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Biodiversidade: Conceitos, Importância e Ameaças, Notas de estudo de Ecologia e Meio Ambiente

Biodiversidade ou diversidade biológica refere-se ao número de espécies de seres vivos existentes no planeta, incluindo plantas, animais e microrganismos. O estudo da biodiversidade é essencial para entender a riqueza e a densidade de espécies em diferentes ecossistemas e sua relação com as alterações ambientais. A humanidade já penhorou 40% da produção primária territorial da terra, o que resulta em perdas de habitats naturais e redução da viabilidade ou extinção das espécies. Este documento aborda os conceitos, a importância e as ameaças à biodiversidade, destacando a necessidade de sua conservação.

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 04/12/2010

cleber-assis-11
cleber-assis-11 🇧🇷

4.7

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Baixe Biodiversidade: Conceitos, Importância e Ameaças e outras Notas de estudo em PDF para Ecologia e Meio Ambiente, somente na Docsity! B IO D IV E R S ID A D E Ca de rn os d e Ed uc aç ão A m bi en ta l 4 SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE Cadernos de Educação Ambiental G O V E R N O D O E S TA D O D E S ÃO PAU LO S E C R E T A R I A D O M E I O A M B I E N T E 4 BiO A I VErSid De d Cadernos de Educação Ambiental G O V E R N O D O E S TA D O D E S ÃO PAU LO S E C R E T A R I A D O M E I O A M B I E N T E I N S T I T U T O D E B O T Â N I C A S Ã O P A U L O • 2 0 1 0 4 BiO A I VErSid De d Coordenação Vera Lúcia Ramos Bononi 32790003miolo 1 4/1/10 9:19 AM 32790003miolo 4 4/1/10 9:19 AM BIODIVERSIDADE Autores Maria Tereza Grombone Guaratini Marie Sugiyama Marilia Gaspar Tania Maria Cerati Vera Maria Valle Vitali fo to C la yt on F. L in o 32790003miolo 5 4/1/10 9:19 AM 32790003miolo 6 4/1/10 9:19 AM Luta pela preservação 32790003miolo 9 4/1/10 9:19 AM 32790003miolo 10 4/1/10 9:19 AM fo to F au st o Pi re s de C am po s FRANCISCO GRAZIANO NETO Secretário de Estado do Meio Ambiente Muitos a defendem, poucos a conhecem de fato. Assim é a biodiversidade, que defi ne a riqueza e beleza da vida na Terra. Plantas e animais, interagem entre si e se relacionam com o ambiente em que vivem, formando as características básicas da existência em cada ecossistema natural. Flora e fauna, junto com solo, água e clima, elementos minerais e orgânicos, em maravilhosa e essencial combinação, criam a harmonia dinâmica da natureza. Esse é o foco deste nosso Caderno de Educação Ambiental. Nele se perceberá, com a linguagem adequada à fácil compreensão, que a relação entre as espécies, animais e vegetais, caracteriza aspectos fundamentais da biodiversi- dade. Mais ainda. Se descobrirá a importância da variabilidade genética. Uma mesma espécie de inseto, de peixe ou de árvore, como de qualquer ser vivo, sempre mostrará incríveis variações na cor e na forma, indicando serem distintas suas relações com o meio ambiente que as rodeia. Acredita-se existirem entre 10 e 50 milhões de espécies vegetais e animais no mun- do. No entanto, apenas 1,5 milhão foram classifi cadas até hoje pelos cientistas. Cerca de 20% das espécies conhecidas no mundo estão no Brasil, considerado um país de “megadiversidade”. O Estado de São Paulo possui grandes remanescentes da Mata Atlântica e ainda man- tém intactas boas áreas de Cerrado, dois biomas de alta biodiversidade e grande ameaça. Possuem, ademais, elevado endemismo, isto é, muitas das espécies vegetais e animais existem apenas nesses biomas. Por isso, representam áreas prioritárias para conservação. O desmatamento, a poluição atmosférica, o crime ambiental, junto com os efei- tos deletérios das mudanças climáticas, representam os principais contribuidores para a perda da biodiversidade. A extinção de uma única espécie pode desequilibrar toda a cadeia alimentar de um bioma. Por isso é tão importante trabalhar na preservação da biodiversidade. Acima de tudo, precisamos investir na educação ambiental. Saber é poder. Entender a relação entre o ambiente e os organismos que nele vivem, conhecendo a importância da biodiversidade, nos aproxima da natureza. Cria assim, através da consciência, a me- lhor condição de lutar pela sua preservação. 32790003miolo 11 15/04/10 16:57 32790003miolo 14 4/1/10 9:19 AM SUMÁRIO 1. O que é biodiversidade • 17 Vera Maria Valle Vitali 2. Biomas do Estado de São Paulo • 31 Marie Sugiyama 3. Como conhecer a biodiversidade • 51 Maria Tereza Grombone Guaratini 4. Efeitos de impactos ambientais na biodiversidade • 69 Marilia Gaspar 5. Gestão da biodiversidade • 83 Tania Maria Cerati Referências • 101 Anexos • 105 32790003miolo 15 4/1/10 9:19 AM 32790003miolo 16 4/1/10 9:19 AM QUE É BIODIVERSIDAD1. O E 19 de solo caracterizam os diversos climas dos diferentes locais da biosfera, a distribuição das diversas espécies e dos distintos tipos de ecossistemas. A evolução deu origem a organismos com adaptações elásticas, que os tornaram aptos para viver em condições muito diversas, como os ratos, o homem e os musgos, por exemplo. Os musgos são capazes de crescer na superfície do solo, como também nas profundezas de lagos. A tendência predominante da evolução é produzir um grande número de espécies di- ferentes. Os animais, em especial, são capazes de conhecer, selecionar ou buscar ativamente os lugares mais apropriados para a sua sobrevivência. Dessa forma se estabelece uma correspondência entre as propriedades do ambiente e as características das espécies. A variabilidade genética dentro das populações de uma espécie é muito importante, porque permite fornecer adaptações para os diferentes locais em que a espécie venha a habitar. O resultado é que cada popula- ção tem possibilidades genéticas signifi cativas. Tais possibilidades são de toda população, repartidas entre os indivíduos – polimorfi smos. Quando um segmento de uma população é separado em ambientes com tempe- raturas distintas, as próximas gerações irão fi car diferentes por causa dos fatores genéticos que se expressarão em novas características bioquímicas, fi siológicas e morfológicas que lhes permitirão sobreviver sob diferentes temperaturas. Para muitas espécies de plantas reconhece-se variedades ou ecotipos por pequenas diferenças morfológicas, mas principalmente, por divergên- cia na adequação às condições climáticas distintas, como o tamanho da planta, tipo de ramifi cação etc. Algumas espécies de plantas aromáticas se diferenciam na composição química de suas essências. De qualquer forma, apesar das espécies se adaptarem, todas chegam à extinção, não por seu envelhecimento, mas pela probabilidade fi nita da ex- tinção, como um fato inevitável. Desde o início da vida na Terra, calculado em mais de 3,5 bilhões de anos, a extinção acabou com 99% das espécies 32790003miolo 19 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE20 existentes. Atualmente é provável que cerca de seis espécies sejam extintas a cada ano. A maioria delas são animais pequenos, localizados em áreas muito restritas como, por exemplo, os caramujos terrestres e anfíbios, sen- síveis às mudanças climáticas. Por outro lado, a evolução não se interrompe e continuamente apare- cem novas espécies. A riqueza das espécies na história da biosfera resulta de um equilíbrio entre as causas de extinção e de evolução. Hoje em dia se conhece em torno de dois milhões de espécies entre plantas e animais, mas existem muitas espécies sem descrição, principalmente nos trópicos. Uma forma de evolução que permitiu garantir a mais de uma espécie ser bem sucedida foi a coevolução. Um exemplo básico de coevolução são as fl ores e seus polinizadores. Os vegetais não se locomovem para procurar alimento, proteção ou parceiros para reprodução. Então o que aconteceu ao longo da evolução que tornou os produtores primários tão bem sucedidos? As angiospermas representam o grupo de maior diversidade entre as plantas terrestres, com mais de 250 mil espécies. São plantas produtoras de fl ores, frutos e se- mentes. Mas como se pode explicar a quantidade de espécies diferentes de plantas? Os cientistas atribuem o sucesso desse grupo a efi ciência da reprodução. O grão de pólen é a célula reprodutora masculina e o óvulo, a feminina, ambas localizadas na fl or. De acordo com uma das teorias evolutivas baseada em registros fósseis, as fl ores surgiram no Cretáceo, há cerca de 130 milhões de anos e eram bem mais simples e menos atrativas do que as atuais. A polinização, transferência do pólen de uma fl or para outra, em que o pólen é conduzido até os óvulos, era realizada pelo vento, ou seja, grande quantidade de pólen se perdia até alcançar a outra fl or. Era uma aventura insegura e incerta. Ao longo da evolução várias mudanças ocorreram e para aprimorar a reprodução, muitas angiospermas desenvolveram um conjunto de caracte- rísticas que permitem que elas “controlem” ativamente a escolha de seus parceiros para a reprodução sexuada. 32790003miolo 20 4/1/10 9:20 AM QUE É BIODIVERSIDAD1. O E 21 Assim, as fl ores começaram a produzir substâncias adocicadas e, atra- ídos por essas substâncias, os insetos passaram a visitá-las, transferindo o pólen de uma planta para outra. Esse processo infl uenciou na diversifi ca- ção e na abundância das angiospermas. Em alguns casos a interação entre as duas espécies (planta e poliniza- dor) provocou uma resposta evolutiva em cada um, processo denominado coevolução. Ela ocorre quando duas ou mais espécies se interagem na na- tureza sofrendo modifi cações evolutivas. Alguns exemplos de vegetais, que evoluíram com seus polinizadores, são muito conhecidos. Muitas abelhas têm o corpo adaptado para coletar e transportar o néc- tar e pólen, elas se “encaixam” perfeitamente na fl or. Enquanto coletam o néctar e o pólen, realizam a polinização. A evolução de uma espécie de- pende da evolução da outra. Em alguns casos, o polinizador visita apenas uma espécie de planta. Nas orquídeas do gênero Ophrys, a fl or possui coloração e odor que se assemelha à fêmea de abelhas e o macho tenta copular com as fl o- res. Durante essa “cópula” o macho leva grudado em seu corpo o pólen e quando visita outra fl or da mesma espécie o pólen a ela adere, realizando a polinização. Outro tipo de coevolução refere-se à característica de uma espécie como resposta a outra espécie. Muitos insetos não são sensíveis ao veneno de uma planta. Assim a coevolução pode ser de dois tipos: Coevolução específi ca: refere-se à evolução de característica de uma determinada espécie em relação à outra. Por exemplo, a planta elabora um veneno para se defender da predação de insetos, mas uma espécie de inseto é imune a tal veneno, assim, apenas essa espécie consegue visitar as fl ores dessa planta promovendo a po- linização. 32790003miolo 21 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE24 fi smo. Na teoria selecionista, o polimorfi smo é mantido pelo heterozigoto, ou seja, os indivíduos que possuem genes formados por alelos diferentes vindos do pai e da mãe. Para analisar as variações genéticas várias técnicas são utilizadas, como: os polimorfi smos de DNA amplifi cado ao acaso (RAPD), assim como outros marcadores de DNA, como RFLP (polimorfi smos de comprimento de fragmentos de restrição) e AFLP (polimorfi smos de comprimento de fragmentos amplifi cados), SNP e microsatélites. Essas técnicas detectam diferenças e semelhanças entre genótipos. A diversidade genética também pode ser estimada em nível molecular pelo sequenciamento direto dos nucleotídeos de um gene específi co ou pelo sequenciamento do genoma de um organismo. As substituições de pares de base dos cromossomos respondem pela signifi cativa quantidade de variação natural em diferentes espécies. Além de variações em nucleotídeos e combinações distintas de genes, as espécies também apresentam variações na forma, composição e número de cromossomos presentes. O estudo dessas características é denominado cariologia. Se levarmos em consideração a complexidade da biodiversidade vege- tal e o grande potencial das plantas para a alimentação humana e animal, para a medicina e para a manutenção da vida no planeta, a preservação dessa diversidade genética, além de uma necessidade, é um desafi o. Evolução da política de conservação da biodiversidade O biólogo Dr. Thomas Lovejoy, nos anos 1970, iniciou na Amazônia, junto com pesquisadores brasileiros, o projeto denominado, inicialmente, de “Tamanho Crítico Mínimo de Ecossistema”, mais tarde denominado “Projeto das Dinâmicas Biológicas dos Fragmentos da Floresta” e fi nal- mente de “Projeto de Fragmentos da Floresta”. Esse projeto tinha como 32790003miolo 24 4/1/10 9:20 AM QUE É BIODIVERSIDAD1. O E 25 objetivo avaliar qual a melhor estratégia para a conservação da Amazônia, uma grande reserva ou várias pequenas, com previsão de duração de 20 anos. Mas os estudos continuam, acumulando dados, e consistem no maior exercício de treinamento para brasileiros na ecologia desses ecossistemas. Em razão desse trabalho, Lovejoy é reconhecido como um especialista líder em questões que vão desde a ecologia tropical às políticas fi nanceiras para a conservação ambiental, e também foi o criador do termo ”Diversi- dade Biológica”, em 1980. Em 1986, no 1º Fórum Americano sobre diver- sidade biológica, organizado pelo Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA (National Research Council, NRC), o entomologista E. O. Wilson, substitui a expressão “Diversidade Biológica” por “Biodiversidade”. A partir de 1986, o termo biodiversidade começou a ser muito utilizado por ecólogos, biólo- gos, ambientalistas, líderes políticos e cidadãos no mundo todo. Por causa do crescimento populacional ter provocado, cada vez mais, a ocupação de áreas aumentando a preocupação com a extinção de espécies e alterações ambientais, os ecólogos e ambientalistas procuram mostrar à sociedade a importância da conservação dos ecossistemas e da biodiversidade, consi- derando agora o aspecto econômico da proteção da biodiversidade. A biodiversidade é a maior riqueza do planeta Terra, mas não é vista ou reconhecida como tal. A maioria das pessoas vê o valor da biodiversida- de apenas quando plantas, animais e microrganismos são utilizados como produtos alimentícios, farmacêuticos ou cosméticos. O crescimento populacional, o desenvolvimento industrial e o aumen- to galopante da poluição, que já não respeita mais fronteiras, propiciaram no fi nal dos anos 1960, nos EUA, o surgimento de um novo ambientalismo, cujo objetivo é conciliar a sociedade e a natureza, protegendo o ambiente, ao mesmo tempo em que é possível servir-se dele, de forma sustentável. Lovejoy participou dessa mudança de concepção sobre conservação da biodiversidade. De acordo com Alencar (1996), antes dos anos 1970, a preocupação estava muito ligada ao modelo norte-americano e europeu de criação de 32790003miolo 25 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE26 reservas, estabelecimento de parques e construção de cercas e guaritas. De um lado fi cava a natureza, do outro, as pessoas. Nesse modelo, surge o debate entre grupos de preservacionismo e conservacionismo, sobre o impasse: proteger a natureza por meio da criação de parques e reservas ou fazer uso dos recursos naturais, conservando a natureza com um objetivo mais pragmático. Essa mudança no paradigma da proteção ambiental acontece parale- lamente a outra transformação nas ciências naturais, quando se passa da percepção das espécies, como foco de análise, para os ecossistemas, ou do mundo em que as espécies interagem. O conceito, antes estático, passou a ser dinâmico e multidimensional. Essa evolução no pensamento sobre proteção ambiental pode ser acompanhada pelo teor dos documentos: Convenção de Ramsar para a Proteção de Zonas Úmidas de Importância Internacional Especialmente os Habitats para Aves Aquáticas (1971); Con- venção de Paris, sobre o Patrimônio Cultural e Natural (1972); Convenção de Washington, sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Extinção – CITES (1973); e Convenção de Bonn, para a Proteção de Espé- cies Migratórias da Vida Selvagem (1979). A política de preservação da diversidade biológica, biopolítica, tem seus refl exos no direito ambiental e internacional. O primeiro passo foi o lançamento da Estratégia Mundial de Conservação em 1980, pela União Internacional para a Conservação da Natureza – IUCN em colaboração com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, a Organização das Nações Unidas para a Educacão, a Ciência e a Cultura – UNESCO, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA e o Fundo Mundial para a Natureza – WWF. Esse fórum abordou de manei- ra global a discussão sobre diversidade de genes, espécies e ecossistemas. A estratégia era instruir, coordenar e guiar as políticas de conservação dos recursos vivos, desde o nível local, em parques e reservas, até o desenvolvi- mento de programas nacionais e internacionais de conservação. Em Bali, em 1982, durante o Congresso Mundial de Parques Nacionais, 32790003miolo 26 4/1/10 9:20 AM QUE É BIODIVERSIDAD1. O E 29 inédito em convenções internacionais, de que a proteção da biodiversidade era sim uma preocupação comum da humanidade, mas os recursos da bio- diversidade não eram patrimônio comum da humanidade, pois pertenciam a cada nação onde existiam naturalmente. Além disso, o bloco dos países em desenvolvimento rejeitara o fato de que a conservação da natureza fosse tratada em um documento jurídico internacional, deixando-se de fora as questões relativas aos usos dos recursos biológicos, a partilha dos bene- fícios dele advindos e o fi nanciamento adicional para as políticas de biodi- versidade. A Convenção de Biodiversidade tinha que apresentar propósitos divergentes, dessa forma o Sul fechava posição e impossibilitava o acordo. Finalizando, o acesso aos recursos genéticos deve ser defi nido com base em acordo mútuo; e os recursos biológicos pertencem aos países nos quais existem naturalmente e não constituem uma herança ou patrimônio comum da humanidade; mas sua conservação e uso sustentável devem representar uma preocupação comum da humanidade. Direitos de propriedade sobre os recursos biológicos como proprieda- de intelectual relativa a produção da indústria biotecnológica e direitos à integridade intelectual das populações tradicionais são temas em discus- são. Há tendência crescente de se dar valor à propriedade intelectual, de forma a compensar os altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos. Procurou-se também atribuir valor econômico aos recursos genéticos selvagens e aos conhecimentos tradicionais, de forma que todo o circuito, desde o acesso ao recurso até sua utilização, se incorporasse a uma escala de valor comum. A Convenção prega o desenvolvimento sustentável, reconhecendo em cada parte as potencialidades e vulnerabilidades, tratando a interdependên- cia como um desafi o e uma oportunidade de cooperação. É um desafi o polí- tico. Em junho de 1992, no Rio de Janeiro, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, ECO-92 ou RIO-92, foi assinada a Convenção da Diversidade Biológica – CDB, aprovada por 156 países. A Convenção inovou em pelo menos quatro aspectos: 32790003miolo 29 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE30 1. permitir que as razões éticas e estéticas para conservação da biodiver- sidade sejam reconhecidas ofi cialmente como relevantes, ao lado das razões econômicas e ecológicas; 2. abordar a conservação, o estudo e o uso sustentável de recursos bioló- gicos de forma integrada e global; 3. estabelecer fi nalmente um vínculo entre conservação da biodiversidade e acesso aos recursos genéticos e à biotecnologia; 4. procurar contrabalançar os desníveis entre as partes propondo parce- rias Norte/Sul que não se limitam ao fi nanciamento, mas que impli- quem em transferência de tecnologia para a conservação, a ciência e a utilização sustentável da biodiversidade. Para a aplicação da Convenção da Biodiversidade são necessários co- nhecimentos sobre a biodiversidade, sua origem, manutenção e as perdas já ocorridas na Terra. A humanidade já penhorou 40% da produção primá- ria territorial da Terra para seu próprio uso, com custos em termos de perda de habitats naturais e redução na viabilidade ou extinção das espécies. Nas fl orestas tropicais úmidas restam apenas 7% da área original e ela conti- nua diminuindo em uma taxa estimada de 1 a 2% ao ano. Com as mudanças climáticas adversas e a alta incidência de raios ul- travioletas, o foco da proteção da biodiversidade mudou, tornando-se mais complexo e amplo. 32790003miolo 30 4/1/10 9:20 AM 2 2. Biomas do Estado de São Paulo 32790003miolo 31 4/1/10 9:20 AM 34 BIODIVERSIDADE Estima-se a ocorrência de 20 mil espécies de plantas na Mata Atlân- tica, sendo seis mil endêmicas. Para a fauna alguns estudiosos indicam a existência de 1.800 espécies de vertebrados, sendo 390 endêmicas, mas esses números podem ser bem mais elevados porque para alguns grupos há carência de informações. Pode-se dizer que o bioma Mata Atlântica em seu sentido amplo en- globa várias formações vegetais, relacionadas com o tipo de solo, clima e relevo. Próximos ao mar, nas desembocaduras de rios, ocorrem os mangue- zais, em substrato lamoso. Na planície costeira arenosa estão as forma- ções da restinga (complexo da restinga com diferentes fi sionomias). Nas encostas íngremes, vales e planaltos estão as fl orestas ombrófi las densas e as fl orestas ombrófi las mistas. Mais para o interior, surgem as fl orestas estacionais (decidual e semidecidual) e os brejos interioranos. Nos cumes das serras estão os campos de altitude. No Estado de São Paulo, a Mata Atlântica é representada da costa atlântica para o interior, pelos manguezais, formações de restinga, pela fl oresta ombrófi la densa, fl oresta ombrófi la mista, campos de altitude e fl oresta estacional decidual e semidecidual, estas últimas entremeadas com o cerrado. 1. Manguezais Manguezal é uma formação que ocorre ao longo dos estuários, em função da água salobra produzida pelo encontro da água doce dos rios com a do mar. É uma vegetação muito característica, pois o mangue- zal (fi gura 2.1) tem poucas espécies de árvores: o mangue-vermelho, o mangue-branco, o mangue-preto ou canoé e o mangue-de-botão, (fi gura 2.2) – menos de 1% das espécies registradas na Mata Atlântica. Abriga uma diversidade de microalgas pelo menos dez vezes maior que usual- mente encontradas nos lagos da Mata Atlântica. Essa abundância de algas garante a sobrevivência de uma grande quantidade de animais e a produ- 32790003miolo 34 4/1/10 9:20 AM 35BIOMAS DO ESTADO DE SÃO PAULO2. tividade do ambiente, importante para a população do litoral, que vive da pesca artesanal de peixes, camarões, caranguejos e molus- cos, e para a indústria pesqueira em geral. As plantas possuem raízes providas de poros, que se projetam para fora do solo pobre em oxigênio e têm capacidade de utilizar esse gás diretamente da Fig. 2.1 Mangue vermelho Fig. 2.2 Perfi l esquemático do Manguezal atmosfera. Possuem glândulas nas folhas, capazes de excretar o excesso de sal absorvido do solo encharcado por água do mar. Nas árvores do man- gue, as sementes germinam antes do fruto se desprender da planta-mãe de tal modo que, ao cair, já apresentam um embrião bem desenvolvido. Além das árvores, os manguezais abrigam grande variedade de orga- nismos característicos. Destacam-se as epífi tas (plantas que vivem apoia- das em outras) como orquídeas, bromélias, samambaias e os liquens. A fauna do mangue pode ser dividida em três grandes grupos: o pri- meiro constituído por seres que vivem toda a sua fase adulta nos mangues, como caranguejos, ostras e o jacaré-de-papo-amarelo, o segundo, consti- tuído por aqueles que utilizam o mangue durante sua fase juvenil, formado principalmente pelos peixes; e o terceiro formado por alguns mamíferos e, em especial, pelas aves marinhas continentais como o papagaio-de-cara- roxa, o biguá e as garças. fo to A ce rv o In st itu to d e Bo tâ ni ca 32790003miolo 35 4/1/10 9:20 AM 36 BIODIVERSIDADE 2. Restinga Vegetação de restinga é o conjunto de comunidades vegetais fi siono- micamente distintas, sob infl uência marinha e fl úvio-marinha, distribuídas em áreas com grande diversidade ecológica, sendo classifi cadas como co- munidades edáfi cas, por dependerem mais da natureza do solo que do clima. A vegetação sobre dunas e planícies costeiras inicia-se junto à praia, com gramíneas e vegetação rasteira composta por ipomeia, pinheirinho- da-praia, carrapicho-da-praia entre outras. À medida que se avança para o interior a vegetação vai fi cando cada vez mais variada assumindo diversos portes. Na formação arbustiva encontramos a camarinha, a congonhinha, a maçã-da-praia, o araçá, os cambuis e as pitangas além de diversas outras. Onde a vegetação assume porte arbóreo e nas fl orestas nota-se a clúsia, as canelas, a mandioqueira, o palmito-juçara, as guaricangas e diversas epífi tas e trepadeiras, e no chão da fl oresta há uma grande quantidade de bromélias. Nas fl orestas paludosas há predominância de caxeta ou de gua- nandi. Em alguns locais aparecem brejos com densa vegetação aquática como as taboas e o chapéu-de-couro. Fig 2.3 Perfi l esquemático da Restinga: 1. Vegetação de praia e dunas; 2. Vegetação herbácea, arbustiva/subarbustiva; 3. Vegetação herbáceo-arbustiva em solo encharcado; 4. Brejo; 5. Floresta baixa; 6. Floresta alta; 7. Transição entre restinga e encosta; 8. Mata de encosta 32790003miolo 36 4/1/10 9:20 AM 39BIOMAS DO ESTADO DE SÃO PAULO2. Fig. 2.4 Floresta ombrófi la densa onde se destaca o palmito-juçara . Foto Clayton F. Lino Fig. 2.5 Onça-pintada, um felídeo típico também do cerrado. Foto Acervo Fundação Zoológico 32790003miolo 39 5/3/10 11:20 AM 40 BIODIVERSIDADE 4. Floresta Ombrófi la Mista Nos maciços descontínuos de São Paulo (serras de Pararanapiacaba, Mantiqueira e Bocaina), a Floresta Atlântica combina-se com o pinheiro-do- paraná e dá origem a Floresta Pluvial de Araucária (ou Mata de Araucária). O pinheiro-do-paraná constitui o andar superior da fl oresta, abaixo das araucárias encontra-sea as canelas e as imbuias, e no sub-bosque são comuns mirtáceas, xaxins, samabaias e o pinheiro-bravo. A presença de casca-de-anta, pinheiro-do-paraná e pinheiro-bravo, sugere, pela altitude e latitude do planalto meridional, uma ocupação recente na história da Terra a partir de refúgios alto-montanos. Na época da frutifi cação da araucária é comum observar esquilos comendo seus frutos. O corocoxó e o pica-pau- dourado são duas aves restritas a essa fl oresta e a serpente muçurana tam- bém é restrita à fl oresta ombrófi la mista das serras do Mar e Mantiqueira (fi gura 2.6). 5. Floresta Estacional Passando o planalto atlântico, em direção ao interior do estado, a pre- cipitação anual das chuvas diminui, o clima apresenta sazonalidade mais defi nida, com inverno seco e verão chuvoso, e é nesse ambiente que se de- senvolve a fl oresta estacional (decidual ou semidecidual). O inverno seco, com redução de água disponível no solo e diminuição da temperatura, faz a maioria das espécies de árvores perderem parte de suas folhas (semide- cíduas), ou todas (decíduas), reduzindo seu ritmo de desenvolvimento e de consumo de água (fi gura 2.7). A fl oresta estacional apresenta árvores altas de 25 a 30 metros, ve- getação bastante diversifi cada, com muitos cipós e epífi tas e samambaias nos locais mais úmidos. Está entremeada com o cerrado, sendo considera- da uma transição entre a fl oresta ombrófi la densa e o cerradão. O fator de- terminante da existência de cerrado ou fl oresta estacional em uma região é o tipo de solo, que é mais pobre sob o cerrado. 32790003miolo 40 4/1/10 9:20 AM 41BIOMAS DO ESTADO DE SÃO PAULO2. Existem diversas árvores de madeiras nobres na fl oresta estacional como o cedro, a peroba, o jatobá e o guarantã. Entre os animais estão a anta, os porcos-do-mato, diversos roedores e répteis. O mico-leão-preto é uma espécie ameaçada de extinção restrito às reservas de Caetetus, Anga- tuba e Teodoro Sampaio, administradas pela Secretaria do Meio Ambiente. Fig 2.7 Floresta estacional Fig. 2.6 Floresta ombrófi la mista onde se destacam as araucárias fo to L eo na rd o R. S. G ui m ar ãe s fo to A ce rv o In st itu to d e Bo tâ ni ca 32790003miolo 41 4/1/10 9:20 AM 44 BIODIVERSIDADE orgânica, assim como constituem uma importante fonte alimentar para muitas outras espécies animais. Por outro lado, a pressão urbana e o rápi- do estabelecimento de atividades agrícolas vêm reduzindo rapidamente a biodiversidade desses ecossistemas. As árvores do cerrado são muito peculiares, com troncos tortos, cober- tos por uma cortiça grossa, cujas folhas são geralmente grandes e rígidas. Muitas plantas herbáceas têm órgãos subterrâneos para armazenar água e nutrientes. Cortiça grossa e estruturas subterrâneas podem ser interpre- tadas como algumas das muitas adaptações dessa vegetação às queima- das periódicas a que é submetida, protegendo as plantas da destruição e capacitando-as para rebrotar após o fogo. Acredita-se que, como em muitas savanas do mundo, os ecossistemas de cerrado vêm coexistindo com o fogo desde tempos remotos, inicialmente como incêndios naturais causados por relâmpagos ou atividade vulcânica e, posteriormente, cau- sados pelo homem. Tirando proveito da rebrota do estrato herbáceo que se segue após uma queimada em cerrado, os habitantes primitivos dessas regiões aprenderam a se servir do fogo como uma ferramenta para aumen- tar a oferta de forragem aos seus animais (herbívoros) domesticados, o que ocorre até hoje. Esse bioma também se caracteriza por suas diferentes paisagens, ca- racterizadas por extensas formações savânicas, interceptadas por matas ciliares ao longo dos rios, nos fundos de vale. Entretanto, outros tipos de vegetação podem aparecer na região dos cerrados, tais como os campos úmidos ou as veredas de buritis, em que o lençol freático é superfi cial; os campos rupestres podem ocorrer nas maiores altitudes. Mesmo as formas savânicas exclusivas não são homogêneas, havendo uma grande variação no balanço entre a quantidade de árvores e de herbáceas, formando um gradiente estrutural que vai do cerrado completamente aberto – o campo limpo, vegetação dominada por gramíneas, sem a presença dos elementos lenhosos (árvores e arbustos) – ao cerrado fechado, fi sionomicamente fl o- restal – o cerradão, com grande quantidade de árvores e aspecto fl orestal 32790003miolo 44 4/1/10 9:20 AM 45BIOMAS DO ESTADO DE SÃO PAULO2. (fi gura 2.9). As formas intermediárias são o campo sujo, o campo cerrado e o cerrado stricto sensu, de acordo com uma densidade crescente de ár- vores. Segundo Eiten (1970) os tipos fi sionômicos do cerrado latu sensu se distribuem de acordo com três aspectos do substrato nos quais se de- senvolvem: a fertilidade e o teor de alumínio disponível; a profundidade; e o grau de saturação hídrica da camada superfi cial e subsuperfi cial. Essa heterogeneidade abrange muitas comunidades de mamíferos e de inverte- brados, além de uma importante diversidade de microrganismos, tais como fungos associados às plantas da região. Muitos autores aceitam a hipótese do oligotrofi smo distrófi co para formação do cerrado, sua vegetação com características adaptativas mar- cantes a ambientes áridos, folhas largas, espessas e pilosas, caule extre- mamente suberizado etc. Contudo apesar de sua aparência xeromórfi ca, a vegetação do cerrado situa-se em regiões com precipitação média anual de 1.500 mm, estações bem defi nidas, em média com seis meses de seca, solos extremamente ácidos, profundos, com defi ciência nutricional e alto teor de alumínio. Em razão da sua localização, o cerrado, compartilha espécimes com a maioria dos biomas brasileiros (fl oresta amazônica, caatinga e fl oresta atlântica), com uma biodiversidade comparável a da fl oresta amazônica. Contudo por causa do alto grau de endemismo, cerca de 45% de suas espécies são exclusivas de algumas regiões, e a ocupação desordenada e destrutiva de sua área, o cerrado é hoje o ecossistema brasileiro que mais sofre agressões por parte do “desenvolvimento”. Fig. 2.9 Fisionomias do Cerrado 32790003miolo 45 4/1/10 9:20 AM 46 BIODIVERSIDADE Em São Paulo originalmente o cerrado ocupava 14% do território do estado, hoje restam menos de 2% de sua vegetação original, distribuída de forma espacialmente muito fragmentada, interrompido diversas vezes por outras formações. 1. Cerradão O cerradão apresenta fi sionomia fl orestal, as árvores formam um dos- sel contínuo com poucas emergentes. No sub-bosque podemos observar arbustos pequenos e herbáceas como o capim-navalha e o caraguatá. A vegetação tem um aspecto de mata seca. No cerradão encontramos árvo- res típicas do cerrado como o barbatimão e o pequi, mas são mais comuns árvores como a candeia, o cinzeiro, a copaíba, o angico-preto, a marmela- da entre outras. Os animais que vivem nessa formação em geral também estão presentes na fl oresta estacional e nas outras fi sionomias de cerrado como a anta (fi gura 2.10), o porco-do-mato, a onça-pintada, gambás, vea- dos, diversos roedores e um número muito grande de aves. Fig. 2.10 A anta (Tapirus terrestris) é um dos animais também da Mata Atântica Fo to A ce rv o Fu nd aç ão Z oo ló gi co 32790003miolo 46 4/1/10 9:20 AM 49BIOMAS DO ESTADO DE SÃO PAULO2. Fig. 2.13 Campo cerrado com árvores muito esparsas. Fig. 2.14 Cupinzeiros no campo sujo. Foto Marie Sugiyama Fig. 2.14 Tatu. Foto Fausto Pires de Campos fo to A ce rv o In st itu to d e Bo tâ ni ca 32790003miolo 49 4/1/10 9:20 AM 32790003miolo 50 4/1/10 9:20 AM 3 3.Como conhecer a biodiversidade 32790003miolo 51 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE54 1974). Para elaborar o gráfi co deve-se colocar no eixo “X” o número de unidades amostrais e, em “Y” o número de espécies registradas. A curva é logarítimica e, inicialmente, à medida que aumentamos a área amostral o número de espécies cresce rapidamente, depois de forma mais lenta até fi car praticamente paralela ao eixo “X” (assintótica). Entretanto, para que a comparação dos dados obtidos para a comunidade seja interpretada de forma correta é recomendável que sejam utilizadas técnicas de reamos- tragem como o bootstrap e o jackknife para a obtenção de intervalos de confi ança. Tabela 3.1 Lista parcial contendo o nome da família e de espécies ameaçadas de extinção do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), município de São Paulo (Adaptado de Barros et al., 2002). Criticamente em perigo; em perigo; presumivelmente extinta e vulnerável. Família Número de espécies Grau de ameaça Aquifoliaceae 1 vulnerável Bromeliaceae 1 criticamente em perigo Campanulaceae 1 presumivelmente extinta Cucurbitaceae 1 vulnerável Euphorbiaceae 1 em perigo Gesneriaceae 1 vulnerável Lauraceae 3 em perigo 1 vulnerável Malpighiaceae 1 em perigo Meliaceae 1 em perigo 2 vulnerável Orchidaceae 3 vulnerável Passifl oraceae 1 presumivelmente extinta Proteaceae 2 vulnerável 1 em perigo Simaroubaceae 1 em perigo Verbenaceae 1 em perigo 32790003miolo 54 4/1/10 9:20 AM 553. COMO CONHECER A BIODIVERSIDADE Uma das maneiras de avaliar a biodiversidade é através da realização de inventários biológicos em unidades amostrais. Os métodos utilizados nos inventários dependem do objetivo a ser atingido pelo projeto e tam- bém do organismo a ser estudado. Os inventários conhecidos como Proje- tos Ecológicos de Longa Duração – PELD, que têm como objetivo principal o estudo da estrutura, composição e o entendimento de processos ecológi- cos, utilizam a implantação e manutenção de parcelas permanentes. A área de estudo a ser inventariada geralmente abrange um hectare. Tal método tem elevado custo fi nanceiro e necessita de um longo período para implan- tação, coleta de dados e manutenção da parcela. Inventários Rápidos (RAP) têm como objeto avaliar a composição e número de espécies. Esse método foi desenvolvido por Gentry (1982) e consiste na amostragem de espécies dentro de dez transectos lineares de 2 x 50 m, o que totaliza uma área total de 0,1 hectare. Ambos os métodos são comuns nos estudos de comu- nidades vegetais; entretanto, são também empregados em inventários de fauna, principalmente de organismos sésseis e de locomoção lenta. Fig. 3.2 Curva de coletor utilizando técnicas de reamostragem em que os valores sugerem que foram obtidos de 77% a 92% da fauna acessível aos métodos utilizados, e que se encontrava adulta na época do levantamento (Nogueira et al., 2006). 32790003miolo 55 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE56 O método de captura e recaptura (LINCOLN-PETERSON), desen- volvido para o estudo de fauna, como o próprio nome diz, consiste na captura aleatória, identifi cação, anotação de caracteres (peso, tamanho, idade, espécie, marcação), seguida de liberação dos indivíduos. Após um intervalo de tempo pré-determinado ocorre uma segunda coleta na qual o pesquisador volta ao local para a recaptura dos espécimes. Brincos, colares e anilhas são considerados como marcas de longa durabilidade embora possa se desprender quando o animal briga ou se enrosca na vegetação. Outros métodos utilizados para estimar a fauna numérica, principal- mente de animais furtivos, consistem em avaliar pegadas deixadas sobre o substrato como areia, com auxílio de desenhos, moldes ou fotografi a. As armadilhas fotográfi cas funcionam bem como método não invasivo para “capturar” animais. Elas são utilizadas para o levantamento de espécies e populações. A máquina fotográfi ca é acoplada a um sistema disparador que pode ser: sensores de raios infravermelhos capazes de detectar o calor corporal, sensor de radar e sistema mecânico. Esses equipamentos regis- tram data e horário da foto. Iscas são igualmente utilizadas em armadilhas e dependem do objetivo pretendido. Além desses, os estudos etnozoológi- cos auxiliam no levantamento da fauna. Uma outra abordagem de investigação de biodiversidade é por meio da análise da variabilidade genética de indivíduos ou populações de espé- cies. A diversidade genética é a variedade de alelos e genótipos presentes em um grupo (populações, espécies ou grupos de espécies). A diversidade genética é necessária para as populações evoluírem e lidarem com as mu- danças ambientais. Genes são sequências de nucleotídeos (aminoácidos) que ocupam uma determinada posição (loco) de uma molécula de DNA. A diversidade genética representa pequenas diferenças nessas sequências, e é geralmen- te descrita usando-se polimorfi smo (diferenças comuns entre indivíduos da mesma espécie), heterozigosidade (quantidade de diversidade genética em 32790003miolo 56 4/1/10 9:20 AM 593. COMO CONHECER A BIODIVERSIDADE tam sementes de tamanho médio a grande e que permanecem no solo por períodos relativamente curtos. Espécies de estádio climácico são tolerantes à sombra e apresentam sementes que germinam rapidamente após a dis- persão formando um banco de plântulas. A investigação e a compreensão dos mecanismos naturais envolvidos no processo de sucessão secundária têm norteado, nas últimas décadas, tanto a conservação quanto a restauração fl orestal. Ao mesmo tempo que ocorre intenso processo de redução das áreas fl orestadas, pergunta-se de que forma os processos naturais envolvidos na dinâmica de comunidades podem nortear as atividades de manejo e preservação dos ecossistemas naturais. Bioindicadores Desde que a vida surgiu no planeta Terra os seres vivos vêm se diversi- fi cando para ocupar cada lugar existente, com as espécies adaptando-se a cada pequeno espaço existente em sua luta por sobrevivência, competindo entre si por espaço, luz, água, alimento e demais condições de vida e de reprodução. É claro que menos espécies conseguiram se adaptar às condições mais áridas ou aonde as temperaturas atingem valores extremos, como na An- tártida ou nos desertos quentes. Porém, nas regiões de clima menos hos- til e com bastante água à disposição, a biodiversidade tornou-se elevada, atingindo valores muito altos em latitudes tropicais como as do Brasil, nas quais se desenvolveram espécies adaptadas não apenas aos diferentes cli- mas, mas também a cada pequena variação ambiental dentro dos diversos ambientes existentes no interior das diversas formações vegetais. Se por um lado isso signifi ca que em nossas matas existe uma enorme biodiversidade, com recursos biológicos social e economicamente impor- tantes, também signifi ca que os seres vivos que aí vivem estão adaptados a viver dentro de limites estreitos de variação ambiental, nichos. 32790003miolo 59 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE60 Por vezes, o simples fato de se abrir picadas ou fazer um rareamento no interior de matas e bosques, retirando as plantas que “estão atrapa- lhando”, causa uma alteração no padrão de circulação do ar, o que provoca uma dessecação do ambiente, que, por sua vez, mata e derruba das árvores um grande número de plantas epífi tas, acompanhadas de toda a fauna a ela associada, prejudicando ou eliminando outros vegetais e animais que dependem da existência dessas plantas e animais. Como consequência, ocorre uma redução da biodiversidade e dos recursos biológicos que de- pendem dela. Assim, a redução da biodiversidade pode indicar a presença de algum problema ou alteração ambiental, seja natural, seja causado pela interfe- rência do ser humano sobre a natureza. Acontece que entre os seres vivos existem alguns mais sensíveis que outros às variações do ambiente. Esses seres, que podem ser desde sim- ples espécies ou todo um grande grupo, mostram grandes variações, que podem ser medidas, com relativamente pequenas variações ambientais, e são chamados de bioindicadores. Há grupos, como por exemplo, os liquens, cujos indivíduos ou espécies morrem e desaparecem antes de outros seres vivos quando a poluição do ar se inicia e podem ser utilizados com efi ciên- cia para monitorar esse tipo de alteração ambiental. Ao se acompanhar a diminuição do número de espécies de liquens sobre troncos de árvores, é possível estabelecer qual o nível de poluição do ar; isso porque cada espécie de líquen tem uma determinada tolerância à poluição, de modo que pode ser elaborada uma escala que associa o nível de poluição à ausência das espécies. Esse tipo de monitoramento, efetuado há tempos na Europa, está em seus estágios iniciais no Brasil, onde se está determinando quais espécies podem ser utilizadas como indicadoras. A medida da biodiversidade não depende apenas do número de espé- cies que existe numa região; depende também da quantidade relativa de indivíduos dessas espécies que compõem a comunidade. Em outras pala- vras: se uma espécie tem muito mais indivíduos que as outras espécies que 32790003miolo 60 4/1/10 9:20 AM 613. COMO CONHECER A BIODIVERSIDADE habitam o mesmo local, a diversidade é considerada baixa. Assim, as plantações, refl orestamentos comerciais e determi- nadas matas nas quais uma ou poucas espécies dominam toda a estrutura da comunidade, como nas fl orestas boreais, nos desertos e nas regiões árticas, por exemplo, são lugares de baixa diversi- dade. Nesses locais, a ação humana ou os extremos ambientais fazem com que poucas espécies tenham uma grande po- pulação relativamente aos outros seres vivos que tentam aí sobreviver. Fig. 3.3 Floração de cianobactérias em lago eutrofi zado por esgoto. A atividade humana e os produtos e resíduos dessa atividade têm exercido enorme pressão sobre as comunidades naturais, alterando drasticamente a bio- diversidade, às vezes por meio de pro- dutos tóxicos, às vezes pelo lançamento de nutrientes em excesso no ecossistema (eutrofi zação). Os despejos de esgotos domésticos e industriais, as atividades agri- culturais e o desmatamento são as principais causas da eutrofi zação dos sistemas aquáticos continentais. Isso provoca diversas alterações nas qua- lidades físicas, químicas e biológicas da água, tais como, aumento das concentrações de nitrogênio e fósforo, baixa transparência, diminuição da camada de água na qual há penetração de luz solar e aumento do pH, trazendo como consequência o aumento excessivo de células de determi- nadas espécies de algas na superfície da água, fenômeno conhecido como fl oração. Geralmente, as algas dominantes são as cianobactérias, favore- cidas em ambientes eutrofi zados, e que formam rapidamente as fl orações fo to A ce rv o In st itu to d e Bo tâ ni ca fo to A ce rv o In st itu to d e Bo tâ ni ca 32790003miolo 61 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE64 as plantas e os animais e estabelecem nomes científi cos para as mesmas. A elaboração dessas listas só é possível quando se conhece a fl ora ou fauna de uma determinada região, após a realização de inventários de plantas e animais. Para se classifi car uma determinada espécie em uma das categorias de ameaça estabelecidas pela UICN (União Internacional para Conservação da Natureza), as espécies são classifi cadas de acordo com vários critérios, dentre os quais destacam-se dados sobre a distribuição geográfi ca, tama- nho da população, presença de polinizadores e dispersores, ausência de coletas recentes, dentre outros. Para maior detalhamento desse processo, consultar os critérios estabelecidos para a elaboração da Lista de Espécies Vegetais Ameaçadas do Estado de São Paulo (MAMEDE et al.,2007). As listas e os livros vermelhos são mecanismos utilizados internacio- nalmente, inclusive como maneira de conter o tráfi co e o comércio ilegal de espécies, conforme disposto nos anexos da Convenção sobre o Comér- cio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES), da qual o Brasil é signatário. O principal papel dos livros vermelhos é alertar os tomadores de decisão, profi ssionais da área de meio ambiente, conservacionistas e a opinião pública em geral, sobre o risco crescente de extinção de espécies e suas consequências sobre o patrimônio genético do planeta. Se bem entendidas, a lista com as espécies citadas nos livros vermelhos podem e devem infl uenciar no desenho das políticas públicas e privadas de ocupação e uso do solo, a defi nição e priorização de estratégias de conservação, o estabelecimento de medidas que visem reverter o quadro de ameaça às espécies, além de direcionar a criação de programas de pesquisa e formação de profi ssionais especializados em biologia da conservação. Em 1972, um grupo de especialistas, apoiados pela Academia Brasi- leira de Ciências, elaborou pela primeira vez a lista de “Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção”, contendo 86 táxons (Portaria nº 3481 – DN/31.05.1973). Atualizada em 1989, a “Lista Ofi cial de Espécies da Fauna 32790003miolo 64 4/1/10 9:20 AM 653. COMO CONHECER A BIODIVERSIDADE Brasileira Ameaçada de Extinção” foi publicada na Portaria nº 1.522 do IBAMA, em 19 de dezembro de 1989. Essa lista identifi cou 207 animais, dentre vertebrados e invertebrados, sob ameaça de desaparecimento, e incluiu sete espécies consideradas como provavelmente extintas. Poste- riormente foram incluídas na lista ofi cial, por meio de portarias adicionais (Portaria nº 45-N, de 27 de abril de 1992 e Portaria nº 062, de 17 de julho de 1997), uma espécie de primata, nove morcegos e um pássaro, totalizan- do 218 espécies. Em 2002, a Fundação Biodiversitas realizou a revisão da Lista Ofi cial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, tendo em vista as aceleradas modifi cações ambientais que se processaram desde a sua elaboração em 1989. A lista atual conta com 633 espécies ameaça- das de extinção, contando com os grupos de invertebrados terrestres, anfí- bios, répteis, aves, mamíferos, invertebrados aquáticos e peixes (Instruções Normativas nº 03, de 27 de maio de 2003 e nº 05, de 21 de maio de 2004 do MMA e o Decreto nº 53.494, de 2 de outubro de 2008 da SMA). Muitas das novas informações existentes sobre a fauna ameaçada de extinção no Brasil advêm das listas e dos livros vermelhos, atualmente já elaborados para os estados do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e, recentemente em homologação, Espírito Santo. As revi- sões periódicas da Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Ex- tinção são fundamentais para manter a função principal desse documento que é permitir a priorização de recursos e ações de proteção das espécies, além de alertar a sociedade e os governos sobre a necessidade de adoção de medidas efetivas para proteção dessas espécies. Espera-se que, além da nova lista, o livro vermelho auxilie também na reavaliação das medidas que vêm sendo adotadas para a proteção de espécies da fauna brasileira, redirecionando-as ou tornando-as mais rígidas em função dos resultados obtidos na sua revisão. O “Livro Vermelho das Espécies Vegetais Ameaçadas do Estado de São Paulo” destaca 1.086 espécies vegetais ameaçadas de extinção e que precisam de medidas urgentes para sua preservação. A obra, resultado de 32790003miolo 65 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE66 estudos realizados de 1998 a 2004 por cerca de 400 pesquisadores vincula- dos à Secretaria do Meio Ambiente, universidades e institutos de pesquisa, deverá auxiliar na conservação e na restauração dos principais biomas do estado. A lista foi elaborada de acordo com critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) e adaptada para a fl ora paulista durante encontros de pesquisadores realizados no Instituto de Botânica. Entre as espécies ameaçadas do livro, cuja relação foi publicada em setembro de 2004 no Diário Ofi cial do Estado de São Paulo, estão nomes conhecidos como a cabreúva, o xaxim e a araucária. O Livro Vermelho traz comentários e informações adicionais, como critérios utiliza- dos para a inserção das espécies nas diferentes categorias e textos científi cos es- critos pelos pesquisadores que incluem medidas para a conservação, além de uma nova listagem com espécies quase ameaçadas que estão próximas de integrar a lista ofi cial das ameaçadas (MAMEDE et al 2007). A obra, segundo Mamede, deverá contribuir ainda para o planejamen- to ambiental de São Paulo na orientação dos processos de licenciamento de novos empreendimentos, planos de manejo em unidades de conserva- ção e expedição de laudos de desmatamento. Com a divulgação da metodologia utilizada para a elaboração da listagem, a obra auxiliará no aperfeiçoamento dos critérios de seleção das espécies, o que será útil para as próximas avaliações de plantas ameaçadas. A metodologia utilizada deve ser questionada para ser melhorada (MAMEDE et al 2007). O livro traz ainda informações sobre a distribuição geográfi ca das espécies e, em muitos casos, bioma de ocorrência, local e ano da última coleta registrada. Das 1.086 espécies ameaçadas, 407 estão no grupo das “presumivelmente extintas”, considerada a última categoria antes de elas desaparecerem por completo. Por isso, além de indicar novas diretrizes de pesquisas para que os cientistas te- nham mais condições de avaliar o estado de conservação das espécies, o livro também servirá como parâmetro de fi scalização por parte de órgãos públicos como o Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais (MAMEDE et al. 2007). Essas listas representam um instrumento bastante efi ciente, utilizado pelos órgãos responsáveis na emissão de licenças ambientais, na análise 32790003miolo 66 4/1/10 9:20 AM 4 4. Efeitos de impactos ambientais na biodiversidade 32790003miolo 69 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE70 4. Efeitos de Impactos Ambientais na Biodiversidade Quando os cientistas se reúnem para discutir o impacto das alterações ambientais na biodiversidade, os resultados são bastante controversos. Alguns acreditam que as espécies conseguiram sobreviver a cenários pas- sados piores que os atuais e que as previsões sobre os efeitos das mudan- ças climáticas na biodiversidade de espécies são muito alarmistas. Outros acreditam que as ações antrópicas, as mudanças no regime de chuvas, o aumento da temperatura e do nível dos oceanos, a composição dos ecos- sistemas e a disponibilidade de alimentos terão efeitos signifi cativos na riqueza de espécies. O aquecimento global O aquecimento global é resultado da emissão crescente de gases de efeito estufa (GEEs), sobretudo o dióxido de carbono (CO2), na atmosfera. Isso acontece, entre várias causas, pela queima de combustíveis fósseis (como petróleo, carvão e gás natural) e por meio do desmatamento. Como consequência, o clima global sofrerá uma série de mudanças no futuro. Entre essas mudanças encontram-se o aumento de temperaturas médias mundiais, bem como a alteração de padrões de chuva (sua intensidade e localização). Visando reduzir as emissões mundiais de CO2, 160 governos assinaram a Convenção Marco sobre Mudança Climática durante a ECO-92, realiza- da no Rio de Janeiro. O objetivo era “evitar interferências antropogênicas perigosas no sistema climático”. Foi incluída uma meta para que os países industrializados mantivessem suas emissões de gases estufa, em 2000, nos níveis de 1990. Em 1997, no Japão, foi assinado o Protocolo de Kyoto, que comprome- te uma série de nações industrializadas a reduzir suas emissões em 5,2% 32790003miolo 70 4/1/10 9:20 AM 714. EFEITOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA BIODIVERSIDADE – em relação aos níveis de 1990 – para o período de 2008-2012. A lista dos países relacionados no protocolo e a quantidade de gases poluentes emitida por cada um em 1990 estão contemplada na tabela 4.1. Pelo Pro- tocolo, os países desenvolvidos devem tomar uma série de medidas para atingir as metas de redução, dentre as quais se destacam: a) o aumento da efi ciência energética em setores relevantes da economia; b) promoção de práticas sustentáveis de manejo fl orestal, fl orestamento e refl orestamento; c) promoção de formas sustentáveis de agricultura; d) promoção e pesqui- sa de tecnologias de sequestro de dióxido de carbono. País Emissões(Gg) Porcentagem Alemanha 1.012.443 7,4 Austrália 288.965 2,1 Áustria 59.200 0,4 Bélgica 113.405 0,8 Bulgária 82.990 0,6 Canadá 457.441 3,3 Dinamarca 52.100 0,4 Eslováquia 58.278 0,4 Espanha 260.654 1,9 Estados Unidos da América 4.957.022 36,1 Estônia 37.797 0,3 Federação Russa 2.388.720 17,4 Finlândia 53.900 0,4 França 366.536 2,7 Grécia 82.100 0,6 Hungria 71.673 0,5 Islândia 2.172 0,0 Tabela 4.1 Quantidades de dióxido de carbono (CO2) emitidas pelos países desenvolvidos em 1990. Os valores apresentados servem como base para as futuras reduções previstas pelo protocolo de Kyoto para o ano de 2012. continua... 32790003miolo 71 4/1/10 9:20 AM BIODIVERSIDADE74 o quarto emissor global de gases de efeito estufa, com mais de 75% das emissões resultantes do desmatamento. Segundo relatório recente divulgado por pesquisadores da Embra- pa (PINTO et al., 2008), o aumento das temperaturas em decorrência do aquecimento global pode alterar profundamente a geografi a da produção agrícola no Brasil. Se nada for feito para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e adaptar as culturas para a nova situação, deve ocorrer uma mi- gração de plantas para regiões que hoje não são de sua ocorrência em bus- ca de condições climáticas melhores. Áreas que atualmente são as maiores produtoras de grãos podem não estar mais aptas ao plantio bem antes do fi nal do século. Entre as nove culturas analisadas, somente a cana-de- açúcar e a mandioca não sofrerão redução de área. Esses dados indicam que pode ocorrer uma perda de biodiversidade das plantas cultivadas. Fig. 4.1 Variação da temperatura média global da superfície terrestre (relativa ao período 1980-1999). Os cenários A2, A1B e B1 são apresentados como continuação das simulações do século XX. Em azul o cenário mais otimista, em verde o intermediário e em vermelho o cenário menos otimista. Em rosa, o cenário previsto caso as concentrações de CO2 se mantenham constantes nos níveis do ano 2000. (Modifi cada de fi gura apresentada no 4º Relatório do IPCC, Climate Change 2007: The Physical Science Basis, disponível no site www.ipcc.ch). 32790003miolo 74 4/1/10 9:20 AM 754. EFEITOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA BIODIVERSIDADE Com relação às espécies nativas, no Brasil e no Mundo, as previsões são mais controversas. Segundo previsões menos alarmistas, espécies de plantas e animais serão capazes de migrar com rapidez sufi ciente para escapar da extinção imposta pelo estresse do aumento de temperatura. Em relatório publicado pelo Centro de Estudos de Dióxido de Carbono e Mu- danças Climáticas, Idso e colaboradores (2003) apresentam estudos que sugerem que o aumento de CO2 atmosférico será provavelmente benéfi co para a biodiversidade. Ao fi nal do relatório, os autores concluem que as espécies de plantas e animais serão capazes de se adaptar às mudanças, e que, contrariamente ao previsto, muitas espécies atualmente em risco de extinção deixarão de ser por conta das mudanças climáticas globais. Por outro lado, segundo o último relatório do IPCC, divulgado em 2007, aproximadamente 20 a 30% das espécies de plantas e animais conhecidas atualmente sofrerão alto risco de extinção caso as temperaturas médias globais aumentem de 2 a 3°C com relação às temperaturas pré-industriais. Os impactos previstos são de grande relevância, visto que perdas na biodi- versidade são irreversíveis. Cientistas no Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas (NCAR), de Boulder, USA, simularam em computador, com grande riqueza de detalhes, o clima da terra no período Permiano (KIEHL; SHIELDS, 2005). O trabalho reforça a teoria de que um aumento dramático e abrupto dos níveis de CO2 atmosférico e da temperatura provocaram uma extinção em massa, 251 milhões de anos atrás, com o desaparecimento de 90 a 95% das espécies marinhas e de 70% das espécies terrestres. Nesse período, as temperaturas eram 10 a 30°C maiores do que as atuais e uma extensa atividade vulcâ- nica teria liberado grandes quantidades de CO2 e dióxido de enxofre na atmosfera. Segundo um trabalho publicado pela Drª Camille Parmesan, da Univer- sidade do Texas, com base em 866 trabalhos científi cos que documentam os impactos das mudanças climáticas sobre as espécies e os ecossistemas, o aquecimento global em curso já está levando ao desaparecimento de 32790003miolo 75 4/1/10 9:21 AM BIODIVERSIDADE76 espécies nos habitats mais sensíveis (regiões polares, topos das monta- nhas) e continuará a provocar mais extinções nos próximos 50 a 100 anos (PARMESAN, 2006). Segundo a bióloga, as espécies adaptadas a um maior número de ambientes devem migrar e sobreviver sob novas condições, en- quanto espécies raras, que vivem em ambientes frágeis ou extremos já es- tão sendo afetadas e devem continuar desaparecendo. Neste último grupo, a autora cita os anfíbios, as borboletas, os recifes de coral e as espécies polares. Ao consultar a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção, divulgada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), é possível observar um nítido aumento no número de espécies animais e vegetais nas categorias ameaçadas, de 1996 para 2008 (tabela 4.2). CR EM Grupos 1996/98 2000 2002 2003 2004 2006 2007 2008 1996/98 2000 2002 mamiferos 169 180 181 184 162 162 163 188 315 340 339 pássaros 168 182 182 182 179 181 189 190 235 321 326 répteis 41 56 55 57 64 73 79 86 59 71 79 anfíbios 18 25 30 30 413 442 441 475 31 38 37 peixes 157 158 157 162 171 253 254 289 134 144 143 insetos 44 45 46 46 47 68 69 70 116 118 118 moluscos 257 222 222 250 265 265 268 268 212 237 236 plantas 909 1014 1046 1278 1490 1541 1569 1575 1197 1266 1291 Tabela 4.2 Mudanças no número de espécies das categorias ameaçadas (CR, criticamente ameaçadas; EM, ameaçadas; VU, vulneráveis) de 1996 a 2008 (somente para os maiores grupos taxonômicos que compõem a lista vermelha). Disponível no endereço http://www.iucnredlist.org/static/stats. 32790003miolo 76 4/1/10 9:21 AM 794. EFEITOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA BIODIVERSIDADE matamento na região, o governo implantou o Plano de Ação para Prevenção e Controle dos Desmatamentos na Amazônia Brasileira (PPCDAm). Dentre as ações do plano destacam-se o aumento da fi scalização pelo IBAMA e a intensifi cação do controle efetuado pela Polícia Federal, autuando serrarias clandestinas, o trânsito ilegal de madeira e o desmatamento em fl orestas públicas. Também foi proposta a limitação do crédito rural para agricultores ilegais e não cadastrados, tendo em vista que uma alta correlação entre cré- dito rural e desmatamento foi observada nos últimos dez anos. A conversão da mata em região de pasto e agricultura também provo- cou impactos em outros biomas. De acordo com estimativas do Ministério do Meio Ambiente, pelo menos 40% do Cerrado já foram perdidos e segun- do a Fundação SOS Mata Atlântica restam hoje somente 7% da cobertura original da Mata Atlântica. Vale ressaltar que o Cerrado e a Mata Atlântica Brasileiros são dois dos 34 hotspots mundiais estabelecidos pela Interna- tional Conservation, com elevado número de espécies endêmicas. Fig. 4.2 Taxas de desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira no período de 1998 a 2008, obtido a partir dos dados disponíveis no site http://www.obt.inpe.br/prodes. 32790003miolo 79 4/1/10 9:21 AM BIODIVERSIDADE80 No ano passado, foi assinado o Decreto Federal nº 6.660/2008 que regulamenta a Lei da Mata Atlântica (Lei Federal nº 11.428/2006), visando garantir o desmatamento ilegal zero e recuperar a Mata Atlântica ao longo de 20 anos, passando dos atuais 7% de cobertura vegetal original para 27%. No entanto, a Lei e o Decreto se aplicam apenas aos remanescentes de vegetação nativa, não interferindo em áreas já ocupadas legalmente com agricultura, cidades, pastagens e fl orestas plantadas ou outras áreas desprovidas de vegetação nativa. Com o intuito de aperfeiçoar a proteção e fi scalização ambiental e ga- rantir a conservação e restauração da biodiversidade, o Governo do Estado de São Paulo, em associação com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Es- tado de São Paulo (FAPESP), resolveu disponibilizar informações biológicas geradas por aproximadamente 160 pesquisadores de diversas instituições de pesquisa e ensino, dentro do programa BIOTA/FAPESP (www.biota.org. br), para embasar o planejamento ambiental do governo paulista. Com base nas pesquisas foram gerado três mapas-síntese sugerindo “Diretrizes para a Conservação e Restauração da Biodiversidade no Estado de São Paulo”, através de: a) criação e/ou ampliação de Unidades de Conservação; b) incre- mento de conectividade, pela interligação de fragmentos naturais remanes- centes; c) pesquisa de diversidade biológica (RODRIGUES; BONONI, 2008). No âmbito federal, o Brasil apresentou em 2008, durante a 14ª Con- ferência das Partes sobre o Clima (COP-14), em Poznan, na Polônia, o Pla- no Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC). O plano prevê a redução dos índices de desmatamento em 70% até 2018, o que equivale a deixar de emitir para a atmosfera 4,8 bilhões de toneladas de dióxido de car- bono (CO2). O plano também apresenta outras ações estratégicas como o aumento no número de árvores plantadas; o estímulo às políticas de incentivo para uso de energias limpas como a solar; o incentivo ao uso de automóveis mais econômicos e que emitam menos poluentes, além de me- tas importantes para redução do desperdício de energia (fonte: Ministério do Meio Ambiente, www.mma.gov.br). 32790003miolo 80 4/1/10 9:21 AM 814. EFEITOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA BIODIVERSIDADE Extrativismo Autores que partem da premissa de que toda ação antrópica afeta a biodiversidade argumentam que o extrativismo tem menor impacto am- biental em relação a outros padrões de uso da terra, ao promover a ma- nutenção da cobertura vegetal, manter a composição fl orística e contribuir para dispersão e favorecimento de espécies. Segundo Alfredo Homma (2008), é um equívoco considerar que a cria- ção de reservas extrativistas constitui garantia da conservação e preserva- ção dos recursos naturais. Mesmo dentro de reservas extrativistas, existem exemplos de utilização dos recursos até seu total esgotamento, como a ex- tração do pau-rosa (Aniba rosaeodora) e do palmito de açaizeiro (Euterpe oleracea). Ao se optar pela extração de aniquilamento ao invés da coleta (que mantém a integridade da planta matriz), pode ocorrer escassez gra- dativa do recurso, caso a velocidade de extração supere a de recuperação, colocando em risco a sobrevivência da espécie. Além do tipo de extração, o autor acredita que o ato de desmatar está em íntima relação com a situa- ção econômica do extrator. No caso em que o preço dos produtos agrícolas for superior ao dos produtos extrativos, o extrator pode optar por realizar o desmatamento para o plantio de roças. Segundo Alexandre Andrade, em documento divulgado em 1996 du- rante o 1º Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, es- tratégias de desenvolvimento que contemplem os produtos fl orestais não madeireiros podem ser bem sucedidas entre populações tradicionais que habitam fl orestas tropicais em unidades de conservação, desde que vários aspectos sejam considerados em conjunto: a) critérios sustentáveis de ade- quação tecnológica; b) efi ciência econômica e administrativa; c) impacto ambiental reduzido; d) fortalecimento da autonomia local; e) mercado para tais produtos. Nesse sentido, o autor acredita que mudanças tecnológicas e gerenciais adequadas, que aumentem o valor agregado de produtos ex- trativos no local de produção e a existência de mercados que demandem 32790003miolo 81 4/1/10 9:21 AM BIODIVERSIDADE84 5. Gestão da Biodiversidade Há um reconhecimento crescente de que a diversidade biológica é um recurso global de vital importância e de grande valor para essa e futuras gerações. Não obstante, a ameaça às espécies e aos ecossistemas nunca foi tão grande quanto hoje, com os seres humanos vivendo além da capa- cidade da Terra. Como guardar, preservar, cuidar da biodiver- sidade? No Brasil existem diversas instituições responsáveis por resguardar a biodiversidade e essa conservação pode ser feita de duas formas distintas: • in situ – é a manutenção da diversidade biológica em seu ambiente de origem. Exemplo as unidades de conservação. • ex situ – é a manutenção de populações fora do seu ambiente natu- ral. Exemplo: jardins botânicos, zoológicos e hortos fl orestais Atualmente a maior parte da biodiversidade paulista e brasileira está em Unidades de Conservação (UCs) que constituem áreas de importante relevância para a preservação e conservação ambiental, permitindo a ma- nutenção dos ecossistemas e habitats de espécies em seus meios naturais de ocorrência. 32790003miolo 84 4/1/10 9:21 AM 85TÃO DA BIODIVERSIDAD5. GES E Tabela 5.1 Diversidade de espécies dos diferentes grupos de organismos. Grupo de Organismos Diversidade no Planeta Diversidade no Brasil Diversidade em São Paulo Mamíferos 5.000 654 187 Aves 9.500 1801 792 Anfíbios 4.780 814 250 Répteis 8.240 684 200 Peixes de água doce 2.800 - 350 Plantas Vasculares 300.000 40- 45.000 8.000 Fonte: São Paulo, 2008. Diretrizes para a conservação e restauração da biodiversidade no Estado de São Paulo. A conservação in situ A gestão da biodiversidade se traduz no desenvolvimento de progra- mas de pesquisas, monitoramento, fi scalização, visitação pública, extensão e educação ambiental, nas Unidades de Conservação. É importante realizar estudos para conhecer esses ambientes preservados, bem como todos os seus componentes, tais como o solo, os recursos hídricos, a fl ora, a fauna e os microrganismos, uma vez que os resultados das pesquisas contribuem para o conhecimento da biodiversidade e para o desenvolvimento de téc- nicas de recomposição e manejo de fl orestas, recuperação de ambientes degradados, resgate e reintrodução de plantas ameaçadas de extinção. Manejo de fl oresta = é cuidar da saúde desse ambiente, proteger da melhor forma possível as comunidades vegetais e/ou animais dessa área. Esse importante patrimônio natural está abrigado e protegido por um conjunto de Unidades de Conservação criadas não apenas pelo governo estadual, mas também federal, municipal e sociedade civil, totalizando 236 áreas naturais protegidas. Desse total, 93 são mantidas e administradas 32790003miolo 85 4/1/10 9:21 AM BIODIVERSIDADE86 Fig. 5.1 Vista aérea do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI) localizado na zona sul de São Paulo 32790003miolo 86 4/1/10 9:21 AM 89TÃO DA BIODIVERSIDAD5. GES E Acima: Fig. 5.2 Fungo (Macrolepiota dolichaula) e Ninfeia (Nymphaea mexicana). Abaixo: Fig. 5.3 Calango 32790003miolo 89 4/1/10 9:21 AM BIODIVERSIDADE90 A conservação ex situ A conservação ex situ é um modelo adicional e uma das principais ferramentas para conhecer e conservar a biodiversidade, que tem os se- guintes propósitos: resgatar espécies ameaçadas, fornecer material para pesquisa científi ca e tecnológica; produzir material para reintrodução e/ou que reduzam a pressão de coletas para comercialização Conceituada como a conservação de espécies fora de seu habitat natu- ral, permite o desenvolvimento de pesquisas que subsidiam programas de reprodução e reintrodução. A conservação ex situ é realizada em: • Jardim Botânico São instituições extremamente relevantes para o processo de con- servação ex situ, por causa da sua capacidade de manter exemplares de espécies da fl ora nacional em condições de cultivo fora de seu ambiente natural, em espaços especiais, disponibilizando-os para pesquisa científi ca Fig. 5.4 Vriesea sazimae, bromélia considerada vulnerável. Foto Suzana Martins Fig. 5.5 Aechmea vanhoutteana, uma bromélia considerada vulnerável. Foto Suzana Martins 32790003miolo 90 4/1/10 9:21 AM 91 e público em geral. Portanto, tem papel decisivo na conservação da biodi- versidade e educação ambiental. Os jardins botânicos em suas coleções guardam importantes espécies da fl ora brasileira, dentre elas as ameaça- das de extinção. No Estado de São Paulo temos 7 jardins botânicos: • Jardim Botânico de São Paulo • Jardim Botânico do Instituto Agronômico de Campinas • Jardim Botânico do Instituto de Biociências de Botucatu • Jardim Botânico Municipal de Bauru • Jardim Botânico Municipal Adelelmo Piva Júnior – Paulínia • Jardim Botânico Municipal Chico Mendes – Santos • Jardim Botânico Municipal de Jundiaí Fig. 5.6 Jardim Botânico de São Paulo. Foto Acervo Instituto de Botânica 32790003miolo 91 4/1/10 9:21 AM BIODIVERSIDADE94 científi ca, uma cultura do microrganismo (cultura tipo ou de referência) deve ser depositada em pelo menos uma coleção de cultura de status cien- tífi co reconhecido, de preferência de caráter governamental. Nessa coleção a nova espécie ganha um registro e fi ca disponível a outros cientistas que queiram estudá-la sob os mais variados pontos de vista, desde o taxonô- mico, o fi siológico, o genético, o agronômico, o médico, o biotecnológico, o industrial etc. Por esse motivo, as coleções de culturas são bancos de ger- moplasma (recursos genéticos) de suma importância para a manutenção da biodiversidade, permitindo a preservação de culturas que representam ampla gama de interesses científi cos e sociais. Além disso, as coleções de culturas são em muitos casos a única fonte de preservação de determi- nadas espécies microbianas, que foram há décadas coletadas, isoladas e descobertas para a ciência e jamais foram encontradas novamente. Nos países desenvolvidos, há muito tempo que algumas coleções de culturas se desenvolveram como verdadeiras empresas ou centros de recur- sos genéticos, que prestam serviços nas áreas de depósito e preservação, identifi cação taxonômica, venda de culturas identifi cadas e certifi cadas e treinamento visando à formação de novos taxonomistas. Exemplos de co- leções de culturas desse porte são o CBS na Holanda, o IMI na Inglaterra e a ATCC nos Estados Unidos da América. O Brasil, como o país de maior biodiversidade do mundo, continua trabalhando para ampliar os patamares de ações de pesquisa, preservação, gestão e aplicação do conhecimento proveniente da exploração de sua biodiversidade microbiana. 32790003miolo 94 4/1/10 9:21 AM 95TÃO DA BIODIVERSIDAD5. GES E Fig. 5.7 Microrganismos preservados na Coleção de Culturas do Instituto de Botânica, São Paulo, SP (exceto B). A. Lyngbya hieronymusii, cianobactéria produtora de toxinas em reservatórios de água doce (foto: Drª. Célia L. Sant’Anna). B. Pythium dissotocum, fungo zoospórico patógeno de plantas hortaliças cultivadas em hidroponia. (foto: MSc. Filipe R. Baptista). C. Achlya radiosa, fungo zoospórico decompositor de matéria orgânica (foto: MSc. Alexandra L. Gomes). D. Absidia cylindrospora E. Circinella simplex. F. Zygorhynchus moelleri, fungos zigomicetos sapróbios (decompositores) encontrados em solo, folhas e outros substratos orgânicos em decomposição (fotos: Dr. J. Ivanildo de Souza). 32790003miolo 95 4/1/10 9:21 AM BIODIVERSIDADE96 Documentação da Biodiversidade Importância das Coleções Científi cas Uma das maneiras de documentar a biodiversidade de uma determi- nada região geográfi ca ou política é por meio de coleções científi cas. Um Herbário é uma coleção de plantas desidratadas, denominadas exsicatas. Uma exsicata consiste de uma amostra da planta coletada, acondicionada entre folhas de jornal (ou outro tipo de papel absorvente), e montada em uma prensa, a qual passa por um processo de secagem em estufa (com temperatura controlada) por 2-5 dias. Após a secagem total da amostra, esta é montada em uma folha de cartolina (colada ou costurada), recebe uma etiqueta com informações sobre nome científi co, local e data de coleta, nome do coletor e número da coleta. Essa exsicata então recebe um número de registro do herbário e pode ser incorporada à coleção (fi gura 5.7). As exsicatas são frequentemente arranjadas de acordo com um siste- ma de classifi cação. A maioria dos herbários organiza suas exsicatas em ordem alfabéti- ca de família, gênero e espécie, porém em alguns dos maiores herbários mundiais, os espécimes são organizados de acordo com suas relações de afi nidades ou ainda por regiões geográfi cas (Europa, América do Sul, África etc.). As exsicatas são acondicionadas em armários de aço especiais, em ambiente com temperatura e umidade controladas, a fi m de se evitar a pro- liferação de insetos e fungos que podem danifi car as coleções científi cas. No Estado de São Paulo, existem 14 herbários científi cos pertencentes a institutos de pesquisa e universidades, cujas coleções totalizam aproxi- madamente um milhão de exsicatas. O maior deles é o do Instituto de Bo- tânica (410.000 espécimes), seguido dos herbários do Instituto de Biologia da UNICAMP (143.000) e do Instituto de Biociências da USP-SP (126.000). À direita: Fig. 5.8 Exsicata depositada no Herbário do Instituto de Botânica. Foto: M.C.H. Mamede 32790003miolo 96 4/1/10 9:21 AM
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