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Decisões de Técnicos e Agricultores em Saberes que Afectam Bananeiras em SAF, Exercícios de Engenharia Agronômica

Este documento analisa como os técnicos de extensão rural e agricultores tomam decisões baseadas em saberes que afetam vários aspectos de bananeiras em sistemas agroflorestais (saf). A pesquisa incluiu diagnósticos e desenhos de saf, entrevistas semiestruturadas, oficinas de diagnóstico e desenho de saf, e um seminário de devolução. Os agricultores e técnicos envolvidos eram ligados a associações de agricultores ecologistas e a emater-rs. O documento aborda como diferentes formas de agricultores e técnicos percebem uma mesma realidade e como isso pode afetar a geração, manejo, difusão e sustentabilidade de saf.

Tipologia: Exercícios

Antes de 2010

Compartilhado em 29/11/2009

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Baixe Decisões de Técnicos e Agricultores em Saberes que Afectam Bananeiras em SAF e outras Exercícios em PDF para Engenharia Agronômica, somente na Docsity! SABER ECOLÓGICO E SISTEMAS AGROFLORESTAIS: UM ESTUDO DE CASO NA FLORESTA ATLÂNTICA DO LITORAL NORTE DO RS, BRASIL JORGE LUIZ VIVAN Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Agroecossistemas, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, Estado de Santa Catarina - Brasil Maio de 2000 CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM AGROECOSSISTEMAS CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA FLORIANÓPOLIS, SC BRASIL DISSERTAÇÃO submetida por Jorge Luiz Vivan como um dos requisitos para a obtenção do Grau de MESTRE EM AGROECOSSISTEMAS, Núcleo Temático Sistemas de Produção Agroecológicos Aprovada em___/___/_____ Prof. Dr. Paul Richard Momsen Miller, CCA/UFSC, Orientador BANCA EXAMINADORA: Prof. Dra. Ana Rita Rodrigues Vieira,CCA-UFSC. Presidente Prof. Dr. José Antônio Costabeber, EMATER-RS Prof. Dr. Alfredo Celso Fantini, CCA-UFSC Prof. Dr. Sérgio Leite Guimarães Pinheiro, CIRAM-EPAGRI Dr. Francisco Roberto Caporal, EMATER-RS FARMERS' ECOLOGICAL KNOWLEDGE AND AGROFLORESTRY SYSTEMS: A STUDY OF CASE AT THE ATLANTIC RAINFOREST IN NORTH COAST OF RS STATE, BRAZIL Author: JORGE LUIZ VIVAN Adviser: PAUL RICHARD MOMSEN MILLER SUMMARY Banana growing is the economic mainstay of small farming in the North Coast of Rio Grande do Sul State, Brazil. The chosen research site was Torres Region, which is constituted by five municipalities, in an area of 1,103km2. This activity interacts with important Atlantic Rainforest remnants, which is bounded by the Serra Geral and Aparados da Serra National Parks. In some of these farms, Ecological Knowledge (EK) is expressed through forest gardens and banana fields, managed as a sequence of consortiums which includes woody plants, and characterized as Agroforestry Systems(AFS). However, some questions arise: How do these knowledge interact with the Technical Knowledge (TK) from extension agents? What are the implications that these different perceptions means to the sustainability of the agroecosystem, in the economic, cultural and ecological field? How do these farmers and technicians visualize the process of improvement of their AFS knowledge? To answer these questions, a two stage method was developed. The first stage was interactional with farmers and technicians and based in action-research and participatory methods, including semi-structured interviews, AFS Workshops for Diagnosys and Design of AFS with farmers and technicians in different stages, and a Presentation Seminary. The second stage was analytical, and consisted of an ecological evaluation of a AFS by parameters indicated by the farmers during the interviews. The state rural extension agents (EMATER-RS) and farmers that joined the Ecological Farmers' Association, representing all the Torres Region participated. The results shows that farmers’ Ecological Knowledge, once applied to the banana fields, can adjust and take advantage of environment diversity. As the method encouraged empowerment throughout the dialog process, the results cleared which adopted parameters are different or converge, which arguments support these parameters, and which contributions farmers’ Ecological Knowledge has to offer to (a)agroecological zoning for new plantings, (b)choice of species in four different strata and their functionality, (c)AFS designs, (d)proposals for improvement of information and knowledge for the design, management and difusion of these systems. The ecological evaluation, in turn, indicated parameters and methods which, with further development, could form a basis for monitoring and evaluating ecological efficiency of AFS in terms of soil fertility, floristic composition in four different strata, soil cover, Photosyntetic Active Radiation (PAR) and Relative Air Humidity and Temperature. This work, by integrating farmer Ecological Knowledge and Extension Agents Knowledge, points to research themes and priorities that can be helpful to improve sustainable rural development programs at this region. ÍNDICE Resumo............................................................................................. vi Summary........................................................................................... viii INTRODUÇÃO 1 CAPÍTULO I REVISÃO DE BIBLIOGRAFIA 5 Floresta Atlântica: a trajetória de uma floresta tropical úmida........................................................ 5 A ocupação humana pré-colombiana.................. 7 A ocupação humana pós-colombiana................. 7 A Floresta, os colonos e a extensão rural........... 9 As Associações de Agricultores Ecologistas..... 14 O processo de transição....................................... 16 A Extensão Rural................................................... 20 Reconhecendo e conceituando saberes............. 22 Saber Popular e Saber Ecológico........................ 24 Saber dos Técnicos............................................... 29 A interação de saberes e suas ferramentas........ 32 SAF e sua dimensão econômica e ambiental..... 35 CAPÍTULO II MÉTODO 43 ETAPA INTERATIVA.............................................. 45 Entrevistas Semi-estruturadas........................................ 45 Oficinas em SAF................................................................ 46 Seminário de Devolução da Pesquisa............................. 53 ETAPA ANALÍTICA................................................ 55 Zoneamento....................................................................... 56 Análise química do solo(0-20cm).................................... 56 Cobertura do solo............................................................. 57 Composição florística...................................................... 58 Radiação Fotossinteticamente Ativa (RFA)................... 60 Temperatura e Umidade do Ar......................................... 61 CAPÍTULO III RESULTADOS 62 ETAPA INTERATIVA.............................................. 62 ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS.............. 62 OFICINAS EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS............... 67 SEMINARIO DE DEVOLUÇÃO.......................................... 74 ETAPA ANALÍTICA................................................ 79 Análise da Fertilidade de Solos a 0-20cm....................... 79 Cobertura do solo............................................................. 80 Composição florística....................................................... 81 2 Governamentais (ONGs), em torno de 100 famílias constituíram diferentes Associações de Agricultores Ecologistas. Além dos técnicos das ONGs, elas interagem em menor escala com técnicos da Extensão Rural do estado(EMATER-RS). Neste universo, as diferentes percepções e o processo de interação de saberes constituem parâmetros de tomadas de decisão para as atividades agrícolas rotineiras nos bananais, desde a implantação à colheita. Ao longo desta interação de 10 anos, a ONG denominada “Centro Ecológico” reconheceu a existência de um saber dos agricultores, que é definido neste trabalho como Saber Ecológico (SE), a partir da denominação dada por Lewis(1989). Assume-se que o SE evolui e também adapta informações de fontes variadas, o que proporciona uma interface dinâmica que define a relação entre as demandas culturais e econômicas dos agricultores e os recursos disponíveis no ecossistema. Por sua vez, esse saber e sua distinção do Saber dos Técnicos (ST), em termos da práxis1, constitui parte do estudo. Os bananais resultantes da aplicação deste saber que são aqui enfocados podem ser conceituados como Sistemas Agroflorestais (SAF), uma vez que utilizam várias espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas, tanto nativas como exóticas, combinando elementos perenes, herbáceos e lenhosos e, conseqüentemente, gerando estruturas multi-estratificadas(Nair, 1993). A partir de 1991, a ONG passou também a estimular a adoção de SAF, principalmente através da discussão de princípios de sucessão vegetal para aplicação geral. Foi também neste processo que se percebeu que: -mesmo anteriormente à intervenção dos técnicos da ONG, tais práticas e sua compreensão não eram homogêneas nem generalizadas entre os agricultores; -não eram recomendadas oficialmente pelos técnicos da extensão rural, embora informalmente alguns reconhecessem méritos parciais no sistema; -a discussão de princípios de sucessão em cursos para agricultores pela ONG motivou entre os agricultores ecologistas a geração de diferentes formas de SAF. 1 "O conjunto de operações práticas através das quais se dá a apropriação material da natureza"(Toledo, 1992). 3 As questões básicas que surgiram como decorrência de tal intervenção referiram-se especificamente ao modo como o Saber Ecológico dos agricultores (SE) e o Saber dos Técnicos (ST) podem se expressar no diagnóstico e desenho de um bananal em SAF, que implicações essas diferentes interpretações têm para a sustentabilidade dos sistemas, e ainda como ambos imaginam preencher suas lacunas de saber. Para avaliar essas questões, tornou-se necessário uma abordagem etnoecológica a qual, segundo adaptado de Toledo (1992), deve: (a)descrever o ecossistema onde se desenrola o processo produtivo; (b)entender e decodificar os diferentes saberes através do diálogo; (c)analisar como o agroecossistema é projetado e conduzido com base nestes saberes; (d)buscar uma avaliação das implicações ecológicas dessa práxis. Assim, a revisão bibliográfica prepara este roteiro, ao: (a)construir um relato da Floresta Atlântica e sua trajetória de interação com as sucessivas ondas de ocupação humana; (b)contextualizar a percepção e os saberes de técnicos e agricultores à suas trajetórias históricas; (c)buscar entender como estes saberes podem interagir; (d)proporcionar uma visão do possível resultado agroecológico e implicações à sustentabilidade da aplicação desses saberes. O Método para o trabalho de campo que investiga saberes e sua práxis se divide basicamente em uma Etapa Interativa e uma Etapa Analítica, estas complementares. Considerando que a descrição do ecossistema era suficiente pelas informações já disponíveis e que constam na revisão de bibliografia, partiu-se para a Etapa Interativa. Nela, a decodificação de saberes foi propiciada tanto no processo histórico comum a cada indivíduo, através de entrevistas semi- estruturadas, como em seu grupo social, transitando entre o individual e o coletivo, através de Oficinas Participativas em SAF. Estas foram realizadas separadamente para técnicos e agricultores e após contrastadas em seus resultados através de um Seminário de Devolução que juntou agricultores e técnicos. Tais oficinas e mais o seminário permitiram também uma visão de como os diferentes saberes projetam o agroecossistema, através de perguntas que refizeram a rotina básica do bananal e produziram Desenhos de 4 SAF. Finalmente, se inquiriu como ambos consideravam a superação das atuais limitações dos saberes de cada um e as possibilidades de integração. Na Etapa Analítica, as implicações ecológicas de um bananal em SAF foram precedidas por um zoneamento da área feito pelo agricultor, baseado no vigor e produção da bananeira. Foi avaliada a fertilidade dos solos a 0-20 cm, a natureza da cobertura do solo, a composição florística e o comportamento microclimático, em termos de Radiação Fotossinteticamente Ativa e Temperatura e Umidade Relativa do Ar. A discussão de resultados da etapa interativa foi complementada pelos resultados da etapa analítica, não como uma "contraprova", mas como um indicativo de temas de pesquisa e aprofundamento que podem constituir pontes entre os saberes. Por sua vez, os resultados indicam que a incorporação do SE e a interação de saberes que ele proporciona, uma vez aplicada aos bananais, pode possibilitar a evolução destes SAF para estruturas e funções análogas às encontradas no ecossistema original (Moles, 1989; Ernst Götsch, 1988, comunicação pessoal; Michon, 1997; Michon, 1998). Como os SAF apresentam interações positivas para a sustentabilidade em uma grande diversidade de ambientes sócio-econômicos, sócio-culturais e ecológicos (Fearnside, 1998; Smith, 1977; Buck, 1999), a questão fundamental que surge é como eles poderiam ser disponibilizadas a um maior número de agricultores. A partir disso, o processo passa pela construção de novas formas de diálogo e relações de poder entre técnicos e agricultores. Assim, a resposta parece ser que a construção deste diálogo estará condicionando grande parte à capacidade de técnicos e agricultores de reconhecerem a si próprios e aos microecossistemas, e assim gerar SAF que contemplem e estejam de acordo com essa diversidade em todas as suas dimensões. Concluindo, foi nesse contexto de participação e reconhecimento mútuo de saberes que se buscou subsidiar ações e políticas com vistas à sustentabilidade das populações tradicionais que hoje interagem com os remanescentes da Floresta Atlântica brasileira. 64 -em relação aos fatores deste zoneamento, considera-se que os solos argilosos são melhores para a banana; porém as áreas de alto declive e mais pedregosas, embora tenham sido cultivadas com banana, perderam a fertilidade e estão sendo reorientadas como "setores" dos bananais onde se pratica adensamento de palmito (Euterpe edulis) e se permite a regeneração de árvores de interesse. Nestes setores, a banana fica como produto marginal. -em relação às funções percebidas para as espécies consorciadas, foram citadas: fertilizadoras, recicladoras de umidade, madeira, embelezamento do bananal, reserva de valor (poupança), lenha, madeira, sombreamento leve do bananal, usos medicinais. -em relação ao espaço e tempo das árvores e outros estratos no bananal, considera-se que as árvores e palmeiras que "não incomodam o bananal" são um investimento no futuro da área. Espécies pioneiras são podadas na medida em que outras espécies de maior interesse, dos ciclos secundário e terciário surgem. Determinadas ervas são consideradas benéficas, por fertilizarem, cobrirem o solo ou evitarem, por estes efeitos conjuntos, a presença de outras ervas indesejáveis, como o Sapé (Imperata cilindrica), por exemplo. Em alguns bananais, o palmito (Euterpe edulis) e madeiráveis como o sobragi (Colubrina glandulosa), plantados pelos agricultores, já são colhidos para uso e consumo dentro da propriedade. -em relação aos parâmetros de escolha de árvores nativas, são os seguintes: a)árvores que produzem e trocam bastante folhas, como o sobragi (Colubrina glandulosa), louro-preto ou pardo (Cordia trichotoma, Boraginaceae), licurana (Hyeronima alchorneoides, Euphorbiaceae); b)espécies caducifólias, como o cedro (Cedrela fissilis), que permitem a entrada de luz no inverno, o que é crítico para os bananais nesta latitude, principalmente para aqueles com exposição Sul; c)espécies com dominância apical definida. Por não produzirem muitos ramos laterais, elas não arranham os cachos com ramos ou folhas, evitando danos à aparência e ao valor comercial da banana; 65 d)espécies associadas com a melhoria de solos, como o ingá-feijão (Inga sessilis, V.), e que tenham bom rebrote após podação, como a capororoca-vermelha (Myrsine coreacea); e)espécies produtoras de valores específicos (madeira, casca, palmito, frutos); f)espécies apreciadas por sua beleza, como o próprio Palmito; g)espécies de crescimento rápido; h)espécies que são melíferas; i)espécies que atraem pássaros, os quais semeiam outras espécies de árvores. -em relação à distribuição das árvores no bananal, os parâmetros envolvidos são: a)tipo de solo (fertilidade, declividade, afloramento de rochas), sendo zoneadas de maneira que ocupem áreas menos favoráveis à banana; b)áreas com exposição solar limitada (quadrante S) o que, em algumas situações limita o tipo de árvores adequadas. As de copa muito ampla são problema neste caso, o que limita seu papel aos quebra-ventos; c)espaçamento e localização no bananal, de modo que facilite o trânsito, principalmente para colheita de cachos e operações de roçagem, já que pode haver danos se as árvores e palmeiras jovens não estiverem numa posição de fácil identificação. -em relação ao uso de Interações entre os parâmetros, definindo parâmetros combinados, adota-se: a)o potencial de rebrote de uma espécie podada é reconhecido como condicionado ao solo e à época do ano em que foi podada; b)algumas espécies têm boas características gerais, mas produzem exsudatos que estimulam a Fumagina (fungo do gênero Capnodium ), o que demanda um manejo diferenciado de poda. Lacunas autopercebidas do SE De modo geral, a demanda é no sentido de entender melhor o comportamento da banana em relação às árvores, e do manejo destas árvores 66 para os objetivos a que se destinam, principalmente na função de fertilização. As duas maiores demandas de SE dos agricultores entrevistados são, portanto: -como manejar as árvores para a manutenção e melhoria da fertilidade do solo dos bananais; -qual a qualidade e quantidade de árvores que se pode manter dentro do bananal sem reduzir a produção de bananas. Concluindo, com o resultado das entrevistas semi-estruturadas em mãos, foi possível definir os temas-chave que possibilitariam o diálogo, bem como as imagens e informações a serem utilizadas como estímulo visual durante as oficinas, e que tipo de informações elas poderiam produzir. 69 Espécies preferidas para plantio ou regeneração nos bananais As espécies foram incluídas nestas tabelas tal como foram listadas pelos participantes, e agrupadas em ordem decrescente, do topo para baixo, em relação à quantidade de vezes que foram citadas. Algumas espécies são consideradas “arbustivas” por técnicos e “intermediárias” pelos agricultores e vice-versa. O contraste por estrato mostra que as espécies listadas pelos agricultores que não foram citadas pelos técnicos(mais de 30% dos votos, Tabela 2) foi de: -50% do estrato dominante; -56% do estrato intermediário; -66% do estrato arbustivo; -100% do estrato herbáceo. O ponto que mais chama a atenção nestes dados é o percentual de espécies que, citadas consistentemente pelos agricultores, não são citadas pelos técnicos, o que indica diferentes fontes de informação e vivências. Tabela 2. Espécies escolhidas em oficinas separadas por agricultores e técnicos para plantio ou regeneração. Foram incluídas apenas as espécies que receberam mais de 30% dos votos em ordem decrescente ao número de votos. Espécies nativas estão em negrito e itálico. Contraste entre espécies listadas individualmente por técnicos e agricultores. Constam da lista apenas as que receberam mais de 30% dos votos, em ordem decrescente ao no de votos. Espécies nativas estão em negrito e itálico. Herbáceo e Cipós Arbustivo Intermediário Superior Técnicos Agricultores Técnicos Agricultores Técnicos Agricultores Técnicos Agricultores Cana-de-açucar Ervilhaca Leucena Vassoura Palmito Ingazeiro Cedro Cedro Guandú Carurú Cafezeiro Crotalária Guabiroba Palmito Louro Louro Mucuna Feijão Taquara Guandú Ingá Ameixeira Canjerana Sobragi Capim-elefante Feijão miúdo Bergamoteira Palmeira-real Bergamoteira Açoita-cavalo Licurana Abacaxí Moranga Camboim Acácia-negra Cafezeiro Angico Uva do japão Feijão-de-porco Amendoim Acerola Pitanga Abacateiro Canela-preta Canjerana Lab-lab Guandú Aroeira Laranjeira Eucalipto Samambaia Mamão Erva-mate Cerejeira Heliconia Sete-capotes Goiaba Timbaúva Camerom roxo Araçá Bacupari Cinamomo-gigante Bromélia Jaboticaba Guabijú Batata-cará Bracatinga Figueira Abacate Guapuruvu Cocão Ipê-roxo Ipê-amarelo Canela-sassafrás 70 Resultados dos Desenhos Coletivos de Bananais em SAF Os desenhos da projeção final da evolução do SAF de cada grupo, sistematizados e padronizados, estão no Anexo 3. Área dos SAF: Para os agricultores, o tamanho ideal para um bananal é na faixa de 50m x 50m (2.500m2), o que foi considerado o ideal para o efeito dos quebra-ventos. Para os técnicos, a resposta foi de que o bananal poderia ter 7 vezes em comprimento a altura do quebra-vento (como de regra na literatura), mas que algumas exceções poderiam acontecer devido à orientação geográfica. Considerando a altura média dos quebra-ventos adotados na região (10 -15m), isto se traduz em bananais de 70m x 70m a 105m x 105m (0,5 - 1,0ha). Estrutura: Entre os 3 grupos de agricultores, 2 definiram estruturas onde árvores de ciclo longo aparecem em consórcio dentro do bananal, e o outro restringiu as árvores ao entorno do bananal, mantendo apenas palmeiras como espécies de médio prazo dentro do bananal. Para todos os 4 grupos de técnicos, a estrutura definida foi de restringir a presença de árvores ao entorno dos bananais, mantendo apenas palmeiras dentro do bananal, em ciclos definidos de corte. Componentes, quantidade e qualidade: A partir dos desenhos, se elaborou as Tabelas 3 e 4 que seguem, onde se quantifica e qualifica as espécies citadas. Do mesmo modo que para as listas individuais, tanto a nomenclatura das espécies como o estrato que ocupam foi sistematizado aqui tal como apareceram nos desenhos originais. Foram consideradas espécies "nativas" apenas as que compõem o ecossistema regional. Espécie introduzidas, mesmo que de outros ambientes da Floresta Atlântica, e que estão naturalizadas nas roças de banana, como o mamão (Carica papaya), são consideradas como "introduzidas e/ou exóticas" para o fim desta pesquisa. 71 Tabela 3. Lista de espécies a partir dos desenhos de SAF produzidos por agricultores e técnicos em oficinas. Espécies nativas estão em negrito e itálico. Herbáceo e cipós Arbustivo Intermediário Superior Técnicos Agricultores Técnicos Agricultores Técnicos Agricultores Técnicos Agricultores Almeirão Abóbora Aipim Aipim Bambu Abacateiro Acácia- negra Canela Aveia Batata-doce Araçá Café Palmeira- real Bergamota Açoita- cavalo Embaúba Cameron Cameron Café Guandú Palmito Mamão Aroeira Cedro Capim- elefante Feijão Pitanga Leucena Ingá Palmito Cedro Jambolão Erva-gorda Hibisco Mamão Chá-de- bugre Licurana Ervilhaca Crindiúva Louro Espérgula Eucalipto Nespera Feijão Grevilea Sobragi Feijão-de- porco Ingá Milheto Louro Milho Sete- capotes Nabo- forrageiro Samambaia - preta Helicônias As listas extraídas a partir de desenhos parecem reforçar que um percentual considerável de espécies escolhidas pelos agricultores não fazem parte do saber rotineiro dos técnicos. Do mesmo modo que para as listas de espécies produzidas nas oficinas, as listas produzidas a partir dos desenhos de SAF mostram uma relação maior de divergência do que convergência na escolha de espécies. Em termos de espécies citadas pelos agricultores, e que não foram citadas por técnicos, temos: -75% para o estrato dominante; -75% para o estrato intermediário; -50% para o estrato arbustivo; -50% para o estrato herbáceo. 74 -dominante: nas entrelinhas, usando 15m x 25m; 25 x 25m, ou como quebra- ventos, com adensamento para 8m x 8m no desenho final, intercalado por intermediárias, arbustivas e herbáceas; -para os técnicos: -herbáceo: uso das entrelinhas em plantios solteiros ou consorciados, plantios em blocos, uso de nichos de sombra nos quebra-ventos; -arbustivo: uso das entrelinhas alternadas com adensamento (2,5 x 5m; 5m x 5m), ou aumentando o adensamento para 2,5m x 2,5m, como cultura intercalar; -intermediário: uso das entrelinhas alternadas com adensamento (2,5m x 5m); -dominante: adensamentos lineares em faixas duplas ou triplas, entre 2,5m x 2,5m; 2,5m x 10m; 10m x 10m como quebra-ventos, uma vez que nenhum desenho dos técnicos incluiu árvores dominantes dentro do bananal. Projeção de ciclos: A projeção de ciclos deixa entrever a perspectiva de tempo que cada indivíduo/coletivo tem do agroecossistema. Para os agricultores, os ciclos expressos nos desenhos estão dentro da projeção de 1-10 anos. Para os técnicos, estes ciclos estão previsto entre 1-6 anos. SEMINÁRIO DE DEVOLUÇÃO O seminário de devolução, centrado nos temas-chave que despertaram maior interesse de técnicos e agricultores, apresentou os resultados abaixo explicitados: Zoneamento de bananais Para os agricultores, o centro da argumentação defende a fertilidade do solo como fator prioritário(ver Figura 11, p.66) no zoneamento, e sua argumentação se apóia em: -facilidade(uma vez que não há necessidade de levar fertilizante ao local); -garantia de sucesso da produção; -redução de custos; 75 -a região é bem servida de chuvas, e a manutenção de uma boa cobertura de solo pode resolver o problema de umidade em períodos secos. Para os Técnicos, -a água é um elemento vital, e sem ela não há a absorção de nutrientes; -ela regula a produção; -em termos de custos, é mais barato fertilizar do que irrigar. Tabela 5. Fator prioritário para zoneamento de um bananal, na opinião de técnicos e agricultores. Técnicos Agricultores Fertilidade do Solo Umidade Fertilidade do Solo Umidade 18% 82% 92% 8% Para clarear ainda mais esses aspectos, seguiu-se uma discussão visualizada sobre a origem da fertilidade dos solos, com a seguinte pergunta orientadora: - O que produz e o que mantém a fertilidade dos solos? Os resultados foram os seguintes: -técnicos e agricultores convergem quanto à importância dos fatores geoclimáticos, como rocha original e clima na definição da fertilidade de um solo; -os técnicos, por sua vez, vêem maior importância na atividade microbiológica e diferenciam restos animais de vegetais na conceituação "matéria orgânica; -para os agricultores, a ação humana e a vegetação são determinantes para a formação e manutenção da fertilidade do solo. Essas percepções da origem da fertilidade dos agricultores se expressam tanto no zoneamento (buscando áreas onde a vegetação indica fertilidade) como na escolha de espécies para a recuperação da fertilidade, o que influi na regeneração que é permitida ou estimulada. Nas entrevistas, foi citado que a vegetação nativa, ao mesmo tempo que é considerada uma das responsáveis pela fertilidade do local, atua como guia do tipo de atividade possível de ser desenvolvida, e que níveis de produtividade se pode esperar de cada área. 76 Funcionalidade das espécies Estrato Herbáceo Tabela 6. Funções percebidas por técnicos e agricultores para o estrato herbáceo de um bananal em SAF. Estrato Arbustivo: considerando que a banana é o principal componente do estrato arbustivo, temos duas percepções. Enquanto os técnicos (82%) estão vendo este estrato com a função "Renda", os agricultores o vêem como "Renda e Reciclagem (45% e 55%, respectivamente). Tabela 7. Funções percebidas por técnicos e agricultores para o estrato arbustivo de um bananal em SAF. Quais as funções que você percebe para cada estrato? Estrato Função Técnicos Agricultores votos % votos % Herbáceo Renda 2 18 0 0 Reciclagem 9 82 12 100 Madeira 0 0 0 0 Preservação 0 0 0 0 Quebra-ventos 0 0 0 0 11 100 12 100 Quais as funções que você percebe para cada estrato? Estrato Função Técnicos Agricultores votos % votos % Arbustivo Renda 9 82 5 45 Reciclagem 1 9 6 55 Madeira 0 0 0 0 Preservação 0 0 0 0 Quebra-ventos 1 9 0 0 11 100 11 100 79 atendem para o tema SAF, como indiretamente, através do fortalecimento pela entrada de mais agricultores nas AAE que, na sua percepção, aumenta os saberes a serem intercambiados no coletivo. Do total de ações incluídas no item "internalização", eles consideram que: -24% das decisões serão iniciativas no campo individual; -76% se darão no plano do coletivo, o que reforça o papel do coleltivo na geração do saber. ETAPA ANALÍTICA Análise da Fertilidade de Solos a 0-20cm Pode-se observar que alguns parâmetros, como valores de argila, pH, P, matéria orgânica, Ca, Mg, B e Zn, indicam valores maiores para a Zona 1 em relação às Zonas 2 e 3. Portanto, estão de acordo com o zoneamento proposto e contribuem para o entendimento das interações entre a percepção do agricultor e a definição de um parâmetro de monitoramento do sistema. Tabela 11 Tabela 12 Análise química dos solos (0-20cm), segundo zoneamento estabelecido pelo agricultor (Z1,Z2,Z3 O parâmetro utilizado no zoneamento foi porte, tamanho de cachos (Z1>Z2>Z3). Argila pH P K M.O Al Ca Mg Al+H (%) (H2O) mg/l mg/l % cmol/L cmol/L cmol/L cmol/L Zona 1 36 6 36 117 3,6 0 10,3 6,2 2,8 Zona 2 33 5,7 33 96 2,8 0 8,1 2,8 3,4 Zona 3 32 5,8 32 130 2,2 0 8,6 3,8 2,7 Análise química dos solos (0-20cm), segundo zoneamento estabelecido pelo agricultor (Z1,Z2,Z3). O parâmetro utilizado no zoneamento foi porte, tamanho de cachos (Z1>Z2>Z3). S Zn Cu B Mn mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L Zona 1 8,9 28,3 4,7 0,9 75,3 Zona 2 9,8 24 6,7 0,9 140 Zona 3 8,5 16,3 5,3 0,5 87,7 80 Cobertura do Solo O resultado da avaliação no que se refere à cobertura de solo mostrou que como o manejo de poda dos pseudocaules da bananeira soma com a regeneração de ervas nativas. Entretanto, embora as zonas de maior produção de banana (I e II) tenham a maior percentagem de solo coberto por liteira e maior proporção de herbáceas prostradas, tem valores de biomassa fresca do estrato herbáceo ligeiramente menores que a Zonas 3 (ver Figura 12). Figura 12. Natureza da cobertura do solo em um bananal em SAF e biomassa correspondente em kg/m2 ,nas diferentes zonas demarcadas pelo agricultor pelo parâmetro de porte da bananeira e tamanho dos cachos (Z1>Z2>Z3). A zona III, por sua vez, tem predominância de ervas eretas e maior percentual de solo exposto, embora no total sua cobertura de solo tenha mais biomassa em base de peso fresco por hectare, considerando o conjunto liteira+estrato herbáceo. Natureza da cobertura de solo em bananal em SAF (%) e biomassa em pêso fresco correspondente à amostragem (kg/m2x10) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 % ereta % prostrada % litter % solo nú (kg/m2 x 10) biomassa Zona 3 Zona 2 Zona 1 81 Composição Florística Espécies herbáceas: Como se percebe na Tabela 13, a Zona 1, de maior vigor e produção de cachos, apresenta uma menor diversidade de famílias e espécies em relação às Zonas 2 e 3. Um detalhamento maior de espécies e famílias nos diferentes estratos está no Anexo 3. Tabela 13. Diversidade de espécies herbáceas em bananal em SAF em 3 zonas de produtividade. Zonas Famílias Espécies Zona 1 8 15 Zona 2 14 24 Zona 3 11 19 A avaliação do percentual que cada espécie representava na amostragem do estrato herbáceo, em termos de dominante(>50%), companheira(10% a 25%), rara(<10) apresentou o seguinte perfil, nas diferentes zonas: Tabela 14. Perfil de freqüência de espécies do estrato herbáceo em um bananal em 3 zonas de produtividade. Zona 1 Zona 2 Zona 3 D om in an te s Commmelina sp. Tradescantia sp. Erechthites valerianifolia Macrothelypteris torresiana Cf. Erigeron Erechthites valerianifolia Poaceae Tradescanthia sp. Erechthites valerianifolia Pteridophyta Poaceae 1 Desmodium sp. C om pa nh ei ra s Commelina sp. E. valerianifolia Adianthum sp. Poaceae Erechthites valerianifolia Sonchus oleraceae Ruhmora Psychotria Cuphea sp Plantago sp. Phyllantus sp. Araceae Erechthites valerianifolia Apium sp. Pteridophyta Plantago sp. Coniza chilensis Polygala sp Porophyllum sp. R ar as Anemia sp Plantago sp. Tradescantia sp. Dryopteris sp Urera sp. Apium sp. Oxalis sp. Poaceae Cf. Polygonum Chaptalia sp. Apium sp. Hypoxis decumbens Oxalis sp. Pteridophyta Cf. Achyrocline sp. Oxalis sp. Sida sp. Apium sp. Richardia sp. Poaceae Urtica sp. Vernonia sp. 84 Figura 15. RFA medida em 2 níveis de um Bananal em SAF: árvore= RFA interceptada pelo dossel dominante; banana=RFA interceptada pela bananeira. Temperatura do Ar(T) A temperatura do ar é mais baixa dentro do SAF nos horários mais quentes, entre as 11h e 13h30min. Depois, das 13h30min, até as 16h30min, o ar permanece mais quente dentro do SAF do que fora, até que após as 16h30min as temperaturas externas ao SAF são maiores. SEGUNDA LEITURA 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 10:00 10:30 11:00 11:30 12:00 12:30 13:00 13:30 14:00 14:30 15:00 15:30 16:00 16:30 17:00 TEMPO (HORAS) R A D IA Ç Ã O S O LA R F O TO S. A TI VA (% ) ÁRVORE BANANA SEGUNDA LEITURA 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 10 :00 10 :30 11 :00 11 :30 12 :00 12 :30 13 :00 13 :30 14 :00 14 :30 15 :00 15 :30 16 :00 16 :30 17 :00 TEMPO (HORAS) TE PE R A TU R A (o C ) T(oC) SOL T(oC) SOMBRA Figura 16. Temperatura do Ar tomada em:sol=a pleno sol, na altura da inserção do cacho (2,5m); sombra=abaixo do sobragi, na altura da inserção do cacho(2,5m). 85 Figura 17. Diferença entre a Temperatura do Ar tomada a pleno sol e dentro do SAF, abaixo do sobragi, ambos na altura da inserção do cacho (2,5m). Umidade Relativa do Ar(UR%) Figura 18. Umidade Relativa do Ar medida em: sol=a pleno sol, na altura da inserção do cacho; sombra=abaixo do sobragi, na altura da inserção do cacho. S E G U N D A L E IT U R A ( 1 9 / 0 2 / 0 0 ) 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 10 :00 11 :00 12 :00 13 :00 14 :00 15 :00 16 :00 17 :00 T E M P O ( H O R A S ) U M ID A D E R EL A TI VA U R ( % ) S O L U R ( % ) S O M B R A D iferença entre a T em pera tu ra do A r "S o l-S om bra "em um bananal em S AF -2,5 -2 -1 ,5 -1 -0 ,5 0 0 ,5 1 1 ,5 2 1 0 :0 0 1 0:3 0 1 1:0 0 1 1:3 0 1 2:0 0 1 2:3 0 1 3:0 0 1 3:3 0 1 4:0 0 1 4:3 0 1 5:0 0 1 5:3 0 1 6:0 0 1 6:3 0 1 7:0 0 H o rário d a m e d iç ão Te m pe ra tu ra d o A r S E G U N D A LE IT U R A T .S O L -T .S O M B R A D ife re nç a de T em pe ra tu ra d o Ar U m id ad e R el at iv a do A r(% ) 86 A UR% acompanha o comportamento da Temperatura do Ar, mantendo-se mais alta dentro do SAF pelo aquecimento do ar, a partir das 11h. Porém, é mantida mais alta dentro do SAF mesmo após as 17h, através da umidade em forma de vapor d'água liberado pela respiração das plantas(Figuras 18 e 19). Figura 19. Diferença da Umidade Relativa do Ar entre as medidas tomadas em: sol (a pleno sol, na altura da inserção do cacho) menos(-) sombra (na altura da inserção do cacho, abaixo do sobragi) S E G U N D A L E IT U R A (1 9 /0 2 /0 0 ) -2 5 -2 0 -1 5 -1 0 -5 0 5 1 0 1 5 10 :0 0 10 :3 0 11 :0 0 11 :3 0 12 :0 0 12 :3 0 13 :0 0 13 :3 0 14 :0 0 14 :3 0 15 :0 0 15 :3 0 16 :0 0 16 :3 0 17 :0 0 T E M P O (H O R A S ) D IF ER EN Ç A D E U M ID A D E R EL A TI VA U M ID .R E L . S O L - S O M B R A 89 humanidade, provavelmente desde que os primeiros seres humanos pisaram a face da Terra(Tudge, 1998). Do mesmo modo, o desenvolvimento de maneiras de manter esta fertilidade, e com ela uma certa estabilidade nos recursos disponíveis no ecossistema, encontra-se no Saber Tradicional e Ecológico de muitas culturas, acompanhando a história da coleta, caça e proto-agricultura há mais de 40.000 anos até os dias atuais, onde ela ainda é praticada(Tudge, 1998; Correa, 1990; Lewis, 1989). Esta é, em última análise, a matriz primordial do Saber Ecológico dos agricultores (SE), que alcança maior ou menor sucesso de acordo com sua interação com as variáveis culturais, sociais e psicológicas, que são tão cruciais quanto o ambiente na determinação da estabilidade dos modos de adaptação humana (Moran,1994). Já o Saber do Técnicos, embora tenha tido a mesma origem histórica, tem um passado recente divergente. Artificializar a fertilidade de um solo através de produtos químicos gerados industrialmente é um paradigma que nasce nos primórdios da Revolução Industrial no século XIX. Isto se dá a partir da aplicação na agricultura dos produtos gerados pela indústria química nascente da época. Entre eles estava o ácido fosfórico extraído a partir de ossos, bem como os nitratos, extraídos do “Salitre do Chile", originados em antigos fundos de lagos agora secos pela elevação dos Andes. Estes últimos foram posteriormente substituídos pela síntese industrial da uréia(Pinheiro et al., 1985). No Brasil, a fertilização química foi adotada como política oficial pela pesquisa e extensão agrícolas a partir dos anos 1930-1940, porém é principalmente nos anos 1960-1970 que ela se afirma nas escolas de agronomia como matriz tecnológica dominante(Graziano Neto, 1982). Na origem, ambos os paradigmas convergem no objetivo básico (obter fertilidade). No processo histórico, porém, eles divergem nos meios. Para os agricultores, a busca significa entender os ciclos locais de fertilidade gerados pela sucessão vegetal ou outros fenômenos (sedimentos, depósitos minerais), e ajustar suas intervenções de modo a tirar proveito deles. De modo mais recente, a busca da ciência agronômica consiste em substituir os processos naturais por insumos 90 externos, de modo a homogeneizar as condições de produção. Em última análise, assim se tornam desnecessários saberes mais detalhados do ecossistema e do microecossistema, o que torna o saber dos agricultores descartável por princípio. Para os agricultores que participaram da pesquisa, a argumentação que defende a busca da fertilidade como fator de zoneamento é na linha de que criar fertilidade artificialmente representa um custo que inclui recursos humanos e financeiros os quais, nas suas vivências, não eqüivale a um retorno seguro. Os técnicos justificam a priorização da "umidade" como fator de zoneamento usando a argumentação da essencialidade da água para o processo agrícola. Apóia seu argumento também o fato de que aportar fertilização tem um custo menor do que instalar e operar irrigação, o que é verdadeiro, desde que ambos sejam insumos a serem adquiridos externamente. Seus argumentos também refletem observações sobre o contexto da bananicultura na região, onde doenças como o Mal do Panamá e suas conseqüências negativas para a produção aparecem mais em anos secos, em áreas de solos rasos e em bananais expostos a ventos secos. Já os agricultores justificam o segundo plano do fator "umidade" baseando seus argumentos no comportamento que vêem nos seus bananais "ecológicos". O seu conjunto de práticas inclui roçadas seletivas (selecionando a regeneração), cobertura de solo permanente com ervas nativas, e manejo de árvores e arbustos através de podas. Este sistema, aliado à utilização dos pseudocaules da bananeira, produz cobertura morta e parte da fertilização, o qual é suplementada com esterco e minerais, como fosfato natural e calcário de conchas. Neste contexto, sua observação a respeito da conservação da umidade através do manejo pode coincidir com alguns fatos da região. Os dados do histórico de precipitação (1.676mm/ano) e evaporação (1.094mm/ano) mostram uma relação hídrica favorável para um manejo de conservação da umidade nos bananais através de consórcios. O perfil de Temperatura e Umidade do Ar do SAF medido no verão também indica que, dentro do SAF, a umidade do ar se mantém estável e bem acima em relação aos espaços abertos. Isto acontece durante o período mais crítico para a perda de umidade das plantas, que é entre as 11h e 91 17h, o que indica que este consórcio pode ajudar a moderar os efeitos dos eventuais períodos secos. Os dados indicam que, nestas condições de pluviosidade, o sistema SAF contribui para um melhor uso da água, já que o déficit de saturação tende a ser baixo e, portanto, há uma diminuição da condutância estomática ao fluxo de vapor d'água e, consequentemente, uma diminuição da densidade de fluxo respiratório (Landesberg, 1997). De modo geral, no contexto local, pode-se afirmar que o manejo da umidade através da manutenção de uma estrutura multiestratificada e cobertura de solo é um fato que apóia o argumento dos agricultores de priorizar o zoneamento pelo fator "fertilidade". Por outro lado, os argumentos dos técnicos estão amparados nas observações de bananais convencionais, conduzidos por capinas mecânicas ou químicas, e geralmente sem o benefício de quebra-ventos ou consórcios. Portanto, os efeitos negativos observados em períodos secos, e que lhes consolida o argumento para indicar a umidade como fator prioritário de zoneamento, está ligado à realidade dos sistemas de produção convencionais com que interagem. Constituem, assim, informações interpretadas à luz de suas vivências. No caso, ambos os saberes estão amparando seus argumentos nas suas vivências, e ambas são válidas dentro de seus contextos. Porém, fica claro que o SE dos agricultores tem muito a oferecer ao ST em termos de princípios de manejo, numa perspectiva de redução da dependência externa de insumos. Microzoneamento De modo geral, o zoneamento das áreas por fertilidade é calibrado ao longo do tempo por observações da vegetação previamente existente, da regeneração pós-intervenção e do desempenho mesmo do bananal implantado. Isto trouxe informações sobre o comportamento produtivo de cada área, em diferentes épocas e regimes de precipitação, inclusive no nível de sítios específicos as quais, uma vez acumuladas ao longo do tempo, constituem-se em um Saber Ecológico dos agricultores. 94 Na função de cobertura/fertilização, a erva-gorda (Erechtites valerianaefolia, espécie nativa de regeneração espontânea), é manejada como cobertura verde de primavera e verão em bananais já estabelecidos, e existe uma unanimidade entre técnicos e agricultores em relação ao seu uso. Por outro lado, existe uma lacuna em relação às espécies de outono-inverno, bem como em relação a espécies adaptadas à condição de sombreamento existente em bananais adultos. Esta lacuna se acentua em bananais que adotam interplantios com palmito (Euterpe edulis) e árvores do estrato dominante, o que reduz a incidência de radiação no estrato herbáceo e seleciona ainda mais as espécies adaptadas. Os técnicos apresentaram, entre os quatro desenhos de SAF executados por grupos, uma lista de espécies para as fases iniciais do estrato herbáceo coerente com a dupla função "renda/proteção do solo". A lista apresenta um espectro de leguminosas introduzidas utilizadas para este fim em programas tanto de ONGs como da extensão rural, e até da própria assistência técnica das empresas fumageiras que atuam na região. Na verdade, podem ser consideradas as fontes principais de informação sobre estas espécies, mesmo para os agricultores. Porém, a falta de unanimidade entre os agricultores sobre essas espécies mostra que o desempenho delas pode não ter sido comprovado localmente a ponto deles as terem incorporado ao seu repertório de espécies. Uma das causas reside no fato de que o sombreamento não favorece a maior parte delas, e algumas, como o feijão-de-porco (Canavalia ensiformes), irão disputar espaço com a nativa erva-gorda durante o verão, sendo que a adaptação desta erva espontânea ao microambiente é superior ao da leguminosa introduzida. Espécies como a erva-gorda são em geral "C3", o que significa que são plantas que, entre outros aspectos, têm caminhos metabólicos mais eficientes, quando em ambientes de menor radiação, condição que é típica em um bananal adulto(Nair,1993). Eventualmente, situações de maior exposição solar poderão tornar aptas todas as opções de espécies listadas, incluindo plantas C4, que são as mais eficientes produtoras de biomassa em condições de maior radiação solar. Gramíneas do gênero Penisetum, como as citadas nos desenhos (cameron-roxo, 95 capim-elefante), já são objeto de experimentação e adoção por agricultores, principalmente nos estágios iniciais de implantação de SAF em áreas invadidas por sapé (Imperata cilindrica.). Considerando-se que a convergência maior em termos de função é reciclagem e cobertura do solo, tanto para técnicos como para agricultores, a composição florística e a proporção entre herbáceas eretas e prostradas dá algumas pistas do perfil desejável da arquitetura dessas espécies. As avaliações indicam que existe uma predominância de herbáceas de porte ereto nas zonas II e III (menos férteis) e uma maior diversidade de espécies nestas zonas. Entretanto, esta diversidade é no plano geral, uma vez que, em relação a espécies que se apresentaram como dominantes ou companheiras, a diversidade é menor. Nesse sentido, parece mais sensato uma estratégia que inclua uma maior diversidade de espécies para os sistemas de cobertura verde dos SAF, principalmente quando o intuito é a recuperação de fertilidade. Esta avaliação é suportada pela tese de que "a diversidade estabiliza a comunidade e as propriedades do ecossistema (...) enquanto determinadas espécies têm uma flutuação maior de suas populações quanto maior for a diversidade"(Tilman, 1996). Em outras palavras, ao se optar por uma maior diversidade de espécies no estrato herbáceo, também se está criando uma analogia com a própria estratégia evolutiva da vegetação nativa para contornar a variabilidade de solos e umidade, bem como das condições climáticas que agudizam esta variabilidade. Dessa forma, embora algumas espécies de rápido crescimento possam ser usadas para cobrir inicialmente uma área de bananal, os resultados da avaliação da composição florística e cobertura do solo apontam para estratégias mais complexas. No caso, a diversidade encontrada nas zonas mais pobres, como a zona 3, indicam para um arranjo sucessional que preveja um maior número de espécies, a fim de estabilizar a comunidade como um todo. Isto implica em, eventualmente, diminuir a importância de algumas espécies como a banana, e incluir outras como renda ou produto direto, de modo a aumentar a resiliência do sistema como um todo. 96 Estrato Arbustivo Em relação à função esperada, as opiniões de técnicos e agricultores invertem as prioridades: Técnicos Agricultores 1)Renda 2)Reciclagem 1)Reciclagem 2)Renda Essa inversão pode estar ligada ao fato de que o estrato arbustivo é ocupado nos SAF pela própria bananeira, a qual responde tanto por renda como por reciclagem. Ela é reconhecida pelos agricultores como a responsável por grande parte da liteira produzida no SAF e, provavelmente, por boa parte da reciclagem de nutrientes, e este fato foi citado tanto nas entrevistas semi- estruturadas como nas oficinas. Em média, cada pseudocaule de banana-prata cortado para a colheita do cacho fornece até 75kg de matéria fresca, nas condições locais, o que deve contribuir em grande parte para a média encontrada de 15 a 18 toneladas (base em matéria fresca) de liteira/hectare. Um estudo de avaliação da ciclagem de nutrintes proporcionada por estes SAF é mais uma janela que se abre à pesquisa regional. O café (Coffea arabica), o outro elemento arbustivo citado tanto por técnicos como por agricultores nas suas listas de espécies e Desenhos de SAF, só aparece como uma espécie consistentemente repetida entre os agricultores. Esse dado confere com a própria história da região, onde ele já constituiu parte ou até eixo de SAF desde os anos 30, principalmente como subsistência. Entretanto, fica claro nos desenhos que, enquanto para os técnicos a inclusão do café se daria num sistema relativamente adensado (2,5mx5m), para os agricultores ele estaria como mais um componente da diversidade visando subsistência, em espaçamentos de 5mx10m ou 8mx10m. Este tipo de espaçamento que privilegia a diversidade implica em menor produção de café. Por outro lado, pode se encaixar melhor na categoria de sistemas de média à baixa intervenção, mais favoráveis à manutenção da biodiversidade, como é o caso de cafezais avaliados no México(Moguel, 1999). Este é um parâmetro de peso para 99 visitados, oque se situa numa encosta com exposição SE, portanto, não muito favorável em termos de radiação, uma parcela de banana-prata de alta produtividade convive com um plantio de Euterpe edulis já adulto. Neste SAF, existem vários indivíduos de Euterpe edulis ocupando o estrato superior ao bananal (na faixa de 6 a 10m) e em frutificação, com níveis de adensamento até maiores do que os espaçamentos propostos nos Desenhos de SAF. O fato que surge nessa discussão é que pouco se sabe sobre como as características ecológicas e a arquitetura de cada espécie intervêm no triângulo radiação, umidade e nutrientes, determinando o grau de sucesso de sua incorporação ao sistema. Além disso, muitas outras variáveis estão envolvidas. No caso do palmito, entre outros aspectos, estão a legislação para plantio, uso e manejo, o manejo da variabilidade genética e o possível melhoramento, ciclos de corte, procedimentos de colheita e mesmo técnicas de processamento de frutos para polpa. Estrato Superior De maneira esquematizada, as principais convergências/divergências em relação à função do estrato superior, bem como as argumentações que as sustentam, estão relacionadas abaixo. Técnicos Agricultores 1)Quebra-ventos 2)Reciclagem 3)Madeira 4)Preservação 1)Madeira 2)Reciclagem 3)Quebra-ventos 4)Preservação Árvores dominantes na função de quebra-ventos externos ao SAF, nunca dentro do bananal.. Árvores dentro do bananal. Madeira, reciclagem e quebra-ventos tem exatamente a mesma proporção de importância. -Não há compatibilidade entre o cultivo da banana e o plantio de árvores em função do sombreamento que elas -Dependendo das condições de exposição, da quantidade e do tipo de árvore, elas não atrapalham a banana. 100 (Técnicos. (Cont.) ...provocam. Agricultores. (Cont.) Os sítios de baixa produção dentro do bananal podem ser adensados com mais árvores que puxam água e nutrientes do solo mais profundo e jogam folhas adubando a superfície. Para ambos, não existe uma associação de “renda” ao plantio de árvores de ciclo longo no SAF Em termos de espaço: a implicação mais importante deste quadro é o fato de que os agricultores admitem árvores em consórcio com o bananal, enquanto os técnicos admitem árvores apenas como quebra-ventos, fora dos bananais. De modo geral, para os técnicos, apenas palmeiras para extração de palmito devem ser consorciadas dentro do bananal, em ciclos de corte previstos para 5 e 7 anos. Outro ponto são os espaçamentos definidos pelos agricultores para o estrato dominante consorciado com o bananal, entre 15mx25m e 25mx25m. Ele produz uma densidade entre 16 a 26 árvores dominantes/hectare, a qual foi uma densidade considerada como adequada para bananal em SAF, mesmo para a variedade Caturra (Bertoni, 1927). Entretanto, esta variedade foi citada nas entrevistas e nas oficinas pela maioria dos técnicos e agricultores, com raras exceções, como inapta para qualquer tipo de sombreamento, reforçando seu problema de produtividade relacionado à baixa tolerância ao frio. Ainda no sentido de espaçamento e interações entre árvores e culturas, uma densidade de 50 a 80 árvores foi considerada ideal para produção de pasto em condições de subtrópico com estação seca, no interior de Queensland, Austrália(Cameron et al.,1994). Se somarmos a densidade de árvores e palmeiras, entre dominantes e intermediárias, prevista nos SAF dos agricultores, temos entre 50 a 60 indivíduos por hectare. Considerando a disponibilidade de umidade, em condições de um clima classificado como mesotérmico brando superúmido, esta densidade de árvores em consórcio poderia resultar em condições satisfatórias 101 para o cultivo da banana-prata, garantido que outras condições, como fertilidade, retenção de umidade no solo e características apropriadas das árvores incluídas no SAF estejam satisfeitas. A limitação de oferta de radiação, o principal argumento do ST contra as árvores nos bananais, também não é facilmente verificável ou isolável, uma vez que se soma ou confunde com a competição por umidade e nutrientes (Nair, 1993). A Radiação Fotossinteticamente Ativa (RFA) pode se comportar de maneira inesperada em dias com nebulosidade de média a moderada. Nestes momentos, os níveis de RFA podem aumentar dentro de ambientes como os SAF, o que pode ser causado pela reflectância da vegetação, aliada à difusividade dos dias moderadamente nublados (Silva, 1998). Como foi o caso percebido no SAF monitorado, a reflectância da vegetação, aliada à difusividade pode provocar valores de RFA muito próximos dentro e fora do sistema e até maiores(Silva,1998). A avaliação do próprio método e das adaptações que foram necessárias indicam que a caracterização do efeito da interceptação da RFA pelo sobragi foi satisfatória para uma avaliação individual, e esta poderia ser repetida ao longo de todo o ciclo anual, numa maior amplitude de horários. Porém, uma avaliação do sistema SAF deveria incluir uma série de sensores (ceptômetros) em forma de estação e fixos no SAF ao longo de um ciclo anual, uma vez que os resultados encontrados individualmente não podem ser extrapolados como o comportamento da RAF em todo o sistema. Em termos de função: observou-se que as espécies de árvores dominantes que foram incluídas por mais de dois grupos nos Desenhos de SAF dos agricultores, não constam nas mesmas condições nas listas de técnicos(Tabela 3, p. 70). Ainda, se levarmos em conta todas as espécies citadas nos Desenhos de SAF, 80% das espécies escolhidas pelos agricultores não constam na lista dos técnicos. Isso indica que os agricultores já identificaram e adotaram localmente algumas espécies do estrato superior, dominam seu manejo, e este não é um saber nivelado com os técnicos. Portanto, identificar e monitorar áreas onde essas espécies estão associadas a bananais, é um bom caminho para integrar saberes e 104 tempo e dinheiro e, por conseguinte, é direcionada pelas mesmas forças que controlam tempo e dinheiro" (Lewontin, 1993, p.3). Portanto, é ingênuo acreditar que o fato de os SAF não constarem no fluxo principal de recursos para a pesquisa agronômica de maneira consistente nos últimos 120 anos seja apenas uma questão de falta de mérito "técnico" baseado em parâmetros produtivos ou ecológicos. Embora o consórcio de árvores com cultivos seja recomendado pelo primeiro manual de agricultura conhecido3, sua passagem de sistema tradicional descrito em estudos antropológicos (Conklin, 1954; Conklin, 1957) para sistema estudado em Centros Internacionais de Pesquisa, como o International Center for Research in Agroforestry (ICRAF) é bastante recente. Portanto, a partir dos resultados, estende-se a discussão também ao debate do modelo sócio-cultural e sócio-econômico de desenvolvimento, ao poder que está em jogo e como redirecioná-lo. Como Gerar Mais SE em Relação aos SAF Pode-se estabelecer o processo como etapas complementares. Primeiro, a geração de saber pressupõe diálogo, e o diálogo pressupõe reconhecer a si próprio e reconhecer o outro, para que ambos possam buscar a “significação dos significados”, como coloca Paulo Freire. Em outras palavras, quais os parâmetros de um SAF que serão monitorados, e como as informações resultantes serão interpretadas e transformadas em decisões constituem um saber relativo a cada sujeito e seu grupo social, como se observou na Tabela 10, p.77. Portanto, uma vez reconhecidas as diferenças e assumindo-se que elas não constituem uma hierarquia, mas sim diferenças, inicia-se o diálogo. A seguir, deve-se entender o mapa de poderes em jogo. Uma vez que o diálogo visa à ação, e esta tem a ver com saber e poder, estabelece-se um novo desafio, que é o de definir qual é o saber que efetivamente “pode” agir. Assim, ao responder à pergunta quem deve “agir” para gerar saberes?, o sujeito e seu 105 coletivo estão definindo sua percepção de quem “pode agir”. Se a resposta a esta questão situa a decisão para fora do indivíduo/coletivo, projetando-a para um “sujeito ou fato externo que define a ação”, entende-se aqui que prevalece uma postura que privilegia a externalidade. Por outro lado, quando existe a percepção de que a mudança/ação é uma decisão interna ao indivíduo/coletivo, define-se aqui que a decisão é atribuída a uma internalidade. Técnicos e a Geração de Saber Os técnicos optaram (73%) por um mecanismo embasado na ciência agronômica aplicada à extensão rural, que é a Unidade Demonstrativa (UD), como mecanismo de aumentar o saber necessário à geração e manejo de SAF. Embora a UD, tal qual foi concebida dentro do modelo de Transferência de Tecnologia nos anos 50, tenha caído em desuso, seu paradigma principal resiste. Na sua concepção convencional e numa descrição simplificada, uma UD é um pacote tecnológico implantado numa propriedade de um agricultor "inovador", acompanhado pelo técnico, e cujos resultados de produtividade são apresentados à comunidade para convencê-la da viabilidade do pacote a ser transferido. O processo da UD consta basicamente de planejamento, instalação, monitoramento, sistematização dos dados, avaliação e apresentação dos resultados. Porém, a participação do agricultor que sedia a UD, bem como da comunidade, é mais funcional do que construtiva. Eventualmente, nem mesmo a apresentação de resultados envolve mecanismos de diálogo de saberes, no sentido freiriano do termo. Isso nos leva ao fato de que o aparato metodológico abrigado no conceito tradicional de uma UD, que tende a se concentrar na transferência de tecnologia clássica amparada na pesquisa agronômica convencional, não é a melhor maneira de lidar com a diversidade e a complexidade dos SAF(Rocheleau, 1999). Este equívoco tem levado muitas tentativas de geração e difusão de SAF a resultados contraditórios uma vez que se busca o isolamento de variáveis para testar um 3 Produzido na Roma antiga por Cato, o Velho, por volta de 200 d.C., descrevia sistemas de cultivo consorciado de videiras e árvores(Perlin, 1992). 106 produto dentro do SAF(Miranda, 1998) e não a organização da diversidade local em um sistema onde este produto poderá (ou não) se encaixar. Por um lado, se na extensão rural mais conservadora, a aprovação de UDs depende basicamente de programas centralizados nas hierarquias superiores, por outro, este mecanismo (projetar para o externo as decisões) reduz a pressão de outras demandas locais sobre o tempo do extensionista, uma vez que ele está envolvido em um “programa oficial”. Embora este não seja o caso atual da EMATER-RS, este é, em psicologia social, o que se chama de um mecanismo de "projeção". Em outras palavras, a decisão de mudar (os saberes) está na externalidade, e é a ela que se atribui a responsabilidade da decisão final. Entretanto, 18% dos técnicos opinaram que a geração de saberes deve se dar pelo "trabalho coletivo integrado em grupo". Esclarecido no plenário, o termo "integrado" se referiu à presença conjunta de técnicos e agricultores na atividade, e esta é a ponte de nivelamento de poderes e saberes que pode alavancar a necessária "internalização" da mudança necessária à integração entre ST e SE, gerando um outro tipo de UD, que tem sido conceituada como Unidade de Experimentação Participativa (Vivan, 1998). Neste conceito, após um diagnóstico participativo do agroecossistema e da definição de questões prioritárias, concretiza-se a realização de experimentos locais com diversas opções derivadas tanto do SE local e regional como da ciência formal, e o processo resulta também num aprimoramento das capacidades de experimentação dos agricultores e da comunicação entre eles(Reijntjes, 1994). Agricultores e Geração de Saber A maneira coletiva de adquirir conhecimentos apontada pelos agricultores no exercício foi o mutirão grupal nos bananais (50%), acompanhada de ações no plano individual (16%). Estas são as formas ancestrais de gerar SE através da práxis, e que utiliza a complementaridade do SE individual e coletivo, com o intuito de resolver questões de produção que dizem respeito à coletividade, mas que devem ser encaradas no contexto da diversidade (sócio-economica, sócio-cultural e ecológica) de cada propriedade. 109 -finalmente, reconhece-se que já existe um acúmulo de informações locais sobre espécies, estrutura de sistemas e manejo que podem ser ainda aperfeiçoadas na interação entre saberes. Nesse contexto, as informações trazidas pelos técnicos não tem uma “prioridade”. O técnico pode contribuir com suas próprias informações colhidas localmente, mas seu maior papel será o de facilitar e criar pontes com outras fontes de informação, dentro e fora da região. Tudo isso reforça que, como enfatiza Freire(1970): “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediados pelo mundo”. Caso contrário, o processo de desenvolvimento perde o foco da diversidade e, ao buscar a uniformidade, se torna insustentável, uma vez que: -na dimensão sócio-econômica, principalmente na agricultura familiar excluída dos grandes mercados, a terra e as atividades nela desenvolvidas não são encaradas apenas como um “agronegócio” de produtos em série, mas como um sistema onde cultura, economia e ambiente têm ligações profundas. Além disso, a “economia”, nestes contextos, não é apenas um conceito monetário, mas sim um conjunto de significados muito mais próximos do que se poderia conceituar como “economia ecológica” (Alier, 1995); -na dimensão sócio-cultural, na medida em que a definição das ações que modificam a paisagem tem suas raízes em trajetórias, vivências, significados e referências que formam a identidade individual e coletiva. Ao contrário do que foi o senso comum do desenvolvimentismo, e que ainda persiste de modo geral na sociedade, não existe uma única lógica pela qual a humanidade deva se guiar no processo civilizatório. Caso contrário, seria razoável assumir a enorme diversidade cultural do planeta como anacrônica e inexplicável, fruto de uma casualidade. Ao invés, ela aparece como a elaborada e consciente organização da diversidade que permitiu a cada grupo humano sua presença de maneira contínua por dezenas de milhares de anos, em praticamente todos os ecossistemas do planeta (Moran, 1994); 110 -na dimensão ecológica, na medida em que os seres humanos se transformaram no fator mais importante de mudanças na face de nosso planeta, e “temos tido um impacto sobre os ecossistemas e os temos transformado em uma velocidade sem precedentes (Gomez-Pompa, 1996). Ainda, do ponto de vista evolucional, não apenas alguns sistemas agrícolas tradicionais têm funcionado como bancos de reserva de genes, como também geram e amplificam a variabilidade num processo contínuo, cuja interrupção implica não apenas em perda de variabilidade, como também em cessação do processo evolutivo (Martins, 1997). Em relação à utilização dos métodos analíticos para a avaliação ecológica do SAF, é importante ressaltar alguns pontos: -a amostragem de fertilidade do solo, mesmo feita em zonas divididas por critérios de produtividade, mostrou a dificuldade de relacionar nutrientes específicos ao desempenho do SAF, o que confirma a opinião de Nair(1993) sobre a interatividade entre radiação, umidade e nutrientes no desempenho dos SAF. -a avaliação de cobertura e composição florística mostrou potencial para checar indicadores da evolução e posterior manejo do SAF, conforme utilizado por Mongeli(1999). -a avaliação da Radiação Fotossinteticamente Ativa(RFA) mostrou a enorme complexidade que um SAF pode apresentar para sua avaliação. Esta complexidade se dá na medida em que é um sistema em sucessão que sofre intervenção por podas, o que modifica de modo cíclico o dossel e, portanto, a interceptação de RFA. O aprofundamento de informações necessitaria incluir como variáveis tanto os ciclos naturais (declinação solar ao longo do ano, troca de folhas, índice de área foliar e seu incremento ao longo do ano) como os ciclos de intervenção humana (podas do dossel, roçadas do estrato herbáceo, corte de talos de bananeira, corte de árvores). É possível que sejam necessárias estações completas, com múltiplos sensores em uma área que contemple toda a diversidade de interações da radiação solar com o dossel em seus vários estratos. -para temperatura e umidade, a avaliação poderia incluir tanto leituras da camada de ar junto ao solo, em mais níveis além dos realizados, como a avaliação da umidade e temperatura de solo em diferentes profundidades ao longo do ano, 111 caracterizando melhor as relações entre o SAF, o microclima local, as condições do microecossistema e o regime pluviométrico e climático regional. A enorme complexidade dos SAF e suas interações não se dá, como se pode observar, apenas no plano das interações ecológicas, mas também no plano cultural e econômico. Esta complexidade, portanto, não pode ser simplesmente “copiada” de um local para outro, de um contexto para outro. Esta característica faz com que sejam vistos como sistemas difíceis tanto de avaliar como de difundir de modo generalizado. A pergunta que se apresenta então é: -O problema serão os SAF e o Saber Ecológico dos agricultores que deveriam ser mais lineares para serem avaliados e difundidos? Ou será que são os métodos de avaliação e difusão que já trazem em si um modelo sócio- econômico e cultural de desenvolvimento pré-concebido, em relação ao qual estes sistemas e saberes devem ser julgados e validados, para se definir então como eles se encaixam (ou não)? A superação dessa questão é um dilema antigo da pesquisa e da extensão e implica em um repensar da compartimentalização de saberes e dos próprios métodos que geram estes saberes. A resposta à pergunta básica da pesquisa sociológica moderna “Como você sabe isso?”(Lewontin, 2000, p.247) pressupõe uma atitude de diálogo por parte do técnico e do pesquisador, e não de negação da realidade percebida pelo outro. Robert Chambers, no seu livro “Whose Reality Counts? (Qual a Realidade que Importa?), coloca que: “ (...) na 'prisão das profissões', o que se faz é buscar dados apenas onde eles estão convenientemente iluminados pela circularidade do reducionismo e da mensurabilidade. Isto cria teorias auto- sustentadas, para as quais “a realidade está onde a luz ilumina”. Enquanto isso, “o que está na escuridão é generalizado, descrito de modo superficial, considerado não importante, ou simplesmente assumido como inexistente”. 114 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abbot, J. & I. Guijt. 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Indicadores Econômicos de uma Unidade de Produção com bananal em SAF(Mazurana, 1999) Em uma propriedade de 14 ha, a 26 km ao sul de Torres, a área, que possui 27% da sua superfície utilizada por cultivos, se distribui entre: -lote que agrupa moradia, garagem e galpão, viveiro de mudas de plantas ornamentais. 600 m2 (0,43% da Superfície Trabalhada-ST de 33.150m2): -remanescentes florestais com mais de 30 anos ocupam 56.250 m2 (40,17%), -capoeira e capoeirão (entre 3 a 15 anos) representam 30.000 m2 (21,43%); -potreiro de 20.000 m2 (14,29%). Nos 33.150 m2 de Superfície Agrícola Útil são cultivados: -banana-prata (como cultura principal), mamão, abacaxi e espécies ornamentais em 30.000 m2 (90,5% da SAU); -banana-maçã em 250 m2 (0,75%); -espécies ornamentais em 400m2 (1,2%); -mandioca em 2.500 m2 (7,55%). São empregadas 2 UTH (Unidades de Trabalho Humano) durante todo o ano, exceto as operações de adubação e algumas limpezas no bananal (contratação de 0,18 UTH), entre setembro a dezembro. A relação da SAU (33.150 m2) pela mão-de-obra (2,18 UTH) é de 15.206 m2/UTH, ou seja, aproximadamente 1,5 ha/UTH. O valor da terra é estimado em R$ 3.000,00/ha. Portanto, o valor de 14ha é de R$ 42.000,00. 2 Cont. ANEXO 1. Indicadores Econômicos de uma Unidade de Produção com bananal em SAF(Mazurana, 1999) Tabela 1. Produto Bruto da UPA Produto Destino Área (ha) Produção/UPA (Kg) Valor (R$/ Kg) PB (R$) Banana prata Merc. Interno. 3 24 000 1,00 24 000 Banana maçã Merc. Interno. 0,025 600 2,00 1 200 Mamão Merc. Interno. Espalhado pelo bananal 1000 1,00 1 000 Abacaxi Merc. Interno. No bananal (0,25) 700 0,85 600 Mandioca Merc. Interno. 0,25 500 1,00 500 Ornamentais* 0,04 (+0,06 no bananal) 300plantas 3.000 rizomas 1,00 0,30 300 900 Ovos Autoconsumo - 182 dz/ano 1,50/dz 273 Tabela 2. Consumo intermediário na UPA no período de um ano Insumos Quant. Área aplicada (ha) Cultura Custo (R$) Cama de poedeiras 36 m3 (3 caminh.) 3,3 Todas 745,00 (250/cam) Calcário de conchas 1,5 ton 3,3 Todas 150,00 Fosfato natural 1,5 ton 3,3 Todas 150,00 Dipel (inseticida biológico) 0,5 Kg 0,25 Abacaxi 19,00 Lonlife* 1L _ Toda produção de bananas 30,00 Aluguel de carro de boi _ Relação de troca** Banana 100,00 * Produto natural à base de aminoácidos usado no pós-colheita. ** O aluguel do carro de boi para o transporte das bananas do bananal até sua casa tem um custo de R$ 200,00, porém o produtor paga apenas R$ 100,00, devido ao empréstimo de seu potreiro durante alguns meses. 5 Cont. ANEXO 2. LEVANTAMENTO FLORÍSTICO 2-COMPOSIÇÃO 0 – 5m 5 – 10m 10 – 15m 15 – 20m DOMINANTES Erechthites. valerianaefolia E. valerianaefolia E. valerianaefolia COMPANHEIRAS E. valerianaefolia Vernonia sp. Bidens pilosa Bidens pilosa Sonchus l Plantago sp. Plantago sp. Plantago sp. Ruhmora adianthiformis Cuphea sp. Cuphea sp Phyllanthus sp Psychotria carthagenensis Thelypteris sp RARAS Poaceae Chaptalia sp Poaceae Poaceae Poaceae Apium sp Apium sp Hypoxis d b Pteridophyta Cf. Polygonum convolvulus Oxalis sp. Cf. Achyrocline sp Oxalis sp. PARCELA 2 Algumas considerações: -sobre a parcela: Área com pouca pedregosidade, de solo raso e um pouco inclinado, já que se localiza acima da Zona 1, no início da encosta. -sobre as bananeiras: Altura: 3,0m a 3,5m(fuste) – 5,5m a 6,0m (fuste + folhas); espaçamento: 2,5m x 2,5m. 1-COBERTURA DO SOLO 0 a 5m 5 a 10m 10 a 15m 15 a 20m ERETA 15% 50% 40% 20% PROSTADA 0% 0% 10% 0% LITTER 60% 30% 35% 60% SOLO NU 40% 20% 15% 40% 2-COMPOSIÇÃO 0 – 5m 5 – 10m 10 – 15m 15 – 20m DOMINANTES Erechthites valerianaefolia E. valerianaefolia E. valerianaefolia E. valerianaefolia COMPANHEIRAS RARAS Raphanus sp Poaceae Raphanus sp Pteridophyta Porophyllum sp PARCELA 3 Algumas considerações: -sobre a parcela: Localizada em área plana com solo bastante úmido. Neste local, após as chuvas, o solo fica encharcado, formando lâmina d’água sobre a superfície. Nesta parcela o solo é profundo, sendo a camada superficial bem mais argilosa que a camada subsuperficial, onde encontramos mais areia na textura do solo. Está localizada no pé da encosta. -sobre as bananeiras: Altura: 1,5m a 3,0m(fuste) – 2,5m a 5,0m (fuste + folhas);espaçamento: 3,0m x 3,0m 6 Cont. ANEXO 2. LEVANTAMENTO FLORÍSTICO 1-COBERTURA DO SOLO 0 a 5m 5 a 10m 10 a 15m 15 a 20m ERETA 5% 0% 5% 5% PROSTADA 10% 30% 40% 30% LITTER 90% 100% 90% 90% SOLO NU 0% 0% 5% 15% 2- COMPOSIÇÃO 0 – 5m 5 – 10m 10 – 15m 15 – 20m DOMINANTES Poaceae Poaceae Poaceae Tradescanthia sp COMPANHEIRAS Alternanthera Mikania sp Mikania sp Mikania sp Commmelina sp Poaceae RARAS Mikania sp Alternanthera sp Hydrocotyle sp Talinum paniculatum ZONA 3 PARCELA 1 Algumas considerações: -sobre a parcela:.Esta parcela pode ser subdividida em duas no sentido da toposeqüência: nos primeiros 15m, de baixo para cima, o solo é arenoso, com poucas pedras e a inclinação varia de 5 a 10%. No segundo trecho, de 15 a 20m, o solo é argiloso, a inclinação é superior a 10% e o terreno é pedregoso. -sobre as bananeiras: Altura: 2,0m a 2,5m(fuste) – 4,0m a 5,0m (fuste + folhas);espaçamento: 2,5m x 2,5m. 1-COBERTURA DO SOLO 0 a 5m 5 a 10m 10 a 15m 15 a 20m ERETA 50% 40% 30% 40% PROSTADA - 25% 20% 10% LITTER 40% 30% 30% 40% SOLO NU 10% 5% 20% 10% 7 Cont. ANEXO 2. LEVANTAMENTO FLORÍSTICO 2-COMPOSIÇÃO 0 – 5m 5 – 10m 10 – 15m 15 – 20m DOMINANTES Erechthites valerianaefolia E. valerianaefolia E. valerianaefolia E. valerianaefolia COMPANHEIRAS Sonchus oleraceus Gnaphalium sp Polygala sp Porophyllum sp Coniza chilensis Oxalis sp Oxalis sp Plantago sp Apium sp Apium sp RARAS Oxalis sp Oxalis sp Urtica sp Poaceae Sida sp Pteridophyta Apium sp Richardia sp Poaceae PARCELA 2 Algumas considerações: -sobre a parcela: Área de alta declividade, superior a 50%, com solo raso e bastante pedregoso. Localiza abaixo e a direita da Figueira (se estivermos localizados na Figueira), atravessada na toposeqüência. O solo parece seco e com baixa infiltração, devido a elevada declividade. -sobre as bananeiras: Altura: 2,0m a 2,5m(fuste) – 4,0m a 5,0m (fuste + folhas);espaçamento: 2,5m x 2,5m. 1-COBERTURA DO SOLO 0 a 5m 5 a 10m 10 a 15m 15 a 20m ERETA 50% 40% PROSTADA - - LITTER 50% 70% SOLO NU 50% 30% 2- COMPOSIÇÃO 0 – 5m 5 – 10m 10 – 15m 15 – 20m DOMINANTES Pteridophyta Pteridophyta Erechthites valerianaefolia E. valerianaefolia E. valerianaefolia E. valerianaefolia COMPANHEIRAS Pteridophyta Pteridophyta RARAS Vernonia sp Vernonia sp PARCELA 3 Algumas considerações: -sobre a parcela: Solo raso, com alta declividade (> que 45%) e com alta pedregosidade. As chuvas que ocorreram no final de ano, carregaram muito litter e solo, deixando linhas de drenagem. -sobre as bananeiras: Altura: 2,0m a 3,0m(fuste) – 4,0m (fuste + folhas);espaçamento: 2,5m x 2,5m. 10 Cont. ANEXO 2. LEVANTAMENTO FLORÍSTICO 2-REGENERAÇÃO DE ESPÉCIES ARBÓREAS E ARBUSTIVAS ZONA 1 PARCELA 1 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Machaerium stipitatum Fabaceaea Alecrim Potomorphe umbellata Piperaceae Pariparoba Trema micrantha Ulmaceae Crindiúva PARCELA 2 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Trema micrantha Ulmaceae Crindiúva Myrsine coreaceae Myrsinaceae Capororoca Piper gaudichaudianum Piperaceae Pau-de-junta Potomorphe umbellata Piperaceae Pariparoba Machaerium stipitatum Fabaceae Alecrim PARCELA 3 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Trema micrantha Ulmaceae Crindiúva Syagrus rommanzofiana Arecaceae Coqueiro Piper gaudichaudianum Piperaceae Pau-de-junta Potomorphe umbellata Piperaceae Pariparoba Machaerium stipitatum Fabaceae Alecrim Jacarandapuberula Bignoniaceae Carobinha Cedrela fissilis Meliaceae Cedro Schinus terebenthifolius Anacardiaceae Aroeira-vermelha Cinnamomum sp Lauraceae Canela ZONA 2 PARCELA 1 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Trema micrantha Ulmaceae Crindiúva Colubrina glandulosa Rhamnaceae Sobragi Piper gaudichaudianum Piperaceae Pau-de-junta Potomorphe umbellata Piperaceae Pariparoba Machaerium stipitatum Fabaceae Alecrim Erythroxylum sp Erythroxylaceae Cocão Cedrela fissilis Meliaceae Cedro Schinus terebenthifolius Anacardiaceae Aroeira-vermelha Cupania vernalis Sapindaceae Camboatá-vermelho Myrsine coreacea Myrsinaceae Capororoquinha Myrsine umbellata Myrsinaceae Capororoca Zanthoxylum sp Rutaceae Mamica-de-porca Alchornea sp Euphorbiaceae Tapiá Cecropia sp Cecropiaceae Embaúba 11 Cont. ANEXO 2. LEVANTAMENTO FLORÍSTICO PARCELA 2 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Trema micrantha Ulmaceae Crindiúva Colubrina glandulosa Rhamnaceae Sobragi Psychotria sp Rubiaceae Cafézinho Eryobotria japonica Rosaceae Nespêra Machaerium stipitatum Fabaceae Alecrim Cecropia sp Cecropiaceae Embaúba Myrsine coreacea Myrsinaceae Capororoquinha Schinus terebenthifolius Anacardiaceae Aroeira-vermelha Cupania vernalis Sapindaceae Camboatá-vermelho PARCELA 3 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Myrsine coreaceae Myrsinaceae Capororoquinha Ricinus communis Euphorbiacea Mamona Pseudobombax grandiflorum Bombacaceae Embira-vermelha ZONA 3 PARCELA 1 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Trema micrantha Ulmaceae Crindiúva Psidium guajava Myrtaceae Goiaba Piper gaudichaudianum Piperaceae Pau-de-junta Rubus sp. Rosaceae Framboesa Machaerium stipitatum Fabaceae Alecrim Sapium glandulatum Euphorbiaceae Leitero Cedrela fissilis Meliaceae Cedro Schinus terebenthifolius Anacardiaceae Aroeira-vermelha Campomanesia xanthocarpa Myrtaceae Guabiroba Myrsine coreacea Myrsinaceae Capororoquinha Myrsine umbellata Myrsinaceae Capororoca Zanthoxylum sp Rutaceae Mamica-de-porca Alchornea sp Euphorbiaceae Tapiá PARCELA 2 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Trema micrantha Ulmaceae Crindiúva Bauhinia cf. microstachya Caesalpinaceae Pata-de-vaca-de-baraço Piper gaudichaudianum Piperaceae Pau-de-junta Lonchocarpus cultratus Fabaceae Embira-de-sapo Machaerium stipitatum Fabaceae Alecrim Casearia sylvestris Flacourtiaceae Chá-de-bugre Aspidosperma australe Apocynaceae Guatambú 12 Cont. ANEXO 2. LEVANTAMENTO FLORÍSTICO Cont.PARCELA 2 Schinus terebenthifolius Anacardiaceae Aroeira-vermelha Campomanesia xanthocarpa Myrtaceae Guabiroba Myrsine coreacea Myrsinaceae Capororoquinha Cupania vernalis Sapindaceae Camboatá-vermelho Alchornea glandulosa Euphorbiaceae Tapiá PARCELA 3 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Trema micrantha Ulmaceae Crindiúva Bauhinia cf. microstachya Caesalpinaceae Pata-de-vaca-de-baraço Potomorphe umbellata Piperaceae Pariparoba Colubrina glandulosa Rhamnaceae Sobraji Machaerium stipitatum Fabaceae Alecrim Cupania vernalis Sapindaceae Camboatá-vermelho Luehea divaricata Tiliaceae Açoita-cavalo 3- ESPÉCIES CULTIVADAS E ARBÓREAS COM MAIS DE 5 CM DE DIAMÊTRO A ALTURA DO PEITO (DAP) ZONA 1 PARCELA 1 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Carica papaya Caricaceae Mamão Inga sp Mimosaceae Ingá de metro PARCELA 2 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Citrus sp Rutaceae Bergamota PARCELA 3 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Eryobotria japonica Rosaceae Nespêra Alchornea glandulosa Euphorbiaceae Tapiá Carica papaya Caricaceae Mamão ZONA 2 PARCELA1 ESPÉCIE FAMÍLIA NOME POPULAR Carica papaya Caricaceae Mamão Citrus sp Rutaceae Bergamota Euterpe edulis Arecaceae Palmito-jussara, Ripa Bromeliaceae Bromélias Colubrina glandulosa Rhamnaceae Sobraji Cajanus cajan Fabaceae Feijão-guandu
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