Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Emile Cou - O dominio de S Mesmo, Notas de estudo de Administração Empresarial

e-book: O domínio de Si Mesmo

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 02/11/2010

evanilde-de-souza-silva-3
evanilde-de-souza-silva-3 🇧🇷

4

(3)

17 documentos

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Emile Cou - O dominio de S Mesmo e outras Notas de estudo em PDF para Administração Empresarial, somente na Docsity! O domínio de si mesmo 1 O domínio de si mesmo A sugestão, ou antes a auto-sugestão, é um assunto completamente novo e ao mesmo tempo tão antigo quanto o mundo. É um assunto novo porque, até hoje, foi mal estudado e, por conseguinte, não muito conhecido; é antigo, por datar da aparição do homem na terra. De fato, a auto-sugestão é um instrumento que nasce connosco, e este instrumento, ou melhor esta força, é dotada de um poder inaudito, incalculável, que, conforme as circunstâncias, produz os melhores ou os piores efeitos. O conhecimento desta força é útil a cada um de nós e, particularmente, é indispensável aos médicos, aos magistrados, aos advogados e aos educadores da mocidade. Logo que a sabemos pôr em prática, de uma maneira consciente, devemos evitar, em primeiro lugar, provocar nos outros as auto-sugestões malignas, cujas consequências podem ser desastrosas; depois provocamos, O domínio de si mesmo 2 conscientemente, as auto-sugestões benignas, que levam a saúde moral aos que sofrem de nevrose, aos desencaminhados, vítimas inconscientes de auto-sugestões anteriores, e que conduzem ao bom caminho os espíritos com tendência a seguirem o mal. O ser consciente e o inconsciente Para bem compreender os fenómenos da sugestão, ou, mais acertadamente, da auto-sugestão, é preciso saber que há em nós dois indivíduos completamente distintos um do outro. Ambos são inteligentes, mas enquanto um é consciente, o outro é inconsciente. É a razão pela qual a sua existência, geralmente, passa despercebida. Entretanto, esta existência pode ser facilmente constatada, desde que se tenha o trabalho de examinar certos fenómenos que sobre eles se queira reflectir bem, por alguns instantes. Exemplifiquemos: Todos sabem o que é sonambulismo e que o sonâmbulo levantando-se à noite, sem estar acordado, sai do quarto depois de mudar ou não a roupa, desce as escadas, atravessa corredores e, após ter praticado certos actos ou terminado certo serviço, volta ao seu dormitório e deita-se novamente. No dia seguinte, demostra a maior das admirações por encontrar feito um trabalho, que, na véspera, deixara por acabar. Entretanto, foi ele quem o fez, se bem que o não saiba. A que força obedeceu o seu corpo, senão a uma força inconsciente, ao seu ser inconsciente ? Consideremos, agora, o caso muito frequente, de um infeliz alcoólico atacado de delirium tremens. Como que tomado de um acesso de loucura, ele se apodera de uma arma qualquer, uma faca, um martelo, um machado, e fere, fere furiosamente aqueles que têm a infelicidade de se lhe acharem perto. Depois de passado o acesso, o indivíduo recobra os sentidos e contempla, horrorizado, a cena de sangue que a sua vista oferece, ignorando ter sido ele mesmo o seu autor. Ainda neste caso, não foi o inconsciente que conduziu esse desgraçado ? Se compararmos o ser consciente ao ser inconsciente, constatamos que, enquanto o consciente é frequentemente dotado de uma memória muito falha, o inconsciente é, ao contrário, provido de uma memória maravilhosa, impecável, que guarda, sem o sabermos, os menores acontecimentos, os mais insignificantes factos de nossas vidas. O domínio de si mesmo 5 frente, e, no segundo, supõem que estão vencidos e que é preciso fugir para escapar à morte. Panurge não ignorava o contágio do exemplo, isto é, a acção da imaginação, quando, para vingar-se de um negociante com quem viajava, comprava o seu maior carneiro e o atirava ao mar, convencido, de antemão, de que a carneirada toda o acompanharia, o que, aliás, aconteceu. Nós, homens, parecemo-nos mais ou menos com os dessa raça lanígera e, a contragosto, seguimos irresistivelmente o exemplo alheio pensando que não podemos fazer de outro modo. Poderia citar outros mil exemplos, mas receio que uma enumeração dessa ordem se torne enfadonha. Entretanto, não posso deixar em silêncio um fato que põe em evidência o poder enorme da imaginação, ou por outra, do inconsciente na sua luta contra a vontade. Há ébrios que bem quereriam não mais beber, mas não podem abster-se da bebida alcoólica. Indaguem deles, e responderão, com toda a sinceridade, que desejariam ser abstémios, que lhes aborrece a bebida, mas que são irresistivelmente impelidos a beber, apesar de sua vontade, apesar de saberem o mal que isso lhes faz... Assim, também, certos criminosos cometem crimes, contra a vontade, e quando se pergunta por que agiram dessa maneira, respondem: “Não pude conter-me, aquilo me dava ímpetos, era mais forte do que eu”. O ébrio e o criminoso dizem a verdade; eles são forçados a fazer o que fazem, pela simples razão de cuidarem que não se podem conter. Destarte, nós que somos orgulhosos da nossa vontade, que acreditamos fazer, livremente, aquilo que fazemos, não passamos, na realidade de pobres bonecos, dos quais a nossa imaginação empunha todos os fios. Não deixaremos de ser esses bonecos, enquanto não a soubermos dirigir. Sugestão e auto-sugestão De acordo com o que precede, pudemos comparar a imaginação a uma correnteza que arrasta, fatalmente, o desgraçado que se deixa apanhar por ela, malgrado sua vontade de alcançar a margem. Esta correnteza parece invencível; todavia a pessoa sabendo fazê-lo, a desviará do seu O domínio de si mesmo 6 curso, conduzi-la-á a uma usina e aí transformará a sua força em movimento, em calor, em electricidade. Se esta comparação não lhes parece suficiente, comparemos a imaginação a um cavalo selvagem que não tem cabresto, nem rédea. Que pode fazer o cavaleiro que o monta, senão deixar-se levar aonde o cavalo o quiser conduzir ? E, se o cavalo se enfurece, como muitas vezes sucede, é num fosso que vai terminar a corrida. Se o cavaleiro põe a rédea nesse cavalo, os papéis mudam. Não é mais ele que vai aonde o cavalo quer, e sim o cavalo que segue o caminho que o cavaleiro deseja. Agora, que já explicamos a força enorme do ser inconsciente ou imaginativo, vou lhes mostrar que este ser, considerado como indomável, pode ser tão facilmente domado quanto uma correnteza ou um cavalo selvagem. Mas, antes de prosseguir , é necessário definir, cuidadosamente, duas palavras frequentemente empregadas sem que sejam bem compreendidas. São as palavras sugestão e auto-sugestão. O que é, então, a sugestão ? Pode-se defini-la: “a acção de impor uma ideia ao cérebro de outra pessoa”. Esta acção existe, realmente ? Propriamente falando, não. A sugestão, com efeito, por si mesma, não existe, ela não existe e não pode existir senão sob a condição sine qua non de se transformar, no indivíduo, em auto-sugestão. E esta palavra assim se define: “implantação de uma ideia em si mesmo por si mesmo”. Podem sugerir alguma coisa a alguém; se o inconsciente deste não aceitou esta sugestão, se ele não a digeriu, por assim dizer, a fim de transformá-la, em auto-sugestão, ela não produz nenhum efeito. Acontece-me, algumas vezes, sugerir qualquer coisa mais ou menos banal a pessoas ordinariamente muito obedientes, e minha sugestão falhar. A razão disto é que o inconsciente dessas pessoas se recusaram a aceitar a minha sugestão e não a transformaram em auto-sugestão. Emprego da auto-sugestão Volto ao ponto onde dizia que podemos domar e dirigir a nossa imaginação, como se doma uma correnteza ou um cavalo bravo. Para tal, basta saber, primeiramente, que isso é possível (o que quase todo mundo ignora), e, em seguida, conhecer o meio. Pois bem, esse meio é muito simples; é aquele que sem o querermos , sem o sabermos, de maneira absolutamente inconsciente de nossa parte, empregamos todos os dias O domínio de si mesmo 7 desde que viemos ao mundo, mas que, infelizmente para nós, empregamos quase sempre mal, para nosso maior dano. Este meio é a auto-sugestão. Enquanto, habitualmente, a gente se auto-sugestiona inconscientemente, seria bastante auto-sugestionar-se conscientemente, cujo processo consiste nisto: “primeiro meditar convenientemente sobre as coisas que devem ser o objecto da auto-sugestão e, conforme esta responda sim ou não, repetir muitas vezes, sem pensar noutra coisa: “Isto acontece ou isto não acontece; isto vai ser ou isto não vai ser etc., etc., e, se o inconsciente aceita esta sugestão, se ele se auto-sugestiona, veremos nisso as coisas se realizarem ponto por ponto. Assim entendida, a auto-sugestão não é outra coisa senão o hipnotismo tal como o compreendo e o defino por estas simples palavras: influência sobre o ser moral e o ser físico do homem. Ora, esta acção é inegável e, sem voltar aos exemplos precedentes, citarei ainda alguns outros. Se alguém se persuadir de que pode fazer alguma coisa qualquer, contanto que ela seja possível, esse alguém a fará ainda que seja difícil fazê-la. Se, ao contrário, as pessoas crêem que não podem fazer a coisa mais simples do mundo, torna-se para elas impossível fazê-la, e, nesta ordem, os montinhos de areia que as toupeiras erguem são, para essas pessoas, como intransponíveis montanhas. Tal é o caso dos neurasténicos que, acreditando-se incapazes do menor esforço, frequentemente se encontram na impossibilidade de dar alguns passos apenas, logo se sentindo extremamente cansados. E estes menos neurasténicos, quando se esforçam para sair de sua tristeza, mais e mais nela se entranham, à semelhança do desgraçado que se atola e se afunda no pântano, tanto mais depressa quanto maiores são os esforços que faz para se salvar. Do mesmo modo, basta pensar que uma dor vai passar, para sentir que realmente esta dor desaparece, pouco a pouco, e, inversamente, é bastante pensar que se sofre para que imediatamente se sinta chegar o sofrimento. Conheço certas pessoas que prognosticam que, determinado dia, vão sentir dor de cabeça, predizendo em que circunstâncias, e, de fato, no dia assinalado, circunstâncias anunciadas, sentem essa dor de cabeça. Essas pessoas mesmas causam o seu mal, assim como outras se curam a si próprias pela auto-sugestão consciente. O domínio de si mesmo 10 2.º - As pessoas que não querem aprender. Como ensinar ao paciente a auto- sugestionar-se O princípio deste método se resume, pouco mais ou menos, nestas palavras: Só se pode pensar em uma coisa de cada vez, isto é, duas ideias podem se justapor, mas não se podem sobrepor em nosso espírito. Todo pensamento que preocupa inteiramente o nosso espirito, torna-se verdadeiro para nós e possui uma tendência para transformar-se em ato. Portanto, se conseguirmos fazer crer a um doente que vai acabar seu sofrimento, este de fato desaparecerá; a um cleptómano que não furtará mais, ele não mais furtará, etc. Modo de fazer a sugestão consciente Diz-se ao paciente: “Sente-se e feche os olhos. Não quero tentar fazê-lo dormir. É inútil. Peço que feche os olhos , simplesmente para que a sua atenção não seja desviada para os objectos que lhe dão na vista. Agora, diga bem direito, que todas as palavras que vou pronunciar vão fixar-se no seu cérebro, imprimir-se, gravar-se, incrustar-se nele; que é preciso que elas fiquem sempre fixadas, impressas, incrustadas e que, sem o senhor querer e sem o saber, de uma maneira completamente inconsciente de sua parte, o seu organismo e o senhor mesmo deverão obedecer-lhes. Digo-lhe, em primeiro lugar, que diariamente, três vezes por dia, de manhã, ao meio dia e à noite, à hora das refeições, o senhor terá fome, isto é, sentirá esta sensação agradável que faz pensar e dizer: “Oh! Vou comer com prazer!” Com efeito, comerá com prazer, sem, entretanto, comer demais. Comerá moderadamente e o suficiente para deixá-lo no peso ideal. Terá, porém, cuidado de mastigar demoradamente os seus alimentos, para os transformar em uma pasta bem mole, antes de engolir. Nestas condições, fará bem a digestão, e não sentirá nem no estômago, nem nos intestinos, nenhum sofrimento, nenhum incómodo e dor nenhuma, qualquer que seja a sua natureza. A assimilação se fará bem e o seu organismo aproveitará todos os seus alimentos, para produzir sangue, músculo, força, energia, numa palavra: VIDA. O domínio de si mesmo 11 “Visto que a digestão vai ser bem feita, a função da excreção dar- se-á normalmente. “Ademais, todas as noites, a partir do momento em que quiser dormir, até ao momento em que desejar levantar-se, na manhã seguinte, dormirá um sono profundo, calmo, tranquilo, durante o qual não terá pesadelos, e quando acordar, sentir-se-á com saúde, todo alegre e bem disposto. “De outro lado, se lhe acontece, por vezes, estar triste, pensativo, ter aborrecimentos, ter pensamentos tétricos, de agora em diante não acontecerá mais. Em vez de ficar triste, melancólico, em vez de ter angústias, aborrecimentos, ideias tristes, vai ter alegria, muita alegria, sem motivo algum, talvez, mas ter-la-á, como lhe poderia acontecer ter tristezas sem motivos. Direi mais: mesmo que tenha motivos verdadeiros, motivos reais para se aborrecer e ter tristezas, não se aborrecerá, nem terá tristezas. “Se lhe acontece, às vezes, ter gestos de impaciência, ou de raiva, estes gestos não os terá mais. Ao contrário, há de ser sempre paciente, sempre senhor de si mesmo, e as coisas que o aborreciam, provocavam, irritavam, doravante o deixarão absolutamente indiferente e calmo, muito calmo. “Se algumas vezes é assaltado, perseguido, dominado por ideias más, que lhe são prejudiciais, e por temores, medos, fobias, tentações, rancores, sei que tudo isso se afasta, pouco a pouco dos olhos da sua imaginação, e parece desfazer-se, perder-se numa nuvem longínqua. Como um sonho que desaparece ao acordar, assim se irão todas as imagens vãs. “Digo-lhe mais que todos os seus órgãos funcionam bem: o coração bate normalmente e a circulação do sangue se faz como deve ser; os pulmões funcionam bem; o estômago, os intestinos, o fígado, a vesícula biliar, os rins, a bexiga, nada têm de anormal. Se, dentre eles, algum presentemente funciona com anormalidade, esta anomalia desaparecerá aos poucos, cada dia, de sorte que, brevemente, desaparecerá por completo, voltando esse órgão a funcionar normalmente. “Além disso, se existe alguma lesão num deles, irá cicatrizando dia a dia, sarando com rapidez.” (A propósito, devo dizer que não é preciso saber qual o órgão afectado, para curá-lo. Sob a influência da auto- O domínio de si mesmo 12 sugestão: “todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor”, o Inconsciente exerce a sua acção sobre esse órgão, que ele mesmo não sabe distinguir). “Acrescento ainda isto, que é uma coisa extremamente importante: se até o presente se sentiu com uma certa desconfiança em si, digo-lhe que esta desconfiança desaparece aos poucos para, ao contrário, se transformar em confiança em si mesmo, fundada nesta força de um poder incalculável que existe em cada um de nós. Esta confiança é absolutamente indispensável ao ser humano. Sem a confiança em si mesmo, jamais se obtém coisa alguma, ao passo que com ela, pode-se conseguir tudo. (No domínio das coisas razoáveis, bem entendido). Tenha, pois, confiança em si mesmo, que se convencerá de que é capaz de fazer não somente bem, mas ainda com perfeição, todas as coisas que deseja fazer, sob a condição de que sejam razoáveis e também tudo aquilo que seja de seu dever. “Portanto, quando desejar fazer alguma coisa razoável, quando tiver de fazer uma coisa que é de seu dever fazer, pense bem que esta coisa é fácil de fazer. As palavras difícil, impossível, não posso, está acima das minhas forças, não posso evitar, devem ser canceladas do seu vocabulário. Elas não existem em nossa língua. Existem, sim, as palavras: é fácil e eu posso. Considerando a coisa fácil de fazer, ela se torna fácil, ao passo que para outros parece difícil. O senhor a faz depressa e bem, sem se cansar, porque a faz sem esforço. Se, porém, a considerasse difícil ou impossível de fazer, ela o seria unicamente porque assim a considerou”. “Por fim, sei que tanto no ponto de vista moral como no físico, o senhor goza de boa saúde, melhor do que a que até hoje pôde gozar. Agora vou contar até “três”, e quando eu disser “três” , o senhor abrirá os olhos, saindo do estado em que se encontra, bem tranquilamente, sem entorpecimentos, sem fadigas de espécie alguma, mas, ao contrário, sentindo-se forte, alerta, disposto, com vigor, cheio de vida. Além disso, sentir-se-á alegre, bem alegre e bem de saúde em todos os pontos de vista. Um, dois, três”. O domínio de si mesmo 15 Se, entre os que me lêem, há médicos ou colegas farmacêuticos, peço que não me julguem seu inimigo, pois, ao contrário, sou seu melhor amigo. De uma parte, desejaria ver no programa das Escolas de Medicina, o estudo teórico e prático da sugestão, para maior benefício dos doentes e dos próprios médicos; de outra parte, espero que, cada vez que um doente vá procurar um médico, este lhe receite um ou mais remédios, mesmo que não sejam necessários. Com efeito, o doente, quando procura o médico, quer que ele lhe indique o remédio que o porá bom. Ignora, as mais das vezes, que é a higiene e o regime que atuam e a isto liga pouca importância. O que lhe é necessário é um remédio. Parece-me, portanto, que o médico deve sempre receitar remédios ao seu enfermo e, quando possível, evitar as receitas de remédios especializados, dos quais se fazem grandes reclamos, e que, na maior parte, só valem pelo efeito da propaganda. Mas, deve receitar remédios formulados por ele mesmo, porque inspiram muito mais confiança ao doente do que certas pílulas ou certos pós facilmente encontrados em todas as farmácias e que dispensam receita. Acção da sugestão Para bem se compreender o papel da sugestão ou, por outra, da auto-sugestão, basta saber que o inconsciente é o “dirigente mor de todas as nossas funções”. Façamo-lhe crer, como anteriormente disse, que tal órgão que não funciona bem, deve funcionar bem. Instantaneamente o inconsciente lhe ordena e o órgão, obedecendo submissamente, inicia a recuperação de sua função normal, imediatamente. Isto nos dá o direito de explicar, de uma maneira simples e clara como, pela sugestão, pode-se suster as hemorragias, debelar a prisão de ventre, extinguir os fibromas, curar as paralisias, as lesões tuberculosas, as feridas varicosas etc. Tomo, como exemplo, um caso de hemorragia dentária, que pude observar no gabinete do Sr. Gauthé, dentista, de Troyes. Uma mocinha, a quem ajudei a curar-se de uma asma que lhe durou oito anos, me disse um dia que queria extrair um dente. Sabendo-a muito sensível, ofereci-me para mandar arrancar o dente, sem dor. Naturalmente, ela aceitou com prazer, e marcamos a hora com o dentista. No dia combinado, fomos ao seu gabinete. Colocando-me em frente à moça, disse-lhe: “A senhorita não sente nada, a senhorita não sente nada etc. ...”. E, enquanto continuava a minha sugestão, fiz sinal ao O domínio de si mesmo 16 dentista. Um momento depois, o dente estava arrancado sem que a senhorita D... tivesse sentido qualquer dor. Como frequentemente acontece, sobreveio uma hemorragia. Ao invés de aplicar um hemostático qualquer, disse ao dentista que iria experimentar a sugestão, sem saber de antemão o que resultaria. Então, pedi à senhorita D... que me olhasse e sugeri-lhe que, dentro de dois minutos, a hemorragia cederia, por si mesma; e ficamos aguardando o resultado. A jovem expeliu ainda alguns escarros sanguíneos e mais nada. Disse-lhe que abrisse a boca, olhamos e constatamos que o sangue coagulara na cavidade dentária. Como explicar este fenómeno? Muito simplesmente: sob a influência da ideia “a hemorragia deve parar”, o inconsciente transmitiu, às pequenas artérias e pequenas veias, ordem para não deixar escapar sangue, e elas, com brandura, se foram contraindo naturalmente, como o fariam artificialmente, ao contacto de um hemostático, como por exemplo a adrenalina. É raciocinando do mesmo modo, que nos é dado compreender como pode desaparecer um fibroma. O inconsciente, aceitando a ideia “ o fibroma deve desaparecer”, o cérebro ordena às artérias que o nutrem, que se contraiam; elas se contraem, recusam o seu auxílio, não alimentam mais o fibroma e este, privado daquele alimento, morre, seca, reabsorve-se e desaparece. Emprego da auto-sugestão na cura das afecções morais e das taras inatas ou adquiridas A neurastenia, tão comum nos nossos dias, geralmente cede à sugestão praticada, frequentemente, do modo como exponho. Tive a felicidade de contribuir para a cura de numerosos neurasténicos, para os quais falharam todos os tratamentos. Um deles até passara um mês num estabelecimento especial de Luxemburgo, sem conseguir melhorar. Em seis semanas, ficou completamente bom e sente-se, agora, o homem mais feliz do mundo, após ter se considerado o mais desgraçado. E nunca mais recairá na sua moléstia, porque lhe ensinei a aplicar, a si próprio a auto- sugestão consciente, e ele a sabe fazer maravilhosamente. Mas, se a auto-sugestão é útil no tratamento das afecções morais e físicas, quantos serviços ainda maiores não podem prestar à sociedade, O domínio de si mesmo 17 transformando em pessoas honestas as infelizes crianças que povoam as casas de correcção e que de lá saem para entrar na vastidão do crime? Não me digam que isto é impossível. É possível e posso fornece- lhes a prova. O que digo Já expliquei a minha teoria da auto-sugestão consciente e também a aplicação do meu método. Com certeza, as minhas explicações foram claras, porquanto muitas pessoas, somente com a leitura dessa brochura, conseguiram curar-se de moléstias, muitas vezes graves, de que não puderam melhorar fazendo outro qualquer tratamento. Entretanto, para me fazer melhor compreender, resolvi apresentar minhas ideias de outra forma, ainda mais clara. Foi por isso que reuni, nesta Parte, tudo o que disse no curso das minhas conferências, dando as razões que me levaram a aconselhar a prática da auto-sugestão, da maneira como indico. Ademais, as considerações que faço sobre o inconsciente permitem a fácil compreensão do mecanismo pelo qual ele atinge os seus fins. Os homens foram sempre, em todos os tempos, amantes das coisas misteriosas e sobrenaturais. Quando assistem a um fato, com o qual não estão familiarizados, e não o compreendem, atribuem-no logo a uma causa sobrenatural, até o momento em que descobrem a lei que o determinou. Houve, e ainda há, desde os tempos mais remotos, pessoas que curavam, ou antes, pseudo-médicos que, por meio de gestos e imposições das mãos, com palavras e cerimónias mais ou menos impressionantes, muitas vezes conseguiam curas instantâneas, causando aos assistentes uma espécie de admiração entusiástica ou temerosa, porque tais fatos, para certas pessoas, eram obras do Espírito maligno. Na Grécia antiga, enfermos costurados dentro duma pele de animal recém-morto, passavam a noite nos degraus do templo de Atenéia e, muitas vezes amanheciam curados. Com a imposição das mãos, apenas, os reis de França faziam desaparecer as escrófulas. A celha de Mesmer extinguia os males daqueles que seguravam uma das correntes nela mergulhada; e o zuavo Jacó obtinha resultados inegáveis, com a suposta projecção do seu fluido. Actualmente, O domínio de si mesmo 20 É verdade que, quando comecei a pôr em prática os vossos conselhos, não contava com esse efeito. Ademais, sinto-me capaz de jogar as minhas duas partidas de golfe, diariamente. W. J. ..., Sydney (Austrália) Segunda carta: — Prosseguem os maravilhosos resultados produzidos pelo vosso método. Estou convencido de que não poderia ser de outro modo. Deveis lembrar-vos que comecei a notar esse efeito, no espaço de tempo decorrido depois de uma semana a um mês e meio. Naturalmente, tereis o prazer de reler que eu sofria de faringite, de insónia, de enterite e, para servir de companhia a esse lindo trio, uma grande depressão física e moral. Lembro-vos, ainda, que obtive esses resultados, apenas com estudo do vosso método, sem jamais vos ter visto, nem assistido a nenhum trabalho de sugestão. Actualmente, para me conservar num bom caminho, basta-me repetir, sem esforço, à tarde, de noite e pela manhã, a vossa famosa fórmula. É simples. Fiz duas pessoas interessarem-se pelo método, sendo uma delas o médico que me tratou da ultima crise de enterite. Ele está admirado da mudança que se efectuou em mim, e tenciona ir a Nancy para assistir aos vossos trabalhos. Melhor ainda fiz, auxiliando minha mãe a curar-se de um reumatismo, no verão passado, quando veio da Provença, onde habita, para junto de mim. Minha pobre mãe se arrastava, mancando de uma perna, muito inchada do joelho ao tornozelo. Meia hora de palestra sobre a existência do inconsciente e seu prodigioso poder, a experiência das mãos cruzadas e minha afirmação de que ela ia andar com facilidade, foi o suficiente. Conforme eu havia previsto, caminhou bem, correu e, desde então, não mais coxeou. Uma semana depois, o edema já estava bem diminuído. Restava-lhe ainda uma outra ferida, uma crista bem grande na arcada superciliar direita, em consequência de uma mordida de mosquito, há seis ou sete anos. Várias pomadas, receitadas pelo médico, não lhe impediram o desenvolvimento. Da minha parte, fiz algumas sugestões e ela mesma se fez outras. No espaço de cinco semanas, tudo desapareceu, sem deixar vestígio de espécie alguma. O domínio de si mesmo 21 Eis aí, quanto se pode fazer em benefício próprio e no de outros, quando a gente compreende, perfeitamente, o método. C. ..., Saint Nazaire Terceira carta: — Devo ao vosso método a sorte de encontrar-me, finalmente, livre das enxaquecas, que me atormentavam, desde há vinte anos, para as quais havia tentado vários tratamentos e consultado inúmeros médicos, não só em França como no estrangeiro. S. A. ..., Atenas Por estes bem numerosos casos, pode-se concluir que não se trata de uma acção pessoal de minha parte. A influência, que tenho sobre vós, é o que chamo uma força virtual, existindo, apenas, no vosso espírito. Minha influência é tão somente aquela que cada um de vós me concedeis. Admitamos, por um momento, que eu tenha uma força qualquer e que esta força medida, digamos, no dinamómetro, representasse 100; minha força, sobre cada um de vós, portanto, seria 100. Será, realmente, isso mesmo? Absolutamente, não. Exerci uma influência 0 sobre um, um influência 10 sobre outro e, sobre outros mais, uma influência 100, 200, 1.000, até mesmo um milhão, e mais ainda, consoante a ideia que cada pessoa fizer dessa influência. Como podeis ver, na realidade ela não existe; é apenas, o produto da imaginação de cada um. Compreendereis melhor, com um exemplo. Suponhamos que estais passeando por uma avenida, em companhia de um amigo; tirais um cigarro da cigarreira e, ao querer acendê-lo, verificais que nem vós nem vosso amigo tendes fósforos. Nessa ocasião, passa um senhor, fumando, tranquilamente, um charuto. Aproximais dele e lhe pedis fogo. O cavalheiro, muito gentilmente, apresenta a ponta acesa do charuto, na qual acendeis o cigarro. Ao voltardes para junto do vosso amigo, este vos diz: — “Sabeis quem é aquele senhor?” “Não, por que?” — Pois bem, é o rei de...” — “Não é possível” — Mas é possível tanto quanto exacto. Agora que sabeis quem é esse cavalheiro, porventura ireis, novamente, pedir-lhe fogo? Não! Não vos atrevereis mais. Por que? Porque essa pessoa tem agora, sobre vós, uma influência que, anteriormente, não tinha, derivada não dela, propriamente, mas tão somente do seu título e de O domínio de si mesmo 22 sua posição social. Portanto, vós mesmos criastes essa influência, sem vos aperceberdes. Que é preciso, então, fazer para melhorar e curar-se a si mesmo? Para isto, basta apenas, aprender a utilizar, bem e conscientemente, um instrumento que cada um de nós possui desde o nascimento, usa-o desde logo e continua usando-o toda a vida, sem o saber, até o momento de expirar. Este instrumento não é outra coisa senão a auto-sugestão, que se pode definir assim: é a acção de impor a si mesmo uma ideia no espírito. Sucede-nos com a auto-sugestão, o mesmo que ao Sr. Jourdain, com relação à prosa. Ele admirou-se muito, quando, depois de ultrapassar os cinquenta anos de idade, o seu professor de francês lhe disse que já fazia prosa quando começava a balbuciar estas palavras: “Papá, mamã”, e que ainda o fazia quando dizia: “Linda marquesa, os vossos olhos me fazem morrer de amor”. O mesmo acontece convosco, quando vos afirmo que praticais a auto-sugestão, desde o dia do vosso nascimento e haveis de praticá-la até ao vosso derradeiro momento. Para vos mostrar que não sou exagerado, vou dar-vos um exemplo de um caso que, certamente, se terá passado com algum de vós. Suponhamos tratar-se de uma criança recém-nascida, que repousa no berço. De repente, ouvem-se uns pequenos gritos e uma das pessoas presentes, o pai, se está em casa, imediatamente, corre para a criança e a toma nos braços. Se ela não está realmente doente, ao cabo de alguns instantes deixa de chorar e, novamente, a deitam no berço. Ela, porém, recomeça a chorar. Tiram-na mais uma vez e de novo se cala. Tornam a deitá-la e os gritos recomeçam. Não sei se concordais comigo, mas penso não errar dizendo que essa criança procura auto-sugestionar seus pais ou, por outra, procura enganá-los, como se diria em linguagem mais corrente. Se efectivamente, os pais imaginam que é preciso pegar a criança, cada vez que ela chora, a fim de evitar o choro, fazem-no em consequência da auto-sugestão. Destarte, eles se condenam a passar quinze ou dezoito meses da sua vida, com a criança nos braços, durante uma boa parte das noites; ao passo que no seu berço, ela estaria melhor, assim como os pais o estriam na cama. E a criança, ,por sua vez, diz consigo mesma, na linguagem que ignoramos, mas que ela compreende, perfeitamente: “Cada vez que quiser que papá ou mamã me tire do berço, basta chorar.” E chora. Se, ao contrário, deixarem-na chorar durante quinze minutos, meia hora ou mais ainda, ela, vendo que não surte efeito o choro, diz consigo, na sua linguagemzinha: “Oh! Não vale a pena chorar.” E cala-se. O domínio de si mesmo 25 A ideia de crise nervosa determina essa crise. Creio mesmo poder dizer, sem receio de errar, que à parte os epilépticos (e ainda assim), as pessoas sujeitas a crises nervosas só tiveram uma crise nervosa verdadeira, isto é, a primeira. Todas as demais são ocasionadas por elas próprias. Eis como explico isso, e creio que a verdade está comigo: A primeira crise é sempre determinada por um choque físico ou moral. Passada essa primeira crise, o doente diz infalivelmente: “Contanto que isto não me volte mais.” Não sei se tereis feito esta observação: cada vez que uma pessoa diz: “contanto que...” , com relação a um assunto que lhe diz respeito, consegue, justamente, o contrário daquilo que deseja. Se, por exemplo, dizeis: “Contanto que eu durma bem esta noite!, podeis ter certeza de que passareis uma noite em claro. Embora lá fora esteja gelando, sereis obrigado a sair. Se pensais lá convosco: “Contanto que eu não caia!”, antes de dar quarenta passos caireis em cheio ao solo!” Nestas condições, a crise, fatalmente, se reproduzirá. Se a pessoa guarda o número de dias decorridos entre a primeira e a segunda crise, digamos uns quinze dias, dirá consigo mesma, passada esta última crise: “Contanto que isso não se repita nestes quinze dias!” No fim de quinze dias a crise reaparece, e assim, automaticamente, se repetirá duas vezes por mês, até a morte do enfermo, salvo se um acontecimento qualquer vier modificar o curso das coisas. Se ela não guardar o número de dias que transcorrem entre as duas crises, ao terminar a segunda, dirá consigo: “Contanto que isso não se reproduza!” Naturalmente, a crise se repetirá em época não determinada: um dia, dois, uma semana, um mês depois, ou mais ainda. Em suma, essa pessoa tem uma espécie de espada de Dâmocles suspensa sobre a cabeça, a qual algumas vezes cai, contrariamente ao que se dava com a antiga, que se conservava, prudentemente, suspensa sobre a cabeça daquele a quem ameaçava, sem nunca se desprender. A ideia de enxaqueca no dia do jantar para o qual fostes convidadas (refiro-me às senhoras), ou no dia do jantar para o qual convidastes alguém, vos fará ter enxaqueca no dia exacto do convite; não será nem na véspera, nem no dia seguinte, que tereis, mais, sim, exactamente no dia marcado. A ideia de gagueira faz a pessoa gaguejar; assim como a ideia do medo determina o medo etc. Direi mais que é bastante pensar: “Estou surdo, estou cego, estou paralítico”, para ser surdo, cego ou paralítico. Não quero dizer, naturalmente, que os surdos, os cegos, os paralíticos o sejam por pensarem que o são, mas existe um certo número de pessoas que o são, unicamente, O domínio de si mesmo 26 porque o julgam ser. Com essa casta de gente é que se dão os pseudo- milagres que, frequentemente, se verificam em minha casa. Se a gente consegue convencer a essa espécie de paralíticos que eles vão andar, observa-se que o surdo ouve, o cego vê e o paralítico anda. Não são tão raros tais casos, como se poderia imaginar, principalmente em matéria de surdez. Minha experiência, de todos os dias, demostra-me que a metade das pessoas que não ouvem são surdas por convicção. Dentre centenas de casos, eis alguns deles: Um dia, uma senhora inglesa vem consultar-me sobre a sua surdez. Usava um aparelho em cada ouvido e, apesar disso (ou talvez por causa dos aparelhos!), ouvia muito mal. No dia seguinte, volta sem os tais aparelhos, ouvindo muito bem. Está claro que se trata de um caso absolutamente psíquico. Se houvesse lesões nos ouvidos, seria materialmente impossível que, num dia, se curassem. De outra feita, uma boa mulher do campo vem procurar-me por sofrer de enfisema. Ao chegar para a quarta sessão, diz-me: “Deu-se comigo uma coisa interessante, senhor Coué: há dezasseis anos que eu não ouvia no ouvido esquerdo, mas, ontem à noite, notei que ouvia deste ouvido tão bem como do outro.” E ela continuou ouvindo. Outro caso: Por ocasião da minha segunda viagem à América, hospedei-me em casa de um dos meus amigos e, à noite, algumas pessoas vieram ver-me. Entre elas estava uma senhora que, desde muitos anos, não ouvia, absolutamente, de um dos ouvidos. Terminada a sessão, que fiz para as pessoas presentes, essa senhora estava ouvindo muito bem. No dia seguinte, parti de Nova Iorque a fim de fazer uma excursão, que durou cinquenta e seis dias. De regresso, hospedei-me ainda, em casa do meu amigo e, à noite, as mesmas pessoas vieram de novo falar-me. A dama surda achava-se, naturalmente, entre elas. Fui informado de que, durante os três dias seguintes ao da minha partida, ela ouvira muito bem, mas que, do quarto dia em diante, deixara de ouvir. Assim que me dirigi a ela, novamente começou a ouvir. De passagem por Florença, no Instituto Britânico, onde eu fazia uma conferência, encontrava-se um jovem inglês que, durante a guerra, fora ferido na cabeça. Desde o dia em que recebeu o ferimento, ficou completamente surdo do ouvido direito. Aproximando-me desse lado, fi-lo tapar o outro ouvido com o dedo mínimo e gritei bem alto: “Estais-me ouvindo?” Ele respondeu: “Sim.” Afastei-me um pouco e fiz a mesma O domínio de si mesmo 27 coisa. Ouviu-me ainda, perfeitamente, a um metro e meio de distância, mais ou menos. Daí para mais a percepção dos sons não era mais nítida. Recomecei, então, a experiência e, desta vez, só a três metros de distância é que deixou de me ouvir. A terceira experiência foi coroada com um completo sucesso: Ele me ouvia de qualquer distância. Tão admirado ficou com esse resultado, que não parava de repetir, levantando os braços: “It’s extraordinary, it’s extraordinary etc...”. Esse foi ainda um caso de surdez psíquica, provavelmente, em consequência de uma surdez real. É muito provável que a ferida recebida na cabeça haja determinado as lesões que causaram a surdez real. Aos poucos essas lesões sararam e a verdadeira surdez foi, progressivamente, desaparecendo. Entretanto, como o rapaz continuava se julgando surdo, era-o efectivamente. Afinal, a sua verdadeira surdez acabou completamente, ficando, porém, uma surdez psíquica, que lhe durou até o momento em que o encontrei. Em Nancy, apresentou-se-me um caso muito original de cegueira. Veio à minha casa, sob recomendação de pessoa amiga, uma moça de 25 anos, porque estava completamente cega da vista esquerda, desde a idade de 3 anos. Esse olho não tinha a mínima sensação de sombra, nem de luz. Imediatamente depois da sessão, essa moça pôde ver. Naturalmente, todos os presentes viram, nessa cura, tão rápida, a realização de um milagre. Quanto a mim, procurei o segredo desse milagre e encontrei-o, desaparecendo este porque não passava de um pseudo- milagre. Eis a explicação: A referida moça, na idade de 2 anos, sofreu uma moléstia muito grave no olho esquerdo, curando-se ao cabo de um ano. Durante todo esse tempo, conservou uma venda sobre a vista esquerda, que, privada de enxergar pelo espaço de um ano, habituo-se a não ver, e guardou esse hábito até ao momento em que veio procurar-me. Fiz-lhe a sugestão, dizendo-lhe que as lesões, que por ventura tivesse, iriam pouco a pouco desaparecendo enquanto ela iria enxergando cada vez mais e, que uma vez curada dessas lesões, veria perfeitamente bem. Como não havia lesão alguma, viu imediatamente. Sou levado a crer que, se ela não tivesse me procurado, ficaria completamente cega pela auto-sugestão. Realmente, quando me fez a sua primeira visita, comunicou-me que, no tempo em que estudava piano, quase não podia ver as notas. Devo dizer mais que essa moça tinha um ligeiro bócio exoftálmico o qual, pelo emprego contínuo da auto-sugestão, desapareceu bem depressa. O domínio de si mesmo 30 doença real, para a qual podemos dar o coeficiente 1, e a doença psíquica, que se enxerta na primeira, e cujo coeficiente varia de 1 a 5, 10 ou mesmo mais. Digamos, por hipótese, que, nos casos anteriormente narrados, a doença real era representada por 1, e a doença psíquica por 9. Graças à sugestão e à auto-sugestão, a doença psíquica desapareceu mais ou menos depressa, ficando, apenas, a verdadeira moléstia, isto é, um décimo do total. Qual a conclusão que tiramos desse primeiro princípio? Ei-la: Se toda ideia, que temos no espírito (quero dizer no inconsciente), se torna para nós uma realidade no domínio da possibilidade e, estando doentes, trazemos no espírito a ideia de cura, esta se torna real no domínio da possibilidade, isto é, se ela é possível, realiza-se; se não é naturalmente, não se realizará. Neste último caso, porém, obter-se-á toda a melhoria humanamente possível de obter, o que já é muito vantajoso, quando a cura com frequência é considerada sem probabilidade. Vejamos ainda alguma cartas, que me foram dirigidas, as quais mostrar-vos-ão o que é capaz de fazer a auto-sugestão: Primeira carta: — “Há três anos, aproximadamente, eu sofria, frequentemente, de grandes dores de cabeça, que atribuía à má digestão. No dia em que me sentia atacada, não tomava alimento nenhum, julgando que isso me traria alívio. Esse modo de proceder resultou, para mim, muna grande fraqueza dos nervos e, durante todo o mês de dezembro de 1924, conheci a neurastenia, com todo o seu horroroso cortejo. Mas, a partir da primeira semana, em que comecei a por em prática o vosso método, a digestão fez-se perfeitamente, e aos poucos, os meus padecimentos morais se dissiparam. Considero-me quase curada, desde os primeiro dias de fevereiro.” D..., Roanne Segunda carta: — “… Consegui, eu mesma, curar-me pelo vosso método, há quatro anos, de uma metrite, que, até agora, não reapareceu, pelo que vos serei agradecida toda a minha vida. Rogo-vos etc.” V…, Verdun O domínio de si mesmo 31 Terceira carta: — “ Tomo a liberdade de enviar-vos, de longe um bom dia. Sou a pessoa que estava sofrendo de um mal no joelho, havia onze anos, e que não podia quase andar. Faz hoje três semanas que fui à vossa casa pela primeira vez. Fizestes-me andar e ainda mais, fizestes-me correr. Agora corro mais activamente ainda, pois tive, ontem, a ousadia de ir a Ribeauville e, esta manhã, fui a Saint-Ulrich e voltei. Parece que estou mergulhada num profundo sonho.” J. B. … O medicamento é um maravilhoso veículo de sugestão Não quero dizer que se deixem de tomar os medicamentos recitados pelos médicos, ou de obedecer ao tratamento por ele ordenado, quando se põe em prática a auto-sugestão por mim aconselhada. Com efeito, acho que, independentemente do valor terapêutico real, que possa ter, o remédio é um maravilhoso veículo de sugestão. Quero mesmo ir além: minha opinião é que o médico presta serviço ao seu doente, receitando-lhe remédios, mesmo que os não julgue necessários pois que a poção, o pó, a cápsula é que o deve curar, porquanto, em geral, o doente faz pouco caso dos conselhos de higiene que se lhe possam dar. Acho também que os medicamentos formulados pelo próprio médico exercem mais acção sobre o doente do que os remédios especializados, que muitas vezes, não tem real valor e nos quais o paciente não deposita a mesma confiança que tem naqueles que o médico formula, pessoalmente. Sobretudo, se lhe explica, verbalmente e minuciosamente, o modo de usá-los, o seu efeito será ainda maior. Portanto, longe de considerar a auto-sugestão e a medicina como rivais, o que, infelizmente, muitas vezes acontece, é mister, ao contrário, considerá-las boas amigas, que, em vez de serem incompatíveis, devem se dar as mão, reciprocamente, e se completarem uma a outra. Um dos meus maiores desejos, um dos meus pontos visados é conseguir a inclusão do estudo obrigatório da sugestão e da auto-sugestão, nos programas das escolas de medicina, não só em França como também no estrangeiro, para maior utilidade da profissão de médico, que disporá de mais uma arma no combate contra a moléstia e, sobretudo, para o maior bem dos doentes. A falta desse ensinamento é lamentável, porque, se comparamos cada um de nós com um automóvel, cujo o corpo é a carrosserie e cujo O domínio de si mesmo 32 espírito é o motor, notaremos que nas escolas os estudantes aprendem a cuidar do corpo, isto é, da carrosserie, mas ignoram o espírito ou, por outra, o motor. De maneira que, se se verificar um desarranjo no motor e este, por si mesmo, não se consertar, o veículo não poderá mais mover-se. Se, porém, os estudantes soubessem, igualmente, cuidar do espírito, isto é, do motor, fariam o veículo facilmente pôr-se em marcha. A imaginação, a primeira faculdade do homem O segundo princípio, sobre o qual se baseia a minha teoria, é o que adiante vou expor. Rogo-vos dispensardes toda a vossa atenção a esse princípio, que faz diferenciar o meu de todos os outros métodos, e que lhe permite obter resultados rápidos e inesperados, nos casos em que outros tratamentos falharam, durante longos anos. Podemos formulá-lo assim: “Contrariamente ao que nos ensinam e por conseguinte acreditamos, a vontade não é a primeira faculdade do homem, mas, sim, a imaginação.” Efectivamente, toda a vez que se dá conflito entre essa duas faculdades, a imaginação é sempre vencedora; e toda vez que nos encontramos neste estado de espírito, infelizmente, para nós, muito frequente: “Quero fazer tal coisa, mas não a posso fazer”, não somente não fazemos o que queremos, como também fazemos o contrário daquilo que queremos e quanto mais temos vontade, mais fazemos o contrário do que queremos. Tenho certeza de que minha afirmação, para muitos dentre vós, parece mais um paradoxo. Entretanto, a minha ideia não é nova, e, antes de mim, outros a manifestaram, sem, todavia, afirmarem-na tão categoricamente como eu o faço. São Paulo, por exemplo, disse: “O bem que eu queria fazer não o faço, mas faço o mal que eu não quereria fazer”, isto é, “quero fazer o bem, mas faço o mal; quanto mais quero fazer o bem, tanto mais faço o mal.” O poeta Ovídio também anunciou a mesma ideia, por intermédio de uma das personagens que ele pôs em cena, fazendo-a dizer: “Vídeo meliora probaqui, atque deterioro sequor”. (Vejo o que de melhor tenho a fazer e experimento fazê-lo, mas faço o contrário.) Para vos provar que tenho razão, vou citar-vos alguns exemplos de fatos, muito simples, tirados da vida corrente; os quais vemos todos os dias sem, entretanto, os sabermos apreciar. O domínio de si mesmo 35 baço, etc. Quem, de nós, por sua vontade, seria capaz de fazer um desses órgãos funcionar? Entretanto, eles funcionam de uma modo contínuo, não somente de noite como de dia, enquanto o nosso consciente dorme, porquanto este adormece ao mesmo tempo que o corpo. Se eles funcionam, é necessariamente, sob a influência de uma força. A força é que chamamos o Inconsciente ou o Subconsciente. Pois bem, assim como o Inconsciente preside ao funcionamento do nosso físico, também preside ao do nosso ser moral. É a seguinte a conclusão a tirar desse segundo princípio: se o nosso Inconsciente é que nos conduz e se aprendemos a dirigi-lo, por seu intermédio aprendemos a nos guiar a nós mesmos. Para maior clareza, vou apresentar-vos uma comparação. Consideremos cada um de nós assentado em um carro atrelado a um cavalo e que, ao atrelarem esse animal, hajam esquecido de pôr-lhe as rédeas, tendo-se-lhe, assim mesmo, dado uma chicotada. Naturalmente, põe-se a andar, mas em que direcção? Sem dúvida, irá onde quiser; para frente, à direita, à esquerda, para trás, como lhe convier. Como, porém, ele nos conduz na pequena carruagem que vai puxando, há de nos levar onde lhe convier ir, acontecendo, quase sempre, arrastar-nos por um caminho cheio de rodeiras, barrancos, tendo à direita e à esquerda uma vala mais ou menos grande, profunda e lamacenta, onde encontra meio de nos fazer tombar. Se conseguirmos pôr as rédeas nesse cavalo, os papéis, imediatamente, mudam. Graças às rédeas, podemos guiá-lo para onde desejamos que ele vá; e, se, desta vez, vamos por um caminho ruim, culpemos a nós mesmos, pois que a direcção do cavalo depende, exclusivamente de nós. Meu papel consiste, unicamente, em mostrar-vos como se colocam as rédeas nesse cavalo, que não as tinha e como, graças a ele, podemos conduzir-nos como desejamos. É uma coisa muito simples, na verdade, muito simples para ser compreendida à primeira vista. Muitas vezes, acontece-me dizer aos meus ouvintes: Se vos exponho uma coisa complicada, compreendeis, sem dúvida, muito melhor, ou por outra acreditais compreender melhor; mas esta é tão simples que, ordinariamente, por causa de sua própria simplicidade, se torna difícil de discerni-la. É chegada a ocasião de fazer algumas experiências destinadas a demostrar-vos a veracidade desses princípios. “Rogo, portanto, a alguns dentre vós, que venham aqui perto, a fim de me ajudarem a fazê-las. Observai bem que nestas experiências, não é aquilo que digo o que se O domínio de si mesmo 36 realiza, mas sim o que a pessoa tem em mente. Se ela pensa, exactamente, como lhe peço, é isso o que se realiza, mas se pensa o contrário, será o contrário que se realizará. Não uso o hipnotismo, nem faço a sugestão, nem trato de forçar pessoa alguma a fazer uma experiência, mas ensino a fazê- lo, o que é completamente diferente. Em suma, deveis vos considerar alunos e eu professor, que vos ensina a fazer, conscientemente, a auto- sugestão que, durante toda a vida, passais fazendo inconscientemente. Qual o meu intuito mandando-vos fazer essas experiências? Simplesmente demonstrar-vos que a ideia que temos em mente se torna uma realidade no domínio da possibilidade e que, desde que haja conflito entre a vontade e a imaginação, é sempre esta que vence. Portanto, qualquer que seja o resultado da experiência, tenho sempre razão, ainda que pareça estar eu errado. Peço a um dos senhores cruzar as mãos e apertá-las, com energia, o quanto possível, e que pense: “Quero abrir as mãos, mas não posso.” Se noto que a pessoa quanto mais tenta abrir as mãos mais ainda as aperta, sei que pensou como deve ser, isto é, “não posso”, conforme pedi, e tenho razão. Se, ao contrário, vejo que ela as abre, é porque pensou “posso” e ainda tenho razão. (Nessa ocasião, faço com várias pessoas a experiência das mãos cruzadas, dos punhos fechados, das mãos comprimidas uma contra a outra, da mão enrijada etc., e peço-lhes que pensem: “quero abrir as mãos, mas não posso”, quero abrir o punho, mas não posso; quero separar as mãos, mas não posso” etc., experiências que quase sempre são bem sucedidas). Se faço essas experiências negativas, diante de vos, é para vos mostrar aquilo que não deveis fazer, e o que, todavia, passais uma grande parte da vossa vida fazendo. Todos aqui presentes, com excepção de uma só pessoa (faço sempre excepção de uma pessoa, para que cada um posso dizer consigo: sou eu essa pessoa), todos, pelo menos uma vez por dia, usam uma dessas expressões: difícil, impossível, não posso, está além das minhas forças, não posso me abster de… etc. Se acreditais no que digo, não useis nunca uma só dessas expressões, porque o seu emprego vos faz pensar e, se pensais, o vosso pensamento se realiza, de sorte que a coisa mais simples do mundo se torna uma coisa impossível. Todos vós, desta feita sem excepção, tendes encontrado no vosso caminho, vítimas de idêntica auto-sugestão. Todos vós vistes pessoas que não podiam abrir ou fechar a mão, ou que andava com uma perna dura como se fora de pau. Pois bem, assegurar-vos que, sobre cem pessoas que não podem executar o movimento que desejam, oitenta, seguramente, o O domínio de si mesmo 37 não podem somente porque pensam que não o podem e, neste estado ficarão toda a vida, se em seu caminho não encontrarem alguém que lhes ensine a pensar: “posso”. Conclusão: Pensais sempre “posso” e nunca “não posso”. Aproveitais, todos, este conselho: não podeis imaginar que poderosa força moral se acha contida nestas duas simples pequenas palavras “eu posso”. E visto que vos estou dando conselhos, dar-vos-ei mais um que vos permitirá realizar muitas coisas sem fadiga. Ei-lo: Quando tiveres de fazer uma coisa, formulai logo esta pergunta: é ou não possível? Se a razão vos responder não, não tenteis fazê-la, porque será fatigar-vos inutilmente. Se a razão vos responder sim, dizei imediatamente a vós mesmos que é fácil. Que acontecerá então? Se considerais essa coisa como fácil, ela se torna, realmente, fácil e, para fazê- la, gastareis exactamente a quantidade de forças requerida. Se, por exemplo, vos forem precisos dez cêntimos de força, não gastareis onze cêntimos. Se, ao contrário, a considerais difícil, vinte ou quarenta vezes mais do que na realidade é, em vez de gastardes dez cêntimos de força, como no caso precedente, despendereis dois ou quatro francos. Destarte, se considereis como difícil tudo aquilo que tendes a fazer, depressa chegareis ao estafamento, ao passo que, se considerais o vosso trabalho como fácil, à noite não vos sentireis cansados, como não vos sentis pela manhã. A propósito, vou citar-vos uma comparação. Cada um de nós pode ser comparado a um reservatório com uma torneira, na parte superior, destinada a enchê-lo, e outra, de diâmetro um pouco maior, na parte inferior. Se abrirmos as duas torneiras o reservatório ficará completamente vazio Mas, se tivermos o cuidado de conservar a torneira inferior fechada, pouco a pouco o reservatório ficará cheio e, uma vez repleto, transborda exactamente a quantidade que recebe em excesso, pela torneira superior. Pois bem, o segredo para a gente não se cansar consiste em conservar fechada a torneira inferior, e só usar a quantidade de força que transborda. Essa quantidade nos será suficiente, se soubermos dispor dela, se a não desperdiçarmos, isto é, se não fizermos esforços desnecessários. Observai que os melhores operários são os que não fazem esforços. O trabalho parece facilmente deslizar entre as suas mãos. Esses operários O domínio de si mesmo 40 mais generoso, retomará mais e mais, as qualidades de sangue de uma pessoa que tem saúde. Destarte, a vossa anemia desaparecerá, lentamente, levando o séquito de aborrecimentos que ela sempre traz consigo. Nestas condições, a função excretória também se fará cada vez melhor. Insisto mesmo, particularmente, sobre a execução desta função, que é condição sine qua non da boa saúde. Conseguintemente todas as manhãs, ao vos levantardes, ou vinte minutos bem exactamente depois do vosso pequeno almoço, conseguireis o resultado desejado, sem vos ser necessário tomar remédio de espécie alguma, ou de recorrer a qualquer artifício. Digo mais (isto para as senhoras), que a função mensal deverá reproduzir-se de modo uniforme, de vinte e oito em vinte e oito dias, e não de trinta em trinta dias, como muitas vezes se julga ser. A sua duração é de quatro dias , nem mais nem menos, não sendo nem muito abundante nem muito fraca e, nem antes nem depois, não deveis ter incómodos nem nos rins, nem no baixo ventre, nem na cabeça, nem em parte alguma, em resumo, esta função é uma função natural, que se deve, portanto, realizar naturalmente, isto é, sem que de modo algum tenhais que sofrer com ela. Acrescento que, esta noite, amanhã à noite e todas as noites, no momento em que quiserdes dormir, adormecereis e, até o dia seguinte de manhã, na hora prefixada para despertar, dormireis um sono profundo, calmo, tranquilo, findo o qual vos sentireis inteiramente bem de saúde, inteiramente satisfeito, inteiramente disposto. Ademais, se vos sentis algo nervoso, verificareis que esse mal, aos poucos, irá desaparecendo e, à proporção que isso for se dando, sentireis uma sensação de calma, de calma muito grande, que vos tornará cada vez mais senhores de vós mesmos, tanto no ponto de vista físico como no ponto de vista moral, e não consentireis mais em sofrer com tanta frequência, nem com tanta intensidade, os sintomas mórbidos que, por ventura, outrora padecestes. Enfim e principalmente (isto é essencial a todo mundo) se, até agora, em relação a vós mesmos, sentistes alguma desconfiança, a partir deste momento esta desconfiança começa a desaparecer e é substituída pela confiança em vós mesmos. Adquiris confiança em vós mesmos — ouvis? — adquiris confiança em vós mesmos, repito, e esta confiança que obtendes vos dá a certeza de que sois capazes de fazer, não somente bem, senão muito bem, tudo o que desejais fazer, com a condição de serem coisas razoáveis, e também tudo aquilo que por dever tendes a fazer. Portanto, quando desejardes fazer uma coisa razoável, obter uma coisa conforme a razão, quando tiverdes de realizar uma coisa imposta pelo vosso dever, tomai sempre como base este princípio: que tudo é fácil de O domínio de si mesmo 41 fazer, desde que seja possível e que, consequentemente, as palavra difícil, impossível, não posso, está acima das minha forças, não posso deixar de… etc.” ficam completamente eliminadas do vosso vocabulário. Essas palavras não existem na nossa língua, ouvis-me bem, essas palavras não existem na nossa língua. As que existem são: “é fácil” e “ eu posso”. Com elas realizam-se prodígios. Portanto, desde que seja uma coisa possível, considerai-a fácil, porque, nestas condições, ela se vos torna fácil, ainda mesmo que a outros possa parecer difícil ou impossível. E esta coisa será realizada depressa, como deve ser e também sem fadiga, por isto que a fazeis sem esforços; ao passo que ela vos seria difícil ou impossível se como tal a houvésseis considerado. Às pessoas que sofrem dores, digo: a partir deste momento, sob a influência de auto-sugestão que vos vou ensinar a praticar, vosso inconsciente vai fazer com que a causa determinante destas dores, qualquer que seja a sua denominação, desaparecerá aos poucos, no domínio da possibilidade. Naturalmente, desaparecendo a causa, desaparecem as dores na mesma proporção. E quando esta causa tiver desaparecido completamente, se por ventura isso for possível, as próprias dores não se repetirão mais e a cura estará realizada. Se, porém, esta causa for de origem orgânica, só poderá desaparecer progressivamente, e, neste caso, as dores repetir-se-ão de vez em quando. Pois bem, todas as vezes que elas se manifestarem, exijo que as façais desaparecer imediatamente, usando o processo que vou indicar, processo que, todavia, se aplica não somente às penas morais como também aos sofrimentos físicos. É, pois, a todo mundo que me dirijo nesse momento, e a todos vós, digo: Quando vos acontecer, a qualquer de vós, sentir alguma coisa de que vos sobrevenha sofrimento físico ou moral, em lugar de mencionar essa coisa, de sofrer por causa dela e de vos lamentar, afirmai a vós mesmos que a fareis desaparecer, afirmai-o de modo bem simples, mas muito categórico. Direis: Vou fazer isto desaparecer. É simples e, ao mesmo tempo, categórico. Nessa ocasião, ficai a sós (isto não é indispensável, porquanto a gente pode isolar-se, moralmente, em qualquer lugar). Estando sós, assentai-vos, fechai os olhos e, passando a mão, de leve, sobre a fronte se se trata de um caso moral, repeti, muito rapidamente, com os lábios, em voz alta, que possais ouvir, a fórmula; isto passa, isto passa etc.” É essencial que pronuncieis as palavras: “isto passa, isto passa, etc.”, bem depressa para que não haja o menor intervalo por onde possa penetrar a ideia contrária, entre duas vezes que as pronunciardes. Assim, sois obrigados a pensar que isso passa e, como toda ideia que temos em mente torna-se uma realidade para nós, isso passa realmente. Se o mal voltar, expulsai-o novamente, repetindo-o tantas vezes quantas necessárias forem. O domínio de si mesmo 42 Ainda que vos seja preciso usar esse processo 50, 100, 200 vezes, ou mais, por dia, usai-o, tratai-o como tratais uma mosca que tem a impertinência de pousar sobre o vosso rosto. O que fazeis neste caso? Enxotá-la. Se ainda voltar, de novo a enxotais e assim por diante, cada vez que ela vos importunar. Pois bem, repito, fazei o mesmo com o mal. E observareis que, quanto mais insistirdes menos vezes sereis obrigados a lançar mão desse processo. Se, hoje, o tiverdes empregado 50 vezes, por exemplo, amanhã não o empregareis mais de 48 vezes, no dia seguinte 46, e assim em seguida, de sorte que, algum tempo depois, não o empregareis mais, absolutamente, por isso que não se fará sentir a sua necessidade. Aqueles que são acometidos, perseguidos, possuídos por ideias tristes, ideias lúgubres, ideias obsessoras, por temores, pavores, fobias, a esses digo; “Aos poucos notareis que essas ideias, esses temores, essas fobias vão rareando no vosso espírito, vão-se tornando cada vez mais fracas, cada vez menos obstinadas e cada vez mais desprendendo-se de vós. Expulsai-as logo, usando o processo: “Isto passa, isto passa, etc.” Aos nervosos, digo: “Pouco a pouco, sob influência da auto- sugestão, que vos vou ensinar, o nervosismo vai diminuir e, com ele, desaparecerão os sintomas que produzia. Mesmo as crises nervosas, se as tendes, deveis conseguir desembaraçar-vos delas, completamente.” De hoje em diante, essas crises não vos apanharão mais, como dantes vos acontecia. Cada vez que uma dessas crises estiver em ponto de se manifestar, apresentar-se-ão alguns sintomas que vos indicarão que a crise está para vir, mas esses sintomas não vos causarão o menor receio do mundo, porquanto, ao mesmo tempo que os sentirdes, ouvireis, no vosso íntimo, uma voz, a minha, que vos dirá, rápido como um raio: “Não, senhor, não senhora, não senhorita, não tereis esta crise; ela desaparece, ela desapareceu.” E, antes mesmo de aparecer, a crise terá desaparecido. E, assim, por diante. Digo-vos, de uma modo geral que, se um ou vários dos vossos órgãos funcionam de uma forma, assim, mais ou menos defeituosa, aos poucos, esse, ou esses órgãos voltarão a funcionar melhorando cada vez mais e, pouco a pouco, readquirindo o funcionamento normal, será obtida a cura. Agora, vou contar até três e, quando disser “três”, abrireis os olhos, sentir-vos-ei absolutamente bons, contentes e dispostos. “Um, dois, três!” Dita a palavra “três”, todos abrem os olhos e olham uns aos outros, em geral, sorrindo. Terminado, digo aos visitantes: — Agora que contribui com a minha parte, resta a mais importante que é a parte que vos cabe. Eis aí, portanto, o que tereis a fazer durante toda a vossa vida, repito — durante O domínio de si mesmo 45 Quando, pela primeira vez, se ouve a pequena frase: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor”, a gente sente mais é vontade de rir, ,porque a acha um tanto infantil ou ridícula, se, neste sentido, a julgarmos, pelos resultados que é capaz de oferecer e que, diariamente, oferece. Não obstante, encerra, na sua simplicidade, seis palavras de uma importância enorme: “sob todos os pontos de vista”. Que quer isso dizer? Isso quer dizer tudo, absolutamente tudo, todas as coisas físicas, todas a coisas morais, todas as coisas em que se pensa, mesmo aquelas em que se não pensa, porque se não pensarmos conscientemente nela, nosso inconsciente se encarrega de pensar por nós. É, portanto, uma fórmula geral, pois se refere a tudo e, sendo geral, encerra em si todas as fórmulas particulares que cada um acredita necessárias a si próprio, visto que cada qual, no seu egoísmo, pensa assim: “O meu é um caso especial”. Inútil, tudo inteiramente inútil. Como toda fórmula particular está, por definição, contida na fórmula geral: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor”, esta fórmula é suficiente em todos os casos, quaisquer que sejam. Não quero dizer que com ela podeis curar tudo. Não . Mas podeis curar tudo o que é curável e o campo, para isso, é muito vasto. Insisto, porém, sobre este ponto, porque é capital: esta sugestão deve ser feita o mais possível, de um modo simples, infantil, maquinal e sobretudo, sem nenhum esforço (é neste ponto que, geralmente, pecam aqueles que, praticando a auto-sugestão, não conseguem os resultados que deveriam conseguir, normalmente. No ardente desejo de se desfazerem dos seus males, empregam, recorrendo à auto-sugestão, uma força, um fervor, uma energia, que, absolutamente, devem evitar). Deveis lembrar-vos que, no começo, vos disse que a auto-sugestão é um instrumento. Ora, sabeis que os resultados que se obtêm com o uso de um instrumento dependem menos deste do que do modo pelo qual é utilizado. Colocai, por exemplo, um fuzil nas mão de uma pessoa inexperiente , fazendo-o atirar contra um alvo situado a duzentos metros de distância. Provavelmente, nenhuma bala atingirá a mira. Entregai o mesmo fuzil a uma outra pessoa, e todas as balas ou quase todas a alcançarão. Por que estes resultados diferentes? Porque a primeira pessoa não sabia usar a arma, ao passo que a outra sabia. A mesma coisa sucede com a auto-sugestão: dá bons resultados, sendo bem aplicada; do contrário, não. Em uma palavra, esta fórmula deve ser repetida no tom lento e monótono, que se usa para recitar as ladainhas. Antigamente, eu aconselhava que a pessoa, após ter procurado ficar sossegada, prestasse atenção ao que dissesse. Agora não o recomendo mais, porque observei, como vós também o deveis ter feito, que, em geral, O domínio de si mesmo 46 quanto mais se quer ficar sem constrangimento, mais contrafeito se fica; quanto mais a gente trata de deter a atenção sobre um ponto, mais tende a desviar-se dele. Repetindo a fórmula, do modo como aconselho, sem vos esforçar, obtereis a atenção e a calma que procurais ter sem o conseguir. Pela repetição, conseguireis, introduzir, mecanicamente, no vosso Inconsciente, pelo ouvido, a frase que representa uma ideia: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor”. Pelas explicações que dei e pelas experiências que fiz, tiveste ocasião de notar que, quando implantamos uma ideia na mente, esta ideia se torna uma realidade para nós; logo, se metermos na mente (o Inconsciente) a ideia: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor”, necessariamente, todos os dias sob todos os pontos de vista, ireis cada vez melhor. Não pode ser de outra forma. Contudo, se algumas pessoas continuarem a fazer outra sorte de sugestão, como, por exemplo, esta: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez pior etc.” (há pessoas que passam a vida fazendo a si mesmas esta sugestão), necessariamente, é fatal, elas irão todos os dias cada vez pior. Não deverão, porém, culpar nem a mim nem ao meu método, deverão, sim, culpar-se a si próprias e bater no peito, dizendo: “É minha culpa, é minha máxima culpa”. Para terminar, permito-me dar um conselho aos pais que desejam corrigir seus filhos, isto é, a todos os pais, aconselho a fazerem a sugestão nos seu filhos, durante o sono destes. Eis como devem proceder: todas as noites, assim que a criança tiver adormecido, entrar, vagarosamente, no seu quarto, parar cerca de um metro distante de sua cabeça, e repetir, seguidamente, vinte ou vinte e cinco vezes, em voz baixa, numa espécie de sussurro, a coisa que se desejarem obter dela. Com perseverança, chega-se muitas vezes a resultados os mais extraordinários, ao passo que outros processos têm falhado. Por exemplo, certos acidentes que são o apanágio da criança de pouca idade, facilmente se curam por esse meio. Se a criança rói as unhas, chupa o polegar, faz caretas; se é agastada, preguiçosa, desobediente etc., abandona, mais ou menos depressa, esses defeitos. Mas, para isso, como aliás para tudo, é preciso paciência e perseverança. O domínio de si mesmo 47 Como se deve praticar a auto-sugestão consciente Todas as manhãs, ao acordar, e todas as noites, logo ao deitar, fechar os olhos e, sem fixar a atenção no que se diz, proferir em voz bastante alta, a fim de ouvir as próprias palavras, esta frase, repetindo-a vinte vezes, tendo para isto um cordão com vinte nós: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor.” Como as palavras “sob todos os pontos de vista” abrangem tudo, é inútil fazer a auto-sugestão para casos particulares. Fazer esta auto-sugestão, quanto possível da maneira mais simples, mais infantil, mais maquinal, por conseguinte, sem o menor esforço. Numa palavra, a fórmula deve ser repetida no tom em que se rezam as ladainhas. Deste modo consegue-se introduzi-la mecanicamente no Inconsciente, pelo ouvido, e, logo que nele penetra, opera. Seguir este método durante toda a vida, porque não só é preventivo como também curativo. Ademais, cada vez que, durante o dia ou durante a noite, a gente tem um sofrimento físico ou moral, deve apegar-se imediatamente a si mesma, no propósito de não contribuir conscientemente para esse mal, e, também, para o fazer desaparecer. Depois, deve ficar só o mais possível, fechar os olhos e, passando a mão pela fronte, ou pelo local dolorido, conforme se trate de uma dor moral ou física, repetir, rapidamente, com os lábios, estas palavras: “Isto passa, isto passa etc., etc.”, durante o tempo necessário. Com um pouco de hábito consegue-se fazer desaparecer a dor moral ou física, depois de 20 a 25 segundos. Fazer isso toda vez que julgar necessário. OBSERVAÇÕES 1. A prática da auto-sugestão não dispensa o tratamento médico, mas é um precioso auxílio tanto para o doente como para o médico. 2. Diariamente, recebo cartas de pessoas que, extensamente, me explicam todos os sintomas dos seus sofrimentos e me perguntam o que devem fazer. Essas cartas são inúteis. O meu método sendo geral e, por conseguinte, referindo-se a tudo, não tenho conselhos especiais a dar, quaisquer que sejam os casos.
Docsity logo



Copyright © 2024 Ladybird Srl - Via Leonardo da Vinci 16, 10126, Torino, Italy - VAT 10816460017 - All rights reserved