 C2 C3 C4 C5 C6 TOTAL N % n % n % n % N % N % n % VERBAL 0 0% 0 0% 4 5% 0 0% 18 17% 18 12% 40 6% VOCAL 13 21% 56 23% 15 20% 15 18% 21 19% 39 26% 159 22% GESTUAL 50 79% 188 77% 57 75% 70 82% 69 64% 93 62% 527 72% TOTAL 63 100% 244 100% 76 100% 85 100% 150 100% 150% 100% 726 100% LEGENDA C1 CRIANÇA 1 C3 CRIANÇA 1 C5 CRIANÇA 1 C2 CRIANÇA 1 C4 CRIANÇA 1 C6 CRIANÇA 1 Tabela 3 – Distribuição numérica e percentual das funções comunicativas mais ocorridas nos seis sujeitos estudados, segundo meio comunicativo Tabela 2 – Distribuição numérica e percentual das funções comunicativas predominantes de cada criança CRIANÇA 1 CRIANÇA 2 CRIANÇA 3 CRIANÇA 4 CRIANÇA 5 CRIANÇA 6 P1 NF 36 - 57% NF 115 – 47% NF 16 – 20% PR 27 - 33% PR 51 - 47% PR 35 - 23% P2 PR 8 - 13% XP 97 – 40% RE 14 - 18,5% J 19 - 22% NF 23 - 21% NF 32 - 21% P3 EP 6 - 10% PR 10 – 4% J 12 – 16% RE 10 - 12% RE 14 - 13% PE 19 - 13% P4 PA 6 - 10% J 9 – 4% XP 11 – 15% NF 6 – 7% XP 8 - 7,5% XP 16 - 10% P5 XP 3 - 5% PA 4 - 1,5% PR 8 - 11% PA 5 -6% JC 5 - 5% N 11 - 7% P6 RE 2 - 2,5% PO 4 - 1,5% N 5 - 7% JC 5 – 6% PO 4 - 3,5% JC 10 - 6,5% P7 OS 2 - 2,5% OS 3 – 1% C 4 - 5% EP 4 - 4,5% PA 1 - 1% RE 9 - 6% P8 / / JC 2 – 1% JC 3 - 4% PE 4 - 4,5% J 1 - 1% E 5 - 3,5% P9 / / / / PE 2 – 2,5% XP 3 – 3% EX 1 - 1% RO 4 - 3% P10 / / / / RO 1 - 1% PO 1 – 1% / / C 3 - 2,5% P11 / / / / / / PS 1 – 1% / / EX 2 - 1,5% P12 / / / / / / / / / / PA 2 - 1,5% P13 / / / / / / / / / / PO 1 - 0,75% P14 / / / / / / / / / / J 1 - 0,75% LEGENDA PO PEDIDO DE OBJETO N NOMEAÇÃO P1 POSIÇÃO 1 PA PEDIDO DE AÇÃO PE PERFORMATIVO P2 POSIÇÃO 2 OS PEDIDO DE ROTINA SOCIAL EX EXCLAMATIVA P3 POSIÇÃO 3 PC PEDIDO DE CONSENTIMENTO RE REATIVOS ... ... PI PEDIDO DE INFORMAÇÃO NF NÃO-FOCALIZADA PR PROTESTO J JOGO RO RECONHECIMENTO DO OUTRO XP EXPLORATÓRIA E EXIBIÇÃO NA NARRATIVA C COMENTÁRIO EP EXPRESSÃO DE PROTESTO AR AUTO-REGULATÓRIO JC JOGO COMPARTILHADO MEIO NF PR XP RE TOTAL n % n % n % n % n % VERBAL 7 3% 16 12% - - - - 23 4% VOCAL 69 30% 34 24% 17 12% 16 32% 136 25% GESTUAL 151 67% 89 64% 121 88% 34 68% 395 71% TOTAL 227 100% 139 100% 138 100% 50 100% 554 100% LEGENDA NF FUNÇÃO NÃO FOCALIZADA PR FUNÇÃO PROTESTO XP FUNÇÃO EXPLORATÓRIA RE FUNÇÃO REATIVA Comunicação em crianças autistas 603 Rev. CEFAC. 2009 Out-Dez; 11(4):598-606 É relevante valorizar a linguagem da criança autista como um todo, atribuindo significados e sentidos, tanto aos aspectos da comunicação verbal como não-verbal, mais do que se preocupar, prioritaria- mente, com a fala propriamente dita. Portanto, se os gestos são uma forma encontrada pela criança autista para se comunicar, eles devem ser reinter- pretados e ressignificados pelo fonoaudiólogo. Ainda sobre a utilização de gestos, comenta-se que raramente são utilizados pela criança autista com finalidade comunicativa 11. No entanto, cons- tata-se, neste estudo, que, em algumas situações, os gestos têm intenção comunicativa, como pode ser constatado nas sequências de atos 1, 2 e 3, ilustradas a seguir. Nas sequências 1 e 2, sugere- se que, através dos gestos, as crianças estudadas tinham a intenção de fazer com que a terapeuta realizasse uma ação desejada. Na sequência de atos 3, verifica-se a resistência da Criança 2 (C2) em calçar as sandálias, por saber que nesse momento acabaria a sessão de terapia e ela deve- ria ir embora. SEQUÊNCIA DE ATOS 1: C2 olha para a terapeuta, segura sua mão e a conduz para o armário. C2 faz com que a terapeuta coloque o avião no armário, bate palmas e emite vocalizações. C2 segura novamente a mão da terapeuta para que o coloque no colo, a fim de que possa alcançar o armário com o objetivo de tentar pegar uma caixa que estava dentro dele e a tera- peuta pede que ele pegue o avião. SEQUÊNCIA DE ATOS 2: Criança 5 (C5) tenta tirar a meia do pé, mas não consegue, então a terapeuta tira-a, depois mostra para C5. C5 olha a meia e depois olha para o pé esquerdo, que ainda está com meia, e a terapeuta tira sua meia. SEQUÊNCIA DE ATOS 3: A terapeuta chama C2 para calçar a sandália. C2 vai para o colchão e pula, olhando a terapeuta pegar a sandália. C2 senta no colchão, emite voca- lizações, olha e pega a sandália. A terapeuta per- gunta a C2 como calçar a sandália, C2 levanta-se e empurra com os pés as mesmas. Quanto às funções comunicativas predominan- tes em cada criança estudada, foram destaque a não-focalizada (NF) e protesto (PR). A função não focalizada (NF), que corresponde aos atos ou emis- sões produzidos 12,16, embora o sujeito não esteja focalizando sua atenção em nenhum objeto ou pes- soa, prevalece em três crianças das seis estudadas (Criança1 – C1; Criança 2 – C2; e Criança 3 – C3). Para Delinicolas e Young, dificuldades em man- ter a atenção são características de crianças com autismo, já que tem estreita relação com a capaci- dade de se relacionar socialmente 22. Outros autores supõem, inclusive, que o uso estereotipado e rígido da linguagem serve como regulador da interação 23. Aqui, faz-se necessário chamar a atenção para o fato de que a fala ecolálica é alvo de discussões na literatura fonoaudiológica. Cabe destacar, entre- tanto, que os estudos mais recentes sobre a ecola- lia procuram atribuir sentido a esta forma de comu- nicação. Pela heterogeneidade indefinível de falas consideradas ecolálicas, como é encontrado em diversos estudos, deve-se entender a ecolalia como um acontecimento que faz parte do todo de uma fala. A singularidade dos sujeitos e dos processos vividos por ele deve ser valorizada. A autora chama a atenção para a importância de uma nova “escuta”, que resulta em novas perspectivas terapêuticas 24. Considera-se, então, que é, de fato, importante levar em conta as especificidades e particularidades dos sujeitos que estão por trás dessa fala, pois são essas diferenças que devem instigar o terapeuta à reflexão. Nas sequências de atos 4, 5 e 6, res- pectivamente, ao verbalizar “AI XANDINHO”, “NÃO RAPAZ! Ô XANDINHO” e “Ô RAPAZ”, C5 teve a intenção de parar o ato da terapeuta. Supõe-se que, em algum momento, foi dito a C5 essa mesma expressão a fim de parar alguma atividade que o mesmo realizava. SEQUÊNCIA DE ATOS 4: A terapeuta tenta calçar a meia em C5 e este não deixa, batendo o pé na cama e gritando: “AI XANDINHO!”. SEQUÊNCIA DE ATOS 5: C5 fica agitado por não escutar o jogo que a terapeuta coloca no som, e começa a se balançar e mexer nas orelhas. Imediatamente a terapeuta des- liga o som e C5 diz: “NÂO RAPAZ! Ô XANDINHO”. SEQUÊNCIA DE ATOS 6: Terapeuta faz cócegas na barriga de C5 e esse se agita, bate as pernas na cama e diz: Ô RAPAZ! Com relação à função de protesto (PR), que cor- responde aos atos ou emissões usados para inter- romper uma ação indesejada, incluindo oposição de resistência a ação do outro e rejeição de objeto oferecido 16, prevalece nos sujeitos de números 4, 5 e 6. A frequente ocorrência da função PR pode estar relacionada ao fato de que, segundo uma das características da criança autista é a resistência a mudanças. Assim, a forma encontrada pelas crian- 604 Campelo LD, Lucena JA, Lima CN, Araújo HMM, Viana LGO, Veloso MML, Correia PIFB, Muniz LF Rev. CEFAC. 2009 Out-Dez; 11(4):598-606 ças autistas, em estudo, em se opor a algum fato executado pela terapeuta, realizava-se através da função comunicativa de protesto. Isto pode ser visto nas sequências de atos 7, 8 e 9. Na sequência de atos 7, por exemplo, C2 tenta impedir a terapeuta de guardar os brinquedos, já que C2 apresenta resistência a ação do outro, desejando, ele (C2) mesmo, realizar a ação. Na sequência de atos 8, C5, ao verbalizar “NÃO” e tomar a ambulância da terapeuta, interrompeu uma ação indesejada, opondo-se a ação da terapeuta. Na sequência 9, Criança 6 C6 apresenta rejeição do objeto oferecido, ao embaralhar os carros enfi- leirados pela terapeuta. SEQUÊNCIA DE ATOS 7: C2 observa a terapeuta colocar alguns brinque- dos em um saco. C2 tenta pegar o saco da tera- peuta, como não consegue, começa a pular pela sala, desviando o foco de atenção. SEQUÊNCIA DE ATOS 8: A terapeuta pega a ambulância das mãos de C5 e coloca no chão. C5 levanta para pegá-la, diz NÃO e volta para cama. SEQUÊNCIA DE ATOS 9: A terapeuta enfileira todos os carrinhos e C6 presta atenção, depois C6 embaralha todos os carrinhos. A análise que focaliza as funções que aconte- ceram com maior frequência, considerando o total de atos comunicativos das seis crianças, segundo o meio comunicativo mostra que dos 726 (100%) atos, 554 (76%) foram incluídos entre as quatro funções comunicativas que mais apareceram nos seis sujeitos investigados: NF (não focalizada), PR (protesto), XP (exploratória) e RE (reativa). De acordo com estudo 17, em terapia individual a fun- ção não-focalizada parece fazer-se mais presente. Tal constatação foi verificada neste estudo referido em que a autora analisou o perfil comunicativo de crianças com transtorno do espectro autístico, ao comparar diferentes propostas de intervenção de linguagem 17. Era de se esperar que as funções NF (Não foca- lizada) e PR (Protesto) aparecessem em destaque na análise geral das funções, considerando os 726 (100%) atos comunicativos, uma vez que estas mesmas funções comunicativas apareceram como predominantes em cada sujeito estudado, individu- almente. Verifica-se que não-focalizada (NF) apa- receu na posição 1 (P1) com 151 (67%) atos comu- nicativos gestuais. Quanto aos atos comunicativos vocais, estes somaram 69 (30%), enquanto que os 7 (3%) demais atos foram verbais. Protesto (PR) apareceu na posição 2 (P2) com 89 (64%) atos comunicativos gestuais, 34 (24%) atos comunicati- vos vocais e 16 (12%) atos comunicativos verbais. As funções comunicativas exploratória (XP) e reativa (RE) também apareceram com frequência entre as funções, como pode ser visto na Tabela 3. Segundo estudo 16, a XP é descrita como um ato que envolve atividades de investigação de um objeto particular ou de uma parte do corpo ou da vestimenta do outro, enquanto que a função comu- nicativa reativa (RE) corresponde às emissões pro- duzidas enquanto a pessoa examina ou interage com um objeto ou com parte do corpo, parecendo reagir a isso. Nas crianças em estudo, a função exploratória (XP) está na posição 3 (P3) com 121 (88%) atos comunicativos gestuais e 17 (12%) atos comunicativos vocais e a reativa (RE) está na posi- ção 4 (P4) com 34 (68%) atos comunicativos gestu- ais e 16 (32%) atos comunicativos vocais. Supõe-se que o aparecimento dessas funções em P3 e P4 acontece pelo repertório restrito de atividades e interesses que essas crianças aprese- tam 2. Nas sequências de atos 10, 11 e 12, exemplifi- cam-se as funções XP, enquanto que na se quência 13, 14, 15, aparecem as funções RE. Nas sequ- ências 10, 11, e 12, as crianças observam um objeto em particular. Especificamente, na sequên- cia 10, C5 investiga a chupeta; na sequência 11, o objeto examinado por C4 é a câmera filmadora; e, na se quência 12, a criança desperta interesse de investigação pelos carrinhos. Nas três demais sequências de atos (13, 14 e 15), os sujeitos parecem reagir durante a interação. No ato 13 C4 sorri (reação), após estimulação da terapeuta. No ato 14, C3, ao focalizar atenção no objeto (computador), reage a estímulos sonoros produzidos pelo mesmo. E no ato 15, C3, ao intera- gir com a terapeuta, reage com risos por causa da brincadeira com os animais. SEQUÊNCIA DE ATOS 10: C5 entra na sala de terapia, deita-se na cama e sua mãe lhe dá a chupeta. C5 pega a chupeta, fica olhando e depois coloca na boca. SEQUÊNCIA DE ATOS 11: A terapeuta chama C4 para ir embora, mas ele C4 para na frente da câmera filmadora, coloca o dedo na boca e fica um bom tempo observando-a. SEQUÊNCIA DE ATOS 12: A terapeuta conversa com C6 dizendo que ele não pode cuspir e C6 fica analisando os carrinhos, desconsiderando o que diz a terapeuta.
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