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Terceiro Consenso de Granada, Notas de estudo de Farmácia

Terceiro Consenso de Granada

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010
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Baixe Terceiro Consenso de Granada e outras Notas de estudo em PDF para Farmácia, somente na Docsity! Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Henrique Mateus Santos Paula Iglésias Ferreira Patrícia Lopes Ribeiro Inês Cunha Ae q” GRUPO DE INVESTIGAÇÃO EM CUIDADOS FARMACÊUTICOS DA UNIVERSIDADE LUSÓFONA 2007 v 02.07 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Autores: Henrique Mateus Santos!, Paula Iglésias Ferreira!, Patrícia Lopes Ribeiro?, Inês Cunha? 1) Mestre (DEA) em Farmácia Assistencial pela Universidade de Granada. Farmacêutico. Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona (GICUF-ULHT). 2) Licenciada em Ciências Farmacêuticas. Farmacêutica. 3) Licenciada em Ciências Farmacêuticas da Universidade Lusófona. Farmacêutica. Master en Atención Farmacéutica pela Universidade de Granada. Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico. GICUF-ULHT 01/2007 (12 edição). Versão online. Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 2 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Módulo | Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Objectivo O objectivo deste módulo é definir os conceitos relacionados com a prestação de cuidados farmacêuticos no âmbito do seguimento farmacoterapêutico para farmacêuticos assistenciais (comunitários e hospitalares). Conceito de Seguimento Farmacoterapêutico Em 1980, Brodie, descrevia Cuidados Farmacêuticos como a prática profissional que “inclui a determinação da necessidade dos medicamentos necessários para uma situação individual e o fornecimento não só do medicamento, mas também dos serviços necessários (antes, durante e depois do tratamento) de modo a assegurar uma segurança óptima e a efectividade da terapêutica”, Foi, contudo, só em 1990 que Hepler e Strand ao publicarem o artigo “Opportunities and responsibilities in pharmaceutical care” demonstraram claramente que o envolvimento dos farmacêuticos na avaliação dos resultados clínicos produzidos pelos medicamentos podia contribuir para a redução da morbi-mortalidade relacionada com os mesmos. Surge assim, o conceito que os Cuidados Farmacêuticos tinham como objectivo principal auxiliar os doentes a obterem o máximo benefício da sua medicação?. Os medicamentos permitem tratar ou prevenir uma doença, retardar a progressão desta ou atenuar os seus sintomas, além de auxiliarem no diagnóstico clínico (Figura 1). Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 5 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Curar ou controlar ER EE Objectivo Figura 1. Objectivo dos Medicamentos No entanto, estes mesmos medicamentos podem, em alguns casos, falhar quando provocam efeitos adversos, toxicidade ou não alcançam os objectivos terapêuticos para os quais estão destinados. Deste modo, os medicamentos podem originar problemas de segurança e/ou de eficácia (Figura 2). As falhas da farmacoterapia provocam um aumento da morbilidade, da mortalidade e, consequentemente, dos gastos em saúde, constituindo assim um problema de saúde que surge quando se verifica o binómio medicamento -doente. Eleitos adversos ATA [E Figura 2. Falhas da Farmacoterapia Em 1993, na segunda reunião da OMS sobre as funções do farmacêutico no sistema de cuidados de saúde, foi salientada a necessidade do maior envolvimento dos farmacêuticos na avaliação dos resultados da utilização dos medicamentos, assim como noutros aspectos dos cuidados de saúde”. Outro marco importante para a clarificação deste conceito foi a resolução do Comité de Ministros do Conselho da Europa que, em 2001, de modo claro e objectivo, reforçou a necessidade do farmacêutico se envolver na avaliação dos resultados obtidos com a farmacoterapia interagindo com o doente e com os outros profissionais de saúde'. Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 6 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Também o Estatuto da Ordem dos Farmacêuticos, no ano de 2001, aprovado pelo Decreto-Lei nº 212/79 de Julho, refere que “a primeira responsabilidade do farmacêutico é para com a saúde e o bem-estar do doente". O farmacêutico passou a sentir-se comprometido com o doente, em colaboração com os outros profissionais de saúde, na obtenção de resultados concretos em relação ao estado de saúde do seu doente. Pode definir-se Cuidados Farmacêuticos como a participação activa do farmacêutico na assistência ao doente na dispensa e no seguimento de um tratamento farmacoterapêutico, cooperando, deste modo, com os outros profissionais de saúde com o objectivo de alcançar resultados que melhorem a qualidade de vida do doente, incluindo-se também, o envolvimento do farmacêutico em actividades que proporcionem boa saúde e previnam doenças?*. A falta de informação por parte do doente acerca da sua medicação constitui uma fonte potencial de Resultados Negativos associados à Medicação (RNM) que podem afectar a sua saúde. Vários estudos revelam o impacto da morbilidade associada aos medicamentos. Num estudo realizado nos Estados Unidos da América em 1996, os Resultados Negativos associados à Medicação (RNM) constituíram a segunda causa de intemamento evitável, logo a seguir ao cancro e seguidos do enfarto do miocárdio, diabetes mellitus e asma (Figura 4). Baena, durante o ano de 2000/2001 estudou a prevalência de Resultados Negativos de Medicação na urgência do Hospital Universitário Virgien de las Nieves em Granada. Foram entrevistados 2556 doentes. A prevalência de RNM foi de 33,17% (IC de 95%), dos quais 73,13% foram considerados evitáveis. O custo total dos RNM considerados evitáveis atendidos no mesmo hospital com referência ao ano de 2001 foi de quase 12 milhões de Euros?º. O farmacêutico desempenha um papel fundamental no fornecimento de informação e seguimento qualificado da terapêutica do doente, pois é o profissional de saúde com formação especifica em medicamentos e, também, maior acessibilidade por parte dos doentes, colaborando deste modo na redução da morbilidade e da mortalidade associadas aos medicamentos !º. Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 7 Introdução ao Seguimento Farm acoterapêutico Módulo Il Resultados Negativos associados à Medicação (Terceiro Consenso de Granada) Objectivo O objectivo deste segundo módulo é enunciar o conceito de Resultados Negativos associados à Medicação (RNM) e a sua classificação. Conceito de Resultado Negativo associado à Medicação A realização de Seguimento Farmacoterapêutico é um exercício profissional que consiste em procurar, identificar, prevenir e resolver os Resultados Negativos associados à Medicação (RNM). Os Resultados Negativos associados à Medicação (RNM) são definidos como resultados na saúde do doente não adequados ao objectivo da farmacoterapia e associados ao uso ou falha no processo de utilização dos medicamentos. É definida como suspeita de RNM a situação em que o doente está em risco de sofrer de um problema de saúde associado ao uso de medicamentos, geralmente devido à existência de um ou mais Problemas Relacionados com os Medicamentos (PRM), os quais podemos considerar como factores de risco destes RNM. Sendo que os PRM são todas aquelas situações, que durante o processo de utilização dos medicamentos, podem causar o aparecimento de um Resultado Negativo associado à Medicação!!, Quando os objectivos terapêuticos não são alcançados ou quando, como consequência da utilização de um medicamento, aparece um novo problema de saúde, é quando podemos afirmar que existe o que definimos como sendo um RNM. Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 10 Introdução ao Seguimento Farm acoterapêutico Os RNM referidos são de três tipos, relacionados com a necessidade do medicamento por parte do doente, com a sua efectividade ou com a sua segurança. À sua classificação é efectuada em seis categorias, que por sua vez se agrupam em três supra categorias, como se apresenta na Figura 5. Figura 5. Classificação de Resultados Negativos da Medicação (Terceiro Consenso de Granada) Na identificação de cada RNM procede-se do seguinte modo: Os medicamentos são necessários? e Não Efeito de medicamento não necessário Os medicamentos são efectivos? e Não Depende da quantidade? *» Não- Inefectividade não quantitativa * Sim - Inefectividade quantitativa O medicamento é seguro? e Não Depende da quantidade? * Não Inseguridade não quantitativa * Sim - Inseguridade quantitativa Falta alguma medicação para os problemas de saúde (que não estejam relacionados com PRM já identificados)? e Sim - Problema de saúde não tratado Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 11 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Entende-se que: e Um medicamento é necessário quando foi prescrito (médico) ou indicado (farmacêutico) para um problema de saúde concreto que o doente apresenta; e Um medicamento não é efectivo quando não atinge suficientemente os objectivos terapêuticos esperados; e Um medicamento não é seguro quando produz ou agrava algum problema de saúde; e Um RNM considera-se quantitativo quando depende da magnitude do efeito. Em conclusão, é necessário solucionar o problema da má utilização dos medicamentos que na actualidade constitui um problema de saúde de grande magnitude. A solução passa por um melhor controlo da farmacoterapia, através da realização de seguimento farmacoterapêutico para assim evitar o aparecimento de RNM. Resultado Negativo associado à Medicação. Efeito Quantitativo e não Quantitativo Um resultado clínico negativo da farmacoterapia é a manifestação da inefectividade ou da inseguridade da utilização de um medicamento por parte de um doente. Um medicamento sendo inefectivo não produz o efeito desejado e sendo inseguro provoca um novo problema de saúde ou agrava um problema de saúde já existente. O conceito de quantidade associado aos RNM traduz-se no facto do efeito produzido por um medicamento ser dependente da quantidade efectiva do medicamento que o produz. Considera-se, deste modo, que um excesso de medicamento pode produzir uma inseguridade quantitativa e que a insuficiência do medicamento pode produzir uma inefectividade quantitativa?. Por exemplo a acarbose, um inibidor da alfa-amilase pancreática e da alfa-glucosidase intestinal, atrasando a absorção da glucose, provoca com alguma frequência um problema de segurança associado a dor intestinal, flatulência e diarreia. Está descrito na literatura que a acarbose pode provocar estes efeitos que podem ser agravados com o excesso de hidratos de carbono da dieta e que, normalmente, existe melhoria do problema com a redução da dose de acarbose. Na realidade, muitos doentes que sentem estes sintomas provocados pela acarbose, ao reduzir a quantidade do medicamento melhoram substancialmente destes efeitos. Este é um exemplo de um efeito quantitativo, isto é, de uma inseguridade quantitativa da acarbose que se encontra em excesso e que ao ser reduzida poderá contribuir para que se reduzam ou desapareçam os problemas de saúde apresentados. Por outro lado, os RNM podem também ser provocados por medicamentos independentemente da quantidade efectiva que produz o efeito, isto é, certos resultados clínicos surgem porque o medicamento não faz o efeito que se espera, independentemente da quantidade e também porque provocam problemas de seguridade que também, não dependem da quantidade do medicamento. O exemplo mais paradigmático da inseguridade não quantitativa é o caso da tosse, por vezes noctuma e seca, provocada pelo captopril, um problema de saúde provocado pelo aumento da bradicinina a nível pulmonar, que, de acordo com a documentação científica recente, não depende da quantidade do medicamento. Estamos, neste caso, perante uma inseguridade não quantitativa, isto é, o efeito não desaparecerá se reduzirmos a quantidade Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 12 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Casos Práticos Caso Prático 1 (explicado): Um doente do sexo masculino está a tomar, há cerca de três anos, Captopril (Capoten?) 25 mg antes das três refeições principais. Os valores de Pressão Arterial medidos pelo farmacêutico foram de 167/90mmHg e de 164/89 mmHg em dois dias consecutivos, respectivamente. Durante a entrevista inicial o doente refere que muitas vezes não toma a medicação sobretudo o comprimido da hora de almoço. Na avaliação da farmacoterapia o farmacêutico identifica um RNM de inefectividade quantitativa. A causa deste Resultado Negativo associado à Medicação é a falta de adesão à terapêutica. O farmacêutico realiza uma intervenção no sentido do doente cumprir a medicação prescrita. Após 12 dias o doente apresentou valores de pressão arterial normais. Elabore um estado de situação utilizando o impresso do anexo 2 (Estado de Situação). Caso Prático 2 (explicado): Um doente do sexo masculino está a tomar, há cerca de três meses, captopril 25 mg (CapotenQ)) antes das três refeições principais. Os valores de Pressão Arterial medidos pelo farmacêutico são 139/85. O doente cumpre a medicação. Durante a entrevista inicial o doente queixa-se que desde há cerca de um mês começou a sentir uma tosse seca, irritante que “quase não o deixa dormir” e que “não se encontra sequer constipado”. Na avaliação da farmacoterapia o farmacêutico após a consulta a um Centro de Informação de Medicamentos (CIM)IS identificou uma Inseguridade Não Quantitativa, devida ao Captopril uma vez que está descrito na literatura que os Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina (IECA) podem produzir esse tipo de situação e que pode aparecer até 9 meses após o início da medicação. Além disso o farmacêutico teve a informação, através da documentação enviada pelo CIM, que esse efeito negativo do captopril não desapareceria com a redução da dose mas sim com a alteração do medicamento. O farmacêutico envia um relatório farmacoterapêutico ao médico, através do doente. O médico substitui o IECA por valsartan, um Antagonista da Recaptação da Angiotensina II(ARA). Após uma semana a tosse seca que o doente se queixou desapareceu totalmente e os valores de pressão arterial continuaram normais. Elabore um Estado de Situação utilizando o impresso do anexo 2 (Estado de Situação). Para estudar o caso prático deve consultar as seguintes fontes de informação (http:/Auww. infarmed. pt/infomed/inicio. php): Resumo das Características do Medicamento Capoten 25, comprimidos Resumo das Características do Medicamento Aspirina 100, comprimidos Resumo das Características do Medicamento Glucobay 100, comprimidos Prontuário Terapêutico (http: //www.infarmed.pt/prontuario/index.php Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 15 Introdução ao Seguimento Farm acoterapêutico Módulo HI Método para Realizar Seguimento Farmacoterapêutico (Método Dáder) Objectivo O objectivo deste módulo é ensinar um método de seguimento farmacoterapêutico (SF) que permita: 1. Identificar todos os Resultados Negativos Associados à Medicação (RNM) de um doente; 2. Resolver todos os Resultados Negativos associados à Medicação (RNM) identificados no doente. Conceitos De um modo geral, o Método de SF baseia-se na obtenção da História Farmacoterapêutica do doente, isto é, nos problemas de saúde que este apresenta, nos medicamentos que utiliza e na avaliação do seu Estado de Situação numa determinada data, de forma a identificar e resolver os possíveis Resultados Negativos associados à Medicação (RNM) que o doente apresenta. Após esta identificação realizam-se as intervenções farmacêuticas necessárias para resolver os RNM e posteriormente avaliam-se os resultados obtidos 17 18, O Método Dáder de Seguimento Farmacoterapêutico é um método simples, que permite ao farmacêutico aplicar os seus conhecimentos sobre problemas de saúde e medicamentos, com o objectivo de atingir resultados concretos que melhorem a qualidade de vida dos seus doentes, resolvendo os Resultados Negativos associados à Medicação (RNM). O Método Dáder foi desenvolvido pelo Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade de Granada nos anos 90 e é a ferramenta de trabalho de muitos farmacêuticos comunitários e hospitalares, que praticam seguimento farmacoterapêutico. Este método, para além de proporcionar procedimentos simples para se realizar seguimento farmacoterapêutico, também é um método de formação contínua (Programa Dáder), baseado na técnica de “aprender-fazendo”, que visa melhorar a competência e a qualidade da Intervenção Farmacêutica na área da farmacoterapia!. Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 16 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Entende-se por Problema de Saúde (PS) a seguinte definição, “qualquer queixa, observação ou facto que o doente e/ou o médico percepcionam como um desvio à normalidade e que afectou, possa afectar ou afecte a capacidade funcional do doente”. A Intervenção Farmacêutica (IF) é o que diferencia a dispensa de medicamentos do SF e define-se como a acção do farmacêutico que visa melhorar o resultado clínico dos medicamentos, mediante a alteração da utilização dos mesmos. Esta intervenção enquadra-se dentro de um plano de actuação acordado previamente com o doente. O Plano de Actuação é o conjunto de intervenções que o doente e o farmacêutico acordam realizar, para resolver os RNM detectados por este. O Plano de Seguimento é o programa de visitas acordado entre o doente e o farmacêutico para assegurar que os medicamentos que o doente toma são apenas aqueles que ele necessita e que continuam a ser os mais efectivos e seguros possível. Fases do Seguimento Farmacoterapêutico O Método de SF tem um procedimento concreto em que se elabora um Estado de Situação objectivo do doente, e a partir do qual vão resultar as correspondentes Intervenções Farmacêuticas, em que cada farmacêutico, em conjunto com o doente e o seu médico, decide a acção a tomar em função dos seus conhecimentos e das condições particulares de cada caso. O procedimento do SF contém as seguintes fases (Figura 8): Figura 8. Fases do Seguimento Farmacoterapéutico Passamos a descrever cada uma dessas etapas: Fase prévia (Oferta do Serviço): Selecciona-se um doente de entre os que frequentam a farmácia (seja qual for a sua patologia) e que esteja a utilizar medicamentos ou que necessite de os utilizar (Figura 9). Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 17 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico - Obter informação complementar útil para a avaliação posterior, detendo-se onde seja necessário, incluindo dieta ou hábitos do doente. Por exemplo, se é um doente a tomar antidiabéticos orais (deve-se perguntar quantas calorias tem a dieta prescrita). Quer as situações fisiológicas (gravidez, lactantes) como as alergias a medicamentos, são extremamente importantes para a avaliação da terapêutica, pelo que não devem passar despercebidas. O farmacêutico também deve informar-se sobre os hábitos sociais do doente, por exemplo, cafés, álcool, hábitos tabágicos, etc. Se se justificar, isto é, se o doente tiver algum problema de saúde que necessite de medições de parâmetros biológicos, então o farmacêutico deve fazer as medições necessárias, se tiver equipamento e respeitando os procedimentos adequados. Anotam-se também os dados do doente que o farmacêutico considera mais relevantes. Esta parte pode-se ir completando nas visitas sucessivas. O registo do número de telefone é imprescindível para que se possa combinar uma data ou para perguntar algo ao doente, que se considere importante no momento de fazer a avaliação e que se tenha esquecido de perguntar na primeira visita. Termina-se a visita transmitindo ao doente, que nos parece que vale a pena trabalhar juntos e que seguramente conseguiremos tirar melhor partido dos resultados obtidos com a sua medicação, que estudaremos com detalhe toda a informação e que o contactaremos para combinar uma visita onde o informaremos de tudo. Estado de situação: O objectivo desta fase é dispor resumidamente da informação mais relevante obtida na primeira visita, de forma que a partir deste impresso seja mais fácil estudar os medicamentos (utilizados ou por utilizar), face aos problemas de saúde do doente (Figura 11). Também se anotam aqui, como veremos mais adiante, os novos medicamentos e os novos problemas de saúde que surjam em visitas posteriores para voltar a fazer um novo estudo e uma nova avaliação. Quando surgem novos problemas de saúde anota-se se o preocupam Bastante (B), Regular (R) ou Pouco (P). Se um problema de saúde não estava controlado e passou a estar tem de registar-se esta nova informação. Quando surgem novos medicamentos anota-se a dose diária, se cumpre (Bem, Regular, Mal) e se conhece (Bem, Regular, Mal). Qualquer alteração na dose ou intervalo de toma tem de ser registado. Em suma, qualquer alteração num dos parâmetros do estado de situação tem de ser registada e terá de se estudar tudo novamente, após a elaboração de um novo estado de situação. Geralmente, considera-se que os problemas de saúde referidos na 12 fase da entrevista (pergunta aberta) são os que preocupam mais o doente. Os problemas de saúde obtidos durante a fase do “saco” (perguntas fechadas) são os que o preocupam regular e os obtidos na fase de revisão, geralmente, são os que o preocupam pouco. É evidente que, por vezes, existem alguns aspectos que embora só detectados na revisão podem preocupar bastante o doente. É o caso de problemas do foro íntimo ou sexual, que só quando o doente ganha algum grau de confiança com o farmacêutico os refere. Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 20 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Figura 11. Estado de Situação Fase de estudo: Nesta fase estudam-se todos e cada um dos medicamentos que o doente está a utilizar, procurando uma possível relação com os seus problemas de saúde. Também se estuda toda a informação necessária sobre cada problema de saúde (Figura 12)?º. Esta fase tem de ser repetida de forma completa, cada vez que se produzir uma nova situação, por exemplo: de alteração de dose, de medicamento ou se surgir um novo problema de saúde. Figura 12. Fase de Estudo Fase de avaliação: Depois do estudo de cada medicamento e problema de saúde, procura-se e identifica-se as suspeitas de RNM, de acordo com a classificação de RNM do Terceiro Consenso de Granada (Figura 13). NECESSARIO? EFECTIVO? SEGURO? Figura 13. Fase de Avaliação Utiliza-se a sistemática de identificação de RNM (Ver página 12). Plano de actuação: Registam-se todas as suspeitas de RNM encontradas, quer sejam RNM manifestados ou não. Priorizam-se e decidem-se as actuações para resolver os RNM identificados, assim como se elabora a estratégia para a monitorização do doente (Figura 14). Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 21 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Figura 14. Plano de actuação Intervenção Farmacêutica: Comunica-se ao doente o resultado negativo detectado e a proposta de solução, combinando-se com ele como resolvê-lo. Também se estabelece uma data para uma próxima visita, que pode ser presencial ou telefónica, com o objectivo de avaliar a resolução ou não do resultado negativo da medicação (Figura 15). A intervenção farmacêutica representa a penúltima etapa de cada ciclo de seguimento farmacoterapêutico que termina na avaliação dos resultados clínicos alcançados pelo doente. Define-se Intervenção Farmacêutica como a acção do farmacêutico que visa melhorar o resultado clínico [clinical outcome] dos medicamentos, mediante a alteração da utilização dos mesmos?!, Figura 15. Intervenção Farmacêutica A intervenção farmacêutica pode ser realizada de duas formas: e Farmacêutico - Doente: se o RNM se deve a causas derivadas do uso do medicamento por parte do doente; e Farmacêutico - Doente - Médico: se a estratégia delineada pelo médico não atinge os efeitos esperados, ou se se trata de um problema de saúde que necessite de diagnóstico médico. A intervenção Farmacêutico-Doente realizar-se-á de uma forma verbal ou escrita, conforme decisão do farmacêutico, com o intuito de obter o maior êxito possível. Contudo, a Intervenção Farmacêutico-Doente- Médico realizar-se-á com uma comunicação escrita, que deve conter os seguintes itens: Apresentação do Doente: referindo todos os dados do doente (problemas de saúde e medicamentos) imprescindíveis para abordar o problema. Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 22 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Resolução de um Caso prático de Seguimento Farmacoterapêutico João tem 66 anos. Está reformado, situação que o leva a ter uma vida um pouco sedentária. No dia 4 de Outubro de 2006, na entrevista inicial, queixa-se ao farmacêutico estar muito preocupado com a “diabetes que lhe apareceu há cerca de 5 anos.” Desde essa altura que toma Glibenclamida 5 mg antes das três principais refeições. Desde há cerca de 4 anos que tem a pressão arterial alta, que está sempre controlada pois toma captopril 25 mg antes do pequeno-almoço e do jantar, desde Setembro de 2005 e amlodipina 5 mg que já toma desde Outubro de 2002 ao pequeno-almoço. O farmacêutico realiza a entrevista inicial e na parte final executa alguns testes analíticos. Detectou que o doente apresenta valores de colesterol total de 301 mg/dl e o valor de glicemia em jejum de 240 mg/dl. A pressão arterial está a 123/78 mm de Hg. O Índice de Massa Corporal (IMC) é de 31,1. Resolução do caso: Após a entrevista inicial o farmacêutico elabora o Estado de Situação. Coloca em cada linha do Estado de Situação o Problema de Saúde e o Medicamento que o trata. Após a Fase de Estudo avalia-se a farmacoterapia (parte amarela do impresso), elaborando-se as perguntas da sistemática de identificação de RNM. A Glibenclamida é necessária para tratar a Diabetes? Está a ser efectiva? Está a ser segura? Como existe uma resposta negativa para a efectividade da glibenclamida, o farmacêutico pergunta se esta inefectividade depende da quantidade? A resposta é que não depende da quantidade identificando-se assim um RNM de inefectividade não quantitativa, uma vez que a magnitude do efeito não depende da quantidade do medicamento mas sim da alteração do esquema terapêutico, isto é, vai ser necessário adicionar um novo medicamento uma vez que a glibenclamida já está a ser tomada numa quantidade suficiente (15 mg/dia) e de acordo com a literatura consultada, o doente, sendo obeso, pode estar com a resistência à insulina aumentada. Repete-se a sistemática para a medicação da Pressão Arterial. A última pergunta é se existe algum problema de saúde que não se encontra tratado. A resposta é afirmativa para o colesterol total que se encontra a 301 mg/dl, identificando-se uma Necessidade de Medicação ou seja um RNM por problema de saúde não tratado, de acordo com a classificação do Terceiro Consenso de Granada (Figura 5). Imprima um impresso do Estado de Situação (anexo 2) e tente elaborar um Estado de Situação para este caso prático. Corrija o Estado de Situação que elaborou com o caso resolvido que se apresenta a seguir: Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 25 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Doente nº 35-00 - 17787 - 00001 Sexo:M Idade: 66 anos Data: 4/10 /06 Estado de | Caracterização do doente: IMC = 31,1, Reformado, vida sedentária situação Probl de Saúd P Data início robiema de Saúde Data início Substância activa Posologia | Cu 2001 A.Diabetes não controlada B 12001 1.Glibenclamida 5mg 1/1/1 B 2002 B. HTA elevada Controlada R |10-2002 2.Amlodipina 5 mg 1/0/0 B 09-2005 3.Captopril 25 mg 1/0/1 B 4-10-2006 €. Colesterol total não controlado P Data Pressão arterial (mmHg) Glicémia jj (mg/dl) | Colesterol (mg/dl) 28/9/06 124/79 239 303 30/9/06 128/80 260 P — Grau de preocupação para o doente. 2/10/06 125/80 320 4/10/06 123/78 240 301 Cu - Grau de adesão à terapêutica (cumprimento) Co — Grau de conhecimento das precauções de utilização do medicamento Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 26 Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA Doente nº: 35 /00/XXXXX /00001 Data:7/10/06 RNM tipo: Problema de saúde não tratado Manifestado ou não manifestado: Manifestado Medicamento (s): Não existe Problema de Saúde: Colesterol total elevado (303 mg/ml) 1. DESCRIÇÃO DO RNM. O doente sofre de um problema de saúde associado ao facto de não receber a medicação que necessita. 2. CAUSA: 4. Nenhuma das anteriores. 3. QUE SE PRETENDE FAZER PARA RESOLVER O RNM: Iniciar a medicação para controlar o colesterol total. 4. VIA DE COMUNICAÇÃO: 4. Escrita farmacêutico — doente — médico 5. RESULTADO: (após a intervenção) Data:21/11/06 P. Saúde P. Saúde Resolvido Não resolvido Intervenção aceite X Intervenção não aceite 6. O QUE ACONTECEU? O médico prescreveu atorvastatina 10 mg para baixar o colesterol total. Após 6 semanas de tratamento e melhoria do regime alimentar o doente tinha o colesterol inferior a 200 mg/ml. 7. Nº DE MEDICAMENTOS QUE ESTAVA A TOMAR (na data da intervenção): 3 Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 27 16. 17. 18. 19. 20. 21. Introdução ao Seguimento Farmacoterapêutico Iglésias P. Cuidados farmacêuticos no tabagismo. Lisboa: 1 Curso de Formação Pós- Graduada, 2005. Machuca M, Fernández-Llimós F, Faus MJ. Método Dáder. Manual de Seguimento Farmacoterapêutico (versão em português europeu). 32 edition. Lisboa: Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona - Grupo de Investigación en Atención Farmacéutica (Universidad de Granada), 2005. Caelles N, Ibánez J, Machuca M, Martinez-Romero F, Faus MJ. Entrevista farmacéutico-paciente en el Programa Dáder de seguimiento farmacoterapéutico. 4. Madrid: saned, 2002:55-9. Faus MJ, Fernández-Llimós F, Martinez-Romero F. Programa Dáder de Seguimiento del Tratamiento Farmacológico-Casos clínicos. 1a edition. Barcelona: Grupo de Investigación en Atención Farmacéutica.Universidad de Granada, 2001. Solá N. Curso de Atención Farmacéutica de Seguimiento Farmacoterapéutico (Mét.Dáder): Fase de estudio de la metodologia Dáder de Seguimiento Farmacoterapéutico con el paciente(Curso 10). El Farmacéutico 2002; 282:68-73. Santos HJ. Intervenção farmacêutica no seguimento farmacoterapêutico. Mundo Farmacêutico 2005; 3(16):424. Grupo de Investigação em Cuidados Farmacêuticos da Universidade Lusófona 30 Anexo 1 (História Farmacoterapêutica) HISTÓRIA FARMACOTERAPÊUTI CA Doente nº: |35|- / / NOME: DATA: Método Dáder. Manual de Seguimento Farmacoterapêutico PRIMEIRA VISITA Doente nº: 315 / / PROBLEMAS / PREOCUPAÇÕES DE SAÚDE Controlado | Início 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. SACO COM MEDICAMENTOS Medicamento 1 CUMPRE: B;RM CONHECE: B,RM 1. está a tomá-lo? 6. quanto? 2. quem o receitou? 7. como? 3. para quê? 8. até quando? 4. está melhor? 9. dificuldade na utilização? 5. desde quando? 10.algum problema? Método Dáder. Manual de Seguimento Farmacoterapêutico Ea REVISÃO - CABELO: - CABEÇA: - OLHOS, OUVIDOS, NARIZ, GARGANTA: - BOCA (ferida, seca) - PESCOÇO: - MÃOS (dedos, unhas) - BRAÇOS E MÚSCULOS: - CORAÇÃO: - PULMÃO: - APARELHO DIGESTIVO: - RINS (urina) - FÍGADO: - APARELHO GENITAL: - PERNAS: - PÉS (dedos, unhas, ..) - MÚSCULOS ESQUELÉTICOS (gota, dor nas costas, tendinite...) - PELE (seca, erupções...) - PSICOLÓGICO (depressão...) - NEUROLÓGICO (epilepsia...) - IMC: - PARÂMETROS: (temperatura, PA, colesterol, glicose...) - CIGARROS: - ALCOOL: - CAFÉ: - CHÁS: - OUTRAS DROGAS: - OUTROS HÁBITOS ANORMAIS (actividade física, dieta...) - VITAMINAS E SAIS MINERAIS: - VACINAS: - ALERGIAS A MEDICAMENTOS E/OU RAM: - SITUAÇÕES FISIOLÓGICAS (e data) - OBSERVAÇÕES: OUTROS DADOS DO DOENTE - Telefone: - Morada - Profissão: Data de nascimento: - Médico de família: - Médicos especialistas - Cuidador: MINUTOS: Assinatura do Farmacêutico: Método Dáder. Manual de Seguimento Farmacoterapêutico Anexo 2 (Estado de Situação) ESTADO DE SI TUAÇÃO [ Doente: DATA: [ sexo: IDADE: IMC: ALERGIAS: ESTADO DE SI TUAÇÃO AVALIAÇÃO LF PROBLEMAS DE SAÚDE MEDI CAMENTOS Problemas de Saúde Início | Controlado | Preocupa | Início | Medicamento | Posol. | Cu/Co | N | E |S| Suspeita de | (Data) (p-a.) PRM SESERVAÇÕES: DATA PARÂMETROS Anexo 3 (Folha de Intervenção) INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA Doente nº! 3/5 - - Data de Início: 1! PRM tipo: Lia To Tosa Ta TOS Tãoes PRM [] Risco de PRM: [] Medicamento(s): Problema de Saúde: DESCRI çÃo DO PRM (começar com Necessidade - ou não -, Inefectividade ou Insegurança). CAUSA: Interacção Incumprimento Duplicidade PL no Nenhuma das anteriores (Descrever) QUE SE PRETENDE FAZER PARA RESOLVER O PRM: VIA DE COMUNICAÇÃO: 1. Oral farmacêutico — Doente 2. Escrita farmacêutico — Doente 3. Oral farmacêutico - Doente — médico 4. Escrita farmacêutico — Doente — médico RESULTADO: P. Saúde P Saúde não Resolvido Resolvido Intervenção Aceite Intervenção Não aceite O QUE ACONTECEU? Nº MEDICAMENTOS QUE ESTAVA A TOMAR (na data da intervenção): | Nº VISITAS ANTERIORES À RESOLUÇÃO: Datafim daintervenção: | Grupo de Investigação em Atenção Farmacêutica. Universidade de Granada
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