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Aspectos gerais dos solos do Acre, Notas de estudo de Agronomia

Texto aborda solos do Acre

Tipologia: Notas de estudo

2010
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Compartilhado em 08/07/2010

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Baixe Aspectos gerais dos solos do Acre e outras Notas de estudo em PDF para Agronomia, somente na Docsity! 10 Capítulo 1. Aspectos Gerais dos Solos do Acre com Ênfase ao Manejo Sustentável EDSON ALVES DE ARAÚJO EUFRAN FERREIRA DO AMARAL PAULO GUILHERME SALVADOR WADT JOÃO LUIZ LANI Introdução A maior parte das terras do Acre é inexplorada. Entretanto, as perspectivas quanto a sua ocupação em curto e médio prazo vêm se constituindo uma grande preocupação, principalmente por estar sendo feita de modo desordenado, desrespeitando-se, muitas vezes, as condições ambientais. As principais atividades do setor primário da economia no Estado são o extrativismo vegetal, a agricultura de subsistência e a pecuária, sendo esta última a que mais tem crescido nos últimos anos. O solo exerce um papel muito importante na qualidade de componente chave no processo de sustentação de tais atividades. No entanto, as pesquisas sobre os solos do Acre ainda não atendem quantitativamente às necessidades, para que um número maior de respostas seja dado sobre a sua influência nos ecossistemas naturais e agropastoris em que estão inseridos. Nos últimos anos, os levantamentos e estudos de solos foram intensificados, e suas contribuições têm elevado significativamente o conhecimento atual no que concerne à gênese, morfologia, física, química, mineralogia e ao manejo. Isso tem permitido estabelecer inferências sobre a melhor utilização de alguns desses solos. ARAÚJO, E. A. ; AMARAL, Eufran Ferreira Do ; WADT, Paulo ; LANI, João Luiz . Aspectos gerais dos solos do Acre com ênfase ao manejo sustentável. In: Paulo Guilherme Salvador Wadt. (Org.). Manejo de solo e recomendação de adubação para o estado do Acre. Rio Branco: Embrapa/CPAF-Acre, 2005, v. , p. 10-38. Como citar este artigo: 11 O objetivo do presente capítulo é caracterizar o ambiente em que se insere os solos do Estado do Acre, para que suas potencialidades e restrições sejam compreendidas de forma mais ampla, inclusive quanto às questões ligadas ao uso sustentável. O Ambiente de Inserção dos Solos no Estado do Acre O Estado do Acre possui 152.589 km2, o que corresponde a 1,79% do território nacional. Localiza-se e ocupa 3,16% da Região Norte, no sudoeste da Amazônia brasileira (Acre, 2000). Os estudos referentes à caracterização e mapeamento dos solos efetuaram-se em levantamentos pedológicos realizados a partir da década de 70. Os principais estudos foram: a) Projeto Radambrasil (Brasil, 1976 e 1977) que envolveu toda a extensão territorial do Estado, originando mapas em escala 1:1.000.000; b) Projeto de Proteção do Meio Ambiente e das Comunidades Indígenas (IBGE, 1990 e 1994), abrangendo o primeiro projeto parte do Estado do Acre, Rondônia e Amazonas e o segundo, as bacias dos Rios Juruá e Javari, nos Municípios de Cruzeiro do Sul, Feijó, Mâncio Lima e Tarauacá; c) Projeto Acre que levantou solos da área de influência da BR 364, no trecho Rio Branco–Cruzeiro do Sul (estudo não concluído); d) levantamentos exploratórios e detalhados em pólos de assentamento da reforma agrária e pólos agroflorestais; e) mais recentemente, alguns levantamentos detalhados realizados pelo programa de Zoneamento Ecológico- Econômico do Estado (Acre, 2000). Novos estudos, incluindo levantamentos de solo mais detalhados ao longo dos principais eixos rodoviários, estão atualmente sendo realizados para a segunda etapa do programa de Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre. Os dados disponíveis sobre geologia, litologia, geomorfologia, clima e vegetação são basicamente aqueles do Projeto Radambrasil, cujas informações essenciais foram revistas quando da elaboração do 14 Essa unidade litoestratigráfica teve sua deposição iniciada provavelmente depois do Paroxismo Andino (evento que deu origem à Cordilheira Andina), daí seu posicionamento no Plioceno Médio ao Pleistoceno. Esse fato tem alicerce na deposição das camadas horizontalizadas, jazendo sobre camadas dobradas, marcando o início do seu ciclo deposicional. A ocorrência de veios de gipsita e material carbonático na Formação Solimões, depositados em ambiente continental de água doce, indica a presença de clima semi-árido. O soerguimento da Cordilheira Oriental Andina teria bloqueado a Bacia do Acre, transformando-a de bacia marginal e aberta durante todo o Cretáceo e Terciário Inferior em uma bacia intracontinental. Associada a esse fato, supõe-se ter havido uma inversão no sentido das correntes fluviais, originando um ambiente tipicamente fluvial, com algumas influências deltaicas e lacustrinas salobras. A origem do material carbonatado deve-se ao fato de que esses sais solúveis foram carregados pelos cursos d'água de fontes situadas à oeste da Bacia do Acre e despejados em lagos instalados, que devem ter sido submetidos a um clima árido capaz de provocar evaporação suficiente para formar esses evaporitos. Após a deposição da Formação Solimões, houve uma retomada nos movimentos da crosta, porém com menor intensidade. Esses movimentos reativaram falhamentos e fraturas (refletidos pelos lineamentos Nordeste-Sudoeste e Noroeste-Sudeste) e condicionaram o controle na drenagem. Em seguida, durante o Holoceno foram depositados os aluviões dos terraços e das planícies fluviais relacionadas à atual rede de drenagem. A Formação Solimões, geologicamente mais recente, é a mais significativa em termos de superfície ocupada, estendendo-se por mais de 80% do Estado. Cobre quase toda a região interfluvial, com exceção do extremo oeste do Estado, onde se encontra o Complexo Fisiográfico da Serra do Divisor, geologicamente mais antigo, cujas formações ocorrem apenas dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor e do seu entorno (Formação Ramon e 15 Grupo Acre). Outras formações geologicamente recentes constituem-se os Depósitos Aluviais Holocênicos, que têm ampla distribuição no Estado, e a Formação Cruzeiro do Sul, formada por sedimentos mais arenosos e os aluviões da planície fluvial, que ocorre a leste da cidade do mesmo nome. Litologia O Complexo Fisiográfico da Serra do Divisor não apresenta, atualmente, interesse do ponto de vista de uso do solo, por situar-se no extremo oeste do Estado em áreas de difícil acesso. Ademais, sua extensão territorial é restrita. Por outro lado, os principais solos de uso agrícola do Estado pertencem à Formação Solimões que, por ser bastante diversificada, origina uma grande variedade de classes e tipos de solos. Na Formação Solimões predominam rochas argilosas com concreções carbonáticas (com carbonato de cálcio) e gipsíferas (com gesso), ocasionalmente com material carbonizado (turfa e linhito), concentrações esparsas de pirita e grande quantidade de fósseis de vertebrados e invertebrados. Subordinadamente, ocorrem siltitos, calcáreos síltico-argilosos, arenitos ferruginosos e conglomerados plomíticos. Finalmente, os principais Aluviões Holocênicos constituem os sedimentos das planícies fluviais, sobrepondo-se discordantemente à Formação Solimões, e caracterizam-se pelos barrancos e praias em ambas as margens dos rios. A espessura desses depósitos pode variar de um a seis metros. Geomorfologia O relevo no Acre varia de plano a montanhoso. Em escala regional, as unidades morfoestruturais do Estado são: 16 1) O Planalto Rebaixado (da Amazônia Ocidental) desenvolvido sobre a Formação Solimões, em área de interflúvios tabulares de relevo plano com altitudes de 250 m. Essa unidade predomina na região de Cruzeiro do Sul, no extremo oeste e no leste e sudeste do Estado do Acre, onde ocorrem principalmente os Latossolos, Argissolos e Plintossolos. 2) A Planície Amazônica é representada pelas planícies aluviais margeando os rios e pelos níveis de terraços descontínuos, remanescentes de sedimentos recentes, sendo a superfície mais baixa (200 m). Nessa unidade predominam os solos característicos das várzeas dos rios existentes no Estado, cujas principais ocorrências são os Gleissolos e Neossolos Flúvicos. 3) A Depressão Amazônica (constituída no Estado pela Depressão Rio Acre/Javari) alcança, em geral, altitudes de no máximo 300 m, sendo representada pelas extensas planícies de idade Terciária desenvolvidas sobre a Formação Solimões e pela área de altitudes mais elevadas (até 580 m) denominada Complexo Fisiográfico da Serra do Divisor. Essa unidade compreende a maior parte do Estado, principalmente em sua região central, na qual se encontram os solos identificados pelo Projeto Radambrasil como Cambissolos e Argissolos. Estudos posteriores indicam que nessa região predominam solos com argilas de alta atividade, alguns com caráter álico, devendo ocorrer além das classes já relacionadas, Vertissolos, Luvissolos, Alissolos e Plintossolos. Clima O clima no Acre, segundo classificação de Thornthwaite & Mather é úmido (Acre, 2000), subdividido em quatro faixas que se distribuem na direção dos paralelos, no sentido leste–oeste: primeiro úmido (B1); segundo úmido (B2); terceiro úmido (B3); e quarto úmido (B4), cujos totais pluviométricos são, respectivamente, de 1.600 a 2.000 mm, 2.000 a 2.250 mm, 2.250 a 2.500 mm e 2.500 a 2.750 mm. 19 Tabela 1. Regiões fitoecológicas e as formações vegetais associadas, segundo as principais unidades morfoestruturais do Estado do Acre. Região fitoecológica Formação vegetal Depressão Rio Acre-Javari Floresta ombrófila densa Floresta densa em relevo dissecado em montanha Floresta densa em relevo dissecado em colinas Floresta densa em relevo dissecado em cristas Floresta ombrófila aberta Floresta aberta de relevo ondulado de depósitos coluviais (1. de palmeiras; 2. de cipós) Floresta aberta de interflúvios coluviais (1. de palmeiras; 2. de bambu dominante; 3. de bambu dominado) Planalto Rebaixado Floresta ombrófila densa Floresta densa em interflúvios tabulares Campinarama em áreas de acumulação inundáveis (1. arbórea densa; 2. arbustiva) Planície Amazônica Floresta ombrófila aberta Floresta aberta em planícies aluviais periodicamente inundáveis Floresta aberta em planícies aluviais permanentemente inundáveis Floresta aberta da planície aluvial em terraços altos residuais Fonte: Acre (2000). 20 Principais Ocorrências de Classes de Solos no Estado do Acre As principais classes de solos que ocorrem no Acre estão representadas, de acordo com o atual Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, pelos Alissolos, Argissolos, Nitossolos, Luvissolos, Cambissolos, Gleissolos e Latossolos (Tabela 2). Recentemente, estudos em andamento têm indicado que outros solos, como Plintossolos e Vertissolos podem ter uma expressão territorial muito superior à prevista inicialmente, junto com outros solos de ocorrência mais localizada, como os Neossolos Flúvicos e Espodossolos. As unidades de mapeamento definidas no Zoneamento Ecológico- Econômico foram obtidas principalmente da compilação de dados realizados em levantamentos anteriores (Brasil, 1976 e 1977; IBGE, 1990 e 1994). Esse processo comprometeu, de certa forma, a caracterização mais precisa das principais classes de solos que ocorrem no Estado (Tabela 2), principalmente porque cada unidade de mapeamento constitui-se pela associação de várias classes de solo. Entretanto, este estudo efetuado pelo Zoneamento Ecológico e Econômico do Acre destaca-se por ter quantificado as áreas ocupadas por cada classe de solo e ter vertido as classes de solo para o atual sistema brasileiro de classificação de solos (Embrapa, 1999). Adicionalmente, problemas na interpretação de dados compilados dificultaram a reclassificação precisa das classes de solos do Estado, o que gerou algumas distorções: 1) Provavelmente em muitas áreas os Plintossolos foram mapeados como Argissolos. 2) Muitos Argissolos não poderiam ser classificados atualmente como tal, por apresentarem argila de alta atividade (CTC da argila > 27 cmolc kg-1 solo) (Embrapa, 1999). 21 3) Muitos solos classificados como Cambissolos podem tratar-se de Vertissolos ou outras classes de solos em que haja a presença marcante de argilas de alta atividade. Considerando-se o caso dos solos com horizonte diagnóstico B textural, os dados atuais permitem inferir que em aproximadamente 64% do Estado predominam solos com argilas de baixa atividade (Argissolos) e, em apenas 1,8%, ocorrem solos com argilas de média à alta atividade (Alissolos e Luvissolos) (Tabela 2), podendo ser essa realidade senão inversa, de certa forma distinta das indicações atuais. Essa afirmativa baseia-se na constatação de estudos recentes não publicados nos quais se verifica que a ocorrência de solos com argilas de alta atividade é bastante ampla no Estado, especialmente quanto aos Luvissolos cujo ocorrência provavelmente é significativamente superior. Estima-se também que a ocorrência de Plintossolos tenha uma expressão territorial mais ampla do que a atualmente indicada (Tabela 2). Como os Plintossolos estão associados na paisagem a solos com horizonte B textural, provavelmente muitos desses solos foram equivocadamente classificados como Argissolos. É necessário, entretanto, estar atento para essas diferenças, já que os Plintossolos apresentam sérias limitações de drenagem de difícil correção, o que torna seu potencial agrícola limitado. Alissolos, Argissolos e Luvissolos podem também apresentar problemas de drenagem, porém, de menor intensidade e correção mais fácil. 24 completa ausência de gibbsita e a presença de médio a alto teores de materiais amorfos de alumínio, altos teores de potássio, de cálcio, magnésio e alumínio trocáveis. Em solos onde o teor de silte é mais elevado, é comum encontrar teores de magnésio trocável mais elevados que os de cálcio trocável. Esses solos, embora possuam elevada acidez ativa (baixo valores para pH em água) e elevados teores de alumínio trocável, apresentam baixa fitotoxidade mesmo para variedades de plantas sensíveis ao alumínio. É possível, contudo, que muito desse alumínio "trocável" origine-se da desestabilização das esmectitas (montmorilonita e beidelita). Do ponto de vista biológico, esse alumínio apresenta baixa atividade iônica na solução do solo e, portanto, não representa uma característica relacionada com a sua fertilidade (Wadt, 2002). Como esses solos possuem altos teores de cálcio e magnésio associados aos altos teores de alumínio trocável, normalmente apresentam baixos valores de pH e elevada saturação de bases. Do ponto de vista geológico, trata-se portanto de solos jovens, formados a partir de processos geológicos, que ocorreram nessa região da Amazônia: diversas transgressões marinhas do último período interglacial, seguidas por períodos áridos, possibilitaram o acúmulo de carbonatos e sulfatos de cálcio no solo, formando, em algumas áreas, veios com mais de seis metros de largura, e processos erosivos associados à última fase da epirogênese andina, que transportaram para o local materiais vulcânicos, trazidos por processos de erosão hídrica ou eólica (Gama et al., 1992). Essas características não são observadas com a mesma intensidade nos solos do Planalto Rebaixado, embora, também tenham sido formados sobre a Formação Solimões e suas características predominantes sejam semelhantes aos demais solos amazônicos pertencentes às mesmas categorias taxonômicas. Embora a predominância de caulinitas seja um denominador comum para muitos solos da Região Amazônica, é importante destacar o baixo ou nulo conteúdo de gibbisita (óxido de 25 alumínio) mesmo na fração argila de Latossolos da região. Essas propriedades diferenciais, ditadas principalmente pela mineralogia, sugerem que os principais indicadores de qualidade do solo não devem ser interpretados da forma convencional, principalmente no que se refere a sua fertilidade, devendo ser objeto de estudos mais abrangentes e detalhados. Assim, além das indicações gerais referentes a cada classe de solo, algumas informações adicionais devem ser verificadas para definir sua qualidade ao uso agrícola (Tabela 3). Alguns desses indicadores fazem parte das análises utilizadas em levantamentos de solos, porém, como dito anteriormente, necessitam ser interpretados com a devida cautela. Por exemplo: os parâmetros limites utilizados para definir níveis tóxicos de alumínio trocável em outras regiões são questionáveis para uso nos solos do Acre. O próprio índice de pH em água pode não significar problemas de fertilidade como se fosse em outros tipos de solo. Também, a relação entre os teores de cálcio e magnésio trocáveis deve ser interpretada com cautela. A interpretação correta do potencial agrícola, ditado por essas propriedades, permite avaliar antecipadamente os impactos ambientais das atividades humanas. Essa medida evita uma sucessão de erros, como os ocorridos em alguns projetos de colonização e assentamento, em que se incentivou o desmatamento de áreas impróprias para exploração agrícola, causando desequilíbrios ambientais irremediáveis na região e importantes prejuízos socioeconômicos. Assim é que, por exemplo, o alumínio trocável, embora seja um indicador de acidez de solos amplamente utilizado em outras regiões, pelas razões já expostas, é contra-indicado para os solos do Estado do Acre e, portanto, foi excluído da lista de indicadores químicos recomendados. 26 Em relação aos indicadores físicos, a granulometria do solo (teor de argila) é fundamental para determinar a atividade das argilas do solo (CTC/teor de argila) e também para auxiliar na interpretação do teor de fósforo disponível, caso não se disponha do índice do P remanescente. Outros indicadores físicos (teste de infiltração, densidade aparente e estabilidade de agregados) informam sobre as condições físicas do solo capazes de afetar tanto as reações físico-químicas como as biológicas relacionadas à ciclagem dos nutrientes e às condições para o crescimento do sistema radicular. Os indicadores biológicos (atividade microbiana e fauna de solo) são importantes tanto no que se refere à ciclagem dos nutrientes, como também na estimativa da capacidade do solo para o crescimento vegetal. Solos com maior atividade microbiana são capazes de promover uma ciclagem mais rápida dos nutrientes essenciais (principalmente nitrogênio, fósforo e enxofre), enquanto que a fauna de solo têm importante papel na trituração dos restos vegetais, na infiltração de água no solo e na formação de agregados. Vale destacar também a importância de cupins ou térmitas na formação do solo e como indicador de ambientes degradados, principalmente em áreas de pastagem extensiva. Quanto aos indicadores químicos, os valores de pH em água e pH em KCl devem ser utilizados para determinar a carga líquida dos solos, pelo valor de ∆pH. Quanto maior o valor de ∆pH, maior a CTC líquida do solo e menor a dependência da CTC do solo por cargas variáveis. A maioria dos solos do Estado apresenta valor de ∆pH negativo, à exceção dos horizontes superficiais com elevados teores de matéria orgânica ou de solos de baixa CTC. É importante lembrar, contudo, que devido à intensa hidrólise de alumínio nesses solos, o valor de pH em água ou do pH em KCl, por si só, não se constitui um indicador muito útil. O valor de saturação de bases é o mais importante indicador para determinar a necessidade de correção da 29 Tabela 3. Indicadores de qualidade do solo para o Estado do Acre Indicador Importância para solos do Estado do Acre Indicadores físicos 1. Infiltração Drenagem 2. Textura do solo (proporção de areia, silte e argila) Retenção e transporte de água e nutrientes; erosão do solo 3. Granulometria Determinação da facilidade ou não do ajuste de partículas que irá influenciar nos processos de compactação e adensamento do solo 4. Densidade aparente Determinação do grau de compactação do solo (comportamento do sistema radicular) 5. Estabilidade dos agregados Determinação do grau de estabilidade dos agregados do solo Indicadores biológicos 1. Quociente microbiano Determinação da atividade microbiana do solo 2. Fauna de solo (minhocas, formigas, cupins e outros) Fragmentação de restos de vegetais; Modificação da estrutura do solo através de escavação e produção de coprólito; indicadora de degradação ambiental Continua... 30 Indicadores químicos 1. pH em água ou em CaCl2 0,01M Estimativa do pH do solo 2. pH em KCl Estimativa do pH do solo em solução salina 3. Saturação de bases Estimativa da proporção de cátions alcalinos e alcalinos terrosos no complexo de troca 4. Teores de cátions alcalinos e alcalinos terrosos trocáveis Determinação do teor de cálcio, potássio e magnésio trocáveis. Não há indicações da necessidade de determinar o teor de sódio trocável 5. Acidez potencial Determinação da acidez total do solo (H + Al+3) 6. C-orgânico Determinação do teor de matéria orgânica oxidável do solo 7. CTC do solo Determinação da capacidade de troca catiônica do solo 8. CTC da argila Estimativa da atividade da argila e da mineralogia 9. P disponível Determinação da disponibilidade de fósforo no solo 10. P remanescente Determinação da capacidade de adsorção de fosfato Indicadores morfológicos 1. Profundidade do horizonte A Riqueza de matéria orgânica e fauna do solo 2. Profundidade do solum (horizonte A + B) Capacidade produtiva para cultivo de plantas com sistema radicular profundo; pedogênese do solo 3. Presença e profundidade de ocorrência de plintita, mosqueado ou cores acinzentadas Condições de drenagem e propensão aos processos de encharcamento e secagem do solo 4. Presença de material de solo fendilhado Indicativo de solo de argila de atividade alta 31 Limitações de Uso Relevantes para os Argissolos Os Argissolos são solos que apresentam drenagem deficiente e baixa a média fertilidade natural, em razão do predomínio de minerais de argila de baixa atividade. Por estarem muitas vezes associados a condições de relevo mais movimentado, são também bastante susceptíveis à erosão. Nesses solos, além dos indicadores de qualidade (Tabela 3) é conveniente avaliar o gradiente textural entre o horizonte A e o horizonte Bt, já que se o gradiente for muito elevado, os problemas de drenagem poderão ser mais pronunciados. Argissolos com horizonte A mais espesso ou estrutura mais desenvolvida normalmente serão mais aptos ao uso agrícola. É importante lembrar que muitos solos, classificados como Argissolos no Zoneamento Ecológico-Econômico (Acre, 2000), podem ser provavelmente Plintossolos, Alissolos ou Luvissolos, de forma que os indicadores de qualidade devem ser avaliados à luz dessa informação. A presença de caráter plíntico em alguns Argissolos deve também ser considerada como um importante indício de má drenagem. Limitações de Uso Relevantes para os Cambissolos Os Cambissolos do Estado são solos normalmente rasos ou pouco profundos, apresentam restrição de drenagem, principalmente em função da presença de minerais de argila expansíveis (argilas 2:1). Dado a essa característica, esses solos costumam expandir-se quando umedecidos e a contrair-se quando secos, ocasionando o aparecimento de fendas que podem a vir a danificar o sistema radicular de plantas. Devido a esse comportamento, tornam-se solos de difícil manejo, principalmente no tocante a mecanização agrícola, conforme enfatizado por Araújo et. al (2001). Alguns solos classificados como Cambissolos no Zoneamento Ecológico-Econômico (Acre, 2000) podem apresentar horizonte com caráter plíntico ou horizontes diagnósticos 34 São solos susceptíveis à compactação, quando apresentam maior proporção de argila na fração terra fina seca ao ar, e à erosão quando em relevo mais movimentado (suave ondulado) ou quando apresentam textura média. Por isso, recomenda-se atenção ao avaliar seus indicadores físicos (textura, estabilidade de agregados, densidade do solo). Possuem acidez elevada e baixos teores de cálcio, magnésio e potássio. O alumínio nesses solos pode apresentar-se mais tóxico que nos demais grupos de solo do Estado, principalmente pelo fato de que os altos teores de alumínio trocável estarão sempre associados a baixos teores de cálcio e magnésio trocáveis. Limitações de Uso Relevantes para outras Classes de Solos Os Chernossolos do Estado normalmente estão associados a solos pouco desenvolvidos, à presença de argila de atividade alta e a relevos mais movimentados. Associados aos Cambissolos, são de melhor fertilidade por apresentarem um horizonte A bem desenvolvido rico em cátions alcalinos e alcalinos terrosos trocáveis. Devem ser testados quanto à taxa de infiltração como forma de certificar-se de seu potencial agrícola, já que a drenagem deficiente pode comprometer seu potencial de uso. Os Neossolos Litólicos estão associados à presença de relevo ondulado a forte ondulado, que condiciona pouca atividade pedogenética. Suas principais limitações decorrem da pequena profundidade efetiva associada ao relevo movimentado, fato pelo qual apresentam potencial agrícola muito restrito. Os Luvissolos no Estado estão normalmente associados a relevo mais movimentado e a solos pouco profundos, conferindo-lhes relativo grau de susceptibilidade à erosão, o que, aliado ao fato de apresentarem drenagem deficiente, restringe seu uso agrícola, apesar da elevada fertilidade natural. 35 Considerações Finais Para a maioria dos solos do Estado, os principais problemas, em termos de utilização racional, estão na baixa drenagem e disponibilidade das reservas de fósforo (limitação comum à maioria dos solos brasileiros) e na elevada erosão. Contudo, a utilização racional desses solos requer a verificação, in loco, dos principais indicadores de qualidade, de modo que possam ser tomadas medidas corretivas ou conservacionistas adequadas para cada situação, permitindo seu uso de forma sustentável. A segunda fase do Zoneamento Ecológico-Econômico no Estado do Acre estará produzindo novas informações, para uma melhor interpretação do potencial agrícola desses solos, as quais serão de muita utilidade. A correta interpretação do potencial agrícola desses solos dependerá, ainda, de estudos que propiciem uma avaliação mais precisa dos seus diversos indicadores de qualidade, principalmente frente as várias formas de uso (florestas manejadas, florestas plantadas, agricultura itinerante, pastagens plantadas, agricultura comercial). Referências Bibliográficas ACRE. Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação. Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre. Zoneamento ecológico-econômico: recursos naturais e meio ambiente - documento final. Rio Branco: SECTMA, 2000. v. 1, p. 37-42. AMARAL, E. F. Relatório da análise ambiental do componente solo na BR 364 - Trecho Rio Branco– Sena Madureira. Rio Branco, AC: Seplan, 1986. 84 p. ARAÚJO, E. A.; PACHECO, E. P.; AMARAL, E. F.; PINHEIRO, C. L. S.; PARIZZI NETTO, A. Aptidão natural para mecanização agrícola dos solos do Estado do 36 Acre. Rio Branco, AC: SECTMA; Embrapa Acre, 2001a. 14 p. (Informativo Técnico ZEE/AC; 10). ARAÚJO, E.A. Caracterização de solos e modificações provocadas pelo uso agrícola no assentamento Favo de Mel, na Região do Purus – Acre. Viçosa, MG: UFV, 2001. 122p. Dissertação (Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas) – Universidade Federal de Viçosa, 2001. BRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral. Geologia do Brasil: texto explicativo do mapa geológico do Brasil e área oceânica incluindo depósitos minerais, escala 1:2.500.000. Brasília, 1984. 501 p. BRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral. Projeto Radambrasil. Folha SC. 18 Javari / Contamana; geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1977. 420 p. (Levantamento de Recursos Naturais, 13). BRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral. Projeto Radambrasil. Folha SC. 19 Rio Branco; geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação, uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1976. 458 p. (Levantamento de Recursos Naturais, 12). DORAN, J.W. & PARKIN, T.B. Quantitative indicators of soil quality: a minimum data set. In: Methods for assessing soil quality, J.W. Doran & A.J. Jones (Eds.). Soil Science Society American Special Publication Nº 49, Wisconsin, USA, 1996, pp.25-37. EMBRAPA. Levantamento de solos e zoneamento agroecológico preliminar de área de influência da Rodovia BR-364 no Estado do Acre. (Primeiro relatório parcial). EMBRAPA/SNLCS-SEPLAN/AC. Belém, PA. 1979. 16 p. EMBRAPA. Levantamento de solos e zoneamento agroecológico preliminar da área de influência da BR-364 no Estado do Acre. Segundo relatório parcial. Belém. 1989. 8 p.
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