Baixe Aspectos clínicos, Patogênese e Diagnóstico de Trichomonas Vaginalis e outras Notas de estudo em PDF para Enfermagem, somente na Docsity! ARTIGO DE REVISÃO
REVIEM ARTICLE | Bras Pato! Med Lab ev 40 en. 3 p. 152.60 + junho 2004
DR im Aspectos clínicos, patogênese
Aceito para publicação em 21/10/03.
Bim ss e diagnóstico de Trichomonas vaginalis
Clinical aspects, pathogenesis and diagnostic of Trichomonas vaginalis
Gisele de Paiva Maciel"; Tiana Tasca"2; Geraldo Attilio De Carl”
resumo
Trichomonas vaginatis Trichomonas vaginalis é o agente etiológico da tricomoníase, a doença sexualmente transmissível (DST)
Vaginite não-viral mais comum no mundo. Esse protozoário flagelado atinge o parasitismo com sucesso em um
ambiente hostil através dos vários mecanismos pelos quais estabelece sua patogenicidade e também por
Gomimento vaginal sua capacidade de evadir a resposta imune do hospedeiro. A infecção apresenta uma ampla variedade
DST de manifestações clínicas, desde quadro assintomático até severa vaginite. A tricomoníase tem sido
Diagnóstico associada à transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV), à doença inflamatória pélvica,
ao câncer cervical, à infertilidade, ao parto prematuro e ao baixo peso de bebês nascidos de mães
infectadas. A investigação laboratorial é essencial na diagnose dessa patogenia, uma vez que leva ao
tratamento apropriado e facilita o controle da propagação da infecção. A prevalência mundial anual da
tricomoníase é de 180 milhões de casos, e na Europa é responsável por 41% dos casos de vaginite. A
terapia da tricomoníase inclui as mesmas medidas profiláticas destinadas às outras DSTs, como prática
de sexo seguro e uso de preservativos. O metronidazol é o medicamento de escolha no tratamento da
tricomoníase, entretanto, devido à ineficácia dos tratamentos de dose única e ao iminente surgimento
de cepas resistentes, outras alternativas terapêuticas estão sendo investigadas.
abstract
Trichomonas vaginalis is the aethiologic agent of trichomoniasis, the sexually transmitted disease (STD) non-viral | Trichomonas vaginalis
most common in the world. This flagellate protozoan successfully reaches the parasitism in a hostile environment
through some mechanisms which establish its pathogenicity and also through its capacity to evade the host
immune response. Trichomoniasis presents a large variety of clinical manifestations, from a totally asymptomatic Vaginal dischange
infection to severe vaginitis. It has been associated to the increase in transmission of the human immunodeficiency | sm
virus (HIV), pelvic inflammatory disease, cervical cancer, infertility, and premature delivery and low birth weight
of children bom from infected mothers. The laboratorial inquiry is essential in diagnosis of this STD, leads to
the appropriate treatment and facilitates the control of the spread of T. vaginalis infection. The annual world
prevalence of trichomoniasis is 180 million cases and in Europe it is responsible for 41% of vaginitis cases. The
treatment of trichomoniasis includes the same profilatic means devoted to others STDs, such as secure sex practice
and preservative use. Metronidazole is the choose for the treatment of trichomoniasis, however, due to the fail
in the single dose treatment and the imminent appearance of resistant strains, other therapeutic alternatives
are been investigated.
Vginitis
Diagnosis
1. Farmacêutica-bioquímica do Laboratório de Parasitologia Clínica da Faculdade de Farmácia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
2. Doutoranda em Ciências Biológicas/Bioquímica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
3, Doutor em Farmácia e Bioquímica pela UFRGS; professor-titular de Parasitologia Clínica do Laboratório de Parasitologia Clínica da Faculdade de Farmácia da PUCRS.
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| Introdução | [o)
Trichomonas vaginalis é o causador da doença sexu-
almente transmissível (DST) não-viral mais comum no
mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou
em 170 milhões os casos de tricomoníase no mundo anual-
mente em pessoas entre 15 e 49 anos, com a maioria (92%)
ocorrendo em mulheres!'9. Apesar da alta prevalência e dos
riscos associados à tricomoníase, pouco é conhecido sobre
a variabilidade biológica do parasito. O T. vaginalis não
é grande causador de segielas e, por isso, muitos clínicos
têm considerado a doença mais um incômodo do que
um problema de saúde pública!?. Entretanto o T. vaginalis
tem se destacado como um dos principais patógenos do
homem e da mulher e está associado a sérias complicações
de saúdet?”. Publicações recentes mostraram que o T.
vaginalis promove a transmissão do vírus da imunode-
ficiência humana (HIV)? “7; é causa de baixo peso em
bebês, bem como de nascimentos prematuros'”; predispõe
mulheres a doença inflamatória pélvica atípica!?, câncer
cervical. 25.43) e infertilidade».
A tricomoníase apresenta uma ampla variedade de
manifestações clínicas. Os sinais e sintomas dependem
das condições individuais, da agressividade e do número
de parasitos infectantes. Pode haver sintomas de severa
inflamação e irritação da mucosa genital, com presença
de corrimento, o que leva a paciente a procurar o médico.
Outras vezes a tricomoníase é assintomática e, ocasional-
mente, descoberta em um exame de rotinaG!. 39.
Embora a doença tenha sido diagnosticada e o protozoá-
rio descrito em 1836, o diagnóstico clínico e laboratorial
da tricomoníase, especialmente em homem, continua
apresentando inúmeras dificuldades. Um diagnóstico
clínico diferencial dessa doença, tanto no homem como
na mulher, dificilmente poderá ser realizado através de
sintomas e sinais específicos. A investigação laboratorial é
essencial na diagnose dessa patogenia, permitindo também
diferenciá-la de outras doenças sexualmente transmissíveis.
O tratamento da tricomoníase é específico e eficiente, por
isso tornam-se essenciais a identificação e o tratamento das
pessoas infectadas, evitando-se assim a transmissão sexual
do parasito(. 19.
CEEE parasito
OT. vaginalis é uma célula tipicamente elipsóide, pirifor-
me ou oval em preparações fixadas e coradas. As condições
físico-químicas (por exemplo: pH, temperatura, tensão de
oxigênio e força iônica) afetam o aspecto dos organismos,
que não possuem a forma cística, somente a trofozoítica.
O T. vaginalis possui quatro flagelos anteriores, desiguais
em tamanho, e uma membrana ondulante que se adere
ao corpo pela costa. O axóstilo é uma estrutura rígida e
hialina, formada por microtúbulos, que se projeta através
do centro do organismo, prolongando-se até a extremidade
posterior. O núcleo é elipsóide, próximo à extremidade
anterior. Esse protozoário é desprovido de mitocôndrias,
mas apresenta grânulos densos que podem ser vistos ao
microscópio óptico, os hidrogenossomost!: 35.
O T. vaginalis é um organismo anaeróbio facultativo.
Cresce perfeitamente bem na ausência de oxigênio na
faixa de pH compreendida entre 5 e 7,5 e em temperaturas
entre 20ºC e 40ºC. Como fonte de energia, o flagelado
utiliza a glicose, a maltose, a galactose. Os hidrogenosso-
mos são portadores de uma enzima piruvato: ferredoxina
oxidorredutase, capaz de transformar o piruvato em
acetato pela oxidação fermentativa e liberar adenosina
5"-trifosfato (ATP) e hidrogênio molecular. O T. vaginalis
é capaz de manter o glicogênio em reserva como forma
de energia!'9. Isso é importante para o parasito, pois o
ambiente vaginal é constantemente modificado por va-
riações de pH, hormônios, menstruação e fornecimento
de nutrientes. Os carboidratos são a principal fonte de
nutrientes para o T. vaginalis; no entanto, sob condições
em que tais compostos são limitados, a utilização de
aminoácidos torna-se vital. O T. vaginalis consome espe-
cialmente arginina, treonina e leucinaS9).
Manifestações clínicas
Na mulher
O T. vaginalis infecta principalmente o epitélio esca-
moso do trato genital2”, A tricomoníase apresenta grande
variabilidade de manifestações patológicas, desde a apre-
sentação assintomática até um estado de severa inflamação
(vaginite)9. Das mulheres infectadas, entre 25% e 50% são
assintomáticas, têm pH vaginal normal de 3,8 a 4,2 e flora
vaginal normal, Um terço das pacientes assintomáticas
torna-se sintomático dentro de seis meses”. É uma doença
de idade reprodutiva e raramente as manifestações clínicas
da infecção são observadas antes da menarca ou após a
menopausal.
Mulheres com vaginite aguda causada por T. vaginalis
frequentemente têm corrimento devido a infiltração por
leucócitos. A consistência do corrimento varia de acordo
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de ácidos graxos, já que o parasito é incapaz de sintetizar
lípideos(2. A hemólise pode ser mediada pela inserção de
poros na membrana da hemácia, formados pela liberação de
proteínas do tipo perforinas (possivelmente cisteína-protei-
nases) ou através da interação entre receptores eritrocitários
e adesinas do parasito, o que provoca a aderência entre as
células e a eritrofagocitose pelo protozoário! 37.10),
Embora os mecanismos contato-de pendentes tenham
um papel significante na patogênese da tricomoníase, me-
canismos contato-independentes estão também envolvidos.
Hemólise e citotoxicidade, por exemplo, não podem ser
explicados somente pelos mecanismos contato-dependen-
tes, já que esses efeitos podem ser vistos na ausência de
contato célula/célula. Estudos demonstraram que o CDF
causa efeitos citopatogênicos em células cultivadas in vitro.
Os níveis de CDF podem ser correlacionados com a severi-
dade dos sintomas clínicos da vaginite. A produção de CDF.
é influenciada pela concentração de estrógenos na vagina,
visto que, in vitro, a produção de CDF pelos tricomonas
diminui na presença de -estradiol. Isso pode explicar por
que a aplicação de pellets de estradiol intravaginais parece
melhorar os sintomas sem erradicar a infecçãoS9.
O T. vaginalis ativa a via alternativa do complemento.
O muco cervical é deficiente em complemento e o sangue
menstrual representa a única fonte de complemento na
vagina. Enquanto o número de organismos na vagina
diminui durante a menstruação, os fatores de virulência
mediados pelo ferro contribuem para a exacerbação dos
sintomas neste período. O ferro contribui para a resistência
ao complemento por regular a expressão de cisteína-pro-
teinases, que degradam a porção C3 do complemento
depositada sobre a superfície do organismo. Além disso, o
T. vaginalis pode se auto-revestir de proteínas plasmáticas
do hospedeiro. Esse revestimento impede que o sistema
imune reconheça o parasito como estranhoS9.
FERE nóstico
O diagnóstico da tricomoníase não pode ser baseado
somente na apresentação clínica, pois a infecção poderia
ser confundida com outras DSTs, visto que o clássico
achado da cérvice com aspecto de morango é observado
somente em 2% das pacientes, e o corrimento espumoso,
em somente 20% das mulheres infectadas. Se a clínica
fosse utilizada isoladamente para o diagnóstico, 88% das
mulheres infectadas não seriam diagnosticadas e 29%
das não-infectadas seriam falsamente indicadas como
tendo infecção. A investigação laboratorial é necessária
e essencial para o diagnóstico da tricomoníase, uma vez
que leva ao tratamento apropriado e facilita o controle da
propagação da infecção.
O exame de amostras vaginal e cervical pode revelar
alterações citomorfológicas induzidas pelos tricomonas. O
esfregaço é tipicamente rico em elementos polimorfonucle-
ares e há grande número de células epiteliais isoladas *».
Muitos desses estudos têm utilizado frequentemente
técnicas com relativamente baixa sensibilidade, como o
exame direto a fresco e preparações coradas, e, consegien-
temente, a prevalência de infecção por T. vaginalis pode ser
subestimada(*”.
O método de cultura é o padrão-ouro para o diagnóstico
porque é simples de interpretar e requer somente 300 a
500 tricomonas/ml de inóculo para iniciar o crescimento.
No entanto, são necessários alguns dias para a identificação
do parasito, tempo durante o qual os pacientes infectados
podem continuar a transmitir a infecção! 2:15:35.39), O sistema
de cultura InPouchTV, sensível como o método de cultura
tradicional, tem se mostrado uma alternativa eficiente e de
baixo custo! * 3».
Outra alternativa seria primeiro fazer uma triagem
pelo exame a fresco, que é relativamente fácil e rápido,
seguida pela cultura das amostras que foram negativas por
tal examet!?. Quando o exame microscópico é positivo, a
terapêutica apropriada poderá ser administrada ao paciente
antes mesmo do resultado da cultura!'?. Ainda assim, a
limitação da cultura e dos métodos microscópicos para a
detecção de infecção por T. vaginalis leva à necessidade de
desenvolvimento de métodos mais sofisticados).
O advento da técnica de reação em cadeia de polimera-
se (PCR) tornou-se uma nova alternativa diagnóstica. Muitos
testes com sensibilidade e especificidade próximas a 100%
têm sido desenvolvidos recentemente!?. Apesar disso, não
são utilizados rotineiramente no laboratório clínico devido
a seu alto custo.
Várias técnicas baseadas na reação antígeno-anticorpo,
que incluem aglutinação, fixação do complemento, hema-
glutinação indireta, difusão em gel, imunofluorescência"? e
técnicas imunoenzimáticas (ELISA, do inglês enzyme-linked
immunosorbent assay), têm sido utilizadas para demonstrar
a presença de anticorpos anti-tricomonas&9. Contudo, a
resposta por anticorpos depende de vários fatores, como a
natureza do antígeno, a forma livre ou inativa, a concentra-
ção no local e a duração da estimulação do sistema imune,
não substituindo os exames parasitológico e cultural. Por
isso os testes imunológicos não são rotineiramente usados
no diagnóstico dessa DSTO'9,
MACIEL G. Pet al Aspectos cínicos, patogênese e diagnóstico de Trchomonas vaginais + BasPatol Med Lab + w 40 en. 3 p. 152.60 + junho 2004
Epidemiologia e transmissão
A tricomoníase é a DST não-viral mais comum no
mundo, com 170 milhões de casos novos ocorrendo
anualmentel!?. A incidência da infecção depende de
vários fatores, incluindo idade, atividade sexual, número
de parceiros sexuais, outras DSTs, fase do ciclo menstrual,
técnicas de diagnóstico e condições socioeconômicas, entre
outros8%), Diferenças no padrão de vida, nível educacional
e higiene pessoal são fatores importantes que influenciam
na incidência da infecção. A prevalência é alta entre os
grupos de nível socioeconômico baixo, entre as pacientes
de clínicas ginecológicas, pré-natais e em serviços de do-
enças sexualmente transmissíveis (DST). A frequência de
infecção é menor em mulheres casadas (13,6%), quase o
dobro em viúvas e solteiras (22,7% a 25,6%) e três vezes
maior (37%) em mulheres divorciadas e separadas. O
baixo índice da tricomoníase em mulheres casadas é pos-
sivelmente devido ao fato de elas usarem contraceptivos
com propriedades tricomonicidas. Muitos investigadores
encontram um aumento da incidência da infecção de T.
vaginalis em mulheres grávidas, De acordo com Brown??,
esse aumento pode ser devido à interrupção do uso de
contraceptivos tricomonicidas, ao aumento na frequência
de relações sexuais e às mudanças hormonais que ocorrem
durante a gravidez.
A prevalência da tricomoníase aumenta com a idade, um
fenômeno que não é visto em outras DSTs, como gonorréia
ou infecção por Chlamydia trachomatis. Isso é consistente
com uma doença de longa duração, que é predominante-
mente assintomática'9.
O T. vaginalis é transmitido através da relação sexual e
pode sobreviver por mais de uma semana sob o prepúcio
do homem sadio após o coito com mulher infectada.
O homem é o vetor da doença: com a ejaculação, os
tricomonas presentes na mucosa da uretra são levados à
vagina pelo esperma. Apesar disso, transmissão não-sexual
teoricamente pode ocorrer em casos de duchas contami-
nadas, espéculos ou assento de vasos sanitários, segundo
alguns autores. O organismo, não tendo a forma cística, é
suscetível à dessecação e às altas temperaturas, mas pode
viver, surpreendentemente, fora de seu hábitat por algumas
horas, sob altas condições de umidade!?. O T. vaginalis
pode viver durante três horas na urina coletada e seis horas
no sêmen ejaculado!'3:39,
Na recém-nascida, a tricomoníase pode ocorrer durante
a passagem pelo canal do parto, em consegiência da infec-
ção materna, quando a mãe não tomou medidas profiláticas
contra a parasitose durante a gestação ou quando ainda
não iniciou o tratamento por não apresentar sintomas.
Aproximadamente 5% das neonatas podem adquirir a
tricomoníase verticalmente de suas mães infectadas. Na
ocasião do parto, o epitélio escamoso da vagina da recém-
nascida sofre ação de estrógenos maternos e pode permitir
a colonização do parasito. Entretanto esse efeito hormonal
desaparece em poucas semanas após o parto, tornando
o trato genital relativamente resistente à invasão do T.
vaginalis. Dessa forma, bebês teriam condições de eliminar
espontaneamente o parasito(”. Pode não ser necessário tra-
tar a tricomoníase levemente sintomática nas três primeiras
semanas de vida porque a infecção é autolimitadal9.
Embora o T. vaginalis seja transmitido por relação
sexual, certas circunstâncias levam à crença de que, teo-
ricamente, uma via não-venérea pode existir, explicando a
tricomoníase em meninas, incluindo recém-nascidas, assim
como em mulheres virgenst29. A tricomoníase é incomum
na infância (de 1 a 10 anos de idade), já que as condições
vaginais (baixo pH) não favorecem o desenvolvimento
da parasitose. Portanto, quando encontrada na criança,
deve ser cuidadosamente pesquisada, averiguando-se as
possibilidades tanto de abuso sexual quanto de outras
fontes de infecção, que não sexual2? Entretanto, na pré-
adolescência e na adolescência (dos 10 aos 18 anos de
idade), a tricomoníase tem maior possibilidade de ser re-
sultante de transmissão sexual. Além disso, a adolescência,
especialmente, é caracterizada por alta atividade estrogê-
nica que acompanha mudanças anatômicas e fisiológicas
dos órgãos genitais, incluindo aumento do pH vaginal,
que promove ambiente suscetível ao estabelecimento do
T. vaginalis?.
A taxa de prevalência da infecção em homens é pouco
conhecida, mas provavelmente é 50% a 60% menor que
em mulheres!29. A tricomoníase parece ser autolimitada em
muitos homens, possivelmente devido à ação tricomonicida
de secreções prostáticas ou à eliminação mecânica dos pro-
tozoários que se localizam na uretra durante a micçãoS9. Os
resultados dos estudos sobre a prevalência de T. vaginalis
em homens são variados. Alguns autores relatam que a
frequência da tricomoníase em homens é relacionada com
a frequência de uretrites inespecíficas; 10% a 20% destes
homens estão infectados por T. vaginalis. Uma incidência
de 20% a 30% de infecções por tricomonas foi encontrada
em homens cujas parceiras sexuais eram portadoras do
protozoário flagelado. Uma correlação positiva existe en-
tre presença desse parasito no trato urogenital masculino
e infertilidade; cerca de 10% de homens estéreis estão
infectados por T. vaginalis.
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| Terapia |
Incontestavelmente, o mecanismo de contágio da
tricomoníase é a relação sexual, portanto o seu controle
é constituído pelas mesmas medidas preventivas tomadas
no combate às outras DSTs. Na abordagem dos pacientes
com DST, são essenciais dados sobre data do último contato
sexual, número de parceiros, hábitos e preferências sexuais,
uso recente de antibióticos, métodos anticoncepcionais e
história pregressa deste tipo de doença. Convém salientar
que a presença de uma DST é fator de risco para outraf.
Preconizam-se estratégias de prevenção às DSTs, tais como:
1) prática de sexo seguro, que inclui aconselhamentos
que auxiliam a população a fazer as escolhas sexuais mais
apropriadas para a redução do risco de contaminação com
agentes infecciosos; 2) uso de preservativos; 3) abstinência
de contatos sexuais com pessoas infectadas; e 4) limitação
das complicações patológicas mediante a administração de
tratamento imediato e eficaz, tanto para os casos sintomá-
ticos como para os assintomáticos, ou seja, tratamento do
casal, mesmo que a doença tenha sido diagnosticada em
apenas um dos cônjuges: 4 38),
Em 1954, pela triagem de vários antibióticos, antima-
láricos e amebicidas, foi descoberta a azomicina (2-nitroi-
midazol). Através da manipulação da estrutura química
da azomicina foi sintetizado o metronidazol. Os fármacos
mais utilizados contra as infecções pelos tricomonas são
metronidazol, tinidazol, ornidazol, nimorazol, carnidazol,
secnidazol e flunidazolt'* 35.
O metronidazol penetra na célula através de difusão
e é ativado nos hidrogenossomos do T. vaginalisê. O
metronidazol possui substituintes nitro e a ativação se dá
pela redução destes grupos por ferredoxinas, encontradas
somente em organismos anaeróbios, daí sua toxicidade
seletiva?) Portanto o metronidazol pode ser considerado
um pró-fármaco, pois requer ativação metabólica. A ativi-
dade antimicrobiana provavelmente resulta da formação de
intermediários lábeis, quimicamente reativos, produzidos
durante a redução do grupo nitro. O mecanismo pelo
qual os intermediários lábeis matam organismos susce-
tíveis ainda não está totalmente esclarecido. Estudos
mostram que eles destroem as células através de reações
com macromoléculas intracelulares, como DNA, proteínas
e membranas!'é “2.
Muita atenção tem sido destinada aos relatos sobre
um potencial carcinogênico devido ao fato de que o tra-
tamento de longo prazo com altas doses de metronidazol
poderia induzir tumores nos pulmões de animais. Entre-
tanto dados clínicos sobre câncer provocado pelo uso de
metronidazol são raros, e suas vantagens no tratamento
da tricomoníase sobrepõem-se aos seus riscos. O fármaco
não deve ser administrado indiscriminadamente, e as do-
ses devem ser as mais baixas possíveis, O metronidazol
atravessa a barreira placentária e, por isso, não é indicado
para o tratamento de mulheres infectadas que estejam no
primeiro trimestre de gravidezº.
Embora o índice de cura seja excelente, frequente-
mente ocorrem falhas no tratamento devido a reinfecção
ou não-adesão à terapia. Outras razões propostas são
baixa concentração de zinco no soro, baixa absorção do
fármaco, distribuição não-efetiva do fármaco na região
genital ou inativação do fármaco por bactérias presentes
na flora vaginal das pacientes, Nas duas últimas décadas
foram descritas 20 linhagens de T. vaginalis resistentes ao
metronidazol na Europa, onde passou a ser uma ameaça
emergente(9. O tratamento desses casos é problemático,
podendo necessitar de altas concentrações de fármaco,
aumentando o risco de toxicidade.
Devido à frequência da infecção na gravidez, à toxici-
dade do metronidazol e ao aparente desenvolvimento da
resistência, alternativas terapêuticas aos 5-nitroimidazóis
estão sendo pesquisadas!º. 39.
A vacinoterapia é uma nova tentativa de tratamento
da tricomoníase. Cepas selecionadas de Lactobacillus aci-
dophillus são comercializadas como vacina sob o nome de
Solco-Trichovac e Gynatren. A média de cura, segundo
alguns autores, depois de três a quatro doses da vacina se
aproxima à dos nitroimidazóis( ».
EEN
Embora o T. vaginalis tenha sido descrito pela primeira
vez em 1836, por Donné, a pesquisa sobre este parasito só
se iniciou no século 20. Estudos bioquímicos, fisiológicos,
morfológicos e, mais recentemente, imunológicos e técni-
cas de biologia molecular têm fornecido muita informação
sobre os aspectos clínicos e a patogênese do T. vaginalis.
Entretanto os mecanismos da patogenicidade ainda não
estão totalmente esclarecidos. A ação dos parasitos sobre
as células do hospedeiro através da aderência e da citoto-
xicidade demonstra que mecanismos contato-dependentes
e contato-independentes coexistem na patogênese da
tricomoníase.
Apesar de a tricomoníase ser geralmente assintomática
no homem, na mulher pode variar desde discreta a severa
vaginite. Essa parasitose é a DST não-viral mais comum no