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Guias e Dicas
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Etologia e produtividade animal, Notas de estudo de zootecnia

MATEUS J.R. PARANHOS DA COSTA1 1. ETCO - Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal, Departamento de Zootecnia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, 14884-900, Jaboticabal, SP. Pesquisador CNPq, mpcosta@fcav.unesp.br

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 06/01/2011

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4.7

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Baixe Etologia e produtividade animal e outras Notas de estudo em PDF para zootecnia, somente na Docsity! 1 ETOLOGIA E PRODUTIVIDADE ANIMAL MATEUS J.R. PARANHOS DA COSTA1 1. ETCO - Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal, Departamento de Zootecnia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, 14884-900, Jaboticabal, SP. Pesquisador CNPq, mpcosta@fcav.unesp.br 1. ETOLOGIA: a abordagem biológica no estudo do comportamento A Etologia é o ramo da ciência que trata da abordagem biológica no estudo do comportamento animal e quando este estudo é dirigido aos animais de produção nos referimos a Etologia Aplicada. Há diferentes abordagens no estudo do comportamento de animais de produção, dentre elas aquelas que buscam resolver problemas de ordem prática. Neste caso, apesar do foco ser o animal como unidade de produção, parte-se do princípio de respeito a sua história natural, tratando os problemas de forma multidisciplinar, combinando as perspectivas biológicas e econômicas. Mas afinal o que é estudar o comportamento animal com abordagem biológica? Até algum tempo comportamento era definido como qualquer movimento executado pelo animal, mesmo àqueles que levam a imobilidade absoluta. Contudo, há uma série de manifestações apresentadas pelos animais que não podem ser caracterizadas como movimentos, mas que devem ser incluídas na definição de comportamento, como por exemplo, as mudanças de cores, produção de odores e emissão de sons. Assim, o comportamento passou a ser caracterizado como toda resposta muscular ou secretória, observada por mudanças no ambiente interno e externo dos animais (KANDEL, 1976). Para o propósito deste artigo podemos, de forma a simplificar o entendimento, definir comportamento como qualquer coisa que o animal faça. Com esta definição em mente é fácil perceber que é a partir de certas propriedades anatômicas e fisiológicas dos organismos que o comportamento (como observamos) ocorre. Certamente há uma enorme variação na complexidade do comportamento, desde atos simples, breves e repetidos (esteriotipados) até seqüências de atos complexos e variáveis, sendo evidente que o nível de complexidade dos comportamentos de um dado organismo depende de quão complexo ele é (DETHIER & 2 STELAR, 1979). Assim, no início, em filogenia, espera-se a predominância de manifestações simples, com pouca variação ao longo da vida dos animais, não sendo, portanto sujeita a modificações pela experiência; tais comportamentos são definidos como inatos, potencialmente presentes desde o nascimento, sendo produtos da evolução conferem valor adaptativo para eventos do ambiente com alta previsibilidade. Mais tarde, em filogenia - com o aumento da complexidade do organismo, o comportamento torna-se mais variável, mais passível de modificações. Nessas condições há o desenvolvimento de ajustes de caráter individual (produtos da experiência), caracterizando o comportamento aprendido. Entretanto, como descrito por Paranhos da Costa (2002b), há mais para entender sobre o comportamento de um dado animal do que estudar apenas as relações de causa e efeito (mecanismos de controle interno, padrões inatos de comportamento e a habilidade para aprender), deve-se considerar também que o comportamento de um animal não é a soma de manifestações isoladas e estanques, mas um conjunto solidário e interdependente destas em todos os níveis do organismo. Assim, há forte influência das condições ecológicas, sendo o próprio animal um fato importante na definição dessas condições, dado que através de seu comportamento ele pode provocar alterações importantes no seu ambiente. Portanto, para a plena compreensão dos processos envolvidos no desenvolvimento de respostas adaptativas (tendo em conta os processos de filogênese e ontogênese) é necessária uma análise integrada no estudo do comportamento animal. Para que isso possa ser feito devemos entender que o comportamento se caracteriza como um fenótipo, produto da ação de genes e do ambiente, além da interação entre ambos. Esta abordagem é característica da Etologia. Assim, o estudo do comportamento animal assume papel importante dentro da produção animal, uma vez que para racionalizar os métodos de criação temos desenvolvido técnicas de manejo, alimentação e instalações que interferem (e também dependem) do comportamento. Assim, a Etologia pode mostrar o caminho para a racionalização da criação animal, principalmente em sistema intensivos de produção (PARANHOS DA COSTA, 1987). Este artigo não tem a pretensão de esgotar um tema tão amplo e complexo, trata apenas de alguns aspectos do comportamento de frangos de granja, buscando 5 e deslocamento (uso do espaço, interações sociais e reações a novos ambientes), desembarque (interações com humanos), confinamento e manejo nos currais dos frigoríficos (reações a novos ambientes, comportamento social, interações com humanos). Tais atividades devem ser bem planejadas e conduzidas para minimizar o estresse, que pode causar danos à carcaça e prejuízos na qualidade da carne. No Brasil, não temos prestado muita atenção a esta etapa da produção, mesmo os produtores, transportadores e frigoríficos, que estão diretamente envolvidos, pouco sabem sobre as reações dos animais as condições que lhes são impostas e sobre as conseqüências de um manejo inadequado, que certamente traz reflexos negativos na rentabilidade do pecuarista e do frigorífico. Com o objetivo de avaliar o manejo pré-abate no programa de qualidade de carne bovina do Fundepec (Fundo para o Desenvolvimento da Pecuária no Estado de São Paulo), procuramos identificar seus pontos críticos e suas relações com o aumento na probabilidade de ocorrência de contusões nas carcaças (PARANHOS DA COSTA et al. 1998). Tais avaliações caracterizaram-se, pelo curto tempo despendido, em uma abordagem preliminar. Realizamos algumas observações, adotando o método etológico (observar sem interferir), sobre os procedimentos envolvidos no transporte de bovinos para o frigorífico (desde o manejo na fazenda até o momento do abate), descrevendo as condições de instalações e manejo, o comportamento dos animais e a freqüência de contusões nas carcaças. Foi acompanhado o embarque de animais em 4 fazendas, totalizando 12 caminhões. O desembarque de alguns desses animais também foi acompanhado, avaliando, em alguns casos, manejo nos currais do frigorífico e a ocorrência de hematomas nas carcaças. Com base neste levantamento identificamos os seguintes problemas no manejo pré-abate que resultaram em aumento nos riscos de hematomas nas carcaças: (1) agressões diretas; (2) alta densidade social, provocada pelo manejo inadequado no gado nos currais da fazenda e embarcadouro; (3) instalações inadequadas; (4) transporte inadequado, caminhões e estradas em mau estado de conservação; (5) gado muito agitado, em decorrência do manejo agressivo e de sua alta reatividade. Mesmo sob boas condições de transporte e em jornadas curtas o gado mostrou sinais de 6 estresse, a intensidade foi variável, mas caracterizou uma situação típica de medo. A freqüência de contusões foi variável de fazenda para fazenda. A deterioração das condições de transporte teve componente acidental, mas também foi provocada por falhas no manejo, decorrente da falta de equipamento adequado, falta de treinamento de vaqueiros e motoristas, além da falta de supervisão. É necessário que todo processo seja aprimorado, desde o manejo e instalações nas fazendas, condição geral dos veículos e forma de conduzi-los, bem como as instalações e o manejo nos frigoríficos. Concluímos que para garantir o sucesso na implantação do programa de qualidade de carne bovina é necessário um estudo mais minucioso para detectar os pontos críticos e estabelecer um programa de qualidade de serviços no manejo com o gado. Há necessidade de se avaliar a eficiência das instalações e equipamentos em uso (currais na fazenda, embarcadouros, caminhões, ferrões elétricos, currais no frigorífico, sala de atordoamento), bem como o tipo de gado (em termos de reatividade) e a forma com que eles têm sido manejados. Tais estudos têm sido desenvolvidos pelo nosso grupo de pesquisa – Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (ETCO) – em parceria com a iniciativa privada. Os conhecimentos obtidos têm sido repassados ao setor produtivo através de cursos e oficinas, dirigidos a todos que lidam com o gado. Os resultados são expressivos, com melhorias no rendimento das carcaças (Figura 1) e na imagem do produto, fortalecendo a idéia de que carne de qualidade deve ser produzida com o compromisso de promover o bem-estar humano e animal e preservar o meio ambiente. antes jun/00 jun- set/00 out/00 nov/00 dez/00 jan/01 fev/01 mar/01 abr/01 Porcentagem 20,0 11,8 5,3 3,9 3,5 2,9 1,8 1,3 1,30,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0 7 Figura 1. Resultados da adoção do manejo racional. Redução na porcentagem de carcaças desclassificadas por contusão no Programa Garantia de Origem Carrefour no Estado do Mato Grosso do Sul. 2.2. Reações de pânico e outros comportamentos de fuga em frangos 2 Há várias reações apresentadas por frangos que podem ser atribuídas ao medo. Algumas delas, como as reações de pânico, por exemplo, podem ser causa ou conseqüência de problemas de bem-estar e, em alguns casos, resultar em prejuízos econômicos, com elevação da mortalidade e da incidência de problemas na carcaça (ossos quebrados, contusões, etc.). Medo é uma das emoções primárias, que determinam as formas com que os animais respondem ao seu ambiente físico e social. Aceita-se que o medo caracteriza uma reação adaptativa, fazendo com que os animais (e seres humanos) se mantenham distantes de qualquer estímulo que lhes represente perigo. Em sistemas intensivos de produção, onde não há ameaça de predadores, a fonte de medo é geralmente o próprio homem, o que transforma as reações de medo em algo indesejável. Há diferenças entre linhagens na intensidade das reações de medo e mesmo entre indivíduos dentro de linhagens. Há também fatores ambientais que também influenciam a reatividade das aves; o manejo agressivo e a falta de habituação a seres humanos podem aumentar a intensidade de reação das aves à presença de humanos. Certamente o aumento na reatividade traz prejuízos ao produtor. Ao analisar as reações de aves em 22 granjas comerciais, Hemsworth et al. (1994), constataram que a eficiência na conversão alimentar foi pior nas granjas em que as aves mostraram maior reatividade. O que foi confirmado por Jones (1997), ao verificar que o nível de medo dos frangos em relação aos humanos explicou 28% da variância na conversão alimentar em granjas comerciais. Reações de pânico são mais comuns em momentos críticos de manejo, como na apanha e ao pendurar os animais pouco antes do atordoamento que antecede o abate. Na apanha, bem como nos abatedouros, usualmente pegamos os frangos pelas pernas levantando-os do solo (ou da caixa de transporte) num movimento abrupto. As reações mais comuns das aves submetidas a esse tipo de manejo são: se debater (o 2 Paranhos da Costa, 2002b
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