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Acertando o alvo 2 uso da madeira amazõnica e a cerftificação florestal no estado de são paulo, Notas de estudo de Engenharia Florestal

Acertando o Alvo 2” é o primeiro estudo detalhado sobre o uso de madeira amazônica no mercado nacional com enfoque no Estado de São Paulo, que responde por 20% do consumo brasileiro. Este livro é uma extensão do Acertando o Alvo, publicado em 1999, o qual revelou que a grande maioria (86%) da madeira amazônica era consumida no Brasil, enquanto apenas 14% eram exportados. Este estudo foi realizado por uma parceria entre o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Amigos da T

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 05/04/2010

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CEP: 13400-970 Fone: (19) 3414 4015 E-mail: imaflora@imaflora.org Página: www.imaflora.org Sumário RESUMO EXECUTIVO .............................................................. 7 CONTEXTO ............................................................................ 17 MÉTODOS .............................................................................. 21 DEPÓSITOS DE MADEIRA ..................................................... 25 INDÚSTRIAS DE PRODUTOS DE MADEIRA........................ 37 CONSTRUÇÃO CIVIL VERTICAL........................................... 49 CONCLUSÃO ......................................................................... 59 AGRADECIMENTOS .............................................................. 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................... 65 ANEXO.................................................................................... 67 Acertando o Alvo 2 9 (edifícios) no Município de São Paulo, onde ocorre a grande mai- oria desse tipo de construção no Estado. Neste caso, entrevista- mos 8 grandes incorporadoras e 15 empresas prestadoras de ser- viços, as quais responderam por 25% da área total construída na cidade de São Paulo. Depósitos de madeira. Há cerca de 2.000 depósitos de ma- deira no Estado, os quais comercializaram, em 2001, cerca de 1,5 milhão de metros cúbicos de madeira serrada, ou o equiva- lente a 4,2 milhões de metros cúbicos. Em 2001, a maioria dos depósitos (59%) comprou madeira diretamente das serrarias da Amazônia. A madeira amazônica (mais de 200 espécies) comercializada nos depósitos foi destina- da principalmente para a construção horizontal, por exemplo, casas e pequenas edificações. O Estado de Mato Grosso foi o principal fornecedor de ma- deira para os depósitos de São Paulo, com cerca de 60% do volu- me comercializado. Em seguida, ficou o Pará, com aproximada- mente 22%, enquanto a madeira oriunda de Rondônia represen- tou 15%. O restante (3%) foi distribuído entre os outros Estados da Amazônia (Figura 2). Figura 2. Origem da madeira amazônica comercializada pelos depósitos no Estado de São Paulo, 2001. Mato Grosso (60%) Pará (22%) Rondônia (15%) Amazonas (1%) Maranhão (1%) Acre (1%) 10 Resumo Executivo Os donos de depósitos revelaram preocupação em relação ao suprimento futuro de madeira amazônica. Eles afirmaram que as pressões ambientais e a imagem de ilegalidade associada à madeira amazônica podem criar sérios obstáculos ao seu comér- cio. De acordo com a maioria (64%) dos donos de depósitos entrevistados, se esses problemas persistirem, a madeira amazô- nica pode ser largamente substituída por madeira de refloresta- mento, bem como por outros materiais (plástico PVC, alumínio, cerâmica etc.). Por outro lado, 36% dos entrevistados indicaram que a madeira amazônica deve continuar predominando nesse segmento independente das questões ambientais. Em 2001, o conhecimento sobre certificação florestal nos de- pósitos era raro. A grande maioria dos entrevistados (80%) nunca havia ouvido falar sobre o tema e o confundia com selos e carimbos emitidos pelo Ibama. Entretanto, a maioria (60%) dos entrevistados, após ser informada sobre o conceito de certificação, revelou inte- resse em saber mais sobre madeira certificada. Além disso, um subgrupo de depósitos (5%) responsáveis por cerca de 15% do vo- lume comercializado demonstrou interesse em testar a venda de madeira certificada em seus estabelecimentos, desde que isso não representasse um aumento no preço da madeira (Figura 3). Figura 3. Interesse em madeira certificada pelos depósitos no Estado de São Paulo, 2001. 60% 40% 20% 0% 40% Nenhum Conhecer Vender E m p re s a s 55% 5% Acertando o Alvo 2 11 Indústrias de produtos de madeira. Em 2001, havia cerca de 600 indústrias de produtos de madeira (móveis, casas pré- fabricadas, pisos e esquadrias) que utilizavam madeira amazôni- ca no Estado de São Paulo. A maioria (63%) dessas indústrias estava concentrada nos pólos industriais madeireiros de Votuporanga, Mirassol, Tietê, Itatiba e São Bernardo do Campo. Essas indústrias consumiram cerca de 457 mil metros cúbicos de madeira amazônica serrada, o que representou 1,3 milhão de metros cúbicos de madeira em tora. A madeira foi consumida principalmente na fabricação de móveis populares (69%), forros, pisos e esquadrias (14%), casas pré-fabricadas de madeira (13%) e móveis finos (4%) (Figura 4). Figura 4. Uso de madeira amazônica nas indústrias de produtos de madeira no Estado de São Paulo, 2001. Há um gradiente na proporção de uso de madeira amazôni- ca entre os tipos de indústrias de produtos de madeira. Nas indús- trias de móveis populares, a madeira amazônica representou 36% da matéria-prima. Nas indústrias de móveis finos, a madeira ama- zônica significou cerca de 64% do volume de madeira consumi- da. Por último, nas indústrias de casas pré-fabricadas e nas indús- trias de pisos e esquadrias, a madeira tropical alcançou quase a totalidade (98%) da matéria-prima florestal. móveis finos 4% móveis populares 69% casas pré-fabricadas de madeira 13% forros, pisos e esquadrias 14% 14 Resumo Executivo quirir madeira certificada. Por sua vez, as empresas de casas pré- fabricadas de madeira são alvo natural, pois o mercado é forma- do por compradores das classes média e alta com bom conheci- mento sobre madeira e preocupações em relação a sua origem. Por essa razão, essas indústrias indicaram forte interesse em ad- quirir madeira certificada. Construção civil vertical. No Município de São Paulo, como no restante do Brasil, o consumo de madeira amazônica na cons- trução civil vertical ainda é significativo. Em 2001, para uma área construída de cerca de 6 milhões de metros quadrados na cidade de São Paulo, foram consumidos aproximadamente 216 mil metros cúbicos de madeira serrada (equivalente a 0,6 milhão de metros cúbicos em tora) originária da Amazônia. Desse total, 80% eram madeiras descartáveis (fôrmas e andaimes) e apenas 20% produtos beneficiados (pisos, esquadrias e móveis). O setor de construção civil vertical está estruturado em uma complexa rede. As incorporadoras e construtoras estão articula- das com uma série de empresas prestadoras de serviços e forne- cedores de matérias-primas. No caso específico da madeira, es- ses fornecedores podem estar organizados em depósitos, indús- trias de fôrmas de madeira, indústrias de madeira serrada e pro- dutos beneficiados. As incorporadoras e construtoras em operação no Municí- pio de São Paulo revelaram insatisfação com a qualidade da ma- deira adquirida na Amazônia. Por exemplo, as peças beneficia- das (pisos, esquadrias, móveis etc.) apresentavam vários proble- mas, tais como secagem inadequada e dimensões imprecisas. Além disso, os fornecedores de madeira amazônica freqüente- mente não cumpriam os prazos de entrega, o que acarretava pre- juízos severos no cronograma das construtoras. Os entrevistados revelaram que haverá uma redução no uso de madeira descartável nas construções verticais. No entanto, a madeira amazônica parece ter assegurado um mercado para pro- dutos mais acabados. Isso ocorre porque a madeira tropical tem Acertando o Alvo 2 15 grande apelo estético e está disponível em uma grande variedade de cores e texturas. A maioria (68%) das grandes construtoras entrevistadas ti- nha interesse em certificação, enquanto apenas 32% não demons- traram interesse em madeira certificada. As principais razões para o uso de madeira certificada foram: marketing ecológico (49%), pressão ambiental (17%), garantia de fornecimento (17%) e me- lhor qualidade do produto (17%) (Figura 7). Figura 7. Motivação para a compra de produtos de madeira certificada na construção civil vertical no Estado de São Paulo, 2001. As incorporadoras possuem poucas informações sobre o consumo de madeira, pois o seu envolvimento com os aspectos técnicos da obra é reduzido. Porém, essas empresas são respon- sáveis pela definição arquitetônica da obra e, portanto, pelo uso em larga escala dos materiais, inclusive madeira. Assim, as in- corporadoras são alvo preferencial de qualquer campanha para o consumo de madeira certificada no mercado doméstico brasi- leiro. 17% 17% 17% 49% Marketing ecológico Pressão ambiental Garantia de fornecimento Qualidade do produto 60% 40% 20% 0% Acertando o Alvo 2 19 reiras certificadas estão obtendo melhores contratos de venda tanto para o mercado externo (Europa e Estados Unidos) como para o mercado interno (São Paulo). Mercado de madeira. Ao contrário da percepção comum, a grande maioria (86%) da madeira amazônica é consumida no Brasil, enquanto apenas 14% são exportados. No Brasil, o desta- que é o Estado de São Paulo, com cerca de 20% de todo o consu- mo nacional de madeira amazônica (Smeraldi & Veríssimo 1999). Apesar da grande importância da madeira amazônica no mercado nacional, as informações sobre esse mercado são extre- mamente escassas. De fato, não há informações quantitativas sobre consumo de madeira amazônica e os estudos qualitativos são raros. Os estudos de mercado disponíveis na literatura são meramente especulativos e baseados em dados de produção ma- deireira inconsistentes. Para entender o uso de madeira amazônica no mercado nacional é essencial responder as seguintes questões: quanto é o consumo de madeira amazônica? Quais são os segmentos de uso de madeira amazônica? Como está estruturada a comercialização de madeira amazônica? Quais são as tendências para o uso de madeira tropical versus madeira de plantações e outros materi- ais? Quais são os nichos de mercado interessados em consumir madeira certificada da Amazônia? Perguntas como essas orienta- ram o Projeto Acertando o Alvo 2. Objetivos. Realizamos um estudo de caso para o Estado de São Paulo, o qual responde por 20% do consumo nacional de madeira amazônica, para caracterizar o consumo de madei- ra amazônica no mercado interno e avaliar o potencial de mer- cado para madeira certificada. Essa expressiva participação no mercado de madeira decorre da importância do Estado na eco- nomia nacional, pois São Paulo contribui com 37% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e abriga 22% da população nacio- nal (IBGE 2000). 20 Contexto Acertando o Alvo 2. O livro está organizado em três se- ções. Em todos os capítulos, quantificamos o volume de madeira amazônica consumido, as principais espécies madeireiras comercializadas, os principais produtos, as perspectivas de uso futuro de madeira amazônica e o interesse potencial em certificação florestal. Na primeira seção, caracterizamos os depósitos de reven- da de madeira distribuídos em 114 municípios do Estado de São Paulo. Em seguida, analisamos as fábricas de móveis, pisos e esquadrias localizadas nos principais pólos industriais madeirei- ros do Estado. Nessa seção também caracterizamos o setor de casas pré-fabricadas de madeira, o qual é extremamente depen- dente da madeira amazônica. Por último, descrevemos o setor de construção civil de edifícios (referido no restante deste livro como construção vertical) na cidade de São Paulo, o qual, além de envolver incorporadoras e construtoras, é constituído por uma ampla rede de empresas prestadoras de serviços. Acertando o Alvo 2 21 MÉTODOS Área de estudo. O Estado de São Paulo (37 milhões de ha- bitantes) possui uma área de 248 mil km2. O Estado tem 645 municípios divididos em 15 mesorregiões (Figura 8). De acordo com o IBGE (2000), 49 municípios têm mais de 100 mil habitan- tes, o que representa 26% da população total do Estado de São Paulo. A região metropolitana de São Paulo, referida neste traba- lho como Grande São Paulo, possui 31 municípios e abriga 47% da população do Estado. Figura 8. Mesorregiões do Estado de São Paulo, 2001. Entrevistamos 861 estabelecimentos que comercializavam madeira amazônica, localizados em 114 municípios representa- tivos do Estado (Figura 9), para caracterizar os depósitos de ma- deira. Esse amplo levantamento permitiu estabelecer uma alta cor- relação (r2 = 0,89) entre população e consumo de madeira. Des- sa forma, estimamos o volume total de madeira comercializado nos depósitos do Estado de São Paulo através de um índice de consumo per capita de madeira. Acertando o Alvo 2 25 DEPÓSITOS DE MADEIRA Há cerca de 2.000 depósitos de madeira no Estado de São Paulo, os quais comercializaram no varejo, em 2001, cerca de 1,5 milhão de metros cúbicos de madeira serrada, ou 69% da madeira amazônica utilizada no Estado. Expresso em madeira em tora, esses depósitos consumiram o equivalente a 4,2 milhões de metros cúbicos de madeira amazônica3 . Caracterização dos Depósitos Os depósitos são estabelecimentos comerciais que vendem madeira serrada no varejo. Os principais produtos vendidos por esses depósitos são madeira serrada e, em menor proporção, pro- dutos acabados como pisos, forros, janelas, portas, batentes e rodapés. Em geral, os depósitos compram a madeira diretamente das serrarias localizadas na Amazônia. Em alguns casos, porém, são os intermediários que executam essa tarefa. Os depósitos, por sua vez, revendem a madeira para o consumidor final (em geral, indivíduos realizando reforma ou construção da casa própria). Além disso, os depósitos também fornecem madeira para peque- nas construtoras, indústrias de móveis, marceneiros e pequenas obras públicas (Figura 11). Em 2001, a maioria (44%) dos clientes dos depósitos era consumidor final, por exemplo: proprietários das obras, pedrei- ros e mestres de obras, arquitetos, engenheiros etc. Em seguida, estavam as construtoras (23%), as indústrias em geral (18%), outros depósitos (9%) e obras públicas (6%). 3 Considerando-se rendimento de 36% no processamento de toras, para o mercado doméstico, ou seja, fator de conversão 2,8 m³ tora: 1 m³ serrado (Gerwing et al. 2000). 26 Depósitos Consumo de Madeira Amazônica nos Depósitos Os 2.000 depósitos no Estado de São Paulo comercializa- ram aproximadamente 1,5 milhão de metros cúbicos de madeira serrada em 2001. Expresso em madeira em tora, isso representou 4,2 milhões de metros cúbicos (Tabela 2). Como era esperado, houve uma forte correlação estatística entre população e volume de madeira comercializado pelos depósitos (r2 = 0,89). Dessa forma, a maior parte da madeira foi comercializada por depósi- tos localizados nas mesorregiões mais populosas como a Gran- de São Paulo, Campinas, Vale do Paraíba e Ribeirão Preto, as quais representaram 78% da população do Estado. A estimativa do volume de madeira comercializado pelos depósitos foi feita a partir do consumo anual per capita, o qual sofreu variação de acordo com a população do município. Por exemplo, os municípios com população entre 100 mil e 1 mi- lhão de habitantes tiveram o maior consumo per capita (0,0535 Figura 11. Comercialização de madeira nos depósitos no Estado de São Paulo, 2001. * Intermediários são profissionais autônomos que realizam compra e venda de madeira amazônica serrada. Intermediários * Serrarias na Amazônia Depósitos Indústrias ConstrutorasConsumidor final Outros depósitos Obras públicas Acertando o Alvo 2 29 Produtos Volume de madeira % serrada (m3/ano) Vigamento 761.430 5 1 Tábuas 462.830 3 1 Pranchas 126.905 8,5 Forros 97.045 6,5 Assoalhos 19.409 1,3 Outros* 25.381 1,7 Total 1.493.000 100 Tabela 4. Principais produtos comercializados pelos depósitos no Estado de São Paulo, 2001. * Incluem-se portas, esquadrias, guarnições e rodapés. Tipos de Madeiras Comercializados Há um amplo espectro de espécies amazônicas (mais de 200) comercializadas pelos depósitos no Estado de São Paulo. Entretanto, as vendas são feitas por tipo de madeira e não por espécie botânica. Por exemplo, a madeira denominada cedrinho corresponde a mais de 20 espécies botânicas. Em 2001, os depósitos comercializaram aproximadamente 75 tipos de madeira. Os tipos de madeira mais utilizados para vigamento foram cupiúba e garapeira (32%); enquanto cedrinho e cambará foram os tipos preferidos para as tábuas e pranchas (27%). Para os forros das casas, cedrinho foi o tipo preferido; enquanto jatobá e ipê foram os mais usados para os assoalhos (Tabela 5). Observe que 51% da madeira vendida em depósitos correspondeu a apenas três tipos (cupiúba, cedrinho e garapeira). Já o jatobá, que é a principal madeira amazônica exportada, re- presentou somente 4% do volume total comercializado. 30 Depósitos Preço da Madeira Os preços dos principais produtos comercializados pelos depósitos no Estado de São Paulo em 2001 variaram de acordo com o tipo de madeira utilizado e o nível de industrialização. Por exemplo, o preço de 1 metro cúbico de cedrinho foi em mé- dia R$ 925 para forro, enquanto na forma de tábuas valeu apenas R$ 415. Dessa maneira, uma mesma espécie podia ter diferentes preços, de acordo com o nível de acabamento do produto. Os assoalhos de jatobá e ipê, por exemplo, tiveram um preço médio de R$ 1.600 por metro cúbico. Por outro lado, as tábuas de cedroarana e cambará alcançaram um preço bem inferior, ape- nas R$ 390 por metro cúbico. Na tabela 6, resumimos os preços médios de venda dos principais produtos e tipos de madeira. Tabela 5. Principais tipos de madeira comercializados pelos depósitos no Estado de São Paulo, 2001. Tipos de madeira % de consumo Cupiúba 21 Cedrinho 19 Garapeira 11 Cambará 8 Jatobá 4 Cedro mangue 3 Castanheira 2 Guajará 2 Ipê 1 Garapa 1 Angelim vermelho 1 Maçaranduba 1 Peroba rosa 1 Cedro rosa 1 Cedro 1 Outros (52 tipos) 23 Total 100 Acertando o Alvo 2 31 Origem da Madeira Amazônica O Estado de Mato Grosso foi o principal fornecedor de madeira para os depósitos do Estado de São Paulo, com cerca de 60% do volume comercializado. Em seguida, estava o Pará, com aproximadamente 22%, enquanto a madeira oriunda de Rondônia representou 15%. O restante (3%) ficou distribuído entre Ama- zonas, Acre, Maranhão e Amapá (Tabela 7). A figura 12 ilustra o fluxo de distribuição de madeira amazônica. Custo médio de transporte de madeira. Em 2001, o custo de transporte representou aproximadamente 30% do valor final da madeira entregue nos depósitos de São Paulo. Em geral, o valor de transporte varia de acordo com três fatores: distância, Tabela 6. Preço dos principais produtos e tipos de madeira no Estado de São Paulo, 2001. Produtos Tipos de madeira Preço médio (R$/m3) Assoalho Jatobá 1.600 Ipê 1.625 Forro Cedro mangue 860 Cedrinho 925 Jatobá 1.715 Prancha Cedrinho 520 Cerejeira 780 Cedro 1.175 Tábua Cedroarana 385 Cambará 390 Cedrinho 415 Vigamento Cambará 410 Cupiúba 415 Garapeira 460 34 Depósitos Tendências para o Uso de Madeira Amazônica Os donos de depósitos revelaram preocupação em relação ao suprimento futuro de madeira amazônica. Eles acreditam que as pressões ambientais, a escassez de manejo florestal e o cará- ter ilegal associado à madeira amazônica podem criar sérios obs- táculos ao seu comércio. Para cerca de 64% dos entrevistados, isso pode resultar em um aumento na participação de madeira de reflorestamento na composição dos produtos. Apenas 36% dos entrevistados indicaram um crescimento na participação de madeira amazônica nas vendas dos depósitos. Quando perguntamos sobre o uso de madeira versus ou- tros materiais (forros de PVC, esquadrias de alumínio, pisos de cerâmica etc.), a maioria respondeu acreditar que a madeira será parcialmente substituída por esses produtos. Os motivos citados Figura 13. Fornecedores de madeira amazônica para os depósitos no Estado de São Paulo, 2001. experiência comercial estabelecida. Por outro lado, aproximada- mente 32% dos depósitos optaram em comprar madeira através de intermediários (atravessadores). Apenas 9% dos depósitos pos- suíam serrarias próprias na Amazônia (Figura 13). 80% 60% 40% 20% 0% 59% 32% 9% Serraria de terceiros na Amazônia D e p ó s it o s Serraria própria na Amazônia Intermediários Acertando o Alvo 2 35 para essa substituição parcial são: menor preço desses materiais, rapidez na entrega, dimensões específicas etc. Por outro lado, 43% dos empresários revelaram que a madeira deve permanecer no mercado em função da sua durabilidade, da sua tradição e de seu maior apelo estético. Certificação Florestal Em 2001, o conhecimento sobre certificação florestal nos depósitos era escasso. A grande maioria dos entrevistados (80%) nunca havia ouvido falar sobre o tema e o confundia com selos e carimbos emitidos pelo Ibama. Entretanto, após breve explana- ção sobre o conceito, a maioria (60%) dos entrevistados revelou interesse em conhecer mais sobre certificação e, eventualmente, testar a venda de madeira certificada em seus estabelecimentos, se isso não acarretar um sobrepreço no valor de aquisição da madeira. Por outro lado, cerca de 40% afirmaram não ter ne- nhum interesse em madeira certificada. O interesse dos depósitos em certificação depende do seu porte (Tabela 9). Quanto maior é o volume comercializado pelo depósito maior é a disposição para obter madeira certificada. Por Tabela 9. Interesse dos depósitos em certificação, de acordo com o volume comercializado, no Estado de São Paulo, 2001. Porte depósitos Volume Interesse em (m3 serrado (%) comercializado certificação comercializado/ano) (%) (%) Micro (< 300) 2 4 3 5 2 Pequeno (> 300 e < 1.000) 4 4 2 4 5 6 Médio (> 1.000 e < 5.000) 3 1 5 7 6 7 Grande (> 5.000) 2 1 6 8 3 Total 100 100 36 Depósitos exemplo, cerca de 52% dos microdepósitos (volume comerci- alizado inferior a 300 metros cúbicos serrados por ano) revela- ram interesse em certificação; enquanto nos grandes depósitos (mais de 5.000 metros cúbicos de madeira comercializados ao ano) o interesse em madeira certificada foi bem maior (83%). Acertando o Alvo 2 39 Indústria de Pisos e Esquadrias de Madeira A grande maioria (99%) da madeira utilizada nas indústri- as de pisos e esquadrias provém da Amazônia. Essas indústrias, concentradas principalmente no pólo de Tietê, consumiram cer- ca de 52 mil metros cúbicos de madeira serrada da Amazônia, o que representou aproximadamente 147 mil metros cúbicos de madeira em tora. As principais espécies madeireiras utilizadas eram ipê e jatobá. Não existem pólos de pisos e esquadrias no Estado de São Paulo e na região Sul do Brasil. Há somente algumas indústrias dispersas e isoladas nessas regiões. Tabela 10. Tipo de madeira utilizado pelas indústrias de produtos de madeira no Estado de São Paulo, 2001. Municípios Matéria-prima % Tietê Madeira amazônica 99 Lâmina 0,96 Compensado 0,04 Itatiba Madeira amazônica 64 Compensado 26 MDF 8 Lâmina 2 Votuporanga Mirassol Madeira amazônica 36 Aglomerado 34 Madeira de reflorestamento 17 MDF 6 Compensado 4 Chapa dura 2 Lâmina 0,5 Madeirit 0,5 38 indústrias amostradas (22 municípios) Madeira amazônica 64 Madeira de reflorestamento 14 MDF 13 Compensado 5 Lâmina 4 40 Indústrias Indústrias de Casas Pré-Fabricadas de Madeira As empresas que constroem casas pré-fabricadas de ma- deira representam um segmento especial em São Paulo. Em 2001, havia 15 empresas cujo consumo total em madeira serrada foi cerca de 60 mil metros cúbicos. Expresso em madeira em tora, o volume total consumido por essas empresas foi 168 mil metros cúbicos por ano. Desse total, a grande maioria (98%) era prove- niente da Amazônia. Portanto, para efeito de cálculo total de ma- deira amazônica consumida, esse segmento contribuiu com apro- ximadamente 165 mil metros cúbicos de madeira em tora. Consumo de Madeira Amazônica Em 2001, as indústrias de produtos de madeira no Estado de São Paulo consumiram aproximadamente 924 mil metros cú- bicos, dos quais 457 mil metros cúbicos (49%) eram madeira serrada de origem amazônica. Considerando-se um rendimento médio de 36% no desdobro da madeira em tora para a madeira serrada, ou seja, 2,8 metros cúbicos em tora para 1 metro cúbico serrado (Gerwing et al. 2000), a quantidade de madeira em tora necessária foi cerca de 1,3 milhão de metros cúbicos (Tabela 11). Tabela 11. Consumo anual de madeira amazônica nas indústrias de produtos de madeira no Estado de São Paulo, 2001. * Volume estimado a partir do levantamento feito em 22 municípios do Estado de São Paulo. Pólo Tipo de Madeira Madeira indústria serrada (m3) em tora (m3) Mirassol e Votuporanga Móveis populares 231.840 649.152 Tietê Pisos e esquadrias 52.470 146.916 Itatiba Móveis finos 5.880 16.464 São Paulo Casas de madeira 58.800 164.640 Restante do Estado* Diversos 107.520 301.056 TOTAL 456.510 1.278.228 Acertando o Alvo 2 41 Figura 14. Fornecedores de madeira amazônica em relação ao número de indústrias. 100% 80% 60% 40% 20% 0% In d ú s tr ia s 79% 13% 8% Representantes Serrarias de terceiros na Amazônia Serrarias próprias na Amazônia Aquisição de Madeira Amazônica A aquisição de matéria-prima (madeira serrada) pelas in- dústrias de produtos de madeira era feita em sua grande maioria (79%) por intermediários, enquanto apenas 13% das compras eram realizadas diretamente nas serrarias da Amazônia. Em 2001, apenas 8% das indústrias possuíam serrarias na Amazônia, as quais eram responsáveis pela maioria do seu suprimento de ma- deira serrada (Figura 14). Evolução no Uso de Madeira Amazônica Nos últimos cinco anos, a maioria (52%) das indústrias de produtos de madeira manteve constante a proporção de consu- mo de madeira amazônica, enquanto 36% reduziram o uso des- sa madeira. Nesse período, apenas 12% aumentaram o consumo de madeira originária da Amazônia (Figura 15). 44 Indústrias zônica. Essa percepção era mais comum nas indústrias de mó- veis populares. Para esses empresários, a madeira de refloresta- mento (em especial, pinus) possui menor relação custo/benefício quando comparada à madeira amazônica. Por outro lado, para 30% das empresas, deverá haver um aumento da participação de madeira amazônica na composição dos produtos. Os motivos para essa preferência derivam das van- tagens da madeira amazônica como cor, beleza, durabilidade e resistência mecânica (Figura 17). Figura 17. Tendências para o uso de madeira amazônica e de reflorestamento na indústria de produtos de madeira, 2001. 30% 31% 39% Madeira amazônica Madeira de reflorestamento Madeira amazônica e de reflorestamento 40% 20% 0% In d ú s tr ia s Finalmente, para 39% das indústrias entrevistadas, tanto a madeira amazônica como a matéria-prima oriunda de refloresta- mento devem continuar sendo utilizadas nas mesmas proporções atuais. Os entrevistados revelaram que uma mudança na prefe- rência ocorreria apenas em função da expansão ou retração dos mercados. Por exemplo, o mercado interno prefere madeira oriun- da da Amazônia, enquanto o mercado externo tem optado por madeira de reflorestamento, principalmente pinus. Acertando o Alvo 2 45 Certificação Florestal Durante a nossa pesquisa, a maioria (58%) das indústrias de produtos de madeira revelou interesse em adquirir madeira certifi- cada, enquanto 42% não indicaram preferência por produtos cer- tificados. A preferência foi ainda maior entre os segmentos de pi- sos, esquadrias e móveis de luxo. Motivos para certificação. As empresas revelaram uma va- riedade de razões para preferir madeira certificada. Trinta e três por cento dos empresários afirmaram que a certificação pode ga- rantir um fornecimento duradouro de madeira, enquanto 28% justificaram o interesse em certificação pela garantia de legalida- de da origem da madeira. A mesma proporção (28%) dos empre- sários acreditava que a certificação pode melhorar a imagem ambiental da empresa (marketing ecológico), o que resultaria em aumento de vendas e ou conquista de novos mercados. De ma- neira surpreendente, 6% dos entrevistados indicaram que já há pressão de clientes no Brasil para o uso de madeira certificada. Finalmente, apenas 5% apresentaram a melhoria na qualidade da madeira (secagem, bitola, estabilidade dimensional, identifi- cação botânica) como fator principal na opção por madeira certi- ficada (Figura 18). Obstáculos à certificação. Segundo a maioria (53%) dos em- presários, a falta de informação era o principal obstáculo para um maior interesse em adquirir madeira certificada. Por exemplo, a maioria dos empresários acreditava que o custo para a certificação da cadeia de custódia de uma indústria era maior que R$ 100 mil. Entretanto, na maioria dos casos, o valor não atingia R$ 10 mil. Vinte e sete por cento dos empresários acreditavam que a madeira certificada era mais cara e, portanto, esse poderia ser o fator limitante para a sua comercialização. Apenas 19% acredita- vam que a oferta limitada seria um fator inibidor do uso de madei- ra certificada. Um por cento dos entrevistados afirmaram não ha- ver obstáculos à certificação (Figura 19). 46 Indústrias Figura 19. Obstáculos para o uso de madeira certificada nas indústrias de produtos de madeira no Estado de São Paulo, 2001. Figura 18. Motivos para preferir madeira certificada nas indústrias de produtos de madeira no Estado de São Paulo, 2001. 60% 40% 20% 0% 53% 27% 19% 1% Falta de informação Preço elevado Oferta limitada Não há obstáculos In d ú s tr ia s 33% 28%28% 6% 5% Garantia de fornecimento Legalidade Marketing ecológico Pressão dos clientes Qualidade 40% 20% 0% In d ú s tr ia s Acertando o Alvo 2 49 trutora determina os fornecedores de madeira (indústrias e depó- sitos), bem como os serviços especializados (marcenaria, monta- gem de piso, portas etc.). Além disso, a construtora pode realizar diretamente a compra de fôrmas de madeira e tábuas para con- fecção de andaimes na obra. Prestadoras de serviços são empresas contratadas pelas construtoras para executar etapas específicas da obra. Por exem- plo, as empresas de escoramento e fôrmas de madeira são res- ponsáveis pela montagem e entrega dessas peças. Uso de Madeira Amazônica na Construção Civil Vertical No Município de São Paulo, como no restante do Brasil, ainda é expressivo o consumo de madeira amazônica na cons- trução civil vertical. Em nosso estudo, observamos que no Muni- cípio de São Paulo a grande maioria (80%) da madeira utilizada nas etapas de fundação e estruturação dos prédios acabava sen- do descartada, enquanto apenas 20% eram utilizados nas etapas de acabamento (portas, pisos, armários, painéis de madeira etc.). Na etapa de fundação e estruturação da obra, utiliza-se madeira para a marcação, nivelamento do terreno e confecção de fôrmas. Em seguida, a madeira é usada para fixar as colunas e as paredes levantadas, bem como no preparo dos andaimes. Além disso, as fôrmas de madeira são essenciais na construção das lajes. Em 2001, o uso de madeira amazônica estava em declínio na etapa de fundação e estruturação da obra. Os principais subs- titutos da madeira tropical são as chapas de madeira resinadas (possuem maior durabilidade) e as peças de ferro, alumínio e plástico PVC, as quais podem ser reutilizadas inúmeras vezes. Havia duas razões para a redução no uso de madeira ama- zônica na construção vertical. Primeiro, a madeira tropical gera maior quantidade de entulho, o que representa um custo impor- tante para as construções na cidade de São Paulo. Em seguida, os 50 Construção Vertical produtos substitutos (madeira resinada, ferro etc.) possuem mai- or padronização e precisão nas suas dimensões. Madeira no acabamento. O uso de madeira no acabamen- to dos prédios depende do estilo arquitetônico e do valor do imó- vel. Em geral, os prédios destinados para as classes média e alta utilizavam maior proporção de madeira amazônica (ipê, mogno, cedro, freijó etc.) na confecção de móveis, pisos, forros e esquadrias. Por outro lado, nos prédios populares a preferência era aglomerado e chapa de compensado, metais, plásticos PVC, entre outros. Consumo de Madeira na Construção Vertical Em 2001, o setor de construção civil vertical foi responsá- vel por 6 milhões de metros quadrados construídos no Municí- pio de São Paulo. Um grupo relativamente pequeno de incorpo- radoras foi responsável por boa parte dessa área construída. De fato, as oito incorporadoras entrevistadas responderam por 25% (1,5 milhão de metros quadrados) das edificações do Município de São Paulo naquele ano. “Em construções de baixa tecnologia há um uso abusivo de tábuas, pontaletes, pranchas e sarrafos. Por outro lado, as cons- trutoras maiores usam chapas resinadas/plastificadas que são de alta durabilidade - podendo ser reutilizadas até 20 vezes. As empresas terceirizadas estão utilizando o conceito de es- truturas pré-fabricadas, um sistema importado dos Estados Unidos em 1995-1996. Esse sistema apresenta um bom cus- to/benefício em relação à madeira amazônica descartável. Por isso, a tendência é de que as chapas resinadas predominem nas obras em São Paulo.” (Inpar, comunicação pessoal). Acertando o Alvo 2 51 De acordo com as empresas entrevistadas, para cada 100 metros quadrados de área construída de prédios verticais são necessários, em média, 6 metros cúbicos de madeira. Em cons- truções nas quais todos os andaimes e fôrmas são de madeira, esse volume pode ser ainda maior – até 10 metros cúbicos por 100 metros quadrados edificados. Entretanto, considerando-se a situação típica da construção paulistana, cujo uso de madeira nas etapas de fundação e estruturação diminuiu expressivamente na última década, o valor médio de 6 metros cúbicos foi mais representativo. O volume total de madeira consumido em 2001 foi estima- do em 360 mil metros cúbicos serrados, ou cerca de 1 milhão de metros cúbicos em tora. A madeira descartável (usada nas fôr- mas e escoramento da obra) representou cerca de 80% de toda a madeira consumida, enquanto as peças de acabamento (pisos, forros, móveis e esquadrias) somaram 20% (Figura 21). Figura 21. Tipos de madeira consumidos pela construção vertical em São Paulo, 2001. 20% 80% 80% 60% 40% 20% 0% Acabamento Descartável 54 Construção Vertical Tendências no Uso da Madeira Amazônica Os entrevistados revelaram que está havendo redução na utilização de madeira descartável nas construções verticais. Isso ocorre em função da relação custo/benefício entre a madeira amazônica e os materiais substitutos (principalmente ferro e cha- pa resinada de madeira). Os principais benefícios desses materi- ais substitutos são a possibilidade de reutilização e a redução significativa de entulho, o que representa uma grande vantagem, considerando-se o elevado custo para a remoção desses resíduos na cidade de São Paulo. A madeira amazônica, porém, parece ter assegurado um mercado para produtos mais acabados. Para os entrevistados, a confecção de móveis, pisos e esquadrias a partir da madeira amazônica possuía diversas vantagens. Primeiro, a madeira tro- pical tem grande apelo estético e está disponível em uma grande variedade de cores e texturas. Segundo, a madeira tem boa resis- tência mecânica e é um bom isolante térmico e elétrico. Por últi- mo, a madeira é um produto renovável e com boa relação custo/ benefício se comparada a outros materiais. Interesse em Certificação Florestal A maioria (68%) das grandes construtoras entrevistadas ti- nha interesse em certificação, enquanto apenas 32% não demons- traram interesse (Figura 23). As empresas com conhecimento sobre certificação revelaram interesse em adquirir madeira certi- ficada. Por outro lado, o conhecimento e o interesse em certificação entre as construtoras médias foram bem menores. Motivos para certificação. A figura 24 revela os motivos das empresas para adquirir madeira certificada. A maioria (49%) das construtoras indicou o marketing ecológico como a principal razão. Os outros motivos citados foram garantia de fornecimen- to, pressão ambiental e melhor qualidade do produto. Acertando o Alvo 2 55 Figura 23. Interesse das grandes construtoras em certificação florestal. Figura 24. Motivação para compra de produtos de madeira certificada. 49% 17% 17% 17% Marketing ecológico Pressão ambiental Garantia de fornecimento Qualidade do produto 80% 40% 0% 68% 32% Sim Não Acertando o Alvo 2 59 Construção As incorporadoras têm poucas informações sobre o consu- mo de madeira, pois o seu envolvimento com os aspectos técni- cos da obra são reduzidos. Porém, essas empresas são responsá- veis pela definição arquitetônica da obra e, portanto, pelo uso em larga escala dos materiais, inclusive madeira. Por exemplo, se as incorporadoras especificarem o uso de madeira certificada na obra, as construtoras e as empresas prestadoras de serviços terão de executar esse pedido. Portanto, as incorporadoras são alvo preferencial de qualquer campanha para o consumo de ma- deira certificada no mercado doméstico brasileiro. Observamos que as grandes construtoras detinham conhe- cimento sobre certificação e por isso possuíam maior interesse em adquirir produtos de madeira certificada, mesmo havendo um pequeno acréscimo no preço. Já as construtoras menores acre- ditavam que qualquer elevação no preço final da obra acarretaria prejuízos e, portanto, só teriam interesse em consumir madeira certificada se isso não significasse um sobrepreço. Acertando o Alvo 2 61 AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer à Embaixada do Reino dos Paí- ses Baixos, em especial, a Robert Sieben, e à Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ), especialmente a Dietrich Burger, o apoio financeiro para realização e publicação deste projeto. O Imazon agradece o apoio complementar da Fundação Willam & Flora Hewlett (EUA) e do Fundo Mundial para a Natu- reza (WWF). Para a execução deste projeto o Imaflora contou com o apoio institucional da Fundação Ford e Novib. Agradecemos às centenas de empresários dos diversos seg- mentos que utilizam madeira amazônica (depósitos de madeira, indústrias de produtos de madeira, construtoras e incorporado- ras de imóveis na Grande São Paulo) as informações valiosas para a realização deste estudo. Em especial, gostaríamos de agradecer à Associação Indus- trial da Região de Votuporanga (Airvo), a Paulo Valente (Sindica- to do Comércio Atacadista de Madeira do Estado de São Paulo – Sindimasp), Ana Maria Castelo (Sindicato das Indústrias de Cons- trução Civil de São Paulo), Fábio de Albuquerque (Ecolog), Antô- nio Carlos Uliana (Madeireira Uliana), Luiz Ciotto, Jorge Batlouni Neto, Eduardo Zaidan, Antônio Sanches, André Sanches, Hélio Olga Júnior (ITA), Geraldo Zanneti e Amantino de Freitas do Ins- tituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) as ricas informações re- passadas sobre o consumo de madeira amazônica em São Paulo. Finalmente, agradecemos às construtoras e incorporadoras Gafisa S.A., Zaidan Ltda, Tecnum Engenharia, Sinco, Inpar, MPD e Alphacon Engenharia, bem como às empresas de casas pré- fabricadas, entre as quais Casema, Vimadem, Condor, Precasa, Stillus e Boa Vista. 64 Bibliografia Acertando o Alvo 2 65 ANEXO Métodos - Depósitos de Madeira O levantamento de campo foi realizado entre janeiro e agos- to de 2001 com uma equipe de 11 profissionais que entrevista- ram 850 depósitos de madeira em 114 municípios do Estado de São Paulo (Tabela 1). Tabela 1. Total de municípios objeto do levantamento na primeira fase. O levantamento foi realizado através de consulta à lista te- lefônica sobre todos os estabelecimentos relacionados à venda de madeira. As seguintes palavras-chave orientaram a consulta para cada cidade: madeiras, assoalhos, compensados e laminados, esquadrias de madeira, madeiras-artefato, madeiras- representantes, tacos e pisos. Em seguida, os técnicos efetuaram telefonemas para cada estabelecimento levantado a fim de con- firmar se comercializavam madeira amazônica. No total, foram realizados mais de 5 mil telefonemas. A partir dessa confirma- ção, elaboramos listas que eram passadas aos pesquisadores para visita de campo e aplicação do questionário. Incluímos no levantamento somente estabelecimentos que vendiam, ainda que parcialmente, madeira proveniente da Amazô- Classes de população Número de % dos municípios municípios do Estado Menos de 10 mil habitantes 16 5,5 De 10 mil a 20 mil habitantes 14 12 De 20 mil a 50 mil habitantes 20 17 De 50 mil a 100 mil habitantes 9 17 Acima de 100 mil habitantes 4 6,5 Total 63 66 Anexo nia. Excluímos os estabelecimentos que comercializavam apenas madeira de reflorestamento e compensado. Elaboração e teste do questionário Elaboramos um questionário padrão para ser aplicado aos depósitos de madeira. Esse questionário incluiu: (i) dados cadastrais; (ii) tipo de depósito; (iii) consumo de madeira amazônica (tipo de madeira, produto e volume); (iv) preço de compra da madeira; (v) origem da madeira amazônica (municípios e Estados); (vi) custo de transporte da Amazônia para São Paulo; (vii) principais produtos vendidos, com seus respectivos preços e espécies; (viii) destino da madeira comercializada (municípios e Estados); (ix) caracteriza- ção dos consumidores no mercado interno; (x) conhecimento e interesse sobre certificação florestal; e (xi) tendências para o uso de madeira amazônica versus madeira de reflorestamento e outros materiais. Realizamos visitas aos depósitos da cidade de Piracicaba para testar o questionário. Com base nos dados obtidos, alteramos o formato do questionário (por exemplo, inclusão de tabelas sobre tipos de madeira e produtos comercializados). Esse teste também permitiu dimensionar o tamanho das equipes e o tempo necessá- rio para realizar o estudo. 1.a Fase: Regiões de Piracicaba, Sorocaba, Botucatu e Campinas Dado que seria oneroso realizar um censo em todos os mu- nicípios do Estado de São Paulo (645 municípios), procuramos determinar um critério de seleção. Como não havia informações secundárias sobre depósitos, amostramos nessa primeira fase mu- nicípios de diversos tamanhos, de forma que pudéssemos enten- der a relação entre o volume de madeira comercializado pelos depósitos e a população do município (IBGE 2000). O objetivo Acertando o Alvo 2 69 estimar o volume total comercializado pelos depósitos do Estado de São Paulo. Os dados mostraram uma alta correlação entre volume consumido e população, com um R2 = 89%. Dessa for- ma, extrapolamos com total segurança os dados de volume de madeira consumido com base na população de cada município do Estado. Métodos – Indústrias de Produtos de Madeira Entrevistamos 66 empresas nos pólos de Votuporanga e Mirassol (móveis populares), Itatiba (móveis finos) e Tietê (pisos e esquadrias) para caracterizar o uso de madeira amazônica nas indústrias de produtos de madeira no Estado de São Paulo. Além disso, entrevistamos 38 indústrias dispersas em 22 municípios, onde foi feito o levantamento dos depósitos de madeira (Figura 3). No pólo de São Bernardo do Campo, realizamos uma carac- terização via telefone em 20 indústrias, coletando informações sobre tipo de indústrias predominantes e matéria-prima utiliza- da, com enfoque em madeira amazônica. Incluímos no levantamento apenas as indústrias que utili- zavam madeira proveniente da Amazônia (parcial ou integralmen- te). Empresas que trabalhavam somente com madeira oriunda de florestas plantadas, MDF e painéis de aglomerados não foram levantadas. As indústrias de móveis para escritório também não foram amostradas, pois consomem, preferencialmente, painéis de madeira aglomerada e MDF. Além disso, decidimos excluir as marcenarias e micro e pequenas indústrias (menos de 15 fun- cionários) deste estudo. Isso ocorreu após um levantamento pi- loto no qual foi constatado que essas empresas se abasteciam através dos depósitos de madeira. Na coleta de informações, utilizamos um questionário es- pecífico para as indústrias de produtos de madeira, o qual con- tinha as seguintes questões: (i) dados cadastrais; (ii) consumo de madeira; (iii) origem da madeira; (iv) principais produtos fabrica- 70 Anexo dos; (v) mercado; (vi) tendências no uso da madeira nativa versus madeira de reflorestamento e MDF; e (vii) conhecimento e inte- resse em produtos florestais certificados. Métodos Construção Vertical Escolhemos o Município de São Paulo (10 milhões de ha- bitantes) para analisar o uso de madeira amazônica na constru- ção civil vertical porque ele abriga a maior parte das edificações de grande porte do Estado. O setor de construção vertical é formado por uma comple- xa rede de empresas, portanto foi necessário selecionar os gru- pos-alvos para este estudo. Optamos por concentrar as nossas investigações nas incorporadoras e grandes construtoras por se- rem responsáveis pela concepção do projeto arquitetônico e co- ordenação das edificações. Aplicamos um questionário padrão em oito construtoras e incorporadoras, as quais foram responsá- veis por 25% da área construída no Município de São Paulo em 2000. Além disso, realizamos conversas dirigidas (sem questio- nário) com 15 empresas prestadoras de serviço e líderes das as- sociações de classe empresarial. Incorporadoras e construtoras. Elaboramos um questio- nário estruturado nos seguintes tópicos: (i) dados cadastrais (en- dereço, entrevistado, telefone etc.); (ii) tipo de empresa (incorporadora, construtora); (iii) porte (área construída por ano); (iv) consumo de madeira, incluindo-se tipo (nativa ou de reflo- restamento) e principais espécies; (v) fornecedor de madeira (de- pósito, indústria de madeira beneficiada, serraria na Amazônia etc.); (vi) tomador de decisão (engenheiro, arquiteto, designer, proprietário do imóvel) em relação à compra de madeira (nativa versus de reflorestamento) e outros materiais (ferro, alumínio, plástico etc.); (vii) avaliação das tendências no mercado em rela- ção ao consumo de madeira (nativa versus de reflorestamento) e Acertando o Alvo 2 71 à substituição de madeira por outros materiais (petroquímicos, minerais metálicos e não-metálicos); e (viii) conhecimento e inte- resse em adquirir madeira de origem certificada (FSC). Prestadores de serviços e outros. As entrevistas informais seguiram um roteiro de questões de acordo com o tipo de empre- sas. Em geral, as questões tratavam de: (i) atividade do prestador de serviço; (ii) experiência com o uso e tipo de madeira (espé- cie); (iii) forma em que essa madeira era utilizada na construção (estrutura, piso, portas etc.); (iv) tendências no uso da madeira versus outros materiais (vantagens e desvantagens no uso da madeira); e (v) interesse em certificação florestal (FSC).
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