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Guias e Dicas
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A Filosofia da Alcova, Notas de estudo de História

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Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 01/04/2008

bruno-machado-11
bruno-machado-11 🇧🇷

5 documentos

Pré-visualização parcial do texto

Baixe A Filosofia da Alcova e outras Notas de estudo em PDF para História, somente na Docsity! Marquês de Sade A FILOSOFIA NA ALCOVA (La Philosophia. dans le boudoir) PREFÁCIO À EDIÇÃO ORIGINAL Habent sua fata libelli. Os maus livras também têm seu destino. A obra que estamos em vias de entregar ao público chocará, sem dúvida, aos leitores menos avisados. A crueza das cenas de deboche e a violência dos ataques a todos os princípios da moral consagrada abalam mesmo ao espírito mais habituado a leitura fortes. A depravada orgia da imaginação do famigerado Marquês é tamanha que ninguém o superou até agora e sua obra é, ainda hoje, o melhor documento dos desvarios a que pode atingir a mente humana Nada ele respeita. A religião, a moral, os costumes, os mais puros sentimentos de família a amizade, os nobres impulsos do coração humano são vilipendiados por este espírito doentio e degenerado. Aqueles que tiveram oportunidade de se informar sobre a patologia do espírito humano, os que se interessam pelo estudo das anormalidades sexuais, não estranharão, evidentemente, este pesadelo monstruoso. Para estes, a presente obra valerá como um texto para estudo. Nenhum sexólogo, nenhum psiquiatra, poderá ignorar este documento. Aí está nossa justificação, ao publicá-lo. Ainda mais. Para os leitores e mesmo para os inexperientes, esta leitura, estamos certos, jamais será perniciosa. O espírito são repelirá sua brutal pornografia e sua álgida libidinagem. Quem dispuser de um sólido patrimônio moral repudiará, automaticamente, as elucubrações extravagantes e infantis do autor e, certamente, robustecerá suas crenças e seus princípios ante a insanidade de seus cínicos argumentos. Aliás, para invocar ainda uma verdade consagrada: é preciso conhecer o mal para saber evitá-lo. Quem foi, entretanto, o Marquês de Sade? Donatien Alphonse de Sade nasceu em dois de junho de 1740. Contava quatro anos quando foi viverem companhia de sua avó em Avinhão. Três anos mais tarde, passou a morar com um tio que o educou até 1750, época em que foi enviado ao colégio Luis-le-Grand, em Paris. Ao sair do colégio, ingressa na Cavalaria Ligeira. Chega logo a alferes do Regimento Real e em seguida a capitão do 7° de Cavalaria, com o qual participa, na Alemanha, da Guerra dos Sete Anos. Regressa a Paris em 1763 e no mesmo ano se casa por imposição da família. Aqui começa o drama. Sade ama, na realidade, a irmã daquela que lhe destinam e seus futuros sogros, percebendo isso, internam-na num convento. O casamento realiza-se, entretanto. Revoltado, Sade se entrega ao deboche - em companhia de conhecidos libertinos, como o Duque de Fronsac e o Príncipe de Lamballe. Em consequência, mas por motivo não perfeitamente esclarecido, é preso e internado em Vincennes por dois meses. Até 1768 decorre sem novidade sua existência. É então que ocorre o célebre caso de Rosa Keller, prostituta ou simples mendiga que Sade sequestra numa sua propriedade e a quem sevicia, chegando mesmo a feri-la em várias partes do corpo com uma navalha. Segue-se outro período de tranquilidade até 1772: o Marquês vive em suas propriedades da Provença. Sua mulher vem reunir-se, então, a ele e comete a imprudência de trazer consigo a irmã recém saída do convento. Sade não resiste. Faz a côrte à sua cunhada e como esta resista, embora o ame, engendra um estratagema para rendê-la. Em Marselha, acompanhado de seu fiel criado, compra uma caixa de bombons e neles mistura cantárida. Vai depois a um meretrício e serve as guloseimas às rameiras que, excitadas pela droga, entregam-se à maior orgia, promovendo grande escândalo. Era o que desejava. De posse de uma ordem de prisão que ele mesmo faz questão de obter de um seu amigo membro da justiça, apresenta-se à sua cunhada e declara-lhe que foi em consequência de sua recusa que praticou aquilo e que se submeterá ao castigo, ao suplício da roda, se ela não o acompanhar na fuga. Recolhe-se com ela em Florença, na Itália, e aí vive alguns anos. Com a morte de sua companheira volta para a França, onde é PRIMEIRO DIÁLOGO Madame de Saint Ange, Cavalheiro de Mirvel.. MADAME - Bom dia meu irmão; Dolmancé não vem? MIRVEL - Chegará às quatro em ponto. Como jantamos somente às sete, teremos muito tempo para conversar. MADAME - Sabe que me arrependo um pouco da minha curiosidade e dos projetos obscenos que fizemos para hoje? Você é muito indulgente, querido! Justo quando eu deveria ser bem comportada é que se me aquece a imaginação, e mais libertina me tomo: como você me perdoa tudo, fico cada vez mais mimada... Aos vinte e seis anos, já deveria ser uma beata e não passo da mais devassa de todas as mulheres... Não se pode ter uma idéia de tudo quanto imagino, de tudo quanto quisera fazer; acreditava que, me limitando às mulheres, conseguiria tranquilidade; que meus desejos, uma vez concentrados em meu sexo, não transbordariam sobre o seu. Quiméricos projetos, meu amigo, os prazeres de que desejava me privar pareceram-me ainda mais tentadores e me apercebi de que, quando se nasceu para a libertinagem, é inútil querer dominar-se: os fogosos desejos irrompem com mais força. Enfim, querido, sou um animal anfíbio: gosto de tudo, tudo me diverte; quero conhecer todos os gêneros; confesso que é uma extravagância completa de minha parte querer conhecer esse singular Dolmancé, que, como diz você, nunca possuiu as mulheres como o costume o prescreve, que, sodomita por princípio, idolatra o próprio sexo e só se rende ao nosso sob a cláusula especial de lhe oferecermos os encantos que está acostumado a encontrar entre os homens. Veja, meu irmão, que bizarra fantasia! Quero ser o Ganimede desse novo Júpiter, quero gozar de seus gostos, de seus deboches, quero ser a vítima dos seus erros. Saiba que, até agora, dessa maneira só a você me entreguei, por prazer, ou a certo criado que, pago para me possuir desse modo, só o fazia por interesse. Hoje, não é mais por complacência nem por capricho, mas sim por puro gosto... Creio que haverá uma notável diferença entre as duas experiências e quero conhecê-la. Descreva-me bem Dolmancé, afim de que o tenha na idéia antes que ele chegue; sabe que o conheço apenas por tê-lo encontrado durante alguns minutos numa casa onde estivemos. MIRVEL - Dolmancé acaba de completar trinta e seis anos; é alto, lindo aspecto, olhos vivos e espirituosos; mas algo de dureza e de maldade transparece nos seus traços. Tem dentes lindíssimos; um certo dengue no mover a cintura e no andar, certamente pelo hábito de imitar as mulheres. É elegantíssimo, tem voz agradável, várias habilidades e sobretudo espírito filosófico. MADAME - Bem, espero que ele não acredite em Deus... MIRVEL - Que idéia! É o mais célebre ateu, o homem mais imoral, a corrupção mais completa e integral, o mais celerado dos indivíduos que possam existir. MADAME - Como tudo isso me excita! Vou adorar esse homem. Quais os seus gostos? MIRVEL - Você bem sabe: as delícias de Sodoma, tanto passivas como ativas, são-lhe sempre agradáveis. Prefere os homens, e se consente em se divertir com mulheres é sob a seguinte condição: trocar de sexo com ele, prestando-se a todas as inversões. Falei-lhe de você, eu o preveni de suas intenções; aceita as suas propostas mas, por sua vez, avisa-a das suas condições. Você não obterá nada dele se pretender induzí-lo a outra coisa. "O que consinto em fazer com sua irmã", diz ele, "é uma extravagância... Uma brincadeira que me repugna e à qual só me entrego raramente e tomando muitas precauções". MADAME - Repugnância... Precauções... Que interessante a linguagem desses moços amáveis! Nós, as mulheres, temos também palavras como estas, particularíssimas, que provam o profundo horror que nos domina por tudo quanto não se refira ao culto de nossa devoção... Diga-me, meu caro, ele já o possuiu? Com seu lindo corpo e seus vinte anos pode, creio, cativar um homem como esse! MIRVEL - Creio que posso revelar as extravagâncias que juntos praticamos: você tem suficiente espírito para não os censurar. Geralmente amo e prefiro as mulheres; entrego-me a este gozo bizarro apenas quando tentado por um homem excepcionalmente encantador. Nesse caso nada há que eu não faça. Não estou absolutamente de acordo com a ridícula pretensão dos nossos rapazolas que respondem com bengaladas a semelhantes propostas. O homem é senhor de suas próprias inclinações? Não devemos jamais insultar os diferentes, mas lamentá-los; os seus defeitos são defeitos da natureza. Eles não são culpados de ter nascido com gostos diferentes, assim como ninguém tem culpa de ser coxo ou bem feito de corpo. Aliás, quando um homem confessa que nos deseja, diz-nos, por acaso, uma coisa desagradável? Evidentemente que não; é um cumprimento que ele nos faz; para que, pois, responder com injúrias ou insultos? Só os imbecis pensam assim, nunca um homem razoável dirá coisa semelhante. Isto acontece porque o mundo está povoado por idiotas que se julgam ofendidos quando a gente os considera aptos para o prazer e que, mimados pelas mulheres, sempre ciumentas de seus direitos, imaginam ser os Dom Quixotes desse falsos privilégios, brutalizando aqueles que não os reconhecem. MADAME - Beije-me, meu caro. Eu não o reconheceria como meu irmão se você pensasse de outra maneira. Dê-me, entretanto, mais informações sobre o aspecto desse homem e sobre os prazeres que juntos gozaram. MIRVEL - Dolmancé tinha sido informado por um dos meus amigos do soberbo membro que possuo, e fez com que o Marquês de V. nos convidasse a cear. Uma vez em casa do Marquês tive que exibi-lo; pensei, a princípio, que fosse apenas curiosidade mas em breve percebi que era outro o motivo quando Dolmancé voltou-me um lindo cu, pedindo-me que gozasse dele. Eu o preveni das dificuldade da empresa. Ele nada temia. "Posso suportar um aríete", disse-me, "e não tenha você a pretensão de ser o mais temível dos homens que o penetraram". O Marquês estava presente e nos estimulava, acariciando, apertando e beijando tudo que nós puxávamos para fora. Ponho-me a prepará-lo enquanto apresento armas... Mas o Marquês me avisa: "Nada disso, você tiraria metade do prazer que Dolmancé espera; ele quer uma violenta estocada, quer que o rasguem". Pois será satisfeito, exclamei, mergulhando cegamente no abismo... Pensa, minha irmã, que tive trabalho; nada disso, meu membro enorme desapareceu sem que eu sentisse e eu toquei o fundo de suas entranhas sem que o tipo desse qualquer sinal de sofrimento. Tratei-o como amigo, torcia-se no excesso da volúpia, dizia palavras doces, e parecia felicíssimo quando o inundei. Quando me desocupei dele, voltou-se com os cabelos em desordem e o rosto em chamas: veja em que estado você me pôs, querido disse-me, oferecendo um membro seco e vibrante, muito longo e fino. Suplico-lhe, meu amor, queira servir-me de mulher depois de ter sido meu macho, para que eu possa dizer que nos seus braços divinos experimentei todos os prazeres do culto que venero. Cedi a seu pedido achando tudo isso bastante fácil, mas o Marquês, tirando as calças, suplicou-me que o enrabasse enquanto era fodido pelo seu amigo. Tratei-o como Dolmancé, que me devolvia ao cêntuplo todos os golpes com os quais eu abatia nosso parceiro e logo me derramou no fundo do cu o celeste licor com que eu regava ao mesmo tempo o eu do Marquês de V. MADAME - Que prazer delicioso deve ser esse entre duas picas! Dizem que é gostosíssimo! MIRVEL- Certamente, meu anjo, é um orifício delicioso, mas tudo isso não passa duma extravagância que eu nunca preferirei ao prazer que me dão as bocetas. MADAME - Pois bem, meu caro, para compensar hoje sua delicada atenção, vou entregar aos seus ardores uma jovem, virgem e linda como os amores. MIRVEL - Como? Então Dolmancé vai encontrar mais uma mulher nesta casa? MADAME - Trata-se de educar a menina que conheci no convento o ano passado, enquanto meu marido fazia uma estação de águas. Lá nada ousamos fazer, éramos o alvo de todos os olhares. Prometemos reciprocamente nos unirmos assim que fosse possível. Perseguida por esse desejo, para satisfazê-lo, travei conhecimento com toda a família. O pai é um libertino que eu consegui cativar. A linda menina chega hoje e passaremos dois dias juntas, dois dias deliciosos. A maior parte desse tempo empregarei em educá-la. Dolmancé e eu inculcaremos nessa linda cabecinha todos os princípios da libertinagem mais desenfreada; abrazá-la-emos com o nosso ardor. Alimentando-a com a nossa filosofia, inspirar-lhe-emos nossos desejos. Quero juntar a prática à teoria, quero demonstrar, à medida em que eu dissertar. Você está destinado a colher os mirtos de Citéra e Dolmancé as rosas de Sodoma. Terei dois prazeres a um tempo, dando lições e gozando eu própria dessas volúpias criminosas, inspirando esse gosto x amável ingênua que cairá na minha rede. Não acha esse projeto digno de minha imaginação? MIRVEL - Essa idéia só a você poderia ocorrer, prometo-lhe representar com perfeição o papel encantador que me destina. Ah, malandra, como você vai gozar fazendo a educação da pequena! Que delícia corrompê-la, abafar nesse jovem coração todas as sementes de virtude e religião, aí colocadas por suas mestras. Na verdade, mesmo para mim, essa idéia seria ousada. MADAME - Nada pouparei para pervertê-la, para degradá-la, para pôr de pemas para o ar todos os princípios de moral que já começam a atordoá-la. Em duas lições quero que se tome tão celerada, ímpia e debochada como eu. Avise Dolmancé, ponha-o ao par do que se deve passar. Que o veneno da sua imoralidade circule nesse jovem coração junto ao que eu mesma lá instilarei. Havemos de desenraizar em poucos instantes todas as sementes de virtude que lá pudessem germinar. MIRVEL - Seria impossível encontrar homem mais adequado. A irreligião, a impiedade, a desumanidade, a libertinagem, fluem dos lábios do Dolmanoé como outrora a unção mística fluía dos lábios do arcebispo de Cambrai; é o mais inveterado sedutor, o homem mais corrompido e perigoso.. Ah! minha cara, que a sua discípula corresponda aos cuidados do mestre e garanto que estará perdida num abrir e fechar de olhos. MIRVEL - Diga-me, porém, não receia nada da parte de seus pais? E se ela der com a língua nos dentes? MADAME - Não tenha receio, eu já seduzi o pai, pertence-me. Confesso que me entreguei a ele para que fechasse os olhos. Ignora os meus desígnios e nunca ousará penetrá-los. Domino-o. MIRVEL - Os seus processos são horríveis. MADAME - E assim devem ser para que sejam eficazes. MIRVEL - Diga-me, afinal, de quem se trata.' MADAME - Chama-se Eugênia, é a filha de um tal Mistival, um dos mais ricos arrecadadores de impostos. Tem trinta e seis anos, a mulher trinta e dois, a filha quinze. Mistival é tão libertino quanto sua mulher é beata. Quanto à Eugênia, em vão tentaria pintá-la, faltam-me os pincéis. Pode estar convencido de que nem você nem eu vimos no mundo criatura tão maravilhosa. MIRVEL- Já que você não a pode pintar, ao menos faça um esboço para que alimente a minha imaginação com o ídolo em cujo altar sacrificarei. MADAME - Pois bem, os longos cabelos castanhos, que descem até as coxas, a pele é de uma brancura de neve, o nariz aquilino, os olhos ardentes e negros como ébano, aos quais ninguém resiste. Quanto a mim, não imagina as tolices que faria por eles. Os cílios são traçados a pincel, até as pálpebras são expressivas, a boca é pequena, úmida e fresca, os dentes perfeitos. Um de seus maiores encantos está na elegância com que sua linda cabeça se ergue dos ombros, no ar de nobreza que tem quando a volve. Eugênia é desenvolvida para sua idade, parece ter dezessete anos; a cintura é fina e os peitinhos cheios, de uma beleza incomparável! Dão apenas para encher a mão de um homem honesto, tão macios e brancos... Perco a cabeça quando os beijo! Sob as minhas carícias ela se anima, a alma transparece no brilho de seus olhos. Não conheço o resto, mas a julgar pelo que já vi, jamais teve o Olimpo semelhante divindade... Ouço barulho: é ela! Saia pela porta do jardim para não a encontrar e venha na hora exata. MIRVEL - Como não hei de chegar na hora, para contemplar o que você tão bem descreveu? Nem sei como sair no estado em que me encontro... veja só, dê-me ao menos um beijo, minha irmã, para que me satisfaça até então! (Madame beija-o, acaricia-lhe o pênis intumescido sob as calças, e ele sai precipitadamente). DOLMANCÉ - Muito mais! (Agarra a moça tentando voltá-la de costas para examinar o traseiro). EUGÊNIA - Ah, não, ainda não... Suplico-lhe! MADAME - Ainda não, Dolmancé. Espere. Essa parte do corpo exerce sobre você um tal império que você perderia completamente a cabeça e não saberia mais refletir a sangue frio. Antes disso precisamos de suas lições. Vamos a elas; em seguida, os mirtos que deseja colher incontinenti formarão sua coroa. DOLMANCÉ - Consinto, mas ao menos a senhora, Madame, terá a bondade de se prestar ao meu desejo para dar a essa linda criança as primeiras aulas de libertinagem. MADAME - Pois não. Aqui metem nuazinha: pode fazer sobre mim todas as experiências. DOLMANCÉ - Que lindo corpo! É a própria Vênus, embelezada pelas Graças! EUGÊNIA - Querida, quantos atrativos! Quisera percorrê-los todos, um a um, cobrindo-os de beijos. (Se bem o diz, melhor o faz). DOLMANCÉ - Você mostra excelentes disposições... Contenha-se um pouco, porém, só quero, por enquanto, que me preste toda a sua atenção. EUGÊNIA - Estou ouvindo tudo quanto diz, mas minha amiga é tão bela, tão fresca, tão gorduchinha... Não a acha linda, senhor Dolmancé? DOLMANCÉ - Claro que acho, perfeitamente bela, mas tenho a certeza de que você em nada lhe cede a palma. Quero que me ouça com atenção, como jovem aluna; se não for dócil e atenta usarei amplamente dos direitos que confere o título de professor. MADAME - Ela é sua, entrego-lha, ralhe muito com ela se não tiver juízo... DOLMANCÉ - É que não ficarei somente nos ralhos... Irei mais longe. EUGÊNIA - Meu Deus, estou ficando apavorada. Que faria então de mim? DOLMANCÉ, balbuciando e beijando a boca de Eugênia - Ai, esse lindo cu vai ser responsável por todas as loucuras que eu cometer. (Agarra o traseiro de ambas). MADAME - Aprovo o projeto mas não o gesto. Comecemos logo, o tempo voa e Eugênia tem que partir. Não o percamos em preliminares, ou não a educaremos... DOLMANCÉ, tocando, em madame, todas as partes nas quais vai falando - Começo. Aqui estes globos de carne que se chamam peitos, seios ou mamas, são indispensáveis ao prazer; o amante deve contemplá-los, manuseá-los, acariciá-los. Há homens que fazem deles a sede do gozo, introduzem o membro entre essas duas colinas de Vênus; com alguns movimentos apenas conseguem derramar sobre eles o bálsamo delicioso que, ao fluir da fonte, faz a delícia de todos os libertinos. Não acha, madame, que antes de tudo devemos mostrar à menina como é feito esse membro sobre o qual somos obrigados a falar continuamente? MADAME - Tem toda a razão. DOLMANCÉ - Pois bem, senhora. Vou deitar-me sobre o canapé; ambas se colocarão junto a mim; a senhora tomará do meu membro e explicará à nossa jovem aluna todas as suas propriedades. (Dolmancé deita-se enquanto Madame começa a explicação). MADAME - Você está contemplando aqui o centro de Vênus, o primeiro agente dos prazeres amorosos, o membro por excelência., que se pode introduzir em todos os lugares do corpo humano. Sempre dócil às paixões do seu possuidor, ás vezes se aninha entre as pemas, na boceta (toca a de Eugênia) seu trilho preferido, o mais percorrido e usado; às vezes, porém, prefere um caminho mais misterioso e penetra por aqui (afasta as nádegas mostrando o orifício do cu). Mais tarde lhe explicarei melhor esse gozo, dos mais íntimos e deliciosos. A boca, os seios, as axilas também são altares onde ele queima incenso, enfim, por onde quer que penetre, seja qual for o local preferido, ele se agita até lançar o licor da vida, esbranquiçado e viscoso, cujo fluir mergulha o macho no mais vivo delírio, no mais doce prazer que possa esperar da vida. EUGÊNIA - Deixe-me, por favor, pegar nesse lindo membro e acariciá-lo. DOLMANCÉ - Ceda-lhe a vez, senhora, essa ingenuidade pruduz-me louca tensão. MADAME - Não, oponho-me a tal ansiedade. Tenha juízo, Dolmancé, se você esporrar terá diminuído a atividade do seu espírito e suas dissertações perderão o calor. EUGÊNIA, acariciando os testículos do moço - Nossa amiga resiste aos meus desejos! E essas bolas para que servem? Como se chamam MADAME - A palavra técnica é culhão, a artística é testículo. Esses bagos contém o reservatório da semente prolífera na qual falei, é a ejaculação dentro da matriz da mulher que produz a espécie humana; mas deixemos essas minúcias que mais pertencem à medicina do que à libertinagem. Uma linda mulher só se deve ocupar em foder e nunca em gerar. Passemos de leve sobre tudo quanto diz respeito ao prosáico mecanismo da multiplicação da espécie para nos ocuparmos principal e unicamente das volúpias libertinas, cujo espírito é oposto ao povoamento da, terra. EUGÊNIA - Querida amiga, como é possível que esse membro enorme, que eu mal consigo abarcar com a mão, possa penetrar, como você me afirma, num orifício tão minúsculo como o do teu traseiro? Que dor horrível deve causar a uma pobre mulher! MADAME - Quando a mulher ainda não está acostumada sente muita dor, quer a introdução se faça pela frente ou por detrás. A natureza se compraz em nos fazer chegar à felicidade pelo caminho doloroso, mas uma vez a dor vencida, nada mais delicioso do que o prazer. A introdução do membro no cu é incontestavelmente preferível a tudo, mesmo à introdução bocetal. Além disso, quantos perigos evita à mulher, que arrisca menos a saúde e não corre perigo de engravidar. Neste momento não me quero alongar nessa volúpia, pois nosso mestre a analisará inteiramente, juntando a prática à teoria, e estou certa de que ficará convencida, minha cara, que de todos os prazeres, é o que se deve preferir. DOLMANCÉ - Suplico-lhe, senhora, que seja rápida nas suas demonstrações, ou não me será possível aguentar, farei a descarga mau grado meu, e o meu belo membro reduzido a nada, de nada servirá nestas lições. EUGÊNIA - Como é possível que fique reduzido a nada ao perder o esperma? Estou louca para ver essa transformação, sem falar no prazer que terei vendo correr o celeste licor. MADAME - Nada disso, Dolmancé, levante-se. Isso deve ser o prêmio do seu trabalho; faça-o por merecê-lo antes que eu lho entregue. DOLMANCÉ - Está bem, mas para melhor convencer Eugênia de tudo quanto lhe dissermos sobre o prazer, que nconveniente haveria, por exemplo, em que a senhora a masturbasse diante de mim? MADAME - Nenhum inconveniente, pelo contrário, vou fazê-lo com alegria pois pode até ser útil às nossas demonstrações. Sente-se neste canapé, querida. EUGÊNIA - Oh! Que delicioso ninho! Mas para que tantos espelhos? MADAME - Isso é para que, refletindo as posições em mil sentidos diversos, eles multipliquem ao infinito os mesmos prazeres aos olhos das pessoas que as observam neste divã. Nenhuma das mais lidas partes dos dois corpos se esconde, tudo fica em evidência, dir-se-iam grupos diversos que o amor encadeia, quadros deliciosos que excitam a lubricidade e servem para completá-la. EUGÊNIA - Que maravilhosa invenção! MADAME - Dolmancé, você mesmo despirá a vítima do doce sacrifício... DOLMANCÉ - Nada mais fácil, basta tirar esta gaze para distinguir os mais íntimos e atraentes refolhos. (Despe-a e seu olhar concentra-se nas nádegas). Vou vê-lo enfim, o cu divino e precioso que tanto ambiciono! Queima-me o desejo. Como é rechonchudo, fresco, brilhante e bem feito! Nunca vi mais belo! MADAME - Ah, canalha, vê-se de que lado se inclinam seus prazeres e suas preferências! DOLMANCÉ - Poderá haver no mundo algo comparável? Onde teria o amor seu mais divino altar? Eugênia, que minhas carícias mais doces caiam sobre ele, com todo o arroubo! (Acaricia-o e beija-o com transporte e efusão). MADAME - Basta, libertino. Não se esqueça que tenho a primazia, somente depois que eu receber suas homenagens é que lhe darei recompensa. Pare com esse ardor pois, do contrário, me zangarei DOLMANCÉ - Safadinha, não é necessário tanto zelo! Pois bem, dê-me seu cu que lhe renderei as mesmas homenagens. (Arranca-lhe a túnica para acariciar-lhe as nádegas). Também é lindo, meu anjo, e delicioso. Quero compará-los, admirá-los ao mesmo tempo um junto ao outro, corno Ganimede ao lado de Vênus! (Distribui beijos inflamados). Para que meus olhos se fartem no espetáculo de tanta beleza, quero que se enlacem e ambas me apresentem essas maravilhosas nádegas que fazem meu enlevo; cus divinos que adoro! MADAME - Pronto, seu desejo será satisfeito. Aqui nos tem. (Enlaçadas, voltam para Dolmancé a parte dileta). DOLMANCÉ - Impossível presenciar mais belo espetáculo, é justamente com o que sonhava. Quero que se acariciem reciprocamente as bocetinhas, pois assim os cus se agitarão nas mais lúbricas labaredas voluptuosas; que se levantem e se abaixem em cadência, que sigam as comoções do prazer. Ó gostosura, assim, assim! EUGÊNIA - Como isto é gostoso, querida! Como se chama o que estamos praticando? MADAME - Chama-se masturbação, querida, mas agora examine melhor minha boceta ou vagina, que são os nomes mais familiares do templo de Vênus. Vou entreabrir para você, como a corola duma flor, essa gruta encantada. Esta elevação é o monte de Vênus, que se veste de pelos aos quinze anos, quando a mulher começa a menstruar. Essa lingueta ao alto chama-se clitóris, que em grego quer dizer colina, nesse ponto se concentra a sensibilidade da mulher; é o foco, a chave do cofre do amor. A menor carícia me transporta e me dá espasmos de prazer. Veja, toque-me! Ai! Como sabe acariciar, dir-se-ia que você passou a vida inteira nessa doce tarefa! Pare um pouquinho, não aguento mais, não quero gozar já. Dolmancé, ajude-me, estou perdendo completamente a cabeça com as carícias dessa menina encantadora. DOLMANCÉ - Para retardar o prazer, passe agora você a titilá-la e que ela seja a primeira a gozar. Assim, nessa postura. Esse lindo cu se coloca naturalmente ao alcance da minha mão; enfiarei ao menos um dedo. Vamos, Eugênia, abandone-se, entregue-se inteiramente, com todos os sentidos, ao prazer. Que somente ele seja o Deus da sua existência, única divindade à qual uma jovem deve sacrificar tudo. Que somente o prazer seja sagrado aos seus olhos! EUGÊNIA - Ó gostosura, 6 delicia, nem posso exprimir o que sinto, nem sei o que digo, o que faço, todos os meus sentidos estão inebriados! DOLMANCÉ - Como está gozando! Que descarada gostosa! O ânus se fecha de tal modo que quase me machuca o dedo! Seria divino enrabá-la neste instante de gozo! (Levanta-se, apresentando o caralho à entrada do cu). MADAME - Não, não, ainda um momento de paciência, quero que nos ocupemos somente em educá-la, sem egoísmo. É tão delicioso ensiná-la, formar semelhante aluna! DOLMANCÉ - Está vendo, cara Eugênia, depois duma excitação as glândulas seminais se incham, tornam-se túrgidas e acabam por exalar um licor cujo fluir transporta a mulher ao paraíso. É o que se chama descarga. Quando nossa amiga consentir, hei de mostrar-lhe quão mais imperiosa e enérgica é no homem essa operação. MADAME - Espere um pouco, Eugênia, quero lhe mostrar mais um meio de mergulhar a mulher num abismo de extremo gozo. Abra bem as coxas. Veja Dolmancé, coloco-a de maneira que o cu seja todo seu. Brinque com ele enquanto eu a lambo bem na bocetinha; ela gozará assim duplamente e várias vezes em seguida. Que lindo monte de Vênus, que sedosos pelinhos. O clitóris não está ainda completamente formado mas já é muito sensível; está agitado como um peixe n'água! Venha, quero que abra as pernas, assim; vê-se bem que é virgem. Diga-me o que sente quando, ao mesmo tempo, minha língua entrar na sua boceta e a de Dolmancé no seu Cu, cumulando ao mesmo tempo essas duas aberturas. (Executam o que dizem). EUGÊNIA, gemendo de prazer - Ai, queridos, delícia inefável, inexprimível. Nunca poderia dizer qual das duas línguas é mais gostosa, ou qual delas me mergulha em maior delírio. DOLMANCÉ - Nesta posição tenho o membro junto à mão de madame. Peço-lhe encarecidamente, senhora, que o acaricie enquanto eu sugo esse cu saboroso, como o colibri ou a abelha sugam uma flor. Enfie sua língua mais ainda, que ela penetre além do clitóris, até à matriz, é o melhor meio de provocar completa descarga, ela ficará toda orvalhada... EUGÊNIA, gozando - Não posso mais, vou morrer, não me abandonem, desfaleço!... (Tem o espasmo supremo entre ambos os sugadores). EUGÊNIA - Morro! Não posso mais, não aguento! Ai, ai!... Não entendi duas palavras que acabo de ouvir pela primeira vez. Em primeiro lugar, o que é "matriz"? natureza não é nada e Deus é tudo. Outro absurdo: como negar que há necessariamente duas coisas no universo, o agente criador e o indivíduo criado? Ora, qual o agente criador? Eis a única dificuldade a resolver, a única pergunta à qual é necessário responder. Se a matéria age, move-se por combinações que desconhecemos, se o movimento é inerente à natureza, se só ela pode, enfim, em razão de sua energia, criar, produzir, conservar, manter, mover nas planícies imensas do espaço todos os planetas cuja órbita uniforme nos surpreende, nos enche de respeito e admiração. Qual a necessidade de procurar um agente estranho a tudo isso, se essa faculdade ativa somente se encontra na própria natureza que não é outra coisa senão a matéria que age? A quimera desta virá esclarecer o mistério? Desafio que alguém me possa provar. Supondo que eu me engane sobre as faculdades internas da matéria, pelo menos só terei uma dificuldade. Que farei eu com o Deus que me oferecem? É apenas uma dificuldade a mais. Como querem que eu admita, para explicar o que não compreendo, uma coisa que compreendo ainda menos? Por meio dos dogmas da religião cristã, como posso examinar, como posso representar vosso horrível Deus? Vejamos como essa religião nô-lo descreve... O Deus desse culto infame deve ser inconsequente e bárbaro: cria hoje um mundo de cuja construção se arrepende amanhã. É tão fraco que jamais consegue imprimir no homem o cunho que deseja. O homem, dele emanado, domina-o, pode ofendê-lo e por isso merecer eternos suplícios. Que Deus fraco! Como pôde criar tudo quanto vemos, se não conseguiu criar o homem à sua imagem! Dirão talvez: se ele tivesse criado o homem perfeito, o homem não teria mérito. Que chatice! Que necessidade tem o homem de merecer alguma coisa de seu Deus? Se ele o tivesse criado perfeito, o homem nunca poderia praticar o mal e só então essa obra teria sido digna dum Deus. Deixar ao homem a escolha é tentá-lo. Deus, na sua infinita paciência, sabia o resultado disso; em conseqüência, foi de propósito que ele perdeu a criatura por ele mesmo formada. Que Deus horrível esse, que monstro! Que celerado, digno do nosso ódio, da nossa implacável vingança! E não contente com o que fez, ainda para convertê-lo, condena-o ao batismo, maldizendo-o, queimando-o no fogo eterno... Mas nada disso modifica o homem. Um ser mais poderoso do que Deus, o Diabo, conservará sempre seu império, desafia o Criador, e consegue, por suas seduções, debochar o rebanho que o Eterno tinha reservado para si mesmo. Nada vencerá jamais o poder do demônio sobre o homem. Então o Deus horrível, louvado pelos idiotas, imagina coisa mais horrível ainda: tem um filho, um único filho que lhe nasceu não sabemos como, pois o homem fode e quis que Deus também fodesse ilegalmente e separasse do céu essa parte de si mesmo. Imagina-se talvez que essa descida do céu se fizesse num raio celeste entre um cortejo de anjos, à vista do Universo inteiro... Nada disso: foi no seio duma puta judia, e numa pocilga, que o Deus redentor dos homens apareceu entre eles! Sua honrosa missão será melhor que o lugar em que nasceu? Sigamos um instante esse personagem. Que diz que faz? Que missão sublime dele recebemos? Que mistério nos revela? Que dogma nos prescreve? Em que atos transparece sua grandeza? Infância ignorada, serviços certamente libertinos prestados pelo moleque aos padres do templo de Jerusalém. Em seguida, desaparece durante quinze anos, aproveitados para se envenenar com todas as demências da escola do Egito, que ele transporta para a Judéia. Assim que reaparece, a loucura começa a se manifestar: declara-se filho de Deus, igual a seu pai, associa a essa aliança um outro fantasma que chama de Espírito Santo, e essas três pessoas, assegura ele, formaram um só Deus verdadeiro. Quanto mais esse mistério assusta a razão, tanto mais ele assegura que há mérito em adotá-lo, perigo em repudiá-lo! Foi por todos nós, afirma o imbecil, que ele se encamou, embora sendo Deus, no seio duma mulher. O universo se convencerá disso, à vista dos incríveis milagres que vai realizar. Num jantar de bêbados, dizem que o safado mudou a água em vinho; no deserto alimentou alguns celerados com provisões escondidas pelos seus secretários; um dos seus camaradas finge que morreu para que ele o ressuscite; transportou-se a uma montanha onde, diante de dois ou três apenas de seus partidários, faz umas mágicas das quais se envergonharia hoje um péssimo prestidigitador. Amaldiçoando com furor todos os que não acreditam nele, o safado promete o céu a todos os idiotas que lhe prestam ouvidos. Nada escreve, pois é ignorante; fala pouco, pois é burro; age ainda menos, pois é fraco. Cansa os magistrados que se impacientam ao ouvir seus discursos sediosos, embora espaçados. O charlatão acaba morrendo numa cruz depois de ter assegurado aos vilões que o seguem que, cada vez que for invocado, descerá de novo entre eles. Deixa-se suplicar sem que seu pai, o Deus sublime do qual afirma descender, lhe dê o menor socorro; é tratado como o último de todos os celerados do qual era realmente digno de ser o chefe. Seus satélites reúnem-se: "Estamos perdidos, dizem, e nossas esperanças malogradas, se não conseguirmos salvá-lo de maneira brilhante. Embriaguemos os guardas que lhe cercam o túmulo, roubemos-lhe o corpo, publiquemos que ressuscitou; é um meio seguro. Assim conseguiremos que acreditem nessa farsa, nossa religião ficará apoiada, será propagada no mundo inteiro... trabalhemos!..." A farsa se propala; a ousadia e a tenacidade tomam o lugar do verdadeiro mérito; o corpo é roubado, os bobos, as mulheres, as crianças gritam que é um milagre, mas na própria cidade onde tão grandes maravilhas se operam, na cidade regada pelo sangue dum Deus, ninguém crê nesse Deus, ninguém se converte. Mais ainda: o fato é tão pouco digno de nota que nenhum historiador a ele se refere. Tão somente os discípulos, os cumplices desse impostor, pensam em tirar partido da fraude, mas não imediatamente. Essa consideração é essencial. Deixam correr vários anos a fim de melhor usar o insigne disfarce; só então erigem sobre ele o edifício combalido de tão nojenta doutrina. Os homens gostam de qualquer mudança. Cansados do despotismo dos imperadores, estavam loucos por uma revolução. Ouvem os hipócritas e o progresso dos discípulos é rápido: eis a história dos maiores erros deste mundo. Os altares de Vênus e de Marte transformam-se nos de Jesus e Maria, publica-se a vida do impostor; esse romance absurdo encontra crédulos; inventam que o Cristo disse mil coisas que nem sequer pensou. Algumas dessas imbecilidades formam a base da sua moral. Como a maior parte dos adeptos fossem pobres, a caridade tomou-se a primeira das virtudes. Instituíram-se ritos bizarros sob o nome de "sacramentos". O mais digno e criminoso de todos é o seguinte: um padre coberto de crimes, em virtude dumas palavras magicas, tem o poder de criar um Deus dentro do pão! Não duvide: esse culto, desde o seu albor, teria sido destruído inexoravelmente se o povo tivesse empregado contra ele o desprezo, única arma que merecia; mas uns imbecis o perseguiram, intensificando-o por esse meio infalível. Mesmo hoje, se o cobríssemos de ridículo ele cairia. Voltaire, o perspicaz, nunca empregou outro método; é de todos os escritores o que se pode gabar de ter obtido maior número de prosélitos. Em uma palavra, Eugênia, tal é a história de Deus e da sua religião. São fábulas que não merecem crédito: veja como pretende agir. EUGÊNIA - A escolha não é difícil;. Desprezo essas nojentas fantasias; o próprio Deus, ao qual somente me ligavam a fraqueza e a ignorância, não é para mim senão objeto de horror. MADAME -Jure-me então nunca mais pensar nele, não mais o invocarem momento algum de sua vida, e nunca voltar para ele. EUGÉNIA, lançando-se nos braços da amiga - É nos seus braços que faço solene juramento. Vejo que é para meu bem que você exige isso, não quer que tristes reminiscências venham perturbar meu prazer, minha tranqüilidade. MADAME - Que outro motivo poderia eu ter? EUGÉNIA - Ainda uma última pergunta a Dolmancé. Foi a análise das virtudes que nos conduziu à analise da religião; não haveria nessa religião, por mais ridícula que ela seja, algumas virtudes que pudessem contribuir para nossa felicidade? DOLMANCÉ - Vamos examinar. Seria por acaso a castidade? Você é de uma tal beleza que parece a imagem da castidade, mas ao vê-Ia ninguém mais desejaria ser casto! Acha digna de veneração a idéia de combater os mais naturais impulsos, sacrificando-os à honra ridícula e vã de não ter tido jamais uma fraqueza? Seja justa, linda, amiga: alguém poderia achar nessa absurda e perigosa pureza d'alma todos os prazeres do vício que lhes é oposto? EUGÊNIA - Não, confesso. A castidade não me seduz; as minhas inclinações lhe são contrárias. Mas a caridade e a beneficência, não poderiam infundir paz e alegria às almas sensíveis? DOLMANCÉ - Longe de nós, Eugênia, as virtudes que provocam a ingratidão! Nunca se engane, cara amiga. A beneficência é antes orgulho do que virtude. Só movido pelo prazer o homem auxilia a seus semelhantes, nunca ele tem o desejo de fazer a boa ação e ficaria danado se essa ação não tivesse toda a publicidade; ele só faz o bem para que os outros o saibam. Nem creia que essa boa ação terá bons efeitos; a caridade é a maior das hipocrisias, acostuma o pobre a um socorro que lhe mata a energia; não trabalha mais, à espera da esmola, e quando esta lhe falta, toma-se ladrão ou assassino. Ouço de todos os lados pedidos para que se suprimam a mendicância, entretanto, continuam fazendo todo o possível para que ela se alastre. Se não quiser atrair moscas, não espalhe mel. Quer suprimir de verdade os pobres da França? Que nunca mais ninguém dê esmolas e sejam fechados todos os asilos de caridade. O indivíduo nascido na pobreza, vendo-se privado desses perigosos recursos, encher-se-à de coragem e empregará todos os meios que recebeu da natureza para sair do estado em que nasceu. Não mais importunará os ricos. É preciso destruir sem piedade todas essas abomináveis casas onde se têm a audácia de esconder os frutos da libertinagem do pobre; cloacas horrendas que vomitam diariamente no seio da sociedade um nojento enxame de novas criaturas ávidas de nossa bolsa. Para que conservar cuidadosamente esse rebotalho? Receiam por acaso o despovoamento da França? Receio idiota! Um dos maiores vícios do governo é consentir numa população demasiadamente numerosa. O supérfluo não dá lucro algum ao Estado. Esses seres extranumerários são como ramos parasitas que vivem à custa do troco e acabam por extenuá-lo. Todas as vezes que, em qualquer país, a população for superior aos meios de subsistência, esse país perecerá. Examinemos bem a França: o resultado é o que se vê. O chinês, sabiamente, impede que a população cresça; nada de asilos para os frutos vergonhosos do deboche, da devassidão; esses frutos são abandonados como o vômito duma indigestão. Nesse país nunca houve asilos para mendigos; todos trabalham, todos são felizes, nada altera a energia do pobre e cada um ali pode dizer como Nero: "Quid est pauper?" EUGÊNIA a Madame - Cara amiga, meu pai pensa exatamente como este senhor e nunca praticou na vida uma só "boa obra". Ralha sempre com minha mãe, que se abandona a essas práticas, pertencendo a todas as associações filantrópicas e maternais. Meu pai forçou-a a deixar tudo isso, afirmando que lhe reduziria a pensão mensal se ela insistisse em tais asneiras ou nelas recaísse. MADAME - Nada mais ridículo e ao mesmo tempo mais perigoso do que tais associações. A elas, às escolas gratuitas e às casas de caridade devemos a catástrofe na qual nos encontramos. Peço-lhe que jamais dê uma esmola, querida. EUGÊNIA - Não tenha receio, já o prometi há muito tempo a meu pai. A caridade tenta-me pouco e não o desobedecerei, seguindo facilmente seus desejos e meu coração. DOLMANCÉ - Não dividamos a porção de sensibilidade que recebemos da natureza; dividi-la é diminuí-Ia. Que me podem importar as desgraças alheias? Não me bastarão as minhas para que me sobrecarregue com as de estranhos? Que nossa sensibilidade fique toda reservada aos prazeres! Sejamos sensíveis tão somente ao que fala aos nossos sentidos, à nossa volúpia; esqueçamos o resto inflexivelmente. Desse estado resulta uma espécie de crueldade que tem suas delícias. Nem sempre é possível fazer o mal, entretanto. Privados desse prazer, tenhamos ao menos a sensação agradável e picante de nunca fazer o bem! EUGÊNIA - Suas lições extasiam. Creio que preferiria morrer a praticar uma boa ação. MADAME - E se uma ação má se apresentasse, estaria pronta a praticá-la? EUGÊNIA - Cale-se, sedutora amiga... Só responderei quando estiver completamente instruída. Recapitulando: Dolmancé explicou que nada tem importância na terra, nem bem nem o mal; devemos tão somente escutar nossos desejos, nossos gostos e seguir nosso temperamento. Não é assim? DOLMANCÉ - Não duvide, Eugênia, as palavras vício e virtude são idéias puramente locais. Não há ação, por mais singular que pareça, que seja verdadeiramente criminosa, nenhuma realidade virtuosa. Tudo está na razão de nossos costumes e do clima em que vivemos. O que aqui se chama crime será virtude mais além; as virtudes dum outro hemisfério podem ser crimes aqui. Não há horror que não possa ser divinizado, nem virtude que não possa ser impugnada. Dessas diferenças puramente geográficas nasce o pouco caso que devemos fazer da estima ou do desprezo dos homens, sentimentos ridículos e frívolos acima dos quais nos devemos colocar. romper todos os freios e sobretudo o do casamento. A moça, apenas saída da casa paterna ou do colégio, nada conhece e sem experiência alguma é obrigada a passar aos braços dum marido que nunca viu, ao qual é obrigada a jurar obediência e fidelidade. Coisa injusta e absurda pois que, no fundo d'alma, já imagina bem que vai faltar, que deseja faltar ã sua palavra. Não há mais triste sorte; uma vez ligada para sempre, quer o marido lhe agrade quer não, quer seja temo ou grosseiro, a honra da mulher depende desses juramentos: perde-a se os infringe e para não a perder tem que suportar o jugo até morrer de dor. Não, Eugênia, não é para isso que nascemos, não nos devemos submeter a leis absurdas que os homens fizeram. Nem o divórcio conseguirá melhorar nada, pois quem está certo de achar num segundo vínculo o que não encontrou no primeiro? Vinguemo-nos em segredos dessas peias absurdas, certas de que nossos excessos de amor, por maiores que sejam, longe de ultrajar a natureza, são a mais sincera homenagem que lhe possam prestar. Ceder aos desejos lúbricos é obedecer suas leis. O adultério que os homens consideram crime, que ousam punir até matando, é um direito que nenhum desses tiranos jamais conseguirá evitar. Os maridos acham horrível acariciar como filhos os produtos de outras ligações, é a objeção de Rousseau; convenho que é a única que tem certo fundamento. Mas é possível ser libertina e não conceber, e, se a imprudência duma gravidez acontecer, é também possível destruir-lhe os frutos. Hei de voltar ao assunto; agora vamos ao mais profundo da questão. Esse argumento que parece especial não é senão quimérico. Em primeiro lugar: enquanto a mulher dormir com o marido e sentir-lhe o sêmen dentro da matriz, mesmo que ela tenha relações com outros dez homens, ninguém poderá provar que o filho não seja do marido. Seja ou não seja, também colaborou e não deve desprezar uma criatura para cuja existência contribuiu. Se um homem se considerar infeliz por tão pouco, ele o será mesmo que sua mulher seja uma vestal, pois é absolutamente impossível responder pela virtude duma mulher. Mesmo a que foi puríssima durante dez anos, pode mudar num só instante. Se o homem for desconfiado, nunca se julgará realmente pai do filho que está beijando; e se é sempre desconfiado, que mal pode haverem tomar realidade essa desconfiança? Ele seria tão infeliz antes como depois do fato consumado. Mesmo se ele beijar o fruto da libertinagem de sua mulher, que mal há nisso? Se os bens são comuns, a criança que goze duma parte deles! Mas, dirão, enganar um marido é uma falsidade atroz. Não, é apenas fazer justiça, pois foi a mulher a primeira a sofrer os vínculos forçados que não queria. Vinga-se, eis tudo. Mas é um ultraje à honra do marido! Preconceito! Os erros são pessoais e em nada podem desonrar o marido. Preconceitos do século passado. Hoje, os erros da mulher não degradam o marido como os dele não podem degradar a mulher; poderia foder com o mundo inteiro sem lhe fazer um arranhão. De duas coisas uma: ou o marido é bruto e ciumento ou é homem sensível. No primeiro caso, o melhor a fazer é vingar-se. No segundo, eu não poderia ofendê-lo e se ele é honesto e bom ficará contente vendo-me gozar a vida. Um homem delicado goza vendo gozar a mulher que ama. Mas se o ama, gostará que ele faça o mesmo? Claro! Só uma idiota pode ser ciumenta. A mulher deve se contentar com o que dá o marido sem exigir mais; senão tornar-se-á logo por ele detestada. Se a mulher tem juízo nunca se amolará com o deboche do marido. Cada um que faça o que quiser e reinará paz no lar. Resumindo: qualquer que seja o efeito do adultério, mesmo que introduza na casa um filho que não seja do marido, basta que o seja da mulher para ter direito a .uma parte do dote desta. O marido deve considerá-lo como filho dum casamento precedente da mulher. Se ele o ignora não sofrerá, e se o adultério não tiver outra consequência, nenhum jurisconsulto o poderá provar. O adultério é completamente indiferente para um marido que ignore; perfeitamente bom para a mulher que com ele se deleitou, e se o marido descobre, o adultério não é um mal, pois não o era antes e não poderia ter mudado de natureza. O mal é a descoberta e não a coisa em si. Esse mal só provém do marido que o descobriu, sua mulher não tem nisso culpa alguma. Os que outrora puniam o adultério eram carrascos, tiranos, invejosos; só pensavam em si mesmos. Bastava alguém os ofender para serem criminosos como se uma injúria pessoal pudesse jamais ser considerada crime, como se fosse possível chamar crime um ato que, longe de ultrajar a natureza e a sociedade, só pode ser útil a ambas. Há um caso em que o adultério, fácil de provar, toma-se mais cacete para a mulher sem ser por isso criminoso: é quando o marido é impotente ou tem gostos sexuais contrários à reprodução. Como a mulher goza e o marido não, este fica ainda mais zangado. Mas, que tem ela com isso? A única precaução que deve tomar é não conceber, ou então provocar aborto. Quando o marido tem gostos antinaturais e ela complacentemente se presta a eles, é mais que justo pagar as complacências da mulher permitindo que se satisfaça com outros, se não lhe pode dar prazer. A simples razão deve conceder-lhe ampla liberdade. O marido recusa ou consente; se consente, como fez o meu, a gente se põe a gozar a vida redobrando para com ele o carinho e a condescendência aos seus caprichos; se recusa, a gente se envolve discretamente em espessos véus e fode na sombra com maior gosto ainda! Se o marido é impotente, a gente se separa dele mas sem deixar de foder com quem bem nos parecer, pois não nascemos para outro fim; é a lei da natureza. Ir contra ela só seria digno de desprezo. Os vínculos idiotas do casamento não devem impedir a mulher de se entregar a todos os amores, só a tola recearia a gravidez, o ultraje ao marido, ou a macula (mais vã ainda) à sua reputação. Jamais se deve imolar, Eugênia, aos preconceitos imbecis, às delícias da vida, à suprema ventura. A mulher tem que foder, deve foder impunemente. A glória passageira da boa fama e uma frívola esperança religiosa não podem compensá-la do sacrifício da renúncia. Virtude e vício têm o mesmo cheiro no caixão. Ao cabo de poucos anos, quem se lembra do vício ou da virtude? A desgraça que viveu sem prazer, expira sem recompensas. EUGÊNIA - Anjo querido, como sabe persuadir e triunfar de todos os preconceitos! Como sabe destruir os falsos princípios que uma mãe tola me tinha inculcado! Quisera casar-me amanhã para pôr logo em prática suas sábias máximas; sedutoras e verdadeiras e que tanto me agradam. Só uma coisa ainda me inquieta, não compreendo o que seu marido faz e que não a pode engravidar. Explique-me, sim? MADAME - Meu marido já era velho quando se casou. Desde a noite de núpcias avisou-me das suas fantasias, assegurando-me logo que me deixaria fazer tudo quanto desejasse. Jurei obediência e desde então vivemos ambos na mais deliciosa liberdade. O gosto de meu marido consiste no seguinte: quer ser chupado. Assim fazemos: enquanto eu me curvo sobre ele, coloco minha bunda sobre o seu rosto. Ao mesmo tempo que sugo com ardor a porra dos culhões devo cagar-lhe na boca. Ele engole tudo! EUGÊNIA - Mas que extraordinária fantasia! DOLMANCÉ - Todas as fantasias se encontram na natureza. Criando os homens, ela fez o gosto de cada um tão diverso quanto o rosto. Nunca nos devemos admirar dessa diversidade, nem da extravagância infinita que ela colocou nas nossas predileções. A fantasia que Madame acaba de descrever está muito em moda, sobretudo entre homens de certa idade. Se um deles exigisse isso, Eugênia, você recusaria? EUGÊNIA, enrubescendo - Segundo as máximas que me são ensinadas aqui, devo por acaso recusar alguma coisa? Só peço perdão pela surpresa que tudo isso me causa, é a primeira vez que ouço falar em tanta lubricidade. Preciso um instante de reflexão para concebê-las, mas, da solução do problema à execução do processo, creio que meus mestres podem estar seguros: só haverá a distancia que eles mesmos exigirem. Em todo o caso foi tendo essa complacência que minha amiga conseguiu a liberdade dentro do matrimônio? MADAME - Liberdade completa, Eugênia. Tenho feito tudo quanto quero sem encontrar obstáculos, mas nunca tive um amante: amo demais o prazer para ter uma só afeição séria. A mulher que ama é uma infeliz, um amante pode fazer sua desgraça, enquanto as cenas de libertinagem podem ser repetidas diariamente mas se desvanecem na noite do silêncio assim que são consumadas, só deixando a deliciosa lembrança. Rica, posso pagar todos os jovens que* me fodem sem saber de quem se trata. Tenho criados escondidos, aos quais posso conceder prazeres infinitos se souberem calar, e que serão despedidas à primeira palavra indiscreta. Nem pode você imaginar a torrente de delícias na qual, desse maneira, mergulhei; essa é a conduta que aconselharei a todas as mulheres. Há doze anos que me casei, e já fui possuída por mais de dez ou doze mil indivíduos... e na sociedade passo por santa. Outra qualquer que tenha amantes está perdida no segundo ano. EUGÊNIA - É realmente o melhor caminho: vou segui-lo. Quero, como você, desposar um homem rico e cheio de fantasias. E seu marido, nunca exigiu outra coisa? MADAME - Nem um dia sequer, em doze anos, somente quando estou menstruada sou substituída por uma bonita moça que é minha empregada. Tudo corre às maravilhas. EUGÉNIA-Mas isso não lhe bastará certamente. Outros objetos exteriores devem concorrer para variar seus prazeres, não? DOLMANCÉ - Claro, Eugênia, o marido da nossa amiga é um dos maiores libertinos do século, gasta anualmente mais de cem mil escudos nesses prazeres obscenos. MADAME - Para dizer a verdade, confesso que não acredito nisso, mas pouco me importa. O que eu quero é gozar tranquilamente dos meus prazeres. EUGÉNIA - Quero saber todas as minúcias que impedem uma jovem, casada ou não, de engravidar. Confesso que tenho horror a isso, seja com o marido, seja na carreira da libertinagem. Você me descreveu o modo pelo qual seu marido goza. Acredito que isso pode ser delicioso para ele, mas não para a mulher que chupa. Quero que me discorra sobre o gozo intenso da mulher, isento dos perigos da gravidez. MADAME - A mulher só se arrisca a engravidar quando mete pela boceta. Basta evitar esse modo de gozar; que ela acabe oferecendo a mão, a boca, os seios, ou o orifício anal. De qualquer modo ela consegue prazer, mas tomando no cu este será intensíssimo. Com a mão você já viu há pouco; a gente sacode o membro e ao fim de alguns movimentos o esperma jorra. Enquanto isso o homem a enche de carícias e beijos, regando o lugar do corpo que você quiser. Para recebê-lo entre os seios a mulher se estende no leito com o membro bem no meio; no fim de alguns instantes está tudo inundado até o rosto. Esse modo só pode servir para mulheres experientes, cujos seios adquiriram a flexibilidade necessária para comprimir o membro. O gozo pela boca é delicioso para ambos; o melhor meio é deitar-se um contra o outro em sentido inverso, o homem introduz o membro na boca da mulher e a língua na boceta, chupando-lhe o clitóris. Enquanto isso, reciprocamente, um agarra a bunda do outro, titilando o orifício, carícia que sempre causa infinito prazer e é necessária para o gozo completo. Os amantes ardorosos engolem toda secreção que lhes entra na boca e ficam reciprocamente irrigados por esse precioso licor da vida, roubado ao seu destino normal. DOLMANCÉ - É um processo delicioso, experimente logo, Eugênia. Assim fazemos perder à porra o direito de propagar a vida, enganando o que os idiotas chamam leis da natureza. As coxas e o sovaco também servem de doce asilo ao membro viril, sem que a mulher se arrisque a engravidar. MADAME - Algumas mulheres introduzem esponjas na vaginas, a esponjas fecha o colo do útero como o gargalo dum frasco e recebe todo o esperma. Mas qual, não há nada que se compare a tomar no cu! Quem lhe poderá descrever vivamente um prazer pelo qual daria a vida é justamente Dolmancé. DOLMANCÉ - Confesso o meu fraco. Não há gozo que se lhe possa comparar! Amo-o num e noutro sexo, mas confesso que o cu de um rapazinho dá-me ainda maior prazer que o de uma moça; chamam de anormais os moços que tomam no cu. Penetrar o das mulheres é apenas metade do vício incomparável; essa faritasia deve ser praticada com homens, é assim que o preferem os verdadeiros amadores. Que absurdo dizer que isso degrada o homem, que ultraja a natureza! Pelo contrário, nesse ato o homem serve à natureza talvez mais santamente. A propagação da espécie é apenas sequência das suas primeiras intenções, se a espécie fosse destruída, novas construções inventadas pela natureza se tornariam primordiais. MADAME - Por esse sistema Dolmancé provará que a extinção total da raça humana seria um serviço prestado à natureza. DOLMANCÉ - E quem o pode duvidar, senhora? MADAME - Então as guerras, a peste, a fome, o assassínio seriam apenas acidentes necessários às leis da natureza? O homem, agente ou paciente dessas causas não mais seria nem o criminoso nem a vítima? DOLMANCÉ - Vítima é o homem toda vez que se submete aos golpes do destino; criminoso nunca.. Falaremos nisso mais tarde. Agora passemos a analisar o gozo sodomita. A melhor filha? Uma política mal compreendida, proveniente do temor de torrar certas famílias superpoderosas, interdiz o incesto nos hábito modernos, mas não sejamos tolos de tomar como lei natural o que é ditado apenas pelo interesse e pela ambição. Consultemos nossos corações (sempre mando os pedantes moralistas consultarem esse órgão sagrado) e reconheceremos que nada há mais delicado do que a união carnal na família. Não nos enganemos sobre os sentimentos que ligam o irmão à irmã, o pai à filha. Tudo isso é apenas disfarçado sob o véu da ternura legítima; o mais violento amor os inflama, posto pela natureza dentro dos corações. Dupliquemos, tripliquemos sem temor o delicioso incesto, quanto mais parente nosso, mais delicioso será o objeto do nosso desejo. Tenho um amigo que vive agora com a filha que engendrou com a própria mãe. Há oito dias desvirginou um rapazinho de treze anos, fruto de seus amores com a filha, e seu maior desejo é que esse rapazinho, dentro de poucos anos, foda com sua mãe. Como ainda é jovem, espera ter outros filhos da própria filha para depois fodê-los. Veja, Eugênia, esse meu pobre amigo quantos crimes teria praticado se isso fosse considerado tal! Só um preconceito estúpido pode se opor a semelhantes e deliciosas ligações. Sobre todas essas coisas eu só parto dum princípio: se a natureza realmente proibisse o gozo sodomita, o incesto, as poluções, etc, como poderia ela permitir que eles nos dessem tão incomparável prazer? A natureza nunca admite aquilo que realmente a ofende. (1) Adão foi, coma Noé, um restaurador do gênero humano. Um terrível transtorno deixou Adão sozinho sobre a terra, da mesma forma como aconteceu com Noé; mas a tradição de Adão se perdeu, enquanto a de Noé ao conservou. EUGÊNIA - Oh, mestres adoráveis, bem vejo que, segundo vocês, não há crimes sobre a terra, que poderei ouvir todas as vozes da luxúria por mais singulares que pareçam aos imbecis, idiotas a quem tudo alarma, tudo ofende e que tomam as instituições sociais por leis divinas da sábia natureza. Entretanto, não haverá certas ações absolutamente revoltantes e decididamente criminosas, embora ditadas pela natureza? A natureza é tão singular nas suas produções quanto variada nas inclinações, e às vezes nos conduz a atos cruéis. Se, entregues à depravação, atentassemos à vida de um semelhante, tal ação não seria crime? DOLMANCÉ - Qual, Eugênia, sendo a destruição uma das primeiras leis da natureza, tudo que destrói não pode ser crime. O que tão bem sirva à natureza não a pode ofender. Aliás essa destruição que lisonjeia o homem é uma quimera, o assassínio não é destruição; o assassino apenas varia a forma, faz voltar à natureza elementos dos quais ela se serve para recompensar outros seres. Aquele que mata prepara um gozo para a natureza, dando-lhe ocasião de criar; esses materiais, a natureza os emprega incontinenti e o assassino adquire um mérito a mais aos olhos desse agente universal. Só o nosso orgulho erigiu o assassinato em crime. Pensamos ser as mais importantes criaturas do universo e imaginamos que destruir tão sublime criatura deve ser um crime enorme; pensamos que a natureza pereceria se nossa espécie desaparecesse da terra; a inteira destruição da nossa espécie, restituindo à natureza a faculdade criadora que ela dispendeu conosco, lhe daria uma energia que lhe tiramos com a propagação da espécie. Um soberano ambicioso pode, sem escrúpulo, destruir todos os inimigos nocivos aos seus projetos de grandeza; leis cruéis, arbitrárias, imperiosas, podem do mesmo modo assassinar em cada século milhões de indivíduos, e nós, fracos particulares, não poderemos sacrificar um ou alguns seres à nossa vingança e ao nosso capricho? Nada mais bárbaro, mais ridículo. Sob o véu do mistério devemos nos vingar dessa inépcia!¹ (1) Este assunto agirá extensamente desenvolvido mais adiante; a momento nos contentarmos em resumir as bases do sistema que será, em breve, objeto de longa dissertação EUGÊNIA - Como não? Aprecio sua moral, Dolmancé. Mas por quem é, confesse que você já assim procedeu! DOLMANCÉ - Não me force a revelar minhas faltas; são tão numerosas e tão graves que me deixaram ruborizado. Um dia lhe contarei minuciosamente. MADAME - Dirigindo a espada da lei, o celerado, muitas vezes, pôs essa espada ao serviço das próprias paixões. DOLMANCÉ - Se eu pudesse só ter essas culpas... MADAME, saltando-lhe ao pescoço - Homem divino, adoro-o. Quanto espírito e coragem são necessários para gozar a vida como você a entende! Somente ao homem de gênio é dado romper os freios da ignorância e da estupidez! Dê-me um beijo, querido! Você é um encanto. DOLMANCÉ - Seja franca, Eugênia, nunca desejou a morte de ninguém? EUGÊNIA - Como não? Vejo diariamente uma abominável criatura cuja morre me faria feliz. MADAME - Creio que advinho quem seja... Sua mãe... EUGÊNIA - Deixe-me esconder a cabeça no seu seio. Que vergonha! DOLMANCÉ - Voluptuosa criatura, também eu quero mostrar, pelo ardor das minhas carícias, quanto aprecio a sua energia e o seu caráter! (Dolmancé beija-a pelo corpo inteiro, dá-lhe tapinhas no cu e fica de pau duro. Madame agarra e sacode o membro de Dolmancé, oferecendo-lhe a bunda que ele apalpa com delícias. Um tanto mais tranqüilo, depois de alguns minutos, o moço continua). DOLMANCÉ - Por que não havemos de pôr em prática a idéia sublime de Eugênia? MADAME - Detestei minha mãe como você detesta a sua, e não hesitei. EUGÊNIA - Faltam-me os meios. MADAME - Diga que lhe faltou a coragem. EUGÊNIA - Perdão, eu era tão moça ainda DOLMANCÉ - Mas agora, Eugênia, teria a coragem necessária, não é assim? EUGÊNIA - Tudo ousaria. Basta que vocês me forneçam os meios. Verão! DOLMANCÉ - Fornecerei todos os meios, só com uma condição, Eugênia. EUGÊNIA - Que condição? Bem sabe que estou pronta a aceitar qualquer uma! DOLMANCÉ - Venha aos meus braços, linda celerada! Não aguento mais! Que seu lindo cu seja o meu prêmio, que um crime pague o outro! Ou antes, venham ambas, extingamos com jorros de porra o fogo divino que nos inflama e acende! MADAME - Procedamos com ordem nas nossas orgias. A ordem não deve faltar, nem no delírio, nem na infâmia DOLMANCÉ - Nada mais simples. Quero esporrar dando a essa moça o maior prazer possível. Enterrarei no seu cu, Eugênia, todo o meu membro, enquanto, curvada nos seus braços, Madame lhe fará uma punheta. Na posição em que a colocarei você lhe restituirá a mesma carícia. Podem até beijar-se reciprocamente as babaquinhas róseas e assanhadas. Depois variaremos o quadro, eu enrabarei Madame enquanto você, tendo a cabeça entre suas pemas, me oferecerá o clitóris para chupar; assim ela gozará pela segunda vez. Eu me colocarei então no seu ânus; Madame me apresentará o cu em lugar da boceta que você apresentava. Madame terá assim sua cabeça entre as pemas; eu sugarei seu orifício como suguei o seu clitóris. Madame e eu gozaremos ao mesmo tempo enquanto minha mão, titilando-lhe o clitóris, fará com que você tenha mais um espasmo. MADAME - Mas uma coisa deliciosa lhe faltará, DOLMANCÉ - É verdade, uma boa pica dentro do meu cu MADAME - Não faz mal, se você não a tem esta manhã, terá de noite. Meu irmão aqui estará para nos prestar auxílio e nossos prazeres chegarão ao auge. Vamos à obra! DOLMANCÉ - Eugênia, faça-me uma boa punheta (ela obedece). Assim, mais depressa, queridinha, deixe sempre bem nua essa cabecinha cor de rosa, nunca a cubra. A ereção é tanto mais forte quanto mais o freio estiver distendido; nunca se deve cobrir o membro que se punheteia.- Você mesmo deve preparar com amor o pênis que a vai perfurar. Veja como ele está animado; dê-me sua língua, safadinha; coloque as nádegas sobre minha mão direita enquanto a esquerda titila seu clitóris. MADAME - Eugênia, você quer lhe dar todo o gozo possível EUGÊNIA - Sem dúvida. Quero fazer tudo para agradá-lo. MADAME - Pois então ponha-lhe a boca no pênis e chupe bem. EUGÊNIA, obedecendo - Assim? Está bem? DOLMANCÉ - Ó deliciosa boca, incomparável calor! É tão boa que vale o melhor dos cus! Mulheres voluptuosas e hábeis, nunca recusei uma boca sequiosa a um pênis mais sequioso ainda. Isso prende para sempre um amante! MADAME - Quanta blasfêmia, meu amigo! DOLMANCÉ - Dê-me o cu, Madame, quero beijá-lo enquanto Eugênia me chupa. Não se incomode com minha blasfêmia; é uma delícia injuriar a Deus de pica dura! Nesse instante meu espírito exaltado, melhor aborrece e despreza essa nojenta quimera. Quisera encontrar expressões novas para melhor ultrajá-la! Quero ressuscitar esse fantasma para mais execrá-lo. Faça como eu, mulher encantadora, e verá que seu gozo aumentará. Por mais gostosa que seja sua boca, chega, Eugênia, senão gozarei dentro dela. Vamos, coloquese em posição, quero executar meu plano, que nos mergulhará na mais divina embriaguez dos sentidos. (Arranjam-se como Dolmancé determinou). EUGÊNIA - Receio que não seja possível, a desproporção é colossal. DOLMANCÉ - Qual nada, eu sodomizo diariamente muitos meninos. Ainda ontem um de sete anos foi enrabado por este membro em três minutos. Coragem, amiga! EUGÊNIA - Você me arrebenta! MADAME - Cuidado, Dolmancé, poupe-a, coitadinha. Pense na minha responsabilidade. DOLMANCÉ - Faça uma punheta forte que ela sentirá menos dor. .De resto tudo vai bem. Veja! Já penetrei até tocar-lhe o cu com meus pelos. EUGÊNIA - Ai, céus, não foi sem grande custo e sem grandes dores; nunca senti tanto, veja como o suor goteja-me na testa! MADAME - Enfim, já está desvirginada pela metade. Já é mulher e essa glória vale bem alguma dor, que minha titilação acalmará. EUGÊNIA - Sem ela creio que não poderia resistir, faça mais cócegas, meu anjo, para transformar a dor em prazer. Dolmancé, empurre mais, senão morro! DOLMANCÉ - Ai, caralho! Mudemos. Não resisto mais a seu cu, senhora. Por favor, vamos nos colocar como planejei. (Arranjam-se e Dolmancé continua). Ai, aqui posso me conter melhor. Como meu pau penetra! Nem por isso é um cu menos delicioso, madame. EUGÊNIA -Estou bem nesta posição, Dolmancé? DOLMANCÉ - As mil maravilhas, essa linda babaquinha virgem deliciosamente se me oferece! Sou culpado, talvez, mas não resisto, tais atrações não são feitas para os olhos, quero dar a essa criança as primeiras lições de completa volúpia. Quero vê-Ia cansada. (Titila o clitóris, e chupa loucamente). EUGÊNIA - Você me faz morrer de gozo! Não aguento mais, não resisto! MADAME - Ai, estou gozando! É agora, Dolmancé, ai, ai! EUGÊNIA - Eu também, querida, como ele chupa gostoso, ó delícia! MADAME - Blasfeme um pouco, putinha, sim? Quero ouvi-Ia blasfemar! EUGÊNIA - Porra, como estou gozando, que deliciosa embriaguez! DOLMANCÉ - Ponha-se de novo no seu lugarzinho, Eugênia. (Ela obedece). Eis-me de novo no seu cu divino; enquanto isso, madame, mostre-me o seu, quero chupá-lo todo. Como é gostoso a gente beijar o cu que acabou de penetrar! Quero lambê-la loucamente enquanto esporro bem no fundo do cu de Eugênia. Desta segunda vez penetrei com facilidade, ai como ela sabe apertar o cu! Que prazer! Não aguento mais, estou esporrando, morro! EUGÊNIA - E me faz morrer também, asseguro-lhe, minha amiga. MADAME - Safada, como goza, como se habituou logo! DOLMANCÉ - Quantas moças conheço que não querem gozar de outro modo. Só a primeira vez custa um pouco, depois não querem outra coisa... Estou esgotado, deixem-me repousar ao menos alguns minutos! MADAME - Assim são os homens, querida, apenas nos olham e se saciam. Quase nos desprezam depois de satisfeitos seus desejos... DOLMANCÉ - Que injustiça, que injúria! (Abraça ambas). As duas são feitas para as mais calorosas homenagens, em qualquer estado que me encontre! tem menor consequência; somos senhores dela antes e depois de nascida, podemos eliminá-la como a unha que cortamos dos dedos, o excesso de digestão que tiramos dos intestinos, pois tudo isso é nosso, nos pertence, e disso podemos dispor à nossa vontade. Já lhe expliquei que um assassínio não tem a menor importância; a mesma coisa se dá com o infanticídio, mesmo que a criança já tivesse a idade da razão. Sua inteligência, Eugênia, vale ainda mais do que as provas que lhe ofereço: a leitura da história dos costumes de todos os povos da terra lhe mostrará que o infanticídio é um costume universal. Só os tolos ainda condenam tão simples ocorrência. EUGÊNIA a Dolmancé - Estou inteiramente persuadida. (A Madame): já se serviu do remédio que me aconselha para destruir interiormente o feto? MADAME - Duas vezes e com inteiro êxito. Foi no começo da gravidez, mas conheço mulheres que o empregaram depois de vários meses com o mesmo resultado. Pode contar comigo, mas o melhor ainda é não engravidar. Continue, Dolmancé, chegamos agora às fantasias sacrílegas. DOLMANCÉ - Suponho que Eugênia esteja agora completamente libertada da estupidez religiosa. Saiba que jamais terão consequência os atos que zombarem de tudo quanto constitui o culto dos imbecis. Essas fantasias aquecem as cabecinhas jovens para as quais toda a violação de freios é um gozo; volúpias que se tomam frias quando já se teve tempo de estudar, de se instruir, de se convencer da nulidade desses ídolos que escarnecemos. Profanar relíquias, imagens de santos, a hóstia, o crucifixo, tudo isso aos olhos do filósofo é o mesmo que degradar estátuas do paganismo. Toda essa baboseira só deve merecer nosso desprezo; só devemos usar a blasfêmia, embora nem essa tenha serventia. Pois, desde que Deus não existe, o que adianta insultá-lo? Mas é essencial e agradável pronunciar nomes sujos e fortes para aumentar a embriaguez do prazer, para auxiliar a imaginação, não poupemos coisa alguma para essa finalidade, tenhamos o luxo de expressões que escandalizem o mais possível. É tão doce escandalizar... Triunfo do orgulho que não se deve desprezar! É uma das minhas secretas volúpias; há poucos prazeres morais que influam mais na minha imaginação. Experimente, Eugênia e verá o resultado: ostente a mais prodigiosa impiedade quando em companhia de moças de sua idade, ainda envoltas nas trevas da superstição, ostente o deboche; a libertinagem; porte-se como puta, mostre os peitos, levante as saias se forem juntas à privada, ponha à mostra as partes mais secretas do seu corpo e exija reciprocidade. É preciso seduzi-Ias, fazer-lhes sermão ridicularizando os seus preconceitos. Induza-as ao que se chama erradamente de mal, blasfeme como um carroceiro, agarre-as à força, corrompa-as por conselhos e exemplos, perverta-as, seja extremamente livre com os homens, fale de irreligião, de safadagem, conceda tudo quanto a divirta sem a comprometer, masturbe e seja masturbada, empreste-lhes o cu. Uma vez casada, não tenha amante, pague criados jovens e discretos, assim tudo ficará secreto. Sua reputação continuará intacta, ninguém suspeitará. Eis a arte de fazer tudo quanto nos apraz. Continuemos. Os prazeres da crueldade são os terceiros que prometemos analisar. Muito comuns entre os homens de hoje, eis os argumentos dos quais se servem para legitimá-los: o alvo das pessoas que se entregam à volúpia é ficarem excitadas; queremos nos excitar por meios mais ativos; assim sendo, pouco nos importa se nossos procedimentos agradarão ou não ao objetivo que serve; só se trata de pôr em movimento a massa dos nossos nervos pelo choque mais violento possível. Ora, como a dor afeta mais vivamente que o prazer, o choque resultante dessa sensação produzida sobre o parceiro será de vibração mais vigorosa e repercutirá mais energicamente em nós; o espírito animal entrará em circulação e inflamará os órgãos da volúpia predispondo-os ao mais intenso prazer. Ora, os efeitos do prazer são mais difíceis na mulher, um homem feio ou velho jamais logrará produzi-los; por isso preferem a dor, cujas vibrações são mais ativas. Objetarão certamente: os homens que têm essa mania não refletem que é falta de caridade fazer sofrer o próximo, sobretudo para obter maior gozo? É que, nesse ato, os canalhas só pensam em si próprios, seguem o impulso da natureza e desde que gozem bastante o resto não lhes importa, nunca sentimos as dores alheias. Pelo contrário, ver sofrer, é uma grande sensação. Para que poupar um indivíduo com o qual não nos importamos? Essa dor não nos custará uma só lágrima e nos ocasionará um prazer. Haverá na natureza um só impulso que nos aconselhe preferir o próximo a nós mesmo? Cada um de nós não é para si mesmo o mundo inteiro, o centro do universo? Nem me falem na voz quimérica que diz "não façais aos outros o que não quereis que se vos faça". Grandes imbecis! A natureza não nos aconselha outra coisa senão que gozemos, que nos divirtamos; não conhecemos outro impulso, outra aspiração. Nunca devemos nos incomodar com o que pode suceder aos outros... A natureza é a nossa mãe e só nos fala de nós mesmos, sua voz é a mais egoísta. O mais claro conselho que nos dá é que tratemos de gozar, de nos deleitar, mesmo a custo de quem quer que seja! Os outros nos podem fazer o mesmo, é verdade, mas o mais forte vencerá. A natureza nos criou para o estado primitivo de guerra, de destruição perpétua, único estado em que devemos permanecer para realizar seus fins. Eis, querida Eugênia, como raciocinam os libertinos; acrescento por experiência, por estudos particulares, que a crueldade, longe de ser um vício, é o primeiro sentimento que a natureza imprime no homem. A criança quebra seus brinquedos, morde o mamilo da ama, e estrangula pássaros muito antes de atingir a idade da razão. Todos os animais respiram crueldade, pois neles as leis da natureza são ainda mais fortes que no homem, assim como nos selvagens elas falam mais alto ainda do que no homem da cidade. Nascemos com uma dose de crueldade que só a educação consegue modificar, mas a educação nada tem a ver com a natureza, pelo contrário, é nociva a ela como a cultura é nociva às árvores. Compare nos nossos pomares a árvore que cresce livre com as árvores podadas e cuidadas artisticamente. Qual a mais bela, a que oferece melhores frutos? A crueldade é a energia do homem que a civilização ainda não corrompeu, é, portanto, uma virtude e não um vício. Tiremos as leis, os usos, e a crueldade não terá mais efeitos perigosos, nunca agirá sem poder ser afastada pelas mesmas armas. Só é perigosa no estado de civilização porque o ser lesado não tem força, ou meios, para vingar a injúria. No estado de incivilização, se ela age sobre o forte será por ele sobrepujada, se age sobre o fraco não tem o menor inconveniente, pois o fraco deve ceder ao forte pelas leis dessa mesma natureza. Não analisaremos a crueldade nos prazeres lúbricos do homem. Verá, linda Eugênia, os diferentes excessos aos quais ele se entregou; sua imaginação ardente compreenderá logo que, nas almas fortes e estóicas, essa crueldade não deve ter limites. Nero, Tibério e Heliogábalo imolavam meninos para ficarem de pau duro; o marechal de Retz, Charolais, o tio de Condé cometeram assassínios em lúbricas orgias. O primeiro confessou no seu interrogatório que não conhecia volúpia mais deliciosa do que supliciar crianças de ambos os sexos; acharam mais de oitocentas, imoladas nos seus castelos da Bretanha. Tudo isso se concebe perfeitamente, como acabei de demonstrar. Nossa constituição, nossos órgãos, o curso dos humores, a energia dos espíritos animais, eis as causas, físicas que criaram Titos ou Neros, as Messalinas ou as Chantal. Não há motivo algum da gente se orgulhar da virtude, nem de se arrepender do vício, assim como é inútil acusar a natureza de ter criado um justo ou um facínora; ela terá agido segundo seus planos aos quais nos devemos submeter. Examinemos a crueldade das mulheres, bem mais ativa que a dos homens, em razão do poder excessivo da sensibilidade de seus órgãos. Nós distinguimos, em geral, duas espécies de crueldade: a que nasce da estupidez que, sem razão e sem análise, assimila o indivíduo às feras, não produz prazer algum; é apenas uma inclinação natural; as brutalidades por ela causadas não são perigosas, pois é fácil delas nos defendermos. A outra. espécie de crueldade, fruto da extrema sensibilidade dos órgãos, não é conhecida senão pelos seres extremamente delicados; é uma delicadeza extrema e refinada que põe em movimento todos os recursos da maldade. Poucas pessoas podem perceber tais diferenças, poucas a podem sentir; entretanto, elas existem. É este segundo gênero de crueldade que mais se encontra entre as mulheres; são conduzidas por excesso de sensibilidade, a força do espírito torna-as ferozes; por isso mesmo são encantadoras, fazem todos perderem a cabeça por elas. Infelizmente a rigidez absurda dos nossos costumes deixa pouco terreno a essa crueldade, obrigando-as a se esconder, a dissimular, a cobrir suas inclinações naturais por atos ostensivos de beneficência que elas no fundo odeiam. É apenas veladamente, com precaução, auxiliadas por amigos certos, que conseguem satisfazer seus desejos, coitadinhas! Se quisermos conhecê-las será preciso vê-Ias assistindo a um duelo, um incêndio, um combate, uma batalha; mas tudo isso é pouco para elas e as coitadas têm que se conter. Falemos de algumas mulheres desse gênero: Zíngua¹, rainha de Angola, a mais cruel das mulheres, imolava seus amantes logo depois de gozá-los; assistia combates entre guerreiros, entregando-se ao vencedor; para se distrair fazia moer num pilão todas as mulheres que tivessem engravidado antes dos trinta anos'. Zoé, mulher dum imperador chinês, não sentia prazer maior do que assistir à execução de criminosos; se não os houvesse, imolava escravas enquanto era fodida, e tanto mais gozava nesse instante quanto mais as infelizes sofriam; foi inventora da famosa coluna de bronze oca que fazia aquecer em brasa. depois de aí ter encenado a vítima. Teodora, mulher de Justiniano, adorava presenciar à castração dos eunucos. Messalina se fazia punhetar enquanto, pelo processo da masturbação, seus escravos extenuavam vários homens diante dela. As floridianas faziam engrossar o membro dos maridos colocando sobre a glande pequenos insetos venenosos, amarravam-nos para essa operação e reuniam-se em grupo para efetuar essa operação mais rapidamente. Quando os espanhóis chegaram a esse país, elas próprias agarravam os maridos para que fossem assassinados pelos conquistadores. La Voisin, La Brinvilliers, envenenavam apenas por prazer. A história fornece milhares de exemplos da crueldade feminina, acho que por isso elas se deixavam ser flageladas, o que causa grande prazer ao homem. Seria uma válvula natural à crueldade das mulheres, e a sociedade com isso ganharia, pois não podendo expandir-se desse modo, elas inventam mil outros modos piores para derramar o veneno que as habita, fazendo o desespero dos pobres maridos e da família inteira. A maior parte delas recusa sempre a fazer uma boa ação quando se apresenta a ocasião de socorrer algum infortúnio, mas essa válvula não chega para tanta maldade. Elas precisam exercer maldades maiores. Haveria, sem dúvida, outros meios para lhes contentar a malvadez inata, mas não sei se eu poderia aconselhá-lo... Que tem você, menina? Em que estado está! 1 Ver a História de Zíngua rainha de Angola, por um Missionário EUGÊNIA, masturbando-se - É o efeito de todas essas suas histórias! DOLMANCÉ - Ajude-nos, senhora, não é possível que ela goze sem que a auxiliemos! MADAME - Realmente, seria injusto! Venha aos meus braços, deliciosa e sensível criatura. E como fica linda no momento de gozar! DOLMANCÉ - Ocupe-se da vanguarda, Madame, eu tratarei do cu, enfiando a língua no orifício róseo e dando-lhe uns tapinhas. Assim pode descarregar na nossa mão umas sete ou oito vezes. Vai ver que lindo! EUGÊNIA, quase gozando - Sei que não me será difícil! DOLMANCÉ - Na posição em que se encontram, cada uma de vocês pode me chupar o membro alternadamente, assim excitado procederei com muito mais ardor e aumentarei o prazer da nossa jovem e talentosa discípula. EUGÊNIA - Querida, disputo-lhe a honra de sugar tão linda pica! (Pendura-se nela). DOLMANCÉ - Que delícia, que voluptuoso calor. Eugênia, porte-se bem no momento em que eu esporrar, ouviu? MADAME - Sim, ela vai engolir tudo, respondo por ela. Se negligenciasse os deveres impostos pela luxúria veria... DOLMANCÉ, animadíssimo - Nem há duvida, não a perdoaria, que castigo exemplar havia de receber! Creio que a chicotearia até sair sangue. Pronto, estou esporrando, como escorre... Engula, não perca uma gota, querida, assim... Madame, entrego-lhe meu cu, cuide bem dele, está todo escancarado o danadinho, boceja anelante. Enfie os dedos assim até o pulso. Ai, esta menina encantadora chupou-me como um anjo e engoliu tudo! EUGÊNIA - Querido e adorado mestre, sim, não perdi uma só gota de sua porra! Beije-me agora que ela está no fundo das minhas entranhas. DOLMANCÉ - Que deliciosa menina! Com que abundancia descarregou! MADAME - Está completamente inundada. Mas, céus, o que ouço? Estão batendo! Quem ousará nos interromper? É meu irmão, que imprudência! prazer virá mais depressa. É verdade que, uma vez conhecendo as grandes, ela não mais se contentará com as pequenas, mas se uma mulher é bela, rica e jovem sempre achará uma, do tamanho que lhe apetecer. Quando forem pequenas, deve sempre metê-las no cu. MADAME - Sem dúvida, e será ainda mais feliz quando se servir de ambas ao mesmo tempo. Recebendo na babaca as agitações voluptuosas de uma pica, você precipitará o espasmo da outra que lhe estará enfiada no cu. Inundada pelo esperma de ambas, morrerá de prazer. DOLMANCÉ (não interrompendo o gozo durante o diálogo) -Ainda há lugar para mais duas ou três picas. A mulher que Madame descreve pode agarrar uma em cada mão, e ter ainda outra dentro da boca. MADAME - Também poderia ter mais duas sob as axilas, outras nos cabelos, uma quantidade em redor dela. Nesses momentos nunca as há em demasia. Que delícia tocá-las todas, devorá-las, chupá-las, só ter picas em redor de si, ser inundada por todas conjuntamente no instante em que a gente também ejacula! Dolmancé, por mais libertino que seja, desafio-o nesse campo. É impossível que alguém me sobrepuje nos deliciosos combates da luxúria. Nesse gênero já fiz tudo quanto é possível fazer neste mundo. EUGÊNIA, sempre punheteada pela amiga, como Mirvel o é por Dolmancé - Ai, querida, como a invejo, como quero gozar todos esses prazeres, entregar-me a todos os machos gostosos e potentes. Ó deliciosa deusa do prazer, que punheta! E esta pica como está túrgida! Que cabeça majestosa e rubicunda! DOLMANCÉ - Ele está quase a acabar. MIRVEL - Eugênia... minha irmã... aproximem-se, ai que seios divinos, que coxas macias e roliças! Acabem, acabem, que minha porra se reunira ao vosso gozo... Eis que me escorre toda, vejam queridas (Dolmancé tem o cuidado de dirigir o jato sobre as duas mulheres, principalmente sobre Eugênia, que fica toda inundada). EUGÊNIA - Que lindo espetáculo, que nobreza, que majestade! Eis-me toda inundada! Algumas gotas entraram-me até nos olhos! MADAME - Vamos colher essa preciosa gema, pérola do amor. Com ele esfregarei seu clitóris e isso apressará e aumentará seu gozo. EUGENIA - Sim, querida, que grande idéia, vou gozar nos seus braços. MADAME - Divina criatura! Beije-me mil vezes, chupe-me a língua, quero respirar seu sopro cálido, abrasado pelo prazer amoroso. Ai, estou para descarregar! Meu irmão, ajude-me, por favor. DOLMANCÉ - Vamos, Mirvel, faça uma gostosa punheta em sua irmã. MIRVEL - Prefiro fodê-la, veja como ainda estou rijo, e cheio de tesão. DOLMANCÉ - Muito bem! Foda-a e dê-me seu cu ao mesmo tempo; assim foderei durante esse voluptuoso incesto. Eugênia, armada com este godemiché consolador, me enrabará. Destinada a representar todos os papéis na luxúria, tem que se aplicar nestas lições para ser digna delas, para ficar à altura de todos eles. EUGÊNIA, armando-se do consolador - Com todo o prazer. Nunca me encontrarão indiferente ou relapsa quando se tratar do deboche. Ele é de hoje em diante meu único Deus, minha única regra de conduta, única base de todas as minhas ações. (Enraba Dolmancé). É assim, caro mestre? Sou boa discípula? DOLMANCÉ -Ótima, isso mesmo, safada, sabe enrabar como um macho. Enfim, estamos os quatro ligados pela cadeia do amor! Vamos, gozando! MADAME - Estou para morrer, nunca me acostumarei às deliciosas sacudidela da gostosa pica fraterna! É mesmo deliciosa! DOLMANCÉ - Ó, cu encantador, pródigo em prazeres! Vamos, acabemos os quatro ao mesmo tempo! Ai, morro, expiro, não aguento... Está gozando, Mirvel ? MIRVEL - Veja essa babaca cheia da minha porra! DOLMANCÉ - Ai, amigo, quem me dera tanta no cu! MADAME - Quero descansar um pouco para não morrer de gozo! DOLMANCÉ, beijando Eugênia - Esta deliciosa menina fodeu-me como um Deus da foda! EUGÊNIA - E, na verdade, também tive prazer. DOLMANCÉ - A um verdadeiro libertino todos os excessos causam prazer. É preciso inventá-los, multiplicá-los, até o impossível! MADAME -Já coloquei quinhentos luíses num tabelião para premiar o indivíduo capaz de me ensinar um vício que eu desconheça, ou de acordar no meu peito volúpia que eu já não tivesse experimentado. DOLMANCÉ, enquanto todos acalmados s6 pensam em conversar - Tomarei nota dessa idéia bizarra. Creio porém que o singular desejo que você persegue não se compara às delícias que acaba de gozar, mas que me parecem bem insignificantes. MADAME - Como assim? DOLMANCÉ - Confesso que nada conheço tão fastidioso quando o gozo pela boceta. A senhora, que sabe o que significa tomar no cu, não deveria mais foder pela frente. MADAME - São velhos hábitos. No meu caso o que quero é ser fodida, seja qual for o orifício pelo qual se introduza uma respeitável pica. Entretanto, também sou dessa opinião: todas as mulheres de forte temperamento preferirão sempre ser enrabadas a serem fodidas pela boceta. Que elas ouçam a minha voz, a voz da mulher mais fodida de toda a Europa! Certifico que não há comparação; quem conhece o prazer pelo cu sempre o preferirá ao prazer pela babaca. MIRVEL - Não penso do mesmo modo. Embora me preste a tudo quanto me pedirem, prefiro sempre o altar natural que a natureza indicou para foder. DOLMANCÉ - Pois esse altar é o cu. Perscrute cuidadosamente as leis da natureza: ela não indicou outro altar, e embora permita o resto, fez para isto o cu. Se tal não fosse sua intenção como poderia ter criado esse orifício tão de acordo com o nosso membro, redondinho como ele? S6 um inimigo do bom senso poderia imaginar um buraco oval feito para o membro rotundo... Os sacrifícios realizados na frente s6 servem para multiplicar a propagação da espécie à qual a natureza se opõe, e apenas tolera, mas que a desagrada. Continuemos porém a educação de Eugênia. Depois de ter sido iniciada nos mistérios da ejaculação, é preciso que aprenda agora a dirigir o jato. MADAME - Não será agora, no estado em que você e Mirvel se encontram... DOLMANCÉ - De acordo, mas não haverá na sua casa algum jovem robusto que pudesse nos servir de manequim, e sobre o qual pudéssemos demonstrar nossas teorias? MADAME - Tenho justamente a criatura da qual precisamos. DOLMANCÉ - Não será por acaso o jovem jardineiro, de dezoito a vinte anos, e de belo porte, que vi há pouco trabalhando no seu pomar? MADAME - Agostinho? Ele mesmo. Dono dum membro de treze polegadas de comprimentos sobre oito e meia de circunferência! DOLMANCÉ - Que monstro! E fica bem duro? E esporra em abundância? MADAME - É uma torrente de esperma. Vou chamá-lo. QUINTO DIÁLOGO Dolmancé, Mirvel, Agostinho, Eugênia e Madame, MADAME, trazendo Agostinho - Eis o moço do qual lhes falei. Vamos nos divertir: que seria a vida sem a luxúria? Venha, tolinho. Parece incrível que há seis meses trabalho para ensiná-lo a ser desembaraçado e ainda não o consegui! AGOSTINHO - Qual o que! Madame já me disse que eu começo a entender do riscado. Já me prometeu dar trabalho em todas as charnecas que aparecerem... DOLMANCÉ - Que engraçado! $ tão fraco e natural quanto jovem e ingênuo! (Mostrando Eugênia). Esta charneca é coberta de flores, quer trabalhar nela? AGOSTINHO - Ai, senhor, uma gostosura dessas não é para o meu bico... DOLMANCÉ - Vamos, Eugênia. EUGÊNIA - Incrível! Creio que estou com vergonha... DOLMANCÉ - Repudie sentimento tão pusilânime. Todos os nossos atos, sobretudo os da libertinagem, são inspirados pela natureza e não há do que ter vergonha. Eugênia, seja a puta desse jovem, provoque-o como pede a natureza. Só é digna do seu sexo a mulher que se prostitui ao nosso. Assim como você nasceu de uma foda, só pela foda deve viver, só assim merece ter visto a luz do dia. Você mesma deve tirar as calças desse lindo jovem, levantar-lhe a camisa; assim, a frente e o cu (que ele tem tão bonito) ficarão ambos à sua disposição. Que uma de suas mãos lhe agarre a vasta manjuba que, sob suas carícias, vai inchar até lhe causar medo, e que a outra lhe faça cócegas nas nádegas e no orifício anal, assim, veja... Descubra bem essa glande rubra, nunca a deixe ficar coberta. O freio está teso quase a se romper. E você, tolo, não fique de mãos desocupadas, veja os tesouros que se lhe oferecem; passeie as mãos sobre os peitos e as nádegas da moça. AGOSTINHO - Gostaria de cobrir de beijos essa moça que tanto prazer me dá! MADAME - Pois beije! Faça com ela o que você faz comigo quando dormimos juntos. AGOSTINHO - Ai que boca fresca! Parece que estou cheirando as rosas do meu jardim. Veja o efeito que produz em mim (mostra o enorme membro entesado). EUGÉNIA - Meu Deus, está enorme, até dá medo. DOLMANCÉ - Que seus movimentos se tornem regulares, Eugênia, e mais enérgicos. Olhe, ceda-me o lugar um momento, veja corno procedo: mais firme e ao mesmo tempo mais suavemente. Tome, não cubra a glande; pronto, agora está em toda a sua energia. Veja quanto é maior que o de Mirvel. EUGÉNIA - Nem há dúvida, não o posso abarcar. DOLMANCÉ, medindo-o - A medida é exata, treze por oito e meio! Nunca vi mais grosso! É o que se pode chamar de "soberbo". E Madame o aguenta? MADAME - Regularmente, todas as noites, quando estou nesta minha propriedade. DOLMANCÉ - Mas na boceta, no cu não é possível. MADAME - Recebo-o mais freqüentemente no cu do que na boceta. DOLMANCÉ - Como é libertina! Confesso que não sei se o agüentaria... MADAME - Deixe de prosa, ele entraria tão bem no seu cu como entra no meu. DOLMANCÉ - Veremos logo, espero que Agostinho se digne a lançar-me um pouco de esperma no cu; eu lhe pagarei a gentileza. Vamos, Eugênia, a serpente vai lançar seu veneno; prepare-se, contemple a cabeça deste membro sublime! Quando se aproximar o momento da ejaculação, ficará ainda mais rubro e mais grosso. Que seus movimentos se tornem mais vivos e apressados, que seus dedos se enfiem pelo ânus! Abandone-se por completo! Procure-lhe a EUGÊNIA - Não foi sem remorsos. Tenho ouvido dizer tantos horrores desse enorme crime, sobretudo quando praticado entre homens, como fizeram há pouco Dolmancé e Agostinho. Que meu mestre me fale filosoficamente desse horrível delito... DOLMANCÉ - Nada é horrível em libertinagem. Tudo é voz da natureza. Os atos que mais parecem chocar e ferir todas as instituições humanas (pois jamais falo do céu, que não existe) são justificados pela natureza. A sodomia deu origem a uma fábula no medíocre romance da Escritura, compilação fastidiosa dum judeu ignorante no cativeiro da Babilônia. Sodoma e Gomorra estavam colocadas em crateras de antigos vulcões e pereceram como Herculano e Pompéia, na Itália, engulidas pelo Vesúvio. Eis todo o milagre! Entretanto, partiram dum evento simplicíssimo para inventar barbaramente o suplício do fogo contra os pobres mortais que se abandonavam, numa parte da Europa, a essa fantasia que, confessemos entre nós, é tão gostosa quanto natural... EUGÊNIA - Oh, natural... DOLMANCÉ - Sim, natural, eu o sustento: a natureza não tem duas opiniões, uma a se opor à outra diariamente, e é absolutamente certo que não é da natureza que os homens possuídos por essa mania recebem as impressões que a ela os conduz. Os que querem afastar ou condenar este gosto pretendem que ele prejudica o desenvolvimento da população. Como são cacetes estes imbecis que não têm outra idéia na cabeça e que só vêem crime em tudo que deles discorda? Está por acaso demonstrado que a natureza tenha tal necessidade dessa população como nos querem fazer acreditar? Será certo que nos ultrajamos toda vez que prejudicamos esta estúpida propagação? Ouçamos um instante, para nos convencermos disso, suas leis e sua marcha. Se a natureza criasse constantemente e se nunca destruísse nada, eu poderia acreditar, como esses fastidiosos sofistas, que não haveria nada mais sublime que trabalhar incessantemente em favor desse desenvolvimento. Poderia, mesmo, concordar em que a recusa de contribuir para isso fosse um crime. Mas, a mais ligeira visão das operações da natureza não prova, ao contrário, que a destruição é tão necessária aos seus planos como a criação? Que uma e outra dessas operações estão tão intimamente ligadas que é impossível a uma agir sem que a outra igualmente intervenha? Nada nasceria, nada regeneraria, se não houvesse destruição. A destruição é, pois, uma das leis da natureza, como a criação. Admitindo este princípio, como poderia eu ofender a natureza recusando-me a criar? Aliás, ainda que admitindo um mal nessa recusa, ele seria muito menor que o de destruir e, no entanto, a destruição está nas leis como acabo de provar. Se, pois, de um lado, eu admito a inclinação que a natureza me deu para esse desperdício e, se de outro, eu vejo que ele lhe é necessário e que eu, simplesmente, me submeto a ela quando o pratico, onde estaria o crime? Mas, vos objetam os idiotas ou os adeptos do povoamento, o que, aliás é sinônimo: este esperma fecundante não pode estar contido em vós para outro uso que não o da propagação; desviá-lo seria uma ofensa. Eu acabo de provar, ao contrário, que esta perda nem sequer equivaleria a uma destruição e que a própria destruição, muito mais importante, não representaria um crime. Em segundo lugar, é falso que a natureza destine este licor espermático exclusivamente à reprodução, pois se assim fosse, ela não permitiria que ele se derramasse em outra ocasião, como a experiência nos prova; pois nós o perdemos quando queremos e onde queremos. Ela se oporia ainda a que essas perdas se verificassem sem coito como acontece quer nos sonhos, quer nos resultados de uma simples evocação. Ela não permitiria que a vara de um licor tão precioso se derramasse senão no vaso da propagação, e nos recusaria o gozo, com que então nos coroa, quando nós não o vertêssemos sobre ele. Pois, não seria razoável acreditar que ela consentisse em nos oferecer tanto prazer exatamente quando nós estivéssemos a ultrajá-la ao máximo? Mas vamos além; se as mulheres só tivessem nascido para reproduzir, se esta reprodução fosse assim tão cara à natureza, como aconteceria que, durante toda sua vida, por mais longo que seja e somando-se todos os períodos, somente sete anos ela seja apta a criar um seu semelhante? Como? Então a natureza é ávida de propagação; tudo o que a isso não tende lhe é ofensivo e, durante cem anos de vida, o sexo destinado a produzir só o conseguirá durante sete anos? A natureza não visa senão à propagação e a semente que para isso dá ao homem perde-se na medida em que agrada ao homem! E ainda; ele goza o mesmo prazer com o desperdício e com o emprego útil?... Deixemos, meus amigos, deixemos de acreditarem tais absurdos, eles fazem enrubescer o bom senso. Ah, longe de ultrajar a natureza, convençamo-nos bem de que o sodomita e a tríbade servem-na, ao se recusar decididamente a uma conjunção da qual só resulta uma prole fastidiosa para ela. Esta propagação, não nos enganemos, nunca foi uma de suas leis, mas, no máximo, uma tolerância, já lhes disse. Que lhe importa que a raça dos homens se extinga e acabe sobre a terra! Ela se ri certamente de nosso orgulho quando queremos nos convencer de que tudo terminaria se isto acontecesse. Ela nem sequer se aperceberia disso.. Será que nunca houve o caso de uma raça que se extinguisse totalmente? Buffon refere-se a várias delas, e a natureza, silenciosa diante de uma perda tão preciosa, talvez nem a percebesse... Toda a espécie poderia se acabar e, estejais certos, nem por isso o ar seria menos puro, os astros menos brilhantes e a marcha do universo menos exata. Quanta imbecilidade, entretanto, seria necessária para acreditar que nossa espécie é tão útil ao mundo que, aquele que não trabalhasse para a propagar, ou que perturbasse essa propagação, se tomaria necessariamente um criminoso! Abramos os olhos a esse respeito e que o exemplo de povos mais razoáveis nos sirva para que nos convençamos de nossos erros. Não há um só lugar sobre a terra onde esse pretenso crime de sodomia não tenha tido templos e fiéis. Os gregos que dele faziam, por assim dizer, uma virtude, erigiram-lhe uma estátua sob o nome de Vênus Calipígia; Roma foi inspirar-se em Atenas e de lá trouxe esse divino prazer. E que progressos não o vemos fazer sob os imperadores? Ao abrigo das águias romanas ele se estende de um extremo ao outro da terra e, com a destruição do império, se refugia aos pés da coroa; acompanha as artes na Itália e só chega até nós quando nos civilizamos. Descubramos um novo hemisfério e aí encontraremos fatalmente a sodomia. Cook mergulha em um novo mundo; ela aí reina. Se nossos balões tivessem estado na lua, ela aí teria sido igualmente encontrada. Prazer delicioso, filho da natureza e do gozo, deveis estar em todo lugar onde os homens se encontrarem e aí onde estiverdes vos elevarão altares! Ó amigos meus, pode haver maior extravagância do que imaginar que um homem se transforma em um monstro digno de perder a vida somente porque prefere em seu prazer o orifício de um cu ao de uma boceta? Porque, à uma mulher que só lhe proporciona um prazer, ele prefere um rapazinho com quem consegue dois: o de enrabar e ser enrabado? Seria ele porventura um celerado, um monstro, por ter querido exercer a função de um sexo que não é o seu? E afinal? Por que a natureza o teria feito sensível a este prazer? Examinai sua conformação; vós observareis uma completa diferença relativamente aos homens que não nasceram com este gosto: suas nádegas serão mais brancas, mais arredondadas, nenhum pêlo sequer sombreará o altar do prazer, cujo interior, revestido de uma membrana mais delicada, mais sensual, mais acariciante, oferecerá positivamente os mesmos atrativos que o interior da vagina de uma mulher. O caráter deste homem, ainda, será diferente dos outros; terá mais suavidade, mais flexibilidade; vós nele encontrareis, certamente, quase todos os vícios e virtudes das mulheres. Mesmo a fraqueza que lhes é própria vós encontrareis nesses tipos; eles terão suas manias e qualquer coisa de feminino em sua fisionomia. Será, pois, possível que a natureza, assimilando-os desta maneira às mulheres, possa irritar-se porque eles tenham seus gostos? Não é claro que eles constituem uma classe diferente de homens e que a natureza os criou assim para diminuir essa propagação cujo excessivo aumento a prejudicaria infalivelmente? Ah, minha querida Eugênia, se você soubesse como se goza deliciosamente quando um grosso caralho lhe enche o eu, quando, mergulhado até os culhões ele aí se agita com todo ardor... Quando, engolido desde o prepúcio, ele penetra até o pentelho... Não! Não! Não existe no mundo inteiro um gozo que equivalha a este; é o dos filósofos, é o dos heróis e seria o dos deuses se os únicos deuses que nós devêssemos adorar não fossem exatamente os órgãos que nos permitem esse divino prazer¹. (1) Como esta obra nos promete, mais adiante, uma dissertação bem mais externa sobre este assunto, nos restringimos aqui a uma breve analise. EUGÊNIA, animadíssima - Que me enrabem, meus amigos! Pegai, tomai a minha bunda, eu vos ofereço... Fodei-me ! Eu não aguento mais... (Ela cai, ao pronunciar estas palavras, nos braços de Madame de Saint-Ange, que a segura e oferece o traseiro da menina a Dolmancé). MADAME - Divino professor, poderia você resistir a esta tentação? Não lhe tentará este sublime traseiro? Veja como ele treme e se entreabre... DOLMANCÉ - Perdão, minha bela Eugênia; não serei eu, se me permite, que me encarregarei de extinguir o fogo que aticei. Você tem, minha criança, o grande defeito de ser mulher. Bem que quis esquecer toda prevenção para colher as suas primícias; mas permita que eu fique por aqui. Nosso amigo Cavalheiro que se encarregue do trabalho. Sua irmã, armada com este consolo, desferir-lhe-à no cu os mais valentes golpes e, ao mesmo tempo, oferecerá o lindo traseiro a Agostinho que a enrabará; eu o foderei ao mesmo tempo. Há mais de uma hora, eu vos confesso, que a bunda deste tipo me tenta e é preciso que eu lhe pague o que me fez. EUGÊNIA- Está bem, Dolmancé, eu aceito a troca. Mas, francamente, a franqueza da opinião não lhe diminui a impolidez. DOLMANCÉ - Mil perdões, senhorita, mas nós, os invertidos, nos orgulhamos da nossa franqueza e da exatidão de nossos princípios. MADAME - Não é, entretanto, esta reputação de franqueza que costumam ter os que, como você, estão acostumados a gozar apenas por detrás... DOLMANCÉ - Um tanto hipócritas, sim, um pouco falso... Pode lhes parecer. Pois bem, Madame, eu já demostrei que este caráter era indispensável na sociedade. Condenados a viverem companhia de gente que tem o maior interesse em se esconder de nós, em disfarçar os próprios vícios para só nos mostrar virtudes, que, aliás, nunca incensaram, correríamos o maior perigo se quiséssemos ser francos, pois, assim, lhes daríamos uma vantagem que eles nos recusam e, com isso, tomariam evidente nossa estupidez. A dissimulação e a hipocrisia são-nos impostas pela sociedade. Por que resistir? Permita-me, Madame, que eu me ofereça, por um instante, como exemplo: não há ninguém no mundo mais corrompido que eu; pois bem, meus contemporâneos enganam-se redondamente; perguntem-lhes o que pensam de mim e dirão, sem dúvida, que sou um homem honesto e, entretanto, não há um só crime em que eu não tenha encontrado um prazer e uma delícia. MADAME - Pois bem, apesar de tudo, você não me convencerá de que tenha praticado estas atrocidades. DOLMANCÉ - Atrocidades... Ora, Madame, eu cometi horrores... MADAME - Está bem. Você é como o tal que dizia ao confessor: inútil entramos em pormenores, senhores, fora o roubo e o assassínio pode estar seguro que tudo mais eu cometi. DOLMANCÉ - Sim, madame, eu diria o mesmo, incluindo a exceção... MADAME - Como? Você se permitiu, libertino... DOLMANCÉ - Tudo, Madame, tudo. Pode-se lá recusar alguma coisa com o meu temperamento e os meus princípios? MADAME - Fodamos! Fodamos! Já não aguento esta prosa, deixemo-la para mais tarde. Para dar fé às suas confissões quero ouvi-Ias quando estivermos com a cabeça fria. No meio da farra você gosta de dizer horrores e, com certeza, está nos apontando como verdadeiras as fantasias libertinas de sua imaginação inflamada. (Enquanto isso os parceiros tomam posição). DOLMANCÉ - Espera, Cavalheiro, espera; eu mesmo vou ajudá-lo a introduzir, mas antes disso, que a bela Eugênia me perdoe, é preciso que ela me deixe fustigá-la um pouco como preparação... (Ele a fustiga). EUGÊNIA - Eis uma cerimônia completamente inútil, Dolmancé. Confesso que ela satisfaz à sua luxúria mas não fique convencido, ao bater-me, de que eu esteja gozando alguma coisa. DOLMANCÉ (Continuando a fustigar) - Espere um pouco e então você me dirá. Você não conhece a importância dessa preliminar... Vamos! Vamos, minha sem-vergonha, e eu surrarei até sangrar! EUGÉNIA - Oh, meu Deus como ele bate! Minhas nádegas estão em fogo! Você me machuca de verdade! MADAME - Vou vingá-la, meu bem, vou pagar-lhe na mesma moeda. (Fustiga Dolamancé). pais. E como não foi por nós que trabalharam, é nos permitido não só detestá-los como, mesmo, desfazermos-nos deles se seu procedimento nos irrita. Nós só devemos amá-los quando eles se portam bem para conosco, e essa ternura não deve ser maior do que a que teríamos para com um amigo qualquer, porque os direitos do nascimento não estabelecem nada, não fundamentam coisa alguma. Analisando-os com sabedoria e reflexão nós só encontraríamos, seguramente, razão para odiar aqueles que, só se preocupando com seus prazeres, nos deram uma existência quase sempre desgraçada ou malsã. Fala-me dos laços do amor, Eugênia? Pudesse você nunca os conhecer! Que um tal sentimento, pelo bem que lhe quero, não se aproxime jamais de seu coração! O que é o amor? Só podemos considerá-lo como o efeito que causam as qualidades de um belo objeto sobre nós; estes efeitos nos transportam, nos inflamam. Se possuímos este objeto, eis-nos contentes; se nos é impossível conseguí-lo nos desesperamos. Mas qual é a base deste sentimento? O desejo. Quais são as consequências deste sentimento? A loucura. Firmemo-nos pois no motivo e livremo-nos dos efeitos. O motivo é possuir o objeto? Pois bem, procuremos conseguí-lo, mas com sabedoria. Se o obtemos, gozamos dele. Consolemo-nos, caso contrário; mil outros objetos semelhantes, e muitas vezes melhores, nos consolarão da perda. Todos os homens, todas as mulheres se assemelham, e não existe amor que resista aos efeitos de uma sã reflexão. Oh Como é falsa esta embriaguez que, absorvendo os resultados das sensações, mete-nos num tal estado que nós não enxergamos mais, que não existimos mais senão para este objeto loucamente adorado! É isto, viver? Não será, antes, uma privação voluntária de todas as doçuras da vida? Não será permanecer, voluntariamente, nas garras duma febre arrasadora que nos devora e nos absorve, sem deixar outra felicidade que os gozos metafísicos tão semelhantes aos efeitos da loucura? Se nós devêssemos amar para sempre este objeto adorável, se fosse certo que nunca viéssemos a abandoná-lo, isto seria já uma extravagância, sem dúvida, mas, pelo menos escusável. É isto que acontece, porém? Há, por acaso muitos exemplos destas ligações eternas, nunca desmentidas? Alguns meses de prazer, recolocando logo o objeto em seu verdadeiro lugar, fazem-nos envergonhar do incenso que queimamos sobre seus altares e, muitas vezes, chegamos a não compreender que ele tivesse nos seduzido a tal ponto. Oh, jovens voluptuosas, entreguem, pois, seus corpos tanto quanto puderem! Fodam, divirtam-se, eis o essencial. Mas fujam cuidadosamente do amor. Nele não há de bom senão o físico, dizia o naturalista Buffon, e não foi apenas sobre isto que ele refletiu como bom filósofo. Divirtam-se, repito; mas não arpem. Não se escravizem aos seres. Não se extenuem em lamentações, em suspiros, em doces olhares, em escrever suaves bilhetes. Fodam, multipliquem e troquem constantemente de parceiro. Oponham-se, sobretudo, fortemente, a que um só as cative, porque sua única finalidade, ao ligar-se a vocês, será impedi-Ias de se entregar a outro, egoísmo cruel que se tornará logo fatal para seus prazeres. As mulheres não foram feitas para um só homem: foi para todos que a natureza as criou. Não ouvindo senão esta voz sagrada que elas se entreguem indiferentemente a todos os que as desejem. Putas sempre, jamais amantes; fugindo do amor, adorando o prazer, elas só encontrarão rosas no caminho da existência. Pergunte, Eugênia, pergunte à encantadora mulher que gentilmente se encarregou de sua educação, o que deve fazer com o homem de que já gozou? (Falando baixo de maneira a não ser ouvido por Agostinho). Pergunte-lhe se levantaria uma palha conservar este Agostinho que hoje faz suas delícias? Na hipótese de que o desejassem roubar, ela tomaria um outro e não pensaria mais nele. Logo, cansada de novo, ela o imolaria em dois meses se novos prazeres pudesse conseguir deste sacrifício. MADAME - Esteja certa, Eugênia, de que Dolmancé revela aqui meu coração, e o de todas as mulheres como se nós lhe tivéssemos aberto inteiramente. DOLMANCÉ - A última parte de minha análise refere-se aos laços da amizade e do reconhecimento. Respeitemos os primeiros, consinto, enquanto nos são úteis. Conservemos nossos amigos enquanto nos servem, esqueçamo-los desde que não possamos mais tirar proveito deles. É só pensando no próprio bem que devemos amar aos outros; amá-los por eles mesmos não passa de estupidez. A natureza nunca inspirou aos homens movimentos ou sentimentos que não lhes servissem para alguma coisa; nada é tão egoísta como a natureza, sejamo-lo também se quisermos obedecer suas leis. Quanto ao reconhecimento, Eugênia, é, sem duvida, o mais fraco de todos os liames. É pensando em nós que os homens procedem de modo a obrigar-nos ao reconhecimento? Não acreditemos, minha cara. É por ostentação, por orgulho. Não é, pois, humilhante tornarmonos o joguete do amor próprio dos outros? Não o será ainda mais mostrarmo-nos agradecidos? Nada pesa tanto como favor recebido. Nada de meio-termo; ou o devolvemos, ou ele nos aviltará. As almas valorosas não suportam o peso dum favor; este pesa sobre elas tão violentamente que o único sentimento que elas podem expressar é o de ódio pelo seu benfeitor. Porém, quais serão, na sua opinião os laços que compensam o isolamento em que nos criou a natureza? Quais os que estabelecem as relações entre os homens? Como os amaremos, se preferimos a nós mesmos? Com que direito aliviaremos seus infortúnios? Onde estará, agora, em nossas almas o berço das belas e inúteis virtudes, da beneficência, da humanidade, da caridade; inscritas no código absurdo de algumas religiões imbecis, que, pregadas por impostores ou por mendigos tiveram, necessariamente, que aconselhar o que podia sustentá-los ou tolerá-los? Ora bem, Eugênia, admite você, ainda, a existência de qualquer coisa sagrada entre os homens? Pode conceber alguma razão para não nos preferir aos outros? EUGÊNIA - Estas lições, que vêm de encontro ao meu coração, agradam-me demais para que meu espírito as recuse. MADAME - Elas estão na natureza, Eugênia. A aprovação que você lhes dá prova-o. Como poderiam ser oriundas da corrupção se nascem, espontaneamente, de um espírito ainda virgem? EUGENIA - Mas, se todos os erros que você preconiza são naturais, por que é que as leis se opõem a eles? DOLMANCÉ - Porque as leis não são feitas para o particular, mas para o geral, o que as coloca em perpétua contradição com o interesse pessoal, visto que o interesse pessoal está sempre em oposição ao geral. Mas as leis, boas para a sociedade, são péssimas para os indivíduos que a compõem pois, para cada vez que os protejam ou os garantam, elas os escravizam e dominam três quartas partes de sua vida. O homem sábio, desprezando-as, tolera-as, como faz com as serpentes e víboras que, embora firam e envenenem, servem, algumas vezes, à medicina. Ele se defenderá das leis como se defende destes animais venenosos: garantir-se-à com precauções e mistérios, coisas fáceis à riqueza e à prudência. Se sua alma inflamar-se, Eugênia, e a fantasia levá-la a cometer algum crime, fique certa de que poderá cometê-lo em paz diante de nós. EUGÊNIA - Ah! Esta fantasia já se apossou de meu coração. MADAME - Que capricho a agita, Eugênia? Diga-nos com toda confiança. EUGÊNIA, exaltada - Eu queria uma vítima. MADAME - De que sexo desejaria que ela fosse? EUGÊNIA, ainda exaltada - Do meu. DOLMANCÉ - E então, Madame, está contente com a sua aluna? Seus progressos são suficientemente rápidos? EUGÊNIA, no mesmo estado de espírito - Uma vítima, meu bem, uma vítima! Oh! Meu Deus, isto faria a minha felicidade! MADAME - E que faria você dela? EUGÊNIA - Tudo... Tudo... Tudo o que pudesse torná-la a mais desgraçada das criaturas. Oh! meu bem, minha adorada, tenha piedade de mim, não aguento mais! DOLMANCÉ - Caramba, que imaginação! Venha, Eugênia, você é deliciosa. Venha, quero beijá-la um milhão de vezes! (Retoma-a nos braços). Olhe, Madame, veja como esta libertina goza sem que a toquem, de pura imaginação... Eu enrabarei ainda uma vez, de qualquer maneira. EUGÊNIA - E em seguida, terei o que peço? DOLMANCÉ - Sim, maluca, eu respondo por isso. EUGÊNIA - Eis meu cu, querido, faça dele o que quiser. DOLMANCÉ - Espere, quero gozar este prazer do modo mais requintado. Agostinho, estenda-se sobre a beira desta cama. Eugênia deitar-se-á em seus braços enquanto eu a sodomizar. Acariciarei seu clitóris com a soberba cabeça do pau de Agostinho que, para economizar sua porra, fará por não acabar. O querido Cavalheiro, que se masturba silenciosamente enquanto nos ouve, colocar-se-á sobre os ombros de Eugênia, expondo suas belas nádegas aos meus beijos. Eu o masturbarei por baixo e assim, conservando meu engenho no cu de Eugênia, acariciarei dois membros. Madame, depois de ter sido minha mulher, será meu macho. Coloque um de seus consolos, senhora! (Madame abre uma caixinha cheia deles e o nosso herói escolhe o maior). Bem, este, diz o número, tem quatorze polegadas de comprimento e dez de grossura. Amarre-o bem na cintura, Madame. Penetre-me com toda força. MADAME - Você está louco, Dolmancé, eu vou estropiá-lo. DOLMANCÉ - Não tenha medo. Empurre, penetre, meu anjo! Não enrabarei sua querida Eugênia senão quando seu enorme membro estiver bem no fundo de meu cu... Chegou, chegou, meu Deus! Ah, você me eleva às nuvens! Não tenha piedade, minha bela. Aviso-a de que vou enrabá-la sem nenhuma preparação... Ah, meu Deus, que lindo rabo! EUGÊNIA - Você me rasga, meu amigo.. Prepare pelo menos o caminho... DOLMANCÉ - Não, não o faria nunca. A gente perde a metade do prazer com estes cuidados idiotas. Lembre-se de nossos princípios, Eugênia. Eu trabalho para mim; você será a vítima por um momento, meu anjo. O seu dia chegará... Ah, meu Deus, como ele entra! EUGÊNIA - Você me mata! DOLMANCÉ - Porra, estou acabando! EUGÊNIA - Faça o que quiser, agora. Ele entra! Ai, como eu gozo! DOLMANCÉ - Como é gostoso esfregar este caralho sobre o grelo duma virgem! Vira-me este rabo, Cavalheiro... Está boa esta punheta libertino? Foda, Madame, foda esta sua puta. Sim, eu sou uma puta, eu quero ser um puta! Acabe Eugênia, acabe, meu anjo. Agostinho, sem querer, enche-me de porra. O Cavalheiro também... Eu mesmo estou a acabar! Não aguento! Eugênia, mexa este rabo, que teu ânus aperte-me o pau. Quero lançar no fundo de suas entranhas esta porra candente que se exala. Eu morro! (Dolmancé se retira. O conjunto se desfaz). Olhe, Madame, veja esta pequena como está coberta de porra. Acaricie seu grelo ainda molhado de esperma: não há nada mais delicioso. EUGÊNIA, palpitante - Oh, meu bem, como você me faz gozar! Meu amor, eu arfo de lubricidade! DOLMANCÉ - Cavalheiro, tendo sido escolhido para deflorar esta linda menina, junte-se à sua irmã para fazê-la gozar até que desmaie em seus braços. Mas que o faça de maneira a apresentar-me o rabo; quero Mê-lo enquanto Agostinho me enraba. MIRVEL - Está bem, assim, nesta posição? DOLMANCÉ - Levante o cu um pouco, meu amor. Assim ... Quer que o prepare, Cavalheiro? MIRVEL - Como quiser. Só quero gozar esta deliciosa garota. (Beija-a e masturba-a, enfiando-lhe um dedo na boceta, enquanto Madame ajuda-o, titilando o clitóris de Eugênia). DOLMANCÉ - Pois eu, meu caro, sinto muito mais prazer com você, esteja seguro, do que com Eugênia. Há tanta diferença entre o cu de um rapaz e o de uma garota!... Enrabe-me, Agostinho! Que é que está esperando? AGOSTINHO - Como? O senhor quer que meu pau, depois de regar a pombinha desta beleza, fique duro diante de seu cu? Se ele ao menos fosse tão bonito como essa babaquinha... DOLMANCÉ - Imbecil! Para que queixar-se? Assim é a natureza: cada um reza a seu santo. Vamos, penetre-me, Agostinho! Quando você tiver mais experiência me dirá então se os cus não valem tanto como as bocetas... Eugênia, devolva ao Cavalheiro o que lhe deve. Você só se ocupa de si mesma, minha libertina, e tem razão; mas, no interesse de seus próprios prazeres, masturbe-o. Ele vai colher suas primícias. EUGÊNIA -Pois bem, eu o masturbarei, beijarei... Perco a cabeça... Ai, ai, meus amigos, eu não aguento mais, tenham pena de mim. Eu morro, eu acabo! Meu Deus, estou fora de mim! DOLMANCÉ - Quanto a mim, sei o que faço. Só queria me entesar neste belo cu; guardo para Madame de Saint-Ange a porra que acumulei. Nada me diverte tanto como começar num cu a operação que terminarei em outro. Então, Cavalheiro, estamos prontos? Vamos ou não descabaçá-la? A RELIGIÃO Eu venho vos oferecer grandes idéias; elas serão ouvidas e sobre elas se refletirá. Ainda que todas não agradem, algumas, ao menos, ficarão e eu terei contribuído para o progresso humano e estarei contente. Não o escondo; é com tristeza que vejo a lentidão com que caminhamos, e com inquietude percebo que estamos na véspera de fracassar mais uma vez. Pensam que este fim será atingido quando nos tiverem dado leis ideais? Não o acrediteis. Que faríamos nós das leis sem a religião? Precisamos de um culto, e de um culto feito para o caráter de um republicano; porém bem diferente daquele que houve em Roma. Num século em que estamos tão convencidos de que a religião deve se apoiar sobre a moral e não a moral sobre a religião, precisamos de uma religião que se eleve sobre os costumes, que seja um desenvolvimento seu, uma consequência necessária e que possa, elevando a alma, sustentá-la perpetuamente à altura desta liberdade preciosa que é hoje seu único ídolo. ora, eu vos pergunto se é possível supor que a religião de um escravo de Tito ou de um vil histrião da Judéia possa convir a uma nação livre e guerreira que acaba de se regenerar? Não, meus compatriotas, não, vós não o acreditais. Se desgraçadamente, o francês mergulhasse ainda uma vez nas trevas do cristianismo, o orgulho, a tirania, o despotismo dos padres, de um lado, - vícios aliás sempre renovados nesta horda impura - e a baixeza, as insignificâncias, as chatices dos dogmas e dos mistérios desta indigna e enganosa religião, de outro, embotando a energia de sua alma republicana levá-lo-iam, imediatamente, a submeter-se de novo ao jugo que sua energia acaba de quebrar. Não nos esqueçamos que essa pueril religião era uma das melhores armas nas mãos de nossos tiranos: um de seus primeiros dogmas era: "Dar a César o que é de César"; mas nós destronamos César e não queremos mais dar-lhe coisa alguma. Franceses, seria vã presunção acreditar que espírito de um clero juramentado fosse diverso do de um clero refratário. Há vícios de constituição que não se corrigem. Em menos de dez anos, através da religião cristã, de sua superstição, de seus preconceitos, vossos padres, a despeito dos juramentos, a despeito da pobreza, retomariam sobre as almas o antigo domínio; eles vos escravizariam de novo aos reis, pois que o poder dos reis e o da religião são uma e mesma coisa e, então, vosso edifício republicano se desmoronaria por falta de bases. Ó vós que empunhais a foice, desferi o golpe de misericórdia na árvore da superstição; não vos contenteis com podar os ramos, desenraizai de uma vez uma planta cujos efeitos são tão contagiosos. Convencei-vos perfeitamente de que vosso sistema de liberdade e de igualdade contraria demasiado os ministros dos altares de Cristo, para que possa existir um só deles que o adote de boa fé ou não procure abalá-lo se consegue readquirir qualquer domínio sobre as consciências. Qual o padre que, comparando o estado atual com o que gozava antigamente, não fará tudo o que de si depender para recobrar a confiança e autoridade perdidas? E quantos seres fracos e pusilânimes não se tornarão novamente escravos desse coroinha ambicioso? Por que não imaginar que tais inconvenientes não podem renascer? Na infância da igreja cristã os padres não estavam exatamente na situação em que hoje estão? Vós vistes até onde chegaram. Quem, entretanto, os conduziu até lá? Não teriam sido os meios que a sua própria religião lhes fornece? Cara, se vós não proibis absolutamente esta religião, os que a pregam, dispondo sempre dos mesmos meios, atingirão sem dificuldade os mesmos resultados. Aniquilai pois para sempre tudo o que pode destruir um dia vossa obra. Lembrei-vos que o fruto de vossos trabalhos, estando reservados para vossos netos, é de vosso, dever, depende de vossa probidade, não deixar subsistir esses germes perigosos que poderia fazê-los mergulhar de novo no caos do qual com tanto esforço saímos. Já começam a se dissipar nossos preconceitos, o povo começa a abjurar os abusos católicos; ele próprio suprimiu os templos e ídolos. Convencionou-se que o casamento não é mais do que um ato civil, os confessionários quebrados alimentam as ladeiras públicas; os pretensos fiéis, desertando do banquete apostólico, deixam para os ratos os deuses de farinha. Não pareis, francêses. Toda a Europa, já com uma das mãos na venda que lhe cerra os olhos, espera de vós que a ajudeis a arrancá-la. Apressai-vos: não deixais que a "Santa Roma", que se agita em todos os sentidos para reprimir vossa energia, tenha tempo sequer para conservar alguns prosélitos. Golpeai decididamente sua cabeça orgulhosa e vivaz e que, em menos de dois meses, a árvore da liberdade, sombreando os destroços do trono de São Pedro, cubra com seus ramos vitoriosos todos esses desprezíveis ídolos do cristianismo, elevados, vergonhosamente, sobre as cinzas dos Catões e dos Brutos. Eu vos repito, francêses: a Europa espera que vós a liberteis uma só vez, do cetro e do turíbulo. Lembrai-vos de que lhes é impossível livrá-la da tirania real sem que a façais quebrar, ao mesmo tempo, os freios da superstição religiosa; os liames que as unem são tão íntimos que, se deixardes subsistir uma delas, vós recaireis imediatamente sobre o domínio da que negligenciardes de destruir. Não é diante de um ser imaginário ou de um vil impostor que um republicano deve se inclinar; seus únicos deuses devem ser agora a "coragem"" e a "liberdade". Roma desapareceu desde que lá se pregou o cristianismo e a França estará perdida se aqui o reverenciam ainda. Examinemos com atenção os dogmas absurdos, os mistérios assustadores, as cerimônias monstruosas, a moral impossível dessa desagradável religião e ver-se-á se ela pode convir a uma República. Podeis acreditar, de boa fé, que eu me deixasse dominar pela opinião de um homem que eu acabasse de ver aos pés de um imbecil sacerdote de Jesus? Não, absolutamente; esse homem, irremediavelmente vil, estará sempre ligado às atrocidades do antigo regime e, desde que se submete às cretinices de uma religião tão vulgar como a que tínhamos a loucura de aceitar, não poderá mais, nem me ditar leis nem me esclarecer. Não o vejo senão como um escravo dos preconceitos e da superstição. Para nos convencermos desta verdade lancemos os olhos sobre o pequeno número de indivíduos que permanecem fiéis ao culto insensato de nossos pais, e veremos então se são todos eles inimigos irreconciliáveis do atual sistema; veremos se não é em seu seio que se enumera toda esta casta, justamente desprezada, dos realistas e aristocratas. Que o escravo de um bandido coroado se dobre, se deseja, aos pés de um ídolo de barro; um tal objeto é feito para sua alma de lama: quem pode servir aos reis pode adorar aos deuses. Mas nós, Franceses, nós, meus compatriotas, humilharmo-nos rasteiramente sob freios tão desprezíveis! Não! Antes morrer mil vezes do que nos escravizar de novo. Se acharmos que é necessário um culto, imitemos o dos romanos: as ações, as paixões, os heróis, eis os seus respeitáveis objetos. Tais ídolos elevaram a alma, eletrizavam-na. Faziam mais, comunicavam-lhe as virtudes dos seres respeitados. O adorador de Minerva desejava ser prudente. A coragem residia no coração daquele que era visto ajoelhar-se aos pés de Marte. Nenhum dos deuses desses grandes homens era privado de energia; todos transmitiam o fogo que os abrasava à alma de quem os venerava. E como havia a esperança de ser um dia adorado como um Deus, cada um aspirava tomar-se, pelo menos, tão grande como aquele que tomava por modelo. Que vemos, pelo contrário, nos deuses vãos do cristianismo? Que vos oferece, pergunto vos, esta religião imbecil¹? O vulgar impostor de Nazaré faz nascer, porventura, grandes ideais? Sua vil e enfadonha mãe, a impudica Maria, vos inspira alguma virtude? Encontrais entre os santos, que guarnecem seu Eliseu, algum modelo de grandeza, de heroísmo ou de virtude? É tão verdadeiro que esta estúpida religião não se harmoniza com as grandes idéias que nenhum artista pode empregar seus atributos nos momentos que eleva. Na própria Roma a maioria dos enfeites e ornamentos do Palácio dos papas inspira-se no paganismo, e, enquanto o mundo subsistir, só ele ilumina a mente dos grandes homens. (1) Se alguém examinar com atenção esta religião, verificará que suas características originam se, em parte, da ferocidade e da inocência doe judeus e, em parte, da indiferença e da confusão dos gênios. Em lugar de se apropriar do que os povos da antiguidade podem oferece de tom, os aparecem haver formado sua religião da mistura dos vícios que em toda parte encontraram Seria, por outro lado, no teísmo puro, que nós viríamos a encontrar mais motivos de grandeza e elevação? Será que a adoção de uma quimera, dando à nossa alma esse grau de energia essencial às virtudes republicanas, levará o homem a desejá-las e a praticá-las? Não o acreditemos; abandonemos este fantasma e, presentemente, o ateísmo é o único sistema daqueles que sabem raciocinar. A medida em que o homem se foi esclarecendo, começou a perceber que o movimento, sendo inerente à matéria, o agente necessário deste movimento não passaria de um ser ilusório e que, se tudo que existia devesse, por essência, estar em movimento, o motor inicial seria inútil. Sentiu, também, o homem, que este Deus quimérico, prudentemente inventado pelos primeiros legisladores, não passava entre suas mãos de mais um meio para aprisioná-lo e que, reservando-se o direito de fazer falar este fantasma saberiam sempre fazê-lo dizer unicamente aquilo que lhes conviesse, em apoio das leis ridículas que nos escravizavam. Licurgo, Numa, Moisés, Jesus Cristo, Maomé, todos estes grandes patifes, todos estes déspotas de nossas idéias, souberam associar as divindades que fabricavam à própria e desmesurada ambição e, certos de dominar os povos com a sanção destes deuses tiveram, como sabemos, a constante preocupação de só interrogá-los na ocasião própria e de fazê-los responder exclusivamente o que julgassem poder servi-los. Confundamos, pois, hoje, no mesmo desprezo, não só o Deus vão que certos impostores pregam, como todas as sutilezas religiosas que decorrem de sua ridícula adoção. Os homens livres não se deixam mais embair com brinquedos como este. Que a extinção total dos cultos conste pois dos princípios que propagamos por toda a Europa. Não nos contentemos em quebrar os cetros; pulverizemos para sempre os ídolos. Entre a superstição e a realeza só houve, sempre, um passo¹. Isto tem sido assim, pois uma das principais cláusulas da sagração dos reis foi, sempre, a manutenção da religião dominante como uma das bases políticas para a sustentação do trono. Mas já que abatemos este trono, já que o destruímos, felizmente, para sempre, não receiemos extirpar também tudo aquilo que constituía seu apoio. 1 Acompanhai a história de todos os povos: vós vereis que nunca nenhum deles trocou o primitivo governo por um governo monárquico senão em conseqüência do próprio embrutecimento ou superstição vereis sempre os reis apoiarem a religião e a religião sangrar os reis. E conhecida a história do intendente e do cozinheiro: Passai-me a pimenta, que eu lhe passarei a manteiga. Desgraçado gênero humano, estareis sempre destinado a ocupar o lugar do patrão destes velhacos. Sim, cidadão, a religião é incoerente com o sistema da liberdade, vós já o percebeste. Nunca um homem livre se curvará diante dos deuses do cristianismo, nunca os seus dogmas, seus ritos, seus mistérios ou sua moral convirão a um republicano. Ainda um esforço! Se é que trabalhais para destruir todos os preconceitos, não deixes que subsista nenhum, pois que basta um só para fazer retomar todos. E como poderíamos ter dúvidas sobre seu retomo se aquele que deixais viver é, positivamente, o berço, a origem, de todos os outros! Deixemos de acreditar que a religião possa ser útil ao homem. Tenhamos boas leis e poderemos dispensar, perfeitamente, a religião. Mas, e se fôr necessária uma para o povo; se ela o distrai e o contém? Ora bem; dêem-nos neste caso a única que convêm a homens livres, dêem-nos os deuses do paganismo. Adoraremos de boa vontade Júpiter, Hércules ou Palas, mas não queremos mais saber do fabuloso autor dum universo que se move a si mesmo, não queremos mais saber de um Deus sem extensão e que, entretanto, enche tudo com sua imensidade, dum Deus todo poderoso e que nunca executa os seus desejos, dum ser soberanamente bom que só cria a descontentes, dum ser amigo da ordem e em cujo domínio tudo é desordem. Não, não mais queremos um Deus que desorganiza e que é o pai da confusão, e que conduz o homem mesmo quando este pratica horrores. Um Deus como este faz-nos tremer de indignação e nós deixamos para. sempre no esquecimento donde o infame Robespierre quis tirá-lo² (2)Todas as religiões coincidem no exaltar a sabedoria e o poder da divindade, mas desde o momento que elas nos expõem sua conduta nós só encontramos nela a imprudência a fraqueza e loucura. Deus, diz-se, criou o mundo por ai mesmo e, entretanto até agora não conseguiu fazer-se adorar convenientemente por suas criaturas Deus nos faz adorá-lo e nós passamos os dias a nos rir dele. afinal que pobre coitado que é este Deus... Que não se tenham dúvidas sobre serem as religiões a base do despotismo. O primeiro déspota foi um padre; o primeiro rei e o primeiro imperador de Roma, Numa e Augusto, associaram-se ambos ao sacerdócio; Constantino e Clóvis foram mais bispos que soberanos; Heliogábalo foi um sacerdote devasso. Em todos os tempos, em todos os séculos houve, entre o despotismo e a religião, uma tal conexão que fica mais que demonstrado que, ao destruir-se um, solapa-se o outro, pela simples razão de que o primeiro servirá sempre de lei ao segundo. Não proponho, entretanto, nem massacres, nem deportações; estes horrores estão bem longe de minha alma para que os ouse conceber sequer um minuto. Não, não assassinarei, não deportarei. Estas atrocidades, são próprias dos reis e dos celerados que os incitaram. Não será imitando-os que vós fareis que eles sejam execrados; não empregueis a força senão com os ídolos; usai o ridículo com que os servem. Os sarcasmos de Juliano fizeram mais mal à religião cristã que todos os suplícios de Nero. Sim, destruamos, destruamos para sempre toda idéia de Deus e transformemos seus sacerdotes em soldados; já alguns o são, e que permaneçam nesta ocupação tão nobre para um republicano. Mas que eles não nos falem mais nem desse ser quimérico nem de sua religião fabulosa, único objeto de nosso desprezo. Condenemos a ser vaiado, ridicularizado, coberto de lama em todas as esquinas das maiores cidades da França, o primeiro abençoado charlatão que nos vier falar ainda de Deus ou de religião: prisão perpétua será a pena para aquele que cair duas vezes no mesmo erro. Que as mais insultuosas blasfêmias, os livros mais ateus, sejam plenamente autorizados, afim de extirpar do coração e da memória dos homens estes temíveis brinquedos de nossa infância. Que se organize um concurso para a obra mais capaz de esclarecer os europeus sobre uma matéria tão importante e que um prêmio considerável, conferido pela nação, seja a recompensa daquele que, tendo dito tudo, tudo demonstrado sobre esta matéria, não deixe mais nada para seus compatriotas que uma foice para aniquilar estes fantasmas e um coração pronto a odiá-los. Em seis meses tudo estará acabado; vosso infame Deus estará no nada e isto sem que deixemos de ser justos, ciumentos da estima alheia; sem que deixemos de temer o gládio das leis e de sermos honestos. Porque nos teremos apercebido de que o verdadeiro amigo da pátria não deve, como escravo dos reis, deixar-se conduzir por quimeras. Pois que não é, afinal, nem a frívola esperança de um mundo melhor, nem o receio de maiores males do que aqueles que nos envia a natureza, que devem conduzir um republicano, cujo único guia é a virtude, cujo único freio é o remorso. OS COSTUMES Depois de haver demonstrado que o teísmo não convém, absolutamente, a um governo republicano, parece-me necessário provar, também, que os costumes francêses não lhe são, igualmente, convenientes. Este ponto é tanto mais essencial quanto são, exatamente, os costumes, que vão servir de motivo para as leis a serem promulgadas. Franceses, vós sois demasiadamente esclarecidos para que não sintais que um governo vai precisar de novos costumes. É impossível que o cidadão dum Estado livre se conduza como o escravo de um déspota. A diferença de seus interesses, de seus deveres, de suas mútuas relações, determinam, essencialmente, uma maneira completamente diversa de se comportar. Uma multidão de pequenos erros, de pequenos delitos sociais, considerados como extremamente importantes sob o governo dos reis, obrigados a impor freios e restrições para se fazerem respeitar pelos súditos, torna-se inútil aqui. Outros delitos, conhecidos sob o nome de regicído ou de sacrilégio, devem, igualmente, desaparecer num Estado republicano, que não reconhece mais nem rei nem religião. Ao conceber a liberdade de consciência e de imprensa, lembrai-vos, cidadãos, que para sermos coerentes deveríamos conceber, igualmente, a de agir, e que, afinal, excluídos aqueles que afetam diretamente as próprias bases do Estado, restar-vos-à bem poucos crimes para punir. Porque, de fato, há pouquíssimas ações que possam ser consideradas criminosas numa sociedade que se erga sobre a liberdade e a igualdade. Pensando e examinando bem as coisas, não é criminoso senão aquilo que a lei reprova, porque a natureza impondo-nos igualmente os vícios e as virtudes, em razão de nossa organização ou, mais filosoficamente ainda, em razão da necessidade que ela tem de um e de outro, só nos daria um critério muito pouco seguro para distinguirmos com precisão o bem do mal. Mas, para melhor desenvolver minhas idéias sobre um objeto tão essencial, vamos classificar as diferentes ações da vida do homem que até aqui se tinha convencionado chamar de criminosas e as compararemos, em seguida, com os verdadeiros deveres de um republicano.Em todos os tempos os deveres do homem foram classificados das três seguintes e diversas maneiras: 1°) Aqueles que sua consciência e sua credulidade lhe impõem relativamente ao Ser Supremo; 2°) Aqueles que ele é obrigado a cumprir relativamente a seus irmãos; 3°) Enfim, aqueles que se relacionam consigo mesmo. A certeza que devemos ter de que nenhum Deus se preocupa conosco e que, criaturas fracas da natureza, como as plantas e os animais, nós só estamos aqui porque seria simplesmente impossível que aqui não estivéssemos; esta certeza, sem dúvida, aniquila, como se vê, imediatamente, a primeira parte desses deveres: aqueles em relação aos quais nos julgamos responsáveis em face de Deus. Com eles desapareceram todos os delitos religiosos, todos os conhecidos sob a designação vaga e indefinida de impiedade, de sacrilégio, de blasfêmia, de ateísmo, etc., todos esses, enfim, que Atenas puniu com tanta injustiça em Alcebíades e a França no infortunado La Barre. Se há algo de extravagante do mundo é ver-se que os homens que só conhecem seu próprio Deus, ou o que ele possa exigir, segundo suas limitadas vistas, querem, entretanto, decidir sobre a natureza do que contenta ou desgosta este ridículo fantasma de sua imaginação. Eu não gostaria que se limitassem a permitir, indiferente, o exercício de todos os cultos; desejaria que se fosse livre para ridicularizar a todos e rir de todos. Que aqueles que se reunissem num templo qualquer, para invocar o eterno segundo sua fantasia, fossem vistos como simples comediantes sobre um palco, diante do qual é permitido rir, a quem quer que seja. Se vós não encarardes as religiões sob este aspecto, elas recuperarão a solenidade que as toma respeitáveis. Elas conquistarão com facilidade a opinião pública e, quando menos nos apercebemos, já não nos será possível discutir as religiões porque estaremos discutindo a religião¹. A igualdade será destruída pela preferência ou pela proteção atribuída a uma delas e desaparecerá em seguida do governo. A teocracia, reedificada, fará logo renascer a aristocracia. Eu não me cansarei de repetir: acabai com os deuses, franceses, acabai com os deuses, se não quereis que seu funesto império vos mergulhe de novo em todos os horrores do despotismo. Mas só será pelo ridículo que os destruiremos; todos os perigos que eles trazem consigo ressurgirão aos milhares se lhes dais importância e se os combateis com furor. Não derrubeis com cólera seus ídolos; pulverizai-os brincando e seu prestígio cairá por si só. (1) Cada povo prebende que sua religião seja a melhor e se apoia, para nos persuadir, sobre uma infinidade de provas não só fintes entre si, mas quase todas contraditórias. Na profunda ignorância em que nos encontramos, qual é aquela que poderia agradar a Deus, se é que existe um Deus? Se quisermos ser sábios devemos acatá-las todas ou recusarmos todas; o mais certo será recusá-las posto que a certeza moral nos garante serem todas as religiões apenas imposturas, na medida em que não podem agradar mais, ou menos, a um deus que não existe. Eis o bastante, espero, para demonstrar que não deve ser votada nenhuma lei contra os delitos religiosos porque quem ofende uma quimera não ofende nada, e porque seria a última das inconseqüências punir os que ultrajam ou desprezam o culto cuja prioridade sobre os outros nada prova; isto seria, justamente, adotar um partido e influenciar em conseqüência a balança de igualdade; primeira lei de vosso governo. Passemos aos segundos deveres do homem, os que o ligam aos seus semelhantes. Esta classe é a mais extensa, sem dúvida. A moral cristã, excessivamente vaga sobre as relações do homem com seus semelhantes, estabelece bases tão cheias de sofismas que nos é impossível admiti-las porque, quando se quer construir princípios, é preciso evitar dar-lhes sofismas por base. Ela nos diz, esta moral absurda, que devemos amar nosso próximo como a nós mesmos. Nada seria tão sublime seguramente se fosse possível ao que é falso possuir as características da beleza. Não se trata de amar seus semelhantes como a si mesmo, pois que isto é contrário a todas as leis da natureza e apenas seus órgãos devem dirigir todas as ações de nossa vida. Trata-se de amar nossos semelhantes como irmãos, como amigos que a natureza nos oferece e com os quais devemos viver tanto melhor num Estado republicano quanto a desaparição das distâncias deve, necessariamente, estreitar os laços que unem os homens. Que a humanidade, a Fraternidade, a Benevolência, nos prescrevam, segundo esses princípios, nossos deveres recíprocos; cumpramo-los individualmente com o grau de energia que para isso nos tenha dado a natureza, sem condenar e, sobretudo, sem punir os que, mais frios, ou mais atrabilários, não encontram nesses vínculos, agora tão sedutores, todas as doçuras que nós neles encontramos. Porque, todos convirão, seria um absurdo palpável desejar prescrever, a propósito, leis universais. Este procedimento seria tão ridículo quanto o de um general que desejasse que todos os seus soldados fossem vestidos com fardas do mesmo tamanho. É de uma horrorosa injustiça exigir que homens de caráter desiguais se submetam a leis iguais; o que serve para um, não serve para outro. Estou de acordo em que não se pode fazer tantas leis quantos são os homens, mas elas podem ser tão doces, em tão pequeno número que todos os homens, qualquer que seja seu caráter, possam facilmente se submeter a elas. Exigiria ainda que este pequeno número de leis fosse de natureza a poder adaptar-se facilmente a todos os diferentes caracteres. Aquele que as aplicasse, preocuparse-ia em fazer variar seu rigor segundo os indivíduos. Está provado que há certas virtudes cuja prática é impossível a certos homens, assim como existem certos remédios que não podem convir senão a certos temperamentos. Que injustiça cometereis se punísseis com o rigor da lei a quem estivesse impossibilitado de se submeter a ela! A iniquidade que cometeríeis, no caso, não seria igual a que praticaríeis se obrigasse um cego a discernir as cores? Destes primeiros princípios decorre a necessidade de fazer leis suaves e, sobretudo, de aniquilar para sempre a atrocidade da pena de morte, porque a lei que atenta contra a vida de um homem é impraticável, injusta, inadmissível. Não que não haja uma infinidade de casos, como logo mostrarei, em que, sem ultrajar a tudo o que chamamos crimes morais, isto é, todas as ações da espécie que acabamos de citar, são absolutamente indiferentes para um governo cujo único dever consiste em conservar, por qualquer meio, a forma essencial à sua existência. Eis a única moral do governo republicano. Ora, como ele é sempre combatido pelos déspotas que o cercam, não se poderia conceber que os meios de que lance mão sejam meios unicamente morais pois ele só se conservará pela guerra e nada é menos moral do que a guerra. Pergunto-vos agora: como é que se conseguiria demonstrar que, num Estado imoral, pelas suas obrigações fosse essencial que os indivíduos agissem moralmente? Nada mais digo. É preciso que eles ajam contra a moral. Os legisladores da Grécia tinham perfeitamente sentido a importante necessidade de gangrenar os membros para que sua dissolução moral, agindo sobre todo o organismo social, provocasse a insurreição, sempre indispensável num governo que, perfeitamente feliz como o governo republicano, deve necessariamente excitar o ódio e a inveja de todos os que o cercam. A insurreição, pensavam estes sábios legisladores, não é um estado moral, entretanto, ela deve ser o estado permanente de uma república. Seria pois tão absurdo como perigoso exigir que aqueles que devem manter o contínuo movimento imoral da máquina fossem, eles mesmos, extremamente morais, porque o estado moral é um estado de paz e de tranqüilidade, ao passo que o estado imoral é um estado de perpétuo movimento que se aproxima da insurreição necessária, na qual é preciso que o republicano mantenha sempre o governo de que faz parte. Esmiucemos tudo isso; comecemos pela análise do pudor, este impulso cretino que contraria as afecções impuras. Se estivesse nas intenções da natureza que o homem fosse pudico ela, seguramente, não o teria feito nascer nu. Uma infinidade de povos, menos degradados que nós pela civilização, vivem nus e disso não têm a menor vergonha. Estejamos certos de que o uso de vestimentas teve por única base a inclemência do ar e a coqueteria das mulheres; elas se aperceberam que perderiam logo todos os atrativos do desejo se não os escondessem em lugar de os deixar aparecer. Elas sentiram que, como a natureza não as criou sem defeito, elas se assegurariam bem mais facilmente de todos os meios de agradar, disfarçando estes defeitos com enfeites; assim, o pudor, longe de ser uma virtude, só é um dos primeiros efeitos da corrupção, um dos primeiros meios da coqueteria das mulheres. Licurgo e Solon, convencidos de que os resultados do impudor mantêm o cidadão num estado imoral indispensável às leis do governo republicano, obrigaram as moças a se apresentarem nuas nos teatros². Roma logo imitou este exemplo: dançava -se nus nos jogos de Flora; a maior parte dos mistérios pagãos se celebravam assim. A nudez foi mesmo considerada como virtude em alguns povos. De qualquer maneira, do impudor nascem as inclinações luxuriosas e o que resulta destas inclinações compõem os pretensos crimes que analisamos e cujo primeiro efeito é a prostituição. Agora, que a propósito disto tudo nós nos libertamos da multidão de erros religiosos que nos cativava e que, mais próximos da natureza, em conseqüência da enorme quantidade de preconceitos que acabamos de aniquilar, só escutamos sua voz; agora, que estamos certos de que maior crime seria resistir aos impulsos que a natureza nos inspira do que obedecê-los, saibamos que, sendo a luxúria uma consequência desses impulsos, devemos nos preocupar não com extinguí-la, mas com os meios de satisfazê-la em paz. Tratemos, pois, de regular tudo isto e garantir a maior segurança a fim de que o cidadão, que deseje estar próximo dos objetos da luxúria, possa entregar-se, com esse objetos, a tudo o que suas paixões lhe inspirem, sem nunca encontrar obstáculo. Porque, não há uma paixão que exija maior liberdade que esta. Diversos locais, saudáveis, vastos, mobiliados com cuidado e, sob todos os aspectos seguros, se erguerão em todas as cidades. Aí, todos os sexos, todas as idades, todas as criaturas possíveis, se oferecerão aos caprichos dos libertinos que as procurem. A mais completa subordinação será exigida; a menor recusa será punida arbitrariamente pelo que a tiver sofrido. Devo explicar isto melhor, relacionando tudo com os costumes republicanos. Prometi examinar tudo com a mesma lógica, manterei minha palavra. (2) Já foi dito que a intenção desses legisladores era, enfraquecendo as paixões que os homens experimentavam diante das mulheres nuas, tornar mais ativas aquela que eles experimentavam por seu próprio sexo. Esses sábios exibiam o que causava repugnância e ocultavam o que irava os mais doces desejos; em todo caso, não atingiam as objetivas que acabamos de apresentar Como vimos, eles precisavam da Imoralidade para manter os costumes republicanos. Se, como acabo de dizer, nenhuma paixão tem mais necessidade da mais extensa liberdade que esta, nenhuma é também mais despótica. É no terreno da luxúria que o homem mais gosta de comandar, de ser obedecido, de cercar-se de escravos constrangidos a satisfazê-lo. Ora, todas as vezes que deixardes de possibilitar ao homem a libertação da dose de despotismo que a natureza lhe colocou no fundo do coração, ele a exercerá sobre os objetos que o cercam, ele perturbará já o governo. Permiti, se quiserdes evitar este perigo, uma livre expansão a estes desejos tirânicos que, contra sua própria vontade, o torturam incessantemente. Contente em ter podido exercer sua pequena soberania sobre o harém de escravos ou de sultanas que os vossos cuidados e o seu próprio dinheiro lhe proporcionem, ele estará satisfeito e não desejará mais perturbar o governo que lhe garante, com tal complacência, todos os meios de satisfazer sua concupiscência. Usai, ao contrário, processos diferentes, imponde sobre estes objetos da luxúria pública os ridículos entraves inventados pela tirania ministerial e pela lubricidade de nossos Sardanápalos:' o homem, irritando-se imediatamente contra vosso governo, invejoso do despotismo que vos vê exercer sozinho, sacudirá o jugo a que vós o submeteis e, cansado de vossa maneira de o governar, modificá-la-à, como, aliás, acaba de fazê-lo. (1)É sabido que o infame e celerado Sartine informava Luís XV sobre os meios da luxúria, através das leituras feitas pela Dubarry, três vezes por semana. abordando detida vida privada que ele adornava com tudo o que se passava nos piores antros de Paris. Essa prática libertina do Nero francês custava três milhões ao Estado! Vede como os legisladores gregos, compenetrados destas idéias, tratavam o deboche na Lacedemônia e em Atenas. Longe de o proibir, induziam os cidadãos a praticá-lo; nenhum gênero de lubricidade era proibido. Sócrates, declarado pelo oráculo o mais sábio dos filósofos da terra, ao passar indiferentemente dos braços de Aspásia para os de Alcibíades, não deixava de ser considerado a glória da Grécia. Vou mais longe ainda: embora minhas idéias sejam contrárias a nossos atuais costumes, como meu objetivo é provar que devemos nos apressar em substituir esses costumes se desejamos conservar o governo adotado, vou tentar convencê-los de que a prostituição das mulheres chamadas honestas não é mais perigosa que a dos homens. Não somente devemos associá-las às luxúrias praticadas nas casas referidas, como devemos mesmo criar outras para uso delas, para seus caprichos e necessidades de temperamento, tão ardente quanto o nosso; de modo que elas possam se satisfazer com todos os sexos. Com que direito supondes que a mulher é uma exceção à cega submissão que a natureza impõe aos homens, sujeitando-os aos seus caprichos? E ainda, com que direito pretendeis condenar a mulher a uma continência impossível para seu físico e absolutamente inútil à sua honra? Vou tratar separadamente estas duas questões. É certo que, no estado de natureza, as mulheres nascem vulgívagas, isto é, gozando das vantagens das outras fêmeas e se entregando, como elas, e sem nenhuma exceção, a todos os machos. Tais foram, sem nenhuma dúvida, não só primeiras leis da natureza, como as únicas instituições dos primeiros grupos humanos. O interesse, o egoísmo e o amor degradaram estas bases tão simples e naturais. Nós pensamos nos enriquecer ao tomarmos uma mulher e, com ela, o dote de sua família; eis satisfeitos os primeiros sentimentos que acabo de indicar; mais frequentemente ainda raptamos esta mulher para, em seguida, prendermo-nos a ela; eis o segundo motivo em ação, ou, em todo caso, a injustiça. Jamais se pode exercer um ato de posse sobre um ser livre; é tão injusto possuir exclusivamente uma mulher como possuir escravos. Todos os homens nasceram livres, todos são iguais em direito, não percamos nunca de vista estes princípios. Não se pode pois admitir que seja dado a um sexo o direito de se apoderar com exclusividade do outro; nunca um desses sexos ou uma dessas classes poderá possuir o outro arbitrariamente. Mesmo uma mulher que descobre a pureza das leis da natureza, não poderá alegar, para justificar a recusa de alguém que a deseje, o amor que tenha por outro. Este motivo corresponde a uma exclusão e nenhum homem pode ser excluído do direito de possuir qualquer mulher desde que tenha ficado claro que ela pertence a todos os homens. O ato de posse não pode se exercer senão sobre um imóvel ou um animal, nunca sobre um indivíduo que se nos assemelhe. Todos os laços que possam prender uma mulher a um homem serão tão injustos quanto quiméricos. Se é pois incontestável que nós recebemos da natureza o direito de expressar nossos desejos a todas as mulheres, é evidente que as podemos obrigar a se submeter aos nossos caprichos, se não definitivamente, pelo menos momentaneamente². É incontestável que temos o direito de estabelecer leis que as obriguem a ceder aos desejos de quem as cobice; sendo a violência um dos efeitos deste direito podemos empregá-la legalmente. A natureza não provou que temos este direito dando-nos a força necessária para submetê-las a nossos desejos? (2) Não venham dizer que me contradigo, aqui; é que, depois de afirmar que não fartas o direito de ligar a nós uma mulher, eu destruo esses princípios dizendo que temos o direito de constrangê-la; repito que tratamos do prazer e não da propriedade; não tenho direito de propriedade sobre uma carta forte que encontro em meu caminho mas tenho direito de nela saciar minha sede aproveitando da água límpida que se oferece a meu destrate; assim também não tenho direito de propriedade sobre as mulheres mas, em função de meu prazer, posso constrangê-las a me satisfazerem caso queiram se recusar. Em vão as mulheres invocarão, para defender-se, o pudor ou o amor por outros homens. Isto são quimeras: nós vimos acima como o pudor é um sentimento fictício e desprezível. O amor, que podemos chamar de loucura da alma, não possui mais títulos para legitimar sua fidelidade. Não satisfazendo senão a dois indivíduos, o ser amado e o amante, não pode fazer a felicidade dos outros, e é para a felicidade de todos, e não para um gozo egoísta e privilegiado, que nos foram dadas as mulheres. Todos os homens têm, pois, um direito de gozo idêntico sobre todas as mulheres. Não há, pois, um único homem que, em face das leis da natureza, possa ter sobre uma mulher um direito único e pessoal. A lei que as obrigará a se prostituir quando quisermos, nas casas de deboche de que falamos, e que as obrigará a frequentá-las caso a isso se recusem, que as punirá se faltarem um só dia, será, pois, uma lei das mais equitativas e contra a qual não se poderá invocar nenhum motivo legítimo ou justo. Um homem que desejar possuir uma mulher ou donzela poderá, pois, se estas justas leis vigorarem, intimá-la a comparecer a uma destas casas e lá, sob as visitas das matronas que regerão este templo de Vênus, ela lhe será entregue e terá que satisfazer, com humildade e submissão, todos seus caprichos, por mais estranhos e irregulares que possam ser; pois não há nenhum que não esteja no sistema da natureza, que ela não aceite. Teríamos que pensar na fixação das idades, é verdade. Sou de opinião que não se deve estabelecer nenhum limite; seria restringir a liberdade daquele que desejasse gozar uma menina, por exemplo. Quem tem o direito de comer o fruto de uma árvore pode, sem duvida, colhê-lo verde ou maduro, segundo as inspirações de seu gosto. Mas, objetar-nos-ão, há uma idade em que a saúde da jovem pode ser prejudicada pelas ações do homem. Esta consideração não tem nenhum valor: desde que me dais o direito de propriedade do gozo, este direito é independente dos efeitos que sua prática produz; é absolutamente indiferente que seu uso seja vantajoso ou prejudicial para o objeto que a ela deve se submeter. já não provei que é legal obrigar uma mulher a esse respeito e que, assim que ela desperte o desejo de ser possuída, deve submeter-se a ele, pondo de parte todo sentimento egoísta? O mesmo acontece com sua saúde. Desde que as considerações que se tenham a esse respeito possam destruir ou enfraquecer o prazer daquele que a deseje, e que tem o direito de dela se apropriar, este cuidado com a idade se torna inútil, porque não se trata aqui, absolutamente, de saber o que sente o objeto condenado pela natureza e pela lei à satisfação momentânea dos desejos alheios. Não se trata neste exame senão daquilo que convém a quem deseja. Mas nós restabeleceremos a balança. Sim, nós a restabeleceremos, nós devemos, sem dúvida, restabelecê-la. Estas mulheres que acabamos de escravizar tão cruelmente aos desejos do homem, nós devemos indenizá-la e é nisto que vai consistir a resposta à segunda questão que me propus. filha juntamente. Em uma palavra, ouso sustentar que o incesto deveria ser a lei em todo o governo cuja base fosse a fraternidade. Como foi possível que homens razoáveis chegassem ao absurdo de acreditar que a posse da mãe, da irmã ou da própria filha pudesse ser um crime? Não é abominável este preconceito, pergunto-vos, que considera um crime o fato de um homem preferir gozar um objeto que o sentimento natural aproxima dele? Isto corresponderia a sustentar que nos é proibido desejar exatamente os indivíduos que a natureza nos leva a amar com mais calor e que, quanto mais ela nos induza a desejar um objeto, mais nós deveremos nos afastar dele; estas contradições são absurdas, apenas os povos embrutecidos pela superstição podem nelas acreditar ou adotá-las. Estando a comunidade das mulheres estabelecida, levando necessariamente ao incesto, resta-nos pouco a dizer sobre um pretenso delito cuja inexistência está suficientemente demonstrada para que voltemos a ela. Passaremos ao estupro que parece ser, à primeira vista, o mais grave de todos os casos de libertinagem, aquele cuja lesão está melhor estabelecida em razão do ultraje que causa. É, entretanto, absolutamente certo que o estupro, ação tão rara e tão difícil de provar, prejudica menos ao próximo que o roubo. Esta invade a propriedade, aquele limita-se a deteriorá-la. Que podereis responder ao autor do estupro quando ele lhe provar que o mal que praticou é, de fato, bem medíocre, pois ele não fez nada mais que colocar o objeto de que abusou no estado em que logo seria colocado pelo casamento ou pelo amor? Mas, e a sodomia, e este pretenso crime que atraiu o fogo do céu sobre as cidades que se tinham entregues a ele? Não é ela uma depravação tão grande que qualquer punição pareceria sempre pequena? É doloroso ter que censurar a nossos antepassados os assassínios judiciários que cometeram a esse pretexto. É possível ser tão bárbaro a ponto de ousar condenar à morte um desgraçado indivíduo cujo único crime é não possuir os nossos gostos? Trememos ao imaginar que, há apenas quarenta anos, a estupidez dos legisladores chegava a isto. Consolai-vos, cidadãos! Tais absurdos não voltarão! A sabedoria de vossos legisladores é uma garantia. Inteiramente esclarecidos sobre a fraqueza de certos homens, sabemos perfeitamente hoje que um tal erro não pode ser criminoso. A natureza não teria dado tão grande importância ao fluído que corre em nossos rins para, em seguida, se irritar com o caminho particular que lhe quiséssemos dar. Que crime poderia haver nisso? Não seria, seguramente, o de o colocar neste ou naquele lugar; a menos que se sustentasse que as partes do corpo não são todas iguais e que existem umas puras e outras imundas. Mas, como é impossível sustentar tal absurdo? O único delito no caso seria o da perda da semente! Ora, pergunto-vos, é lá verossímil que esta semente seja tão preciosa que não a possamos perder sem que pratiquemos um crime? Se isto fosse verdadeiro, permitiria ela que tais perdas se verificassem todos os dias, quer ao sonharmos, quer ao gozarmos de uma mulher gravida? É impossível imaginar que a natureza nos desse a possibilidade de cometer crimes que a ultrajassem. Ela não pode aceitar que os homens destruam os prazeres que a ela pertencem, pois então seríamos mais fortes do que ela. Mergulhamos num abismo de absurdos quando abandonamos o facho da razão; tanto faz gozar uma mulher de um modo como de outro; é indiferente gozar de mulher ou de macho. Todas essas inclinações foram postas na alma humana pela natureza, e não a podem ofender. A sodomia é um vício de organização e em nada contribuímos para semelhante organização. Desde a mais tenra data, há meninos que sentem essa inclinação e que nunca se corrigirão. As vezes é fruto da sociedade, mas mesmo nesse caso pertence à natureza; sob todos os aspectos, é obra da natureza e em qualquer caso o que ela inspira deve ser respeitado pelos homens. Se, através de um recenseamento mais exato, verificássemos que este gosto é mais profundo que o outro, que esses prazeres são mais vivos, e por isso mesmo seus adeptos são mais numerosos do que seus inimigos, não seria possível concluir que, longe de ultrajar a natureza, esse vício serviria seus desígnios, e que ela pouco se importa com a reprodução como tolamente acreditam? Percorrendo o universo encontraremos numerosos povos que desprezam a mulher. Alguns só se servem dela quando têm absoluta necessidade de um herdeiro que os substitua. O hábito que têm os homens de viverem juntos nas repúblicas, tornará esse vício cada vez mais comum, mas nem por isso perigoso. Os legisladores da Grécia não o teriam introduzido na república se assim o julgassem. Pelo contrário, achavam-no necessário a um povo guerreiro. Plutarco nos fala com entusiasmo do batalhão dos amantes e dos bem amados. Só eles defenderam com coragem a liberdade da Grécia: a pederastia cimentou a associação dos irmãos de armas. Os maiores homens eram propensos a ela. Toda a América, no tempo em que foi descoberta, era povoada por homens desse gosto. Na Louisianna e no Illinois, homens vestidos de mulheres vendiam-se como putas, prostituíam-se como cortesãs; os negros de Benguela mantinham publicamente machos; quase todos os haréns da Argélia são hoje povoados por rapazes; em Tebas isso não somente era tolerado mas incentivado. O filosofo de Queonéa prescrevia-o para suavizar os costumes dos homens. Sabemos que ele reinou em Roma: nos lugares públicos os rapazes se prostituíam vestidos de fêmea e as moças vestidas de rapaz. Martial, Catulo, Título, Horácio, Virgílio, escreviam a homens como se escreve a uma amante, e lemos em Plutarco¹ que as mulheres não devem receber nenhum amor dos machos. Os amasianos da Ilha de Creta reptavam rapazes com as mais estranhas cerimônias; quando amavam um rapaz, participavam aos pais o dia em que o raptariam, o rapaz resistia um pouco se o amante não lhe aprazia, caso contrário partia com ele e o sedutor o restituía à família, quando o tinha usado, pois nessa paixão (como nas mulheres) o interesse termina com a posse. Estrabão nos conta que nessa mesmo ilha os haréns se enchiam de homens que publicamente se prostituíam. (1) Obras morais, Tratado do amor. Querem uma última autoridade para provar quanto esse vício é útil numa república? Escutemos Jerônimo, o Peripatético: "O amor dos rapazes expandiu-se por toda a Grécia, porque dava coragem e força e serva para expulsar os Tiranos. As conspirações se formavam entre os amantes e eles se deixariam antes torturar a revelar seus cúmplices". O patriotismo sacrificava, assim, tudo à prosperidade do Estado; era sabido que essas ligações consolidavam a república; declamava-se contra as mulheres; ligar-se a elas era considerada uma fraqueza própria do despotismo. A pederastia foi sempre o vício dos povos guerreiros: diz-nos César que os gauleses se entregavam largamente a ela. As guerras que as repúblicas tinham que enfrentar, levando à separação dos sexos, contribuíam para a difusão do vício. Quando se chegou a reconhecer seus efeitos úteis ao Estado, a religião o consagrou. Sabe-se que os romanos santificaram os amores de Júpiter e Ganimedes. Assegura-nos Sextus Empiricus que também os persas se davam a essa fantasia. Enfim, as mulheres, ciumentas e repudiadas, ofereceram-se para prestar aos maridos os mesmos serviços que os rapazes lhes prestavam. Alguns experimentaram e retomaram aos antigos hábitos, não achando possível deixá-los. Os turcas, fortemente inclinados a essa depravação, consagrada por Maomé no Alcorão, asseguram, entretanto, que uma virgem bem jovem pode perfeitamente substituir um rapaz e, raramente, entre eles, uma delas chega a idade adulta sem ter passado por essa prova. Sixto V e Sanches permitiram esse deboche; o último tentou mesmo provar que ele era útil à propagação e que uma criança engendrada depois dessa prática seria muito melhor constituída. Por fim, as mulheres vingaram-se amando-se entre si; essa fantasia, sem dúvida, não tem maiores inconvenientes do que a outra, pois o resultado é apenas a recusa de criar e os meios dos que tem a mania de procriar são tais que os adversários não causam mal algum. Os gregos apoiavam igualmente essa loucura por razões de Estado. Resultava disso que, bastando-se a si mesmas, suas comunicações com os homens eram menos freqüentes e elas não prejudicavam com isso os negócios da república. Luciano nos ensina o progresso que fez essa lubricidade e não é sem interesse que a observamos em Safo. Não há um só perigo nessa mania, ainda que fossem mesmo mais longe; mesmo que se acariciem monstros ou animais, como nos demonstra o exemplo de muitos povos; nestas fantasias não há inconvenientes, pois a corrupção dos costumes, sempre útil ao governo, não poderia ser prejudicial sob nenhum aspecto. Nós devemos esperar de nossos legisladores bastante sabedoria, bastante prudência, de maneira a estarmos seguros de que nenhuma lei virá reprimir essas misérias, que, segundo a Constituição, não poderiam tomar culpado aquele que a elas se entregassem. Só nos resta examinar o assassínio na segunda classe dos delitos para com seus semelhantes. Em seguida passaremos aos deveres que têm os homens para consigo mesmos. De todas as ofensas que o homem pode fazer a seus semelhantes é o assassínio, sem dúvida, a mais cruel, pois a vida é o único bem que da natureza recebemos, o único cuja perda é irreparável. Várias questões se apresentam a propósito, julgando do prejuízo que o assassínio causa à vítima. 1 - Essa ação, se considerarmos somente a lei da natureza, é na verdade criminosa? 2 - Sê-lo-à relativamente às leis da política? 3 - Prejudicará a sociedade? 4 - Como deverá ser considerada por um governo republicano? 5 - Deve o assassínio ser castigado com o assassínio? Examinemos separadamente cada uma dessas perguntas. Esse ponto é bastante importante para que nos detenhamos. Poderão achar nossas idéias um tanto fortes, mas que nos importa? Não temos o direito de tudo dizer? Expliquemos aos homens as grandes verdades, eles as esperam de nós. Já é tempo de fazermos desaparecer o erro; que o obscurantismo seja varrido como os reis. O assassínio será crime aos olhos da natureza? Eis a primeira pergunta. Sem dúvida vamos humilhar aqui o orgulho do homem, ao rebaixá-lo ao plano de todas as outras produções da natureza, mas o filósofo não procura acariciar as pequenas vaidades humanas. Sempre ardente na busca da verdade, ele a distingue sobre todos os tolos preconceitos do amor próprio, atinge-a, desenvolve-a, e mostra-a corajosamente à terra admirada. O que é o homem, e que diferença existe entre ele e as plantas e todos os animais da terra? Nenhuma, indiscutivelmente. Colocado fortuitamente como eles sobre o globo, nasce como eles, propaga-se, cresce e declina como eles; como eles chega à velhice; como eles tomba no nada ao termo que a natureza determina para cada espécie. Se essas analogias são tão exatas que tornam impossível à observação do filosofo perceber qualquer dessemelhança, haverá igual maldade em matar um animal como em matar um homem. Não se pode negar que tanto faz destruir um homem como um animal. Mas, a destruição de todo o animal não será um crime, como acreditavam os pitagóricos e como acreditam os habitantes das margens do Ganges? Antes de responder a isso, recordemos aos leitores que nós só examinamos o problema do ponto de vista da natureza. Em seguida o examinaremos em relação aos homens. Ora, pergunto, para que servirão à natureza estes indivíduos que não lhe custam nem a menor pena nem o menor cuidado? O trabalhador estima sua obra em razão do trabalho que ela lhe custa e do tempo que emprega. Ora, custa o homem alguma coisa à natureza? De que se compõe os seres que nascem? Os três elementos que os formam não resultam da primitiva destruição de outros corpos? Se todos os indivíduos fossem eternos, não se tornaria impossível à natureza a criação de novos? Se pois, a eternidade dos seres é impossível, a sua destruição se toma uma lei da natureza. Se elas lhe são tão úteis ao ponto de não as poder dispensar, e se não pode criar sem se valer das massas de destruição que a morte lhe prepara, a idéia de aniquilamento que relacionamos com a morte não será real. O que chamamos o fim de cada animal não será na verdade um fim, mas simples transmutação que tem por base o perpétuo movimento, verdadeira essência da matéria, que todos os filósofos modernos consideram como sua lei fundamental. A morte, segundo esses princípios irrefutáveis, não é mais que uma mudança de forma, uma imperceptível passagem de uma existência para outra: é o que Pitágoras chamava metempsicose. Admitidas estas verdades, pode-se sustentar, por acaso, que a destruição seja um crime? Ousareis dizer que a transmutação é uma destruição? Sem duvida que não! Seria preciso, para isso, admitir um instante de inação, um momento de repouso da matéria. Ora, jamais encontrareis tal momento; assim que morre um animal formam-se os vermes; a vida desses vermes é um efeito necessário da morte: ousareis dizer que um agrada mais à natureza do que o outro? Para isso seria necessário provar uma coisa impossível, isto é, que a forma comprida ou quadrada é mais útil, mais agradável do que a oblonga ou triangular. Será preciso provar que, responsabilidade, de todos os inimigos que lhe possam ser nocivos, pois o resultado de todas essas ações será conservar a população em estado de moderação e nunca deixar que ela cresça demasiadamente de modo a derrubar o governo. Os monarquistas afirmam que um Estado é grande pela sua população; esse Estado será sempre pobre se a população exceder os meios de subsistência, e, sempre florescente se, contendo-a nos justos limites, puder traficar com o excedente; não é preciso, para conservar o tronco, podar os ramos supérfluos? Todo o sistema que se afastar desses princípios será uma extravagância, cujos abusos nos conduzirão à subversão total do edifício que construímos com tanto trabalho. Não é quando o homem já está criado que devemos destruí-lo para diminuir a população; é injusto abreviar os dias de um indivíduo perfeito: mas não é injusto impedir a vida de um mal-conformado. A espécie humana deve ser selecionada no berço, único meio razoável de diminuir uma população que, por mais extensa, se tomaria perigosa. Caminhemos para a conclusão. (1) É preciso esperar que a nação acabe com essa despesa, a mais inútil de todas; todo indivíduo que nasce sem as qualidades necessárias para se tomar útil à república, não tem nenhum direito a conservar a vida e o que de melhor se há de fazer é rouba-la no momento mesmo em que ele a recebe. O assassínio deve ser castigado com o assassínio? Não, sem dúvida. Só se deve impor ao assassino a vingança que os amigos ou a família do assassinado possam tomar. Toda base da lei contra os assassinos está nessas palavras sublimes de Luiz XV a Charolais, que matara um homem para se divertir: "Concedo-lhe o perdão, mas também o concedo a quem o matar". Numa frase tão divina como esta, encontram-se todas as bases da lei contra os assassinos ¹. (1) A lei sálica punia o assassinato com uma simples multa, e como o culpado sempre encontrava meios de pagá-la, o Rei da Áustria, decretou a pena de morte não aos assassinos, mas àqueles que não pagavam a tal multa. A lei ripuária também só ordena, contra esse ato, o pagamento de uma muita, proporcional ao indivíduo assassino. Era bem caro matar um padre: o assassino deveria pagar em ouro o peso equivalente de uma túnica de chumbo que lhe servisse; caso contrário. o culpado e sua família se tomariam escravos da Igreja. O assassínio é um mal necessário, nunca criminoso; por isso, é preciso tolerá-lo num Estado republicano. Todo o universo nos dá um exemplo dele; mas, será que devemos considerá-lo como uma ação passível da punição de morte? Os que responderem ao dilema seguinte terão satisfeito a pergunta: o assassínio é ou não um crime? Se não é, para que fazer leis que o castiguem? Se é, por que bárbara e estúpida inconseqüência deve ser punido por um crime igual? Só nos resta falar dos deveres do homem para consigo mesmo. Como o filósofo só cumpre seus deveres na medida em que eles contribuem para seu prazer e conservação, é inútil recomendar-lhes a prática e mais inútil ainda castigar aqueles que não os obedecerem. O único delito que o homem pode cometer contra si mesmo é o suicídio. Não perderei tempo aqui em provar a imbecilidade daqueles que disso fazem um crime. Leiam a famosa carta de Rousseau, os que tiverem dúvidas sobre o assunto. Quase todos os povos antigos autorizavam o suicídio pela política e pela religião. Os atenienses expunham no areópago as razões que tinham para se matar e depois se apunhalavam. Todas as repúblicas da Grécia toleravam o suicídio; ele entrava no código dos antigos legislados; os indivíduos matavam-se em público, fazendo da morte um espetáculo aparatoso. A república de Roma encorajava o suicídio; não passavam disso os famosos sacrifícios pela pátria. Quando Roma foi tomada pelos gauleses muitos senadores romanos preferiram a morte. Retomando esse espírito, devemos adotar suas virtudes. Um soldado matou-se durante a campanha de 1792 por não poder seguir com os camaradas para a batalha de Jemmapes. Incessantemente colocados à altura desses altivos republicanos, sobrepujaremos suas virtudes. É o governo que faz o homem. Um longo hábito de despotismo tinha comprometido, depravado, nossos costumes; nós renascemos. Veremos logo de que ações sublimes são capazes o gênio e o caráter francês quando livres. Sustentemos ao preço de nossas fortunas e de nossas vidas esta liberdade que já nós custou tantas vidas. Não lamentemos nenhuma se conseguirmos nosso objetivo; elas se sacrificaram voluntariamente. Que esse sangue não seja inútil! Unamo-nos para não perder o fruto de tantas vitórias. Fundemos leis excelentes sobre as vitórias conquistadas. Nossos primeiros legisladores, ainda escravos do déspota que acabamos de liquidar, só nos tinham dado leis dignas desse tirano que eles ainda incensavam. Reconstruamos-lhes a obra, pensando que vamos trabalhar para republicanos e filósofos. Que nossas leis sejam doces e suaves como o povo que devem beneficiar. Patenteando aqui, como acabo de fazer, a significância e a indiferença de uma quantidade de ações que nossos antepassados olhavam como criminosas, porque seduzidos por uma falsa religião, reduzo o nosso trabalho a pouca coisa. Façamos leis, mas que sejam boas. Não se trata de multiplicar os freios, não se trata de dar-lhes um caráter indestrutível. Promulguemos leis que façam a tranqüilidade e a felicidade do cidadão assim como o brilho a república. Depois de ter escorraçado o inimigo de vossas terras, franceses, eu não desejaria que o ardor em propagar vossos princípios vos conduzisse longe demais; não é senão a, ferro e a fogo que podereis levá-los aos confins do universo. Antes de chegar até lá lembrai-vos do insucesso das cruzadas. Quando 0 inimigo estiver do outro lado do Reno guardai vossas fronteiras, ficai na vossa casa; reanimai o comércio, aumentando a energia e o mercado de vossas manufaturas, fazei reflorir as artes e a agricultura, tão necessárias num governo como o vosso, cujo espírito deve ser fornecer tudo ao mundo sem necessidade de auxilio. Os tronos da Europa desmoronarão por si mesmos; vosso zelo e prosperidade os destruirão sem maior esforço. Invencíveis em vosso território, o modelo de todos os povos pela vossa polícia e pelas vossas leis, não haverá governo no mundo que não vos queira imitar, que não se honre com a vossa aliança. Mas se, pela honra vã de levar ao longe vossos princípios, abandonardes o cuidado de vossa própria felicidade, o despotismo, que apenas dorme, acordar-se-à, sereis dilacerados por lutas intestinas, exauridas serão vossos soldados e vossas finanças. E tudo isto para novamente vos submeter aos ferros dos tiranos, que vos terão subjugados durante vossa ausência; tudo o que desejais pode ser conseguido sem que seja preciso deixar vossos lares: que os outros povos vejam que sois felizes e procurarão a felicidade seguindo o caminho que vós lhes tiverdes traçado. EUGÊNIA a Dolmancé - Eis o que pode chamar uma obra cheia de sabedoria: está tão de acordo com os seus princípios, sob tantos aspectos, que sou levada a acreditar que seja de sua autoria. DOLMANCÉ - De fato estou de acordo com uma parte destes raciocínios. Tudo o que tenho dito o prova, e esta leitura pode ter parecido até mesmo uma repetição... EUGÊNIA - Não creio; nunca é demais repetir verdade. Parece-me entretanto, que alguns destes princípios são um pouco perigosos. DOLMANCÉ - No mundo só são perigosos a piedade e a benevolência. A bondade não passa de uma fraqueza que a ingratidão e a impertinência dos fracos forçam sempre os que a praticam a se arrepender. Que um bom observador se ponha a calcular todos os perigos da piedade e os compare com os de um calmo egoísmo, e verá logo as vantagens que este pode oferecer. Mas nós estamos indo muito longe, Eugênia. Procuremos resumir, para sua edificação, num único conselho, tudo o que acabamos de ver. Não ouça nunca seu coração, minha criança. É o mais falso guia que a natureza nos poderia dar; fechai-o cuidadosamente aos apelos falaciosos da ternura. Mais vale recusar aquele que de fato tenha sido feito para interessá-la, do que arriscar-se e se entregar a um celerado, a um intrigante ou a um charlatão; uma resultaria em bobagens, mas a outra poderia trazer os maiores inconvenientes. MIRVEL - Que me seja permitido, peço-vos, retomar os princípios de Dolmancé e aniquilá-los, se puder... Como esses seriam diferentes, homem cruel, se privado desta imensa fortuna que lhe fornece continuamente os meios de satisfazer suas paixões, fosse você obrigado a viver alguns anos sob o acabrunhante infortúnio que seu feroz espírito reserva para os miseráveis, culpando-os, ainda, disto. Lance um olhar de piedade sobre eles e não contrinja sua alma ao ponto de torná-la flexível aos apelos desesperados da miséria. Enquanto seu corpo, cansado unicamente da volúpia, repousa largamente sobre o leito macio, procure ver os deles, esgotados pelos trabalhos que lhe tomam possível essa vida, procurar descanso sobre um punhado de palha para se defender do frio e da umidade da terra, que eles só possuem, como os animais, a fria superfície onde se estendem. Cercado de suculentas iguarias, com as quais todos os dias vinte discípulos de Comus despertam sua sensualidade, deite um olhar sobre estes desgraçados que disputam aos lobos, nos bosques, a amarga raiz de um solo ressequido. Quando a diversão, as graças e os risos conduzirem ao seu leito impuro os mais encantadores ídolos do templo de Citéra, olhe para o miserável estendido ao lado de sua triste esposa, satisfeito dos prazeres que colhe em meio de lágrimas, sem mesmo suspeitar da existência de outros. Olhe-o enquanto você, não se recusando nada, mergulha no seio do supérfluo. Vejam, repito, aquele que não pode atender, a cada passo, as necessidades primárias da existência. Lance um olhar sobre sua família desolada; atente sobre sua trêmula esposa, que se desdobra com ternura entre os cuidados que dedica ao marido, inerte a seus pés, e os que a natureza impõe para com os rebentos de seu amor. Ouça-a sem estremecer, se o puder, reclamar-lhe este supérfluo que sua crueldade lhe recusa, ela, que está privada da possibilidade de satisfazer os deveres mais sagrados para sua alma sensível! Bárbaro! Não serão eles homens como você? E se são seus semelhantes, por que hás de gozar enquanto eles fenecem.? Eugênia, Eugênia, não extinga jamais em sua alma a voz sagrada da natureza: ela a conduzirá à prática do bem a despeito de si mesma, quando você libertar seu coração do fogo das paixões que o absorvem. Deixemos de lado os princípios religiosos, concordo, mas não abandonemos as virtudes que a sensibilidade nos inspira. Só as praticando é que nós provaremos os mais doces e deliciosos prazeres da alma. Todos os desmandos serão resgatados por uma única obra, ela extinguirá os remorsos que sua conduta lhe tenha feito sentir e criará, no fundo de sua consciência, um asilo sagrado em que você se recolherá sobre si mesma de vez em quando. Você encontrará aí consolação para as desgraças a que seus erros a terão levado. Minha irmã, sou jovem, libertino, ímpio, capaz de todos os desregramentos do espírito, mas tenho ainda coração. Ele é puro e é com ele, meus amigos, que eu me consolo de todos os caprichos de minha idade. DOLMANCÉ - Sim, Mirvel, você é jovem. Seu discurso o prova, falta-lhe experiência. Quero ouvi-lo quando ela o tiver amadurecido; então você não falará tão bem dos homens porque os terá conhecido. Foi sua ingratidão que secou meu coração, sua perfídia que destruiu em mim estas virtudes funestas para as quais, quem sabe, eu teria nascido como você. Ora, se os vícios de uns tomam estas virtudes perigosas nos outros, não se terá prestado um serviço à mocidade extinguindo-a nela o mais cedo possível? Fala-me você do remorso! Pode ele existir na alma de quem não reconhece a existência de crimes? Que seus princípios os sufoquem, se teme seus aguilhões! Ser-lhe-à possível arrepender-se duma ação de cuja indiferença esteja profundamente convencido? Desde que não acredite no mal, de que mal se poderá arrepender? MIRVEL - Não é do espírito que vêm os remorsos, eles são frutos do coração e jamais os sofismas intelectuais hão de extinguir os movimentos da alma. DOLMANCÉ - O coração engana porque expressa unicamente os falsos cálculos do espírito; que este amadureça e o outro cederá imediatamente. Sempre que queremos raciocinar, as falsas definições nos afastam; por mim, não sei o que seja o coração. Dou este nome às fraquezas do espírito: uma só e única chama arde em mim. Quando estou são e firme, ele não me engana jamais. Sou velho, hipocondríaco e pusilânime? Ele me engana? Direi, então, que sou sensível quando, no fundo, só sou fraco e tímido? Ainda uma vez, Eugênia; que esta pérfida sensibilidade não a domine. Ela só representa fraqueza de alma. Só choramos porque temos medo e por isso os reis são tiranos. Rejeite, deteste, pois, as pérfidios conselhos do Cavalheiro. Aconselhando-a a abrir seu coração a todos os males imaginários dos infortúnio, ele lhe ocasionará sofrimentos que, não lhe sendo próprios, a torturariam em pura perda. Acredite-me, Eugênia, acredite que os prazeres que nascem da apatia valem tanto quanto as que a EUGÉNIA, pondo-se em posição - Que extravagância! DOLMANCÉ - Nada é tão gostoso como a porra que sai do fundo de um belo cu. É um manjar digno dos deuses. (Engole). Vejam como faço. (Aproximando-se de Agostinho, cujo cu beija). Peço-vos permissão, senhoras, para, em companhia desse jovem, passar ao gabinete vizinho. MADAME - Será que você não pode fazer aqui mesmo, com ele, tudo o que quiser? DOLMANCÉ, baixo e misteriosamente - Não. Há coisas que exigem segredo. EUGÊNIA - Ao menos nos diga o que vai fazer. MADAME - Não os deixarei sair se não nos contarem. DOLMANCÉ - Querem, mesmo, saber? EUGÉNIA - Que dúvida... DOLMANCÉ, trazendo Agostinho - Pois bem, senhoras, eu vou... Mas, sinceramente, isto não se pode confessar! MADAME - Haverá alguma infâmia neste mundo que não sejamos dignas de conhecer e executar? MIRVEL - Escute, minha irmã, eu vou lhe dizer (Fala baixo). EUGÊNIA, aparentando repugnância - Tem razão, é Horrível MADAME - Eu desconfiava. DOLMANCÉ - Vejam que eu tinha razão para não querer revelar esta fantasia. É preciso estar só e nas sombras para se entregar a estas torpezas. EUGÉNIA - Quer que eu lhe acompanhe? Eu o masturbarei enquanto você se divertir com Agostinho. DOLMANCÉ - Não, não, este é um assunto de honra que só deve ser tratado por homens, uma mulher nos atrapalharia... Até logo, senhora. (Sai, levando Agostinho). SEXTO DIÁLOGO Madame, Eugênia e o Cavalheiro MADAME - Realmente, meu irmão, é impossível ser mais libertino do que seu amigo! MIRVEL - Não me pode acusar de tê-la enganado: disse-lhe toda a verdade. EUGÊNIA - É encantador! Quero encontrá-lo sempre, pois não há ninguém igual no mundo. MADAME - Estão batendo, quem será? Proibi que me incomodassem senão por motivo urgente. Veja quem é, Mirvel. MIRVEL - Lafleur trouxe esta carta. Não esqueceu suas ordens e retirou-se o mais depressa possível. Acha, porém, que este caso deve ser importante. MADAME - Quem poderá ser? Ah, é de seu pai. EUGÊNIA - De meu pai? Estou perdida, então! MADAME - Vamos ler primeiro, antes de nos desesperarmos. (Lê): "Minha insuportável mulher, alarmada pela demora de minha filha em sua casa, parte incontinenti à sua procura. Imagina coisa horríveis, que, mesmo que fossem certas, seriam simplesmente naturais. Peço-lhe que castigue minha mulher com todo o rigor. Ontem já a castiguei bastante, mas nada obtive. Pode agir como bem lhe parece que jamais me queixarei. Há muito estou cansado de suportar essa puta, tudo quanto a senhora fizer acharei perfeito. Compreenda-me... Esteja atenta, que ela não tardará a chegar. Só sinto não estar presente para melhor ajudar a senhora. Eugênia só deve voltar perfeitamente instruída. Concedo-lhe as primícias, mas pode estar segura de que trabalhou para mim..." Veja, Eugênia, nada temos a recear, mas que mulher insolente é sua mãe! EUGÊNIA - Que puta! Mas desde que meu caro pai nos dá carta branca, receberemos essas imunda como merece. MADAME - Beije-me, querida, gosto das suas boas disposições. Fique tranquila; aqui não a pouparemos. Desejava uma vítima, Eugênia; aqui tem uma, dada ao mesmo tempo pelo destino e pela natureza. EUGÊNIA -juro que gozaremos o mais possível de tal vítima! MADAME - Estou louca para ver como Dolmancé receberá esta boa notícia. DOLMANCÉ, chegando com Agostinho - Recebê-la-ei com justa alegria, senhoras. Não estava muito longe daqui e ouvi tudo. Madame Mistival não poderia chegar mais a propósito. A senhora está bem decidida a cooperar com seu marido, não é? MADAME - Cooperar é pouco, irei além do que me pede. Que um buraco se abra para me tragar se eu hesitar um momento em fazer dessa puta tudo quanto vocês decidirem. Caro Dolmancé, dirija tudo isso à sua vontade, é o que lhe suplico. DOLMANCÉ - Deixe tudo por minha conta; só lhe peço obediência e não se arrependerá. A insolente criatura jamais imaginou o que a espera! MADAME - Nunca houve coisa igual. Vamos esperá-la mais decentemente vestidos? DOLMANCÉ - Pelo contrário, assim que ela entrar deve compreender como fazíamos sua filha passar o tempo. Fiquemos no maior desalinho possível. MADAME - Ouço ruído, é ela. Coragem, Eugênia, lembre-se dos bons princípios que lhe ensinamos. Que deliciosa cena vamos representar, por Deus! 77 SÉTIMO E ÚLTIMO DIÁLOGO Madame de Saint Ange, Eugênia, Mirvel, Agostinho, Dolmancé, Madame de Mistival MADAME DE MISTIVAL a Madame de Saint-Ange Queira perdoar, chego sem prevenir, mas soube que minha filha estava aqui. Ela não deve andar sozinha na sua idade. Vim reclamá-la, espero que não desaprovará meu ato, minha senhora. MADAME - Seu ato é dos mais grosseiros. Dirse-ia, ouvindo-a, que sua filha não se encontra em boa companhia! MADAME DE MISTIVAL - Se devo julgar pelo que vejo, tenho toda a razão pensando desse modo. DOLMANCÉ - Começa mal, madame. Sem conhecer bem as laços que existem entre a senhora e Madame de Saint-Ange, posso afamar que se fosse ela, já a teria feito arremessar pela janela afora, pelos meus criados. MADAME DE MISTIVAL - Jogar-me pela janela! Uma senhora da minha qualidade! Não o conheço nem quero saber quem seja, basta olhá-lo nesse desalinho e ouvir suas palavras loucas, para bem julgar dos seus imundos hábitos. Siga-me, Eugênia! EUGENIA - Peço-lhe perdão, madame, mas declino dessa honra e aqui ficarei. MADAME DE MISTIVAL - Como? Minha filha me desobedecendo e resistindo? DOLMANCÉ - Resistirá formalmente como está vendo e ouvindo, Madame. Mas não se preocupe com isso. Quer que eu vá buscar varas de marmelo para castigar essa criança mal comportada? EUGÊNIA - Pode ir buscá-las, mas com elas fustigaremos Madame de Mistival. MADAME DE MISTIVAL - Que criatura insolente, contenha-se, atrevida! DOLMANCÉ, aproximando-se - Cuidado, beleza, contenha-se. Nós protegeremos Eugênia e a senhora se arrependerá de suas ameaças. MADAME DE MISTIVAL - Como? Minha filha me desobedece e não hei de exercer os direitos que tenho sobre ela? DOLMANCÉ - Que direitos são esses? Quando Mistival ou qualquer outro macho lançou-lhe na vagina as gotas de esperma que fizeram desabrochar Eugênia, a senhora estava pensando na filha ou no prazer do momento? Por que lhe deve ser grata se a senhora a concebeu no momento em que lhe fodiam a péssima babaca? Nada mais ilusório do que os sentimentos dos filhos para com os pais e vice-versa. Em muitos países é comum matar as crianças que nascem, ou matar os pais velhos e inúteis. Se os movimentos de amor recíproco fossem naturais, a voz do sangue não seria uma quimera. Pais e filhos se adivinhariam, se distinguiriam sem se ter jamais vistos, em meio das mais numerosas assembléias. Em vez disso, que observamos? Ódios recíprocos e inveterados, filhos que, desde a infância, jamais puderam tolerar seus pais; pais que mal suportam a vista e a presença de seus filhos. Claro está que tudo isso é ilusão, tolices prescritas pelo uso e pelos costumes, hábitos contra a natureza que jamais imprimiu tal coisa nos corações humanos. Os animais (que sempre devemos consultar) não conhecem os pais desde que deixam de mamar. Os pais podem ficar tranqüilos sobre as pretendidas injustiças que recebem dos filhos, estes não passam de algumas gotas de esperma vertidas só pelo prazer. Os pais nada devem aos filhos e vice-versa, uns e outros estão no mundo para se divertirem e nada mais. Piedade, reconhecimento, gratidão, amor, tudo isso não passa de lorotas. Cada um que trabalhe para si e que se arranje na vida. A maior das tolices seria a gente se preocupar com cuidados e socorros que não nos devemos mutuamente, nem de pais a filhos, nem de filhos a pais. Sejam inspirações do uso ou efeitos morais do caráter, é dever abafar sem remorsos tão absurdos sentimentos locais, frutos de costumes climatéricos que a natureza reprova e a razão elimina. 80 inspira o bem e o mal, pois vive desse balanço. Só há um motor em todo o universo: a natureza que age. Os milagres, ou antes, os efeitos físicos dessa mãe do gênero humano, diferentemente interpretados pelos homens, foram por eles deificados sob mil formas, cada uma mais extravagante do que a outra. Os intrigantes e hipócritas, abusando da credulidade de seus semelhantes, propagaram as mais ridículas fantasias; é a isso que Mirvel chama de céu, e que receia ofender, homem simples e pusilânime; o que os imbecis chamam de humanidade C apenas uma fraqueza proveniente do temor e do egoísmo. Essa quimérica virtude só acorrenta os fracos; os estóicos, os corajosos, os filósofos, têm o caráter bem formado e desconhecem essa baboseira. Aja sempre, Mirvel, sem temor nem receio. Poderíamos reduzir a pó esta puta, que não haveria nisso o menor crime. É impossível ao homem cometer um crime. A natureza, embora tenha dado ao homem o desejo de cometê-los, afastou prudentemente dele as ações que pudessem prejudicar suas leis. Afirmo que tudo o mais é permitido. Nunca a natureza seria imprudente ao ponto de conceder que a perturbemos ou a atrapalhemos na sua marcha certeira. Somos os instrumentos cegos de sua inspiração; todos celerados da terra não passam de agentes dos seus caprichos. O único crime estaria em desobedecer ou resistir, mesmo no caso dela nos ordenar que incendiássemos o universo. Vamos, Eugênia, deite-se sobre sua mãe. Como está pálida! EUGÊNIA, obedecendo - Eu, pálida? Mas que idéia; bem pode ver que não! (A foda supermatre tem lugar. Quando Mirvel acaba, o grupo se desfaz). DOLMANCÉ - Que vertigem longa, a dessa puta! Depressa, tragam-se varas de marmelo! Agostinho, colha algumas hastes espinhosas no jardim. (Dando-lhe bofetadas). Receio que já tenha morrido, tão depressa! EUGÊNIA, zangada - Que horror! Teria que trajar luto no estilo, eu que mandei fazer tão lindos vestidos leves! MADAME DE SAINT-ANGE, às gargalhadas - Eugênia é um monstro, que saiu melhor do que a encomenda. DOLMANCÉ, tirando os espinhos da mão de Agostinho -Vamos ver o efeito deste santo remédio. Eugênia, chupe-me a pica enquanto faço o possível para lhe restituir a mãe, e que Agostinho me devolva os golpes que desfiro. Gostaria também de ver Mirvel enrabar a irmã... Coloque-se de modo que eu possa beijar-lhe as nádegas durante a flagelação da Mistival. MIRVEL - Obedeçamos, pois não consigo convencê-lo de que tudo quanto nos ordena é horrível. (O grupo obedece Dolmancé. A Mistival açoitada volta à vida). DOLMANCÉ - Não disse que é um santo remédio? Tinha confiança plena no seu poder. MADAME DE MISTIVAL, abrindo os olhos - Por que não fiquei no túmulo? Por que voltar aos horrores deste mundo? DOLMANCÉ, sempre flagelado - Ah, mãezinha, era cedo demais para morrer... É preciso que ouça sua sentença e que ela seja executada. Vamos rodear a vítima, que se ajoelhará no meio do círculo. Madame de Saint-Ange começará. (Obedecem). MADAME DE SAINT-ANGE - Condeno-a a ser enforcada! Mirvel - Condeno-a a ser cortada em vinte e quatro mil pedaços, costume chinês. AGOSTINHO - Quanto a mim, basta que a rasguemos de alto a baixo. EUGÊNIA - Minha linda mãezinha poderia ser regada com pólvora, à qual eu poria fogo. DOLMANCÉ, em pleno sangue frio - Pois bem, amigos na minha qualidade de preceptor, comuto a sentença, mas a diferença é esta: suas sentenças eram o efeito duma mistificação, a minha tem que se realizar. Tenho um criado, possuidor dum dos mais belos membros que há na terra, mas que destila um vírus horrendo corroído por uma das mais terríveis sífilis que se possa ver nesse mundo. Ele há de lançar seu veneno nos dois condutos naturais dessa dama cara e amável, afim de que, enquanto durarem as impressões dessa terrível doença, a puta se lembre de nunca mais atrapalhar as alegrias de sua filha quando ela foder e se entregar à libertinagem. (Todos aplaudem, o tal criado aparece). DOLMANCÉ - ao criado - Foda essa mulher que tem ótima saúde. Talvez essa foda lhe seja propícia e você lhe passe o mal; esse remédio já deu bons resultados. LAFLEUR - Devo fodê-la diante de todos, senhor? 81 DOLMANCÉ - Claro, tem receio de exibir sua pica? LAFLEUR - Claro que não; ela é de se tirar o chapéu, é linda de verdade. Vamos, senhora, aproxime-se. MADAME DE MISTIVAL - Que horrível suplício a que sou condenada! EUGÊNIA - É melhor isso do que morrer, mamãe. Ao menos assim, neste estilo, porei meus lindos vestidos leves... DOLMANCÉ - Minha opinião seria que todos nós nos flagelássemos, enquanto isso Madame de Saint-Ange faria com que Lafleur metesse com mais ardor nessa velha babaca; eu flagelaria Madame, Agostinho me flagelaria, Eugênia flagelaria Agostinho, que será vigorosamente flagelado por Mirval. (Assim fazem. Quando Lafleur acaba de foder na frente, o patrão ordena-lhe que o faça no traseiro). DOLMANCÉ, quando tudo está consumado - Muito bem, Lafleur, tome lá dez luizes. Essa inoculação é melhor que as de Tronchin! MADAME DE SAINT-ANGE - Esse veneno assim inoculado não deve sair, seria conveniente que Eugênia costurasse com cuidado o cu e a boceta maternas, assim o vírus concentrado será menos sujeito a se evaporar e calcinará os ossos mais prontamente. EUGÊNIA - Ótima idéia, depressa! Agulha e um fio longo. Afaste as coxas, mãe; vou costurá-la para que não me dê mais irmãozinhos. (Madame dá-lhe uma agulha grossa da qual pende um fio vermelho e encerado. Eugênia cose). MADAME DE MISTIVAL, gemendo - Ai que dor! DOLMANCÉ - Idéia genial; meus parabéns! Confesso que não me teria ocorrido. MIRVEL -A putinha nova fará sair sangue da puta velha! EUGÊNIA, dando largos pontos nos grandes lábios, na parte interna da vulva, no púbis e na barriga - Não é nada, mamãe, é só experimentar a agulha. DOLMANCÉ, fazendo-se punhetear-se por Madame durante essa operação - Vejam só que tesão! Eugênia, mais pontos para que os efeitos se multipliquem. EUGÊNIA - Darei duzentos se você exigir. Mirvel, enquanto trabalho, faça-me punheta... MIRVEL, comprazendo-a - Onde se poderá encontrar putinha mais depravada e perfeita! EUGÊNIA, inflamada - Basta que me punheteie também, as invectivas são inúteis. Se continuar, pico você também. Não lhe resta uma mão para me titilar o cu? Ai, assim, está tão gostoso que não enxergo bem; darei os pontos atravessados. Veja minha agulha, foge para as coxas, para as mamas. Que fodança, que festança! MADAME DE MISTIVAL - Celerada, como pude pôr no mundo semelhante monstro? EUGÊNIA - Pronto, mãezinha, já acabei. DOLMANCÉ, em ereção completa - Eugênia, dê-me o cu, preciso dele; que seja meu! MADAME DE SAINT-ANGE - Você vai martirizá-la, com semelhante ereção. DOLMANCÉ - Pouco me importa. (Joga a Mistival de bruços e começa a coser-lhe o cu. Enfia a agulha o mais possível, ouvindo-a gritar). Cale-se, diabo, demônio, senão farei uma marmelada deste cu de puta. Eugênia, faça-me punheta, menina! EUGÊNIA - Farei, se você der pontos mais profundos ainda. Não a poupe! (Punheteia-o). MADAME DE MISTIVAL (gritando) - Ai! Ai! MADAME DE SAINT-ANGE - Trabalhe bem nessas nádegas! DOLMANCÉ - Vou picá-las como se fosse um lombo de boi. Eugênia, você já se esqueceu da minha lição? Está cobrindo o meu caralho, menina! EUGÊNIA - As dores dessa puta de tal modo me falam à imaginação que nem sei o que estou fazendo... DOLMANCÉ - Perco de todo a cabeça! Quero imediatamente que Agostinho enrabe Madame de Saint-Ange, enquanto seu irmão lhe meterá pela boceta. Quero ver, contemplar, observar os cus e acabar assim. Tome, velha, receba mais esta... (Dá-lhe grandes agulhadas enquanto os outros se arranjam). 82 MADAME DE MISTIVAL - Ai, estou morrendo... Morro! DOLMANCÉ, louco de prazer - Quem me dera assim fosse, nunca fiquei tão tesudo depois de ter gozado tantas vezes. Que tesão hercúleo! MADAME DE SAINT-ANGE, solicita - Estamos executando bem o que você ordenou, Dolmancé? DOLMANCÉ - Agostinho, que se volte um pouco, não lhe vejo bem o cu; que se incline para eu apreciar o orifício. Assim! Como sangra esta velha puta! Vamos amigos, estão prontos para gozar? Eu vou já regar com o bálsamo da vida todas as chagas que abri neste cu de velha. MADAME DE SAINT-ANGE - Também eu estou gozando, chegamos à meta todos ao mesmo tempo. DOLMANCÉ - que goza aumentando as picaduras na bunda da vítima - Veja como corre a minha porra. Eugênia, dirija o jato sobre as nádegas que estou martirizando! Ó que foda deliciosa! Agora não aguento mais... Por que a fraqueza sucede a tão fortes sensações, a tão gostosas paixões? MADAME DE SAINT-ANGE - Foda-me, irmão, estou acabando! (A Agostinho): Mexa-se bem, vadio, já está farto de saber que quando eu gozo quero que penetre mais fundo no meu cu. Como é delicioso ser fodida ao mesmo tempo por duas boas picas! (Terminam.) DOLMANCÉ - Tudo está consumado. Esta puta velha pode se vestir quando quiser. E pode nos agradecer. Saiba que estávamos autorizados, por seu marido, a fazermos tudo o que fizemos e a mais ainda se quiséssemos. Se não acredita, leia. (Mostra a carta a Mistival). Há de se lembrar sempre que sua filha está em idade de ser senhora do seu nariz. Gosta de foder, nasceu para isso. Saúde a todos, sua putança! De joelhos diante de sua filha peça perdão por sua abominável conduta para com ela. Vamos, Eugênia, mais duas bofetadas, e quando chegar ao lumiar da porta, dê-lhe mais dois pontapés no eu. (Eugênia obedece). Mirvel, reconduza essa puta e não a foda mais; lembre-se de que está contaminada. (Mirvel e Madame de Mistival saem). Agora, amigos, uma boa refeição e nos deitaremos os quatro na. mesma cama. Eis o que podemos chamar uma linda e agradável jornada. Nunca como com tanto apetite e nunca durmo com tanta tranquilidade do que quando me farto daquilo que os imbecis têm o mau gosto de chamar "crimes".
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