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Guias e Dicas
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Pensamento Sistêmico, Resumos de Ciências Sociais

Resumo - Resumo

Tipologia: Resumos

2010

Compartilhado em 06/12/2010

rosemberg-mendonca-1
rosemberg-mendonca-1 🇧🇷

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Pré-visualização parcial do texto

Baixe Pensamento Sistêmico e outras Resumos em PDF para Ciências Sociais, somente na Docsity! UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ COLEGIADO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CAMPUS MARCO ZERO DOCENTE: Dr. ANTÔNIO SÉRGIO MONTEIRO FILOCREÃO DISCIPLINA: PENSAMENTO CIENTÍFICO E MEIO AMBIENTE DISCENTE: ROSEMBERG DA SILVA MENDONÇA PENSAMENTO SISTÊMICO: CIÊNCIA NOVA – PARADIGMÁTICA MACAPÁ 3 DE DEZEMBRO DE 2010 “Pensamento Sistêmico: uma epistemologia científica para uma ciência novo- paradigmática” No quadro de referência, elaborado pela autora, para as mudanças paradigmáticas em curso na ciência, o paradigma da ciência contemporânea emergente se constitui de três novos pressupostos epistemológicos, decorrentes de recentes desenvolvimentos da própria ciência: a crença na complexidade, em todos os níveis da natureza; a crença na instabilidade do mundo, em processo de tornar-se; a crença na intersubjetividade como condição de construção do conhecimento do mundo. Considera-se que a integração desses três novos pressupostos constitui a epistemologia ou pensamento sistêmico. Como os cientistas estão assumindo esses novos pressupostos epistemológicos em conseqüência de evidências encontradas dentro do próprio domínio lingüístico da ciência, a autora considera que, com esse novo paradigma - o pensamento sistêmico - tem-se uma ciência da ciência e não mais uma filosofia da ciência. Pensamento Sistêmico: uma epistemologia científica para uma ciência novo- paradigmática Apesar da maioria das pessoas não ter o hábito de pensar sobre o paradigma da ciência, a ciência embasa nosso modo de viver. As sociedades modernas adotaram o conhecimento objetivo como fonte de verdade, em virtude das conquistas obtidas pela ciência, as quais abriram perspectivas para um desenvolvimento prodigioso da humanidade. Na nossa sociedade, a ciência valida nossas explicações e compreensão dos fenômenos, valida nossa forma de viver, de estar e agir no mundo. Tanto que, é muito comum as pessoas perguntarem: essa afirmação ou essa proposta é científica? isso tem base científica? já está comprovado cientificamente? Tradicionalmente, desde que no século XVII, com Descartes, instalou-se definitivamente a separação entre ciência (o domínio da coisa, da medida, da precisão) e filosofia (o domínio do sujeito, da especulação, da argumentação), a ciência tem se ocupado das práticas científicas e das teorias científicas que lhes dão suporte, enquanto a filosofia vem se ocupando dos pressupostos epistemológicos e ontológicos subjacentes a toda atividade científica, ou seja, das crenças do cientista sobre “como conhecemos” e sobre “o que ciência passar a pensar cientificamente a epistemologia, a contribuição do ciberneticista austríaco, von Foerster, com a Cibernética da Cibernética. Parece que o direito de abordar cientificamente a questão do conhecimento do mundo já tem sido reivindicado pelos físicos, havendo quem diga que a física quântica saqueou a filosofia, seqüestrando a epistemologia. A física contribuiu, sim, para trazer a questão do sujeito do conhecimento para dentro da própria ciência, mas manteve a crença no realismo do universo e não implicou o sujeito na constituição da realidade: apenas reiterou cientificamente a interdição de o sujeito a ela se referir. Já a Cibernética, constituiu-se como um contexto muito propício ao questionamento da crença de que podemos conhecer objetivamente o mundo: a atividade de projetar sistemas artificiais e a conseqüente necessidade de compreensão dos sistemas naturais auto-organizadores, levaram os ciberneticistas a darem atenção às noções de autonomia e de autoreferência. A partir daí, a conseqüência natural foi assumir que as noções cibernéticas não eram independentes dos ciberneticistas e que elas deviam aplicar-se também aos próprios cientistas como observadores. Uma vez reconhecendo-se que a observação do cientista está relacionada às condições de sua própria estrutura para fazer essa observação, surge a concepção de Von Foerster de “sistema observante”: o observador, reconhecendo sua inevitável relação com o sistema que observa, se observa observando. Fazendo esse giro de auto-referência, a Cibernética tomou-se a si mesmo como objeto e surgiu a Cibernética da Cibernética ou Cibernética de Segunda Ordem, com a qual Von Foerster, elaborando os fundamentos lógico- biológicos de uma teoria do observador, tornou inevitável o reconhecimento da construção intersubjetiva da realidade e contribuiu para que todos os seres humanos conheçam como eles próprios conhecem. Parece importante enfatizar que a novidade aqui não é o questionamento da objetividade – que há muito vem sendo trazido pela filosofia, pela psicologia, pelas ciências humanas -, mas o seu questionamento vindo de dentro da próprias disciplinas científicas comprometidas com o paradigma tradicional da ciência. Enquanto os questionamentos da objetividade são vistos como coisa de filósofo não atingem efetivamente os cientistas: esses, pelo menos enquanto exercendo atividade científica, sentem-se no dever de manter-se comprometidos com a objetividade e de buscá-la a todo custo, mesmo que, fora dessas atividades se permitam ser subjetivos e aceitar que outros também o sejam, vivendo certamente um incômodo duplo papel. Ou seja, para trabalhar cientificamente, acreditam que a realidade existe independente da subjetividade do observador, o qual deve esforçar-se para conhecê-la objetivamente, “tal como ela é”. Essa situação da ciência tradicional é agora ultrapassada, quando o cientista adota o “caminho explicativo da objetividade entre parênteses”, mas não apenas quando estiver sendo cientista ou profissional da ciência. Ele terá uma nova crença, um novo pressuposto epistemológico para seu viver, para uma nova forma de ver e agir no mundo, baseado em sua única convicção possível: a da inexistência da “realidade” e da “verdade”. Articula-se assim a árvore do conhecimento com a árvore da vida, que teriam sido separadas desde o Paraíso. O cientista avança de uma epistemologia filosófica para a ciência – para conhecer e atuar cientificamente – em direção a uma epistemologia científica para a vida – para estar e agir no mundo, inclusive para conhecer e atuar cientificamente. Tem-se então, em vez de uma filosofia da ciência, uma ciência da ciência: os cientistas, enquanto escolhem mover-se no domínio lingüístico da ciência, compartilham uma epistemologia – que agora pode ser fundada nos desenvolvimentos da própria ciência – compartilham os critérios de validação da verdade desse domínio e, de acordo com esses critérios, constroem intersubjetivamente suas realidades. Quero enfatizar que não estou querendo dizer que a ciência seja superior à filosofia. Estou apenas concordando com Maturana, quando ele diz que, como seres humanos, dotados de linguagem e emoção, nos movemos em espaços de conversação e constituímos diferentes domínios lingüísticos, com diferentes critérios de validação da verdade. A filosofia, as ciências da natureza, a religião, o direito são apenas domínios lingüísticos diferentes, sem superioridade de um em relação aos outros. E podemos escolher estar num ou noutro domínio. O desejo de naturalização da epistemologia - podendo a ciência tratar cientificamente tanto do objeto quando do sujeito do conhecimento - já vinha se manifestando há muito no trabalho de diversos cientistas, tais como Warren McCulloch na neurofisiologia, Konrad Lorenz na etologia, Jean Piaget em sua conhecida epistemologia genética, todos buscando trazer o sujeito, com sua epistemologia, seu modo de conhecer, para o âmbito da ciência. Portanto, a possibilidade de termos hoje uma epistemologia científica, ou uma ciência da ciência, além de responder a um anseio dos cientistas e de nos permitir superar a ruptura que nos foi legada por Descartes, representa também a possibilidade de assumirmos uma epistemologia científica para nossa vida cotidiana, para nossa forma de estar e agir no mundo. Essa mudança epistemológica - de uma crença na possibilidade do conhecimento objetivo do mundo, para o reconhecimento da impossibilidade da objetividade - se insere num conjunto maior de mudanças que, constituindo uma mudança paradigmática em curso na ciência, estão permitindo ao cientista assumir um novo paradigma, que é sistêmico. Considero o pensamento sistêmico como uma nova visão, um novo conjunto de pressupostos, um novo paradigma para nossas ações no mundo e tomo como equivalentes os conceitos de paradigma, pressuposto epistemológico, premissa, visão de mundo. Tem sido freqüente as pessoas darem pouca atenção à distinção – que considero fundamental – entre teoria sistêmica e epistemologia sistêmica. O que estou abordando aqui - e o que focalizei basicamente no livro Pensamento sistêmico. O novo paradigma da ciência - é o pensamento, o paradigma ou a epistemologia sistêmica , correspondendo a uma mudança de paradigma da ciência. Os questionamentos a respeito do paradigma tradicional da ciência começaram a surgir, no próprio domínio lingüístico da ciência, no início do século XX, com contribuições dos físicos Max Plank, Einstein, Niels Bohr, Boltzman, Heisenberg. Mais recentemente, sobretudo nas três últimas décadas do século XX, acrescentaram-se as contribuições de diversos outros cientistas, dentre os quais distingui o químico russo Ilya Prigogine, o físico e ciberneticista austríaco Heinz von Foerster, o biofísico francês Henri Atlan, os biólogos chilenos Humberto complexidade, da instabilidade e da intersubjetividade. Hoje, distingo uma relação recursiva entre essas três dimensões do novo paradigma, a qual torna impossível para um cientista/ profissional adotar um desses pressupostos sem assumir também os outros. Tenho distinguido, entre as três dimensões do novo paradigma, o mesmo tipo de relação que von Foerster identificou entre o observador, a linguagem e a sociedade. Ou seja, uma conexão não-trivial, uma relação triádica fechada, em que se necessita das três dimensões para se ter cada uma das três. Daí a dificuldade de abordarmos isoladamente qualquer uma delas. Entretanto, considero que algumas propostas, hoje apresentadas como sistêmicas, não contemplam ainda a inclusão do observador na formulação das explicações científicas do mundo, com todas as implicações dessa inclusão. Parece-me possível que alguns cientista/profissionais – ao reverem seu pressuposto simplificador e fragmentador da realidade e ao ampliar o foco e colocá-lo nas relações – intra e inter-sistêmicas – passem a ver sistemas de sistemas e a pensar a recursividade nos processos sistêmicos. Mas continuam pensando que a complexidade está lá e trabalham com os sistemas como se esses fossem pré-existentes às suas distinções. Também parece possível que outros cientistas/profissionais, ao reverem seu pressuposto do determinismo, passem a falar de sistemas auto-organizadores, instáveis, porém abordando esses processos sistêmicos a partir de sua postura objetivista: a auto-organização estaria lá, no sistema, uma realidade recentemente descoberta pela ciência. Mesmos alguns profissionais/ cientistas que dizem estar questionando o pressuposto da objetividade, chegando até mesmo a falar de construção ou co-construção, continuam atuando como se fossem experts que detivessem recursos para conduzir à meta os sistemas com que trabalham e fazendo “projetos sistêmicos a serem implantados” em diversos contextos. Acredito que o que transforma um profissional sistêmico num profissional sistêmico novo-paradigmático é uma revisão radical de seus pressupostos epistemológicos, especialmente do pressuposto da existência de qualquer realidade independente do observador. Ao fazer essa ultrapassagem do pressuposto da objetividade, o profissional/cientista assume uma epistemologia que implica sempre suas próprias distinções, distinções que fazem emergir a realidade com que trabalha: é ele quem distingue a complexidade , ao colocar o foco nas conexões e fazer emergir o sistema; é quem distingue a instabilidade ou a auto-organização, em todos os sistemas da natureza, assumindo ser impossível prever ou controlar o seu funcionamento; é ele quem distingue sua própria relação com todo e qualquer sistema com que estiver trabalhando, o qual emergirá na relação com ele, com base em sua distinção. Trata-se de uma epistemologia que traz definitivamente, para o âmbito da ciência, o observador, o sujeito do conhecimento. Isso acontece a qualquer um de nós, a partir do momento em que, tendo acatado a pergunta sobre o “como conhecemos o mundo” – a pergunta pelo observador ou pergunta epistemológica -, e de tê- la respondido, dentro do domínio lingüístico da ciência, de acordo com uma teoria científica do observador, decidimos optar pelo “caminho da objetividade entre parênteses”, opção que terá implicações fundamentais. Adotar esse caminho - o que, segundo Maturana é simplesmente uma questão de preferência, uma escolha na emoção de aceitação - implica em viver, estar e agir no mundo, de acordo com essa nova visão de mundo, sistêmica novo- paradigmática.
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