Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Cultura do Feijao, Notas de estudo de Agronomia

Cultura do Feijao

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 05/05/2010

lc-ar-8
lc-ar-8 🇧🇷

4.7

(45)

64 documentos

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Cultura do Feijao e outras Notas de estudo em PDF para Agronomia, somente na Docsity! UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA DISCIPLINA: GRANDES CULTURAS II ESTÁGIO A DOCÊNCIA CULTURA DO FEIJÃO COMUM (Phaseolus vulgaris L.) PROF.: Francisco José. A. F. Távora ALUNA: Belísia Lúcia Moreira T. Diniz FORTALEZA - CE JULHO - 2006. 1. ORIGEM O gênero Phaseolus originou-se nas Américas e compreende aproximadamente 55 espécies, das quais apenas cinco é cultivado: o feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris); o feijão de lima (P. lunatus); o P. polyanthus; o feijão Ayocote (P. coccineus) e o feijão tepari (P. acutifolius). Existem diversas hipóteses para explicar a origem e domesticação do feijoeiro. Tipos selvagens, similares a variedades criolas simpátricas, encontrados no México e a existência de tipos domesticados, datados de cerca de 7.000 a.C., na Mesoamérica, suportam a hipótese de que o feijoeiro teria sido domesticado na Mesoamérica e disseminado, posteriormente, na América do Sul. Por outro lado, achados arqueológicos mais antigos, cerca de 10.000 a.C., de feijões domesticados na América do Sul (sítio de Guitarrero, no Peru) são indícios de que o feijoeiro teria sido domesticado na América do Sul e transportado para a América do Norte. Dados mais recentes, com base em padrões eletroforéticos de faseolina, sugerem a existência de três centros primários de diversidade genética, tanto para espécies silvestres como cultivadas: o mesoamericano, que se estende desde o sudeste dos Estados Unidos até o Panamá, tendo como zonas principais o México e a Guatemala; o sul dos Andes, que abrange desde o norte do Peru até as províncias do noroeste da Argentina; e o norte dos Andes, que abrange desde a Colômbia e Venezuela até o norte do Peru. Além destes três centros americanos primários, podem ser identificados vários outros centros secundários em algumas regiões da Europa, Ásia e África, onde foram introduzidos genótipos americanos. 2. IMPORTÂNCIA DA CULTURA O feijão tem extrema importância econômica e social no Brasil. De acordo com os valores divulgados pela Companhia de Abastecimento (Conab), na safra 2005-06, o feijão representou o quinto granífero mais produzido, ficando atrás apenas da soja, do milho, do arroz e do trigo. A cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) tem grande importância na alimentação humana, em vista de suas características protéicas e energéticas. Em nosso país, esta leguminosa tem importância social e econômica, por ser responsável pelo suprimento de grande parte das necessidades alimentares da população de baixo poder aquisitivo, que ainda tem apresentado taxas de crescimento relativamente altas e também pelo contingente de pequenos produtores que se dedicam à cultura. 4.CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA Do ponto de vista taxonômico o feijão comum é o verdadeiro protótipo do gênero Phaseolus, classificado por Linneo em 1753. Reino: Vegetal Ramo: Embryophytae syphonogamae Sub-ramo: Angiospermae Classe: Dicotyldoneae Ordem: Rosales Família: Fabaceae Subfamília: Faboideae (Papilioideae) Tribo: Phaseoleae Gênero: Phaseolus Espécie: Phaseolus vulgares L. 5. MORFOLOGIA • Raiz: o sistema radicular do feijoeiro é formado por uma raiz principal, ou primária, da qual se desenvolvem, lateralmente, as raízes secundárias e terciárias. Ademais, os pêlos absorventes estão sempre presentes nas proximidades das regiões de crescimento. Em geral, a raiz primária possui maior diâmetro do que as demais, especialmente na fase jovem da planta. O sistema radicular é bastante superficial 20 – 40 cm do solo. Esta pequena profundidade das raízes torna-o bastante sensível à deficiência hídrica, e torna a planta com baixa eficiência em absorver nutrientes, exigindo por isso solos férteis ou boas adubações, de modo que os nutrientes estejam próximos das raízes, em quantidades suficientes e no momento adequando. • Caule: é herbáceo (haste), constituído por eixo principal, formado por uma sucessão de nós e entre-nós. O primeiro nó constitui os cotilédones, o segundo corresponde à inserção das folhas primárias e o terceiro, das folhas trifolioladas; a porção entre as raízes e os cotilédones é o hipocótilo e entre os cotilédones e as folhas primárias, o epicótilo. • Folhas: são simples e opostas nas folhas primárias; e compostas, constituídas de três folíolos (trifolioladas), com disposição alterna, características das folhas definitivas. Quanto à disposição dos folíolos, um é central ou terminal, simétrico, e dois são laterais, opostos e assimétricos. A cor e a pilosidade variam de acordo com a cultivar, posição na planta, idade da planta e condições do ambiente. • Flores: São agrupadas em inflorescências do tipo rácimo axilar (no hábito de crescimento indeterminado) e rácimo terminal (no hábito determinado). É uma planta autógama, com taxa de cruzamento natural em torno de 2%. Apresentam cálice verde e a corola é composta por cinco pétalas: uma mais externa e maior denominada estandarte; duas laterais menores, estreitas, chamadas asas, e duas inferiores, fusionadas, enroladas em espiral, envolvendo os órgãos reprodutores, denominadas de quilha. O androceu é constituído de nove estames soldados na base e um livre, denominado vexilar. O gineceu possui ovário comprido, é súpero, unicarpelar, pluriovulado; o estilete é encurvado e o estigma é lateral, terminal. Quanto à coloração, as flores podem ser branca, amarelada, rosada ou violeta. • Fruto: é um legume, deiscente, constituído de duas valvas unidas por duas suturas, uma dorsal e outra ventral; a forma pode ser reta, arqueada ou recurvada e o ápice, abrupto ou afilado, arqueado ou reto. A cor é característica da cultivar, podendo ser uniforme ou apresentar estrias e variar de acordo com o grau de maturação (imaturo, maduro e completamente seco): de verde, verde com estrias vermelhas ou roxas, vermelho, roxo, amarelo, amarelo com estrias vermelhas ou roxas, até marrom. • Semente: exalbuminada, isto é, não possui albume, as reservas nutritivas estão concentradas nos cotilédones. Constituída, externamente, de um tegumento ou testa, hilo (cicatriz do pedúnculo), micrópila e rafe; internamente, de um embrião formado pela plúmula, duas folhas primárias, hipocótilo, dois cotilédones e radícula. Figura 1. Semente do feijão. 1.Cotilédone; 2.Radícula; 3.Plúmula; 4. Tegumento; 5. Hilo; 6. Micrópila; Pode ter várias formas: arredondada, elíptica, reniforme ou oblonga, e tamanhos que variam de muito pequenas (<20g/100 sementes) a grandes (>40g/100 sementes) e apresentar ampla variabilidade de cores, variando do preto, bege, roxo, róseo, vermelho, marrom, amarelo, até o branco. O tegumento pode ter uma cor uniforme (cor primária) ou duas (cor primária e secundária), expressa na forma de estrias, manchas ou pontuações; pode ter brilho ou brilho intermediário ou não ter brilho (opaca). 6. FENOLOGIA Fenologia é o estudo dos eventos periódicos da vida vegetal em função da sua reação às condições de ambiente e sua correlação com aspectos morfológicos da planta. Assim, percebe-se que o conceito de fenologia envolve o conhecimento de todas as etapas de crescimento e desenvolvimento da vida vegetal como a germinação, emergência, elaboração do aparato fotossintético, florescimento, aparecimento de estruturas reprodutivas e maturação dos frutos e sementes. O desenvolvimento do feijoeiro compreende duas grandes fases distintas, denominadas de Fases Vegetativas e Reprodutivas, diferenciadas entre si pela manifestação de diferentes eventos. A fase vegetativa tem seu início compreendido entre a germinação até o aparecimento dos primeiros botões florais. A fase reprodutiva transcorre desde a emissão dos botões florais até o pleno enchimento de vagens e a maturação das sementes. Nessa fase evidencia-se notória sensibilidade à deficiência hídrica e excesso de água. 6.1. Descrição dos Estádios Fenológicos 6.1.1. Estádio Vegetativo: • Estádio V0 (Germinação): após a absorção de água pela semente, inicia-se o processo de germinação, caracterizado pelo aparecimento da radícula (geralmente pelo lado do hilo). O feijão possui grande sensibilidade à falta de água após a semeadura. Ainda, o feijoeiro não apresenta satisfatória tolerância à semeadura profunda. Temperaturas inferiores a 12oC reduzem significativamente a taxa e a velocidade de germinação das sementes. Por outro lado, valores de temperatura próximos a 25oC, favorecem consideravelmente o processo referido. • Estádio V1 (Emergência): a emergência é caracterizada pela presença dos cotilédones acima da superfície do solo em processo de desdobramento da “alça” do hipocótilo. A seguir, o epicótilo alonga-se e as folhas primárias, que já se encontravam diferenciadas no embrião da semente, expandem-se. • Estádio R8 (Enchimento das vagens): a etapa R8 inicia com o enchimento da primeira vagem. Nesse estádio, o tamanho da vagem já se encontra definido e a ocorrência de condições climáticas desfavoráveis, principalmente falta de água e nutrientes, poderão concorrer para a redução da produção, em número e peso de grãos. No final da presente etapa, evidencia-se o início do processo de pigmentação das sementes e em seguida das vagens. No estádio R8 finaliza-se, normalmente, a emissão de novas folhas por parte das variedades com hábito de crescimento indeterminado, além de se observar o início do amarelecimento e queda das folhas inferiores da planta. • Estádio R9 (Maturidade das vagens): o referido estádio é caracterizado pela mudança da cor das vagens (amarela ou pigmentada de acordo com a variedade). As sementes adquirem sua cor e brilho final. O processo de senescência da planta (amarelecimento e queda das folhas) se acelera. A evolução normal dessa etapa exige a ausência ou baixa disponibilidade de água no sistema. Tabela 2. Estádio reprodutivo do feijoeiro. Estádios reprodutivos Início de cada etapa Dias R5 Pré-floração 50% das pls c/ pelo menos 1 botão floral 9-11 R6 Floração 50% das pls c/ pelo menos 1 flor aberta 4-6 R7 Formação de vagens 50% das pls c/ pelo menos 1 vagem visível 8-9 R8 Enchimento das vagens 50% das pls c/ grão em enchimento na 1a vagem 18-24 R9 Maturação 50% das plantas c/ mudança de cor nas vagens 14-15 Fonte: Fernadez & Lopes (1986) 6.2. Hábito de Crescimento: Tipos de Plantas Os hábitos de crescimento são agrupados e caracterizados em quatro tipos principais: Tipo I - hábito de crescimento determinado, arbustivo e porte da planta ereto. • Haste principal e os ramos laterais terminando em inflorescência; • Talo principal resistente (pouco ramificado); • Pequeno porte (25 – 50 cm); • Ciclo precoce; • Período de florescimento reduzido; • Uniformidade de maturação de vagens; Tipo II - hábito de crescimento indeterminado, arbustivo, porte da planta ereto e caule pouco ramificado. • Haste principal de crescimento vertical, ramos laterais não numerosos e geralmente curtos; • Satisfatório potencial produtivo; • Hábito de crescimento propicia adequada distribuição de flores e vagens na planta (melhor qualidade); Tipo III - hábito de crescimento indeterminado, prostrado ou semiprostado, com ramificação bem desenvolvida e aberta. • Grande número de ramificações; • Guias longas + ramos laterais bem desenvolvidos = aptidão trepadora; • Período de florescimento amplo (15 a 20 dias); • Grande potencial de produção; • Grande desuniformidade de maturação das vagens e grande quantidade de vagens localizadas na parte baixa da planta; Tipo IV - hábito de crescimento indeterminado, trepador; caule com forte dominância apical e número reduzido de ramos laterais, pouco desenvolvido. • Grande desenvolvimento da haste principal (dois a três metros), baixo no de ramos laterais; • Grande no de nós presentes (30 nós) e acentuada dominância apical; • Floração se prolonga por semanas (Colheita parcelada); • Não são cultivadas no Brasil (exceção – produção de vagens verdes); 7. CLIMA 7.1. Temperatura Para que o feijoeiro possa atingir seu rendimento potencial, torna-se necessário que a temperatura do ar apresente valores mínimo, ótimo e máximo como sendo 12ºC, 21ºC e 29ºC, respectivamente. Com relação à germinação do feijoeiro, valores de temperatura em torno de 28°C são considerados ótimos. Se as baixas temperaturas ocorrerem imediatamente após a semeadura, podem impedir, reduzir ou atrasar a germinação das sementes e a emergência das plântulas, podendo resultar em baixa população de plantas e, conseqüentemente, baixa produtividade. Durante o crescimento vegetativo, baixas temperaturas reduzem a altura da planta e o crescimento de ramos, conduzindo à produção de pequeno número de vagens por planta. Alta temperatura talvez seja o fator climático que exerce maior influencia sobre o aborto de flores e sobre o vigamento e a retenção final das vagens no feijoeiro, sendo responsável pela redução no número de sementes por vagem. É importante ressaltar que altas temperaturas também podem ser decisivas na ocorrência de diversas enfermidades que acometem a cultura do feijão, principalmente se associada à alta umidade relativa do ar. O rendimento de grãos do feijoeiro é bastante afetado quando a temperatura do ar, na floração, apresenta valores acima de 35°C. Da mesma forma, temperaturas do ar abaixo de 12°C podem provocar abortamento de flores, concorrendo para um decréscimo no rendimento do feijoeiro. Além disso, áreas que apresentem umidade relativa e temperatura do ar acima de 70% e 35°C, respectivamente, podem provocar a ocorrência de várias doenças. 7.2. Umidade do solo A cultura do feijão requer boa disponibilidade de água no solo durante todo o ciclo, principalmente nas etapas de germinação/emergência, floração e enchimento do grão, as mais críticas com relação a este aspecto. 7.3. Exigências hídricas A cultura exige um mínimo de 300 mm de precipitação pluviométrica bem distribuídos durante o ciclo. É mais suscetível a déficit hídrico durante a floração e no estádio inicial de formação das vagens. O período crítico ocorre 15 dias antes da floração. O déficit hídrico causa redução do rendimento devido ao menor número de vagens/planta e, em menor escala, à diminuição do número de sementes/vagem. O efeito negativo causado pela redução de água fornecida a cultura pode ser minimizado conhecendo-se as características pluviais de cada região e o comportamento das culturas em suas fases fenológicas, ou seja, semeando nos períodos Raízes 4,9 0,2 2,7 0,8 0,7 0,5 Hastes 7,7 0,4 9,3 4,4 2,0 1,2 Folhas 2,6 0,8 5,5 5,4 1,4 0,7 Vagens 7,2 1,0 10,1 3,0 1,4 0,7 Sementes 30,4 2,3 11,9 1,3 1,9 1,7 Planta toda 52,8 4,7 39,6 14,8 7,4 4,9 Fonte: Gallo e Miyasaka (1961) Observa-se que o N e o K são absorvidos em maior quantidade, seguidos pelo Ca, Mg, S e P. O N, P, K e S acumulam-se principalmente nas sementes, o Ca nas folhas e o Mg nas hastes. A prática da adubação depende de vários fatores, os quais devem ser previamente analisados no sentido de aconselhar os agricultores a praticarem uma adubação mais adequada, quanto aos aspectos agronômicos (que obtenha maior eficiência dos fertilizantes) e econômico (que resulte em maior renda líquida ao produtor). Uma recomendação de adubação que atenda a esses princípios deve ser fundamentada nos seguintes aspectos: 1) em resultados de análises de solo, complementadas pela análise de planta; 2) numa análise do histórico da área; 3) no conhecimento agronômico da cultura; 4) no comportamento ou tipo da cultivar; 5) no comportamento dos fertilizantes no solo; 6) na disponibilidade de capital do agricultor para aquisição de fertilizantes; e 7) na expectativa de produtividade. Portanto, a recomendação de adubação para o feijoeiro, bem como para qualquer outra cultura, depende da análise cuidadosa de todos esses fatores, ressaltando que não existe uma regra geral a seguir nas recomendações de adubação. Quanto à cultura do feijoeiro, a quantidade de fertilizantes varia de acordo com a época de plantio, quantidade e tipo de resíduo deixado na superfície do solo pela cultura anterior e com a expectativa de rendimento. Geralmente, varia de 60 a 150 kg ha-1 de nitrogênio; de 60 a 120 kg ha-1 de P2O5 , dependendo, evidentemente, do teor disponível de fósforo no solo, das condições de risco e da expectativa de rendimento de grãos, e de 30 a 90 kg ha-1 de K2O. Para correção do solo em termos de cálcio, magnésio, enxofre, pH e precipitação do alumínio na forma de hidróxido, normalmente utiliza-se a calagem. A calagem é uma técnica economicamente viável devido ao baixo custo do calcário. 10. FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO O feijoeiro como outras leguminosas de interesse agrícola, pode utilizar nitrogênio atmosférico por intermédio da associação simbiótica com as bactérias dos nódulos radiculares – os rizóbios. No caso específico do feijão, a simbiose pode ocorrer com as seguintes espécies de bactéria: Rhizobium leguminosarum phaseoli, R tropici, R. gallicum e R. giardinii. Nas zonas produtoras, os feijoeiros normalmente exibem nódulos nas raízes, comprovando a presença de rizóbios no solo. Isso não significa, necessariamente, que a fixação simbiótica esteja resolvendo o problema de fornecimento de nitrogênio aos feijoeiros, tornando dispensável a adubação nitrogenada. Na realidade, a experimentação agronômica tem revelado que, em muitos casos, a aplicação do fertilizante nitrogenado é necessária quando almejamos alta produtividade da cultura, a despeito da presença de rizóbios, comprovada pela nodulação. Diversos fatores podem estar contribuindo para essa situação como: condições química e física do solo, cultivar, estirpe de rizóbio, condições climáticas e rizóbios já existentes no solo. Então, a inoculação de bactérias do grupo dos rizóbios, capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e fornecê-lo à planta, é uma alternativa que pode substituir, ainda que parcialmente, a adubação nitrogenada. Resultados indicam que a cultura do feijoeiro, em condições de campo, pode se beneficiar do processo da fixação biológica de nitrogênio (FBN) alcançando níveis de produtividade de até 2.500 kg ha-1. O inoculante brasileiro, durante muito tempo, foi produzido utilizando-se bactérias que eram obtidas no exterior e testadas pelas instituições de pesquisa no Brasil. Com a evolução destes estudos, revelou-se a inequação destas estirpes aos solos tropicais, uma vez que estão sujeitas a um elevado grau de instabilidade genética, comprometendo sua capacidade de fixar nitrogênio. Este fato pode explicar, pelo menos parcialmente, a decepção de muitos agricultores com o uso do inoculante nesta cultura até bem recentemente. Atualmente, o inoculante comercial para o feijoeiro no Brasil é produzido com uma espécie de rizóbio adaptada aos solos tropicais, o Rhizobium tropici, resistente a altas temperaturas, acidez do solo e altamente competitiva, ou seja, em condições de cultivo favoráveis é capaz de formar a maioria dos nódulos da planta, predominando sobre a população de rizóbio presente no solo. A eficiência da FBN, entretanto, depende das condições fisiológicas da planta hospedeira que fornece a energia necessária para que a bactéria possa realizar eficientemente este processo. Além da calagem, é importante proceder a correção do solo com os demais nutrientes. Ressalta-se a importância do fornecimento de fósforo, deficiente na maioria dos solos tropicais, o qual tem efeito marcante sobre a atividade da nitrogenase, devido ao alto dispêndio energético promovido pela atividade de FBN. O molibdênio é um micronutriente que tem efeito marcante sobre a eficiência da simbiose, sendo um constituinte estrutural da enzima nitrogenase, que, dentro do nódulo, executa a atividade de FBN. A aplicação foliar de molibdênio promove aumentos de produtividade em feijoeiro inoculado, sendo que há vários produtos disponíveis no mercado para esta finalidade. Apesar de o feijoeiro ser uma planta com grande capacidade de aproveitamento do nitrogênio disponível no solo, a aplicação de adubos nitrogenados tende a afetar negativamente este processo. Solos com maiores teores de matéria orgânica, que liberam nitrogênio lentamente, podem beneficiar a planta do feijoeiro sem, contudo, reduzir a sua capacidade de fixação. Dentre os fatores ambientais mais importantes para o processo de fixação biológica de nitrogênio, a ocorrência de deficiências hídricas, ou seja, seca durante o ciclo de cultivo tem efeito negativo em diferentes etapas do processo de nodulação e na atividade nodular, além de afetar a sobrevivência do rizóbio no solo. A ocorrência de altas temperaturas afeta, também, a sobrevivência do rizóbio no solo, o processo de infecção, a formação dos nódulos e ainda a atividade de FBN. O procedimento de inoculação das sementes com rizóbio é simples, bastando misturar as sementes com o inoculante de rizóbio para o feijão. Este inoculante é, geralmente, vendido em embalagens contendo a bactéria em veículo turfoso, o mais recomendado atualmente pela pesquisa. Deste modo, recomenda-se que a inoculação seja feita à sombra, preferencialmente nas horas mais frescas do dia, utilizando uma solução açucarada a 10% como adesivo, ou outros produtos como goma arábica a 20%. Mistura-se 200 a 300 ml desta solução ao inoculante (500 g) até formar uma pasta homogênea. Em seguida, mistura-se esta pasta a 50 kg de sementes de feijão até que fiquem totalmente recobertas com uma camada uniforme de inoculante. Deixar as sementes inoculadas Hábito de crescimento II Rudá Carioca CIAT Hábito de crescimento III Aporé Carioca Embrapa A & F Bambuí Mulatinho Embrapa A & F Roxo 90 Roxo ESAL Jalo EEP 558 Manteiga IPEACO/EEP BR-IPAGRO Preto Embrapa A & F Fonte: Dourado Neto & Fancelli (2000). 14. ÉPOCAS E SISTEMAS DE PLANTIO No Brasil, o feijoeiro é cultivado de norte a sul, em diferentes épocas e sistemas de plantio, constituindo não somente cultura de subsistência como também ocupando posição de destaque, atualmente, como alternativa para agricultura empresarial. Neste caso, via de regra, as lavouras são irrigadas. Na outra situação, a cultura fica bastante vulnerável às chuvas, tanto à falta desta, em períodos críticos (como floração e enchimento de grãos), e/ou a sua ocorrência por ocasião da colheita. Daí, a grande importância de efetuar-se o plantio nas épocas menos sujeitas a esses fatores. Quanto à semeadura, as épocas recomendadas concentram-se, basicamente, em três períodos, como mostra a Tabela 5. Tabela 5. Calendário de plantio, colheita e regiões de concentração. Safras Plantio Colheita Regimes de Concentração 1a “águas” Ago/nov. Nov/abr Sul, Sudeste, BA 2a “seca” Jan./mar Abr/jul NE, Sudeste, Sul 3a “inverno” Abr./jul Ago/out MG, GO, SP, BA FONTE: CONAB (2004) Os sistemas de plantio recomendados são solteiro e consorciado, sendo este último aconselhável apenas para os agricultores que cultivam pequenas áreas. Dessa forma, aproveitam ao máximo os limitados recursos de que dispõem, diminuem os riscos de insucesso da cultura, dispõem de maiores opções na dieta familiar; obtêm maior eficiência no uso da terra e melhor conservação do solo. O consórcio pode ser feito com diversas culturas, como café, mandioca, cana- de-açúcar, palma forrageira e algodão. A cultura mais comumente utilizada é o milho, cujo consórcio pode ser feito seguindo diferentes arranjos de plantas e diferentes populações, conforme a maior ou menor importância de uma ou outra cultura para o produtor. Quando o milho for considerado cultura principal, recomenda-se: 1) que sejam utilizadas 40.000 plantas de milho ha-1, fileiras espaçadas de 1 m, 4 plantas m-1; 2) que sejam utilizadas 100 a 120 mil plantas de feijão, quando este for plantado na mesma época que o milho, sendo 10 a 12 plantas m-1 e nas linhas do milho; e, caso o feijão seja plantado após a maturação (plantio de substituição), utilizar 200 a 240 mil plantas de feijão ha-1, sendo 10 a 12 plantas m-1. Feijão e milho forem = importantes: devem ser utilizadas as mesmas populações citadas no parágrafo anterior, com as fileiras espaçadas de 0,5 m, sendo duas de milho alternadas com duas de feijão, no plantio simultâneo, e três de feijão, no plantio de substituição. Maior interesse na cultura do feijão: deve-se aumentar o número de suas fileiras e reduzir as do milho, mantendo-se 4 a 5 plantas de milho m-1 e 10 a 12 plantas de feijão m-1. Cultivo Solteiro: populações de 200 mil a 240 mil plantas ha-1. Isto é obtido com fileiras espaçadas de 0,5 m e com 10 a 12 plantas m-1 de linha. Normalmente, utilizam-se 45 a 120 kg de sementes ha-1, dependendo da cultivar empregada. Para se calcular a quantidade de sementes a ser utilizada num hectare, pode-se empregar a seguinte fórmula: Q= D X P X 10 PG X E Q= quantidade de sementes, em kg ha-1; D= no pls m-1 linear; P= Peso de 100 sementes (grs); PG= Poder germinativo (%); E= espaçamento entre fileiras (m); A densidade, ou o número de plantas por unidade de área, é resultado da combinação de espaçamento entre fileiras de plantas e número de plantas por metro de fileira. Espaçamentos de 0,40 a 0,60 m entre fileiras e com 10 a 15 plantas por metro, em geral proporcionam os melhores rendimentos O gasto de sementes varia em função de diferentes fatores: a) espaçamento entre fileiras; b) no de plantas m-1 de fileira; c) massa das sementes; d) poder germinativo. Portanto, considerando esses fatores, verifica-se um gasto que varia de 45 a 120 kg ha-1. A profundidade de semeadura pode variar conforme o tipo de solo. Em geral recomenda-se de 3-4 cm para solos argilosos ou úmidos e de 5-6 cm para solos arenosos. 15. MANEJO DE PLANTAS DANINHAS Por ser uma cultura de ciclo relativamente curto, o feijoeiro é bastante sensível à competição, sobretudo nas fases iniciais de desenvolvimento. O período em que as plantas daninhas causam maiores danos compreende os primeiros 30 dias após a emergência (DAE), podendo se estender até 40 (DAE) para cultivares de ciclo mais tardio. Na estratégia de controle das plantas daninhas, devem estar associados o melhor método e o momento oportuno, antes do ponto crítico de competição (PCC). Existem quatro métodos básicos para se controlar as plantas daninhas: controle cultural, o controle mecânico, o controle biológico e o controle químico. O controle cultural consiste na utilização de medidas e procedimentos objetivando a prevenção de infestações e disseminação de plantas daninhas, bem como o fortalecimento da capacidade competitiva da cultura, representada pelo rápido estabelecimento e desenvolvimento da espécie comercial. Os métodos mecânicos mais utilizados referem-se a capina manual e ao cultivo mecânico (tração animal = um a dois ha/dia e tratorizado = um a dois ha/h). A capina manual é empregada em áreas pequenas (inferiores a 10 ha), sendo destinada a pequenos produtores e a lavoura de subsistência. Por outro lado, o controle de plantas daninhas baseado no uso de cultivadores mecânicos, possibilita a obtenção de maior rendimento operacional. O método químico é representado pelo uso de herbicidas, cuja eficiência de controle é dependente de fatores técnicos, econômicos e climáticos. Em decorrência de seu custo o emprego de herbicidas tem proporcionado resultados econômicos satisfatórios em lavouras de feijão onde o rendimento tem se mostrado superior a 1.200 kg ha-1 (20 sc ha-1). 19. COLHEITA E BENEFICIAMENTO A colheita do feijão é feita manualmente, ou mecanicamente ou por um combinação de colheita mecânica e colheita manual. Na colheita totalmente manual, as plantas são arrancadas quando o produto atinge teor de umidade na faixa de 30 a 35 % em base úmida. O produto é enleirado no próprio campo para a secagem ao sol. Quando o produto atinge teor de umidade na faixa de 15 a 20%, ele é recolhido e colocado sobre terreiros ou lonas onde é debulhado geralmente por meio de batedura utilizando-se varas flexíveis. Na colheita totalmente mecânica do feijão são utilizadas máquinas arrancadoras e máquinas recolhedoras. As máquinas arrancadoras tem a função de arrancar o produto e enleirá-lo. Essas máquinas são acopladas ao trator e acionadas pela tomada de potência (TDP). As máquinas recolhedoras trabalham recolhendo o material de cada linha individualmente. Elas trabalham acopladas a um trator e são acionadas pela TDP. Quando a colheita é feita utilizando-se uma combinação de colheita mecânica e colheita manual as opções são as seguintes: • arranquio manual e recolhimento mecanizado • arranquio manual, recolhimento manual e trilha mecanizada As máquinas trilhadoras, utilizadas no sistema de combinação entre colheita manual e colheita mecânica, são máquinas estacionárias acionadas pela TDP do trator, responsáveis pela trilha, separação e limpeza do feijão. A capacidade de trilha das máquinas existentes no mercado geralmente atingem a capacidade de até 30 sacas por hora. Conforme a colheita, o beneficiamento do feijão também se constitui numa operação de grande importância, pois os métodos de colheita não proporcionam um produto final limpo e padronizado em condições de ser comercializado. É necessário que o produto colhido passe por um processo de limpeza para melhorar a pureza, germinação e vigor. O beneficiamento é feito, geralmente, por dois equipamentos principais: a máquina de ar e peneira e a máquina densimétrica, que possui mais recursos para separar impurezas de tamanho e densidade próximos aos da semente. Após o beneficiamento, o feijão armazenado, destinado ao plantio ou ao consumo, deve receber tratamentos especiais para evitar sua depreciação. A qualidade final do feijão é influenciada pelas condições do armazém e pelas condições iniciais dos grãos. Os cuidados devem começar na lavoura, com providências contra danos mecânicos, ataques de insetos e germinação na vagem. Bem como, a limpeza dos equipamentos de trilha, de transporte e o local de armazenamento, para eliminar focos de contaminação. 20. EXPURGO Antes de ser destinado ao mercado ou ao armazém, o feijão deve ser submetido ao expurgo com fosfina (fosfeto de alumínio), para controle do caruncho, à base de três pastilhas para cada 15 sacos do produto. O material a ser expurgado deve ser coberto com lona impermeável e, após 120 horas da distribuição das pastilhas, ser lentamente descoberto. 21. ARMAZENAMENTO O local de armazenamento do feijão deve ser seco, ventilado e completamente limpo, livre de quaisquer resíduos de outras safras, mesmo que de outras culturas. A sacaria não deve ficar em contato direto com o piso, e as janelas, portas e outras aberturas devem ser protegidas com telas. 22. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DOURADO NETO, D.; FANCELLI, A. L. Produção de feijão. Guaíba: Agropecuária, 2000. 385 p. THUNG, M. D. T.; OLIVEIRA, I. P. de. Problemas abióticos que afetam a produção do feijoeiro e seus métodos de controle. EMBRAPA-CNPAF, 1998. 172 p. :il. VIEIRA, C.; PAULA JUNIOR, T. J. de; BORÉM, A. FEIJÃO: aspectos gerais e cultura no Estado de Minas. Viçosa: UFV, 1998. 596 p.:il. além de ser influenciada pela integridade e vigor das sementes. pela escassez de água pela incidência de pragas e fungos de solo, maior profundidade de semeadura Tamanho e a conformação das folhas primárias podem ser reduzidos e afetados:
Docsity logo



Copyright © 2024 Ladybird Srl - Via Leonardo da Vinci 16, 10126, Torino, Italy - VAT 10816460017 - All rights reserved